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N. TNS a an Sena emer Me Te Teco Mee Sn Ca te mT Ute Mn We oul mn Cuma nn) demonstrar como 0 mada de produsia escravista Co are ae Meso oO PO ae UUM om ae eu Re etme ele eid cotrangulavam o nosso process de desenvolvimento ee SEO mn aCe oa Pe MERU Un ec ucer me Coto oan trite lc ee me COC en meme Oi Moe el tc arg eee oe ire et ea eee eke ec + Comunicaydes * Direito * Economia = Educagio Oe rene) ee eet Mem Tat ae Kut) SRR Seem Oey Se ea ULL mand BRASILEIRO @ ip2aoe efi SRE naa oc 34 CLOVIS MOURA SOCIOLOGIA DO NEGRO Diego Banjomin Abdela Junior Samnira Youssef Campede i Proparagii do texto Ivany Picasso Battata Srordenagie de composiobe jon ey ‘elds Hiromi Toyota Cape soy Lao ISBN €5 08 079337 088 ‘Todos 04 dhaltes reservados Editora Auica 8. Tal. (PAB) 378 End. — Rua Barto de iguane, 110 2 — Calin Postal OHA pr8lico "Baminre” —~ S80 Paulo Sumario Introdugao i! Parte Teorias & procura de uma pratica Os estudos sobre 0 negro como refiexo da estru- tura da sociedade brasitelra " 1, Pensarmento social subordinado eee | 2.0 racism ¢ a ideologia do sutoritarisma ——————— 0 3. Repetese na fieratura a jmagen: exereotipada do pensamiento xc — — 8 4. 0 dilema @ as aliernatives = » Notas ¢ refertncias bibliograficas ——— ET IL.Sincretismo, assimilacao, acomodagao, acultu- tagdo @ uta de classes 1, Amuopologia ¢ neoeolonialigma ‘Do “primidivismo fetichista” 3 Assimlloglo para acaber com a caltura colomizada 4 4 Acateuragdo wbstita a tuts de Notas ¢ refertncas Wblogréficas Il. Miscigenagdo e democracia racial: mito @ reall- dade —— Negseo da idendade Genie 2. Btnolopizacdo da histéria ¢ eicamoteagio da veaidade social — 5 Estrategia do imobilismo toda) 4.0 Brasil teria de ser branco ¢ capitatisca ‘5. Eniiega de mercadoria que nfo podia ser devolvida, 5. Das Ordenapdes da Reino & atualidade: 0 negro discrininads 9S Notas e referéncias bibliogrifieas AO IV. © negro como grupo eepeciica au dlferenciado em uma socledade de capitalismo dependente ___ 109 1.0 negro coma cobaia vociolégiea __ 109, 2. Grupos especificns ¢ diferenciados_ 116 | 3, Grupos especificas versus socied ade global | Um simboto Iibertieio: Exu 5. Fatores de resistencia 8. Um exemplo de degradagio Notaa e referdncias Bibliograficas 2? Parte A dinamica negra ¢ 0 racismo branco 1. Sociologia da Repdblica de Paimares __ 159 1. Preferiram ‘a lberslade enive as feras que a sudelple entre os j Nagel Cibicts Ate Cae oes —— 18 i | A oie aaiaine camera ae Tonto yet” bites 4. Erolnglo dh economia palmar 8 2etes fh eo iene ee ey, ite toe ——— “Mifay + alainarthe © eps a Rp, th ot 8. Palmares: uma nagdo em formasio? ____ 181 an Rese eertryca-an — it I. O negro visto contra 9 espelho de dois analistas 187 | ‘are coat earpur uaa ea 1, Um luxe permanente de ettudos sobre 0 negro —_____ 187 © negro consiruis: wm pals para os brancos, 2S coon sane es ert cote ae House Nasco 43. Da visio apetronada & rigiéez cemificista 195 Notas o referdncina bibliogrifisas ae ee Il. A imprensa negra em S40 Paulo__204 1. Rages a exists de un tmprenss negra 208 2. Uma trajetria de herofin 206 3. Do negro bemcomportado & descoberta da “Face” _ He 4, Do lsolamento ico & paricipagio poliiea__. 213 Notas ¢ referéncias biblioaraficas ———— — Tim WV. Da insurgéncia negra ao escravismo tardio _ 218 1. Modernizagto sem mudanga ___ 218 | 2 Rasgosfundamencais do excrevisme braslvo pleno (1550/1850) 220 & Significado social da insurgéncia negro-escrava —__ 222 onperidade, excraviddo e tebeldige 226 LOdequisectmia ay 6.0 despaste politieg 200 | 7A sindrome do medo «2 | 8. Rasgos fundamentals do escravismo tardko (1851/1888) 236, 9. Encontea do esteavismna tardio com a capital monopotisia._ 239 10, Operdrios ¢ escravos em lutas paralelas u45 Novas ¢ yeferdncins bibliogréfieas 28 Introducdo Este tiveo & a sintese de mais de vinte anos de pesquisas, cursos, palestras, congressos, simpétios, observacko ¢ andlise da situacio & perspectivas do problema do negro no Brasil, 0s seus diversos niveis, as pasicdes dos grupos ou segmentos que eompdem a comunidade negra, a ideologia branca das classes dominantes ¢ de muitas cama- das da nossa sociedade. Fa2 parte, também, do nosso contato & par- ticipagao permanente na solugio do problems racial ¢ social brasileeo, Procura dar resposta a essa problematica em dols nivels. © primeiro 80 tebrico. Nele apresentamos diversas propostas de critica epistemoldgica A maicria dos trabalhos de cientistas socisis tradicionais sobre a si- tuagiio do negro em nossa sociedade, Procuramos reanalisar algumas FormulagSes conceituais j4 muito difundidas na érea académiea, sem- Dre, ou quase sempre, repetidoras de cosreates tedricas que nos vem de fora ¢ quase nunca correspondem aquilo que seria uma citncia ca- paz de enfrentar — como ferramenta da pritica social — esses pro- blemas sempre escamoteados mo seu nivel de competi¢io ¢ conflite social ¢ racial. © segundo nivel de abordagem procura, através do método histdrico-dialdtico, analisar alguns aspectas especificos do problema abordado, objetivands dar uma visio diacBniee e dindmica de mes- 1_nseenuods mo até 0 cruramento das Iutas dos cécraves com as da classe operdria ‘taquela fase que chanamos de eseravismo tardio. Tomuando como ponto de partida a Republica de Palmares ¢ fa ‘endo aandlise de trabalho sobre ascravidio, abordamos, também, a imprensa negra de Stio Paulo, apés a Abotivao e cheyamios, con- forme jd dissemas, no conceito de escravismo tarddio no tltime capie tulo que trax subsidios para se encender no apenas 0 period do trabalho escravo, mat, também, como 6 negro s¢ organizou poste. riormente, inclusive nos seus grupos especfficos, Abre perspectivas, também, para que se possa entender alguns traumatismos da atual Sociedade brasileira ‘O negro urbano brasileiro, especialmente do Sudeste © Sul do Brasil tem urna trajetbria que bem demonstra os mecanismos de bat- ragem émica que foran estabelecidos historicamente contra ele na so- cledade branca. Nele estilo reproduridas as estraréglas de seleso eitabelecidés para oper-se a qué ele tivesse acesso & patamates privi- Iegiados ou compensadores soclalmente, para que as camadas bran- cas (Sinica ¢/ow socialmente brancas) mantivessem no pasado & mantenham no presente @ direito de ocup4-los. Bloqueios estraitgi- 0s que comegam to prbpric grupo familia, pastam pela educaglo primdria, aesoola de peau médio até universidade; passam pela ros- trigho ne mercado de trabalho, na selegio de empregos, no nivel de saldrios em cada profissfo, na discriminag#o velada (ou manifesta) fem certes esparor profissionais; passam também nos coniaies entre ‘x08 oposios, nas barreiras acs casamentos interéinicos ¢ também pelas restrigdes anihiplas durante todos os dias, meses ¢ anos que re~ presentam a vida de um negro. E, como dissemos, ums trajetdriasignificativa neste sentido por- ‘ave reproduz de forma dindmica ¢ transparente os diversos niveis de preconceito sem mediagbes kleoldgicas pré-montadas como a da de- ‘mocracia racial; demonstra, por outro tado, como a comunidade ne- grt ¢ ndo-branca de um modo geral tem diticuldades em afirmar-se no et cotidiano como sendo composta de cidados e nfl como apre- sentada através de esteredtipos: como seymentos atipicos. ex6ticos, fiihos de uma raga inferior, atavieamente eriminosos, preguirasos, oeiosos ¢ trapaceiras. Em Sko Paulo, com a dindmics de uma socisdude que desen. volven ai¢ as tikimas conseqittncias os padrdes ¢ normas do capita- lismo dependence, tendo a competiglo selvagem somo ventro de sua dindmica, podemes ver como, no mercado de trabatho, cfe sempre, : venopueko segundo expressiio de um sindicalista neyro durante 0 1 Encontro Bs. ‘adual de Sindicalistas Negros, realizado em $80 Paulo, em 1986, ““é 0 Hitimo a ser admitide e © primeiro a ser demitido’’, Este quadro ‘iscriminatério, eujos decalhes serdo apresentados no presente lito, restringe basicamente o comportamento do negro urbana, quando ele ndo aeupa o-espago universitario ou pequenos espaces burveriiticas ‘A grande massi negra que atualmente ocupa as favelas, invasdes, cor- tigas, calgadas a noite, dreas de mendicineia, pardieiros, prédios aban- donados, albergues, apraveitadores de restos de comida, ¢ por exten- soos marginais, delinglentes, ladres contra o patriménio, baixas prostitutas, lumpens, desempregados, horistas de empresas multina- lonsis, eatadores de Iixo, lixelras, domésticas, Faxinelras, margari das, devempregadas, alsodlatras, assaltantes, portadores das neuroses das grandes cidades, malandtos ¢ desinteressados no trabalho, encontra-se em estado de semi-anomia. Essa grande masta negra — repetimos —, sstematicamente bar- ‘aula socialmente, airavés de insimeros meosanismos ¢ subterfgios €3- tratégivos, colocada como 0 resealdo de uma sociedade que ja tem grandes franjas marginalizadas em conseaiitneis da sua extrutura de capitatisme dependente, ¢ rejeltada ¢ estigmatizada, inclusive por al- guns grupos da classe média negra que ndo entram em sontato com cla, niio Ihe transmitem identidade ¢ consciéncia ¢tnicas, finalmente ado a accitam como o eentro nevralgico do dilema racial no Brasil ¢, com isto, reproduzem uma ideologia que justifica vé-la como peri- fitica, como @ negativo do préprio problema do negro. ‘A sociologia do negro é, por estas razGes, mesmo quando escri- {a por alguns autores negros, uma sosiologia branca. E quando es ‘revemos branca nie queremos dizer que © autor € negro, branco, muito, mas queremos expressar que hd subjacente um conjunto con: ceitual Branco que ¢ aplicado sobre a realidade do negro brasileiro, come s¢ ele fosse apenas objeto de estudo ¢ ndo sujeito dinimico de uum problema dos mais importantes para o reajustamento estrutural da sociedade brasileira. Como podemos ver, 0 pensamento social bra- sileiro, 8 nossa literatura, finalmente 0 nosso e7hos cultural em quase todos os seus niveis, est impregnado dessa visdo alienada, muites veres paternalista, oulras vezes pretensamente imparcial, O proprio negro da classe médin introjetou esses valores de tal forma que, em um simpésic sobre o problema racial, ouvimmos de um socidloge me- gro a afirmagdo de que cles deviam preparar-se para dirigirem a5 mul- tinacionais que operam no Brasil. ““Por que no?" dizia ele, sem _tuso0uc%0 ber, ou possivelmonte sabendo, que a General Motors sé contrata rabalhadores negroscome horistas, sem nenihuma garantia, sem pos- sibilidades de fazer carreira, isto &, so escolhides para desempe- tnharem aqueles trabethos sempre considerados su/os, dndignos hue middantes. Eats falta de perspestiva que impede ver-s¢ a ponte entre 0 pro- blems do negro ¢ 05 sstruurais da sociedade brasileiza, ito &, supor- se que 0 negro, através da cultura, poderd dfrigir unsa maultinacional, bem demonstra o nivel de alienagio sociol6gica no raciocinio de quern exp8e.o problema desta forma, O problema do negro tem especifici- dades, particularidades e usa nivel de problensdtica muito mais pro- fundo do qué 6 do trabathadar braneo. Mas, por outro Indo, esta 4 ele ligndo porque ndo se poders resalver o problema do negro, a sua discriminacto, o preconeeito contra el, finalmente.o racismo bra- sileiro, sem atentarmos que esse racismo nilo ¢ epifenoménice, mas tem causas econdmicas, sociais, histérieas ¢ ideolgiens que alimen- tam oseu dinamismo atval. Umi negro diretor de uma multinacional ésociologicamente um branco. Tera de conservar a discriminag0-corie {ra oncgro na divisio de trabalho inverno da empresa, terd de execu tar suas normas racistas, e, com isto, deixar de pensar como negro cexplorado e discriminado ¢ rcprostuzis no seu comportamneato empre- ial aquilo que um executive branco também faria. ‘A anticolagdo do problema nico com o sociale poiitico-€ que alguns grupos negros nto estfo entendendo, ow procuram no enten- der para se bencficiarem de cargos burocréticos ¢ espacas aberios pa 14 os membros qualificados de uma inflma classe média branqueada. Guerreiro Ramos teve oportunidade de enfatizar © perigo de se criar uma ‘‘socfologia enfatada”. E tememos que alguns clementos negras a0 coneluirem a universidade, ao invés de se transformarem em ideS- logos des mudaocas soctels que irl solvcionar 0 problema racial no. Brasil, assimilem of valores idealégicos dessa sociotogia ealatada, © _que levied o negro a continuar sendo-cobaia socioldgien daqueles que dominam as ciducias sociais tradicionais: beaneos ou negros. ‘Como se pode ver, no quero que ela, quase toda ela estruturada através de modelos tebricos e postulades metodologicos vindos de fora, abstém-se de estabelecer Ht IUD Wane kG Ce RERLEND a KitmUTLDA on SOCMDADR BULAN uma préxis eapaz dedeterminer parimetros conchusives ¢ nomas de sede para a sotughode problema sacial brasileiro nos seus dhersos niveis ¢ implicagdes Tomando-se cimo precursores Perdigitio Matheiros ¢ Nina Rar ues, podemos ve que 0 primeira absteve-se na sua Hsia da sscravidée de aptese:tar uma solucdo para o problema que estudou, ravés de medidas ndicais, ¢, 0 segundo, embebido c desiumbrado pela cigncia oficial e:ropéia que predominava no seu tempo e vinha para o Brasil, via 0 acgro como biologicamente inferior, transtetin. do para ele as causascla nosso atraso social, Em Nina Rodrigues po- demos ver, jd, essa caracteristien que até hoje perdura nas ciéncias socinis do Brasil: a subservineia do colonizado aos padedes ditoscien- tificos das metrépoks doninadorss A paitir de Nina Rodrigues os estudos africanistas, ov assim ebamados, s¢ desenvolvem sempre suberdinados a métodos gus nllo conseguem (nem pretendem) pensirar na esstncla do problema para fentar resolvé-lo cieitificamente. continuadorde Nina Rodrigues, Artur Ramos, conforme ve: remos em capitulo ssbseqtiente, recorre it psicanilise, inicialmente, eno método histdrico-cultural americano, para penetrar naquilo que elechamava de omunclo do negro brasileira, A visio culturalisa trans- feria para um choque ou harmonia entre culturas as contradigdes so Giais emergentes ou as conciliagdes de classes. Antes de Ramos, Gilberto Freyre antecinava-se na elaboragio de uma interpretagao s0- ‘cial do Brasil através das eategorias cosa-grande ¢ senza, colocando 9 nossa eseravidio eomo composta de senhores bondosos e escraves submissos, empatieamente harménicos, desfazendo, com isto, # pos: aibilidade de se ver 0 perlode no qual perdurou o excravismo enire 1n6s como cheio de contradigdes agudas, sendo.que a primeira ¢ mais importante ¢ que determinava todas as outras era a que existia entre senhores ¢ escravos © mito do bom scahor de Freyre € uma tentativa sistemitica ¢ deliberadamente bom montada ¢ inteligentemente arquitetada para interpretar 25 contradicdes estruturais do eseravismo coms simples epis6dio epilérmico, serm importancia, ¢ que nilo chegaram a desmen- existéncia dessa harmonia entre exploradores ¢ éxplorados du- Fante aquele perfodo, ‘Convém salientar que a geragdo que antecedeu a Freyre nilo pric maya pela elaborago de um pensamento isento de preconceitos con tra 0 negro. PRRSAMrITe SHC1AL SURORMIADA We (O desprezo por ele, mesmo come objeto de citncia, fol domi- nante durante muito tempo entre os nossos pensadores sociai, Silvio Romero constatou 0 fato escrevendo: Multa estianhazs cousaram am vAsion rods nacionata.o haverem 38:0 Histone da iteratura #08 Estudos sobre a poesie popular breaiere ‘tamendo contra o olvda proposital ete nas leas naclonals 28s. pelto do contingents aircane ¢ protestands contra 4 Injustign dal rained. (.) Ningude Jarnals quis eabelo, am obediénola xa prejuize dor, 20m med de, em mostiando simpatia ery qualquet gra par {00 imerso elemento da nossa popunpse,passar por descendentes Ge race eftcana, de passer por mestipo!., Ea vordade nus 6 ‘ais do excravinmo como simples epiaédio sem ieportincia, que nfo cshegaram a desmentir a enisténcia dessa harmonia entre explorado~ res cexplorados. Finelmentc podemos compreender por que toda uma seragllo que sucede a de Freyre psicologiza o problem do negro, sendo ‘que grande parte dels € composts de psiquiatras como René Ribeiro Gongalves Fernancies, Ulisses Pernambucano © proprio Artur Ra- ‘mos. Salve-se, nesse perfodo, a obra de Edison Carneiso, autor que procurou dat uma visd0 dialétiea do problema racial brasileiro, 2. © raciame © & Todos esses trabathos procuravam ver, es: ideologla do tudar ¢ interpretar o negro nfo. como um @utortarisma = ser socialmente situado numa determinada ‘estrutura, isto €, como escravo e/ou exe scravo, mas come simples componente de uma cultura diferente do ethos mcional. Daf vermos tantas pesquisus seren: realizadas sabre © seu mundo religioso em nivel etnogréfico ¢ sobre tudo aquile que implicava diferenca do padrao ocidenial, ido como normativo, «tio poucos estudos sobre a situasto do negro durante a sua trajetéria his- (Orica e social. Minimiza-se por isto, inclusive, o ntimero de eseravos entrados durante o trdfico negreito, fato que vera demousuar come ‘esses estudos, conforme ja dissemos, assessoram, conseiente ou in ‘conscientemente, ¢ municiam a subjacéncia racista de grandes cama- das da populacdo brasifeira, mas, especialmente, 0 seu aparctho de dominagdo. Nao mostram a importéncia social do trifico € no aCe HA WHO LOOIA BO AUTONRARLINE aL Procuram (na sua maioria) demonstrar como a importancia sociold- fica do trdfico ndo se cifra a0 niimero de exeravos importados, mas tna sua relevdncia estrutural o que permite os seus efeitos se eviden- clarem em grapos ¢ instituisies da sociedade ave foram organizados exatamente para impedito, jdque, a partir de 1830, @ fico era ofl- cialmentc considerado ilegal, Neste particular, Robert Edgar Conrad * mostra como toda & méquina do Estado passa 2 servir de mantenedora ¢ protetora deste tipo de comércio, citando a taxa au comissio que os fuizes recebiam (10,804) para liberar as cargas de escravos ilegalmente desembarca- os. Mas, nfo era apenas o poder judiciério 0 conivente com 0 trifi- {20 criminoso; 6 segmento militar participa também ativamente, de raodo especial a Matisha, que tinha papel substantive na repressio fo txifico negreiro. Nele estavans envolvidos os mais significativos fgurdics ¢ personalidades importantes da época: juizes, politicos, litares, padres ¢ outros segmentos ou grupos responsaveis pela Hor. mmaiidade do sistema, Em 1836, por exemplo, um certo capit&o Vasques, comandante da fortalera de $80 Joao, na entrada da bala do Rie de Janeiro, transformou-a em urs depésito de escravos, Politicos apoiavam ¢ co viviam abertamente com os traficantes. Manoel Pinto da Fonseca, um dos mais notdrios conirabandistas de escravos, era companteiro de jogo do ehefe de polfcia e foi elevado u Cavaleiro da Ordem da Rosa Brasileiea, honsa imperial concedida por D. Pedro TL Esta atitude sistematicn de defesa ideoligica ¢ empirica de um trdflco ilegalizado por peessio da Inglaterra e pelas autoridades bra sileiras nfo s¢ dava acidentalmente, porém. Era uma decorréncla da propria essincia daestrutura do Estado brasileiro, Sem se fazer ums andlise socioS6gica ¢ histérico/dialética da seu conteddo nfo pode- mos entender esses padres de comportamento da elite politico” tministrativa da €poca. Por nto fuzerem esse tipo de andlise dialética, certos historiadores académicos chegam a falar em uma “‘democra- cia coroada”" (Joho Camilo de Oliveira Torres) para caracterizar @ reinado de Pedro IJ. No entanio, como toda Estado de uma socieda de excravitta ele era inteframente fechado a tudo aquilo que poderia ser chamado de democracia, Durante toda a existencia do Estado bra- sileiso, no regime escravista, ele se destinava, fundamentalmente, a manter ¢ defender os interesses dos donos de eseraves, Sito quer di- er que © negro que aqui chegava coercitivamente na qualidade de semovente tinha contra si todo o peso da ordenagio juridica e militar 2 _csesrubea scan kono cin Hert ED Da sr DA OCEDADE RRASIETE do sistema, e, com iso, todo © peso da estrutura de dominacto ¢ ope- ratividade do Estade O historiador AntOnio Torres Montenegro elaborou, no part cular, um exquema qoe explica muito bem 0 contesido do tipo de Es tado escravista moniequico/constitucional e quabo seu papel efuncio. Diz ele: Esta (a estruturtdo Estado mondrqulcofescravists) so carseteriza po la igldez 0:pelarnicbilidace. isto se pode evidenciar ema multos ov toe sepectoscons: aescolha de eeitares scendidatos,feltaconforme ‘mere de rend 0 que axstul granda parcola da populagdo, faio que 4 luta abolelonita Roraando lure multes eacravoa) «0 prosesso de naturaiizagto de migrates tera 2 corigr a intarvencae aireta 40 aovernc nee eleydee da Chmare, sempre ee formance malerins parle Imentares comrespon dentes aos gablnstes: s excalha deur sanador vl talllo entre 08 que compuniam a lista tripice, feito pao Pager ‘Moderedor, em lungde de cildios peasouis; aexisténcia, no interior 18 settuura de jedor, db umn nagmrent witalico, 0 Consélhc do Ea ‘do (constituldo ¢© 12 membros} © 0 Sanat (constituldo ce 60 mam. br08) qué, apetr de todis a2 crises, permenecla ne poder « #4 ‘Sonatitulam na base politica do Poder Modoradr.* Esse tipo de esrutura de Estado (desptieo na sua esséncia) ak tamente centralizade ¢ tendo como espinha darsal ¢ suporte perma: ‘neste dois segmentos vitalicios (0 Conscibo de Estado ¢ © Senado) foi montado priorltarlamente para repsimir a luta, entre 05 essravos € aclasse tenhorial. Ndo foi por aeaso, por isto mesmo, que o Brasil fosse 0 Ultimo pals do miindo a abolir a escravidko. (O-que caracteriza fundamentalmente esse periodo da nossa his- X6ria Social 4 a luta do eseravo contra esse aparetho de Estado, E é, por um indo, exalamente este eixo contraditério e decisério parm a udanga social que é subestimado pela maioria dos gocidlogos ¢ his- loriadores da Brasil, os quais se comprazens em descrever detalhes, em pesquisar minudéncias, exotismos, encontrar analogias, fugindo, esta forma, & tentativa de se analisar de maneira absaagente ¢ cin tifiea as caractertsticas, 08 graus de importincia social, econdmica, cultural e pottica dessas lutas. Toda uma literstura de acomodacao sobrepde-se aos poueos clentistas soviais que abordam essa dicoto- mia basica, restituinde, cam isto, ao negro escravo a sua posture de agente social dinkinico, no por haver criado a riqueza contumt, mas, ccxatamente pelo contrario: por haver criado mecanisenos de resistén- cia e negacto ao tipo de sociedade na qual o criador dessa slqueza +a slienado de tado @ produto elaborado. “nse P 4 HCOLOOLK DO ALTONITARISNO 33 Em vista disto a imagem do negro tink de ser descartada da sua dimensio humana. De um lado havia necessidade de mecanismos poderosos de repressio para que ele permanecesse naqueles espagos sociais permitidos e, de outro, a sua dinémica de rebeldia que a iso se opunhs, Dal anccessidads de ser ele colocade como irracional, as mas mtirudes de rebeldia. como patologia social e mesmo bioldgica ‘0 aparelho ideoldgice de dominagdo da socledade eseravista ge- rou um pensameato racista que perchira até hoje. Como a estrutira da sociedade brasileira, na passagem do trabalho escravo para o livre, permaneceu basicamente a mesma, os mecanismos de dominagdo in: elusive ideoldgicos foram mantidos ¢ aperfeicoados, Dal o auroritaris- mmo que caracteriza 0 pensamento de quantos ou pelo menos grande parte das pensadores socials que abordam 0 problema do negro, aps 8 Aboticio. Vejase, por exemplo, Oliveira Vianna. Para ele o autor tarismo estava na razio direta da inferioridade do negro. Por isto de fende uma organizagao oligérquica para a sociedade brasileira, Diz Petas condigtes dentio das. quale ae procassou anoass focmagbo po {Wi estamos condenades As olgarquiss:e, ebarvanta, as ofgarqulat. exetem. Pode parece’ pacacoxal mas eume democracia como a not a, eins tim aio 9 nossa salvage, O nosso grande problema. como Molsse athures, no # acabar com as oligarqulas:¢ tranatorméiaa — Fazendo-0s paasarem 63 ava alual condo do olkaeraubns bronces para ‘uma nova condigto de oligarquias eaclarecidas. Estas cligarquias 08 ‘larecidas tenam. ent, realmente, a eipresséo da nica forma dade ‘moecacie posalvel no Brasi* Mas, segundo Oliveira Vianna, essas oligarquias, pars ascende. rem de Broncas esclurecidas teriam de se arianizar. Porque ainda para ele 8 nossa cllizagtio d obra exclusiva do homem brance. © nogro #9 Ir» ‘la, aurante o tengo proces 0-a noses formagao social, nfo dn, co- fe #6 vb, ds clagson superiores 6 dirigentes que realizam a obra do Civtizagto @ construgio, nenhumn elemento de valar, Um # outro for am uma massa peteive& improgiaesiva, sobra quatrabalhe, nem sem pre com Oxito fell, @ a980 modatadcra da rwca trance. ” ‘Toda a obra de Oliveira Vianna val nesse diapasio, Continua. 1a ideologiz do Poder Moderador de D. Pedro Il ¢ procura ordenar a nossa sociedade através da “‘selegio racial”. No € por acaso que ‘9 mesmo autor chega a elogiar as teorias racistas ¢ fascistas no plano politico, Esse autoritarismo de Oliveira Vianna é uma constante no pensamento social e ha um cruzamiento sistemstico entre essa visio antoritarista do mundo ¢ 0 racismo. 98 10006 soar o nemLG COMO KEFTING DA ESTRUTUR DA YOCiRONDE HASSLE Através de vices menos agrestivos, podemos ver que a defe- sa das cligarquias po peste de Gliveisa Vianna poderd fundirese & ddelesa dos senhores patriarcais de Gilberto Freyre. Em um dos seus livros, Preyre cscreve dofendendo, da mesma forma que Oliveira Vian- ma, a necestidade de seonbecermos realisticamente a fungi positi- va das oligarquias: No Brasil aa séeub passado, o8 publicistas « pollicos de tendénclan relermadoras, deftnsores mais de iotias e deis vagarmenteiberas ‘Que de reformas orrrospondentes A necessidades 0 hs condigces do 88a, pare eles dexconhecido, sempre excreveram @ falaram sobre oa problemas necieniis com um simplisrsinlanll. Para alguns dels 0 (Grande mel do Bra estava indistintamente nos grandes senheres: nos vagia9 dominiga; na supremacia do Corto nimero de tanniian. € pace Fetelver seas situseso beslava que ge faeesem lots eral. Apenas ito: leis Ibaraie(}. Os sannores de ongenho nBo constitulam um: ‘tents lagisiatve:t nha de descobrai-se em oxecutho.Oal ox "rei", vals" & aniig, dnkevindo na atiicade dos moradores.e escrewos, ‘que alguns doles pareceram a Totlenare. 