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FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO
TRABALHO
INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO
SUMÁRIO
1- Introdução 3
2- Do Constitucionalismo liberal 4
3- Direitos humanos e direitos fundamentais 11
4- Direito do Trabalho amparado pelos direitos fundamentais 14
5- Os direitos do trabalhador elencados no art. 7º da CF 31
6- Os direitos fundamentais do trabalho 39
7- Os direitos fundamentais do trabalho em sede infraconstitucional 42
8- Do Princípio do não retrocesso social 45
9- A Segurança Jurídica como corolário da vedação do retrocesso social 48
10- Alcance do Princípio do não retrocesso social 51
11- A Reforma Trabalhista 53
Conclusão 57
Referências Bibliográficas 60
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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO
INTRODUÇÃO
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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO
2. DO CONSTITUCIONALISMO LIBERAL
Através do constitucionalismo moderno, surge o Estado de Direito, de cunho liberal,
que pautado pelo sistema capitalista de produção, pregava a limitação estatal
através de duas angulações: (i) o Estado passava a ficar submetido às leis e seu
poder seria fracionado e não mais concentrado em uma única pessoa - como no
absolutismo; (ii) o liberalismo, absenteísmo governamental, tanto no campo
econômico, como no político.
Leciona Ingo Wolgang Sarlet que: Os direitos fundamentais podem ser conceituados
como aquelas posições jurídicas concernentes às pessoas, que, do ponto de vista
do direito constitucional positivo, foram, por seu conteúdo e importância
(fundamentalidade material), integradas ao texto da Constituição e, portanto,
retiradas da esfera de disponibilidade dos poderes constituídos (fundamentalidade
formal), bem como as que, pelo seu objeto e significado, possam lhes ser
equiparadas, tendo, ou não, assento na Constituição formal.
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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO
Do Constitucionalismo Social
O surgimento dos direitos trabalhistas refletia a dicotomia que existia entre as partes
envolvidas, enquanto que um trabalhava para receber seu salário (e ter do que
sobreviver), o outro auferia lucro; ao passo que o trabalhador vendia sua força de
trabalho (e sua liberdade), o empregador a comprava, sendo o detentor de todos os
meios de produção. É justamente o que Robert Alexy denomina de "uma razão
suficiente para o dever de um tratamento desigual, então, o tratamento desigual é
obrigatório."
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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO
Com o surgimento destas normas, a relação de emprego acaba sendo o viés que
oferta uma maior inclusão social ao trabalhador, tendo em vista que a ela foi
direcionada uma gama jurídica protetiva, ofertando condições mínimas de
sobrevivência (ao empregado e a sua família) e ainda retira da parte hipossuficiente
qualquer responsabilidade do negócio jurídico (já que o risco do empreendimento é
do empregador).
Pode-se dizer então que o Estado Social construiu um conjunto de direitos (ditos
como sociais), que foram capazes de garantir ao ser humano melhorias substanciais
de condições de vida, dentre eles os direitos trabalhistas.
Do Constitucionalismo Democrático
E assim, em meados do século XX, é criado o Estado Democrático, que dentre seus
motivos ensejadores, tinha como primordial a busca pela efetivação dos direitos
fundamentais anteriores.
Para José Joaquim Gomes Canotilho, o Estado Democrático seria até mesmo uma
evolução do Estado de Direito. No mesmo sentido, entende Luís Roberto Barroso
demonstrando: "constitucionalismo significa, em essência, limitação do poder e
supremacia de lei (Estado de direito, rule of law, Reschtsstaat). Democracia, por sua
vez, em aproximação sumária, traduz-se em soberania popular e governo da
maioria".
Quanto à estrutura básica da democracia, deve-se entender que: "funda-se em um
inquebrantável tripé conceitual: pessoa humana, com sua dignidade; sociedade
política concebida como democrática e includente; sociedade civil, também
concebida como democrática e includente."
denominada por Jorge Luiz Souto Maior, Ranúlio Mendes e Valdete Souto Severo
de dumping social.
Portanto, o dumping social, deve ser analisado como um gênero, que comporta todo
e qualquer descumprimento de norma trabalhista que ocorra de maneira repetitiva e
corriqueira por uma determinada empresa. Sendo assim, ocasiona prejuízos em
diversas angulações: (i) ao trabalhador, (ii) ao erário público, (iii) à sociedade e (iv) e
aos demais empregadores.
