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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS

FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO
TRABALHO
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

SUMÁRIO
1- Introdução 3
2- Do Constitucionalismo liberal 4
3- Direitos humanos e direitos fundamentais 11
4- Direito do Trabalho amparado pelos direitos fundamentais 14
5- Os direitos do trabalhador elencados no art. 7º da CF 31
6- Os direitos fundamentais do trabalho 39
7- Os direitos fundamentais do trabalho em sede infraconstitucional 42
8- Do Princípio do não retrocesso social 45
9- A Segurança Jurídica como corolário da vedação do retrocesso social 48
10- Alcance do Princípio do não retrocesso social 51
11- A Reforma Trabalhista 53
Conclusão 57
Referências Bibliográficas 60

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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

INTRODUÇÃO

Os direitos fundamentais foram construídos ao longo do constitucionalismo


moderno, que iniciou-se no Século XVIII, através das revoluções burguesas (inglesa
-1688, americana - 1776 e francesa - 1789), quando derrocaram o absolutismo.

Quanto as revoluções burguesas, ensina Ingo Wolfgang Sarlet: "Com o incremento


do capitalismo como modo de produção, primeiramente com o incremento e
expansão das revoluções comerciais a partir do final da Idade Média, e depois por
via de seu modelo industrial oriundo da revolução econômica na Inglaterra, a
burguesia revela-se como o setor mais avançado e dinâmico da sociedade,
avultando cada vez mais, o contraste entre sua posição econômica e ausência de
sua participação no poder político. Assim, inevitável o choque de interesses,
findando na eclosão de movimentos revolucionários que iriam contestar os
privilégios da monarquia do antigo regime, inclusive em termo de secessão por parte
das colônias, não apenas nos Estados Unidos (1776-1783) e na França (1789-1799)
- seguramente as duas mais importantes para o constitucionalismo -, mas também
na Irlanda (1783-1784), na Bélgica (1787-1790), na Holanda (1783-1787) e,
inclusive, na Inglaterra (1779), que havia passado por um período de intensa
agitação político-institucional, inclusive por uma guerra civil, ao longo do século XVI."

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2. DO CONSTITUCIONALISMO LIBERAL
Através do constitucionalismo moderno, surge o Estado de Direito, de cunho liberal,
que pautado pelo sistema capitalista de produção, pregava a limitação estatal
através de duas angulações: (i) o Estado passava a ficar submetido às leis e seu
poder seria fracionado e não mais concentrado em uma única pessoa - como no
absolutismo; (ii) o liberalismo, absenteísmo governamental, tanto no campo
econômico, como no político.

Antes de adentrar-se ao tema, importante estabelecer o conceito de direitos


fundamentais. Verifica-se que, regra geral, os direitos fundamentais podem ser
concebidos como atributos atinentes ao homem, ligados essencialmente aos valores
da dignidade, liberdade e igualdade, decorrentes da sua própria existência.

Leciona Ingo Wolgang Sarlet que: Os direitos fundamentais podem ser conceituados
como aquelas posições jurídicas concernentes às pessoas, que, do ponto de vista
do direito constitucional positivo, foram, por seu conteúdo e importância
(fundamentalidade material), integradas ao texto da Constituição e, portanto,
retiradas da esfera de disponibilidade dos poderes constituídos (fundamentalidade
formal), bem como as que, pelo seu objeto e significado, possam lhes ser
equiparadas, tendo, ou não, assento na Constituição formal.

Neste momento histórico são criados os direitos fundamentais da primeira dimensão:


a liberdade e a igualdade.

Os direitos fundamentais de primeira dimensão, contemporâneos do liberalismo


político, surgem como resposta ao absolutismo monárquico e objetivam proteger o
homem na sua esfera individual contra a interferência abusiva do Estado. São
direitos de cunho meramente negativo, que visam garantir as liberdades públicas.

Durante o Estado Liberal ocorreram a primeira e segunda revoluções industriais,


pautadas pelo modelo taylorista/fordista de produção, que acabaram dando origem
ao suporte fático para a relação de emprego, composta pelos requisitos: trabalho
prestado por pessoa física, onerosidade, subordinação, habitualidade e
pessoalidade, atualmente previstos, no caso brasileiro, nos artigos 2º e 3º, da CLT.
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Quanto ao surgimento da relação de emprego, demonstra Maurício Godinho


Delgado: "Contudo, é a espécie mais importante de relação de trabalho existente no
sistema econômico e social capitalista. Por meio de relação de emprego é que o
novo sistema emergente no século XVIII na Europa - Inglaterra, em particular -
descobriu uma modalidade de conexão específica dos trabalhadores às necessidade
organizacionais e produtivas do capital, sem as peculiaridades restritivas de cunho
econômico, social, tecnológico e cultural das modalidades anteriormente dominantes
na experiência histórica (escravidão e servidão)."

Em linhas sintéticas pode-se resumir que nestes modelos de produção, os


empregados poderiam ser considerados até mesmo segmentos dos equipamentos,
já que sua única função era operá-los. A linha de montagem estabelecia um ritmo
cada vez mais acelerado, em busca da maior produtividade possível.
Inquestionavelmente, as revoluções industriais mudaram a sociedade, retirando o
homem do campo e levando-o para cidade. A produção, de artesanal e
manufatureira, passou para a industrial e massiva.

As condições de trabalho durante as revoluções industriais, eram péssimas, com


jornadas extenuantes, absurdas, em locais insalubres e perigosos, sem qualquer
proteção, inclusive com mulheres e crianças trabalhando nas fábricas, tudo através
da liberdade e igualdade.

Diante do verdadeiro abismo (exploração, dominação e exclusão de uma parte da


população sobre a outra) que a liberdade e a igualdade causaram à sociedade, a
Europa no final do século XIX ficou dominada por revoluções, movimentos socais
que desejavam a concessão de direitos que de alguma forma ofertassem uma
igualdade de fato e, assim, a inclusão social da maior parte da população que até
então era excluída.

Impulsionados pelos ideais socialistas e marxistas da Primeira Internacional de 1864


(conhecida inclusive como Primeira Internacional Socialista) os movimentos
operários atingem níveis de descontentamento alarmante, abrangendo grande parte
da Europa, gerando, assim, uma onda de greves. Na Alemanha e na França, no ano

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de 1868, aconteceram muitas greves; na Bélgica, em 1869; na Áustria-Hungria, em


1870, na Rússia; em 1871, na Itália e entre 1871-1873, a Inglaterra foi tomada por
uma série de greves.

Do Constitucionalismo Social

Diante da ocorrência destes movimentos sociais, no século XX, surge o Estado


Social de Direito, tendo como principal característica a postura positiva estatal,
buscando o bem estar social.

Através do constitucionalismo social, o Estado passou a ter uma interferência ativa


na vida dos jurisdicionados, sendo promotor de políticas sociais, interventor nas
relações particulares, para de alguma maneira ser alcançada a igualdade fática, o
que para Robert Alexy, seria "o dever de tratamento desigual".

Em síntese: através da concessão de direitos, caracterizados pela postura ativa do


Estado, criava-se uma desigualdade formal, objetivando-se uma igualdade material
(o que para Aristóteles seria denominado de equidade).

Os direitos criados neste momento histórico são denominados como direitos


fundamentais de segunda dimensão, "o novo modelo propugnava uma intervenção
estatal para promover os direitos sociais, econômicos e culturais como instrumentos
de realização das liberdades." E daí surgem os direitos a educação, saúde,
alimentação, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social e outros.

Diante de seus jurisdicionados o Estado passou a ser sujeito de deveres (prestador),


em busca do bem estar social.

Os direitos de segunda dimensão são positivos, pois exigem do Estado atuação em


prol do cidadão. São direitos de cunho prestacional e que implicam dispêndio para o
Estado prestador. Vale registrar, a propósito, a opinião abalizada de Ingo Wolfgang
Sarlet :... estes (direitos fundamentais de segunda geração) não englobam apenas
direitos de cunho positivo, mas também as assim denominadas "liberdades sociais",
do que dão conta os exemplos de liberdade de sindicalização, do direito de greve,
bem como do reconhecimento de direitos fundamentais dos trabalhadores, tais como
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o direito a férias e ao repouso semanal remunerado, a garantia de um salário


mínimo, a limitação da jornada de trabalho, apenas para citar alguns dos mais
representativos. [...]

Saliente-se, contudo, que, a exemplo dos direitos da primeira dimensão, também os


direitos sociais se reportam à pessoa individual, não podendo ser confundidos com
os direitos coletivos e/ou difusos da terceira dimensão.

No contexto do constitucionalismo social, surge também o Direito do Trabalho, como


instrumento de Justiça Social, conforme Jorge Luiz Souto Maior: "Pelo novo direito, o
Direito do Trabalho, que chegou a marcar a passagem do modelo jurídico do Estado
Liberal para o Estado Social, almeja-se, sobretudo, a elevação da condição social e
econômica daquele que vende sua força de trabalho para o implemento da produção
capitalista."

A constitucionalização dos direitos socais ocorreu inicialmente nas constituições do


México em 1917 e de Weimar em 1919. No Brasil as Constituições de 1934 e de
1946, refletem o quadro do constitucionalismo social.

A criação das normas trabalhistas ofertando direitos à parte hipossuficiente,


objetivavam justamente estipular um tratamento formal, desigual às partes, para que
a desigualdade material existente fosse diminuída. Caso estas normas não
existissem indubitavelmente que o mundo ainda estaria presenciando até a presente
data as crueldades vivenciadas nos séculos XVIII e XIX.

O surgimento dos direitos trabalhistas refletia a dicotomia que existia entre as partes
envolvidas, enquanto que um trabalhava para receber seu salário (e ter do que
sobreviver), o outro auferia lucro; ao passo que o trabalhador vendia sua força de
trabalho (e sua liberdade), o empregador a comprava, sendo o detentor de todos os
meios de produção. É justamente o que Robert Alexy denomina de "uma razão
suficiente para o dever de um tratamento desigual, então, o tratamento desigual é
obrigatório."

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É justamente o que aconteceu no Direito do Trabalho, que através da Justiça Social,


tentou reduzir a desigualdade, constituindo um conjunto de normas de ordem
pública, pautado pelo princípio da proteção (considerado como a espinha dorsal
deste ramo jurídico).

Com o surgimento destas normas, a relação de emprego acaba sendo o viés que
oferta uma maior inclusão social ao trabalhador, tendo em vista que a ela foi
direcionada uma gama jurídica protetiva, ofertando condições mínimas de
sobrevivência (ao empregado e a sua família) e ainda retira da parte hipossuficiente
qualquer responsabilidade do negócio jurídico (já que o risco do empreendimento é
do empregador).

Pode-se dizer então que o Estado Social construiu um conjunto de direitos (ditos
como sociais), que foram capazes de garantir ao ser humano melhorias substanciais
de condições de vida, dentre eles os direitos trabalhistas.

Do Constitucionalismo Democrático
E assim, em meados do século XX, é criado o Estado Democrático, que dentre seus
motivos ensejadores, tinha como primordial a busca pela efetivação dos direitos
fundamentais anteriores.

No constitucionalismo democrático surgem os direitos fundamentais da terceira


dimensão, que são os direitos coletivos lato sensu, um gênero que engloba três
espécies, sendo elas: direito difusos, coletivos stricto sensu e individuais
homogêneos.
O ser humano na democracia é a "grundnorm (basic norm)" do ordenamento
jurídico. "A pessoa humana deve ser o centro de preocupação do Estado
Democrático de Direito."

A responsabilidade pelo cumprimento dos direitos fundamentais de terceira


dimensão ultrapassa as barreiras do Estado, tornando-se necessário o esforço
conjunto e global para sua implementação. Afinal, está-se diante de direitos cuja
titularidade é difusa e que podem abarcar até mesmo a comunidade global. É donde
se afirma a universalidade como característica essencial dos direitos humanos,
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como direitos inerentes à condição de pessoa humana, independente de sua


nacionalidade.

No Brasil, o constitucionalismo democrático esta previsto na Constituição de 1988,


destacando-se o inciso III, do artigo 1º, que prevê a dignidade da pessoa humana
como um dos fundamentos da República Federativa.

Para José Joaquim Gomes Canotilho, o Estado Democrático seria até mesmo uma
evolução do Estado de Direito. No mesmo sentido, entende Luís Roberto Barroso
demonstrando: "constitucionalismo significa, em essência, limitação do poder e
supremacia de lei (Estado de direito, rule of law, Reschtsstaat). Democracia, por sua
vez, em aproximação sumária, traduz-se em soberania popular e governo da
maioria".
Quanto à estrutura básica da democracia, deve-se entender que: "funda-se em um
inquebrantável tripé conceitual: pessoa humana, com sua dignidade; sociedade
política concebida como democrática e includente; sociedade civil, também
concebida como democrática e includente."