0 wiajante france viv senho 96 Niscalzando Wabalhos: apradande a rlugsiba pret alunds Hap do& negras ano«mes, certos do prestigfo da vor @ do gesto,* As oligarquias de Olivelra Vianna tém muita semeinanga com os senhores de engenho idealizados por Gilberto Freyre, pois so as Formas diversificadas de um mesmo fenémeno. Ambos criaram € man= tiveram os suportes justificatdrios de uma sociedaée de privilegiados, xno Império ou na Republica. Entre os dois pensamentos hi uma cous- tanto: 4 inferiorizagio social ¢ racial do negro, segmentos mestigos ¢ Indios a exalcapo cultural ¢ racial dos dominadores brancos. Esta ligagdio entee racismo e autoritarisine € unia comstante no Pensamento sociat ¢ politico brasileiro, Outre socidlogo, Azevedo Amaral, um dos idedloges do Estado Nove, escreve: ‘A cniraca de corres Imioraorian de oigem europsia roeimenta ume das queetbes de malor imporncis na tase de evolucta qua staves somes @ nao na exagers stiemanse qua do némero de imipranies a ‘a branca que assimiiarmos. Nos prGimos dectinlos depend I ‘ante 9 fvture da naclonatidade(..) Uma andlisn ratrospnctiva do de- senvoivimente da economiabres|sira desde o time quartet do stculo XIK poem svidéncia um fato que alias nada tom de surpreenionie po ‘ave noe apenas reproduita em malores proporgdes wnda, 0 que |& ccae- ‘era een fags anteriores da evolvggo nacional, As resices para onde aftiramos contingantes. oe inegranites europeus receBeram vm Impulse roprous ta que a distanciou de tal modo dan toaas deslavorscidas de inlgragao que ealre as osimelras ¢ as Gitimas ee formaram aitaran- ‘gate nivel ecantmico © soclal, culga efeitos justiticam apreens CSD Ws LIFYRATINA A HIAOEEY ESTURKOTIPADA 09 PHIKAMENTE SOCIAL 38 6, Enguanto nas provinclas qué nBo receblam imigrantes ‘obparvava marcha lenin de Gosanvolvimento eoanemica sola), quande ago poattva estagnaggo do movimento progressive, a3 regides afortunadas a que lam ter em caudal continuas lavas de tra- ‘Sanadores outopeus Toram cameo os supreanantenWansomagc ‘ecandmices de que temas os exeriples maisimportantee em Sto Pe foe no Ric Grange do Su, Alls, ecenteceu ante nds o mesmo que 0" toda a parte onde ax nag roves surgeme prosperam com a eso beraqde 26 elomontos colontendares vindos 68 palane male adin {dou nabitacos por poves de racaa antropologloamerte superiores.t.) {© problema dire brasil ro ~ chavs do todo destino da nacionaidar de reouine-se 4 doteroinage Ga qual vied & ber 0 lator tiple ‘riseigens¢ae que 84040 opera queeaterk impor a aecendéncte {esutad definitive do eabseamanto, € claro que scrnente se tomar osaive! aasogurara-iérladinlca doa elamentosrepreceriailvor one faeas ¢ dn cultura da Europa se felorgaernos polo xo Conlin ue 380 Vor contingentes branes. Or obaticutos opcatot i imigrs¢to de or {Gem europbia ‘constitvem portanio ticuioades celiberadamente ‘rindas ao roforgamento dea valores éiniovs uperlores de culo prado ‘rinio final no ealsoamento deoendéen ae fvluras formas actraturals {Ea chilaagdo brasliots © as manttesiagdes do sau cetorin smo eco: nomic, goto, social eculura.{.) A noasa ainla eta longe de pe- {iodo tinal de crstalizagio. como acima ponderamos, oo mais altos Interesses saclonals impécm que 8¢ Taga entrar no pals omator nume- re-poctive! de elomantoe sinicos superores, a fim de que no epflaga ‘do ‘cakéeamento possamos alingk um Uo tecal Gapex de arcer om raponsabiondee de ume grande slivegte,* Isto era escrito logo depois da implantation do Estado Novo, ‘em livro elaborado para defendé-lo ¢ justificar 0 seu autoritarismo. ‘Como vemos hi um condlnuum neste pensanento social da inteti- sedacia brasileirn: 0 pols sera tanto mais elvlizado quanto mais bran queado. Esta subordinagio ieoldgica desses pensadorcs socials demonstra como as elites brasileiras que claboram este pensamento encontram-se parcial ou totalmente alienadas por haverem assimilade ‘edesenvolvido a ideologia do colonialismo. A este pensamento seguemmse medidas administrativas, poiticas © mesmo repressivas para estancer © luxe demografico negro ¢ estimular 4 entrada de brancos “‘civilizados"’. 3, Repete-se na literatura Este aspecto alienante que se a imagom estercotipada —encontrana literatura antropo- do pansamento social logica, histdrica esocioligica, © {que tam suas raizes socinis na estrutura despética e racista do apare- ose ypos ene GHD como HEFL Da ESERUTUNA DA SOCREDAE RAS EIBA tho de Estado escravista, ¢, posteiormente, na estrutura intecada da propriedade fundidria, encomtrase, também, na literatura de Fogo a época do escravismo, com desdobramentas visiveis e permanentes ands a sua extingao. ‘© mundo flecional, o imaghario desses romancistas ainda s- lava impregnado de valores brancos, o seu modelo de beleza ainda fa © greco-romano € os seus herds € heroinas tinkam de ser pautar dos por esses modelos, E a nossa realidade ficava desprezada como temdtica: os herdis tinkam de ser brancos como 0s europeus ¢a mas ‘sa do povo apenas pano de fundo dessas obras, Em (oda essa producio nentum personagem negro entrou ¢0- mo herdi. O problema do negro 0a literatura brasileira deve compor- tar uma revisto soclol6gica que sinda ndo foi feita. Quando surge literatura nacional romdatiea, na sua primeira fase, surge exatamente para negar a eristéncia do negro, quer socal, quer estticamente. Toda @ ago ¢ tudo o que acontece nessa literatura tem de obedeces 20s padtdes brurtcos, ou de exaltasdo do indio, mas um indio distante, ‘suropeizade, quasc um brance naturalizado indio. Ldealizagio de tn tipo de personagem que nao participava da tua de classes ou dos con fitos, como © negro, mas era uma idealizacio de fuga e escape para evadir-se da realidade sécio-racial que a saciedade branea do Brasit enfrentava na época. Era mais Rousseau ¢ romantisme de-"'bom vel- vagem”", quase um cavaleiro europeu, da que uma tentativa de-mos- trar a situaglo de exterminio do fndio brasileiro, Bra, de um lado, descartar o negro conto ser htimano ¢ herdico, para coloci-lo coma exotico-bestial da nossa literatura, ¢, de-outro, fazer-se uma idealiza- sho do indio em porigio a0 negro, Néo se abordava o indio que se exterminava nas longinguas dimensdes yeognificas daquela época des- truida pelo branco, © indio do romantisme brasileiro era, por tudo isto, uma farsa ideolégica, literdria © social, Era uma contrapartida {écll para se colocar 0 quilombols, 0 negro insurteto ¢ 0 revolucions. rio nogro, de um modo geral, como anti-herdi dessa literatura de fuga € alienasio. Esse indianismo europeizado entrava como em enclave ideol6gico necessério para se definir 0 negro como inferior ‘uma ertdticu que, no fundamental, colocava-o-de um lado como a negagto da beleza ¢, de outro, come antisherSi, como facinora ou coma subalterno, obediente, quase que ao nivel de animal coneluzide por reflexos. SMEpETEse KA LIMERATURA 4 IMAGEN ESTERESTIPADL DO PENEAMEILO SOCIAL 17 Temos 0 exemplo de Machado de Assis que escreve durante a escruvidio come se vivesse uma reaidade urbana evropéia, quere do branquear os seus personagens, herdis e heroinas. Toda a primei ra geracio roméntica, por isto mesmo, ¢ uma gerapao cooptada pelo aparelio ideoldaico ou burocrétiee do sistema escravista. Por isto mes- ‘mo ndo podiam criar uma literatura que refletisse 0 nosso ser cultu- ral, Tinham de ir busear de fora o8 elementos com ox quais repte- sentavam a sus forma de expressio ¢ de eriarao liter dria. Esereve ana. lisando esta situagfo estrutural Nélson Werneck Sodré: E interessante distinguir um sepecto & que temo conaodigo, em re (ra, steno diatanto, quando a concedemoe: aquole que ee reiare & Srigem de classe dos homens deletes, |& mancionade, de passagem, Higando-se agora ac detalne de fazerem tais homons de letras sau 0 {yd08 na Europa, © costume, préprie de clatee proprietida, de man dar ¢8 les estudat om Coimbra @, mais aGianta, nos centros unk ‘eradrios mets conheckdos,particulamente na Frenga, consttuia. no 6 um inequtvoce sina! do chansa, como oxaminno natural para a exe ‘a de talidade ds celénia6:d0 pal tho dNersa co ambiente amy que sm aptlmorar 08 conhacimantos e que Ines pareceriac model Insie petado. A shenaptio — que & olnda um tage de clance — oma vax qe ‘io podiam tals elementos soliarizar-sé com. um coro rapresentago, samagadora malcria, por spcravos @ iberioe pobres, am que a classe comaccial mal comegava 6 a6 defini 8 wra ete.com: 2o,cortaspondatia, no Tundo,a secretx sia de dstercar em cada wn ‘0-que Me perecia inferior, idemtficando-se com 0 madoke extend (8 fascinanta. E als elementos, 2vja formacso mental os eistanclava do ‘au pais, e, culas origens de classe 0s colocavem em contrastes cam ale, ipando-cs ao setrangeio, eran op que formavam + quares i Periele, quacroe a que o8 cursos juricicos atendiam: "Javentdo as Fas Cuidades de Direite eram ante-salaa da ctmere", conlorne observes Nabwoe, Por estas razées sociais toda a primeira gcracio romintica é uma ‘eracio cooptada pelo aparciho idcokégico ¢ burocratico do sistema escravista representado pelos diversos escales da poder, terminade ‘no Imperador. Goncalves de Magathaes, introdutor ofisialments do. romantismo poético, vai ser diplomata na Itdlia, tendo publicato © ‘cu primiro volume de versos ¢m Paris; Joaquim Manoel de Mace do sera preceptor da familia imperial; Gongalves Dias vive pesqui- sando na Europa as expensas de D. Pedro IT durante muitos anos; Manoel Ant6nie de Almeida com pouse mais ds vinte anos é nomes- do administrador da Tipografia Nacional, o que corresponderia hoje a diretor da Imprensa Oficial, ¢ José de Alencar, o maior fiesionista romintico (indianista), seré Ministso da Justiga cm gablucie do Impétio. | | | | 2_sTuDos sount.o Mune COL REFLES Ba REPKITURA ON SOCIEDADE weaStLNEA Tada essa ligaeo orglinica com © sistema irk determiaay ou con: dicionar, em graus muiores ou menores, 0 comelde dessa producio, Nas outras atividades olturais a subordinagio se repete ¢ a caso de Cars os Gomes ¢ conhecido: endo composto.a dpera O-escrava com libro de Taunay, foi fereuds a modifcito, substituindo 0 seu personagem Central, que era negro, por win essravo indio, Carlos Gomes também estava estudando ia Exropa através da mocenato do Imperador. Aqui cabe fazer sma distincdo: a literatura dessa época por ve~ 2es abords 0 eseravo wo seu sofrimento ou na sua lealdade, humilde Imultas ve2es, outras veoes querendo a sua liberdade. Os dernais s¢g- ‘enios cm que se dive a classe escrava slo também abordados; a nde preia, a mucama doméstica e até relagies ineestuosas cate filha de escrava com sinhotinho, filhas do mesmo pai. O que nessa lite. Fatura cst ausente ¢ oaegro come ser, coma homem igual ao brin- ‘so; disputando no seu espaco a sua afirmage como herdi ronnintico, Escreve, neste sentido Raymond S. Sayers: Als mesmo 0 santinonte-eeeravista gue originou vasta literatura no wh ula XVII na inglatera. ne Fiance © mesmo ea Alemanha de Hevoey 20m @ seu Keger Milan, esta ausante desta postica de bniiaggo, Em \reidade, ambora os negros poraassem bastaniementew panotamn se. Gial, 08 poetas prefedram ver apecas coms olnes 4a Imaginagdo nin. fas ¢ pastores ancantadoras, am vaz ds Ver a realidede ds steamvoo’y Imuintinhaa inquietos & andrajosos. Ha soanante dois powmas sm qua 28 Pages apareeem come Indiiduos, o Quifuble, de Jase Basta da ‘Gama. em que um negro nobee & 0 herdt, #9 Garemuru, do Santa Pita ur60, quo decica algunas astencas a0 episodio de Honviaue Dian. Fora disso, ne malcria dea rezen am que o negro apatece ness poesia, & Como mero pormbenor do ambiente, figure digna de piedade me egots- ‘ma molancotico de quem 8 = Outros exemplos poderiam ser dadot mas, ao que nos parece, ‘expusemos o suficiente pars demonstyar como essa literatura era Fepresentativa de um sistema social, o escravisma, ¢somente a partir da compreensao deste fato poderemos analisar em profundidade o seu conteido © 2 sua fungso, Uma excecto deve ser feita, no nosso entender, jé ma segunde fase do zomantismo: ¢ Castro Alves, provaveimente nico que tenha fessaltado na sua obra o papel social c ative do eseravo negro na sua ‘dimensiio de rebeldia, e na sua interioridade existencial, criando poc- ‘mas com personagens negros, Com Castro Alves o negro s¢ luumnani- 2a, dela de ser a besta dé carga ou o facioore, ou, entio, compo. snente da galeria de humithadas e ofendidos da primeira geragao, Cas- tro Alves é, por ista, o grande momento da literatura brasileira, pors ‘que coloca 6 negro escravo como homem que pensa ¢ teivindica, que ama ¢ Juta. Um exemple pare masirar a diferenca de universos so siais © extétios entre cle € Gonsalves Dias: Castro Alves escreve 0 seu grande poema "O navio negreito" sem aunca ter visto uma des- sas embareagSes, pols 0 tréfico foi extinto em 1850, enquanto Gon: salves Dias que teve oportunidade de vé-os As decenas, provavelmente fo S44 cofidiane, jamais © usu como temética dos seus verses. ‘Castro Alves poderia ter visto algum barco do trifico interpro- vinefal, mas nunca urs Aunbelro como ele descreve no seu poems. Por outro lado, quando esereveu "'Saudasdo a Palmares” os negros quitomboles ainda existiam ¢ eram cagados como criminoses, No-en- tanto, ele Inverteu os valores ¢, ao fnvés de apresentd-los como critsi- noses perturbadores, apresenta-os como herds Essa literatura orgdnica que funcionow como superestrutura ideologica do sistema ¢ argamassn cultural de manutenco que atra- ‘vessa 0 perfodo do escravismo e penetra na sociedade de capitalismo dependente que persis até hoje. Por isto, somente com Lima Barre: 10, que morre em 1922, 0 negro se redignifica como personager fic- sional, como ser humano na sua individuslidade. Depois de Lima Barreto, excepto feita ao romance Macunaina de Mario de Andra: de, na fase modernista, somente com 2 geraglo de 1930 ele aparece sem ser apenas componente ex6tico, sem interionidade, sem sentinen- Xs individuals, Surgem entdo, Moleque Ricardo, de José Lins do Rego. ¢ Ju- diate, de Jorge Amado, assim mesmo ainda relativamente folclori- zados. Mas, de qualquer forma, um avango no comportamente do imagindtio dos nossos escritores em relagao ao nearo, Dessa époce a diante ¢ que © negro Yai enirar mais detalhada ¢ amiudadamente na nossa novelittica. Mas a divida des nostos intelectuals ¢ roman- eistas em particular, para com o negro, ainda nfo foi resgatada, A consciénela erftica dos nosses intelectuais em relate ao problema ét- nico do Brasil em geral,.¢ do negro, no particular, ainda no se cris- talizou em nivel de ums reformulagio das cateporias ideolégicas cestétieas com as quais manipulam a sua imaginacdo, Aina $80 mui- to europeus, brancos, o que vate dizer idsologicamente colonizados. 4.0 dilema @ Toda essa produgio cultural, quer cientifica, as altemativas quer ficcional, que eicamotcia ow desvia do fundamental 0 problema do negro nos seus diversos niveis, desvinculando-o da dinimica dicocémica produzida 1209 10 son Neen Con HELENE OA KSTHUTURA 4 WOCIEDADO MLA pela lute de classes, na qual ele esti imserido, mas com paricula- idaces que o transforma em um problema especitico ou com espe= ficidades que devem ser consideraclas, fez com que pouco se acres- ‘santasse ds generalidades ow Iugares-comuns na sua mutaria ditos sobre le. Somente a partir das pesquisas patrocinadas pela Unesco, apis a Segunda Guerra Mundial, essas generalidades otimistas e ufanistas foram revistas com rigor cfentifico ¢ reanalisadas. Uma dessas gene- ralidades refere-se, constantemente, & existéncia de urna democracia racial no Brasil, exempio que deveria set tomado como paradigma para outras nagdes. Nos éramos o Laboratério onde se consegultt a solusdo para 08 problemas ¢tnicos em sentido planetiio, Os resul- tados dessar pesquisas, no entanto, foram chocantes para 0s adeptos desta flosofia racial, Constatousse que o brasileiro é alkamente pre- conceituoso ¢ 0 mito da demoeracia racial & uma ideologia arqui- {etada pare esconder uma realidade social altamente confltante ¢dis- criminatoria no nivel de relagies interéanicas, ‘Agueles conceitos de acomadapsi, assienilapto e aculturasto — conforme veremoy depois — que explicavam acudemicamente as lagdes raciais 20 Brasil foram ahamente coateslados e inicios-se um novo cicin de enfogue deste problema. Verificou-se, 49 coatririe, qué ‘a niveis de preconceito eram muito altes eo mito da democracla ra- cial era mais um mecanismo de barragem @ assensio da populagEo regia ans postos de lideranga ou prestigio quer social, cultural aw eco- némico. De outra shaneira nfo se poderia explicar a stual situagdo dessa populasho, o seu baino nivel de reuda, © seu confinamento nos sorticos ¢ favelas, not pardieiros, alagados e invasies, como ¢a sua situagdo no momento, __Bise mecanismo permanente de barragem & mobilidade social vertical do negro, com os diversos niveis de impedimento & sua as censilo na grande sociedade, multos cles invisivels, os entraves cria- dos pelo racismo, as limitagdes sociais que o impediam de ser um idadto igual a0 branco, c, finalmente, a defasagem sécio-historica giv frontal e permanentemente apés a Abolicao, como ci ida compor as grandes areas gangrenadas da sociedade do pitalismo dependente que substitu descravista, coda essa conste lasdo é-como se Fosse um viés complernentar, preferindo-se, por isto, claboracio de monogratias sobre o candomblé eo sang, assin mes so desvineulado do seu papel de resistincia social, cultural ¢ ideold- Be mes vston apenas como reminsetais religions tarda da No encanto, apos as pesquisas patrocinadas peia Unesco c que tiverum Florestan Fernandes ¢ Roger Bastide como responsiveis na cidade de Sao Paulo, L. A. Costa Pinto, no Rio de Janeiro, ¢ Thaies. de Azevedo, na Bahia, houve a necessidade de uma coor demas: te6 tea e metadoldgica por parte de alguns cientistas socials, destscando- 4¢, no particular, Florestan Fernandes, Octavio Lanni, Emilia Viotti da Costa, L. A. Costa Pinto, Cluvis Moura, Jacob Gorender, Lana Lage da Gama Lima, Luts Lalna, Décio Freitas, Oracy Nogueira, Joel Rife dos Santos, Carlos A. Hatenbalg e alguns outros que, preo- cupads no apenas com o tema académico, mas também com 0s pro- Dems dices emergentes na socledade brasileira € 0s possivels con- fitos raclais dai decorrentes, «sto tentando wma revisio do nosso passado escravista edo presente risial, social e cultural das popula gies negras do Brasil, Esta situngfo concreta ir criar nédulos de resistencia, tes8o ou conflites séclo-racistas, agudizando-se, especialmente, 0 preconceito de cor & medida que sertos sctores urbanos da comunidade negra co- mecam a analisar criticamente essa realidade na qual estilo engastados ‘¢ reagem contra cla. Desse momento de reflexdio surgem varias entida- des negras de reivindicacko, no apenas pesquisando dentro de sim- ples pariumetros académicos, mas complementando-os com uma pris atuante, Jevantando questoes, analisancio fatos, expondo ¢ questionanda problemas, e, finalmente, organizando o negro, através dessa reflexio critica, para que os problemas étnicos sejam solucionados. E uma converséncia tentada entre as categorias cientificas e a praxis que vem earacterizar altima fase dos estudos sobre-o negro. ‘O negro como ser pensante ¢ intelectual atuante articula uma ideolo- gia na qual unem-se a ciéncia € a consciéneia. Evidentemente que nao s¢ pode falar, ainda, em uma conscién- cia plenamente elaborada, mas de uma posicho critica em proceso de radicalizagio epistemologica a wdo, ou quase 1udo, 0 que foi fei= to antes, quando se via o negro apenas como objeto de estudo e mun- 2a come sujeito ative no proceso de elaboracio do conhecimento cientifico. Em face da emergéncia dessa nova realidade, muitos clentistas sociais académicos nio accitam, ainda, esta posigS como valida cien- tficamente, mas somente mensurdvel come ideologia, bundetra de dn- 1a, ponta de langa de acdo ¢ de combate. A unidade entre tooria € Driticn repugna a esses cicntistar que ainda niio querem permitir & intelligentsia negra participar do processo dialético do conhecimento. 2236s somo MND Cons RRTETXO HST HL TURA 04 9>HLOALI E nesta encruzithada que 0s estudos sobre o negro brasilcira se situam, Hé encontros e deseneontros entre as dieas tendéncias: de um lado a académica, universitaria, que postula uma ciéncia neutra, equi librada, semn inter feréncin de uma conscitncia critica e/ou revolucio- natia,¢, de outro, o pensamente elaborado pela intelectualidade negra ‘Ou outros setores étnicos discriminados ¢/ou conscientizados, (am bm interessados na reformulacao radical ca nossa realidade racial social. Exidentemente que esses movimentos negros esto comegando a elaboracdo do seu pensamento, nada tendo ainda de sistematico ou Uunitério, Muito pelo contrério, Isto, porém, nao quer dizer que seja ‘menos valide do que a producdio académica. pois ele & elaborado na prética social, enguanto 0 outro se estrutura e se desenvolve nos boratérios petrificados do saber académico. Podemos supor, por isto, dois caminhos diferentes que surgi. #40 a partir da encruzilhadn atual. Um se desenvolvers & proporso que a Lota dos negros e demais segmentos, grupos e/ou classes iate- ressados na reformuliglo radial da sociedude brasileira se ditami- zarem politica, soelale cientifieamtente, Do outro lado continuard = produpio academica, cada ver mais distanciads da prética, sofistica- de ¢ unddina. Esta produpio acadéstica cvidentermente estudard, também, co mo elemento de laboratoria, © pensamento dindmico/tedical elabo- tado pelos negros na sua lula contra a discriminagio racial, o an fabetismo, a injusta distribuigdo da renda nacional nos seus ni is soeiais ¢ étnicos. Ela chamard de ideofdgiea a proposta dessa prética polities, cuitural, social e racial, No entanto, e#fe peasamento novo, elahorado pela intelligentsia negra (nie-obrigatoriaiieate pot negros), tem a vantagem de ser testado na pritica, enquanto petisamento académico servird apenas para justificar tifulos universitarios, Notas e referéncias bibliograficas 1 Rokizko, Sivio. Mstérie da Ieratura brosilelra, S.ed. Rio de Baniro, Jo- sé Olympio, 1983. $v, v. 1, p. 137-238, * RAMOS, Guerreiro, O problema do negro na sociologia brasileire, Cader: nos do Nosso Tempo, Rio de Janeiro, 2), 1934. Ver também RAMOS, Guerreiro. fndrodupde critica a sociologte brasifera, Rlo de Janeito, An des, 1957, fae REFHARBNGI AS MALIECOANCAS 3 > Rauos, Guerttiro, Loe, et * Dia Conrad: Os mais vistosos, notirios e ricas participants do trfica Hlegaleruin, naruralmente, os proprios mercadores de escravos, proprieiie ios de froias de navios, de dispendiosas © ostentoyas casas na cidade © propriedades de campo, de depésieos na costa do Brasil e harracdes pa Ag 13, chefes de um exercito de seguidores e subordinados,¢ frequemtemente amigos imtimos da elite de plantadores ¢ governadores, Polay raates men- ‘Gonadas dela, 4 cocedade brasleia nfo menosprenava estes nepocian- tes de seres humanos. De fato, 05 novos contrabandistas descnvolveram ‘uma aura ronatica cm forno se mvlios contempordincos por eeu desafio ‘20s brtdnicos bem como por soas stividades iréguleres e pécigbsas. Le- limente aqueles que se ressentiam da inverferéncia briinica ¢ suspets> ‘yam da sun motivacto (que na verdade estava longe de sor pura) para tgueles que sereditavam que ot mercadoves de escravos rcalizavam tn se ‘ipo ersenclal 40 Frail ¢ tua economia agricola, 0 teaficaites eram ho= sens honrados merecedores de titwiog ¢ condecoractes, e da amizade © rexpeite dos politicos mais poderosos". (Conran, Robert Edgar. Tam deiros, Sto Paulo, Braslense, 1985. p. 120.) 9 MontENEORO, Anténio Torres. O ehicantinhamento politico do fim da es- ‘eraviddo (Disseracio de mestrado). Campinas, Unicamp, 1983. Mineo arafado, Viana, Olivera. fastitwicdes poilticas do drasi. Rio de Janeiro, Jone lympidy 1949, 2 V, Ve 2, Bs 28. __ Bvolesto do pov brasiera. 4. ed. Rio ae Janeiro, Jose Olyraplo, 1986. p. 158. Sobres conexo entre o persamento racsta de Oliveira Vianna «© Sua defesn do auiorlarismo € importante a conaulta do trabalbe de Jerboa Medeiros “Lmteodugto a0 estado do pensamento politica autoritd- ‘ho Benileiro 1914/1918" especialmente 6 iter 5 “*Raciseno & Elites” do capitulo I “Oliveira Vianna’ (Revisia de Ciéncia Pauitiea, Rio de Janeie 10, FOV, 172), Jun, 1974), Ver tamblm, no particulars Visuna, Evade ‘Atparo, Oliveira Viannad O estado corporative, Sio Paulo, Grijlbo, 1976, passim. "FREES, Gilberto, Regide esradicto, Rio de Janeio, José Obympio, 1941, b. 1747. AmaRaL, Azevede, O Ertade awtorddrio ¢ a relidade macional. Rio de Janciro, Foré Olympia, 1938, p. 2304. 'Sopré, Nékon Wemneck. Histria ia Nieratira brosifeirt(Seus fundamnen- tos eeanémicos). 3, ed. Rio de Janeiro, Jest Olympic, 1960. p. 19: *Lsayees, Rayenond S. © negro aa lterarura brasteire, Rio de Janeiro, Ee. ‘OCruatiro, 1958. p. 110. Cf, ambem no mesmo sentido, poréin com po sigbes mais radicals do que Sayecos BROOKSIOAW. David. Rapa ¢ cor na f- ‘eratura brasileira, Bio Grande do Sul, Mercado Abstie, 1992, Passini. Sincretismo, assimilacdo, acomodagao, aculturacgéo e luta de classes 1. Antropologia ‘No presente capitulo queremos disewtir a @ neocolonialismo insuficiéacia de conceitos comumente ma- raipulados por alguns antropSlogos brasi Iciros, especialmente no que diz respeito ao contetido das relagbes entre rnegros ¢ brancos no Brasil. O esquecimento, par parte do antropélo~ £0 0U socidingo, a0 analisar 0 pracesso de interagio, da posicio es trutural das respectivas etnias portadoras de padroes de cultura di- versos (sem levar-se em conta, portanto, a estrutura social em que esse processo de contato se realiza) leva a que se tenha, no maximo, uma compreensiio acad@mica do problema, nunea, porém. 