Para José Roberto Freire Pimenta o grande problema enfrentado na atualidade pelo
Direito do Trabalho brasileiro é justamente a "síndrome do descumprimento das
obrigações trabalhistas".
“No momento em que nós estamos é muito raro ver uma tese de doutorado, uma
dissertação de mestrado, um livro ou uma doutrina que não trate do tema que diz
respeito aos direitos fundamentais”, conta Claudimir Supioni, Mestre em Direito
do Trabalho.
Para citar algumas das importantes decisões tomadas pelo Supremo Tribunal
Federal extraídas do contexto dos direitos fundamentais, o professor Claudimir
Supioni cita o reconhecimento da união homoafetiva, o direito de greve dos
servidores públicos e a permissão para aborto dos fetos anencefálicos.
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Direitos Humanos
Direitos Fundamentais
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I – a soberania;
II – a cidadania;
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V – o pluralismo político.
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Embora seja óbvio que aquele que contrata dê ordens e exija seu
cumprimento, deve haver um limite, imposto pela lei, porém cujo parâmetro se
encontra em um plano mais amplo, que é o dos direitos e garantias
fundamentais da pessoa humana.
Direito à vida
E é fato que para o Direito só existe pessoa enquanto esta está viva. Assim,
não deve causar espanto que o Direito do Trabalho também proteja a vida do
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CF, Art. 7º
Além dos textos legais citados, toda norma que proteja a saúde, a segurança
e a integridade física do empregado está, em última instância, protegendo sua
vida.
Direito à igualdade
No tocante a salário:
CLT, Art. 5º - A todo trabalho de igual valor corresponderá salário igual, sem
distinção de sexo”.[v]
CLT, Art. 461 - Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor,
prestado ao mesmo empregador, na mesma localidade, corresponderá igual
salário, sem distinção de sexo, nacionalidade ou idade.
Esta norma aparece novamente em nossa Constituição, desta vez com sua
feição de princípio:
CF, Art. 7º
CF, Art. 7º
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Talvez seja possível, contudo, com grande esforço de abstração, deixar de lado o
exame de cada ordenamento em concreto e tentar definir direitos fundamentais de
maneira abrangente, mediante um enunciado suficientemente amplo a ponto de
abranger qualquer tipo de direito fundamental, seja qual for a ordem jurídica
enfocada.
Esta noção remonta à ideia kantiana de que o mais valioso para o ser humano é a
capacidade de se atribuir seus próprios fins como sujeito dotado de autonomia
moral, o que impede usar o indivíduo como simples meio para obter fins a ele
transcendentes ou pretender dar sentido à sua vida mediante modelos de virtude
alheios à sua própria consciência ética.
Kant escreveu: "O homem - e, de uma maneira geral, todo o ser racional - existe
como fim em si mesmo, não só como meio para o uso arbitrário desta ou daquela
vontade. Pelo contrário, em todas as suas ações, tanto nas que se dirigem a ele
mesmo como nas que se dirigem a outros seres racionais, ele tem sempre de ser
considerado simultaneamente como fim (...). Os seres racionais se chamam pessoas
porque a natureza os distingue como fins em si mesmos, quer dizer, como algo que
não pode ser empregado como simples meio". E adiante: "(...) a moralidade é a
única condição que pode fazer de um ser racional um fim em si mesmo, pois só por
ela lhe é possível ser membro legislador no reino dos fins. Portanto, a moralidade e
a humanidade, enquanto capaz de moralidade, são as únicas coisas que têm
dignidade". No pensamento kantiano, que está na base da concepção atual do
fundamento dos direitos humanos, encontra-se a indicação da dignidade, que
envolve a capacidade do indivíduo autônomo para decidir sobre seu próprio projeto
vital (inclusive seus fins). A dignidade da pessoa humana, em consequência,
fundamenta os direitos humanos nas seis famílias pelas quais eles se manifestam.
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Fixadas essas premissas e mesmo sem perder de vista o caráter vago fluido,
indeterminado ou impreciso da expressão dignidade da pessoa humana, forçoso
reconhecer que ela encerra um valor heurístico e exerce uma função hermenêutica.