Destaca-se que inexiste qualquer sobreposição de um direito fundamental sobre o


outro, e sim um aprimoramento, soma, vez que se completam, para atingir um único
objetivo: a proteção ao ser humano. Todos os direitos que forem necessários para
satisfazer as condições básicas e vitais do ser humano devem ser acompanhados e
resguardados pelos direitos humanos.

Assim leciona Gabriela Neves Delgado:"Sob o prisma da história política, social,


cultural e econômica, pode-se afirmar que o Estado Democrático de Direito é o mais
evoluído na dinâmica dos Direitos Humanos, por fundar-se em critérios de
pluralidade e de reconhecimento universal de direitos."

Da Violação Aos Direitos Trabalhistas


Muito embora o texto constitucional brasileiro considere o trabalho tanto como direito
fundamental (artigos 6º e 7º), como a base da ordem econômica e da ordem social
(artigos 170 e 193), atualmente o que o país tem presenciado é um "contumaz e
reiterado descumprimento aos direitos trabalhistas no âmbito nacional", situação
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denominada por Jorge Luiz Souto Maior, Ranúlio Mendes e Valdete Souto Severo
de dumping social.
Portanto, o dumping social, deve ser analisado como um gênero, que comporta todo
e qualquer descumprimento de norma trabalhista que ocorra de maneira repetitiva e
corriqueira por uma determinada empresa. Sendo assim, ocasiona prejuízos em
diversas angulações: (i) ao trabalhador, (ii) ao erário público, (iii) à sociedade e (iv) e
aos demais empregadores.
Para José Roberto Freire Pimenta o grande problema enfrentado na atualidade pelo
Direito do Trabalho brasileiro é justamente a "síndrome do descumprimento das
obrigações trabalhistas".

Direito do Trabalho sob a ótica dos Direitos Fundamentais

Direitos Fundamentais é um dos temas acadêmicos mais relevantes da atualidade


na área do Direito. Refere-se aos direitos básicos individuais, sociais, políticos e
jurídicos que são previstos na Constituição Federal de uma nação. Por norma, os
direitos fundamentais são baseados nos princípios dos direitos humanos, garantindo
a liberdade, a vida, a igualdade, a educação e a segurança, entre outros.

“No momento em que nós estamos é muito raro ver uma tese de doutorado, uma
dissertação de mestrado, um livro ou uma doutrina que não trate do tema que diz
respeito aos direitos fundamentais”, conta Claudimir Supioni, Mestre em Direito
do Trabalho.

“Além disso, é um tema muito importante e que está absolutamente permeado na


Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal”, completa.

Para citar algumas das importantes decisões tomadas pelo Supremo Tribunal
Federal extraídas do contexto dos direitos fundamentais, o professor Claudimir
Supioni cita o reconhecimento da união homoafetiva, o direito de greve dos
servidores públicos e a permissão para aborto dos fetos anencefálicos.

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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

3- DIREITOS HUMANOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS

Direitos Humanos

Os Direitos do Homem, ou Direitos Humanos são relativos, historicamente


determinados, variáveis no tempo e variáveis de acordo com a cultura na qual
está inserido. Por isso, os direitos fundamentais de diferentes países podem
divergir de acordo com as particularidades culturais e históricas de cada
civilização.

A expressão “Direitos Humanos” é a afirmação dos direitos naturais pela


comunidade internacional, ou seja, a partir do momento em que a comunidade
internacional editou um documento reconhecendo os direitos do homem, cria-se
uma ordem internacional, como se fosse um direito supranacional que é válido
para todos os povos em todos os tempos.

Direitos Fundamentais

Os Direitos Fundamentais são posições jurídicas concernentes às pessoas que,


por seu conteúdo e importância, foram integradas ao texto da Constituição e,
portanto, retiradas da esfera de disponibilidade dos poderes constituídos
(fundamentalidade formal), bem como as que, pelo seu objeto e significado,
possam lhe ser equiparadas, tendo ou não assento na Constituição formal.

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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

“No momento em que os Direitos Humanos ou Direitos do Homem, citados


anteriormente, ingressam no texto constitucional, eles se tornam direitos
Fundamentais. Que são os Direitos inerentes ao homem reconhecido no Plano
Constitucional”, explica Supioni.

“A partir do momento em que a Constituição reconhece um direito inerente à


condição Humana, ele se torna um Direito Fundamental”, completa.

Concepção e perspectivas dos Direitos Fundamentais na CF de 1988

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional


Constituinte para instituir um Estado democrático, destinado a assegurar o
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar,
o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma
sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e
comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das
controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da
República Federativa do Brasil.

Direitos Fundamentais na Constituição Federal

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
democrático de direito e tem como fundamentos:

I – a soberania;

II – a cidadania;
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III – a dignidade da pessoa humana;

IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V – o pluralismo político.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II – garantir o desenvolvimento nacional;

III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades


sociais e regionais;

IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,


idade e quaisquer outras formas de discriminação.

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4- DIREITO DO TRABALHO AMPARADO PELOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

No âmbito do Direito do Trabalho, há diversas leis que protegem os direitos


humanos dos trabalhadores visando colocar limites ao poder do empregador.

Embora seja óbvio que aquele que contrata dê ordens e exija seu
cumprimento, deve haver um limite, imposto pela lei, porém cujo parâmetro se
encontra em um plano mais amplo, que é o dos direitos e garantias
fundamentais da pessoa humana.

O direito ao trabalho é reconhecido como um Direito Social, contudo a


legislação trabalhista vai além e visa garantir os direitos humanos dos
trabalhadores.

Direito à vida

A grande maioria dos doutrinadores vê o direito à vida como o cerne de todo


complexo de direitos humanos que se ligam a ele.

E é fato que para o Direito só existe pessoa enquanto esta está viva. Assim,
não deve causar espanto que o Direito do Trabalho também proteja a vida do

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trabalhador já que, se na maioria das funções o risco de morte é remoto, em


algumas ele está sempre presente.

Assim, em Nossa Constituição a regra de proteção vem enunciada da


seguinte forma:

CF, Art. 7º

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de


saúde, higiene e segurança; ” [iii]

A proteção à vida é de tal monta que colocá-la em risco é motivo para


rescisão indireta do contrato de trabalho:

CLT, Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e


pleitear a devida indenização quando: (...);

c) correr perigo manifesto de mal considerável”;

Além dos textos legais citados, toda norma que proteja a saúde, a segurança
e a integridade física do empregado está, em última instância, protegendo sua
vida.

Direito à igualdade

No Direito do Trabalho, o direito à igualdade se pronuncia no direito de


perceber igual salário, talvez a faceta mais visível deste direito, porém está
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presente também em ter oportunidades iguais de acesso e permanência no


emprego.

No tocante a salário:

CLT, Art. 5º - A todo trabalho de igual valor corresponderá salário igual, sem
distinção de sexo”.[v]

Regra assegurada pelo direito do empregado do pleitear a equiparação


salarial com colega que, exercendo a mesma função, ganhe salário maior:

CLT, Art. 461 - Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor,
prestado ao mesmo empregador, na mesma localidade, corresponderá igual
salário, sem distinção de sexo, nacionalidade ou idade.

Esta norma aparece novamente em nossa Constituição, desta vez com sua
feição de princípio:

CF, Art. 7º

XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério


de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;

XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de


admissão do trabalhador portador de deficiência;”

O princípio da igualdade também proíbe a distinção não apenas entre a


espécie de trabalho realizado, mas também a diferenciação entre diferentes
tipos de trabalhadores:

CF, Art. 7º
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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou


entre os profissionais respectivos;

XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício


permanente e o trabalhador avulso”

Criminalização da conduta discriminatória

Lei 9.029 de 13 de abril de 1999

Art. 1º Fica proibida a adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa


para efeito de acesso a relação de emprego, ou sua manutenção, por motivo
de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar ou idade,
ressalvadas, neste caso, as hipóteses de proteção ao menor previstas no
inciso XXXIII do art. 7º da Constituição Federal.”[ix]

A proteção ao mercado de trabalho da mulher como forma de promoção da


igualdade de oportunidades de trabalho independentemente de gênero:

CLT, Art. 373-A. Ressalvadas as disposições legais destinadas a corrigir as


distorções que afetam o acesso da mulher ao mercado de trabalho e certas
especificidades estabelecidas nos acordos trabalhistas, é vedado:

I - publicar ou fazer publicar anúncio de emprego no qual haja referência ao


sexo, à idade, à cor ou situação familiar, salvo quando a natureza da
atividade a ser exercida, pública e notoriamente, assim o exigir;

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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

II - recusar emprego, promoção ou motivar a dispensa do trabalho em razão


de sexo, idade, cor, situação familiar ou estado de gravidez, salvo quando a
natureza da atividade seja notória e publicamente incompatível;

III - considerar o sexo, a idade, a cor ou situação familiar como variável


determinante para fins de remuneração, formação profissional e
oportunidades de ascensão profissional; (...);

V - impedir o acesso ou adotar critérios subjetivos para deferimento de


inscrição ou aprovação em concursos, em empresas privadas, em razão de
sexo, idade, cor, situação familiar ou estado de gravidez;”

Noção de Direito Fundamental


Todo sistema jurídico atribui às pessoas um amplo e variado repertório de direitos.
Trata-se de saber a que direitos - dentro desse repertório - pode ser dado o epíteto
de fundamentais, daí a importância da definição, porque só a partir dela serão
identificados os direitos como fundamentais ou não. Esta seleção de direitos, vale
dizer, a operação mental que permite atribuir a dado direito a qualificação de
fundamental (enquanto a outros recusa o atributo), só pode realizar-se com efeitos
práticos em face de um sistema jurídico positivo concreto. A historicidade dos
direitos fundamentais impede a formulação teórica de "direitos fundamentais" em
geral, válida universalmente no tempo e no espaço. Do ponto de vista da eficácia,
são fundamentais apenas aqueles que, perante dado sistema jurídico, sejam tidos
como tais. Em consequência, somente o exame do sistema jurídico singular
ensejará a resposta à indagação: o que são direitos fundamentais? Tais ou quais
direitos serão fundamentais dentro do sistema considerado, ao passo que, no
contexto de ordenamento diverso, poderão não o ser.

A diversidade de concepções dificulta, sem dúvida, a tarefa de definir direitos


fundamentais, sem as limitações impostas pela observação direta de dado
ordenamento jurídico.
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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

Talvez seja possível, contudo, com grande esforço de abstração, deixar de lado o
exame de cada ordenamento em concreto e tentar definir direitos fundamentais de
maneira abrangente, mediante um enunciado suficientemente amplo a ponto de
abranger qualquer tipo de direito fundamental, seja qual for a ordem jurídica
enfocada.

Fixadas essas premissas, direitos fundamentais são os que, em dado momento


histórico, fundados no reconhecimento da dignidade da pessoa humana, asseguram
a cada pessoa as garantias de liberdade, igualdade, solidariedade, cidadania e
justiça. Este é o núcleo essencial da noção de direitos fundamentais, aquilo que
identifica a fundamentalidade dos direitos. Poderiam ser acrescentadas as notas
acidentais de exigência do respeito a essas garantias por parte dos demais homens,
dos grupos e do Estado, bem assim a possibilidade de postular a efetiva proteção do
Estado em caso de ofensa.

O Reconhecimento da Dignidade da Pessoa Humana

Os direitos fundamentais repousam sobre o valor básico do reconhecimento da


dignidade da pessoa humana. Sem este reconhecimento, inviabiliza-se a própria
noção de direitos fundamentais. Não por outro motivo, o primeiro parágrafo do
Preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela
Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em Paris, em 10 de
dezembro de 1948, afirma que "o reconhecimento da dignidade inerente a todos os
membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento
da liberdade, da justiça e da paz no mundo". Esta afirmação é reproduzida no
primeiro parágrafo do Preâmbulo do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e
Políticos adotado pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em
1966, cujo artigo 10 declara que toda pessoa privada de sua liberdade será tratada
com respeito da dignidade inerente à pessoa humana. O mesmo procedimento é
observado pelo primeiro parágrafo do Preâmbulo do Pacto Internacional sobre
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, também adotado pela Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas em 1966. O art. 1º da Constituição da República
Federal da Alemanha (Lei Fundamental, de 23.05.1949) proclama que "a dignidade
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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

da pessoa humana é sagrada. Todos os agentes da autoridade pública têm o dever


absoluto de a respeitar e proteger". O Preâmbulo da Carta dos Direitos
Fundamentais da União Europeia, proclamada em Nice, em 17 de dezembro de
2000, declara que a União repousa sobre os valores individuais e universais da
dignidade humana (além de outros). O Capítulo I da Carta traz como epígrafe
"Dignidade", e o artigo 1º, cuja epígrafe é "Dignidade Humana", dispõe que "a
dignidade humana é inviolável. Ela deve ser respeitada e protegida". A explicação
fornecida pelo Presidium esclarece que "a dignidade da pessoa humana não é
apenas um direito fundamental em si, mas constitui a própria base dos direitos
fundamentais (...). A dignidade da pessoa humana integra a substância dos direitos
inscritos na Carta".

