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A Europa, no princípio do século XIX, estava mergulhada nas guerras Napoleônicas.

As
conseqüências desse conflito bélico incidiram diretamente sobre Portugal e indiretamente no
Brasil. Em 1806, Napoleão Bonaparte decretou o bloqueio continental, cujo efeito prático
consistia na proibição da comercialização entre a nação inglesa e os demais países da Europa.
O imperador francês almejava asfixiar a economia inglesa, que à época auferia significativos
lucros com o comércio marítimo, por conseguinte forçar a rendição daquele país. Para eficácia
dessa investida francesa era necessária a adesão dos países europeus, no entanto, Portugal
resistia em aderir à medida, haja vista a sua tradicional parceria com os ingleses.

D. João ocupante do trono português, em razão do afastamento por motivos de distúrbios


mentais de sua mãe, D. Maria I, viu-se dividido entre os interesses econômicos do reino, isto é,
a fidelidade à tradicional parceria econômica com a Inglaterra e o temor da invasão pelos
franceses. A solução encontrada para esse impasse consistiu na saída da família real com a corte
portuguesa para o Brasil. Portugal não tinha forças bélicas para impedir uma invasão: o
exército encontrava-se em condições debilitadas e o país não tinha condições para
resistir a uma ofensiva do poderoso exército francês. O governo inglês comprometeu-se
em assegurar a proteção da família real durante a viagem, em contrapartida a Inglaterra
obteve vantagens em acordos comerciais com Portugal.

Segundo os historiadores a comitiva somava mais de dez mil acompanhantes.


Eram 14 os navios que desceram o Tejo conduzindo a dinastia dos Braganças. A Nau
“Príncipe Real” acomodava D. João, Príncipe Regente do Reino Português.

A comitiva real desembarcou, primeiramente, em Salvador e em seguida seguiu


para o Rio de Janeiro, destino final. Em razão do surto do aumento populacional na
cidade, ocasionado pela chegada dos novos habitantes, o governo deparou-se com o
problema de moradia. A ordem imperial para solucionar o problema foi severa. Saíram
os seus prepostos pela cidade carimbando casas e prédios com uma placa PR, querendo
significar “Propriedade Real”, transferindo o problema aos moradores que ficaram ao
relento. O vulgo traduzia o PR como “ponha-se na rua”.

Ao chegar ao Brasil, D. João deparou-se com uma sociedade majoritariamente


agrária, constituída por uma parcela expressiva da população composta por negros,
pardos e índios, carente de infraestrutura. Diante desse quadro, o Príncipe Regente
buscou urbanizar o Rio de Janeiro, dotando a cidade de teatro, biblioteca e academias
literária e científica.

Em retribuição a proteção inglesa durante a travessia do Atlântico, D. João


decretou abertura dos portos brasileiros às nações amigas que beneficiou
fundamentalmente a Inglaterra e eleva a Colônia do Brasil a Reino Unido de Portugal e
Algarves.

À medida que o Brasil de forma gradativa perdia as feições de colônia, em virtude


das reformas empreendidas por D. João e do estabelecimento da Corte portuguesa na
cidade do Rio de Janeiro, aumentava o descontentamento da Metrópole. Os portugueses
mostravam-se insatisfeitos com esse novo arranjo geopolítico. O agravamento da
situação resultou na eclosão da Revolução do Porto em 1820, cuja inspiração pautava-se
por idéias ilustradas. Entre as bandeiras defendidas pelo movimento revolucionário,
estava a implantação de uma monarquia constitucional em Portugal e o regresso da
Família Real. Segundo o historiador Bóris Fausto, D. João via-se divido entre o grupo
defensor da sua permanência no Brasil capitaneado pelos grandes proprietários rurais
das capitanias próximas à capital e o grupo que advogava o regresso a Portugal pelos
militares de alta patente, burocratas e comerciantes, estes visavam submeter os
interesses portugueses ao Brasil. Em 1820, os revolucionários implantaram uma Junta
Provisória para governar em nome do rei e deliberaram convocar as Cortes, que seriam
eleitas por todo o reino português, para elaborar uma Constituição.

Após um breve período de hesitação, D. João optou pelo retorno à Metrópole, em


virtude do potencial agravamento da instabilidade política que poderia resultar na perda
do trono e na dissolvição do reino. Após o regresso de D. João, principiaram-se os
preparativos para eleição dos deputados que tomariam assento no processo da
constituinte. Os trabalhos da Corte já haviam começado quando os parlamentares
brasileiros chegaram a Portugal. Os rumos iniciais da constituição desagradaram os
grandes proprietários rurais e os consumidores urbanos, uma vez que cogitaram revogar
os acordos comerciais entre a Inglaterra e o Brasil.