O valor heurístico se revela no papel de influenciar o legislador na edição das
normas que explicitam os direitos fundamentais, bem assim o juiz, no momento de
proferir decisões que põem em jogo interesses vitais da pessoa. Quanto à função
hermenêutica, é certo que a dignidade está presente na tarefa de interpretação de
todo o ordenamento. Nas palavras de Daniel Sarmento, ela "condensa a ideia
unificadora que percorre a ordem jurídica, condicionando e inspirando a exegese e a
aplicação do direito positivo, em suas mais variadas manifestações". A dignidade da
pessoa humana é - como diz Dominique Rousseau - a pedra filosofal dos direitos
fundamentais. Não constitui um direito fundamental: é o valor que possui a
maravilhosa propriedade de dar nascimento aos direitos fundamentais e de lhes
atribuir um sentido. Possui também a chave da inteligibilidade do conjunto dos
direitos fundamentais. Parece claro, assim, que a dignidade da pessoa é valor do
qual decorrem os direitos fundamentais. Estes adquirem vida e realidade nele e por
ele, mas, em contrapartida, o valor dignidade só se concretiza e se torna efetivo por
intermédio dos direitos fundamentais. A dignidade só existe como realidade jurídica
concreta por meio de sua exteriorização em cada um dos direitos fundamentais.
A Constituição brasileira de 5 de outubro de 1988 relaciona, entre os fundamentos
do Estado Democrático de Direito em que se constitui o Brasil, a "dignidade da
pessoa humana" (art. 1º, inciso III). Perante o ordenamento positivo brasileiro,
portanto, a dignidade da pessoa é um dos fundamentos do próprio Estado brasileiro,
o que não desmente a assertiva de representar ela, também, o fundamento dos
direitos humanos reconhecidos e proclamados pela própria Constituição. Os direitos
fundamentais são um elemento básico do Estado Democrático de Direito. Como o
Estado brasileiro é um Estado Democrático de Direito (Constituição, art. 1º), segue-
se que os direitos fundamentais são um elemento básico do Estado brasileiro. E
como a dignidade da pessoa humana constitui um dos fundamentos do Estado
brasileiro, ela deve ser tida, à luz do ordenamento positivo brasileiro, por fundamento
dos direitos humanos reconhecidos, proclamados e garantidos pelo Estado
brasileiro.
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É certo que o objeto do contrato de trabalho não é a pessoa do trabalhador, mas sua
atividade. Não menos certo, porém, é que não se pode separar o trabalho da pessoa
daquele que o presta. A impossibilidade de separar o trabalho da pessoa do
trabalhador é o primeiro dado sobre o qual se baseia o critério objetivo que
caracteriza a subordinação. Fácil é concluir, portanto, que, na execução do contrato
de trabalho, o empregado reúne a dupla qualidade de titular de direitos fundamentais
que lhe assistem como cidadão e de titular de direitos fundamentais aplicáveis
estritamente no âmbito da relação de emprego. Ao inserir sua atividade laborativa na
organização empresarial, o trabalhador adquire direitos decorrentes dessa nova
posição jurídica, sem perder, contudo, aqueles de que era titular anteriormente. Em
suas relações com o empregador, o trabalhador tem direitos que lhe assistem como
pessoa.
face do Poder Público, mas também no âmbito das relações privadas, bem assim no
sistema econômico. A regulação das relações de trabalho não escapa ao raio de
ação dos direitos fundamentais, elemento integrante que é do ordenamento jurídico.
Como observa João Pedro Gebran Neto, os direitos fundamentais, parte integrante
do ordenamento em que se inserem (aplicado como um todo, e não em tiras),
alcançam também a ordem privada, protegendo os particulares contra atentados
tanto do Estado quanto de outros indivíduos ou de entidades particulares.
O contrato de trabalho integra a teoria das obrigações, vale dizer, ostenta natureza
patrimonial, e não pessoal. Contudo, forçoso reconhecer a existência de um denso
componente pessoal na caracterização jurídica do contrato de trabalho, do qual
decorrem os deveres de confiança recíproca e de execução de boa-fé no
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Uma observação preliminar salta aos olhos: a demasia dos direitos dos
trabalhadores relacionados no art. 7º da Constituição, alguns deles não
autoaplicáveis e diversos deles ainda pendentes de regulamentação até os dias de
hoje, quase 30 anos após a vigência da Carta.
Ao exercício de um direito subjetivo corresponde o cumprimento de um dever
jurídico. O credor tem o direito de exigir do devedor o cumprimento do dever por ele
assumido. A noção de direito vem acoplada à de dever.
No plano dos direitos fundamentais, os autores negligenciam o estudo dos deveres.