Conceito de Dignidade da Pessoa Humana

A dignidade da pessoa é o verdadeiro pressuposto ou o próprio fundamento dos


direitos humanos (ou fundamentais): os direitos do homem são uma maneira
relativamente eficaz, por certo, cada vez mais amplamente compartilhada, que os
homens estabeleceram para concretizar determinadas exigências emergentes da
ideia de sua própria dignidade.

É a necessidade de respeito à dignidade da pessoa que está na raiz do paradigma


ético básico a ser observado por todo e qualquer ordenamento jurídico. Este
paradigma reduz o terreno das discrepâncias entre as diferentes concepções de
justiça do nosso tempo. A consagração, a garantia, a promoção e o respeito efetivos
dos direitos fundamentais constituem o mínimo ético que deve ser acatado por toda
sociedade e por todo direito que desejem apresentar-se como justos.

O reconhecimento do valor absoluto da pessoa humana ocupa o vértice dos valores


consagrados por qualquer ordenamento jurídico justo, aspiração hoje cada vez mais
difundida, alcançando significação universal. Inicialmente proclamado como
exigência de reconhecimento e proteção da personalidade, o valor verdadeiramente
primário e básico da existência do homem em sociedade desloca-se para o
reconhecimento da dignidade da pessoa humana.
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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

Esta noção remonta à ideia kantiana de que o mais valioso para o ser humano é a
capacidade de se atribuir seus próprios fins como sujeito dotado de autonomia
moral, o que impede usar o indivíduo como simples meio para obter fins a ele
transcendentes ou pretender dar sentido à sua vida mediante modelos de virtude
alheios à sua própria consciência ética.

Kant escreveu: "O homem - e, de uma maneira geral, todo o ser racional - existe
como fim em si mesmo, não só como meio para o uso arbitrário desta ou daquela
vontade. Pelo contrário, em todas as suas ações, tanto nas que se dirigem a ele
mesmo como nas que se dirigem a outros seres racionais, ele tem sempre de ser
considerado simultaneamente como fim (...). Os seres racionais se chamam pessoas
porque a natureza os distingue como fins em si mesmos, quer dizer, como algo que
não pode ser empregado como simples meio". E adiante: "(...) a moralidade é a
única condição que pode fazer de um ser racional um fim em si mesmo, pois só por
ela lhe é possível ser membro legislador no reino dos fins. Portanto, a moralidade e
a humanidade, enquanto capaz de moralidade, são as únicas coisas que têm
dignidade". No pensamento kantiano, que está na base da concepção atual do
fundamento dos direitos humanos, encontra-se a indicação da dignidade, que
envolve a capacidade do indivíduo autônomo para decidir sobre seu próprio projeto
vital (inclusive seus fins). A dignidade da pessoa humana, em consequência,
fundamenta os direitos humanos nas seis famílias pelas quais eles se manifestam.

Debatem-se em sede doutrinária a natureza, o alcance e o conteúdo da dignidade


humana. Valor ou direito? Fundamento de direito ou um próprio direito em si?
Barreira constituída em torno do indivíduo para protegê-lo contra ataques públicos e
privados ou princípio de conteúdo juridicizado?

Duas correntes podem ser identificadas a propósito do tema. Para a primeira, a


dignidade não é um simples princípio, uma norma entre outras, mas, sim, o valor
supremo que encarna o fundamento e o fim de toda instituição política. Para a
segunda, a dignidade constitui um próprio direito fundamental em si mesmo e abre
caminho para a jurisdicionalização.

21
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

Numa primeira visão, a dignidade representa um valor, não um direito. Impróprio é


falar em "direito à dignidade". Mais correto é falar em direito ao respeito à dignidade,
à sua proteção e à sua promoção. A dignidade é o princípio dirigente supremo do
ordenamento jurídico. A dignidade, como tal, não pode ser uma norma jurídica. A
subjetividade inerente à afirmação jurídica da dignidade impede seja ela alçada a um
patamar de reconhecimento que a credencie a fundamentar decisões judiciais,
porque daí decorreriam consequências insuscetíveis de serem previstas com um
suficiente grau de precisão. Por esta óptica, a dignidade seria um atributo, uma
característica, uma prerrogativa inerente à pessoa, que o ordenamento positivo não
concede, apenas reconhece.

A segunda corrente considera a dignidade humana um próprio direito fundamental


em si mesmo, e não simples valor fundante de outros direitos. Nesta ordem de
idéias, poderia inspirar a ação do Estado na satisfação de pretensões a um apoio
material mínimo, sem o qual a pessoa indefesa sucumbe ante sua própria
impotência. Em situações como esta, abrangidas no conceito de mínimo vital ou
existencial, a abstenção ou a negligência do Estado podem ser acusadas de causar
lesão direta a direitos fundamentais.

A dignidade humana pode apoiar pretensões subjetivas a um mínimo vital ou


existencial, apto a impedir a completa coisificação da pessoa, pois, caso contrário,
estaria abalada a base ética sobre a qual assenta qualquer ordenamento jurídico
justo.

A dignidade da pessoa humana é o fundamento dos direitos humanos. Os direitos


fundamentais constituem manifestações da dignidade da pessoa. Quando algum dos
direitos fundamentais, qualquer que seja a família a que pertença, for violado, é a
dignidade da pessoa que sofre a ofensa. Os direitos fundamentais asseguram as
condições da dignidade e, não obstante a violação da norma, apesar da agressão, a
dignidade estará preservada, porque ela é um valor intangível. A dignidade não se
esgota nos direitos fundamentais, entretanto, só terá sua dignidade respeitada o
indivíduo cujos direitos fundamentais forem observados e realizados.

22
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

Fixadas essas premissas e mesmo sem perder de vista o caráter vago fluido,
indeterminado ou impreciso da expressão dignidade da pessoa humana, forçoso
reconhecer que ela encerra um valor heurístico e exerce uma função hermenêutica.
O valor heurístico se revela no papel de influenciar o legislador na edição das
normas que explicitam os direitos fundamentais, bem assim o juiz, no momento de
proferir decisões que põem em jogo interesses vitais da pessoa. Quanto à função
hermenêutica, é certo que a dignidade está presente na tarefa de interpretação de
todo o ordenamento. Nas palavras de Daniel Sarmento, ela "condensa a ideia
unificadora que percorre a ordem jurídica, condicionando e inspirando a exegese e a
aplicação do direito positivo, em suas mais variadas manifestações". A dignidade da
pessoa humana é - como diz Dominique Rousseau - a pedra filosofal dos direitos
fundamentais. Não constitui um direito fundamental: é o valor que possui a
maravilhosa propriedade de dar nascimento aos direitos fundamentais e de lhes
atribuir um sentido. Possui também a chave da inteligibilidade do conjunto dos
direitos fundamentais. Parece claro, assim, que a dignidade da pessoa é valor do
qual decorrem os direitos fundamentais. Estes adquirem vida e realidade nele e por
ele, mas, em contrapartida, o valor dignidade só se concretiza e se torna efetivo por
intermédio dos direitos fundamentais. A dignidade só existe como realidade jurídica
concreta por meio de sua exteriorização em cada um dos direitos fundamentais.
A Constituição brasileira de 5 de outubro de 1988 relaciona, entre os fundamentos
do Estado Democrático de Direito em que se constitui o Brasil, a "dignidade da
pessoa humana" (art. 1º, inciso III). Perante o ordenamento positivo brasileiro,
portanto, a dignidade da pessoa é um dos fundamentos do próprio Estado brasileiro,
o que não desmente a assertiva de representar ela, também, o fundamento dos
direitos humanos reconhecidos e proclamados pela própria Constituição. Os direitos
fundamentais são um elemento básico do Estado Democrático de Direito. Como o
Estado brasileiro é um Estado Democrático de Direito (Constituição, art. 1º), segue-
se que os direitos fundamentais são um elemento básico do Estado brasileiro. E
como a dignidade da pessoa humana constitui um dos fundamentos do Estado
brasileiro, ela deve ser tida, à luz do ordenamento positivo brasileiro, por fundamento
dos direitos humanos reconhecidos, proclamados e garantidos pelo Estado
brasileiro.
23
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

Assim, a análise de cada um dos direitos elencados no art. 7º da Constituição


brasileira de 05.10.88 levará em conta para sua inclusão, ou não, no rol dos direitos
fundamentais a circunstância de se apoiarem, ou não, no reconhecimento da
dignidade da pessoa humana.

Direitos do Trabalhador como Cidadão e como Empregado

É certo que o objeto do contrato de trabalho não é a pessoa do trabalhador, mas sua
atividade. Não menos certo, porém, é que não se pode separar o trabalho da pessoa
daquele que o presta. A impossibilidade de separar o trabalho da pessoa do
trabalhador é o primeiro dado sobre o qual se baseia o critério objetivo que
caracteriza a subordinação. Fácil é concluir, portanto, que, na execução do contrato
de trabalho, o empregado reúne a dupla qualidade de titular de direitos fundamentais
que lhe assistem como cidadão e de titular de direitos fundamentais aplicáveis
estritamente no âmbito da relação de emprego. Ao inserir sua atividade laborativa na
organização empresarial, o trabalhador adquire direitos decorrentes dessa nova
posição jurídica, sem perder, contudo, aqueles de que era titular anteriormente. Em
suas relações com o empregador, o trabalhador tem direitos que lhe assistem como
pessoa.

O direito é um sistema coerente, estruturado como a expressão de uma visão


objetiva da justiça. Neste sistema, posição essencial é ocupada pelos direitos
fundamentais, que encontram espaço para aplicação também quando em jogo a
relação de trabalho subordinado.

A implicação dos direitos fundamentais no sistema jurídico reveste-se de importância


considerável, pois, como é hoje pacífico, eles não se limitam a impor restrições ou
limites aos Poderes Públicos. Ápice da ordem jurídica e expressão suprema dos
valores axiológicos fundados sobre a dignidade da pessoa, os direitos fundamentais
são dotados de irresistível supremacia jurídica, exercida sobre a integralidade do
sistema. Para manter a coerência interna do ordenamento jurídico, é de rigor que os
direitos fundamentais se apliquem ao conjunto desse ordenamento, não somente em
24
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

face do Poder Público, mas também no âmbito das relações privadas, bem assim no
sistema econômico. A regulação das relações de trabalho não escapa ao raio de
ação dos direitos fundamentais, elemento integrante que é do ordenamento jurídico.
Como observa João Pedro Gebran Neto, os direitos fundamentais, parte integrante
do ordenamento em que se inserem (aplicado como um todo, e não em tiras),
alcançam também a ordem privada, protegendo os particulares contra atentados
tanto do Estado quanto de outros indivíduos ou de entidades particulares.

No Estado Democrático de Direito, os direitos fundamentais ocupam uma posição


central dentro do ordenamento jurídico e vinculam diretamente, além do Poder
Público, as entidades privadas. São o parâmetro dentro do qual devem ser
interpretadas todas as normas que compõem o ordenamento jurídico, inclusive
aquelas voltadas para a regulação das relações de trabalho. Nesse contexto,
assume especial relevo, no Brasil, a constitucionalização da valorização do trabalho
humano (Constituição de 1988, art. 170), como fundamento da ordem econômica, a
inspirar a adoção de medidas como a busca do pleno emprego (art. 170, inciso VIII)
e a orientar o Estado no desenvolvimento de políticas aptas a proporcionar a
distribuição equitativa da renda, bem assim o acesso a bens e serviços.

Como sujeito de uma relação de emprego, o trabalhador desfruta, simultaneamente,


do gozo dos diversos direitos fundamentais, qualquer que seja o naipe de direitos a
ser considerado. Em outras palavras, ele é titular ao mesmo tempo de todos os
direitos agrupados em cada um dos seis grupos de direitos fundamentais. Em tempo
e local de trabalho, embora submetido ao poder de direção do empregador em
virtude do vínculo de subordinação, o empregado conserva sua qualidade de
"homem livre". A relação de emprego não o priva de seus direitos e liberdades. Vale,
porém, observar que os direitos fundamentais se aplicam não somente aos
empregados, mas também aos trabalhadores autônomos, aos parassubordinados,
enfim, a todos aqueles que exercem uma atividade remunerada por conta de outrem
ou de quem dependem do ponto de vista econômico.