No Brasil, ganhava efervescência entre os brasileiros a opção pela independência,


que ganhou ainda mais força quando as Cortes aventaram o retorno de D. Pedro,
herdeiro direto ao trono português, à Metrópole.

Os brasileiros articulam-se em torno do Príncipe D. Pedro para reivindicar sua


permanência em solo brasileiro. A decisão do príncipe de ficar no país, solenizada no
“dia de fico” (9 de janeiro de 1822) representou mais um passo em direção a
independência. Destaca-se nesse momento a atuação dos irmãos Andrada: José
Bonifácio, Martim Francisco e Antônio Carlos, cujo papel foi fundamental para levar o
processo de independência à frente. [...]

No dia 3 de março de 1823, a Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do


Império do Brasil iniciou sua legislatura com o intento de realizar a primeira
Constituição Política do país. D. Pedro discursou aos deputados a necessidade da peça
constitucional conter eventuais abusos não somente por parte do monarca, mas também
por parte da classe política e da própria população. O esboço da Constituição de 1823
foi escrito por Antônio Carlos de Andrada, que sofreu forte influência das Cartas
francesa e norueguesa. Em seguida foi remetido à Constituinte, na qual os deputados
iniciaram os trabalhos para a realização da carta.

Após a independência, os debates giraram em torno da aprovação da


Constituição e o surgimento dos primeiros embriões dos partidos brasileiros. As
eleições ocorreram após o 7 de setembro e a Constituinte começou a se reunir no Rio de
Janeiro, os parlamentares eleitos eram caráter moderados, eram defensores da
monarquia constitucional que garantisse os direitos individuais e estabelecessem limites
ao poder do monarca.
Logo surgiram desavenças entre a Assembleia e D. Pedro, apoiado a princípio
pelo ministro José Bonifácio. O resultado da contenda foi a dissolvição da Assembleia
por D. Pedro. Logo, tratou-se de confeccionar um projeto de Constituição que culminou
na Constituição promulgada em 25 de março de 1824. A Carta Magna do império
estabelecia um governo de natureza monárquica, hereditário e constitucional. Vale
salientar o reconhecimento pela Constituição de quatro poderes políticos: Executivo,
Legislativo, Judiciário e Moderador, a criação deste último teve por inspiração as ideias
do escritor e político Benjamin Constant, pois advogava a necessidade de um poder
capaz de equilibrar os outros três e teria um caráter neutro. Portanto, seria exercido pelo
imperador que desempenharia um papel central na organização política do Império.

Com a abdicação de D. Pedro I inicia um novo ciclo político no país, sai de cena
a figura do imperador detentor do poder moderador, conforme previa a Constituição de
1824, para entrar a entrar em cena os Regentes, governantes do Império até completar
até a maioridade de D. Pedro II. A ausência da figura do monarca abriu espaço para
sucessivas crises políticas cujas conseqüências abalavam unidade territorial do Brasil.

Um conjunto de reformas políticas foram implementadas pelos regentes na


tentativa de conter tais crises. Em 1834, a Câmara dos deputados aprovou o Ato
Adicional, o qual trouxe importantes adições na Carta Magna Imperial, determinou que
o Poder Moderador não poderia ser exercido durante a Regência, suprimiu o Conselho
de Estado, os Presidentes de Província continuaram a ser nomeados pelo governo
central, em substituição aos Conselhos Gerais foi estabelecido a criação das
Assembleias Legislativas Provinciais. Atribuiu-se a estas competência para fixar as
despesas municipais e das províncias e para lançar os impostos necessários ao
atendimento dessas despesas, contanto que não prejudicassem as rendas das despesas
arrecadadas pelo Governo Central. Portanto, imprimiu-se nesse momento na ordem
constitucional um espaço de jurisdição local, com Executivos e Legislativos próprios.

Emília Viotti da Costa defende que a criação do Ato Adicional foi resultado da
luta entre liberais radicais, de um lado, e moderados e conservadores, de outro, com o
objetivo de conciliar, mesmo que temporariamente, os interesses de vários grupos.
Além das mudanças no Legislativo, naquele momento foram aprovadas a discriminação
de rendas e a divisão dos poderes tributários. Mais uma vez a autonomia municipal foi
rejeitada, mantendo-se os municípios subordinados ao governo provincial, cujo
presidente seria nomeado pelo governo central. Por tratar-se do produto de uma
conciliação momentânea entre interesses diversos, a discussão sobre a real atuação do
Legislativo Provincial foi constante ao longo de sua existência.