Teme-se que o Poder Público faça deles um instrumento de seus propósitos,
temíveis se tratar-se de um Estado autoritário (na Carta outorgada brasileira de 10
de novembro de 1937, que instituiu o Estado Novo, o trabalho não constituía objeto
de um direito, mas, sim, um dever, um "dever social" - art. 136). Corre-se também o
risco de recair em um moralismo insulso.
Não se pode, por outro lado, deixar de considerar que todo homem carrega sobre
seus ombros, durante toda a existência, uma gama de deveres, sumariamente assim
elencados: 1º) para consigo próprio: trabalhar, educar-se, instruir-se; 2º) para com o
próximo (auxiliá-lo, quando possível); 3º) para com as formações naturais das quais
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participa (exemplo: a família); 4º) para com a sociedade e a pátria (amar a pátria);
5º) para com o Estado (arcar com os ônus por ele impostos, como, v.g., pagamento
dos tributos); e 6º) para com a humanidade. Estes deveres, como afirma Michel
Levinet, constituem a expressão de uma dignidade pessoal, bem assim de uma
dignidade comunitária, além de envolverem noções de responsabilidade,
solidariedade, um mínimo de civismo e de harmonia social, sem as quais os direitos
e as liberdades não passam de uma ilusão.
A propósito, vale advertir que a pletora de direitos enumerados pela Constituição
brasileira de 5 de outubro de 1988 obscurece a noção de deveres, tal como observa
José Pastore: na Constituição da República, a palavra direito (dos cidadãos)
aparece 76 vezes, enquanto a palavra dever, apenas quatro vezes.
Sem qualquer preocupação com sistematizar a relação dos direitos, o art. 7º da
Constituição elenca "direitos dos trabalhadores urbanos e rurais", mediante
enumeração meramente exemplificativa, vale dizer, não taxativa: "além de outros
que visem à melhoria de sua condição social".
A tônica da relação recai, como não poderia deixar de ocorrer, sobre direitos de
natureza remuneratória. Cabe lembrar que, à época da elaboração do texto da
Constituição, o Brasil atravessava uma fase de inflação galopante, cujo efeito mais
pernicioso, naquilo que diz respeito ao direito do trabalho, é a redução do poder
aquisitivo do salário do trabalhador.
Assim, é compreensível que diversos dispositivos constitucionais se ocupem da
remuneração dos trabalhadores, como a refletir a convicção dos parlamentares
constituintes de que os empregados brasileiros são mal remunerados: realmente, o
são...
Os 34 incisos do art. 7º não esgotam a relação dos direitos, bastando lembrar que o
parágrafo único ainda cuida de assegurar direitos aos trabalhadores domésticos,
agora em tudo equiparados aos demais (Emenda Constitucional nº 72, de
02.04.2013; Lei Complementar nº 150, de 01.06.2015).
Os referidos dispositivos constitucionais em que se espraia o mencionado art. 7º,
além de prever em "direitos" dos trabalhadores, excedem-se ao regular, por
exemplo, o prazo prescricional da ação "quanto aos créditos resultantes das
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relação direitos fundamentais, como veremos adiante, mas sua finalidade era fixar
direitos básicos, a maioria dos quais já regulados por legislação ordinária
anteriormente promulgada, como que a resguardá-los de qualquer tentativa futura de
revogação ou extinção. Assim é que não se encontram no rol do art. 7º incisos sobre
proteção contra assédio sexual e constrangimento moral, sobre acesso a
informações e proteção da intimidade ou privacidade, sobre liberdade de
manifestação do pensamento, sobre proteção dos direitos da personalidade (honra e
imagem), nem mesmo (pasme-se!) sobre proibição de trabalho forçado ou escravo.
Os direitos fundamentais dos trabalhadores (portanto, direitos indisponíveis em
caráter absoluto, insuscetíveis de renúncia mesmo em sede coletiva) são os
seguintes:
- direitos da personalidade (honra, intimidade, imagem);
- liberdade ideológica;
- liberdade de expressão e de informação;
- igualdade de oportunidades e de tratamento;
- não discriminação;
- idade mínima de admissão ao emprego;
- salário mínimo;
- saúde e segurança do trabalho;
- proteção contra a despedida injustificada;
- direito ao repouso (intervalos, limitação da jornada, repouso semanal e férias);
- direito de sindicalização;
- direito de representação dos trabalhadores e de representação sindical na
empresa;
- direito à negociação coletiva;
- direito de greve; e
- direito ao ambiente de trabalho saudável.