As novas tecnologias de informação e de comunicação proporcionam ao


empregador meios de exercer minucioso e eficaz controle da atividade do
25
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

empregado, velha aspiração patronal, em toda parte. Sem dúvida, as novas


tecnologias ampliaram enormemente as possibilidades de controle do empregado
por parte do empregador no interior da empresa e até mesmo fora dela. A
sofisticação dos meios de espionagem não dá trégua ao empregado, que sofre, em
consequência, intrusão em sua vida particular. Cabe, porém, ao empregador a
obrigação de respeitar a vida privada do trabalhador. Os princípios de confiança
recíproca e de execução de boa-fé do contrato de trabalho impõem-lhe o dever de
revelar ao empregado os meios de vigilância utilizados. As ações secretas,
suscetíveis de ferir os direitos e as liberdades individuais do empregado, são
condenáveis. O empregador não pode, sob pena de vulnerar os mencionados
princípios, invadir a intimidade do empregado, violando-lhe a vida privada. Em
contrapartida, ao empregador é facultado adotar medidas de segurança para a
proteção tanto do fluxo de entrada quanto de saída de dados do interesse da
empresa, mediante a instalação de dispositivos técnicos adequados, bem assim a
promulgação de normas disciplinares destinadas à proteção do material e da rede
de informática.

Já se disse que o objeto específico do contrato de trabalho é a energia laborativa,


física ou mental (ou ambas) do trabalhador. Como o contrato de trabalho gera uma
relação de trato sucessivo ou de execução continuada, ele absorve boa parte do
tempo e da energia da pessoa do trabalhador. Portanto, o envolvimento pessoal do
trabalhador no cumprimento das obrigações por força do contrato de trabalho não
representa um episódio passageiro no desenvolvimento de sua vida cotidiana. O
trabalhador compromete sua própria pessoa no cumprimento das obrigações
contratuais. Em consequência, a implicação da pessoa do trabalhador na execução
do contrato de trabalho afeta não só seus interesses profissionais (satisfação no
trabalho, remuneração, carreira, etc.), mas também seus interesses pessoais
(saúde, intimidade, integridade física, tempo livre, etc.).

O contrato de trabalho integra a teoria das obrigações, vale dizer, ostenta natureza
patrimonial, e não pessoal. Contudo, forçoso reconhecer a existência de um denso
componente pessoal na caracterização jurídica do contrato de trabalho, do qual
decorrem os deveres de confiança recíproca e de execução de boa-fé no
26
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

desenvolvimento da relação contratual. Daí surge a necessidade de compatibilizar


as tensões registradas no âmago do contrato de trabalho, que decorrem, de um
lado, da natureza do contrato sinalagmático (intercâmbio patrimonial) e, de outro, da
característica de negócio jurídico que compromete os interesses profissionais e
pessoais do trabalhador.

A doutrina trabalhista brasileira há muitos anos reconhece, entre as obrigações


assumidas pelo empregador por força da celebração do contrato de trabalho, "a
obrigação de respeitar a personalidade moral do empregado na sua dignidade
absoluta de pessoa humana", como pontifica Délio Maranhão(5).

Esta é, de fato, a obrigação básica do empregador, decorrente do reconhecimento


da existência de direitos fundamentais do trabalhador como sujeito de um contrato
de trabalho. No âmbito da relação de trabalho, os direitos fundamentais
correspondem à projeção da dignidade da pessoa humana na disciplina jurídica do
contrato. O dever que tem o empregador de dispensar tratamento digno ao
empregado está na raiz da obrigação de respeitar os direitos fundamentais do
trabalhador. Esta obrigação tem por conteúdo o respeito aos direitos inerentes à
dignidade da pessoa, que se relacionam com os direitos fundamentais, considerados
de maneira genérica. O eixo ideológico desta construção doutrinária não é outro
senão o reconhecimento da Drittwirkung, ou seja, da eficácia em face do
empregador dos direitos fundamentais do empregado na execução do contrato de
trabalho.

Limitações ao Exercício dos Direitos Fundamentais

É impossível traçar a priori uma linha divisória entre a normalidade e o excesso no


exercício dos direitos fundamentais. Tarefa sem dúvida difícil é a de estabelecer em
caráter geral as hipóteses em que se pode exigir que o empresário sacrifique seu
interesse na ara do exercício dos direitos fundamentais do trabalhador ou, pela outra
via, que os trabalhadores devam, sem renunciar aos direitos inerentes à sua
dignidade, restringi-los em atenção a seus compromissos contratuais. Tal como
sucede quando se trata de aplicar standards jurídicos, o exercício dos direitos
27
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

fundamentais em função da boa-fé contratual exige uma ponderação das


circunstâncias concretas em cada caso.
Cabe desde logo distinguir vida pública de vida privada. A vida pública é a parte da
nossa vida que se desenvolve necessariamente em presença do público, nossa
participação pública na vida da cidade. Assim, por exemplo, jogar peteca na praia,
assistir a uma partida de futebol. A vida privada se define negativamente, em
oposição à vida pública: no fundo, a vida privada é aquela que não é a vida pública
do indivíduo, é o resto. A atividade profissional é parte da vida pública, pois implica
relações com outras pessoas, como colegas, chefes, empregados, clientes, etc. Em
face da vida profissional, a vida privada se retrai. Na vida profissional, a pessoa não
desfruta o mesmo recato nem a mesma liberdade que desfruta em sua vida privada.
Em casa, a pessoa pode vestir-se à vontade, mas os mesmos trajes caseiros são, às
vezes, inadequados na empresa. Na vida profissional, a liberdade do empregado
encontra limites nos poderes do empregador. Em contrapartida, sobre a vida privada
do empregado o empregador não exerce, em princípio, poder algum. É certo que,
em dadas circunstâncias específicas, há exceções, num ou noutro caso. Cumpre,
porém, evitar que essas exceções se tornem "cavalo de Troia", que permitiria a
certos empregadores invadir a "fortaleza" dos direitos fundamentais do trabalhador,
para usar a bela imagem de Patrice Adam. O comportamento do empregado no
quadro de sua vida pessoal somente em casos excepcionais pode justificar a
imposição de sanções disciplinares (por exemplo, a despedida por justa causa).
Uma oposição radical entre vida profissional e vida extraprofissional é incorreta e
conduz a enganos. Da mesma forma que as obrigações decorrentes do contrato de
trabalho podem, em certa medida, acompanhar o empregado na vida
extrapatrimonial, uma parcela irredutível de liberdade e de vida pessoal pertence ao
trabalhador na vida profissional.

A penetração dos direitos fundamentais na economia interna do contrato de trabalho


decorre, portanto, da necessidade de garantir a autonomia de pessoas submetidas a
um poder privado e visa assegurar um mínimo de igualdade na dignidade,
preocupação constante e visível nas situações concretas em que se acham
envolvidos os mais fracos, eis as finalidades comuns aos direitos fundamentais e ao

28
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

direito do trabalho. Por esta razão, Jean-Maurice Verdier vê no direito do trabalho a


terra de eleição para os direitos do homem.

No particular, registra-se um paradoxo: nos estudos sobre relações de trabalho,


quase não se vê referência aos direitos humanos, embora o trabalhador seja antes
de tudo uma pessoa que não abdica dessa qualidade quando se coloca à disposição
do empregador pela celebração do contrato de trabalho. Por força da subordinação
que caracteriza a relação de emprego, ele aceita restrições a certos direitos, porém,
não aos direitos fundamentais, que são direitos humanos: liberdade e direitos
econômicos e sociais. Os especialistas em direitos humanos se interessam pela
relação de emprego, mas os especialistas em direito do trabalho quase não fazem
alusão aos direitos do homem.

Os direitos da personalidade do trabalhador, fundados no valor dignidade da pessoa


humana, representam um continuum lógico e uma implicação pessoal na relação de
trabalho e acenam para a revalorização de temas de direito civil em geral,
especialmente o da responsabilidade civil. Cuida-se, agora, de sancionar civilmente
danos causados à pessoa do trabalhador por ocasião do cumprimento de suas
obrigações na execução do contrato de trabalho.
O fato merece especial destaque na presente conjuntura, quando a busca de
flexibilidade na gestão dos "recursos humanos" e a utilização das novas tecnologias
ameaçam o trabalhador em sua vida privada e no respeito a certos direitos
fundamentais. Quanto maior a flexibilidade e quanto mais insegura a posição social
do trabalhador, mais firme deveria ser a garantia dos direitos fundamentais.
Provavelmente, é no âmbito da relação de trabalho que, do ponto de vista
quantitativo, são cometidas nos países industrializados as mais clamorosas
violações dos direitos humanos, mesmo que entre elas não se encontrem as mais
graves: investigações; questionários sobre opiniões, modo de vida, estado civil,
saúde, filiações contrárias à liberdade de pensamento e expressão; vigilância e
controle durante a atividade profissional, mas invadindo a vida privada; recusa na
admissão; medidas diversas no curso da relação de emprego e na despedida,
frequentemente de caráter discriminatório e contrárias à proibição de despedida
arbitrária; assédio sexual; constrangimento moral; etc.
29
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

A sanção a essas violações costuma ser a indenização, além da reparação dos


danos morais por elas acarretados, mas em certos casos impõe-se a restitutio in
integrum (restitutio in integrum in genere sic solet definiri: ut sit pristini status amissi
recuperatio - a restituição integral pode, em geral, ser assim definida: que haja a
recuperação do estado anterior perdido), ou seja, aquilo que os franceses
denominam lar emise en état (reposição no estado anterior ou restauração do
estado anterior). No caso específico da despedida por motivos discriminatórios, a
solução é a decretação da nulidade da medida, com a reintegração do empregado
no cargo, acompanhada do pagamento dos salários devidos durante o período de
afastamento. É o reconhecimento dos direitos fundamentais no âmbito das relações
de trabalho subordinado que permite aos fracos voltar as armas do direito contra
aqueles que usam o direito para explorá-los e assim participar do progresso material
da sociedade.
Por tais razões, Verdier fala de "certo tropismo entre direitos humanos e direito do
trabalho", que obriga, como imperativo categórico, a instalar a questão dos direitos
fundamentais no centro da regulação das relações de trabalho. Lembra ele a frase
de Rivero e Savatier, na abertura de seu Compêndio de Direito do Trabalho: direito
do trabalho e direitos humanos foram feitos para·pessoas, isto é, empregados nas
relações com seus empregadores.

30
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

5- OS DIREITOS DO TRABALHADOR ELENCADOS NO ART. 7º DA


CONSTITUIÇÃO

Uma observação preliminar salta aos olhos: a demasia dos direitos dos
trabalhadores relacionados no art. 7º da Constituição, alguns deles não
autoaplicáveis e diversos deles ainda pendentes de regulamentação até os dias de
hoje, quase 30 anos após a vigência da Carta.
Ao exercício de um direito subjetivo corresponde o cumprimento de um dever
jurídico. O credor tem o direito de exigir do devedor o cumprimento do dever por ele
assumido. A noção de direito vem acoplada à de dever.
No plano dos direitos fundamentais, os autores negligenciam o estudo dos deveres.
Teme-se que o Poder Público faça deles um instrumento de seus propósitos,
temíveis se tratar-se de um Estado autoritário (na Carta outorgada brasileira de 10
de novembro de 1937, que instituiu o Estado Novo, o trabalho não constituía objeto
de um direito, mas, sim, um dever, um "dever social" - art. 136). Corre-se também o
risco de recair em um moralismo insulso.
Não se pode, por outro lado, deixar de considerar que todo homem carrega sobre
seus ombros, durante toda a existência, uma gama de deveres, sumariamente assim
elencados: 1º) para consigo próprio: trabalhar, educar-se, instruir-se; 2º) para com o
próximo (auxiliá-lo, quando possível); 3º) para com as formações naturais das quais
31
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

participa (exemplo: a família); 4º) para com a sociedade e a pátria (amar a pátria);
5º) para com o Estado (arcar com os ônus por ele impostos, como, v.g., pagamento
dos tributos); e 6º) para com a humanidade. Estes deveres, como afirma Michel
Levinet, constituem a expressão de uma dignidade pessoal, bem assim de uma
dignidade comunitária, além de envolverem noções de responsabilidade,
solidariedade, um mínimo de civismo e de harmonia social, sem as quais os direitos
e as liberdades não passam de uma ilusão.
A propósito, vale advertir que a pletora de direitos enumerados pela Constituição
brasileira de 5 de outubro de 1988 obscurece a noção de deveres, tal como observa
José Pastore: na Constituição da República, a palavra direito (dos cidadãos)
aparece 76 vezes, enquanto a palavra dever, apenas quatro vezes.
Sem qualquer preocupação com sistematizar a relação dos direitos, o art. 7º da
Constituição elenca "direitos dos trabalhadores urbanos e rurais", mediante
enumeração meramente exemplificativa, vale dizer, não taxativa: "além de outros
que visem à melhoria de sua condição social".
A tônica da relação recai, como não poderia deixar de ocorrer, sobre direitos de
natureza remuneratória. Cabe lembrar que, à época da elaboração do texto da
Constituição, o Brasil atravessava uma fase de inflação galopante, cujo efeito mais
pernicioso, naquilo que diz respeito ao direito do trabalho, é a redução do poder
aquisitivo do salário do trabalhador.
Assim, é compreensível que diversos dispositivos constitucionais se ocupem da
remuneração dos trabalhadores, como a refletir a convicção dos parlamentares
constituintes de que os empregados brasileiros são mal remunerados: realmente, o
são...
Os 34 incisos do art. 7º não esgotam a relação dos direitos, bastando lembrar que o
parágrafo único ainda cuida de assegurar direitos aos trabalhadores domésticos,
agora em tudo equiparados aos demais (Emenda Constitucional nº 72, de
02.04.2013; Lei Complementar nº 150, de 01.06.2015).
Os referidos dispositivos constitucionais em que se espraia o mencionado art. 7º,
além de prever em "direitos" dos trabalhadores, excedem-se ao regular, por
exemplo, o prazo prescricional da ação "quanto aos créditos resultantes das