0 seu co- rhecimento captado no processo da pr6pria dindmica social, Isto por- que, antes de examinarmos esses contates eulturals, temos de situar 0 modo de produgio no qual eles s¢ realicam, sem o que firaremos sem possibilidade de analisar 0 contetida social desse processo. £ $0- bre exatamenie essa problemiltica teérica que iremas tever considera ses para reflexito epistemoldgica dos intcressados. Queremos nos referir, aqui, particularmente, aos conceitos de sincretismo, assimilagdo, acomodurdo & aeulturazo quando aplica- dos em uma socledade politinica, ¢, concomitantements, dividida em ‘lasses ¢ camadas com interesses conflitantes ¢/owantagOnicos, inte- esses e conmftitos que servem de combustivel & sux dimamica, ou sei J2eThopo1owan E mOcSLONALENO _ produzem a luta de classes, para usarmos termo ja mundialmente onsagrado nas ciéncias seciais, Achamos, por isto, que mio seré ingtit Femetermos o leitor a uma posigdo reffexiva em relagto aquife que ‘nos parece ser mais importante para levar a antropologia ¢ as cién- clas sociais de um modo geral (num pais como 0 nosio, poliétnico 16 mesmo tempo, subordinado a um polo metropotitano externo} 4 terem um papel mais vinculado & pratica social, saindo, assim, de uma posicio de cigneia pura contemplativa, eatidistante da realidade ‘erapirica ¢ somente recouhecida na sua prixis académica (te6rica). ‘A tevisio dessee conceitos tio caros a uma certa ciéncia social colo nizadora, usada pelo colonizndo, remete-nos & prépria origem da ans tropologia ¢ & sus fungio inicial de municiadora do sistema colenisl, A ntividade pratisa que exereeu no sentido de racionalizar o colonia- Hismo 4 necessidade de uma reavaliaglo critica do seu significado ‘no conjunto das ciéncias socials, A sua posigsio euroeéntrica © umbi- Iiealnente ligads & expaasio de sistema colonial deixow, como no podia deixar de ser, uma heranga ideoldgica que permeia e se mani- ‘este em uma série de conceitos basicos, até hoje usados pelos ant pélogos em nivel significative ‘No caso particular do Brasil, 0 fendmeno-se reproduz quase que integralmeate, Come pais de evonomia reflena, evidentemente repro- duzimos 0 pensamento do péto meiropoliiane de forma sistemstiea, fato que se pode constatar allo apenas no que dix respeito & antropo- logia, de presenga bem receate, mas no noss0 pensamento social do ppassado, Desta forma, no eolocarmes em diseussBo of coneeitos aci- ‘ma explicitados, devemos dizer que 0 iraumatisme de nasclmento mio apenas da antropologia no Brasil, mas do nosso pensamento social de um modo geral, quase todo ele Influenciado, em maior ou menor nivel, pela ideologia do colonialismo, ‘Alids, o carkter de municiador ideoldgico da politica das me- trdpoles por parte da antrapologia ja foi destacado ¢ denunciade por iniimeros soci6logos, os quais, insatisfeitos com a estrutura concei- tual formalista dos antrop6logos metrapolitanos (colonizadores), co- mecam a fazer uma revisio das seus conceitosc da sua funcao, Neste sentido, numa aproximacdo critica geral do assuinto, 0 profestor Ka- ‘vengele Munanga escreve que Para to compreender a mpoitoatagie de realatbacta 6 a porsistbncia ‘Gbala atitode de recusa da antropoiogia estrangairapalas populegtee ‘atricanas, azo necessdtio fazer a hisisre critica ou aciticn ideo} ‘ca da anitopologia desde 06 inclos da colenizagéeo até as indepen 2 RHR, ASSIA, MOMDEAGAS, ACUUIAGAD ¢ UPA U6 CLAS doncias cesses palses © mesmo depotsdas Independéncias, na situa: ‘bo chamada “reacaionisitemo", ' Da nossa parte, j4 haviamos escrito ein outre Local que a tubsltulglo-de proletddie palo primitive nde fol, contude, um caso fectulte, Vale prsancher aquols vaxiodeestudas quese tavia sentir so. bre as relagses metrépolaicoldnla colocad es na ordem do dia poruma 6rle co falores. Ora, ensa literatura expectaiizada ao tempo om que mostravaa temeridade de se procures evar omnivel de rida dessas po- Pulagbes nativas ctlava tbonickt ce contiole colonial, exereendo Ai: leridadas dorvnis eamploto abawss dos cselen tribale, Adestibsil2sGt6 ‘era dosaconsethoda exolamente porque of natlvos eo abendonarem ‘95 seus valores originals.se insariam rum wnlrereo de aga complata: manie nova, Dal o interesse ¢enzos ariropdlogos am extabslocorem AGorleas de eontile parlinda dos samentos nallvos gus mantinham ‘© prestigio aoclal ante oe membros ssa respectivas tlds! Kabengele Munanga, citando: varios outros autores, refere-se 2S, Adoteri, do Daomé, 0 qual submeten essa antropologia co- loninlista (etnologia) a uma critica radical e contundente.’ Esta visio critica estd se avolumando e, mais recentemente, of professores . Grigulévitch e Semin Kostov, além de uma critica teérica radical, detiveram-te na amitise das vineulagdes dessa ef€ncia com Srgtios de inteligdncia e seguranga das nagses neocolonizadoras. * Cenirando- a sua andlise na funsio neocolonizadora dessa an- tropotogia, 0 professor Mauricio Tragtenberg escreve: Malo nitiga é a neuiaea0 ene 0 imperiatismo ® a anttepologia. Por aceslto do fim du Guetta dos Sosa (1698/1902, 08 antrondloges Ins ‘leeea jrocuravam apecar seus connctnaetos (endo am vista ns pr tices, © Royal Antiopelogiet Insitute apeesarton, na 6004 ao 84. coratirio da Esta para a8 Colas, a propssta pata que 26 eatudas- 0m anise insttuicoee da cierenciaetic Wibal na Altica de Sul Ta fatvc0 ana-em mia eda uma baze poll adminisivativa"racionet”- ‘A ediministragdo dos povos colonials sempre fol canakdrada terreno privtegisea para &aplicagaa do conheclmanta antopolsgles. O2 go. ‘omnes colori thar ngSes diverse sobre rapider do proces Ge "ecldantallzaga" dos “primiivoe O mesmo autor passa 4 enumerar a fun¢ao instrumental dessa antropologia — chamados pot ele de aniropélogas coloniais — co- ‘mo funsionétios da Adminisitago Colonial nas coldmias inglesas da Attica Tropical, dando cursos de antropologia aos governos domi- nadores. A podido da Administrasio Colonial, Moyer-Fortes osc vew sabre costumes matrimoniais dos Tallesi e Rattgray escreveu mremorotooi ENiocoLoMIALsD 1 tobre os Ashanti, tudo isto objetivando o controle colonial, via con- trole cultural, Houve também. em Tangaaica experimentos de antro- pologia aplicada nos quais um ancropdlogo pesquisow com base em Perguntas especificas formuladas por um burocrata colonial. © go- vero britdinica an Nigéria ¢ Costa do Ouro sempre partifhow a dia ‘de que 0s natives com posicio tradicional eram methores agentes lo- ‘enis da politica do gaverno, o mesmo ocorsendo com o coioniatismo belga que na formagdo dos funciondrios, segunido o antropélogo Ni -enise, dedicava mais tempo a0 estudo da etnografia edo direito 0% ‘tumeiro do que a Gri-Bretanha, Mas esta vincutacio da antropalogia com o sistema colonial vai mais além. Em 1926, fundourse 0 Institu- to Internacional Africano para dedicar-se & pesquisa em antropolo- sia ¢ lingdistica. © conhecimento (dos povos nativos) ajudaria 0 fdministrador a fomentar o erescimento de uma sociedade orgdnica ‘88 e progressiva, O East Aftican Institute, por seu turno, especializoue se em estudar as consequtneias socials da enslgragdo da m&o-de-obra, as causas de as deficincias dos chefes de aldeiss africanas atuarem ‘como agentes da politica do. governo cofonial. © Rhodes Livingstose Institute estudou a urbaniraglo fas mi- nag de cobre da Africa Central e.0 West African Institute peequison ‘as populagdes empregadas nas exploragses agricolas da Cameroons Development Corporation. Mas eatas pesquisas no $¢ limitavam & dren de explorario es0- andinica das resides colonizadas, Desdobravan-se também. mt auxi- liares de objetivos militares. Diz Mauricio Tragienberg que & ‘por ‘ocaslie da Segunda Overta Mundial que © governo norte-amerieano ‘emprexou antropélogos com a finelidade de explicar « cultura des 0nos ocupadas dqueles membros do Exército que precisavam do tra- ‘balho dos natkvos como operdrios, ou mensageiros”, ° Depoks de cl tar mumeroses outeos extiaplos da aplicagio da antropologia em projetos militares por parte dos colonizadores, Mauricio Tragtenberg sondlul: (© conhecimento antropoléglze pode sendt ao imperialisme; desse me- 0, um “antropetoga critic” nfio poder “wsquentar durante mao tempo cadeira no Centre National 6e Recherche Solenifique.ou na Unk Versicads 20 Combridge, Esgectalmente a0 ale for volta 20 ‘Como vemos hi, de fato, uma vinculugio entre as formulagdes teGricas ¢ a instromentalidade dessa antropologia. Daf um pesauisa- dor citado por Michel T. Clare afirmar que “‘autrora, @ doa receita (para vencer a guerritha eva ter dez soldados pare eada guerribhelre; hoje, des amtropdtogos para cada guerriticiro”, © M4 thcuuos, ssi Ato, ACouNIOACK, AULTURAGAD © WTA UE CLASSES 2. Do “primitivismo fetichista’’ Mas, voltando Aquilo @ “pureza” do cristianismo que nos interessa de moda central, quere: mos destacar aqui que cerios conctites ds antropologia revelam, de forma transparente, outras vezes em diagonal, a sua funcdo de cién- cia auxiliar de uma estrutura neosolenizadora, Sobre o conceito de shncreiismo, tio usado pelos antropdloges brasilciros que estudam as celagies interétnicas no particular da rel: sido, canvém destacas que até hoje ck ¢ wsado, quase sempre, para definir um contato religiose prolongadee permanente entre membros de culturas superiores ¢ inferiores. A pattir dai, de um conceita de religides animistas em contato com o catolicismo dasicamente supe: rior, © qual é, na maioria das veres, a religido do préprio antropélo- 86, passa-se & analisar os seus efeitos, ‘0 professor Waldemar Valente, em um trabalho muito difwn: dido-e acatado sobre o sineretismo afro-brasileira/catSlico, assim de fine 0 provesso: ‘Otrabahe oo sincrolame atetieto, aprncpl, como [athwnos ora $380 de asain, ndo paseou de mera acomodano Tl fenémenc, co- ime jafceu acenivado, fo devdo h momenthnesincapscldada manta ‘Sonmgre pata sesimila ea dlleaos concelton do Crieianemo. Aim ‘osereidade da uma rida ntepragge Cancieso que nto ders ae me Rooprecada na core de aestrilosle qs congitul 66 Noaso eo Br- ‘aezo final do aiteratlamo 60 toripa.O-qve parece certo, como te- ‘es operunidade de chamar a stengaa, & que oF nogros revebiam & ‘etigite como ume espécls de antepere por tds do Qual excandiam OF tistargeru Consclentemente-c8 teus proprias concatos rolgioees- {L}Oe» pevevions ave temas rellzado na nimidade dos xangds pet Tamcoanos ndo norte ei aia eanetatsaiauinc sempre ces ‘centa ue © oatoliclsmo vem exercendo sobra.0 fotichisme airieane, * Quoremos destacar, aqui, a forsha como Waldemar Valeat co Joca © problema do sincretismo: de um lado © eristianismo (alids ele ereve & palavra com € maidscula) ¢, de outro, 0 fetichismo africa fo, Uma religiSo delicada (superior) ¢ outea fetichista (inferior). Da videntemente, a influencfa sincrética ter de ser como ele cond ente da dominante (Guperior) sobre a dominada (inferior) ou, para continuarmos no mesmo nivel de argumentacdo por ele desenvalvi- do: os negros, membros de una reigi#o fetichsta, por incapacidade mental, “no tinham condigSes de assimdlar, em custo prazoy os deh cados conceitos do Cristianismo"’, o que somente se verificaria (apds 1 PROAIIVIMO PETICHISTAY A puma” oo CHISTANUIMO 2 um periodo de acomodase) através da infludncla érescente do eris- ‘tinnismo (Feligido superior) nos xangés de Recife, ‘Jamais Waldemar Valente viu a pousibilidade inversa, isto d, & ‘in fludncia cada ver maior dagulas relighSes chaniadas fetéchistar no Amago das “‘delicadezas™ do celstianisino. Naw foi visto que dentro de um critério néo-valorativo nko hd religides deliearias ou fetichis- fos, mas, em determinado context social concreto, religides domi- nadoras e dominadas. No nosso caso, dentro inicialmente de uma es- trutura escravista,o cristianismo entrava como parte importantissi- mado aparelino ideoldgico de dominagio eas religides africanas eram ‘elementos de resist¢ncia idcoldgica ¢ social do segmento dominado. ‘Parece-nos que esté justamente aqui a necessidade de sc analisar 3 Jnfluéncia do conceito de acresismo criticamente, pois ele inclu um jjulgamento de valor entre as rligidesinferiores e superiores que, pe Jo menos no Brasil, ceproduz a situagto da estrutura social de domi: smadores ¢ dominados, Numa outra aproximaghe critica, desta vez sobre © problema -especifiico do sineretismo fare sensy, Juana Elbein dos Santos escreve gue Desde bruxaia, magia eters da superstiggo, fetichlamo, animism, [a assis pudices dominagses dos cultos afvobrasloloa, toda uma multiplicidade de designagac hava Implicit nagar a carder de reilgitia 1p sistema eistcg legado polos afieanon 6 raelaboradoe pelo 46u8 deacendenies, despojandc-os de valor transcendentaiso encodes do sobretudo» papel hlléxico da aig como Inatrumento funcarnen {al = que a ncspandenoia oepital fo: durante longo tempo aur {ifeoins comportamento das soc edaces humans} 2valer da ex {ura Zomo etamentos de resittnci ac Gorin estrangete rotide no falo de te sora maniestenfovigoreea, no piano Iaaciégico cu Wea Hitec reoidade matalal ¢hisiriea Gt socledade dominada ov a o- Ininer rate da histvie do tm pow, a cultura determina. arte fou negative qua axetc2 so: pro a evslugte des ralagtes entre © homvem a 6 sax meio @ ent o8 Pamene ou grupos humanos no selo de uma Bocledade, asain core tnire aociedadoselferentes, ™ No caso espectfico do Brasil em relagiio bs cultures afro-bra- sileirns hd nuancas diferenciadoras, pois ndo estamos diante de um pais ‘ocupado por membros de uma popalagio estrangsira, ns © eostel- do do assimilacionismo, a sua estratégia idealdgica ¢ a mesma. ‘Todas: ‘as técnicas de incentivo & assimilacso, desde a.catequese « evistianiza- ‘gil aos plans regionals “cientifivos” de etndlogos contraiados por instiLuigdes colonizadoras, foram ¢ continuam a ser cempregadas para que a assimilaydo seja acekerada. Apesar dlessas nuaneas especificas nas relagdes interéinicas entre “‘branicos" € negros no Gimbito do contaro religioso, 0 aparelho de dominagia ideoldgico da religido catélica do- minadora continua aruundo mo sentido de fazer com que, via sincre> temo, as religiées afro-brasileiras sejam incorporadas 20 bojo de ‘catdliclsmo ¢ permanecam assimiladas no nivel de catolicisme popular. Estabelecicla wma eseala de valores em cima das difcrentes reli gides em contato ¢ elegendo-se 0 catolicismo coma religiio superior, AL AGAD PAR ACABAR COM A CULTURA COLOMIZADA 8 teremos como conclusde légice a necessidade de se fazer com que as religides chamudas fetichistas, inferiores, se ineorporem, também, 905 padedes eatdlicos ou cristios de um modo geral, da mesnta forma co- ‘mo, nos contatos inicos, se apregoa um branqueamento progressivo da nossa populagdo, através da miscigenario, até chegar-se a tum U- po © mais prSximo possivel do branco curopeu. Essa assimilago assim concebida tem ia esséncia escamotea dora da realidade via valores neocolonialistas, Keologla qué ainda faz parte do aparetho de dominacio das classes dominantes do Brasil ‘ede grandes camadas por elas influsnciadas, Tomando-se como pets- pectiva de anélise uma visio alienada do problema, a conclusfo que se tira € de que, de fato, essas religides fetichistas existentes devem ser incorporadas is civilizadas ¢ 05 seus membros oui grupos, nlio as- similados, transformados em quistos exdricos, em reservas religinsas ‘que no mais representam os padres da cultura que foi ¢ estd sendo elaborada: a cvitura nacional. Folclotizamsc, cntto, esses culkos re Higiosos ndo-nssimilados e eles so apresentados eau estudadas co- imo representantes de religiors enlatacss, resquicios do passaco, fdsseis religiosos sem nenhuma funcdo dinémica no presente. Folclorizados 0s. grupos representativos. das religiOes alro~ brasiteiras, passaso a no ke ver mais funcionalidade nas mesi isto 6, elas no desempenhariam mais nenhum papel religtoso dind- mico, mas, apenas, servem para serem vistas, de fora para dentro, como, niio direi um espetéculo, mas como-aniastragem de uma ma- nifestacSo religiogs que ndo se encaixa mais no sentide da dinamica da sociedade brasileira e da sua cultura nacional. S40, portanto, ob- jetos de estude para se demonstrar como a assimilagie incorporou as populagies alto-brasileiras 4o processo civilizat6rio: ea conserve ‘sho dessas religides, por outeo lado, serve para mostrar a existéncia de grupos que nfo tiveram condig6es de acompanhar o ritmo assimi- Facionista do nosso desenvalvimento social, cultural ¢ relipieso, atrasando-s¢ na histéria, Em cima disto ha, evidentemente, toda uma producto acadé- smica bastante diversificada, Ha, mesmo, a participago de persona lidades © autoridades académieas em reunides de entiades religiosas negras, todas, porém, ova sua maloria esmagadora, vendo as reli- sits alro-brasikciras como componente inferioret do mundo religios® institucional. © proprio paternalismo de alguns, que mo passado se propuseram paradoxalmente « dar uma assisténcia psiquidtrica esas cntidades (Uitisses Peraambuco, em Recife), bem demonstra co» imo ainda estamos longe de ver essas religibes como um dos compo~ nentes nomnrais do mundo rsligioso de uma arande parte da nossa so ciedade, da. mesma forma que as religibet de outras etnias que pasa aqui vieram, ; ‘0 que nose pode aceitar, mesmo sem se tomar nenbum parti- do religioso espeifico desta ou daquela religito — como ¢ 0 nosto cai — ¢ver-ie a Feligides alro-brasileiras consideradas como coisas Exbticas, e, ao mesind tempo, defender-se o recomhecimento do di- Teio — alids plenamente justificivel — para outras religides que vie ram posteriontente, como o budismo, do grupo japonés. Elas ja se incor porsram aos pares da nossa cultura, pelo menos regionaimen- te, mas a8 teligides afro-brasleiras devem ser assimiladas pelos pa- drBes do catolicismo. - ‘0 que significa, em dltima instancia, esse intcresse assimilacio- nista da parte de entidades governamentais, grupos ¢ insttuicdes re- Tigiosas, segmentos da prépria comunidad ciemtfica em relagdo as religides dos dcaceadences de africanost Temos de cristianizat oF adep- tos deseas religides da mesma forma como temos de branquear a nes- sa populaciio? Por que o candomblé coutras formas de manifestayio do mundo religioso afro-brasileiro devem ser vigiados, fiscaizados, tssistidos ¢, muitas vezes, perseguidas, enquanto as demas religi’es conseguem manter, conservar ¢ desenralver,deniro de padrOes insti- Lucionals, os seus nichos religiosos, sem que sejam considersdas infe- riores, exdticas, fetchistas, animistas ou patoldzicas? B sobreeste assunto que iremos nos deter no nosso timo nivel de reflexto sobre o assume. As religides africans, ao serem trans- plantadas compulsoriamente para o Brasil, faziam parte de padrdes ulturais daquelas etniss que foram transformadas em populagdes fscravas, Egsas religiSes assim transportadas eram., par intimeros me- anismnos esiabelecides pelo apurelho de dominseto ideolgica colo- pial, consideradas oriundas de populagses “*bérbaras’” eque, par isto {aesmo, foram escravizadas. A religito dominante, do escravizador, no €as0 coneteto que estamos analisando, o catolicismo, fazia parte -desse meeanismo de dominagio nio apenas.no nivel ideoldgico, mas também, em nivel de participacSo estrutural no provesso de escravi ragio dessas populagdes. 4, Acuttur ‘Outto conceito abundantemente willizado pe~ substitui os nossos antrop6logos ¢ socidlagos no estu- de classes do das relagGes interétnicas no Brasil, espe- clalmente no relacionamento entre brancos © negras 6 9 de dewiturapéo. ACMTUNAGAD SURITTIN 9 LIA OF CLASSI a ‘Temas aimpressio, mesmo, de que este conceito foi o mais usa do nos iltimos anos pelos cientistas soctais brasileiros na abordagem do assunto. O conceite de acullieragdo ¢ empregado coustantementc come aguele que explicaria ¢ definitia de forma abrangente ¢ satisfa- t6eia as formas de sontato permancote ¢ as transformages de com- portamento enire 4 pepulagtio acgra dominante (antes da Abolido, eserava; depois, marginaiizada) ¢ os grupos representativos da cults ra dominante do ponto de vista econdmico, social e, por extencio, cultural, Ora, este conceito, cunhado exetamente para explicar 0 con lato entre aquelas culturas qui se expandiam como transmissoras da “civilizaca0" (Colonizaderes) e aquetes povos dominadas, agrafos, considerados portadores de umna ewitra primiiniva, exétiea (colonia dos) e eujos padrdes, por isto mesmo, cram mais permedvels a uinia influéneia modifiesdora por parte da cultura dominadora, tem limi- tagdes clentifieas enormes. Toda 4 manipulicde conceitual objetivava a demonsirar como nesse-contato cultural os povos dominades softiam a influéncia dos dominadores ¢ disto resultaria uma sfntese na qual os dominades também transmitiriam parte dos seus padres a dominadara que es incorporaria & sua extrutura cultural bdsica. Com ista, os povos acts turados seriam beneficiados. Er como se ndo houvesse contradigdes soeiais estruturais que diticultassem c/ou impedissem que os padtroes ‘culturais de ctnias ow povo dominado fassem institucionalizados pe- la sociedade dominadora. Isto 4, que religiéo, indumentéria, culiné- rin, organizagéo familiar deixassem de ser vistas como padrdes ertencentes 4 minorias ou grupos daminados e passassem & posigdo de padrdes dominantes, Na verdade as coisns acontecem de forma diferente, No Brasil, 9 catolicismo continua sendo a religito dominantc, a indumentéria continua sendlo a ocidentat-ewropéia, a culindria afro-brasileira con- tinua sendo apenas uma coziaha tépica de uma minoria étnica c assim por diane, Isto é, no processo de aculturacio os mecanismos de do- minagiio econdmica, social, politica e cultural persistem do quem € superior oa inferior. Para os culturalistas, no entanto, o ato de “dar e tomar’ ot tragos e complexos culturais seria um todo harmdnico ¢ funcionaria como simples aeréscimos quaititativos de cacta uma das culturas em, contato, Os elementos de dominagdo estrutural — econdmico, social politico — de uma das eulturas sobre a outra ficaram diluidos por- {ue esses contatos permanentes trocariam somente ou basicamente <_iicna 10, ASO ACO, ACOMODMCHD, REV TING HO w LT DE SEAS osuperesteutural. Religifo, incunentria, culindria, organiaagao f8- fnilizr entrazian em inderctimbio, mas, esse movimento, essa dindmi- Tarde daz ¢ tomar info se estendeiia as formas fundamentals de pto- priedade, continuando, sempre,9s membros da cultura superior £o- Pro dominadores da inferior como socialmente dominados por mas fetem os membros da primeira a posse dos meios de produslo~ ‘Oculturalismo exstul a histarieidade do comtato, nao retratan~ ‘do, por isto, a situagdo histdrieo-estrutural em que cada cultura se fencontra nesse processo, Desa forma nao se pode destacar 0 conted ‘do social do processo c io se comegue visualizar cientificamente quis $0 aquelas forcas que proporcioeam a dinfnsies social e que, 20 10550 ver, nfo t2m nada a ver com os mecanismes do coatato entre cute as, Para nés este dinamismo nio esta nesse eontato hortzontal de a posigo vertical que os mem tragas ¢ complexos de culturas mas na posisid I que os: bros de cada cuttura ocupam na estratura social, ov seja, no sistema de propriedade Tsto quer dizer que a aculturaco nadia {er a ver com os meta nismos impulsionadores da dinimica social nem modifica, no funda mental, a posigée de dominades dos membros da cultura subalter- vn jc pba yode cx aculturando constantemente infiuindo na réligiso, na cozinha, umentiria, na mésica, na lingwa, aasfestas populares, mas, no fun damental, esse process0 nao intluird nas modificnybes da sua uscd na estrutura ccondmica € social da. eee brasileira, a nao ser em rroporgBes nlc-significativas ou individuals, ® rear isto queremos dizer que os mecanismos aque igaprimem i= nfimica h estrutura de qualquer sociedade potiétnica, dividida em clas- ses, estd em um nivel suite mais profundo do que aqueles nivels da acultursgée que no tera forgas para produrix qualquer rmudanca $0- al. Essa dindmiea surge de mecanismos internos das estruturas das sociedades polidtnicas, estabeleceado ritmos maiores ou menores de teansformacao, Enquanto a aculluragio realiza-se em um plano pas: sivo, a sociedade na qual essas culturas esto engastadas aciona ou- teas forgas dinamizadoras que nascem dos antagonismos surgidos da pasigfo que es membros-ou grupos decada einia ccupam no proces: a ee orig padermos acta 0 soeeito scufurape como aqule aque ira explicar us mudangas sosiais, mas, pelo contrério, achamos que aculturagdo.em uma sociedade composta de uma cultura domi- CT. WmAgAo Sums 4 Uta BE CLs oy nadova.e de outeas dowtisiadas cstimuila a desigueldade social dos mem: bbros das domiandas através de mecanisesos mediadores que neu- tralizam a revolta dos membros das culturas dominadas. Através des- ses mecanismos mediadores os membros das culturas dominadas submetem-se a0 controle da cultura dominante. No particular, concordamos com i. Lienbardt quando afirma que ““é necessario distinguir entre culture, como soma dos recursos ‘materials ¢ morais de qualquer populagiio ¢ 0s sistemas socials”, "7 Isto porque os mecanismos que produzem a mudanga cultural t#m pouca relagio com aqueler que produzem a mudanga social. © problema de uma sociedade poligtnica diridida om clisses ndo pods ser cesolvido apenas através da aculturacio. Muites vezes, pelo con- tnirio, a aculturagto pode servir para dificultae, amartecer ou dife- renclar 0 processo de mudanga social. Isto porque & estruturn social tem mecsnismos diferentes daqueles que atuam no plano-cultural. No easa espeeifica do Brasil queremos dizer que enquanto se realizou in- tensa ¢ continuamente o processo de aculturag&o, pouco se madifi- ‘cou no nivel econdmico, social ¢ politica a situacko do negro porta: dor das culturas africanas, ‘Em palavras mais simples, esclarecedoras ¢ objetivas: « acuhtura- ‘sto niio modifies as