Estes são os direitos fundamentais do trabalhador na relação de trabalho. São
direitos intangíveis, irrenunciáveis, postos a salvo das estipulações in pejus no bojo
da negociação coletiva. A norma coletiva não pode, sob pena de ofensa à dignidade
do trabalhador como pessoa humana, negar ao empregado o direito à aquisição de
qualquer desses direitos. Não se pretende, com esta afirmação, impugnar o direito
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dos interlocutores sociais de negociar o modo de exercício desses direitos. Uma vez
reconhecido o direito, as partes coletivas podem (e devem), com apoio na autonomia
coletiva privada, pactuar o modo pelo qual eles serão exercidos. Tais direitos são
direitos fundamentais no trabalho, afirmados em decorrência da proclamação da
dignidade da pessoa humana como valor supremo a ser observado pelo Estado
Democrático de Direito e pela sociedade que se quer justa e solidária. Já os direitos
fundamentais acima relacionados valem por eles mesmos, independentemente de
desenvolvimento por via legislativa.
É certo que todos os direitos citados estão positivados no direito brasileiro. Não se
trata, aqui, de meras aspirações ou reivindicações a serem caracterizadas no futuro.
Pelo contrário, estão em plena vigência, produzindo efeitos concretos no âmbito das
relações de trabalho, aplicados pelos Tribunais do Trabalho na solução dos conflitos
individuais e coletivos.
Como observa María del Carmem Barranco Avilés, a partir do momento em que
passam a ser considerados parte do direito positivo, os direitos fundamentais
adquirem um duplo caráter ou uma dupla natureza. Por um lado, aparecem em sua
vertente clássica de garantia de posições subjetivas; por outro, convertem-se em
normas. Nas primeiras formulações históricas, os direitos humanos desempenhavam
unicamente uma função subjetiva. Progressivamente, ao longo da história, ao lado
dessa função que converte os direitos em uma técnica de garantia de posições
subjetivas, assumem eles o papel de constituir instrumentos de ordenação do
sistema jurídico em seu conjunto. A assunção pelos direitos de uma função objetiva
repercute na forma de entender a função subjetiva tradicional.
No que se refere ao direito positivo brasileiro vigente, ambas as funções podem ser
com facilidade discernidas no cotidiano das relações de trabalho. Ao lado da função
de garantia das posições subjetivas dos trabalhadores, os direitos fundamentais
exercem uma função objetiva que, em seu conjunto, forma uma norma diretiva
fundamental, convergindo, em sua aplicação, para a implantação da justiça social no
âmago das relações de trabalho.
8 Resposta à Indagação: todos os Direitos Elencados no Art. 7º da Constituição da
República São Fundamentais?
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DEFINIÇÃO
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TITULARIDADE.
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A expressão acima referenciada demonstra que não apenas o rol do artigo 7°, mas
também outros direitos expressos na Constituição, tais como, o direito à liberdade
sindical, os direitos de participação dos trabalhadores, são direitos fundamentais,
mas também aqueles direitos fundamentais em sentido material, por seus atributos,
importância e conteúdo relacionado à dignidade da pessoa humana, inclusive
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“Uma efetiva luta pela justiça social, utilizando-se o direito do trabalho como
instrumento, culmina com a constitucionalização das normas protetivas do trabalho e
a normatização de seus princípios fundamentais, possibilitando a interpretação das
normas infraconstitucionais com base nesses postulados. O direito do trabalho
assim construído e aplicado é instrumento decisivo para a formação e a defesa da
justiça social, ainda que, concretamente, em primeiro momento, só consiga
minimizar as injustiças. Sob o prisma específico da teorização do direito do trabalho,
o objetivo primordial é destacar que a sua origem histórica, que marca uma
preocupação com e eliminação da injustiça, que é característica da relação capital X
trabalho, integra-se em seu conceito, advindo daí a noção de justiça social como seu
princípio maior”.
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Por tudo quanto exposto a eficácia das normas de direitos fundamentais que tenham
como destinatários os trabalhadores é dotada de eficácia imediata e absoluta, sendo
função do Estado a sua real concretização.