O Ato Adicional estabeleceu a composição das Assembléias Legislativas


Provinciais, variando o número de membros de acordo com critérios de tamanho e
importância da província. Seria de 36 membros nas províncias de Pernambuco, Bahia,
Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Pará, Maranhão, Ceará, Paraíba, Alagoas e
Rio Grande do Sul teriam 28 deputados. As demais províncias teriam 20 deputados
cada.
As Assembléias Legislativas Provinciais tinham legislatura de dois anos, com
sessões que duravam, inicialmente, dois meses por ano. Em alguns casos, com o passar
do tempo, porém, esse período foi sendo ampliado gradativamente, em virtude do
crescimento das províncias e das necessidades legislativas advindas daí.

Ao definir seus objetivos, o artigo 9º do Ato previa que as Assembléias


Provinciais deveriam respeitar a Constituição de 1824, nos mesmos moldes do disposto
nos artigos que determinavam as atribuições dos Conselhos Gerais de Províncias. Seu
principal objeto continuava sendo a criação de “projetos de interesse da Província”,
mantendo-se a necessidade de aprovação pelo Poder Executivo ou pela Assembléia
Geral.

A partir daí, caberia à Assembléia analisar as propostas e controlar a atividade


financeira dos municípios. Incluía-se aí a fixação das despesas, a criação de impostos
municipais, desde que não estivessem em discordância com o estabelecido pelo
Governo Imperial. Ao mesmo tempo, a Assembléia era responsável pela aprovação do
orçamento das Câmaras Municipais, e por fiscalizar a utilização tanto das rendas
públicas municipais, quanto das provinciais.

Por fim, em conformidade com a Constituição, caberia à Assembléia Legislativa


Provincial garantir a inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos
brasileiros. Essa atribuição seria desenvolvida na forma do disposto na carta
constitucional, que definia os critérios de liberdade, segurança individual e propriedade,
garantidos aos cidadãos. Acompanhando as atribuições, as bases gerais do
funcionamento das Assembléias Provinciais também foram primeiramente definidas no
próprio texto do Ato Adicional. Estava determinado que cada Assembléia deveria
elaborar um regimento interno, em que constassem alguns princípios básicos para o
exercício das legislaturas.

No Ceará a instalação solene da Assembleia Legislativa Provincial deu-se a 7 de


abril de 1985, pelo presidente da Província José Martiniano de Alencar. Reconhecidos
os poderes dos Deputados presentes à sessão preparatória e instalada a Assembleia
Provincial, o Legislativo Cearense se organizou para exercer suas atribuições, tendo de
elaborar o seu Regimento e de eleger a Mesa Diretora, além das Comissões
Permanentes. Para a elaboração do Regimento foi composta uma Comissão Especial,
constituída pelos Deputados Padre José da Costa Barros, Sargento-mor João Facundo de
Castro Menezes e Bacharel José Pereira da Graça Júnior.

PERÍODO REGENCIAL

Em 1831, D. Pedro I abdicou do trono brasileiro em nome do seu filho


primogênito, no entanto, em razão da impossibilidade do herdeiro assumir o império
tendo em vista a sua menoridade, implementou-se a Regência de acordo com a
Constituição Imperial, a qual estabelecia o governo da nação por figuras políticas em
nome do Imperador até este alcançar a sua maioridade. O período Regencial foi
pontuado por diversas tensões, disputas entre as facções políticas que concorriam para
implementar o seu projeto de poder. Os

DECLARAÇÃO DA MAIORIDADE DE D. PEDRO

Com a renúncia do Padre Feijó em razão das pressões sofridas pelo Congresso,
sendo acusado de não empregar suficiente energia na repressão aos farrapos, entre cujos
chefes, entre cujos chefes estava um de seus primos. Nas eleições que se seguiram,
triunfou Pedro de Araújo Lima, futuro Marquês de Olinda, antigo presidente da Câmara
e senhor de engenho em Pernambuco.

A vitória de Araújo Lima simbolizou o início do “regresso”. A palavra indica a


atuação da corrente conservadora desejosa de “regressar” à centralização política e ao
reforço da autoridade. Uma das primeiras leis nesse sentido consistiu em uma
“interpretação” do Ato Adicional (maio de 1840), que retirava das províncias várias de
suas atribuições, especialmente no que dizia respeito à nomeação de funcionários
públicos.

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