relagbes socials ¢ conseuiientemente as instiicigtes fundamentals de uma estrutura social. No modifica as rlages de pro- dug. No que diz respeito & sociedade brasileira, no seu relacionamen- +0 imteréinica, podemos dizer queha um proeesso constante daquilo que s¢ poder chamar aculturagdo, Uma interagio que leva n que muitos tragos das cultures afticatas ¢ afto-brasileira realizer uma trajetéria pe- manerte de contato com a cultura dominante, sparecendo isto como uma realidade no colidiano de brasileiro, No entanto, do ponte de vis- ts histérico-estrutural, 2 nossa sociedade passou apenas por dois perto- os bésicos que foram: 4) até 1888 urna socedade eseeavista; 6) de 1889 ald hoje uma sociedsde de capitalismo dependent ‘A circulasdo de tragos das eulturas afticanas, seu contato com a cultura ceidental-crist dominante, finalmente, os contatos horizon- {ais no plano cultural, quase nada influiram para mudangas substan- vas da sociedade brasileira. © culturalismo, como vemos. no d4 elementos de anilise e interpretagdo para saber-se as causas que de- (erminaran essas mudangas. Conforme veremos em outro: eapitulo deste livro, as populagies descendentes das culturas africans, ape- sar do grande ritmo ¢ intensidade do processo aculturativo, continuam congeladas nas mals baixas camadas da nossa sociedade. Os nivels {de dominasao e subordinagio quase que nfo se modificarem durante praticamente quiahentos anos. A dinmlra social que prodiss & niu danga depende de um conjunte de causas que nada 8m & ver com «a HHvc¥ETIQU0 ASSINILAGAD, ACOMCOAGKO, ACULTURAGNO E LUTA DB GASSES ‘nivel ¢ extensio do proceso aculturative, Em conseqiéncia, 0s cos fumes futerdrios, organizagio familiar, formas de casamento ndo insitucionais, religido, festas rligiosas, grupos de lazer, culto, ricual, tRonicas agricoles domésticas, aruitecura rstica, pintura et. todos esses {tapos culturais podem ser licorporados & caltura dominante, contanto (que na esirutuira social, cles continuem sendo elementos de uma cultur fa de folk, primiLivista ou agzegados suplementares & cultara domian- te. Janoais enes tragos ascenditGo ao nivel de dominantes, {sto somente eontecera se houver um prosrsso de mudenga social radical que cleve {Gs componenies da culfura afto-brasileira a dominagaio socal ¢ politica. "Absolutizando-se 0 processo aculturativo iremos desembocar di- retamente no conceito de demtocracta raciat, to caso a intimercs $0- Ciologos ¢ politicos bravleiros. Uma branca daneando em urna escola de samba com um negro nao seria simbolo dessa democrecta tao apre- canais da aculturagso? Nada mais Ibgico dentro desta dtl ise da tealidade. No entanto, socialmente, esses dois mem- pros da escola de samba cxtdo insetidos em uma escala de valores ¢ de realidade social bem diferentes e em espagos sociais imensamente ddstentes. Siniboticament, contado, cles 0 projetados come elemen- fos que comprovam como, através da aculturagao, chegamas a diluir ‘os niveis de conflitos socials existentes, "A realidads demoastra 0 contririo, O modo de produgdo que existe no Brasil € 9 copitaliamo dopendente. Ax rclacées de producso Geterminam, em ultima instancia, a estrutura bisica da nessa sovieda- de, alocarm no espuco social diversas classes e fragies de classes que, Sor set furra, sip dlaamtizadas de acorao coro ve} Ua lata ds cites, ‘Por questoes de formagio histérica, os descendentes dos afti- ‘sanos, 05 negros de um modo geral, em decorséncia da sua situacdo inicial de escravos, ocupam a5 titimas camiadas da nossa sociedade, Em consequéacia, @ sua cultura ¢ também. considerada inferior ¢ so~ rienteenra no processo de contato como senxto culkura.primitiva exd- tiea, assimétriea @ perturbadora daquela unidade cultural abmejada fe que é exstamente a brance, osidental ¢ erista. A aculturacdo, por isto, € aceita (permitida) porque cria espacos culturais neutros para ‘que os negros NAO se unam “‘ante a deseraga comum’” como ja dizia S Conde dos Arcos. Néo ¢ portanto um elemento de dinamica socisl, fas um mecanismo usado pelas classes dominantes ¢ 0s seus segul- Gores ideoldgicos para neutralizar a radicalizasao da populagao ne- fra, de um laco, ¢, de outro, mostrar-nos internacionalmente como a maior democracia racial do mundo. 'No entanto, do ponte de vista de cetrutura social, de um lado, ‘eaculturacdo, do outro, podentos esquematizar essa reelidade da se guinte forma: CULTURA BRANCA (DOMINANTE) =. Ta ol FECES | 2 & |xI TH g aa/ tit 5 ar 5 Baa rt 5 a g ae rly 8 lee t 3 3 52 ttt = [28 The | 2 se sl2l2|s|g3 = al S/S | 2/28 = B(Si3/7 Fy 2| Fs CULTURAS NEGRAS (DOMINADAS) Polo grifice acima, podemos ver que a soviedade brasiteira na sua trajetoria econdmico-secalteve apenas dois modo de produto. © primeira foi 0 escravista e 0 segundo o capitalista (dependente). Enquanto isto, houve um fluxo permanente do processo aculturativa entre as culturas africanas dominadas e a cultura banca dominante, sem que esse processotivesse inclutdo nia mudanca social estrutural, isto é, na pastagem de um modo de producio para outro. Prova de que o processo aculturativo nao influiu em nenkuma mudanca subs- tantiva da sociedade brasileira, ou scja, nay suas relagbes de produgao. (2 sncnriwo, ASKMILAChO, ApOMONAGKD, AEVLTARAGAG LLUTA DE CL ABIES AACULTURAGAO SLRTHTUN A UTA BE CASES oy ‘Alguns satiopélogos no Brasil, ao sentir a inatfeiéneia dos mé- Sikinuunadliinessea todos eulturalstasedos seus conceles fundamental, como o de aad goet co supatondade bulwral Ss am pot ce eae turaedo, procaram completé-los oom a pricandlise. Artur Ramos (01 ae euto, 1 inferioridace cutural 6 mals representativo dees ceatistas sovins, El acreditava, mes- Uns ll que sunk pots acl ornate agua nea 4 mo, que a juno da psicandlise com o m&iodo hisrico-cultural se ‘Sitatanuncs € papers cu iets ee eet maa. Une ri &-chave paraa compreenstio cientifica das relagiesinterdteicas no ‘en petonan contedo. ris hectic eres ermuurammenis;cu Brasil Bute concrito aculurardo-— surg exaamcne para ack- Fase tr renmatn, Mia Macias pare nance, palizaz 08 sontatos eolre merabros de sociodades ou grupos socials {ens de ctersngas de quale entre cultura e prope iwoncamay Colonirados ¢ prupes de dominasto cofonizadores. Ito Ramos nilo {o au 08 “cultura Introros aera adasir seas "urs sone Sha, A sua junto com a psicantlse, numa opeSo yendutar, demons- fore otcultuiag “fees an=Snmaie non tee Sear eo ee 26" superioriintoto tra a resisténcia desses clentisias sociais 2 uma o9¢d0 pelo método sein come, de pono de it clon dialético diante do problema. Artur Ramos, por isto mesmo, escreve a, a5 cultura aricenas i gram conalderadas infociores, Lambém nas cultuias aleiganas no Novo em 1937: ‘Faso. 88 culturas auropsias, Tal canceile no é aceltéval porque nao Mundo (oe Continante Americano) foram supoetas de. terem seul (© métodanistérico cultura om etnologlaeudsntmont vo trazer nox ot luzea + ullilos problomaa da pBnese ¢ dousnvotvimento daa cu {res materals @ eopituals dos grupos nemancs. Is ndoreaoivou certas quastces de peieciogie social, ainda pendin- te de soluco. Para 08 que ns oricam un NBa-exciushiere ra ph ogde dequelo mbtodo 208 maus fnros sobre as cutuas noqras no [Braall, lamdro que hoje oertos tratadistas se baatem por wma conel- (980 do criteios metodo¥6gIcos, (.) Por autro lado hal uma apraxia Sao, cada vez maicr, qntre 08 Ristorladores a 8 palablogos. Destago pened of Interessanttasi¢os trabalnos de Kurt Lewin, epioando aps ‘e6legia tocial o8 reaultadar metodoldgicoa da Goniat, ¢ a8 de Sapl ‘8 de multidéo-de outros autores aproximande a entrepotogla cultural (98 poicanilive, Bata opgo pendular entre antropdlogos que sentem a insufi- «cifncia do métedo histdrico-cultural ou funcionalista e assumem uma postura caltica em relagho aos mesmos, substituindo-os pela psicani- lise, persiste até hoje, Por exemplo, o Cultural Scientist (antropélo~ 20) Gerard Kubik, a0 eritiear es posigGes culturalistas, propOe a explicacao-do comportamente dos colonialistas através de categorins da pricandlise. Gerard Kubik esteve em 1965 no Continente Africano, especial mente em Angola, onde exerceu intensa atividade come pesquissdor, ‘particularmente sobre as instituigbes mukanda do leste daquete pais {Em entrevista concedida ao supiemento Kida & Cultura, de Luanda, ‘combate sistematicamente o conceito de aculturacio. Afirma: [Bu noje acuso o temo aculturaglo porque babelate om concep oes ‘que nile afc aceltdvels clonlilleamente pars nds que quorsmos stu ‘dar ume cultura na 3ua propria expreesgo. A aculturagho 6 quase uma hibproras contin gus oust ta accor, lara. Hoje, o mud Jo corr {uo slat oo rivet ral a oat ads pops do Cala duran ercontam, pi etaoe eles onan Soe mits aes concept que fo grovunsiag pela mera far Fernando Ortiz: & coneepeo de traviseulluvagaa, “ E prossegue Gerard Kubik: Stinson eng tin 7 sechateiarm emo decree cast rasilairs @ Outros slemanios de cultwas européias..O Brasli 6um bom: seme mrt ages reo aur ‘eae ‘om Africa, par exemple, Luands tarsbém tem # sua cultura par ee rosette ate Depois de criticar o.conceite de aculturagdo, substitu caro concsita de « substituindo-0| to de esculurio Rik procra epee co ser pose faver-se una interpretago ciemtfica do contato entre culturas. A ele lta '@ ‘solusfo pendular (culturalismo-psicandlise, psicendlise- culturalismo) de forma unilateral. Afirma neste sentido: ~ em tape, notorgo colonial che pea yn ez 1A Gone cr ur uta toma Goes Ea eel Ica & COMO rtamanto das pessoas de Africa come uma colsa seas ge re noe nacre Forme, ume price desseus pence ineceans cee {)@auopedsetas wi ona escalate hoonciante eae ne samo ror erncoeeance eh ae [irenmoncinesteseoaeacansr et ams aed ‘Sinatra vor ov snsuon: toa Causa av pan sn atte supers sue sts ee to bts spon tb posta hae Be Sos pecans ‘nx sone assuage, AEOHDNYEAO, ACULTURAGAO', ss ya se des rida, oo ea uma forma de separegt para. ot oteger, nara se de. Tonesr pre os homens de ure catia ceo UO® at ou chain eam 8 sua parsonalicade, ue el ne a hose nea pours teteaoparaate ero su tins Ui gontarta ao var eat oc fas exatamentee ¢ 7 oestrcnespeevtam Gono reugioca mncronanen a9 meanutonateade, Conor to cue rear Aen fo £4 a poderlacharnarfeagBo "aparthed” ie fa vate ec eam fain ae vive eu fra ayaa. nto urease po"Q2# Coat os membroa da out cultura, pare ete @ um perige. ; Esta longa citapio ¢ para informar leitor como certos cientis- tas sociais, a0 senthrem @ sosuicltura doe Ode ea i da, Ora, 0 ave em explicagbes mais absurdas ain ue Gerard Kable nto rialisou fol por que este mesmo feabraeno nie oneia pial ‘membros da cultura oprimide pele eotonislieen Tambéin nilo destaca of métodos repressivas que os ¢olonizadores ‘usam constaniemente, numa sistemética de dominugtio viclenta, beni i logo que se usarmos Tages dominadas. Nao vin esse antropélogs 4 Senos sicanalitiog e mais especifieamente o.conceito de ojeito para explicarmos ‘co colonialisme sua politica, o comportamento ao ‘suas elites de poder ¢ a violéacia polities comtra as | populagdes colo- tzadas ‘estamnas crliando explicagdes que justi ificam a sua cterniza- hot Porque se esse inconsciente individva #oresponsavel pelo con portamento social, potico «militar ls grupos eolonizadores $6 nos eta eeperar que aja uma ransformagdo, via rapa de iv, na ps que do colonizador para que terminem © colonialisma eo meocola mo. = ss ‘Como vemos, a fulta de historicidade, & seesthae da dialgtica por parte dos culturalistas ¢ 0 subjetivismo do método pst: canalitico aplicade para explicar processos socials globuis, | ie one SHeadstas spain a se peederem em critérios analogicas de explicario ¢ Interpretagaio que nfo sé sustentam chentificamente. ‘Os escravs formavam a cls =o" negro “bdrbaro” —— minada fundamental da socicdade 2 re ON Tecra tn Em ose cia dista, as suse seligides passaram a ser vistas, por extensilo, pelos dominadores, senhores de escravos, 5, Da rebeldia hmm DA REREBIA DO Bano “ndsBAN0” A “OOMOCRAEGA HACIAE como um mecanismo de resisténsta ideoldgica social e cultural ao sis- tema de dominagiio que existia, Deste realidade surgiram os elemien- tos que foram criados para que sc justificassem as téenicas de re. Dressifo, tanto ao escravo, que ao se conformava ¢ no se sujeitava 4 sua situapta, assurnindo a postura da rebeldtia, como as suas reli- sides, que eram o aparelto ideoldgico fundamental do oprimido ns- quelas cireunstincias, Da mesma forma como se justificava a escravidito do negra pela sua condisto de “bérbaeo”, justificava-se, concomitantemente, & perseguicaa as suas relighdes, por serem fet chistas, animistas ¢ deruais désignativos io bem enurmerados por Jus nna Elbein dos Santos. © problema historico-estrutural deve, portanto, ser levado em considerasio para entender-se a critéria de julgamento que se estabe- leveu no passade esc estende att 08 nossosdias. Assim, podemos come preender melhor a atwai situagio dos padrdes tedricos que ainda io usados para a interpretacto da funcao das religides afro-brasileiras ¢ da situacao do negro, do panto de vista social e cultusal, na socie- dade de modelo capitalista que se estaboleceu no Brasil apés a Aboli- io. Geneticamente, as situagdes estruturais eom niveis antag6nicas determinam um comportamento repressivo dos dominadores e, em contrapartida, um comportamento defensive ¢/ou ofeasivo do do- minado, Se, no plano da ordenacio secial, os senhores de escravos criaram uma ordem rigidamente dividide ¢ bierarquizada em senha- res eeseravos, do ponto de vista do escravo hd a organizarao de mo- vimemtot para desordenacem a estrutura, Unica forma de seadquirirem ‘sua condi¢io humana, do ponto de vista politico, social e existens cial, B um dos elementos apraveitacios ¢ exatamente a religifo, que tem, a partir dai, um significado religioso especitico, mas, também, lum papel social ¢ cultural dos mais relevantes nesse processo E nosse proceso de chaque entre as duas classes, inicialmente durante o regime escravista (Senhtores ¢ exeravos) e, posteriormente, ‘nize as classes dominentese os segmentos negros dominados, dist minados ¢ marginalizados, que iremos encontrar explicagio para ¢5- sa realidade e, inclusive, para o graw de discriminago cristalizado no racismo (eufemisticamente chamado de preconceito de cor) por grandes paccelas ds populasdio brasileira que introjetaram a ideolo- sia das classes dominantes. As religides afro-brasieiras, em razio dis- to, deviam ser consideradas inferiores, de um lado, e/ou exterminadas, ‘ou neutralizacas (assimiladas), de outro. Dal se procurae vé-las <0- mo elementos que representam nao uma necessidade social, histé- _siue nasa. AStiMHLAGAD, ACOMBDAGAD, ACULTURACAD ERLUTA BL CLASSES sca, cultural e paicolégien de determinada comunidade étnica que ‘compée a nagde brasileira, mas como remanesceres de uma fase jd transposta da nossa hist6ria que precisa ser esquecida Bstabelecido um eritésio de julgamento a partis dos valores do dominador em relagio'a0 negro bérbaro ¢, por isto mesmo, justificae damente escravizado, o julgamenie de inferiorizayto- das religioes ¢ ddemais padres das culruras africanas€ unve conctasto légien. Ame- dida que o sistema esctavista sente o impacto dos eseravos, procura resguardar-se contra 0 uso do aparetho idcoldgioe do# mesmos, €o- imo combustivel capaz de dar-lhes os elementos subjetivos para que les adquiram consciéncia da sua situacdo de aprimidos ¢ dissrimina-~ dos. A Histérla nos mostra indmeros exemplos no particular, Neste sentido, apela-fe paca © aparetho ideoldgico daminador, no: sso ¢ ho tempo a igrela Catélica, a fim de desarticular esta unidade exis~ tente entre 0 munde religioso do negro e a rebeldia do escravo. O antagonismo emereente gers, portanto, as diferenras de julgamento. Os opressores vEem nesaas religiSes elementos de Feichismo, de ma- forcas capazes de fazer-lhes mal, diabslieas, na medida em gia, de {quesupdem que os oprimidos delas se utilizar para combaté-los so cialmente ou se compensarem psicologicamente contra & situago de exeravos. Surge, em decorréncia, o medo a essas religibes, 2 nécessi- dale de protect ja em nivel de temor psicoldgico, pois elas, Simbali camente, so. um perigo as suas segurancas pessoais, grupais ¢ 4 ‘itabilidade © seguranga do sistema, Os mecanismos repressores 80 nto montados ¢ hd neeessidade de outra forga que se sobreponha no plano magico A daquela religido ameacadora: ¢ & religiao do do- minador entra cm seu auxilio neste universo conflitante. F com « fora material ¢ social que the ¢ conferida pela estrutura dominante, pro- cura desarticular a rcligidio dominada, perigosa, transformandora cm relteido de bruxaria, Néo entram na andlise ‘objetiva, imparcial, ADOTEMI, Stanislas. Négritude et négrodogues. Paris, Union Générale a'Editions, 1972. Chamamos & alencio em especial pars o expitulo que Inicia a 2* parte do livto, “Regard sur Veshnologie’", no qual sew pensa- mento sobre 0 astinte ¢ particularmente expose * GuiouLerrren, loss & KosLov, Semis, A citacia dos povas.¢ 0s inte- esses dos pavos (contra 0 “calonialismo sientfica" na einolagia). Cir cis Soi Contempor nea (Acadomie de Cen da URS), Lisboa 2) RAGTENDRRG, Mauricio. Sobre educucdo, politica ¢ sindicalisma. So Paulo, Antores Ascoviados/ Cortez 1982, p. 29. 1_SINcUTM0, SHIM AgKO, ACIMORAGAO, ACULTUINGAO 6 LUA DE AAS *Iiem, idem, Ainda neste senso de ura anérepologia pica para ‘tabelecer a continuldade ¢ ampliaglo dos seus intercsses que estavam subordinados a marglaalizagio de trabalhador nacional ea sua subs- tituigdo pelo trabathador estrangeiro subsidiado. Este complexo mer- cantil que se criow em cima da importapdo do trabathador europeu determinou a exclusso do negro ¢ do trabalhador nacional de modo aera de uma integrase como milo-de-obra capaz de-dinamizar 0 surto de desenvolvimento econdmico que surgi com 0 boom da economis ccufecira, Podemos ver como ha toda uma politica que se conjuga — Esc AGho-EEMDERACHA RACAL MITON REALOASE do Estado © dos fazcadeiros — no sentido de slepr faa de braces ara a lavoura ¢ apelar, semipre, para que essa crbe de no-de-obra fosse resolvida através do imigrante europe, Na bese dos ramsagdes mercantis que tais do seu atraso sociale cultural, politico eexistencial, resta apenas procurar branqueé-la cada vex mais para que o Brasil possa ser um pais moderno, civilizado ¢ participante do progresso mundial. A fi- ‘osofia do brangueammento passa, assim, a funcionar, Todas as medi« das que possam ser tomadas neste sentido sfo vélidas. A filosofia do branquesmento néo tem étics social Por esta razio, scem 1981, um emprestria denunciava:a doen ‘ga, em. 1982 urn economnista apresenta a ferapéutica: esterilizar os ne- frOx ¢ seus descendentes, Desta forma a “doenca" (repare-se que em 183% em Sergipe jt se equiparava os negros aos portadores de docn= -¢25 comlagiosas) poderia ser eliminada do corpo social. O economsis- ‘a Benedito Pio da Silva, assessor do. GAP do Banespa (Sie Paulo), apresentou trabalho intitulado ““O Censo do Brasil e no Estado de ‘Sto Paulo, suas curiosidades ¢ preocupactes”. Estabelecia all sus {llosofia étnica segundo a qual eru necessdria um éu\n.panba nacio~ ‘tal visando-© contrale da natalidade dos negros, mulatos, cafu2os, mamelucos ¢ indies, considerand. que se mantida a atual tend de exeseimento populacional “‘n0 ano 2000 a populagée parda ¢ He- ‘ta sera da ordem de 60% (do total de brasilsiros), por conseguinte §uite superior & branea. E eleitoralmente poders mandar na politica ‘brasileira © dominar todos os postos-chave”. Into Foi visto como pe- vipa social que deve ser combatide ¢eliminado como doenga paras manter © equilibrio social dentro dos valores brancos. A sindrome do mredo contsa as populagtes nllo-brancas que teve seu inkclo no re ssime escravisia, conforme veremos mais tarde, continua funcionan- ddo ¢ estabelecendo niveis de compartamento patoldgico como @ do sconomista ctada, O mais sinlomsltico & que esta tese racist fod apro- vada por esse drgdo de assessoramento do governo de Sia Paulo, na epoca dirigido pelo gavernadar Paulo Salim Mala?, A tese da ester: lizacfo da populscto néo-branca fai aprovada ¢ cSpias do seu texto. distribufdas a (odos os integrantes dos diversas GAPS, Isto porém, ni ¢ caso inusitada, Os exemplos poderiam ser da- dos ts derenas. © certo € que, depois de quatrocentos anos de lava~ ‘gem cerebral, 0 brasileiro médio tem um subconsciente rucista, © ‘Preconceito ce cor faz parte do seu cotiiano. Pesquisa realizada pe- lo jornal Folha de S, Paulo, em marzo de 1984, sobre 0 preconeeite de cor, vonstalou que 73,64 dos paulistanos considera 0 negro toat- inalicado no Brasil ¢ 60,9% dizem conhectr pessoas « insttuleBes que discriminam o negro. Devemos sallentar, como elemento de mt MICIORNAGO F DEMORACA RACIAL NETO E reflexio na inerpretagio desses dados, que€ notivel tendéncia de se reconhscer mais Facitmense a existinci dedlisereminagdo racial noe Outros do que em si mesma, Como vimos, 73,6% considera o ne+ 10 marginalizado-no Brasil. A proporsio aia para 60,9% quando ¥¢ trata de seconhecer a existéncia de discriminagiio em seu proprio: circulo de telapdes. E apenas 24,18) revelarem agama forma de pre- conetito pessoal. Como sempre, o problem: nevrileico é quando se perguna se aceitaria um negro como memtro da familia. Foi a pes~ frunta sobre a possbilidade de ter um negro vomo genro-ou eunhado, tmuite mais do que como chefe de servizo ov come representante po- litle, que suscitou a maior média (24, 1%) d2 respostas francamente preconceituosas, reveladoras do racismo do brasileiro ‘Toda essa realidade disctiminatdria, pevonceituosa € repressi- va € escamoteada deliberadamente, Seria fistidioso agui repetir oF pronunclamenios de todas as autoridades que proclamam a nossa dé- mocracia racial ¢ praticum a discriminagdo. Een 1969, segundo docu- mento coligido por Thales de Azevedo, ctaéo por Abdias do Nasci- iment, podemos ler: © Giobo, Rio, 12.26%: “Portela v8 Imprents. a Sesvigo da Ditermina- {G85 Pcl pare Contbae” — Publiewnss tegrama plocedante de Bra Si,» Joma infra que o Genaval daime Portol,om axposteso de motives ao Presidente de Rephbles,sugernds w eapao da Comvasde Geral de nqudsto Policia! Militar, dalags 66 10248, refore-se & con cluabes do Conasiho de Saguianga Hacional sobre ages aubversivan 6 atta: "No contexto ae slividades desenvolvigts pelos exquerths- {an eepaliamos a2 seguintes (tem §) ~ Camparhs conduside ata. vt da ipzenea @ a tolevledo em igapo com dryzas estrangeiros de impransa ¢ de ostucos Intemnoctonals sobre sitarim/nag fo racial, \isenag ctor novas droae da srtos satistagaa com rexlme dutosidades constitisas’.* Esse rstemso governo-neofaseista dizis, através do seu presiden- te Emesto Getse, a0 Secretirio Geral da, Organizaeto das Nagbes Un dias, em 21-3-1977, quando se comemorava o Dia Internacional pars 4 Eliminacdo da Discriminagto Raciat © brasil ¢0 produto da mais ample experbncia do intepragho rac ave conhece'» mundo medera, resultado, 90 longo dae eécuios, de {hm procesta harmonic e aulénomo, mpirado nas ralzes protundas os poros que aqui somaram esforges na constrvgo da Pais, E coneluii: ‘Compartimarn o8 brasileiran de oooviegbo de que op direiton da pee $08 humane 280 dearespeltadse nas encladades onde constag6es da Novas mavenfiicane mL oonAnens ‘orcem recta! determina 0 grau de respetto corn. que devem sec obs 6 lberaliades © garantias Individual. Esta ¢ a retdrica oficial, No cntanto, csse mesmo presidente, cm ‘margo de 19775, escorragava do Palécio do Planalto uma comisséo ‘de negros paulistas que para ld foram convidé-1oa participar das fes- las de 13 de Maio que seriam realizadas na Capital de Sho Paulo, A llegacito fol a de que nilo tinhamos mais negros no Brasil, mas sim cidados brasileiros. Chamou-os de dlivisionistas e impatriotas ¢ man- dow que 2 comissio se retirasse Mas, ao comemorarese 0 sesquictatendrio da imigraclo alema rho Rio Grande do Sul Geisel nao apenas compareceu. aos festejos, mas elogiou publicamente 0 esforgo dos alemiies no progresso da na 46 brasileira, Em outras palavras; eke pode ser tcuto-brastleiro, mas (egress nil podem ser afto-brasileiros. A historieidade éraica ¢ cul- tural fica, assim, através dessa estvatégia inibidora ¢ intimidadore, reservads ao imigrante branco. Notas ¢ referéncias bibliogréficas: 4 Marvin Harris encontrouriada menos de 492 diferentes terraos de identif ‘engl racial no Brasil, Cf, HARK, Marvin: Referencial ambiguity In the calculus of brazilian racial identity. in; NonMaN, E., WHITTEN & SWED, J.-F. (ed) Afro-amerivan oniropology. New Yark, The Free Press, 1970 75-86. ? C1, Mouna, Clévis, Saro.e Vanzett, o provesto breslero, Sho Pau, Bra: sil Debates, Musim, As conclisdes do professor Sidney Sérgio Ee ‘nando S6lis foram cxposias em encontro da Secneb, em Salvador, 1984) > Frmvanoes, Florestan, Imigrashe ¢ relarbes raciais, Revisla Clizagio Brasileira, Rio de Janeiro, 8: 89, 1966, * Ewpanx, Thomas. A vido na frost ou Didrio de um visita 00 pais do ‘aca « det paimeiras, Rio de Janeiro, Conquista, 2 ¥uy¥-1, ps 188, S Lia, Heltor Ferrciea, Formogdo Industrial do Brasil. Rio de Janelvo, Fundo de Cultura, 1961. p. 268 *Pravo, J. M. de. Persumbueo 2 as capitanias do Norte do Brasil. S3o Paulo, Noctonal, v. 4, p. 67, " Vinsiva Exina, Lair. O negro na Bahia, Rio de Janeiro, José Olmpio, 1946, p. 119, * Debret registra, atravds dos seut desenhos« do sew tata, escravor ¢ negros Fivres, no Rio de Janez, exercendo as protissbes mals diversas. como bat beiro amblante, barbeito-com ioja, vendedor de cestas, vendedor de aves, _MIICIORNACAO E DENOCUACIY RACAL: ITO E READE, vendedor de samburis, de palmito, serrador de tibuas. cegador, vende- dor de earvilo, Vendedor de capin eleite, vended de mitho, trabalhsdor ito servico de moendas portitels,fabricador © vexdedor de alva, manue ‘cuonhos, negro calceeita, vendedor de atagaga ee.) de ang, marcench +9, cartegador de canpalha (pipas), trarsportador dt café, vendedor de café torrado, puxador de “‘carros™, construtor de jangidas de madeira, cons Irutor de sarretas de madeira, negro trovador, iresportador de tls, rurgilo negro”, lavadeira, wioalhador de pelrelca, carregador de cadeirinhas, vendedor de flores, verdedor de azruda ¢ caregndot de lite- ras. Toda a movimentapo de sodedade urbana de Rio de Janczo, come ‘vemos, e7a feita palo negro eseravo ou tive, (Deans, Jean Baptiste. Vin- gem pltoresca e hatdrica ao Brasil, $40 Paulo, Marins, 1940, 2, Passim:) ‘MoURA, Clovis. Bras: ratees do protesio nepro. Sio Paulo, Glabo, 1983, fp 31. Bisa tin de divi etnicaente ox braaleeea para melhor govern. {og wma constante, Debretj4 asinalava.no seu tewpo: "O gorerno pare ‘ugués estabeleceu, por meio de onze denominagis wsades na Kngzuagers comm, aclassifleact geral da populace brasil pelo deu grua de civi- linagdo: 1. Portupués da Europa, portuguts iegtino on filho do Kein. 2, Portugués nascide no Brarit, de ascenléncis mais ou menos fongingua, ‘brasteiro. 