32
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

relações de trabalho" (inciso XXIX, com a redação da Emenda Constitucional nº 28,


de 25.05.00), pois é curial que prescrição de ação "direito do trabalhador" não é.
Entre os mencionados incisos, encontram-se, em sua maioria, os que dispõem sobre
direito individual do trabalho. Alguns, porém, cuidam de matéria pertinente ao direito
coletivo do trabalho (inciso XXVI: "reconhecimento das convenções e acordos
coletivos de trabalho"; inciso XIV: exigência de negociação coletiva para jornada
superior a seis horas, em caso de trabalho realizado em turnos ininterruptos de
revezamento; inciso XIII: exigência de acordo ou convenção coletiva de trabalho
para compensação de horários e redução da jornada; e inciso VI: exigência de
convenção ou acordo coletivo para ladear o princípio da irredutibilidade social). Há
normas sobre Previdência Social (inciso XXIV: "aposentadoria"; e inciso XXVIII:
"seguro contra acidentes de trabalho"), bem assim sobre assistência social (inciso
XXV: assistência aos filhos e dependentes e creches e pré-escolas, com a redação
da Emenda Constitucional nº 53, de 2006).
Quanto à eficácia, inúmeros dispositivos são dotados de eficácia plena, isto é, são
autoaplicáveis: dispensam ulterior regulação por via de legislação infraconstitucional.
Assim, por exemplo, inciso XVI: "remuneração do serviço extraordinário superior, no
mínimo, em cinqüenta por cento à do normal"; inciso XVIII: "licença à gestante, sem
prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias"; além de
outros. Alguns incisos são dotados; de eficácia contida, quais sejam os desprovidos
de aplicabilidade imediata, a exigir regulação por lei infraconstitucional: em alguns
casos, a lei será a complementar, como, por exemplo, o inciso I, que assegura
proteção contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos da lei
complementar; em outros casos, a lei reguladora será a ordinária, como, verbi gratia,
inciso III: "fundo de garantia do tempo de serviço"; e inciso XIX: "licença-paternidade,
nos termos fixados em lei".
Entre os incisos do art. 7º, nenhum é de natureza programática, nenhum é de
eficácia jurídica limitada, vale dizer, entre eles não se encontram preceitos dotados
de eficácia ou aplicabilidade diferida.
7 A Fundamentabilidade dos Direitos Elencados no Art. 7º
O legislador constituinte de 1988, ao relacionar os "direitos dos trabalhadores" no
art. 7º, não teve em mira enunciar direitos fundamentais. É certo que inclui na
33
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

relação direitos fundamentais, como veremos adiante, mas sua finalidade era fixar
direitos básicos, a maioria dos quais já regulados por legislação ordinária
anteriormente promulgada, como que a resguardá-los de qualquer tentativa futura de
revogação ou extinção. Assim é que não se encontram no rol do art. 7º incisos sobre
proteção contra assédio sexual e constrangimento moral, sobre acesso a
informações e proteção da intimidade ou privacidade, sobre liberdade de
manifestação do pensamento, sobre proteção dos direitos da personalidade (honra e
imagem), nem mesmo (pasme-se!) sobre proibição de trabalho forçado ou escravo.
Os direitos fundamentais dos trabalhadores (portanto, direitos indisponíveis em
caráter absoluto, insuscetíveis de renúncia mesmo em sede coletiva) são os
seguintes:
- direitos da personalidade (honra, intimidade, imagem);
- liberdade ideológica;
- liberdade de expressão e de informação;
- igualdade de oportunidades e de tratamento;
- não discriminação;
- idade mínima de admissão ao emprego;
- salário mínimo;
- saúde e segurança do trabalho;
- proteção contra a despedida injustificada;
- direito ao repouso (intervalos, limitação da jornada, repouso semanal e férias);
- direito de sindicalização;
- direito de representação dos trabalhadores e de representação sindical na
empresa;
- direito à negociação coletiva;
- direito de greve; e
- direito ao ambiente de trabalho saudável.
Estes são os direitos fundamentais do trabalhador na relação de trabalho. São
direitos intangíveis, irrenunciáveis, postos a salvo das estipulações in pejus no bojo
da negociação coletiva. A norma coletiva não pode, sob pena de ofensa à dignidade
do trabalhador como pessoa humana, negar ao empregado o direito à aquisição de
qualquer desses direitos. Não se pretende, com esta afirmação, impugnar o direito
34
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

dos interlocutores sociais de negociar o modo de exercício desses direitos. Uma vez
reconhecido o direito, as partes coletivas podem (e devem), com apoio na autonomia
coletiva privada, pactuar o modo pelo qual eles serão exercidos. Tais direitos são
direitos fundamentais no trabalho, afirmados em decorrência da proclamação da
dignidade da pessoa humana como valor supremo a ser observado pelo Estado
Democrático de Direito e pela sociedade que se quer justa e solidária. Já os direitos
fundamentais acima relacionados valem por eles mesmos, independentemente de
desenvolvimento por via legislativa.
É certo que todos os direitos citados estão positivados no direito brasileiro. Não se
trata, aqui, de meras aspirações ou reivindicações a serem caracterizadas no futuro.
Pelo contrário, estão em plena vigência, produzindo efeitos concretos no âmbito das
relações de trabalho, aplicados pelos Tribunais do Trabalho na solução dos conflitos
individuais e coletivos.
Como observa María del Carmem Barranco Avilés, a partir do momento em que
passam a ser considerados parte do direito positivo, os direitos fundamentais
adquirem um duplo caráter ou uma dupla natureza. Por um lado, aparecem em sua
vertente clássica de garantia de posições subjetivas; por outro, convertem-se em
normas. Nas primeiras formulações históricas, os direitos humanos desempenhavam
unicamente uma função subjetiva. Progressivamente, ao longo da história, ao lado
dessa função que converte os direitos em uma técnica de garantia de posições
subjetivas, assumem eles o papel de constituir instrumentos de ordenação do
sistema jurídico em seu conjunto. A assunção pelos direitos de uma função objetiva
repercute na forma de entender a função subjetiva tradicional.
No que se refere ao direito positivo brasileiro vigente, ambas as funções podem ser
com facilidade discernidas no cotidiano das relações de trabalho. Ao lado da função
de garantia das posições subjetivas dos trabalhadores, os direitos fundamentais
exercem uma função objetiva que, em seu conjunto, forma uma norma diretiva
fundamental, convergindo, em sua aplicação, para a implantação da justiça social no
âmago das relações de trabalho.
8 Resposta à Indagação: todos os Direitos Elencados no Art. 7º da Constituição da
República São Fundamentais?

35
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

O direito do trabalho da sociedade pós-industrial gira em torno do eixo do respeito


aos direitos fundamentais dos trabalhadores, com a finalidade de implantar o império
da dignidade do trabalhador como pessoa humana, como ser que produz em
benefício da sociedade. No desempenho dessa tarefa, os direitos fundamentais
exercem dupla função: limitam o exercício do poder do empregador no curso da
relação de emprego e representam barreira oposta à flexibilização das condições de
trabalho mediante negociação coletiva.
Uma vez que o contrato de trabalho implica a subordinação e, portanto, a sujeição
inevitável da pessoa do trabalhador, poder-se-ia imaginar uma oposição entre o
direito do trabalho e os direitos fundamentais do trabalhador. Estes excluiriam a
subordinação e, em consequência, aniquilariam o direito do trabalho. Não há, porém,
tal oposição irredutível. A aplicação dos direitos fundamentais à relação individual de
trabalho pode compatibilizar-se com a subordinação, desde que eles sejam
entendidos pelo prisma da limitação dos poderes do empregador. Os direitos
fundamentais - como diz Adalberto Perulli - formam a cabeça de capítulo do discurso
sobre o controle do poder patronal. No tocante às relações coletivas de trabalho, os
direitos fundamentais exercem função relevante na limitação da liberdade negocial,
quando se cogita flexibilizar os direitos dos trabalhadores mediante negociação
coletiva.
Cabe, em conseqüência, concluir que nem todos os incisos discriminados no art. 7º
constitucional consagram direitos fundamentais dos trabalhadores. Nem todos
consagram direitos irrenunciáveis ou indisponíveis.
Inicialmente, quer no exterior, quer no Brasil, a doutrina era acorde em asseverar
que a irrenunciabilidade do direito deriva da inderrogabilidade da norma concessiva.
A norma inderrogável priva o titular do ius disponendi. Paolo Greco, por exemplo,
sustenta que o fato de ser a relação de trabalho regulada por normas de ordem
pública e, por isso, inderrogáveis pela vontade privada acarreta a irrenunciabilidade
por parte do sujeito a que são atribuídos os direitos correspondentes. Entendia-se
que o estado de subordinação do empregado durante a relação de emprego e a
redução de sua liberdade de vontade em face do empregador economicamente mais
forte tornavam indisponíveis os direitos assegurados ao trabalhador. A ineficácia da
renúncia alcançava todas as fases contratuais: antes, durante a execução e após a
36
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

cessação da relação de emprego. Abria-se exceção para os direitos criados no


próprio contrato, em virtude de pactuação com o empregador, bem assim para os
"direitos patrimoniais já incorporados ao patrimônio do empregado". Esta noção
inspira a regra constante dos arts. 9º e 444 da Consolidação das Leis do Trabalho.
Reza o art. 9º: "Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de
desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente
Consolidação". Dispõe o art. 444: "As relações contratuais de trabalho podem ser
objeto de livre estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha
às disposições de proteção ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam
aplicáveis e às decisões das autoridades competentes".
Atualmente, no Brasil, esta noção ainda desfruta de grande prestígio no seio da
literatura especializada. Para Mauricio Godinho Delgado, o princípio da
indisponibilidade dos direitos trabalhistas "concretiza, no âmbito da relação de
emprego, a natureza impositiva característica à vasta maioria das normas
juslaborais". Pinho Pedreira fundamenta o princípio da irrenunciabilidade dos direitos
trabalhistas na imperatividade e consequente inderrogabilidade das normas de
direito do trabalho, à qual se acrescenta a "presunção de vício de consentimento nos
atos jurídicos do empregado, resultantes de sua subordinação ao empregador".
Na verdade, porém, como diz Ojeda Avilés, a indisponibilidade não deriva
necessariamente da imperatividade da norma e a afirmação contrária expõe-se a
equívoco. Deve-se levar em conta que "a regulação imperativa constitui uma técnica
limitativa do poder normativo privado, que não influi senão de modo imediato sobre o
poder dispositivo, de modo que as duas esferas de poder podem até não coincidir
em seu exercício atual". O verdadeiro fundamento da indisponibilidade dos direitos
trabalhistas, em sede individual, reside na inexistência de incompatibilidade entre a
nulidade dos negócios destinados a excluir ou limitar a aquisição dos direitos e a
anulabilidade dos negócios de disposição dos mesmos direitos, desde que já
constituídos em direitos adquiridos. A explicação, devida a Luisa Riva Sanseverino,
é dada em face do direito italiano; contudo, vale para o direito brasileiro, pois do art.
9º da Consolidação deduz-se a anulabilidade dos atos unilaterais praticados pelo
empregador, ou contratuais (em acordo com o empregador), quando desconformes
com o mandato legal (ou previstos por norma coletiva). Trata-se, em última análise,
37
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

de compatibilizar os princípios de legalidade, estampado na intangibilidade da lei, e


de liberdade (autonomia da vontade), para reconhecer, em certos casos, mediante a
celebração do negócio jurídico derrogatório, a eficácia da renúncia voluntária a
direitos concedidos por lei.
A própria Constituição ampara a procedência dessas conclusões, pois o inciso VI do
art. 7º admite a derrogação da irredutibilidade salarial, o inciso XIV permite a
ampliação da duração da jornada para o trabalho realizado em turnos de
revezamento e o inciso XIII faculta a compensação de horários e a redução da
jornada (em todos os casos, mediante negociação coletiva).
Forçoso, portanto, reconhecer que são veículos de direitos fundamentais dos
trabalhadores os seguintes incisos do art. 7º: XXXIII, que fixa idade mínima da
admissão ao exercício do trabalho; XXX, XXXI, XXXII e XXXIV, que vedam diferença
de salários, tratamento desigual dispensado a portadores de deficiência, distinção
entre categorias de trabalhadores e distinção entre trabalhadores com vínculo
empregatício permanente e trabalhadores avulsos, respectivamente, todos a
consagrarem o princípio de não discriminação; IV, que se refere a salário mínimo;
XXII, que prevê a redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de
saúde, higiene e segurança; I e XXI, que preconizam a proteção da relação de
emprego contra a despedida injustificada (arbitrária ou sem justa causa) e aviso
prévio proporcional ao tempo de serviço, respectivamente; XIII e XIV, que fixam
limites à duração da jornada normal de trabalho; e XV e XVII, que consagram o
repouso semanal remunerado e as férias, respectivamente.