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“Há, porém, um outro lado de proteção que, em vez de salientar o excesso, revela a
proibição por defeito (untermassverbot) Existe um defeito de protecção quando as
entidades sobre quem recai um dever de proteção (schutzpflicht), adoptam medidas
insuficientes para garanti uma proteccção constitucionalmente adequada dos direitos
fundamentais. Podemos formular esta idéia usando uma formulação positiva: o
estado deve adoptar medidas suficientes, de natureza normativa, ou de natureza
material, conducente a uma proteção adequada e eficaz dos direitos fundamentais.
A verificação de uma insuficiência de juridicidade estatal deverá atender à natureza
das posições jurídicas ameaçadas e à intensidade do perigo de lesão dos direitos
fundamentais.”
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“Nessa ordem de idéias, uma lei posterior não pode extinguir um direito ou uma
garantia, especialmente os de cunho social, sob pena de promover um retrocesso
abolindo um direito fundado na Constituição. O que se veda é o ataque à efetividade
da norma, que foi alcançada a partir de sua regulamentação. Assim, por exemplo, se
o legislador infraconstitucional deu concretude a uma norma programática ou tornou
viável o exercício de um direito que dependia de sua intermediação, não poderá
simplesmente revogar o ato legislativo, fazendo a situação voltar ao estado de
omissão legislativa anterior.”
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Não se diga que o princípio do direito adquirido, inserto no artigo 5° inciso XXXVI da
Constituição Federal e ainda no artigo 6º parágrafo 2º da Lei de Introdução ao
Código Civil, é capaz de exaurir a completude de fundamentalidade no impedimento
de retrocesso social.
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Note-se que a Segurança Jurídica, deve ser tomada como verdadeiro princípio
constitucional norteador, ao lado da Máxima Efetividade das Normas
Constitucionais, para que se sustente o princípio do não retrocesso social mesmo
que não positivados, mais de importância inarredável para a realização da dignidade
da pessoa humana, que somente pode se concretizar através da proteção dos
direitos fundamentais, e o impedimento de medida retrocessivas, denominado por
Canotilho como proibição de contra-revolução social ou revolução reaccionária.
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dos direitos sociais, nos quais se inserem os direitos trabalhistas, e não na sua
redução, precarização ou extinção.
CONCLUSÃO
Na democracia, a figura do Estado existe para o bem estar dos seus cidadãos, e
assim os direitos fundamentais formam um complexo, um arcabouço de direitos,
considerados como direitos básicos de todo ser humano, e por isso devem ser
respeitados e efetivados.
O sistema não fecha sem a devida valorização e efetivação dos direitos trabalhistas,
afinal, ficam prejudicadas tanto a distribuição de renda, como a inclusão social (de
uma parcela significativa da nação).
O emprego constitui uma forma democrática e progressiva de inclusão social, para a
maior parte da população, que é despossuída de capital. Sendo assim, o
desrespeito as normas trabalhistas de forma contumaz e reiterada, constitui
o dumping social que encontra-se diretamente ligado ao patamar mínimo
civilizatório, - que diz respeito ao elementar para um ser-humano e seus
dependentes buscarem uma vida digna.
Tendo em vista que a democracia foi construída paralelamente aos direitos
fundamentais, a violação aos direitos trabalhistas (fundamentais de segunda
dimensão), coloca em risco até mesmo a efetividade da democracia.
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REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO
DELGADO, Gabriela Neves. Direito fundamental ao trabalho digno. SP: LTr, 2006.
SOUTO MAIOR, Jorge Luiz; MENDES, Ranúlio; SEVERO, Valdete Souto. Dumping
Social nas relações de trabalho. São Paulo: LTr, 2012.
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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O DIREITO DO TRABALHO
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos Direitos Fundamentais. 9ª Ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2007.
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos Direitos Fundamentais. 9ª Ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2007.
É um conceito da Teoria Pura do Direito criado pelo jurista e filósofo legal Hans
Kelsen, que usou essa palavra para designar a norma básica, ordem ou regra que
forma uma base subjacente para um sistema legal. A teoria baseia-se em uma
necessidade de encontrar um ponto de origem para todas as leis, em que a lei
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DELGADO, Gabriela Neves. Direito fundamental ao trabalho digno. SP: LTr, 2006, p.
49.
Idem, p. 09.
PIMENTA, José Roberto Freire. A Tutela Metaindividual Dos Direitos Trabalhistas:
uma exigência constitucional. In: PIMENTA, José Roberto Freire et al (Coords).
Tutela Metaindividual Trabalhista. São Paulo: LTr, 2009, p. 16.
Expressão de Maurício Godinho Delgado.
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