3. Mulato, meestigo de braneo com negri. 4. Mameisco, ‘90 das ragas beanca e india. §. fntio puro, habitsnte primitivo; China. 6. Indio civlizado, caboclo, fndio manso. 7. Indio selvager, no es tudo primitive, gentil.tepure, bugre. 8. Negra de AJitea, negro de nopd0, rnegrinho. 9. Negro nascido no Brasil, crioulo, 10. Bode, mestico de negro com mulato; cabra, a mulher, 11, Curtboca, mative de raga negra com Indio’. A este sistema clasifieaiério valoratvo, felto de acordo cou o ‘seu “grau de civilizaso", Debret, apoiado em Ferdinand Denis dé a sua realidade quantitativa afirmando em nota que “esta populacto, segundo dades auténticor transmitides pelo venhor Ferdinand Denis, cujat infor= smac6es s8o dignas de fe, cleva-se hoje a4 741 358-60 quais2 $43 88-ho- ‘mens livres, | 136 669 escraves ¢ £60 000 Selvagens conecides™. A nota ide Debret fol excrita depois de 1839, data em quo ele cegressa & Europa. ‘O que desejamos ressaltar aqui €que jf existia ima escela de valores nesse sistema classificaldrio, fato que persiste al8-6¢ nassos dia: quanto mals proximo do branco, mais valorizado soetalmente, mais civilzado, (De. pret, Jean Bapiste, Viagem plioresa e historica a0 Brasil. Sia Paulo, Martins, 1940. 2., v. Le p. 87.) CUA, Manuela Caumeiro da, Negras, estrangeiras. Sto Paulo, Brusitien- se, 19985, p. 9041 ‘QuiRuvo, Manuel, 4 ropa africana e seus costumes. Salvador, Progrese 30, 1955,"p, 87-9, ‘OtneermAa, Francisca Laide dee ali, aspectos da sitwapdo sécio-econd- mica de broncos ¢ negros no Brasil. Pesquisa realizada pelo Depart mento de Estudos de ledicadores Sociais (Deiso), 1979. Tes, ibeern MELLO, Loud Getivio de Arruda. ADberto Torres ¢ 0 comeelto de rages no Brasil, Emsnio, Sao Paulo, (13): 132-3, 1984 OTAS BRRPPRESCIAS BRLIOGRANNCAS yo ™ Suowone, Thomas E. Preto ne bronco, Rio de Janeiro, Paz. © Terra 1916, p. 63, Este pensamento racista das elites brasilelzas poders sete trado, também, 10 sepuinte pensamento de Afrinio Peixoto: “Haverin um [perigo a9 nosso embranguecimento: cra ¢ libertarem os Estados Unidos dot seus pretos em nds, por ekemplo, na Aitzdnin como se peasou... Fe- amente, para n6s, eles ficarto not Estados Unidos culturatmente prefer'- ‘ves... 0 exemplo da Libéria nfo ¢ convidativo. Tim ees, os yankees, de gilenter cow os se pretos ede esclarecd-lo,., Nd, rials duzentos anos ji tevemos feito iso". (Peuxoro, Afitnia. Cllmee-sunide, $i Paulo, Nu ‘clonal, 1938, p. 14-4) * FuRTADG, Celso, Formepio economica do Brasil, Rio de Taneiro, Funda ‘de Cultura, 1959. p. 168. © Idem, ibidens, p: 167. (0 grifo nosso.) Ao comririo de Celso Furtado, [Nélson Werneck Sodré compreendeu bem os mecanismos dessa passager ‘do excravismo pars o trabalho livre, a marginalizaeSo do trabathador na- sional ¢ 0s esteredcipos criados contra cle, especialmente contra.o negro. Buzreves "No axistindo indiustrializaglo que suporte a transigho do xa batho servil para o trabalho arcalariado 0 que se note é uma brusca sub- Yyersdo, umn histo tremendo, um traumasisno profundo, ecasionado por \umha massa enorme de individuos que necestitam, de certo momento en ante, assepurar a prdpeia cubsistéacia es da\prole, medicandoae & ‘vestindo-so, A lenta assimilao pela coletvidade dessa-masan de desapro- \Veltados ede deserdados ¢ urn dos fendmencs mais curiosos da nossa for- ‘magio social e tem consequldneias profundas que ficaram na consciéncia dda gente braileira, Surge entdo-0 mito da vadiagto do negro, da sun indo eocia, do seu primitiviemo, da run desambisSo, que 9 tomariam um peso ‘morto na sociedade brasileira, win elemento de inércia.(...)O negro pas wou a ser a fonte de todos of males. O simbolo da preguica brasileira, da sus falta de aplicagio no trabalho, da sua euséncia de perseveransa, da sua desambisto individual, que refietis, na sacledsde como uina indicia, Como una corrente, como ti peio, a inipedirathe o desenvolvimento, Pas: ‘Sowa constituls, também, o assunto-em voga, o recepidculo dos vicios na- ‘Gionais. Unna quadrinha antiga dizia: Branco quando morre/AB! meu Deus, pporante morreu! Negra quando marre,/Foi eaehaga. que bebeu..." (SODRD, Nelson Werneck. Panorama do Segundo Imperio. So Paulo, Nacional, 1939, p, 43-4) ™ Celso Furtado coloca como uma das causas do dcio do ex-escravo 0 fato de nfo: postuir hdbitos farniliares. Devemos afirmar que & mals wm erte- rebtipo que os fatos desmencem. Os htbitor familiares a que ele se refere ‘o-os da famibia nuclear kgalizadn através do casamento retigioso, Ciico ppermitido na épocn, Escreve, neste sentido, Maria Beatrir Nizza da Sitva que “‘contrals matriastnie representava, para amnplas camadas da popu lagto, sobsctudo negros © pardas forras, mas também brancos pobses, lursa despesn ¢ um trabalho tal coes paps que a maioria preferia viver fem concubinato sstivel, constitulado fanilia e vivendo como marido ¢ ‘mother. A tend8ncia para o concabinato néo pode, partant, ser eneara- da apenas como uma questo de “libertinagem, H_NISE:OENAGAD £ DEMUDERAELA RACIAL. RO‘ REALIDABE ‘esultante de obstéeulos econtimicos i celebraco do caamento'. (SiLvA, Maria Beatrix Nizza ds. Sizema de caxamento ne Bri olonial. ko Paulo, ‘A, Queiroz/Edusp, 1984, p. 5S.) A mesia nutors, ferinds-se ands & Gpoea. da Coldeia, advz outras rsabes como. por exemplo, o servi mili- tir ave imepedia-o eabelecimento deuma Camila legal, dentro da relist ‘das leis da época, Sobre 0 casamento de cecravos eomparado com a po- Pulao livte que nao conferiam com peataments de Furtado ver: Cos ci del Nero da. & GUTIERREZ, Hocdcio: Nota sebre casamentos de ccravos em Sin Paulo © no Parana (1830). Separaia da revista Historia: Quesides ¢ Debates, Curitiba, $ (9), det. 1984, Seguindo a estera do esteredtipo de Celso Furtado, sea apresentar novos dads, esereve Mauris Vinkas dé Queiroz: "Ber verdade que, excetua- 4dos 05 sertanejos nordestinos expulsos pela. seca — que sempre se revels: tam trabalhadores disportos e decididos — m massa de ‘adios eorstituts da por negros forros ou liertos dificimente paderia yr dead logo engae Jada to processo ind trial ¢ submetida Arigida disciphna i fabrics, pois = como antigos everavos — prezavam coma ulm dos mais altos valores ‘0 ‘écio', 20 qual sacificavam a possitiidade de conve de vida um pouce melhores, (Queinoz, Maurizio Vines de. © suri industrial de 1886— 1895. Debate ¢ Critica, S40 Paulo (6), 97, jul, 1975.) Este raclosinio na ‘ica muito eqitdistante do de Oliveira Vianna quando sfirma que “depois ‘de Aboligio grande ngricultor nto conta com 0 operério rural, Este a sas consents cm lavrar as esiras da fzenda alguns dis na semana, dois ‘ou irés, O-resto do tempo & para 6 go2o de tus indoléncia proverbial". (Populasdes meridionais do Brasil, p- 138.) Este € um flac ideolégico que [possi um expectro to largo que vai de Oliveira Vinnna a Celso Furtado, Dassando por outros socl8logos ¢ hitoriadores de: tendboclas Mberals. Fie Favofin que persiste até hoje quando se diz que o brasileiro ¢ preguicoso, ‘08 Aeustrabaliadoresindolentes € relapsas, 0 que vem eausar 9 maior nds mero de acdentes no trabalho, atém da falta de intersse pels empresas ‘onde Ho exspeegados, Um exsmnple de persstingis deste vvioideolégico ‘vemos tas posiebes atuais (1987) do enpenieiro Braz Juliano ao procurar diagnosticar as causas das enchentes na Capital paulistana. Para ee, essas calamidades devem ver consideradas fenémenos caiturais © nBO natura, Presidente da Assoclagi Brasileira de Defcon do Mio Ambiente, afirma que "8 cultura do bi6tipo lvso-brasllero que se fortis no Brasil (que ele chama de BLD) gerou ums ocupacto desordenada da cidade, principal ‘mente de vérneas ¢ dreas verdes, expeciafmente pela populacio de kala renda, notadamente nordestinos, Por ato ele sugere a proibicdo-da vin: dade migrantes do Nordeste paraa cidade de Sio Paulo e propos so mes: imo temp que v¢ atealam lmigrantes cxtrangcicos, (Folha de S, Pwfo, 17 fen. 1987.) Siusina, José Jorge, Reflexdo sobre a transicio do everaviamo pars 0 sarlalismo urbsano-induwivial ¢ « quesite racial no Rio de Janeiro, Est os A fro-Asiatices, Rio de Sangirg, (12): 71 et sey 60. L986. > Lee, ct, Queremos destacar neste este a abordagem de wm problema pouce rsferido come Fater de marginalizagdo massiva de negro nessa pas Nona 6 RETEMNCIAS MLILERARICAS we sagem. B que quando ha um interesse social de imtogracto da mBo-de-obra, nna passagtin das relagSes pré-capltallstas para capitalists, com wm proje- to-de absorede da mio-de-obra etcrava no novo sistema de produ£0, c5- ‘mo oeortet na manufatura-Cdbste Cla, Luz Stevia (Rio de Janeiro), ea Se processa sem 0 trauma stribuide ao negro de no ter capacidade para ‘eva iramsledo, Fok apenas wma microinicleilva, mas que Semonstrs que mito do.6cio do-ex-escravo mio ye coaduna corn areulidade. Apenas aio hhouve una perspecciva te investimento macigo e racional em macroproje 108 desse tipo peins insttuiobes oficiais quer ne passegem pata xindustria- Frapio, quer 90 actor agrario 9 fim de integrar sosialmente © negro que sala da seneala, * ConTEs, Geralds de Menezes. Migrajvo ¢ colonizayda no Brasil. Rio de Janeiro, Jost Olympia, 1938. p. 21 2) ANonane, Manoel Correia de. Eseraviddo e trabalho “ture’* no Nordeste apucarefro. Pemambuco, ASA, 1985. p. 37-8. >* Apud Rios, Jone Arthur. Agpectos policos da estimiteedo do ttatlano no Brasil, S80 Paulo, Fundacao Escots de Sociologia ¢ Politica de S80 Pau: Jo, 1989. p. 12 3 Ros, José Amur, Ibider, 2" dem, ibidem, 7 Aped REIOUTLMAN, Paula. A formerdo de pov no complex cafeciro: aspector poiltices. So Paulo, Plonsira, 1988, p. 88 ™ Idem, ibiders, © Taem, ibidem, p. 85. © comportamento do fazendciro em relasa a0 trabahador se modifica A medida que os niveis de conflito xe agugam. Procuramm sempre aquele teabalhador que é mais décileadapiadn 8 fisciplina das fazendas. Esc ve José Arthur Rios: “Em 1913 ocorrew um confito entre iealianos bra- silelros, nas fazendas des arredores de Ribsirio Preto, que revesthu @ Ga ger do hn de elses, Ox colonoritalianos. vencends os obsdeulos que sempre os impedirarm de unirse, conseguitam declarar-se-em greve. Ke clomavam contra os salitios em vigor, recusande-se a comecat colheita ve nia obtivessem wm aumento que 05 compensasse da desvalorizagao da ‘moeda. Os fazeadeios pediram h inteveneho da poliia que no conse. iu esavencer as grevistar a voltarem so (rabalho. Trét ealonos foram ds seldados, um colono priton-lhe que tern 40 melhor se 6 roumeseechevo de viveres. Enquanto isto, os Joma: stacsvam a ereal de Ribeleko Preto (que responsabilizavam pelas acontecimentos ¢ teciam lowvores &imlgra ‘40 japonesa, mals peciente e submis. Teriam louwvado coovies sos how Yong, onestvos snd ress algun’ Rios, owt Art. Op, p. Emilia Viott! da Costa descreve 0 mecanismo protecioniata da imigracio ‘strangeira da seguinte manera; ‘Nos meados do sésula, quando as pri rochras tentalivas de introdusdo de imlgrentes nas fazendas de cal, oF 16 _escimungio# DEMOCHACTA RACIAL: WTO BBSAIDADE azendeiras hovingn Finanelado as pascagens, nt pouse a poueo. a partie dos anos setenta, o governo provincial chamoes si essa reaponsabilidadc. Nos anos 80, o govern dispendeu sornas vullows com a imigragto, sendo ‘que as maiores quantias foram relativas aos ss de 1884/35 € 1885/86. ‘Apart do momento can qut 0 Estado comeyos a financiar as passagens ‘40s inigrantes, ot rscos envolvides na experticia foram sccialmente di- ‘idides pos todos. mas os beneficios couberam diretamente 208 fazendei~ Fos, A partir decnitho, estes padcram enfremaa transi para oeraba- Io livre mais facibmente”. (Costa, Emilia Viti da. A Aboticgo, S%0 Paulo, Global, 1986, p. 5534) 2 Baiouietaan, Paula. Op. ot, p. 87 ® ALES, Tancredo. Sobre 08 eSsrivos indios ¢ rxgros no Brasif. Pare To- dos. Rio de Janeiro, (17): 29, jun, 1982. > Sobre uma das formas de mercantlizaczo do imigrante por especulaores, cexsrave Zita de Paula Ros “A inwabilidade do emigrante nas fazendas fol vinculads & “onda de especulseto’ que 4e desenvelve. Dentin feitas evi- denciavam que, principio & especulacko se retringia as vininhancas da Hospedasia dos lmgrantcs x Capel, que pratamanie oetraizava os se gos de distribuiplo dos estrangeros nas propristades agricolss Algumas sue eram os prépriow fazendeiros 4 sur representantes que procuravam engajnr os imigrances, medianle provmessi de mer Femaneraco pelo balho agricola de concessio de vantagent. Ouiras vezes, eram “individuos inescrupuloses! que, utllzando-se de recurso coat — como docu so forjada — retiravam do estabelecimento familias inteiras, nagociando- 4%, posteriormente, com fazendeiros, com grandes lucros. Com a tempo, a ‘onda de especulagbes'passou a ating nfo apenss ‘ imigruntes que chegavam, mas tumbem aqueles que jf estavam colocs- dos nos etabelecinea os agricolas. Hustra esa situaco o-quadro delinea- do por Gabriel Press, ua 462 Seasio Orinda de 5 de julho de 1383, a0 reerirse As dificuldadcs de engajarnento dos trabalhadores, ..) a6 mais das vezem, flea o¢ fezendeiros privados de (cabaltadores em aimero su ficient, mesmo quando a hospedaria do: imigrantes se acha regorgiesnte ‘Outras vezes consegue o fazendcito engajar os trabalhadares ce que care- ‘se para perdé-os pouco depols, em vista de procedimento irregular de ow tos lavradores ou de agentes intermedidrios que exploram com ws difcul- sades dos lnvradores. A desoraanizardo provocada pela mobiliiode do imi- ‘granic nas unidades agricola, em decorrencia da ap20-dos especuladores, ‘io ating apenas a cultura extensva, mas também o plantio de cerenis™ (PAULA Rosa, Zita de, lmigrarso: uma tema controvertido na vou dos ple- nipotensidrios da cligarquia cafoera, Revista de Histdréa, Sho Paulo (15); 21, jul-dez. 1983.) % SroLOKE, Verena. Cafeletura — howens, mulheres ¢ dope (1850-7961), ‘Sto Paulo, Brasiliense, 1986, p. 40, > idem, ibider, p. 42, 2” Lem, widen, p. 44 Lev, Darrell E. A fomflis Prado. Sto Paulo, Cultura 70/Livraria Bdito- res, 1997. p. 115, Nore RoraniNcINs MMRICGRAICAS we SALVADOR, Jord Gongalves. Os magnatas do 1n9fieo negreiro. Sto Pai- |, PioneiriEdusp, 1981, Passi. Erte isto nso foi valoriade de acordo com @ sua, importiln * Maginnio pe AZEVEDO, Célia Maria, negro livre no idedrio das elites, ADisertaglo: de meweado,) Commpenss, Unicanyp, 1985, p, 416, Mimeo arafado, “* Apad MOTT, Luiz, © escravo nos amincios de jornal em Sergipe, Anais ido V Encontro Nacional de Estudos Pupulacionais, ov. 1986, ¥. yp. 9 “* HUGUENIN, Orlando, Negro nilo pode ser padre, Punfleto. Rio de Janei- 20, (I): $9 et seq. Jun. 1988. © 0 Enado de S, Paula, 10 msio 1968. No particular de flosofi ractal & ddo jornal O Estado de S, Poufo ¢ idGotica. Em editorial definindo a sua ‘posi conlréria ao voio-dos analbetos, kquela pce sugetido pelo ma- ‘Fechal Castelo Branco que ocupava a presidéncia da Repiblica, escreve ‘ue bavia necessidade dese sustar tal iniiativa ‘para que do 9 conserie # aman vera 0 povo braslexo a beneficar-e daguiio que hem Sr “Jelo Goulart no seu delirio demag6xico ousou oferecer bs Hoss nassas igsaras”(..) "retereae A concerto do voto A tolabdade doe canis, ‘dos habicantes dos mocambos do Recife ¢ Fortaleza ¢ das favelas do Rio de Janeiro, Todos edo raslelros eos mefhore, aflmava e Sr, Jot Cou {arte por isso mesmo 00 eatender duqueles que tem hoje nas suas ma0s 105 dexcinos de movimento de 31 de mayo, assit-thes¢ dicsito de intervir BA discuisdo do mass Uanscendentesaisubtos coetivos".(..) "NSO eve 5S. Bea. (0 marechal Castelo Branco) 0 tempo neoessirio para formar o seu capita no contalo permanente coo ta diciplinaa socolSglcna eho estranhivel, portanto,a sua dificuldade em pereeber que, pelo camino ‘que ver wiinando, © Brash no tardayé a ser dominade pela massa amor- fa insatisfeita das populsges nordestinad, oriundas do chaque de trés men- ‘abides ancagdnicare qbe por sso sto hoje rtimas de um peiuismo mr- Bio, que as impede de 4 itteprarem no eaprito de uma coletiidade real: serie evoluida, Serdo estes homens — descrios em Os seridex e-analise- ‘dos por toda uma admirdvel literatura que nos reveln aghomerados popu Taclanals beasletos num estado de primitivisms 18 comparivel Af mais baltas camadas do velho Hindustlo —, seo precisament ees que pelo tnlimero anclacko qualquer eapdce de ago que pudewem vita exetser aot ‘destinos do pat o& habrtantes do Estado da Guanabara, de Sio Fualo, ido Parand, de Santa Catarina ¢ do Rio Grande do Sul”, (A UDN ea s- tangle. O Estado de 8. Paulo, 18 Jun. 1964.) Apud Nascimento, Abdias. 0 genocidio da negro brasileiro. Ric de.Ja- ‘ito, Paz e Terra, 1978. p. 79. * Jomal da Tarde, Si Palo, 22 tar. 1977 “+ Bim ficha dainda de 20-de tnargo de 1975 regiktramos 0 begulate Nagrante: “Dale ou tes dias depots de Geis! haver reeebitlo hostilmente os mest- ‘bros do clube que. foram convidar para partkipar das comemorasdes 30 13 de Maio junto 20 Momume Mite Preta (SP), travou-se discus- sho na sede da Unido Brasileira de Escritores (SP) eobre 0 fato, tendo a Tmalgea dado razio a Ceisel. As razdes apresentndas eu nla Ruescla nb MISEIGROUNGRO E UEMOCRAGIA RACAL: MTO F REALIDADE de wportunisins politico ¢ presensetio de sor. A. van & problema de {que 0s negros, quando se reiinem cono.negras, esti fazerdo uum papel segregacionita-¢ que, por isto, Grise! tinh. razdo, E, 0.) escritor segro Dresente, (enlou rebaler este peniameata, reas ako conaguln, pela agres- sividade de um dos presentes, C. P. C,, 0 qual, de dedoet riste, agrediu- © com uma verborzayin que encobria 0 scu prceonceito, dizendo dispara- tes como 0 de que o presidente +4 pod falar sisi porque cle fala vendo © futuro e nf0-0 que td scontecends atualmente ¢ qve os negros nada ‘mais téma ver coma Africa, Como E.O. tivesse dado #3 originais de um Livro seu para set refeito pelo C. P, C., este ve aprovsticu da ocasio para ridicularizar as idtiss all expostas. A.S., que €juir, dia, querendo dar uma ciiago ‘chentifico juridica’: ‘no ha mais negros nv Brasil, todas 880 brasileios'. Bisse que os negros nao podiam reunir-e como negros e sim como brasileiros, O exzviter P. M, floou dé lado, dando apenes apartes lnnicos, mas-de qualquer maneira contra o negro no fundamental. Final mente oC. P, C, confessou-me, diants de uma pergunarsitiha, que oCtube Assal, do qual & funciondalo, clube tipico de classe min paulista, mio aceita nagros no seu quad social, citunde Inelusive 0 caso de wma pro- posta que foi apresentada 4 diretoria e que foi recuseda por qut “eset ho- ‘mem ¢ negro’. A. §,, 0 julz, por seu tune afirmeu quenido contyata em pregada negra como domestica em ssa casa ‘porque tem chelro ruim ¢ nko oma banho'. Isto mostra como mesmo entre aintelectuslldade ‘esclaraci= da’, diante de um fate consreto, © racimo xe manifesta IV O negro como grupo especifico ou diferenciado em uma sociedade de capitalismo dependente Para que se possa compreender ¢ inter- retar convenientemente o esquema me- todolégico que iremos opresemtar em sepuida, temos de partir de algumas premissas tedricas csclarceedo- ras a parfir das quais o nosso pensamento s¢ desenvolverd, Quere- mos dizer, iniclalmente, que se trata de uma tentativa exploratéria ide se empregar a dialética maicrialisia ac probleraa do negro bras\- Ieiro no seu aspect organizacional ¢ ao nivel de convergéncia entre 10s seus valores culturais, (razkdos da Africa, ¢ a fungao dos mesmos ‘em uma socicdade de classes, mais especificamente, em uma socieda- de de capitalismo dependente como a brasilera,! Scrd, portanto, um trabalho que, inevitavelmente, teré Falhas ‘ou védeuos no seu corpo expositive e interpretative. Nao Faste a pro ppria posicao dialética uma postura que aceita (¢ exit) a critica todas a8 veres que € aplicada, a propria falta de trabalhos que procuram lexpor um esquema deste tipo ¢ tio gritante cue nos impde uma posi- ‘¢do extremamente cautelosa nicialmente, devemos dizer que, para chegarmos &s categorins de grupos espeetfieas « diferenciadas, através dos quais desenvolve- reRids © OSG 4squema metodoldgico, comesaremas, no nivel tedri- ‘co, a manipular com dois termos da dialética materialista, derivados do conceito de classe social: o8 termes de classe em s/ ¢ para sf 1. 0 negro como cobaia saciolégica Como s¢:sabe, 0 eonseito de classe soctal, > Feeundo em vas- tas Areas de pesquisa macrassociolégica, subdivide-se em classe em si ¢ para si. Essa dicotomizaglo do concelto ver possililitar a andlise da classe desde a sua formagio ¢ emergéacia, quandoela ¢ apenas obje- torna estrutura social, até a fuse mats plena da sui afirmacto na s0- ciedade, quando adquire consciéncia de que existe ¢ somente em conftonto e fric¢&o com utras que se comprimem na espago social pode reconhecer-se como expecifica, isto 4, cam sbjetivas préprios @ independentes, ‘A partir do nivel de reconhecer-se especffier, dacria vatores par- cials préprios que funciona como mantenedores dessa especificida- de ¢, 80 mesnio tempo, elabora uma ideologia que a dinamiza do poitla de vista da vociedade abrangente, ‘Quando @ classe chega a ense ponto, a sua ideologia deverd set tho globalizadora que refletiré 05 interesses mais perais daqueles seg- mentos, camadas, grupas ou individus que se eneontram em um. pro- esto de desenvolvimento e se situam, da mesma forma que a classe ‘que adquiriu consciéncia de si mesma, de um ado em conson€ncia ‘com o desenvolvimento das forcas produtivas e, de outro, em anta~ gonisma com as relardes de produc existentes. ‘Asslin como a clasce fundamental em desenvelvimento evia urna ideologia abrangente e dindmica, os demais segmeatos ou grupos s0- éiais que se encontram na mesma posi¢&o de antagonismo em telagio 4 infra-estrutura também criam valores com of quails se resguardam parclalmente do sistema tradicional que os oprime. Formam-se, era conseqiitncta, grupos especificos de resistGncia que, dentro: de vin sociedade contraditéria € conflitante, procuram, nas diversos niveis cece diversas maneiras, organizar-sc para so reviver € garantirese cone ‘tra.0 processo de compressiio ¢ penciramento econdmico, social ¢ cule ‘ural que as classes dominantes thes impéem. Evidentemente, esses grupos, & medida que sentem a atuscio de forgas restritivas aos seus movimentos de interagdo com a socie- dade global, procuram, por seu turno, reunir-se através de valores particulares para no calrem em estado de anomia total, fato que os levaria 4 sua extincdo pura e simples ou a sesema destocados progres- sivamente para estratos cada vez mais inferiorizados da sociedade, No Brasil, desde 0 infeio da eseravidio que os negros africanos, transformados em escravos, comesaram a organizas-se para sobrevi- vyerem ¢ manterem as seus padrdes tribuis ¢ culturais que a essravi- 0 Mg eoNNs CORAL WEIDUSEACA 18 destruit permanentemente, Desde os navios negreitoxque les, aproveltando-se das organizapdes iniclticas existentes ba AT ea em grande mimero, procuravarn reencoatear a sua codigo bh mana. Mag 0 sistema cseravista, conto vm todo compacta. fechado, flo permitia que a escravo adquirisse comsciémcia da sua situagio so- clal, faro que o impedia de formular uma ideologia capaz de desalicade Jo completamente, Par isto mesmo, comeca a organizar erupas tépi- os de diversos conteiidos para reencomtrat-se somo ser. Desa forma, 08 grupos socials especifieos negros foram criae dos pelos eseravos, durante todo @ transcurso do regime cscravista pelo negro livre. apds a AbolicBo até as nossos dias. Esses grupos desempenharam um papel organizacional, social e cultural muito maior do que se presume ou ja foi pesquisado-e/ou computado pelos cientistas sociais. Nilo nos parece ter razio, por- tanto, Skidmore, quando, sem ter estudado aprofundadamente- com- portamento do escravo brasileiro no particular, afirma que ele nae dcsenvolve suficiememente insittudrdes peralelas que correspondem —de forma aproximativa — aos grupos espectficos na. terminologia. que estamos propondo, * Por outro lado devemios reconhecer que 0 negro norte-americano teve esse tipo de organizacdo em nivel supe Hor ao brasileiro ¢ esses grupos se desenvolveram com uma dinfimica muito maior, 7 ‘O negro demonstrow, no Brasil, desde os primeiros tempos da escravidio, um espifito assoctativo que fol, inclusive, destacado em estudos especiais sobre o assunto. No fosse esse esplrito, ou melhor, esta tendancia eriada pela sua situnedo no expago social, es escravos teriam uma vida muito mais sofrida seb 0 cativeiro © 0 negro livre no teria resstido x proporso que realstlu, ao chamado traumas. ‘mo da escravidéo, incorperado, por ele, a0 seu compostamecato apds a Aboligio. ¢ ‘Foram indmeras 2s formas através das quals 0 negro se defen- dew social, cultural e biologicamente, criando anteparos & brutalida- «de da escravidlo ¢, depois, ao seu processo de marginalizacao que se seguiu a chamada Lei Aurea. ‘A fim de preservar as suas crengas, conseguir momentos de lazer, de refuncionalizar os seus valores, trayos ¢ padres das cultu- ras africanas, obter alforrias, dinheiro, scpultura ou