38
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

6- OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO TRABALHO

A Constituição Federal estabelece os fundamentos do Estado Brasileiro no artigo 1°


e são eles: a soberania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do
trabalho e da livre cidadania, o pluralismo político.

DEFINIÇÃO

Por tudo quanto exposto, especialmente no que se refere à dignidade da pessoa


humana como principal fundamento de um Estado Democrático de Direito, a
conceituação aqui considerada será a mesma já apresentada por ocasião da
explanação acerca da teoria geral dos direitos fundamentais, qual seja, aquela
apresentada por Sarlet buscando uma definição da categoria dos direitos
fundamentais, que apresenta a distinção entre direitos fundamentais formais e
materiais, ou seja, aqueles que por seu conteúdo e importância (fundamentalidade
material), integradas ao texto da Constituição e, portanto, retiradas da esfera de
disponibilidade dos poderes constituídos (fundamentalidade formal), bem como, as
que pelo seu objeto e significado possam lhes ser equiparadas, tendo, ou não,
assento na constituição formal.

39
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

Assim os direitos fundamentais dos trabalhadores não são apenas aqueles


expressos na Carta Magna de 1988, mas também todos aqueles que por seu
conteúdo finalistico baseado na dignidade da pessoa humana, independentemente
da posição desses direitos na estrutura normativa.

O artigo 5° § 2° da Constituição Federal de 1988 insere de forma expressa outros


direitos fundamentais, além daqueles dotados de constitucionalidade formal, mas
que se identificam com o conteúdo da dignidade da pessoa humana.

Não se pode negar que o catálogo de direitos fundamentais dos trabalhadores


expressos na Constituição Federal é amplo, mas isso não significa de forma alguma
que outros direitos, consagrados, quer no nível infraconstitucional, ou
internacionalmente, os mesmo implicitamente estejam excluídos de
fundamentalidade, sob pena se negar a própria razão de ser de um Estado
Democrático de Direito.

TITULARIDADE.

Os direitos fundamentais dos trabalhadores consagrados na Constituição Federal de


1988, não gozam do atributo da universalidade da mesma forma que outros direitos
fundamentais, sendo certo que o trabalhador é titular deles, na qualidade de pessoa
e cidadão, tais como aqueles catalogados no artigo 5° e os outros direitos sociais
expressos no artigo 6°.

O conteúdo e o alcance do artigo 7° da CF/88 obriga a análise da expressão


“trabalhadores”, utilizada no caput do dispositivo.

Muito se discute se a expressão sob comento refere-se somente aos trabalhadores


subordinados definidos na Consolidação das Leis do Trabalho e os avulsos por
disposição expressa do texto constitucional, o que parece um desacerto senão uma
verdadeira mácula ao fundamento do Estado Social Democrático de Direito, que se
funda na dignidade da pessoa humana e nos valores sociais do trabalho.

40
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

Essa interpretação restritiva que pairou e de certa maneira ainda paira na


interpretação da constituição, relega, não apenas os autônomos, mas inclusive
outras categorias que não os empregados e os avulsos, a uma verdadeira situação
de desamparo, exemplo que pode ser considerado é o caso do trabalhador
doméstico, que a despeito de avanços da legislação infraconstitucional com relação
à estabilidade provisória da gestante, ainda encontra-se excluído do regime de
duração da jornada de trabalho e da estabilidade e benefícios de natureza
acidentária.

Não se diga que uma interpretação sistemática do artigo 7° da Constituição Federal


Brasileira de 1988, por exemplo, demonstra que o dispositivo deve ser interpretado
em sua literalidade gramatical em razão de direitos expressos como o descanso
semanal remunerado, que não poderiam ser aplicados a outras categorias de
trabalhadores que não aqueles subordinados.

O sistema constitucional de proteção aos trabalhadores não pode ser excludente, na


medida em que isso não se coaduna com o princípio vetor já inúmeras vezes
mencionado da dignidade da pessoa humana. Como núcleo essencial dos direitos
fundamentais.

41
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

7- OS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO TRABALHADOR EM SEDE


INFRACONSTITUCIONAL

Os direitos fundamentais dos trabalhadores estão inseridos no Título II, Capítulo II


da Constituição Federal, logo, se submetem a aplicabilidade imediata do artigo 5° §
1° e no rol da cláusula pétreas do artigo 60§ 4° e a abertura material consagrada no
artigo 5° § 2°.

O artigo 7° da Constituição Federal arrola os direitos fundamentais dos


trabalhadores, consignando de forma expressa a natureza exemplificativa do
dispositivo, ao inserir, a frase além de outros que visem à melhoria da condição
social.

A expressão acima referenciada demonstra que não apenas o rol do artigo 7°, mas
também outros direitos expressos na Constituição, tais como, o direito à liberdade
sindical, os direitos de participação dos trabalhadores, são direitos fundamentais,
mas também aqueles direitos fundamentais em sentido material, por seus atributos,
importância e conteúdo relacionado à dignidade da pessoa humana, inclusive

42
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

positivados nas normas decorrentes da autonomia privada coletiva, quais sejam, os


acordos e convenções coletivas de trabalho.

DA EFICÁCIA DAS NORMAS DE DIREITO FUNDAMENTAL DO TRABALHO

Conforme já apresentado os direitos fundamentais em todas as suas dimensões são


fruto da evolução da própria sociedade, em um primeiro momento, surge a função
de defesa da liberdade do cidadão em relação ao Estado e a seguir em caráter
evolutivo, concebido no papel de promoção do bem estar dos cidadãos através da
adoção de políticas públicas ativas.

A Constituição Federal de 1988 de forma literal, nos termos do artigo 5º parágrafo


1º, conduz ao entendimento que todos os direitos fundamentais, sem exceção
possuem aplicabilidade imediata.

Em apertada síntese as normas de direito fundamental do trabalho produzem efeitos


não somente na proteção deste em relação ao Estado, mas também, têm incidência
nas relações privadas, o que se denominada, respectivamente de eficácia vertical e
horizontal dos direitos fundamentais.

Note-se com relação à eficácia denominada vertical, os seja aquela que se


concretiza entre o cidadão e o Estado, não é restringida aos direitos de defesa, mas
também se exige uma atividade estatal positiva na concretização dos direitos
fundamentais, em outras palavras no Estado não tem apenas o dever de proteger,
mas de promover o efetivo gozo dos direitos fundamentais.

Como relação jurídica entre particulares, especialmente considerando-se as


especificidades dessa espécie de contrato havida empregado e empregador,
norteada pelo requisito da subordinação, que coloca o último em relação de
vulnerabilidade em relação ao primeiro, impõe – se a proteção dos direitos
fundamentais, especialmente considerando-se o respeito ao princípio da dignidade
da pessoa humana.

43
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

Na origem, os direitos fundamentais foram concebidos como para a proteção dos


indivíduos, pois sob a égide o Estado Liberal a violação aos direitos fundamentais
tinham origem nos abusos praticados pelo poder no Estado Absolutista, na evolução
da concepção de Estado de Direito não apenas a organização estatal coloca-se na
condição de violador dos direitos fundamentais dos cidadãos.

Nas relações privadas se configuram abusos que maculam a dignidade da pessoa


humana, considere-se inclusive que na atualidade certamente as violações por
práticas de abuso aos direitos fundamentais se potencializam nessas relações, na
medida em que em um Estado Social Democrático de Direito as salvaguardas em
relação aos entes estatais encontram-se positivadas.

Considerando a temática dos direitos fundamentais dos trabalhadores e a


subordinação jurídica como caracterizadora da relação de trabalho subordinado, o
terreno dessa espécie de prestação de serviço é frutífero para macula dos direitos
fundamentais de caráter negativo, como a não discriminação, o direito à intimidade e
etc.

Para Jorge Luiz Souto Maior:

“Uma efetiva luta pela justiça social, utilizando-se o direito do trabalho como
instrumento, culmina com a constitucionalização das normas protetivas do trabalho e
a normatização de seus princípios fundamentais, possibilitando a interpretação das
normas infraconstitucionais com base nesses postulados. O direito do trabalho
assim construído e aplicado é instrumento decisivo para a formação e a defesa da
justiça social, ainda que, concretamente, em primeiro momento, só consiga
minimizar as injustiças. Sob o prisma específico da teorização do direito do trabalho,
o objetivo primordial é destacar que a sua origem histórica, que marca uma
preocupação com e eliminação da injustiça, que é característica da relação capital X
trabalho, integra-se em seu conceito, advindo daí a noção de justiça social como seu
princípio maior”.

44
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

Por tudo quanto exposto a eficácia das normas de direitos fundamentais que tenham
como destinatários os trabalhadores é dotada de eficácia imediata e absoluta, sendo
função do Estado a sua real concretização.

8- DO PRINCIPIO DO NÃO RETROCESSO SOCIAL

A despeito da Constituição da República Federativa do Brasil apresentar como


princípio máximo o respeito à dignidade da pessoa humana, não se pode negar que
inúmeros avanços sociais preconizados no texto magno não foram implementados,
especialmente considerando-se que enorme parcela da população sequer tem
satisfeitos pelo Estado direitos sociais básicos.

O princípio do não retrocesso social ou aplicação progressiva dos direitos sociais


caracteriza-se pela impossibilidade de redução dos direitos sociais amparados na
Constituição, ou que tenham sido positivados em normas infraconstitucionais,
garantindo ao cidadão o acúmulo, proteção e perenidade de seu patrimônio jurídico
e o avanço na concretude fática do conceito de cidadania.

PROIBIÇÃO DA PROTEÇÃO DEFICIENTE

45
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

Canotilho salienta que a noção de proteção aos Direitos Fundamentais engloba as


categorias de proibição do excesso e da proibição da proteção deficiente, com
relação a essa última categoria no sentido de busca da máxima efetividade dos
direitos sociais:

“Há, porém, um outro lado de proteção que, em vez de salientar o excesso, revela a
proibição por defeito (untermassverbot) Existe um defeito de protecção quando as
entidades sobre quem recai um dever de proteção (schutzpflicht), adoptam medidas
insuficientes para garanti uma proteccção constitucionalmente adequada dos direitos
fundamentais. Podemos formular esta idéia usando uma formulação positiva: o
estado deve adoptar medidas suficientes, de natureza normativa, ou de natureza
material, conducente a uma proteção adequada e eficaz dos direitos fundamentais.
A verificação de uma insuficiência de juridicidade estatal deverá atender à natureza
das posições jurídicas ameaçadas e à intensidade do perigo de lesão dos direitos
fundamentais.”

Não bastasse a triste realidade que se verifica no Brasil da inconteste omissão do


Estado que não protege, na medida em que não adota condutas de caráter
normativo e material para a efetivação dos direitos fundamentais sociais, ai incluídos
os direitos fundamentais do trabalhador, não são poucas também as investidas de
concepção neoliberal no sentido de desmantelamento do que as normas já
estabelecem essa categoria de direitos.

Vozes se levantam no sentido de que os direitos dos trabalhadores são demasiados


e os responsáveis pelas crises econômicas e pelo não crescimento do Estado, o que
se caracteriza em patente retrocesso social que macula o princípio estruturante da
dignidade da pessoa humana.