resistir aberta, e radicalmente a0 regime escravista, ele organizou intimeros grupos ow se incorporou 4 alguns ja existentes. Bseas raxSes eontribuiram para que o negro Fosse, numa Epoca.em que 6 espirito despdtico dow 110 Nrot0 conn caLRa EHPECTHCOOU DNERBUAADO M4 UMA SoCtEDA senhores de engenho ¢ barder do café queriam emtralizar em si todas as formas de organizacko, um elemento que precarou agrupat-se de mil maneiras, fugindo as formas tradicionais on institueionais de or- ganizagdo, etlando uma verdadeira rede de gnpos especificos. Di Colénia até nossos diss, podemos encentrar grupos negros com diversos objetives, Durante & ColGnia ¢ eravante predominow o regime eecravista, tetnos de deitacar os gruposquilombolas que do. minavam entradas ¢ dreas territoriais pondsrdves, demonstrande um capirito de luta incomum ¢ uma capacidade organizaciomal surpreen dente, Esses grupos podem ser encomrados dexie o Par até 0 Ri Grande do Sul, Infestando as matas, Fugindo para o seu recesso, perseguidos pelos capitdes-do-mato ou membros da milicia, esses grupos de ne- ‘eros fugidos foram uma constante na paisagers soeial do Brasil es- cravista. Mas ndo foi apenas 0 quilombola que s¢ organize. Meseo aiqueles que no cheguvam & decisdo extrema de fugir, também se teu iam, etlavam grupos de resistéacia nas senzalss, muitos deles apa- rentemenie com objetivos simplesmente religions ow de lazer, mas que funcionavam como mecanismos de distensdo psicoldgica contra 4 rigidez do regime de trabalho a que estavam submetidos. © batu- ques, multe comuns, por isto mesmo, serviam como panto de con- vergéncta dos grupos que rcelaboravam o¢ seus valores culturais ¢ tribaise durante a sua func&o restabeleciam a hierarquia antiga, frag~ mentada com € pelo cativero. Podemos dizer, por iso, a0 contrivio de Skidmore, que o ne- ‘ero brasileiro, tanto durante a escravidiio como posteriormente, ‘organizou-se de diversas formas, no sentide de se autopreservar tan to na situapio de escravo, como de elemento marginal apés 13 de Maio. E mais: néo apenas em um ou outro Estado, mas em todas as regides onde 4 escravidlo existiv, os grupos negros continuaram ‘exist, passado o periodo do regime escravista. Esses grupos espe- clficas pontilharam toda w trajetéria da exisiéncia do negro brasile ro, Queret negar isto, a titulo de justificar-se a escravidio brasileira como ““benigna”” (no # este 0 caso de Skidmore, diga-se de passa- gem) ea atual situayio do negro come de integeado na sociedade de ‘apitalisme dependente atual, 4 querer se escamotear a realidade so- sal, através de sofismas ja bastante desmascarados. Durante 4 excraviddo podemos constatar os seguintes tipos de -rupas especificas negros principais: x) de tazer: b)seligtoson; e) s0- cis; 4) econdmicos; ¢) de resist@ncia armada (ruilitares); () musicels; ‘2 mano cone connta socmugatcn ® by Intercruzados, Enses grupos serlam representados por uilombos, clubes conspirativos, candombiés, batuques, imandades religiosas, festas de refs do Congo, eaixas de alforrias, cantos, gru- os de capoeira, finalmente todos aqueles que foram organizados pelo negro escravo. Este processo de dinémica organizacionat continuo prolongou- se apds 2 Abolicao, em decorréncia do peneiramenta social a que fo ram submetidos os negros livres na socledade brenca. Poder set vis- tos como: confratias religiosas, associngbes recreativas, culturais © esportivas, centros de teligides afro-brasieiras ou populares, como ean- domblés, terreiros de macumba, xang6s, centsos dé umbanda/quirs- banda, paielangas, ecolas de samba, grupos teatrais ou politicas, como a Frente Negra, jd com um nivel de organizagio ¢ grau de ideologiza- ‘ed0-capazes de levd-los a participar de movimentos mais globalizado- res, Devemos salientar, também, como grupos espectficos, os diversos érgiios de imprensa negra que tlveram papel rlevante no sentido de dittundir © ethos desscs grupos, especialmente em Stio Paulo, (Osgrupos especificos mais esclarecides j4 tinham uma visto pro~ jetiva mais nitida do seu papel social, considerando-se parte de um segmento oprimido ¢ diseriminado que, por isto mesmo, somente atra- vés deuma saida que libertasse todas a5 camadas em situacio idénti- ¢4 teriaan 6 seu. problema retolvido. Em 1937 — no por acaso — a0 ser implantado o Estado Novo, ay associagdes nepras sofreram uma ‘campanha sistemtica de perseguigdo, o- que levou a que muitas sus- tassem as suas atividades, Com a chamada redemocratizagio apts a Sequnda Guerra Mundial, esses grupos se revitalizaram, deveada {destacar-se, no particular, cmbora com vida efémera, pelos objetivos aque perseguin o Comité Democrfitico Atro-Brasilelro, eriaco em 1543, tendo & sua frente Solano Trindade, Raimundo Souza Dantes. Ala- dir Custédio ¢ Corsino de Brito, § No sentido de dar uma visio dinamica 2c estudo do negro bra- tileiro & que propomos o esquema metodolégico que iremos expor em sepulda, porque nos parese que ométado meramente comparati voenireo negro brasiicira¢ as suas matrizes africanas, embora ten- do contribuido, em certa época ¢ de certa forma, para que se tivesse uma visio parcial do problema, leva 0 pesquisscor, inevitavel ¢ in- conscientemente, a criay ums nova escoldstica, onde tudo se ajusta por analogia ‘Aose ver um determinado fato no Brasil, igado a0 problema do negra, seja religioso, cultural, politico ow idenkégicn, recorre- se 4 Alsica até achas-+s outro formalment andloge s, a partir dal, faz.se uma ponte de relaglo entre os dois, O exagera desse método poderd levar o socidlogs ou anteopdloge acxplicagtes analéicas que nada tém de cientifieas, Por isto, achamos que tem razdo L.A. Costa Pinto quando -esereve: ‘A abundanto 6 variada = e também desiual — procugdo que resul tow de intereste atnotégico sabre © nega no Breall acrescentou ens Estudos de Mina Rodrguss lm snarrse eadgatro de "acbieiivenaies ‘atiicanias” que foram procuradas com atom todos os sotores.da vida {oclal deste Pals por uma geragh de eatidlones. Oeeta formaemans: am alguns estudos fundamentals © 308 mais importanten dentro ales eid inclidavelmente igado e noma do frofeaeor Arthur Ramos ¢ de ‘seu grupa de colaboraderas, qu ‘agul, sorvindo-se das mearna f afello por museus, unlversidadas ¢ Initutos euiopeus « nore americanes no corspio da Africa, nas Ania, nas ithas do Pact leo ‘2uno proprio Grail. Aquase toaligase dos astudoa des clentistas es feangelves sobre itusgss racial aso rllstom, uenbae ofa i mtg do “appvoech” etnopdtic, muttinicad pela contnpincia da Aiea de nchonatada Na rca, por dhievnean 980 2 au ¢ reauttam de dst dncise nectona Sr istancas sila gue ne caso des extudloves brat 900 3 ‘mais importaniaa(.) Acontace sesim que mullas vezse, 08 roSuNo8 dis relagdes de recaa — tudo fato que we estucia no capitulo da acu luragle, essing, acomodaglo ato. — dsompenham dentro da son- figutacto total tito mats uma tunes Go muoeorara natureza rel as isagtes concrates de que nistoricamente resultam, Inadvertide disto que 0 Bom-sonso de muitos desconcerte-c8 vendo apresontado <°- ‘mo “agorrodagde" 0 quo6 utoevdente do uma situapaa de conti, ° As palavras de L. A, Costa Pinto mostrar muito bem conto Ad necestidade de um esquema que modernize os métodes tradicio- nais de pesquisa do negro brasileiro, pois as casos extremos de com- parago demonstram como esse métode jé estd eagotad, superado ‘u, para usarinos a palavra empregada por Costa Pinio: démodé, Esies clentistas socials que andam perdidamenre & cata de ana~ logias cuiturais « socials poderdo encontrar paralelos, ao nivel de ine fluéncias reciprocas”, eatre:s favelas carioeas. paulstas cas Shanty ‘owns de Ghana: sto bairros miserdveis que existem na periferia das suas cidades, compostos de casebres infectos, choupanas de lata e ma- deira; ambas usam 0 mesipo material de construgio, no tém agua ¢ esgotos e alo habitadss por negros... ‘Ao invés de pesquisarem © concluirem sobre fatos e procestox sais relevantes da nossa situaedo racial, tomands 0 social como fun- damental ¢ o cultural como condicionado 6 decorrente, postura que ‘os levaria inevitavelmente a investigar problemas. como a margi- nnalizaglo do negro, o seu comportamento nas favelas, mocambos, corticos ¢ aingados; &situagao dos grupos negros em relacio as pos- sibilidades de mobilidade social vertical massiva; as ideologins bran- cease formas de barragem contra cles; sua situagao dante da sociedade inclusiva a partir do fim da escravidio; © aprovsitamento de tragos cculturals africanos como elementos fanclonais para que o negro nfo caisse em estado de anomia (otal; os movimenios de Fricgdo de diver- {40 grupos negros pauperizados, que procuraen abgis 0 leque das opor- tunidades na sociedade chamada branes, e outros assontcs relevantes, fleam adstritos a pesquisas e microandliset formais, de detalhes do ‘seu mundo religioto, separado do contexto social em que eles se ma- nifestaram e/ou manifestam, Debrugam-se, por isto, com rara perseveranga, sobre reminis- ceéncias da culinéria africana; a conexiio entre lendas e est6rias reco- Thidas no Brasil com aquelas que existiram ou existem na Africa « outras formas de paraletismo cultural de menor relevancia, Isto troure, como conseqliéncia, uma cigneia feita de fragmen- tos, sem um sistema interpretative capaz de ligar as diversas partes ‘a0 seu todo, a nko ser no plano de wna maior ou menor feminiscdy- cia que os grupos neyeos Brasileiros (8mm das suas culturas matrizes. Socldlogos e antropSlogos colocaram 0 tema do negro em uma mesa de necrotério, e-passaram a dissecA-to como se cle forse apenas um corpo morto a ser estudado nos seus minimos detalhes, para poste: rior diagnéstico da sua causa mort. Nao viram que esse problema era um componente vivo da $0» ciedade brasileira em seu desenvolvimento contraditorio, um dos seus mais complexos problemas, ¢ que caberia a0 soci6iogo, ou antropé logo, apresentar planos, projetos, sugestOes ou simples elementos di- nimicos de conhecimento 4 comunidade negra, em primeiro lugar, eas dreas interessadas om sotucionivlo, em segundo, para que o mes ‘mo fosse resolvido. Nada disto acontece ou acontece. O-resultado foi uma visio académica do problema, O negro. a partir dai, passou {ser analisado como se fosve a Drosophila melanogaster dos nossos cientistas sociais. Simples objeto de laboratério, cobain sociolégica, Para eles as implicagSes e relacioaamento entre 0 negro € 0s seus €5- tudos no vil além daquelas que existem entre a realidade estudada @ a verificacio da eficiencta das suas hipéteses de trabatho. Mas, enijunnio cxsu conreiducte académricae cristaizava como, ideologia dominante dos cientistas sociais que ctitavam @ negro bra- silciro, a populagéo negra procurava sobrcviver eexplicar o mundo, independentemente desses estudos ¢ pesquisas que nenhuraa influéne ‘ia exereeram no seu cotidiano, E é justamente partir da constata- <0 da existéncin desse potencial dindimico no negro e do seu poder ‘¢cupacidade de organizacdo e agrupamento que daboramos0o esque- ‘ma metodolbaico a ser apresentado em seguida, Tentaremos mostrar através de uma dicotomizaclo tipoldgien, o consido ¢a tajetéria Possivels desses grupos, 0 seu ritmo de desenvolvimento eas suas por- sibilidades organizacionais, Tentaremios mostrar, tatnibém, a suas Ii: inltagSes e @ ciclo evolutivo dos mesmos que, depois de um perlodo dc tempo vaciével, vo perdendo, total ou pascialmente, os elemen- tos de dinamismo intregrupal ca subideologin que os especifica, sen- do absorvidos ou adaptados & sociedade global Parecesnos caro-que, desta forma, paderemos compreender mes thor o papel desses grupos e, na medica do possivel, dinurnizar a seu cantetido func30 no sentido de fazé-os pélos de resistencia ao pro- sesso de compresséi « desagregare social, ceanmiiea ¢ cultural a que © negro brasileiro est sujeito. 2, Grupos especifiogs Quando nos referimos a um grupo ¢ diferenciados diferenciade numa sociedade de clas- 3, temos em vista uma unidade ‘organizacional que, por um motivo ou uma constelago de motivos ou racionalizagdes, ¢ diferenciado por outros que, no plano da inte- rapa, compiiem a sociedade. [sto é: constitui um grupo que, por uma aguigdo ao terreiro. ‘Nilo € por acaso que na quimbanda (também perseguida), Exu ‘consegue expandir todo o sew potencial de rebeldia e poder, trans- formando-se na sua divineade central e todo-poderasa. # na quimbanda, de fato, que ele se manifesta como simbolo de destruigha de tudo que 4 extabeleeide. Numa seitho de quimban- da, tudo 0 que esté recalcado (soctale sexualmente) vern tona @ Exu nko & apenas derpachado, rons se incorpora ¢ domins todos os cava Jos consserados « outras divindedes; caboclos, pretos velhos ete. E veniro da festa; tem uma visdo critica, irreverente ¢ anticonvencio- nal das cotsas, Exige, Blasfema, Diz palavides, Faz gests thos co- mo. indecentes Tivemos oportunidade de assistir a sessties de quimbanda em Sao Paulo e testemunhamos esse transbordamento liberitria trans. mitide por Exu aos presentes. Na Tenda Cacique Borord, todos of meses hi uma setio dé quimbanda. Segundo um dos seus freqlien- tadotes, nessas notes descem os “espiritos do inferno, espititos erra- dos. que muitas vezes trabalham para o maf”. ” De acorde com 0 bbabalad desce terreito, essas sestdes ‘sto de doutrinagto espiritual Com clas pretende-se colaborar para que esses espfritos enteem no saminho do berm”, 75 Low SWOLO LHERARIO: EX _ inh Embora notand-s, jd, nestas declaragies, elementos de repres- sto 4s manifestagdes dos Exus, ningutm pode contzoli-les quando descem, Vamos devcrever ume deseas sesrdes da Teada Cacique Bo- ord, de acordo com as nossas anotagdes feitas na época. No inicio, cantam um inico “‘ponio" para esses “espisitos so- fredores’’ que, pouco a pouco, vio balvando. Ao ‘baixar’, exigem {quese apagivem as huzese ve cubram as imagens das pasedes, Acendem- se Velas, os atebaques prosseguem em ritmo cada ver mais rapido, © cumprimento passa a ser diferente: batem trés veres com a rio no chil, Urram e gemem desesperadamente, retorcem-se. Riem as- trepitosamente, saltam, tombam, dizem palavrdes, Fumam apenas ci- garos © bebem continuatnente eachaga. Aueles que slo estéo- tomades (a maioria) entoam eantes mondtonos ¢ emi vor baika, Aproximamo-nos de urn Exu qué ¢st0 pingasvlo-velas nas mos, nos ombres © no peito, Perguntamos por que esté fazendo aquila — Porque nde preate, Neste momento outro Exv aproxima-se ¢ lhe di boa-noste, Res- ponde agressivamente: — Tu me conheces? Nao? Entda somo ¢ que vais dizando boa notte ‘quem no conheces? Outro Evu gue preseneiara a cena procura encarar © maleria- do, Aproxima-se dele, com uma cuia na mio, e ficam & se olhar em siléncio, Of prescntes observar-noy..Oque se aproximou, depoiy xtra ‘a0 rosto do outro toda acachaga que a cuis contiaha. 0 siléncio per- manese att que © agredido sai de lado ¢ diz: — Aqui néo posse fazer nada, mas te page nou lugar, seu Kdiote, ‘Quem rk poe altima Fi roeihon ‘Um Beu passa cantando: Ev eou beians, 1 sou Balano 4e terriro: eu sou balano, -4u S0u Delano fete, ‘Agora € wm que berra: 26 Phintra chegou, Z4 Piiinira chegou. Desenham varios “ipontos”” no chio, continuam dizendo pala vedes. O chet do terrsira reoshe Eni Giramunda, risca um “ponto! BR_ tino COMO GRUFO ESTECINCY GU BBNRENCIADO BM Wah SOGIEDADE. na entrada do terrciro co cobre depdivora. Coloca adle tete velox ras quais atira sete punhais que can espetades sucessivamente nos pés das sete velas. A meia-noite, ExuGiramundo toca fogo na pélvo- ‘a: ouve.se uma expleste, Diz que fer aquila para desmanchar wma. “*malwadeza que estiio querenda faze com um filho da tenda’’. De- pois olhou para todos ¢ cantou: — Eu sou Giramunde {a bela do Fo. Eu 808 Giramunde: ao pra pote que a8 part, ‘Aproximamo-nos de um Exu. Perguntamos: — como 6 sau nome? = Exu Batara, nsistimos: = Be onde vem? Ble: = Das caveinas do p90 tunco. Nos: = Onde Fes Inno? Ele: — Nuon hugar todo de tego, Nos: =U bom? Ble: Nao, usinmor oumenrines us Be: — Par que nto tage? = Trabaine-se, = Tom governs? Ele; — Hao a8! 0 que isto, Nos: —Tem um chete, um menda-chuva? = um homem tone, alte. Nés: —Posso tatar com ola? Ble — Nao sei, vou tanta Alasta-se de nds, comeca a fazer movimentos circulares. Volta depois de alguns minutos, com a voz completamente diferente, Amoxa em quem Exu Batard estava incorporade diz: — Eur sou Bxu Biczanini, que quer & mirn? ‘= Quoro marcar um ancentio com0ce, ‘Responde com a mesma entonatso: — Pols nao.na proxima sexciavaira,t3 daz hors, em quatquer encru zilnada 41m que voo8 eativer ox aperocerel. — Aparecerh como wok 4 no seu undo? Iguatsinns. Agora, até sexta foie ‘Yai embora sem dizer mais nada, sempre fatendo currupios. De repente Exu Batard se incorpora outri vez. Voltamos & interrog4.to: —Vood 6 Ex Batard? = Sou. Falou com o meu chete? = Falel A propésito, como ¢ sie? — Bum mogobentto, alto, torte, com Uma eapaprota, temo corpo Vor ‘mathe, chifros 6 um "abo. O resto #igualtinne a vacBs daaul Os trabaihos caminham para o s2u final. Os médiuns que nao extdo “tomados" fazer um circulo em. volta dos Exus, cantam ¢ assim todos eles vio abandonando os seus oavafas. © ultimo a ddesineorporat-te 0 Exu Buranini que baixara nochefe da tends, Pre: cisamente as duas horas da madragads terminsm as atividades. Por esta descrigio se-vé como, ni quimbanda, ao contrario do candomblé ¢ da umbanda, nllo hi nada que expreise uma rigidex hicrérquica copiada do mundo institucionalizade, Os valores da so- ciedade tradicional sko completamenic ignorados. priprio Exu Bb zanini, que estava incorporado no chefe da tenda, quando desafiado incorporet-se em outro cavalo para responder quem o interpetara. Hid uma liberagio de instintos, sentimentos € vontades quasc total. Quando se pergunta se, 1no seu mundo, hd governos, diz nfo saber 6 que isto significa. Finalmente, aceita todos os desafios, responde cceiticaniente As perguatas que [he sfo feltas, Nada respelta. * Do ponto de vista que nos interessa metodologicamente deve- mos salientar que mesmo nos grupos especificos negros hit uma dia léties intererupal conflitante, ume série de choques internos que n0s, letupos religiosos refletem-se em reelaboragtes de significados dos seus, doutes ¢ ituais, de acordo-com a4 mecanismos que determinaram © seu nivel de consciéncia soci ‘A quimbanda surge no interior da umbanda como manifesta: (bes das comtradigdes sociais, vem como elemento simbélica # com: pensador explasivo.¢ se expande no interior dos centros umbandistas que se vio insthtusionalizando, que se vito branqueando progressiva- ys efusecp ammenrAne eae mente. A ambivaléncia de Bem ¢ Mal se entrecruzt € nuitus veres rida de significado diante de um fata conereto. Hi uma reelabora- lo de valores, passando 0 que era mani a ser bom e vice-versa, refle- Xo da dualidade axioldgicn da sociedade abrangente. As eamadas proletarizadas, ou marginalizadas, que precisa “fechar © corpo” ante a agresséo permanente ¢ a violénsia da sosiedade competitiva, precisarn de um proteior também violento, capaz de imu niza-las das agresodes exicrlores ¢ permitis-Ihes a vtoria sobre os seus poderosos inimigos. Eu surge para eles como essa divindade protctora. Nao é mais lum auxiliar de 1f4 africano, ou auxitiar dos orixds dos candomblés baianos, mas uma entidade independente, supetior, Lodo-poderosa, polimorfae inveneivel, com poderes ilimitadas sem reservas no uso esses poderes, contanto que os seus protegidos sejamy salvos. ‘A quimbsnda, por isto, ¢ apresentada como linka negra € 08 donos dos centtos de umbanda quando pergumados por estranhos pela primeira vez, se trabalham com a quimbanda, negam 9 faio of respondem evasivamente, Somente depois que a pessoa se socializa a conversa fica mais Franca, embora tuitas vezes alguns desses ches fes comtinuem dizendo que mio gostam de ¢rabathar com Exus. Em algumas tendas de umbanda, segundo id observamos, Zé Pitintra (um Exu) esta prescote em imagens que variam de camanto, a0 lado direito do altar, Ha sempre duas velas acesas aos seus pés. Isto corresponde, segundo peasames, a uma penetragio sutl do mi do da quimbanda no mundo branqueado e j4 institucionalizado, le. galizado da umbanda, Se, conforme nos disse chefe da tenda Cacique Boror6, essas sessbes de quimbanda sho ‘de purifieagso”, com explicar-se a presenga de um Exw em plena functo da liturgia um: bandista ¢, alm disto, fazendo um aio de protesao para “‘desrran- char uma malvadeza que esto querendo fazer com um filho da ‘Convém notar, ainda, que, pelo que constatamos, so exa- tamente nos terreiros mais pobres que a imagem de Zé Pilintra se ens contra 10 local ja por n6s referido. Com isto, segundo pensarios, © negro procura incorporar ao seu mundo sofrido e desprotegida o sim- bolo rebelde dle Zé Pilintra, um Exu que & chumado todas as vezes -que hd um impasse nos negécios, saiide ou amor, para ser resolvido. ‘Nas pesquisas feitas em macumbas cariocas, Lapassade teve oportunidade de constatar que a quimbanda ¢ praticada exatamente naqueles locais mais aringidos pela miséria e, por isto mesmo, perse- suida pelas autoridades ¢ © aparctho repressivo do sistema, E que a quimbanda ainda ¢ o grunde leque de rebeldia das religibes negras Nea, através dos Exas, 0s segmentos marinalizados, expalsos do sis tema de produgiia, prosurar um combusthet ideoligico capaz de levd- los a sobreviver bioldgica ¢ socialmente, ime or it? Bao Lapatiade, levanindo 0 vis do featinen, firma; Estamos muito fonge do candombié sano. Em Swlvacor, Xu 4 des podide, através de uma cerimonia anteror, que as razes se desenncia ‘mullas horas aniee do candomblé dos sade, Exu b ervisdo pars of Geuses — ole 40 mansageito, atnlermadiro — 0, wa metre lomo, para bem fonge do tugar do cuita. k-secue so esas precaugbad n86 forem tomadas, Exu pode perturbar a cenménia a ponto de fata abor: lar. O eandomba, onldo, sa desarnbaraia dela toranido todos 8 cul dados que e seu poder wige. Mas Evundo 6 nunca colebe ado. 'No Pio, pelo contraro, segundo Edlvon Carneiro, na maior fdelidace 48 tadigdes aricanas quossenhecem atdangas de Ex,@ malor pice ridade 6 vedu nations, amodm composta de das partes. Agu Ee wort o re! do ritual. * ‘Convém aeresoemtar, porém, que of grupos esnecificos negros retigiasas, ou movimentos divergentes no seu proprio interior, como aquimbanda, apesar da grande influéncia social que exercem no seio ‘dos negros ¢ camadas de mesticos proletarizados nio desembocam hun em solugdes de contetido que transcende &s preipeis limitugdes da ideologia religioga, isto é, ndo se libertam do seu contedide aliens dor. Ao tempo em que exercem esta influéncia, atuam, em conte: partida, como forgasfrenadoras de wma conssidacia ditinicorradical dos seus componentes. Especialmente nas tendas de wnnbanda a su- bordinagdo dessa influéncia & ordem estabelecida ¢ cada vex: mais vi sivel. © elemento negro, inclusive, estd sendo descartado dos seus Gredos © cargos de lideranga ¢ prestigio. Por isto mesmo, em dado momento, deixam de refleti e projetar aquela solugtio adequada na- ‘208 problemas que surgem com a maior complexidade estrutural de tuma sociedade progressivamente conflitiva, para manter-se na pos ho de puardities da ordem, agrupendo os elementos oprimidos den- two de padrbes ¢ valotes da sociedade atual ¢ apresentanido, sempre, a solugdo magica para os seus problemas concretos, Esta dupla funcdo deve-se, de um lado, & necessidade destas ‘madas s¢ organizarem para se autodefenderem, mas, de outro, as mitagdes estruturais do toda a ideologia religiosa incapaz de abrir caminke cognitive até a perspectiva din&mico/ radical. ‘Tem raza, por ino, F, Engels quando escreve que: roms Ob MESEYECLA 438 A eligibo, una ver conatlufda, contém sempre uma matdes tradicle nai. Do meamo medo que, em todos es dominios ideolpIcos, a trad ‘$60 6 uma grande forga conservadora. Mas as tansformagGes-qua ae Produzem nesta matévia decorem de relngtas de clasa49, conseqien tomonte das felgdes seontmiens entre osherners que dic lugar 2s. {as transtomagGos, = Este ianpasse surge do prépric contetido limitado do fen meno religioso que supre o homem de win sucedinco ideoldgico capac de fazer com que ele se esqueca das suas necessidades concreias, mate riais e socials, ¢ da viabitidade de solucioné-as objetivamente. Por ‘esta 12240, mesma a quimbanda, com todo 0 seu potencial tibertério erelvindicante ¢ limitada por estu conteadipto estrutural do pensa- mento religiosoe suas manifestagdes, ficando com todaa-carga din mica no nivel do pensamenio migico ¢ cam sua forga limiteds as frontelias do simbdtico, 5, Fatores de Os fetores de resisiéncée dos tragos de cultura resisténcia africanos condicionam-se, portanto, & necessi- dade de serem usados pelos negros brasileiros no intuito de se autopreservarem social ¢ culturalmente, Somente den {ro de uma sociedade na qual os padrdes conflitantes se separam no apenas no nivel das classes em ehoque ou friccilo, mas, também, por barreiras estabelecidas contra segmentos que comparecem em diver+ ss estratos inferiorizados e discriminados por serem portadores de uma determinada marea, esses tragos podem ser aproveitados. Deou- tra forma, eles se teriam diluido por falta de funcionalidade na dini- mica soelal. As contradipGes internas inerentes & dindmica de uma sociedade competitiva, com a particularidade de haver saido do regi me cseravista, determisam, em dltima instincia, a preservagio-ou di Inigo dessa chamada reminiscéncia africana, Um exemplo disto ¢ a degeneresstncia do cuHo de If, “generalizade entre as tribos do Cfo da Guiné"* ”*¢ que aqui chegou na ‘'mais modesta das suas formas", aterpretando buzios, enquanto Exu —conforme jé vimos antes —, que era um auailiar na Africa, cresceu no Brasil como um simbolo libertador. E que. simboto de Exu, conforme j& analisamos, ters una representatividade libertéria muito maior no contexto social brasil Fo do que muitos orixds importantes no pantedo african. Por outro Jado, otros orixds passaram no Brasil a simbolizar proteyso a ativi- dades populares como Ogum, patrono das artes manuals, ou a exet- (t_oneno conto GRAD EXPECINO OW DIMENOADD {MUNA SOCLEBADE te profissBes tidas como preservatorits da vida, como Omulu, que passou a ser "0 médico dos pobres”. ”? ‘A barragem da sociedade compaitiva & interagio social do ne- gto eserave © posteriormeate livre cauiou — ao lado da trausnarisnra da eseravidto — a necessidads dele, wando elementos religiosas, ar- tisticas ou organizecionais, tribals, se onservas organizado, nao senda destruldo, assim, pelo processo de marginalizajSo ¢m curso, Tudo an quase tudo que negro escravo fez no Brasil, usando elementos das suas culturas macrizes, objetivava a.um fim social: preservar o csoravo e posteriormente o ex-escravo do conjunto de forcas opressi- vas existentes contra eles, Isto se realia através da criagho de valores sociais de sobrevivénela ou auto-afirmagSo capazes de municit-tos de elementos ideoldgicos e sociopsicolégicas apts & se eontraporem ast das classes dominantes ¢ segmentos brancos: racistas, ‘A drea de tensdo, ou melhor, as treas de tensaes ea insuficiente Irenja de interagao permitida go efemento negro # nao-brance ne Bre- Hil, que 08 colocam em um espago social muito restrite, sem possibil sdades de seinurgrarem soclalments auravés da mobilidade vertical em massa, leva-os @ s¢ preservar agrupando:se, isolada ou. semi-isola damente, embora cm diversos nivels de contato com a sociedade lobe Foi, assim, realizado um process de reelaborago dos valores africanos anteriores, a fim de que eles exercessem uma fungdo dialé- tea dentro-do novo contexto no qual se encontravam: em estado de inferiorizacto quase absoluta. Vemos, por ni, que elet se organiza. vam, formavam grupos (ou stgmentos) especifices, mantinham-se ¢ ‘ainda se mantém em grupos comuitrioa que o¢ unce através da hie- rarguizagdo lateageupal, conservando-os ligados As fontes matrizes ‘que Ihes servem de embasamento ideoldgico de compensasdo, Este aspecto do problema ¢ que nos parece pouco estudado ¢ pesauisado pelos socidlogos. antropélogos ¢ clentistas sociais brasi- leiros cm geral. Isto possivelmente se deva ao fato de que nas areas ‘em que os estuclos africanistas ¢ afro-brasileiros se desenvolvem com maior intensidade (especialmente Bahia ¢ Pernambuco) a fricyo en- ine as diversas camadat que compdem a sociedade abrangenie nio x¢ Cena desenvolvide com mutia agudeza, levando isto a que no se ‘omsidere de maior relevdneia o papel social desses grupos especifi 08. lito conduc a que se passe a ver © candombié e outros grupos almente retiioso de negros, mulatos emestigos em feral deniro de ume. redema parada, sem dinamisme intemo, sem contradigBes intra ¢ intergeupals ¢ com a sociedade competitiva ubrans gente, aceitando-se por isto, como seu elemento transformedor ape- ras a contarvagie (maior ov menor) da sua heranga cultural africana, Em outras palavras: sio folelorizados, Por que certos tragos das culturas afticanas desaparecem — sistimios em indagar — enquanto ouiros petmaneeem na sockedade brasileira, especialmente nos contingentes populacionais mais prole- tarizados? Esta pecgunta deverd levar-nos a um nivel de anise mais clevado do asiunto, saindo-se daquele, para nds ja supcrado, de vé- Jo através de fatores mais importantes no processo de troca (‘dar € tomar”) entre as culturas imptantadas ¢ as receptoras, como quer & antropologia tradicional, M4 outras causas muito mais relevanies que no foram levadas em conta, fato que podera deformsr a interpreta- qo do fendaieno. Uma dessas eausas 4, exatamente, 0 nivel de inte- gracto na nova sociedade dos clementas transplantados. Desta primeira anilise decorrerd a compreensio da fungte social dos cle- menios dessas culturas no novo habitat. No caso brasileiro, temos o exemplo da religiko maometana que veio para 0 Brasil com 03 negros islamizados ¢ 08 seus membros ust- ram os seus elementos explicativos do mundo, sua-cosmovisic, co- io forga social de unio dos escravas contra o cstatuto da escravidio que os Oprimia, Revniamse em candomblés de outras nares, no-sen- tido de criarem una unidade de pensamento necesséria 4 cinamiza- lo organizacional e i motivagio ideoldgica indispensdveis ao éxito dessas revoltas Escreve Vivaldo da Costa Lima: © processo “acultaliv” ante ob nogba jles ob dave ter ncantus ona Bahia pelocomeg aco edeulo Xixem movimentes derresiaténcta fntloacravisis, Os candombits eram, no comega do aéculo pansede, caniras de reuelda de nagts mals ou manos islamizedos qué ag vi- iam, como lejes, heugas, grumcis, tapas #08 descendentes dos-con- (908 6 angolas que né multe néo eram trazidos da costa. * Isto mostra como, em determinades momentos ¢ diante de po- tenciatidades deflagradas pela dinimica social antindmica, esses gru~ pos especificas nezros, depois de formados, nilo perdem a interagio ‘com a sociedade inclusiva e mantém, com ela, uma fricgdo idcoldgi ea permanente, que varia de grau, de acordo:com o respectivo nivel de antagonismo social. Mas, por outro lado, a superioridade econ6- ‘mica, cultural ¢ politica das classes dominantes e dos seus aparelhos de poder no particular, penetra cada vez mais nesses grupos, 0s quais, 4 _Ovmen0 COM> OAVPO RAPECITICO OHERIDCIADD WM UNA SOC) EDAOE, depois de um circuito vital muitas vezes iongo, entram em proceso ‘de degeneresctncia, isto ¢, de integracfo ideolégica com a sociedade slobal. Vio, assim, perdendo a sua expeoficidade. Ao mesmo tempo Que tal fendmeno aconteee, em outros niveis, divecios outros grupos sspecificos se formam ¢ articulam, frutosée outras contradigoes, ¢ re- ‘comegaim 0 ciclo. E uma interdependénciaintermiténcia dialética © por {sto mesmo contraditéria que se verifica mitre esses grupos € 4 socie- dade comperitiva que procura, a0 marginslizd-los secialmente, desor- ganizando ou branqueando esses grupos, tirardhet © seu papel de resisiéacia e transformi-los em spindice: das classes dominantes. Hié um intercruzamento.de Valores entre es8es BTupOS Negros € asociedade bance, terminando, quase sempre, ow pela sua dissolu- cio, ou por tum process de subordinasSodesses grupos, coondmica, Ideolégica ¢ cultural, 40s estratos dominanies de socledade, Acresce ‘ROA! que, nessé proceso, muitos membros dos grupos especificas em procesto de desintegragio ou brangueemento se destacam oxigin- do & manulenglo dos antigos valores neqros, travando-se uma uta ‘intragrupal muitas vezes intensa, ‘Até que ponto as instituirdes © grupos de pressio da sociedade global exereem influéacta sobre esses grupas especfficos negros ¢ até que ponto eles resistem como podem? Isto é assunto para pesquisas que mostrardo, em cada caso particular, como os negros nessa situa- ‘cdo usaram os seus valores culturais de origem para se fecharem ¢/ou Fesistirem, Por outro lado, hé a tendéncia, cad vex maior, das es- truturas de poder exigirem a insticucionalizagio destes grupos — es Pecialmente os religiosos — através de medidas reguladoras ¢ fiscali- aidoras. Até que ponto essa constelagllo de foxgas compressoras.e de sintegrativas contribui para a destruigio ou degradasao da funsio de sesistGncia social e cultural destes grupos, modificando-thés, inclusi- ve, © papel? Até que ponto essas medidas ado atingem prestigio dos seus dirigentes nos grupos religioves: candombiés, tendas de unt banda, ete,? Os status de prestigio dos seus dirigentes até que ponto ‘sho afetados infernamente por tcrem de obedecer a essas exigén- clas? As medidas fiscalizadoras — licengas, alvazds, ete. — no aba- larko 6 mundo mbgico do candomblé? Os status de prestiglo dos pais ¢ mdes-de-santo ndo teriam diminuldo com a interferéncia regulari- zadora por parte das instituigdes da sociedade de classe? Ou mio? Se- 14 que a repressiio policial, como havia antigamente, nio cra um clemento que produzia a solkdariedade grupal? Serd que u prépria mae gia nfio se consolidava & medida que cram necessdrias medidas miigi- SONI D4 RESTA Ut ‘as pare comibater-se 2s forcas costoras ¢ profanas da sociedade branca ‘que, através do sew apareltio de repressio, combatia 0 mundo mAi- ‘eo dos negros? Sera que atualmente os chefes de terreiros, a0 verem institucionalizadas as suas casas, nfo perdcram muito do papel todo- poderoso de sacerdotes, passando-a ser encarados coro meros admi- ‘nistradores das casas de culto? So perguntas que somente poder fer respondidas apés pesquisas que objetivem esclarecer 0 astunto, Pelo menos em Sao Paulo, segundo nossas pesquisas, os candomblés ¢ tendas de umbanda, ao s¢ registrarem na Delegacia de Costumes -¢ sexem obrigados a preparar alas, levar relatSrios periddicos das suas atividades, listas de sécios, ete. sofrem um desgaste de prestigio, no plano simbélico, muito grande ¢ bastante visivel, Multas vezes, co- mo vimes, por exemplo, no Candomblé Afro-Brasileira de Ogum, du mie-de-santo Elizabeth, em Sdo Miguel, eles niio tém condives intelectuais ¢ burocriticas para cumprir essas exignelas. Recorrem, por isto, muitas vezes, a elementos de fora do candomblé — para a execucio dessas tarefas — que passaim a ter uma importincia tio gran- de como a do pai-de-santo. no terreiro, Isto nao teria influéacia na estrutura do terreiro e no prestigio do sacerdote? Serd que a divisio nesses terreiros entre o sagrado ¢ 0 profano ¢ tho rigida que as:sacer dotes permanecem com o mesmo prestiglo apesar dessa interferén- cin? No haverd uma diminuioho de prestigio da mie-de-santo que, por exemplo, nllo reeorre mais a rituals migicos ¢ ao recurso di ile: falidade para funcionar, mas sujeita-se a todos os precanceltos exigh dos pelas autoridades como mancica de poder exercer ac suns funeses sagradas? E o# grins com a sua forga onde esti? E a forga magica do terreiro © da sua chefia espiritual onde ests? 76 ‘A primeira vez que, em Sao Carlos, interior de Sko Paula, fo- mos ao Centro de Umbanda Caboclo Viramundo, encontramos, ini- sialmente, certa resisténcia do seu chef, Geraldo, Depots dos pri- imeiros contatos, porém, ele nes informou que a sua tenda era arnais antiga daqucla cidade, funcionando hé vinte anos, Apesar da tenda ser freqentada precominantemente por pretos¢ mulatos, ele se mos- trava orgulhoso da *‘seguranga” que podia oferecer aos seus freqiien- tadores e visitantes. Mas, ndo era pela sua forgads sacerdote ou pelo poder magico dos cantos do Centro. Chamou-nos ao lado ¢ nos in- formou que podfamos freqUentar 0 terreiro com: tranquilidade por- que ele era muito amigo de iniineros policiais, tendo gatantida, por isto, a sua trangdilidade. Afirmou-nos, ainda, que muitos policiais 6 frequentavam, necessitando dos seus servicos. $0_oicto conto cauno ESeECIIco ol DirEMEUC IANO LA SOC DAE Isto que ele nos confidenciou nao podeia abslar a eonfianca ca fé dos seus freqitentadores? E nia estard af um dos motivos da forga de Exu no movimento guimbandista nia-insticueionalizado € perseguide? 6. Um exemplo 0 nascimento, desenvaivimenta e decadéncia de degradago das escolss de samba criocas devern sor e3- tudados verdo-as como grupas espec(ieas de resistencia negra, que foram, paulatinamente, atraves de uma inje- ‘4a de valores broncos no seu eentro {uo pedvers a consciéncia de sua espeelficidade} transformados, apenas, em grupos dlferenciados. ‘Os moradores des martes, desde o fim da essravidao, criaram linimeros grupos que se orgassizavam ern virios nvels, objetvando fins salente auto-sfirmasdo negra nessa competicio. Assim, o morro se aprescntara no asfalto. Os figurantes das diversas eseolas, durance ‘o carnaval, ao desfilarem, realizavam catarticamente o seu desejo de articipogao social, de inteprar-se e dominar a cidade branca, UM EXEUNLO De pecAADAEAO 10 Edison Cameiro, analisando.a sua origem, escreve acettadamen: te que: todas seas escoles, durante ocarntval,costumavam "éescer o mor- {o'"a finde tezar eveivgdae na Prags Onze, cantando sambaa al riéderningo # aa targatoira ‘powomeyo, uma uasdade are foe de batanas. 8 homens a jivam pllarnas do tras, macaeCes ou camisas Ge malaadios, Ochapou ‘de patha caido sobre os olnas, sem orders nem Bei? Simboticamente sem ordem nein lei, Eram, assim, 06 valores ne- ‘8105 — do negro marginalizade — que salar das 41eas.de marginall- Zagio ¢ miséria ¢ se integravam, durante a festa, na coletividade, ‘Yoltavam ao centro do sistema, adquirlary, de mods simbélico, 0 sta- dus negade. Como vernos, alegoricamente, ova s dominscio da cida- de pelos habitances do morro, através da sua organiza ¢ da sua Era o motto, & marginalidads, a miséria peritérica e ndo vista ‘pelo centro deliberante durante todo o ano, que vinka ocupar a trea ‘prance deciséria ¢ a dominava simbolicamente, ocupava 0s seus es- _pagos cimpunha a sua presenea. Todas aqueles que olfavam o negro ‘do morro coma desordeiro, viam-n6 otganizado; os que tinham co- mo analfabeto ¢ ignorante, ouviam © aceitavem os seus sambas- ‘eared, Finalmente, ee, através da organizacio que lhe custara sa nihos ap mundo negro que as ‘Além desses fatores basioos de degeneresctncla, ouiros surgi ram em niveis menos relevantes, como, por exemplo, x sua wilizag io pot artistas de eddio ¢ TV, empresdrios, denos de shows, politicos, ‘contraventotes, pregadores religiosox e cutns pessoas ou grupos que procuram tirar proveito aristico, comercial, publiitdio, eligioso ou politico das escolas. Excrevem, neste sentido, Franelsco Vasconcelos ¢ Mario Pedra: 58 donas de Bola, oulrora pecteguidos eamesqulnt aos, incharam {evaidade, 20 verom seus barrens, agore raniormados.em palaclos, Serom prouradoe com tanta Islaidnela got aQualasligutes dé prom Geradio,tove, stow, teatro, al gor misses 0 Galraciarne, ras Ser fare misses, por piotores, arquiletos, excullres « masmo historinde Fes da norneeds, que apatecem parécand que vem dar mais Cato © projegde ae agrornlagdos, colondo ala pelo seu patrménio eultur ‘quando, na veraade, vir em busca de grossa publicdade gratuita, ‘ules vezes até remunerade,contrarionde (ods essen ragren 40 ne {osio 16 gua por, propeaitazments ou ndo. contrbulneo 2ealora- Gamers para 9 desiiriuomento do verdadalro sama‘! Outras rardes que nko tém nada & ver com as motiv ages soeio- pticoldaicas ¢ eulturais que fizeram nasser as escotas de samba cario- cas esto transformando-as, paulalinamente, em apéndices da Rio- tur, € 08 negros esto sendo transformados, novamente, em objets paca divertimento do branco, Perdida aquela Fung inicial ée auto- afirmagte do negro do morto, forsin as eseolas de samba transfor rmadas em simples cepmentas diferenciacos, subalternizados a todos ‘os exquemas ¢ imposirdes institucionais, simples componentes do pro- arama oficial da cidade do Rio de Janeito Notas © referincias bibliogréficas * Sobre o que entensemas por funrdo fuzeraos nossas as seguintes paluveas de Radcliffe Brown, embora éucordando completamente da sus posted. NOTA MERBARNCAS MULIDGRAFICAS Lo de antropélogo que se destacou pelo exforgo de subordinay as conchustes da antropolopia aos interesses do Lmpério Buitanico, tertande aplcar essa iéncia A administrasito das populaydes nativas subordinadas ao colniae Hiemo inglés: "Mesito em usar o termo fungio que nos Ultieios Aas tem ‘ido tantas vezes usado mura infinidade de sentidos, muitos dos quais bas- tnte vagos. Em lugar de ser wado para ausiliar a farer distingBes, como: ‘sabe aos termos cientifices, € usado apora para confundir colsas que de: ‘las ser distinguidas. Porque ele tem sido emipregado, multas vezes, em lugar de palavras bastante comuns como ‘uso", inalidade” ¢ flo! Parece ser mals semato e conveniente, assim como m Talar do uso ou dos usos de wen machado ou estaca de cavar; osignificade de uma palavra ou simbolo; o fim de um ato de lesislago, em lugar de usar a palavea fupho pars evta coisas diversas. $Funpha"& Um terme td: rio bastante dtilem filosofiae, por analogia, o sev wo nessa clencia serla 1m mele milo corveniemle de expressar um importance conceitoem cltt- ia social. Segundo Durkheim e outros, eu defino a fungéo social come ‘modo de agir socialmente padionizado, ow modo de pensar em sua rela: ‘Ho A estrutura social, para cuja exsidncia e cantinuidade contribul. Ana- ogicamente, num organisino vivo, afungie fisioldgica da btida do cora- ‘pl0-on da secrecdo dos sueos gastricos & a sun relngho A estrutura orgéinica ‘cuja eisitncia ¢ coninuidade contribu. K neste sentide que lide com cok ‘m5 ais como & func sosial ds punigdo do-erime ov a Tinga secial €o8 ritos funerals dos héus de Andanan”, (RADCLIFrE-Baown. Sobre extn tura social. Soctologia, Sia Paulo, 4 (3): 229, 1942) ® SkipMone, Thomas B. © negrono Basle nos Estados Unidos. Argumen. fo, Sto Paulo, # (8); 25 et seq, 1974, 2 Sobre as instituigbes paralelas nos Estados Unidos ver Burd negro wriuing (1760-1839), seleced and tntrodueed by Dorothy Porn, Teacon Press, 1971, Attavés deste livzo de textas podemos ver 0 nivel de organagtio ¢ ‘inamismo desstsinetitulgdesparalelas regras nos Pstados Unidos duran te a escrovidao * Ramus, Arthur. © esplrito associative do negro brasileira, Revista do Ar duivo Municipal, Sto Paulo, 4? (4: 108.22, * Esse comitt formou-te na onda da chamada redemocratizayto de 1945. ‘© negro continuo se organizanda, destacando-se entre esses orzaniaedes araleles a Associagsa Cultural do Negro, en Sao Paulo. © golpe militar ‘de 1964, por seu turmo, cracimatizou essas organieapbes, assim como todo ‘9. movimento-demosratico ¢ popular do Brasil, Siguificativamence,o lt imo jornal dx imprensa negra regular encerra suas atividades 0 ine do szolpe, Depois disto, os grupos nesros tiveram dificuldades cada ver maio- Fee, até quando, em 197, deram uma virada radical e articularam wm ato contra a diseriminaglo racial nas eseadarias do Teatro Municipal de So Paulo, quando foi criado 0 Movimento Negeo Unificado Conera & Discs ‘minoglo Racial. Mas, dusante a diiadura, neahum grupo especifico negro teve aeesso ans Gngdos governamentals, expecislmente parn expr ¢ pre. {estar contra a vieléncia poticial, discriminacdo racial ¢ persegulcao pura {simples dos érgios derepressdc palo motivo itnico do cidadRo ser negro, $42 hao cou anno ssn netiies 0 OU TASIA DG UA BOCA “Costa Pinto, L. A. O negro no Rio de Janeiro, Sto Paulo, Nacioral, 158. p. 33 "Of, LANpeckeR, Weener S. Anilise funcional das relagées intergrupsis. Socioiopia, Sto Pauko, ¢ (3): 121 et seq, ‘942. "Bm conseqiéneia disto, quando afirmamer que esses grupos megros Halo epecifies(aiglows ougorn ovtror cbjethos central), no queremos er — conforme jd tion claro — que S40 vompostos somente de negra puros, na sua acepyto de antropologia fisice, mes, também, de pardos (rau Tatar, curtoces, caboeor), or quate, en ceasequtncia do conjanio des- tuagdes socials cm que esto imbricaces, se marcados como negrar pela Sociedade brane, , ao meshio tempo, recoahecem e aceltarn ums ete {otal ox parcial coq as vas matrizes afieaous, ou assimlaram os seu yor ct clturais mas reevantes. Desta ianeln, ex mulls cent ot deur banda, poderd néo existir esse recohecimeno em primeiro plano — nivel de consciéncia. expifcito — em conseyittncia de um proceso jé muito edian- tado de Brongueumento, embora dle esa 4e forma subjacente, Em Ou: 1108, (odavia,, esse reconhecimento consciente poderd existir, Quvimos, por temple, wo Centro Caboclo Vian, qucentudamos dursele dois sees, amtarem 0 sequinte ponto: == Aqui ¢ rode do nogre 88 186 Branco vier tera cipd. — Negro somente tabathando ‘branca somente olhends, © ptdprie chefe do centso — Geraldo — confessou-ime que “era de can dombie". No-entast,esclareceu-me, inellemante ‘no interior de So Past. Toto di para praticato”. Disse-me que ere eet (sie) nago"” ‘eqs ventia muito ter de irabalhar soisente com caboclos ¢0 Preto Velho. ‘Conwersumos, ¢ quando eu disse que havia extado na Africa e que re ha via polide informages sobre @ funcionamento de casas de religides de origem africana no Brasil, mostrou-se cético dizendo-me que ‘0s de Ino precisam saber de nada daqui, porque jA saber tudo’ ‘Sko exser grupos compostos por pessoas Que accltam, meumo de forma lula, as cas matrizes afticanas e eriam uma qubideologia grupal que enominamos espectficos. * Em 1938, Edison Carneiro fez uma peaquisa com quareata fibas-de-ranto cdo Engenho Velho, em Salvador, objetivando identificar 8 sua sitves30 social ¢ecomBmica fora do candomblé, Quanto as profissdes obteve os xe guintcs resultados: modistus 6; vendedoras ambulanies 16; domésticas 16. Enxcreve, concluindo, ea antopdlogo: “Profinsdes hurnides, eoeno-s6 ¥8 ‘As doméeticas incluiam no seu normete senoras cacadas oa amaviadas, ‘que se ocupavam pessoalmence dos servipos casciros, « empregadas pages, Moras UPTURN SIRLIOGEANCAS we aca cozinhar, lavar ¢ engomar, ao infimo reco que entlo 1¢ pagave na Babia — de 29 4 30 cruzcros por méé, se beta que com case e comida, At ‘Yendedoras ambulantes eam as mulheres de iabuleiro A cabeca que ven- lam acarajé, mungunzi, bananas etc., nas esquinas da cidade, ¢ es pou feat qurse estabeleceram com barracas tos mercidos piblleos Mi vendiaen Jato, as vsceras do bol. Nio se deve tomar a profi de mnodista = pros seg Carneiro — como profissiouslmente importante, Essasfilhas, bs ve- ‘es muito hdbeiy, tinh a wun freyuetia entre a gente pobsee sd rarare te coslam veatides de seda; afo-trabalhavam em atelers, mas ém cass, ¢ de encumenda, Dificikmente aleancavam uma rendt mensel de cem erureie *. (CARNEIRO, Edison. Candomblés de Bahia, Rio de Jansiro, Con- ‘uista, 1961. p, 120.) Era esse pessoal de profisshes chaenidas humilden (gue cOnsituia 0 total das filhas-dessento do candomblé pedquisado. No Evian, 0 SEU statis ua hicrarquia do candombié era dos mals importan- tes, Na linha feminina, dentso de grupo religous, ela 2 sentiam com urn ‘stoner de prestigio abalxo apends das miey-de-santo « darmds-pequena. Essa ualidade de stanus¢ de papas os membros do grup ba Sociedade global ‘eno candomblé explica, mum certa grau, a sua persisténcia no tempo ¢ 1 run vitalidade, 18 origem do Cube Flor de Malo, de Sto Carls, interior dé Sto Paulo, ‘como de quate todon do seu interog, fol a impessibidade da comuni fo nogra lovat ingressar em clubes ou em outras orgenizagies brancas, mn face dito, pols barragem era (coebo ¢ até hoje) acobertada pelos bran- 0s que alegavam seremo8 negros cachaceiros,arruaceiros, desordeiros, Ictnheiros as negras prosittas. O Flor de Maio foi anda, ema 1927, can regulamento quate asétiee. © nami flor queria dizer ue sone. ‘te agusies negros gue {ossemn flores Doderiam neleingreasar, Somente po- dia ter slo quem faise easado, rho 42 seltando asaociados amdgados, ‘Q clube realizou, por isto, uma série de casamentos, alguns em sua sede, de regron give querinm ser aécios mas viviom irregilarmente dentro dos Dadzbesjurldicos com as suas companheiras. Fundou, depois, uma escole primdrla ¢ fez funciona wn grupo tearal, tendo repieventado vérins pe: ‘as, Eies mesmos faziam ot cendrios, Concaguiram a doao de um tee ne « construiram, eer regime de mutirdo, a sede préprin do elube onde fun siomam. Ate hoje 4 socledade local v8 o clube através de una série de ra sionalizanSes negatives, ideologizando-o como wm antro de marginals © broititutas, que nod verdade. (Informactes prestadas a0 autor peloSr Benedito Guimardes, em 1977, quando ele en presidente do clube.) [Neste seid escteve Virginia Looe! Bleudo: “0 objetivo dos assoclados (tefere-ce a uma associagto de nepros)ece, em prinelto plano, 0 !a! faviem aurentado extaordinariamonts a procip#a, © suparprecute nave abuncente, Depols de allmantida a populagdo, are ‘idos oe gasloscololvos guaraedas emcelain as quanidados deo {inadas Be pecas damas colnetas, queras slestividades, ands so brave algo pera trocar por produios easenciele das populsgoes luse- braakelras-0 cartier nhidarsenteantievendeien do talema ecrnvis is élicstrado par ease contrasts entre orencimenic do tabalno done fo guanie lvs @ quando cativo. Er por er estravo# ho por amr, {ro que ale produzia pouce ® mal naz plantagtas # noe engenhos. Frabalho ecoperatvo de Pastarcs finha Um fitmoda prodvtvidade-muto falar do aus aguele que #e desenvolvia nos lititinctos escravistas; S euperlerdage da wgricuRura peimacina em reayde wo trabalho onersve fra facimerte wodtiobvel” Analisemos, agora, quais eram as relapbes de producto que ca racterizavam Palmares, Décio Freitas niais uma vez tem de ser cita- do, Diz ele que nia utos sobie.0 regime de proprindade da terra entre oo seni ea oes tte fro um todo. A plavelilidade da hipdtese provim, em primero lugar, o feo Go aus 0. negfs raziam da Aca um radia do pride Ge colotira da terra. Em segundo tugae, ume vex qué o sagotamant do eco arazdes-de seguranga dolonninavam periocicamente a mudengs fs toda 4 powoaghe para gutro aio, n4o tena sentiio a prapriadade prwwada da terra com todos 03 seus aiributes, como comers 8 vende, sucessdo ote, uma ‘A dupla verificagto de que Palmares se transformou em sociedade agrigola que produzia para toda a comunidade, leva-nos «4 outro nivel de reflexto, oes Quais as modificagdes estruturais significatives no interior da Repiiblica, wo passar de simples ajuniamento semindmade, de um pu- nhado de escravos, para uma repablica com teeritério fixada pela ne- Cessidade do produgdo agricola ¢ permanente para alimentar 2 coma. hidade ¢ de organizagdo de normas reguladoras capazes de dar orde- hnamento a etsa saciedade? Aléin da necessidade da formagto de um Estado ¢ de um governo, como vereatos depois, foi, tambem, neces- sdria a criagio de uma forca militar que resguardasse dos ataques de fora 8 produgio coletiva, a vida ¢ a scpuranca dos seus habitantes. Para acudir A seguranga de um mimero to considerdvel de nes soas ¢ um territério tho grande sempre ameugado, necessitavam de- seavolver uma técnica militar, estabeloce: um sistema defensivo efica2, BOREAL On cGONOMEA PALMAR 118 capaz de assegurar 0 sossego dos moradores. Para tal, a sociedade palmarins teve de admitir a constituico