Em tempos de globalização impõe-se a discussão acerca da vedação do retrocesso


social, com fundamento que um Estado Democrático de Direito se constrói não
somente através de consenso, mas principalmente de valores inarredáveis de
segurança, confiança e efetividade máxima da constituição, não se relega aqui um

46
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

papel secundário ao princípio da democracia de forma alguma, muito ao contrário a


democracia somente e perene e completa através do respeito à dignidade humana..

No Direito Constitucional Brasileiro, o primeiro doutrinador a tratar da proibição do


não retrocesso social foi José Afonso da Silva, para quem normas definidores de
direitos sociais teriam sido concebidas como normas programáticas, que dependem
da atividade do legislador vinculada às imposições constitucionais, onde a lei nova
não pode desfazer o grau de efeitos da constituição.

Luis Roberto Barroso apresenta o impedimento de retrocesso social como um


princípio implícito, onde o comando constitucional não pode arbitrariamente ser
ceifado.

“Nessa ordem de idéias, uma lei posterior não pode extinguir um direito ou uma
garantia, especialmente os de cunho social, sob pena de promover um retrocesso
abolindo um direito fundado na Constituição. O que se veda é o ataque à efetividade
da norma, que foi alcançada a partir de sua regulamentação. Assim, por exemplo, se
o legislador infraconstitucional deu concretude a uma norma programática ou tornou
viável o exercício de um direito que dependia de sua intermediação, não poderá
simplesmente revogar o ato legislativo, fazendo a situação voltar ao estado de
omissão legislativa anterior.”

A despeito da posição nos juristas acima mencionados, que restringem a vedação


de retrocesso às normas expressas no texto constitucional, a hipótese da presente
pesquisa reside que a vedação a medidas retrocessivas, se estendem não apenas
aos direitos fundamentais expressos no texto constitucional, mas também ao acervo
infraconstitucional relacionado à concretude e efetivação do princípio da dignidade
da pessoa humana, como um todo nas várias faces dos direitos sociais.

47
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

9- A SEGURANÇA JURÍDICA COMO COROLÁRIO DA VEDAÇÃO DO


RETROCESSO SOCIAL

O princípio do não retrocesso social não é expresso no texto constitucional desta


forma, necessário que se coloque a premissa necessária para o seu reconhecimento
no ordenamento jurídico brasileiro, como verdadeiro direito que recebeu a garantia
de fundamentalidade, qual seja, a segurança jurídica.

Não se diga que o princípio do direito adquirido, inserto no artigo 5° inciso XXXVI da
Constituição Federal e ainda no artigo 6º parágrafo 2º da Lei de Introdução ao
Código Civil, é capaz de exaurir a completude de fundamentalidade no impedimento
de retrocesso social.

Note-se, que a matiz do princípio do direito adquirido é por certo restritiva, na


medida em que se refere a uma dada situação concreta, o que pode levar a
concepção de que todas as situações que não se submetem ao conceito delineado
48
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

do artigo 6º da LICC não estariam cobertas pela estabilidade e revestido de um


formalismo de caráter restritivo.

O fundamento estruturante do Estado Social Democrático de Direito em conferir


Segurança Jurídica às relações sociais através da materialização dos direitos
fundamentais, e consecução do principio da dignidade da pessoa humana, é
imprescindível para que se admita a existência da vedação do retrocesso social,
assim como refere Canotilho:

“A segurança e proteção da confiança exigem, no fundo:


(1) fiabilidade, clareza, racionalidade e transparência dos
actos do poder; (2) de forma que em relação a eles o
cidadão veja garantida a segurança nas suas
disposições pessoais e nos efeitos jurídicos de seus
próprios actos. Deduz-se já que os postulados da
segurança jurídica e da protecção da confiança são
exigíveis perante qualquer ato de qualquer poder -
legislativo executivo e judicial. O princípio geral da
segurança jurídica em sentido amplo (abrangendo a
idéia de protecção da confiança) pode formular-se do
seguinte modo: o individuo têm do direito poder confiar
em que aos seus actos ou às suas decisões públicas
incidentes sobre os seus direitos, posições ou relações
jurídicas alicerçados em normas jurídicas vigentes e
válidas por esses actos jurídicos deixado pelas
autoridades com base nessas normas se ligam os
efeitos jurídicos previstos e prescritos no ordenamento
jurídico. As refracções mais importantes do principio da
segurança jurídica são as seguintes: (1) relativamente a
actos normativos- proibição de normas retroactivas
restritivas de direitos ou interesses juridicamente
protegidos;(2) relativamente a actos jurisdicionais =

49
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

inalterabilidade do caso julgado;(3) em relação aos actos


da administração – tendencial estabilidade dos casos
decididos através de actos administrativos constitutivos
de direitos”.

Note-se que a Segurança Jurídica, deve ser tomada como verdadeiro princípio
constitucional norteador, ao lado da Máxima Efetividade das Normas
Constitucionais, para que se sustente o princípio do não retrocesso social mesmo
que não positivados, mais de importância inarredável para a realização da dignidade
da pessoa humana, que somente pode se concretizar através da proteção dos
direitos fundamentais, e o impedimento de medida retrocessivas, denominado por
Canotilho como proibição de contra-revolução social ou revolução reaccionária.

Para o constitucionalista de Coimbra, na medida em que os direitos sociais atinjam


um determinado grau de realização observa-se uma dupla face, ou seja, além de
dotados de garantia institucional passam a constituir um direito subjetivo, sendo que
medidas retrocessivas justificam a sanção da inconstitucionalidade, pois, são
contrárias à Justiça Social.

Ingo Wolfgang Sarlet nessa linha aponta:

Negar reconhecimento do princípio da proibição de retrocesso


significaria, em última análise, admitir que os órgãos
legislativos (assim como o poder público de modo geral), a
despeito de estarem inquestionavelmente vinculados aos
direitos fundamentais e às normas constitucionais em geral,
dispõem do poder de tomar livremente suas decisões mesmo
em flagrante desrespeito à vontade expressa do Constituinte”.

50
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

3.3. ALCANCE DO PRINCÍPIO DO NÃO RETROCESSO SOCIAL.

O alcance do princípio do não retrocesso social deve levar em consideração o


caráter absoluto dos direitos fundamentais, a despeito de entendimentos contrários
da doutrina, no que se refere à relativização.

Os direitos sociais estão umbilicalmente ligados ao princípio da dignidade da pessoa


humana, assim considerá-los em caráter relativo, coloca em risco e na berlinda o
principal princípio de um Estado Social e de Direito e o verdadeiro alcance do
princípio do não retrocesso trata-se de verdadeira blindagem e proteção dos direitos
fundamentais.

A tese de existência e valoração ligada à dignidade da pessoa humana do princípio


do não retrocesso social tem sentido contrário o preconizado princípio da reserva do

51
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

possível[42] de matiz desconectada da relevância e fundamentalidade dos direitos


sociais, e justificador da omissão estatal no que se refere à efetivação de políticas
públicas falsamente justificadas por fatores de ordem econômica.

A aplicação do princípio da reserva do possível principalmente em países periféricos


ou em desenvolvimento acaba por justificar discursos de cunho neoliberal
autorizador ação política visando à implementação de medidas retrocessivas que
afrontam o Estado Social Democrático de Direito muitas vezes sob falsas premissas
de inexistência de recursos, que se revelam de fato por alocação de recursos
equivocadas dissociada de políticas públicas destinadas a consecução do princípio
da dignidade da pessoa humana e distantes das reais necessidades dos cidadãos.

O princípio do não retrocesso social faz parte da essência de um Estado de Direito,


pois, só através dele é possível a concretização da segurança jurídica, e que se
materializa através de todas as atividades estatais, quer as de natureza legislativa,
onde a atuação do legislador deve se pautar nos fundamentos e estruturas definidas
pela constituinte originários e nos valores da sociedade, nas de natureza
administrativa na concepção e efetivação de políticas públicas de inclusão e
erradicação das mazelas que permeiam a sociedade, e por fim, nas funções
judiciários, de verdadeiro guardião do Estado de Direito através de medidas
corretivas às ações que visem macular o princípio da dignidade da pessoa humana.

Nessa toada uma vez concretizados os direitos fundamentais em sede legislativa,


esses direitos passam a exibir estatutos negativo próprio dos direitos de primeira
dimensão, inclusive em relação ao legislador, que não pode impedir através da
atividade legiferente a concretização dos direitos fundamentais, sem a criação de
mecanismos equivalentes, sob pena de ato atentatório a justiça social.

O PRINCÍPIO DO NÃO RETROCESSO SOCIAL E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS


DO TRABALHO NO BRASIL, NO CENÁRIO DA GLOBALIZAÇÃO

O retrocesso social significa o descumprimento por ato comissivo da imposição


ligeferante como imposição de edição de normas que regulamentem as disposições

52
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

de direitos fundamentais sociais, bem como, a abstenção do legislador no sentido de


edição de normas que revoguem disposições jus fundamentais independentemente
da topologia que essas normas tenham no sistema normativo.

O processo de globalização em curso está desafiando cidadania na medida em que


ataca de forma gritante os direitos sociais fundamentais, inclusive os direitos
fundamentais dos trabalhadores.

Os impactos da globalização hoje, reorientam o Estado e os interesses das elites


dominantes conferindo-lhes perspectivas não territoriais e extra-nacionais com o
avanço do comércio global, maior mobilidade do capital financeiro e de políticas
macroeconômicas de exclusão social.

Assim nesse cenário o reconhecimento da existência do principio do não retrocesso


social é fundamental para manutenção dos patamares civilizatórios, na medida em
que só esse princípio é capaz de solidificar o desenvolvimento da sociedade.

11- A REFORMA TRABALHISTA

A Lei 13.467/2017, com início de vigência em 11 de novembro de 2017, instituiu a


chamada “Reforma Trabalhista”.

A par dos intensos debates a respeito do tema, é imperioso analisar o mencionado


diploma legal no contexto da natureza jurídica dos direitos trabalhistas, segundo as
diretrizes constitucional e internacional.

Os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, como sujeitos ativos da relação de


emprego, são formal e materialmente sociais, conforme revelam a evolução histórica
dos direitos fundamentais, a Constituição da República e o Direito Internacional dos
Direitos Humanos.
53
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

No plano interno, a Constituição Federal de 1988 dispõe sobre os direitos


sociais (arts. 6º a 11), inserindo-os no catálogo dos direitos fundamentais, como se
observa do seu Título II.
Os direitos trabalhistas, nas esferas individual e coletiva, desse modo, fazem parte
dos direitos sociais e são, inegavelmente, direitos fundamentais.

Mesmo no âmbito internacional, os direitos sociais, neles incluídos os direitos


trabalhistas, integram o rol dos direitos humanos.

Nesse sentido, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, determina


que todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e
à realização dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua
dignidade e ao livre desenvolvimento de sua personalidade (art. 22).

De forma específica, os direitos trabalhistas também são expressamente


reconhecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos (arts. 23 a 25).

Na mesma linha, o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e


Culturais, de 1966, aprovado e promulgado pelo Decreto 591/1992, garante os
direitos sociais, nestes incluídos os direitos trabalhistas (arts. 6º a 8º), como
integrantes do Direito Internacional dos Direitos Humanos.

Os direitos humanos, desse modo, são universais, indivisíveis, interdependentes e


inter-relacionados, o que é confirmado pela Declaração de Viena, de 1993 (art. 5º),
mesmo porque fundados na dignidade, como atributo inerente à pessoa humana
(art. 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948).
Os direitos trabalhistas, assim, não são simples direitos subjetivos, de caráter
meramente privado, mas direitos sociais, fundamentais e humanos, cabendo
ressaltar a cláusula de abertura no sentido de que os direitos e garantias expressos
na Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil
seja parte (art. 5º, § 2º, da Constituição Federal de 1988).
54
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

Portanto, os direitos trabalhistas, sejam aqueles decorrentes da Constituição e de


normas internacionais, explícitos ou implícitos, sejam os garantidos no sistema
jurídico infraconstitucional, mantêm a natureza de direitos sociais, fundamentais e
humanos.

A Constituição da República, além de arrolar os direitos dos trabalhadores urbanos e


rurais, também garante outros direitos “que visem à melhoria de sua condição social”
(art. 7º, caput).

Logo, o princípio da proteção, inerente ao Direito do Trabalho, com destaque à


prevalência da norma mais favorável, tem hierarquia constitucional e integra as
chamadas cláusulas pétreas (arts. 5º, § 2º, 7º, caput, e 60, § 4º, inciso IV, da
Constituição Federal de 1988).

Além disso, mesmo os direitos trabalhistas previstos em normas infraconstitucionais,


como na legislação, foram constitucionalizados como direitos materialmente
fundamentais e integram o bloco de constitucionalidade.
Os direitos humanos, fundamentais e sociais, desse modo, não se restringem
àqueles explicitamente arrolados, mas abrangem os implícitos ao sistema
constitucional e internacional (arts. 5º, § 2º, e 7º, caput, da Constituição Federal de
1988).

Ademais, o rol dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais inclui o


reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho (art. 7º, inciso
XXVI, da Constituição da República).
As normas coletivas negociadas, desse modo, são fontes formais autônomas,
produzidas pelos entes sociais (art. 8º, inciso VI, da Constituição Federal de 1988),
fazendo parte do sistema jurídico, o qual é caracterizado pelo pluralismo, por serem
legitimamente reconhecidas no Estado Democrático de Direito.

55
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

Cabe reiterar que as convenções coletivas e os acordos coletivos são previstos


como direitos dos trabalhadores (e não dos empregadores), não podendo, desse
modo, ser desvirtuados para se voltar justamente contra os seus titulares, que são
os empregados.

Em outras palavras, a negociação coletiva é prevista como meio de se concretizar o


mandamento de melhoria das condições sociais dos trabalhadores, não podendo
servir para reduzir, sem justificativa constitucional (art. 7º, incisos VI, XIII e XIV), ou
eliminar direitos trabalhistas, sejam eles assegurados em normas constitucionais,
internacionais ou infraconstitucionais.

A legislação infraconstitucional, como é o caso da Lei 13.467/2017, evidentemente,


para ser válida, deve respeitar as determinações hierarquicamente superiores,
decorrentes do Direito Constitucional e Internacional dos Direitos Humanos.

Em matéria trabalhista, como mencionado, a Constituição da República determina a


melhoria das condições sociais dos trabalhadores (art. 7º, caput), e não a piora do
patamar de direitos dos empregados e da sua disciplina jurídica e legislativa.
No plano externo, o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais estabelece que cada Estado Parte, como é o caso do Brasil, compromete-
se a adotar medidas, principalmente nos planos econômico e técnico, até o máximo
de seus recursos disponíveis, que visem a assegurar, progressivamente, por todos
os meios apropriados, o pleno exercício dos direitos em questão, incluindo, em
particular, a adoção de medidas legislativas (art. 2º).

Fica nítida, assim, a determinação cogente de que os direitos trabalhistas, como


direitos sociais, humanos e fundamentais, devem ser assegurados de forma
progressiva, não se admitindo retrocessos.

A República Federativa do Brasil, por imperativo constitucional e compromisso


internacional, deve adotar medidas legislativas que resultem no aperfeiçoamento

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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

dos direitos sociais, nos quais se inserem os direitos trabalhistas, e não na sua
redução, precarização ou extinção.

Isso está em harmonia com fundamentos do Estado Democrático de Direito, com


destaque à dignidade da pessoa humana e aos valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa (art. 1º da Constituição da República).
O exposto, da mesma forma, concilia-se com os objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil de construir uma sociedade livre, justa e solidária,
garantir o desenvolvimento nacional, erradicar a pobreza e a marginalização, reduzir
as desigualdades sociais, bem como promover o bem de todos (art. 3º da
Constituição Federal de 1988).

CONCLUSÃO

Na democracia, a figura do Estado existe para o bem estar dos seus cidadãos, e
assim os direitos fundamentais formam um complexo, um arcabouço de direitos,
considerados como direitos básicos de todo ser humano, e por isso devem ser
respeitados e efetivados.

É impossível falar em democracia sem o reconhecimento da dignidade do ser


humano, que deve ser analisado também através da efetivação dos direitos
trabalhistas, afinal, o ser humano e o trabalho caminham juntos, um precisando do
outro para sua plena realização.
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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

O sistema não fecha sem a devida valorização e efetivação dos direitos trabalhistas,
afinal, ficam prejudicadas tanto a distribuição de renda, como a inclusão social (de
uma parcela significativa da nação).
O emprego constitui uma forma democrática e progressiva de inclusão social, para a
maior parte da população, que é despossuída de capital. Sendo assim, o
desrespeito as normas trabalhistas de forma contumaz e reiterada, constitui
o dumping social que encontra-se diretamente ligado ao patamar mínimo
civilizatório, - que diz respeito ao elementar para um ser-humano e seus
dependentes buscarem uma vida digna.
Tendo em vista que a democracia foi construída paralelamente aos direitos
fundamentais, a violação aos direitos trabalhistas (fundamentais de segunda
dimensão), coloca em risco até mesmo a efetividade da democracia.

A possibilidade de flexibilização ou desregulamentação de direitos laborais que


constituem verdadeiro patrimônio jurídico dos trabalhadores é em tempos de
globalização, matéria costumeiramente discutida, sendo certo, que em muitas
ocasiões observa-se a justificativa da necessidade de adequação do ordenamento
trabalhista as perspectivas e necessidades do mercado globalizado, sendo que o
homem sujeito de direitos, equivocadamente é relegado à condição de mercadoria,
sem qualquer cerimônia.

A Constituição da República Federativa promulgada em 1988 elevou os valores


sociais do trabalho a fundamento e inseriu o trabalho no rol dos Direitos Sociais,
explicitando de forma exemplificativa, diversos direitos básicos no artigo 7°, que
mesmo inseridos na Carta Magna, para a sua efetivação necessitam da inconteste
atuação do Estado.

As relações de trabalho encontram-se mescladas a todas as dimensões dos Direitos


Fundamentais, especialmente partindo-se das características de irrenunciabilidade,
inalienabilidade, inviolabilidade, universalidade, efetividade, complementaridade e
interdependência.

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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

A globalização da economia que envolve a mudança de paradigmas no processo


produtivo e nas relações de trabalho, sob a ótica da integração e a
internacionalização do capital financeiro, coloca a seguinte ordem do dia: existem
países que “globalizam” e outros que são globalizados, estes últimos certamente são
os que se defrontam com os piores reflexos dessa nova ordem social, pois, não
adianta dizer não a globalização, ela se impõe custe o que custar, não respeita
pessoas, fronteiras, padrões éticos comezinhos, nem ao menos as soberanias
nacionais assim e de fundamental

O legislador constitucional originário de 1988 optou por eleger a dignidade da


pessoa humana e o trabalho como princípios fundamentais do Estado brasileiro, que
se expressam em diversos dispositivos do texto magno assim, não há de se admitir,
que sob o falso pretexto do desemprego estrutural que garantias sociais sejam
desprezadas sem qualquer cerimônia e muitas vezes sob o manto do Estado, quer
na sua função de legislador, quer na função de julgador.

A dignidade da pessoa humana deve ser o vetor da produção legislativa


infraconstitucional, bem como, o princípio norteador da interpretação de todo o
ordenamento jurídico, especialmente no que se refere ao Direito do Trabalho.

Sob a ótica da fundamentalidade dos direitos do trabalho foi necessário o estudo e


compreensão do fenômeno histórico percorrido pela sociedade na definição dos
Direitos Fundamentais e de forma especial os Direitos Fundamentais do Trabalho, a
sua inserção no ordenamento jurídico e os fundamentos teóricos para sua
efetividade e proteção de forma que se impeça o retrocesso social, ou como se
refere Canotilho a verdadeira revolução contra social.

Partindo-se do pressuposto que os direitos laborais são de natureza fundamental


como corolário do mega princípio da dignidade da pessoa humana e necessitam da
atividade legislativa infraconstitucional para sua efetiva concretização constituindo-
se em verdadeiro patrimônio do trabalhador e de toda sociedade não há de se
admitir, sob pena de mácula ao principio do não retrocesso social medidas de

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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

caráter supressivas ou de alterações in pejus das normas que consagrem direitos


fundamentais dos trabalhadores.

REFERÊNCIAS

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Silva. 5ª edição alemã. São Paulo: Malheiros Editores, 2011.

BARROSO. Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: os


conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 4ª ed. SP: Saraiva, 2013.

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7ª ed, 13ª reimpressão. Coimbra: Edições Almedina, 1941.

DELGADO, Gabriela Neves. Direito fundamental ao trabalho digno. SP: LTr, 2006.

DELGADO, Maurício Godinho. A Relação de Emprego e Relações de Trabalho - a


retomada do expansionismo do Direito Trabalhista. In DELGADO, Maurício
Godinho et al (Coords). Constituição da República e Direitos Fundamentais:
dignidade da pessoa humana, justiça social e direito do trabalho. SP: LTr, 2012.
DELGADO, Maurício Godinho. Constituição da República, Estado Democrático de
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Constituição da República e Direitos Fundamentais: dignidade da pessoa humana,
justiça social e direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2012.

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Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, nº 35, 2009.

PIMENTA, José Roberto Freire. A Tutela Metaindividual Dos Direitos Trabalhistas:


uma exigência constitucional. In: PIMENTA, José Roberto Freire et al (Coords).
Tutela Metaindividual Trabalhista. São Paulo: LTr, 2009.
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Belo Horizonte: Del Rey, 2013.

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Social nas relações de trabalho. São Paulo: LTr, 2012.

SOUTO MAIOR, Jorge Luiz Souto. Curso de Direito do Trabalho: a relação de


emprego, volume II. São Paulo: LTr, 2008.

SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO. Curso de direito


constitucional. 2ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013.

SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO. Curso de direito


constitucional. 2ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 40.

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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos Direitos Fundamentais. 9ª Ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2007.

Entende-se por relação de trabalho um gênero que abrange qualquer tipo de


atividade prestada por pessoa física a favor de outra pessoa (seja física ou jurídica),
quer seja, transformação da natureza de forma consciente e voluntária, formada por
diversas espécies como relação de emprego, doméstico, rural, avulso, desportista,
portuário, autônomo etc.

DELGADO, Maurício Godinho. A Relação de Emprego e Relações de Trabalho - a


retomada do expansionismo do Direito Trabalhista. In DELGADO, Maurício
Godinho et al (Coords). Constituição da República e Direitos Fundamentais:
dignidade da pessoa humana, justiça social e direito do trabalho. São Paulo: LTr,
2012, p. 106.
ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da
Silva. 5ª edição alemã. São Paulo: Malheiros Editores, 2011, p. 409.

SAMPAIO, José Adércio Leite. Teoria da Constituição e dos direitos fundamentais.

Belo Horizonte: Del Rey, 2013, p. 66.

SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos Direitos Fundamentais. 9ª Ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2007.

MAIOR, Jorge Luiz Souto. Curso de Direito do Trabalho: a relação de emprego,


volume II. São Paulo: LTr, 2008, p. 15.

ALEXY, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. Tradução de Virgílio Afonso da


Silva. 5ª edição alemã. São Paulo: Malheiros Editores, 2011, p. 409.

Com previsão no art. 81 do Código de Defesa do Consumidor.

É um conceito da Teoria Pura do Direito criado pelo jurista e filósofo legal Hans
Kelsen, que usou essa palavra para designar a norma básica, ordem ou regra que
forma uma base subjacente para um sistema legal. A teoria baseia-se em uma
necessidade de encontrar um ponto de origem para todas as leis, em que a lei
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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

básica e a constituição pode ganhar a sua legitimidade (semelhante ao conceito de


primeiros princípios).

PANCOTTI, José Antonio. Aspectos Jurídicos das Dispensas Coletivas no Brasil.


Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, nº 35, 2009, p. 42.

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição.


7ª ed, 13ª reimpressão. Coimbra: Edições Almedina, 1941, p. 100.

BARROSO. Luís Roberto. A Dignidade da Pessoa Humana no Direito Constitucional


Comparado: a construção de um conceito jurídico, p.107.

(DELGADO, Maurício Godinho. Constituição da República, Estado Democrático de

Direito e Direito do Trabalho. In DELGADO, Maurício Godinho et al (Coords).


Constituição da República e Direitos Fundamentais: dignidade da pessoa humana,
justiça social e direito do trabalho. SP: LTr, 2012, p. 41.
Justamente por não existir uma superioridade entre os direitos fundamentais que o
autor deste artigo coaduna com a terminologia de dimensão e não geração de
direitos fundamentais.

DELGADO, Gabriela Neves. Direito fundamental ao trabalho digno. SP: LTr, 2006, p.
49.

Idem, p. 09.
PIMENTA, José Roberto Freire. A Tutela Metaindividual Dos Direitos Trabalhistas:
uma exigência constitucional. In: PIMENTA, José Roberto Freire et al (Coords).
Tutela Metaindividual Trabalhista. São Paulo: LTr, 2009, p. 16.
Expressão de Maurício Godinho Delgado.

KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Trad. Paulo


Quintela. In: Crítica da razão pura e outros textos filosóficos. Coleção Os
Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1974. v. XXV. p. 229 e 234.
SARMENTO, Daniel. A ponderação de interesses na Constituição Federal. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2003. p. 73.

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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO

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