de um segmeato mlliar que 5 organizou como instituigdo, embora nas épocas de guerra toda 0 ove Fosse mobilized para lutar, Esse exército autmentou considera Velmente, Iniciaram-se as construydes defortificagdes, palicadas, pla taformas, fostas, estrepes, tudo visando a sua defess, Por outro le do, © sctorartesanal e metalirgico deve ter desviado grande parte das suas atividades para a fabricagdo de material bélico indispensivel pa- a que ose exército estivesse em condigbes operacionais tatafatériss todas as veves que a Republica fosse atucada. sat exército era comandado pele Ganga Mulgae bets armado, ‘embora, ua Ultima fase da resistencia, 0 seu eomando tenha pasado ‘nquestionavelmente para at ordens de Zumbi, que ficou come uma ‘espétie de comandante-shefe, Saas armas eram arcos, flechas, lary ‘as, (seas produzidas pelo seior ariesanal da Repiiblica ¢ armas de fogo tomadas das expedises primitivas, dos moradorts vizinhos, con Drasas daqucles com os quais os palmarinos mancinham relagdes pa- sificas © provavelmente também fabrkadas na propria Repiblica, Co- ‘mo vemos, Palmares, nara defender-se dos ataques inimigos, teve de dlrigir grande parte da sue economia para fins béicos e manter, tans- bbém, uma grande parte da sua populagéo produtiva em armas Evoluio segmento militar, por isto mesmo, adquirindo uma fun- co importante na frea de demiaio ¢ prestigio politico. Dal o apare- Cimento de uma espérie de casta militar. A guerra de movimento, 0 ‘movimento de guerrithas, sustentado por Outs quilombos menores fe que detam frutos tbo positives na tive militar da quilembagem ‘do pode ser continuada em Palmares. As guerrthas foram transfor- madas em operagdes de envergadura ¢, depois de realizadas, tinham uum local fixo para voltar. © nomadismo militar inicial dos patmari- nos, possivel numa sociedade recoletora, foi substituido pelo seden- tarismo ¢ pela luta de posigdes. A medicia que as atividades agricolas se desenvolviam, iam sendo, ao mesmo tempo, transformadas as té- ticas ¢técnicas militares para a defesa do patrimdnio coletiva, E, por outro lado, essa fragio ou seginento militar, adestrade para defen- der 0 patriménio coletive, que i revoltar-se contraa capitulacéo de ‘Ganga Zumba. Porque o exéreito de Palmares tinha esta caracteristi- ‘sa: ndo foi montado para defender nenhum tipo de propriedade pei- vada, mas para defender o patrimBnio de toda a comunidade, Dai tere insurgido, através de Zumi ¢ outros componentes do sezmen- to militar, contra a capitulago de Ganga Zumba que significava, em 14 S9C10.001A 06 REMUNLICH D6 PALMAR it a destruiske de toda essa estrutum comunitaria, Neste beri opecal edt at cima cr a aocnt oop apap neereaert cr ice smear ms unter nnen cine aces Este tipo de economia levard, também, a que nia se corporifir que um direito de propriedade definido everulanentada em ste. Os crimes que eram punidos severamente atravésce um tipo de direi- See a aces en pace feito. sem ne= 5. Organizagao familiar: 0 casamento ers nhuen ritual significativo, ou so poligamia e poliandria cat aenHoiah i contre jomento niio se encontram informacdes que exidenciem © contré fio. Por oat lad, Palmares repoducin,dento das yous Frode Jah, & deceptive on ropa era, So 1ue 05 senhores preferiam comprar, para os ta ta, hoe totter aelhers a tis orem dinate koere ido dover tes, i 2 grande massa de ca, eujo nimero era insignificante em relagdo- naira Sobre iabolcie si agroinddstria agucareira, Por este motivo 08 traficanies selcclonavam essa mercadorla humana de acordo com as preferéncias do mercado a vontade dos fazendeiros, Calcula-se ue pare cada mulher hava tts ou mals homens, com varias r= slonais. Este fata ird reftetir na compasiclo, per sexos, da populae (elo palmarina com desequilibrios evidentes na organizagio familiar Por isto, se os palmatinos mantivessem, nas suas fronteiras, 0 casamento monogdmico que 0s senhores.impunham nas suas fazen- dss, ou & promiscuidade também ali peemitida, haveria um desequi- ko na vide ulin «enol to aos ave drvartinlcto sil tera neds cos sverompt ds denen os tor ona ‘strutura social, Para resolver esse impasse de Importincta fundamen tal, 05 palmarinas foram obrigados « instituir dois tipos fundamen. tals de organizacio familiar. Um seria a familia poligama ¢ outro 2 familia poliandtica, Essa dupla organizagao familiar, surgida de causts que jé apon- tamos, isto, odesequillbrio da pepulagdo palmarina segundo 0 s¢x0, QADANRAGKO PenMLLAR: OLGAMI E ELLANDRIA ty elo equillsrar © conmpartamento don dois sexos ¢ ordenae soctakmsaie essa instintiga, No primciro caso, a poligamia seria praticada pelos membros Principals da estrutura de poder, Ito 6, acapa dominants, ore, mene bros do Consetho © possiveimente os chefes dos mocambos rerlam irelto a varias mulheres, cujo nimero nfo temos elementos part precisa, Um éocumento da época dizia que “o apetite ¢ a regra da sue ‘leigto" 0 que nido é verdade. Se isto acontevesse havetia confitor frmos muito grandes e niveis de desorganizaséo fam quilibrariam a normalidade da Republica ‘© tei Ganga Zumba tinha is mutheres, duas negras © uina mu Jata.e Zumbi teve mais de uma, havendo a hipdtese de que una dela cra branea. A instituisde da poligamin nesta capa dominante Eicon testdvel. Quanto 4 pessibilidade de Zum 8 hipétese no ¢ absurda, pois mui LUtutas conseguizam fugir para Palmazes, como forma de se livratens Ga discriminasdo a que estavam sujeitas na sociedade escravists, Alem isto muitas ‘‘mutheres e fithas donzelas" foram rapeadas pelos nev 4108 de Palmares, como resistra documento da énocs, ‘Mas, em cantrapartia, havia a familia poliindrica. Era a que fancionava de forma majoritaris. no conjunto da comutilade, se elas camadas que nfo tinham poder decisério nos assuntas impor. antes, mas partieipavam tm pé de igualdade com todos os membros a comunidade na producio ¢ no consumo. A poligamia ém todos Os Doves onde els exist sempre fol um privilfgo, isto, mesmo Sendo. lum diteito para todos, somente uqueles que possutem condisécs ma. mndmicas para uséto, 0 exercem, Em Palmares, no entanto, tanto um tipo de organicacto fami. lat como outro, surgiram em conseqiects das circunstanciay ope, siais que os seus habitantes no podiamn controlar em face de seo sins exernas: a desproporcdo gitane ene os sexas,conseqen, ‘ia da Imposicto des compradares de escravor no mescado hegre Daj a poliandria ter sido militares que mantinham a direcao da: sociedade, especialmente o rei, inham uma: ‘familia potigama, a0 contririo des outros segmentos ¢ ‘BTUpos Onde ria er8 a noreaa permanente Décio Freitas, 20 abordar 0 problem, escrere que: ara proserver sco4so socia nstivius2 6 easanento polidndice. Aa referOncias a eo0e tipo Gu ésaumente wg Indmaras, mas #8 ma twlnucloeas so at de um documents da 877 Sucade que um cecto Manuel inojesa — opatronimico aparece tar ‘bdm grafado como Jolosa —, aureadd axteminader de inches « de ne ares, grande proprietina dé terras # 0 scravos, aspirava apalso- fadamentea glia go ¢asiruir Palmares. Nease nite, apraserioy & Goroa virios plancs. Para colher infermaghes, infotiou vim 468 S848 fceavot em Palmares am troca de promenna oe aorta, © nego vl vou eclee on palmatinos pelo eepago de eels meres, para, altos, fugir tranemitir ao) amo 9 quanta via er Peinares” O cspido prestou plenas informagées ao seuarno e « mesmo dirigiu- s¢ a0 rei de Portugal com um relato dos costumes da Republica. Nio ‘se conhece 2 integra do documento enviado mas um recurs felte do ‘mesmo adorda o assunto que nos interetsa, ou seja, a peliandria de Palmares. Diz ele: aun 63d nagro que hogan go mecamo Nighdo do eau senor i> ‘90 6 oarido palo conseino de Justigs que tem que saber de auas ter- (9208 porque ake grandemente escort adss, nem 56 Nam 86 No fako ‘Je 1 negro que se apresente; que lants secertiticem Ges boas inten: ‘yén0 do nage que chaga Ihe d80 mulher a qual possuem juntos com ‘Sutras nagres, dole, rks, quatro # eines negroe, pols tando pouce smutheras acta fides da eesma rm ‘6m paz eharmonia, my ararmodo de fami, mas propo dos bécbaros ‘em as luzes do eetendiments # & vetgonha quia rllgito imps, gut {dos estas maridos no rocontmowm obedentes & mulher que tudo oF ‘denana vide come no traboiho; que cada wna dessas charadas far las 08 msloras, am condalno, ao uma data 6s ta pava que acultvem { In80.9 faz0m a mulher e os seus maridos... que & guerra aoodam to 08 nos Momentos de maior prediske, sem exceydo das muiheres Ue assas ocasives mais parecer loras que pessoas do seu sero, Visto como funcionava a familia poliandrica emi Palinares, c2- bbe wma indagagdo complementir, Terla havide um matriarcado em Palmares? Os mais importantes estudinsos do assunio acham que no, Mas Joaq im Ribcira, exagerando, amplianddo ou mesmo deforman- do os tracos possivelmente de um matritreado existente entre 0s ne- gros brasileiros, refore-se a um matriarcada africano em Palmares, partindo da afirmaedo de queo quilombo nio era urna expressito de uta contra a escravidilo. Para cle: ‘saquliombo je ented a gua verdad slonitieagso hietoilea) 4 uma res. ‘oto. contra 4 cultura dos broncos, contra 08 seus vson e costumes; é BELIOILG EM CASTA EACEREOTAL ot “arestauragte da volta iri atroegra nas plagas americanas;é ares suico do organieme polities tial: & 6 rated, sobretudo, ao cov {atichiarne barbaro.” Dai, para dle, a poliandiia de Palmares ¢ og seus vestigios no Nordeste serem foltos dessa ragressdo cultural, Afitma por ist Apellanata ds sterave negra 6 ums sabre vbncia do matiarcado oy ‘ania, € (ol esse Yeeiduo matrlarclista que faveroceu, através Gas rolagdes sexuals entre bancoy « nogras. a atenuagda da hula entre ‘senor © o aneravo.™ Nao hi duvida de que essa interpretacdo fantasiosa, que remete ia umm possivel restdua atdvico os sistemas organizacionals do mo- mento, especialmente das comunidades ¢ grupos oprimidos, basca- 08 na cudtur historia como Joaquim Ribeiro determina o sea método, poderd provar tude porque néo prova nada cientificamente. As ork. gens tanto da poligamia como da poliandria em Palmares sutsicam dda dindmica social interna da comunidades, da sua-composipao por sexo desequilibrada ¢ dat solupdes estruturals que os babitantes en- contraram para conseguir 0 seu equilibrio sexual ¢ social, © que no se pode aceitar é reduzit a dindmica social a simples regreseto cultu- ral, o que nfo faz sentido nem tem nenhuma possibilidade de expli- car a dindmica da sociedade que se formou 80 aivel de contestagio social como Palmares. 6. Rellgido sem Para a maioria dos esiudiosos de Palmares caste sacordotal asua religidioera formada por um sincretis- mo no qual entra o catolicismo popular ¢ srengas africanas, principalmente banto, Acrescentamos, agora, a in- ‘udncia das religiées indigenes que to bem se fundiram as religibes banto-em outros fugares, como na Bahia, dando inclusive desta. fu sto 0 chamado “‘candomblé de caboclo’’.** ‘Segundo Rocha Pitta cram “‘cristios cismaticos™ e explicava por que Isto mo seu entender era verdadeiro: De catétioos nto consaryaram jd outros sinais que-o da Santisaima Cruz, € algurbas oragBes mal epetiiee, e mescieday com outras palavras ¢ Ccarimonias poF eles inrentadas, Gu introcuridaa 444 suparatiqseg da, Sua Naoto; com que, 80 nBo eram idélatras, Bor sonaervarem & $0°- brace esiotton, eram clematiaas, porque a fetta ce Sacramentoa ede Minietros 2a ig'o}a, que oles ndo buscavam, pela sun etalldo,« pale soro0n DA MaHACh Be PAIMARES Npecdado doe costurres em que vam, repugnanhs aos pecettos de notse Relig Gatdtica, os exc vlado conabrcb, mio enurver9 de fie Edison Carneiro, no primeito trabalho fundanental de revisio histérica da Republics de Palmares, afirma que: ares) tinham uma rllgito hale oomenos somomant PoStee ts es onpies pa petrca le soe pos Daron 2 ‘que perienciam pelo trabatio da aculturagso nonore hatitet amet arto, No mmocambe do Macaca, peas ulm uma coyote, onge 08 poety- Queses encontraram (és imagens, usa do Mesing Jeaue, “muita perteite outa ds Senhora da Concaigéo, cutia dest80 Bray.) 03 pa marinoa Sacolhiam wm dos sous “mata dine” pa Ines serir de 6 cordote,esgaciaimente para 23 cerinénias do ballanc «do casaments, mae provevelmente taibém pea pedir favor celeste parses aus ar smas {._} Nd ara parmitida s axlsténcia de fetticoros no eullombo. ‘Carneiro refere-se, ainda, a uma danga que, segundo Basléss, ra praticada em conjunto ¢ que se protongava até a meia-noite, batendo-se com os pés no chito “com tanto estrépito que se podia ‘ouvir de muito longe™.”* : : ‘Purece-nos que esta ‘dana’ devia ver alguraa cerimbnia deri ‘vada das religides africanas e indigenas, pois tudo leva a crer que era ‘uma shanifestegdo-coletiva do mundo religioso da comunidade que senglobava, além de negroa que eran hegemdnicos, também membros de outras etnias que compunham a Republica, coma indies, mame- lucos, pardos« brancos. Pareve-nos que Edivon Cameiro yubestimou tum poico este elemento na andlise que fez das préskeasreligiosas de Palmares. Essa manifestagao coletiva de contato com 9 sebrenavural devia manifestar-se periodicamente, com datas ou tempo determina dos, ¢ deveria ter um significado de expiaeao ou de invocagao propi- ciatria A colheita e/ou & guerra. ; | ‘Aud hoje, segundo informacdes que conseguimos em Maceié, «em 1983, a populagdo de Unido dos Palmares acredita ouvir, de vez ‘em quando, esses batuques de negros no cimo da Serra da Barriga ‘Achamtios, por tudo isto, que a execugio do sugrado era prati- ‘camente comunitaria, Nao havia unig earreiza de sacerdote com ri- Cais iniciticos, com diversos nivel hierarquicos que garantissem 80 iniclado o monopétiodo segrado. Pelo contririo, Os feitiseiros eramn proibidos de agir em Palmares. Assim, a pritica religiosa, quando isto era nevessatio, era executada por pessoas escothidas ocasional- mente, of Mladinos mais expertos"”, que mo se identificavam com 0 sugrado através de ritos de Iniclaph, O-eventual prestisio adquirido B ESIUATHFICAPAO Ka RSPUNLICA durante 9 pritiea do culto desaparecia depois da sua realizacto. 0 ue se pods deduzir, das informagses que se tem, & que o¢ atos reli- ssiosos em Palmares cram uma comunhio coletiva com o sobrenatural. 7. Administraciio Nu parte da administragiio piblica po- @ est ti ao demos ver no cimo da pirfimide o rei que na Republica ‘exercia poderes quase absolutos, Em se- guida o Consciho, com os representan- tes dos chefes dos diversos quilombos (cidades), os quais decidiam de forma autéadma, nor seus respectivos redutos isoladamente, mas ¢%0 eonjunto quando o assunto envolvia problema de relevéincia pars 94 destinos ds Repiiblica, como a guerra ¢ 4 paz. A escoiha do rei era eletiva, Embora exercendo poderes quase abselutos (apenas con trolados peio Consetho nos casos mais importantes), em situages ex: Wwemas como traigdo havia a pena de morte para ele, como, por exemplo, no caso de Ganga Zumba, ‘Quanto 40 sistema monetério nto se tern noticias de uma moe da cunhada ¢ em cireulagao na Repiblica de Palmares. 0 comércio Pessoal © as trocas deveriam ser realizadas através do sistema de ¢s- cambo, pals assim como nilo se pode conceber uma sociedade sem troea, nip se pode também afirmar que deveria haver inoeda metati- a pare reatizar ess opcregdo, O-quic isto vem demonstrar & 0 reine cionamente comunitdrio ¢ pré-monetirio entre os seus membros. A {roca em especies deveria ser, ao que acreditamor, 0 costume de co- imercializagtio (se ¢ que assim poderfamos chamar tal operagiio) sem aexisténcia do lucro, Dal, talvez, nao haver necessidade de uma moeda que circulasse como equivalente geral ao valor de cada mercadoria, © problema da estratifieage social devia ser compleng ¢ o seu dinamismo através da mobilidade social he mnial ¢ vertical poderia ‘medir-se pela passagem de um membro ou grupo de umm estrata para ‘outte ou, horizontalmente, de um mocambe pera outro ou da Repi- blica para outro local, através da fuga. Do ponte de vista de mobili. dade vertical podemos citar, em primeiro lugar, © membro da Republica que era eleito rei, e, no outro pélo, 6 exemplo dos escra- vos da Repiblica que podiam ascender a0 nivel de membros livres ‘de Palmares se trouxessemn umn ou mais negros cativos para o nicieo Da mesma forma, parece-nos, as mulheres ascendiam sociaimente ‘quando ve casavam com algum chefe de quilombo ov comendante m2 _S00010008 O4 REFUICA OF PALER militar. Quenro aos jovens, néio temos nenhurea inormacio de qual- ‘quer ritual de passagem (quer para homens quer yjara mulseres) ou outra cerlménia iniclética para inzorpord-tos comunidad, embera indo descartemos a possibilidade de sua existéncia, pois es Funcio- avam sistematicamente mos grupos étnicos bante. O certo & que toda. dinitinica de estratificagao ¢ integrago s0- Call era feita a0 nivel de seguranca ¢-estabilidade os seus membros ‘¢segmentos em relagto & situagio de conjunto dacomunidade, fa- indo, por isto, de qualquer semelhanga.com 0s tigos de mobilidade existentes cm uma sociedads competitiva. Quanto ao nivel, tipo € intensidade de interigo ds comunic dude com moradores da regio ¢ com a estructura de poder colonial, podemos dividi-los basicamente em trés: a) interagde conflitva; b) in- teraco competitiva; c) interacao pacifica ‘0 conflito deve (er sido © mais freqiente © significative espe ‘calmente em nivel do enfrentamento militar com as tropa hola esas, portuguesas ¢ de mercendrios bandeirantes. Os choques m fares, as querrithas, as batalhas ¢ escaramuyas defensivas, as sortidas pata ooubo de viveres cssencinis¢ ndo-produzides em Paltuares, rap- to de negros ou mulheres, tudo isto foi uma constante neste nivel de interagio, © competitive seria caracterizado pelas relapses com morado- es locals, Havia, certamente, um pacto nio-formal(e possivelmente no em nivel de consciéncia) que neutralizava aparentemente 0 con- tedido das mesmas, através da troca de interesses ¢ 0 estabelecimento cde um escambo muitas vezes voluntirio, outras vezes compulsério para aqueles que nfo podiam defender-se da forga militar de Palmares Aquilo que Rocha Pitta chaniava ‘trocar cabedal pela honra!” 4a parte dos proprietirios locais, talvez exemplifique eite tipo de intera- $40, ou sea, uma relacdo competitive acobertada por um pacto de interewies. Bim outros casos, contudo, haveria um tipo de interasio pacifica entre pequenos proprietarios, camponeses pobres com 0s pal- marines ‘Quanto & intéracdo pacifica com as estruturas de poder colo- nial, parece-nos que foi cxcepcional endo caracteriza a elacionameato dos palmazinos com & sociedade abrangente, isto 6, as estruturas de poder coloniais. Podemos dar como exemplo disto apenas 0 envio de uma erabaixads em 1678 que fol 40 Recife parlarentar som 0 60- vernador da Capitania, o recém-nomeado Aires de Souza ¢ Castro, Na ocasido foi acordada a paz entre as autoridades colonials ¢ a PALMARIS UMA Naoko En FoRNACAO? He Repuiblicade Palmares, através dos seus re e . resentantes, tendo a s Embaltada sido recebida a nivel de representatividade plenipotencié. Na. O governador mando que fosse tomado por terme £8 detberagtos encaregoa urs gerginio-mot do Torco do : tomer do Tego do Hanique Dias, que satis ere escreva co s0gut para Palnarte on compe nae Ss aes pr comunat ns aru Gargazunta asco ee i ‘eh. auendo poi no ee tes, OftRamaie ath odo rel quero padi aay, oou romeo ay 8. Paimoros: em uma nai Aivel de simples reflexdo pretiminar uma inter- ©m forrnagiio? rogacio: teria sido Palmares uma macho em 7 formacto? Se nko tivesse sido destruida, ou ficdada permanentemente, a cemanidade palmarina teria dinamieme interna capar de cetruturar-se om nacionalidade? Antes de colocarmos alguns elementos tedricos para dar contl huidacle & nossa proposta, ow hipdtese, queremos dizer prelisniner. mente que mesmo aqueles autores que abordaram 0 S8Ninto ho Passado. jamais viram Palmares como uma unidade politiea com némnica propia, mas sempre viram Palmares como tm movisaeate divergent 4m relagia & nagdo brasileira ainda em formaco. Jamais faeratt uma anilise de duas unidaces parsielas que podiam, deseia, ‘am ¢ tiaham possitilidades de desenvolvei-se avtonomamente, Que. ‘ern dizer cm isto quc nlnguém procurouanalisar Palmares a partir das lis internas (econdmicas, soviais politicas) quc lhe davarn esta, bilidade, continuldade e dinamismo, mas sempre como um tertitério ‘de negros eexcescravos que haviam fugido as eis cconémicas, socials £ politicas da Colonia, estas, sins, aceitas como capazes de dar conti. fnuldade e desenvolvimento Aguile que se convencionou chamat a $9. Ciedade brasileira. Em razio dito, Euclides da Cunha via em Palmares uma “ grosseira odisséia"’, © mesmo fazendo Nina Rodrigues quando aafirma que foi um relevante servigo prestado pelos bandeirantes a sua Gestruisdo, elogiando a agio desses mereendrios 40 nivel de areuros dia nossa unidade nacional. Isa &, o zeferencial de normalidace era aaa d0 Brasil colonial. O patoiégico, a frugmentacdo dessa Mas, de um parimesro clentifico, esta perspective ch , Queremos coloear, no final deste capi _soctovogia BA REPUBLICA DE PALA {eve todas ou pelo menos as principais condigOes de ser uma nagile, Possivelmente independente, ott componente do pais que se forma- va, se esses chamados civilizados (os colonizadore) ake tivessem mobilizado contra ela todo 6 seu arsenal represior edetnaseemn a Re- publica palmatina desenvolver as suas instituigSes iaternas, as suas forgas produiivas ¢ aprimorar a sua dindmica eoadmica ¢ social pacificamente, Mas = histéria néo se faz sem contradigaes. Pelo con- tidrio. A contradigao fax parte imanente das leis sociolgicas que ce: terminam a dinamica ou retrocesso dos grupos, clasces, comunidades -e nagoes, Pot isto Pelmares fo! destruida. Nio por set uma ameaca a eivilizagio, come quer Nina Rodrigues, mas, pel» contrério, por ter sido uma amespa A sociedade escravista que a resteava, pelo sew cexemplo de eficiéncia organizasional, Um viajunte que aqui sstevecm 1871, Oscar Constatt, observe muito bem » problema ¢ escreveu ‘A prosperionde da repablice dos nepros proocupou no mais ako gray © governa, Os portugueses rosciveram por Isao porn tin, # no tar ecam a enviar tropas, ours total d 7 el hmneng contro o¢tomivae Palmarensee. Come se tins inmige #m malta po0CE Gon, M80 fol Julgado necessirio arma a forga com canhoee, @ xcorptola darota este dopressa mostrou aot portuguese que no hes: seria fila eangar odesignia viedo, 94 depcis de lvarem cand e abricem bre ha ns uth de Paloares kermadas de grossce ironces sbeep eon, foi quo a esisténcia desenpereda, que o8 palmarensas tinham ofére. ‘ido a6 ent6o, cegeu um pouee, @ permntiu aus por i 0s pontugue. ‘460 98 assenhoraassem da cidadela,”* © quedeve set destacado aqui équeo autor assinalou a prospe- fidade da Repdblica como a causa de sua destruigdo através de uma operagdo militar. De fato, nao cram as escaramucas dos negros pal marinas, rapto de escraves ou mulheres, que preocupavam 0 gover no, pols esse tipo de bandoleirismo era muito comum naquela época. ‘O que determinou, seguado pensamas, a empresa de destruir Palma. res foi, exatamente, 0 seu exemplo de uma economia alternativa, com ritmo de produtividadte maior do que a Colbnia, desafiando, com is- to, « outra economia (escravista) em confronto com 4 economia co- munitéria prasicada na Repablica. Poderfamos, por isto, considerar Palmares como uma naco.em Formagdo? © que éuma nugio na sua definigao cldssica? E uma co- ‘munidade estavel, historieamente formada, que tem sua origean na comunidade de lingua, de territério, de vida cconémica e conforma- Ho priquica que se manifesta em urna cultura comum, FARPARES HA ACAD EM FORNMAELON ws Neste nivel de raciocinio tedrico o que pensamos da Repiiblica te Palmares? Um movimento separatista que queria afastar-se da ne. 20 brasileira por motives fortuitos ¢ que deveria ser reincorporada 8 unidade nacional da qual fazia parte e, por isto, justificava-sey use a forga armida para esmagé-ae reparar 04 nossos brios patsiétioos? Neste purticular de nacto:dominada até hoje temos um exem bo elissico: e Irlanda do Norte est ‘condigo de ser ung . Evidentemente do ponta de vista historico e socolSgico as diferencas #30 imensas, Nilo queremos equiparar os dois exemplos, mas das nacionalidades sto esmagndos, Depols dessus consideragdes vamos aptesentar algunas razdes ‘us, supomos, podem iniciar a andlise do ponto de vista que suger. mos, No nivel de andlise tebri, Palmares corvespondia aos requiti- tos sociol6gices, politicos ¢ econdmicos suficientes para ser consi. Gerada uma nego em: formas? Porque — destaquemos este detathe — o Brasil, naguicle tem Bo, nfo era um pais independente, tendo, como nago, mais contra, icdes regionals polticas do que Palmares, Flu mesmo socidlogos ehistoriadares que consideram, até hoje, o Brasil uma nagio incon. bomas Brallcirs’, nfo Fatendo parte do curries. 2 Soe, Melion Werneck: A histérir da mprense no ral, Rio de Fane ro, Ciniizagao Brasileira, 1966, Passin, ® WasTIDE, Roger. A imprensa negra em Sio Paulo. Apud Bstudox afros srasleiras, Sto Paulo, Perspectiva, 1993. p. 131 et sea “Depoimento gravado em Lf de junho de 1975, 2 Fexnana, Miriam Nicolas. impronre negra em Sdo Paulo (Dissectasbo ‘de mestrado na USP), Mimcogrnfado, * Idem, tides. °0 lfiete, Sic Paulo, 3 se. 1918, ® Drepoimento gravado emi 15 de junho de 1995 ° Santos, Arlindo Veiga dos, Aos frentenegrines. A Vox de Reco, 18 set. 1933 2” FunBana, Miriam Nicolau. Op. ci dem, ibe ™ Depoltento gravado em 15 de junho de 1975, 1 Faem. » Idem. # Camano, Oswaldo de. A descoberte do fro. Sto Paulo, Ba, Populares, 1979, pe 30, nova de pé de pénina, IV Da insurgéncia negra ao escravismo tardio 1. Mademizag&o Estamos assinalando o centendtio da Abo- sem mudanga —_ liso do cscraviamo no Brasil. © fato leva a que possums estabelecer uma série de nf- Veis de reflexio sobre o que ocorreu em resultado da sia mudanga para o chumado trabalho livre, as aderéncias histdrieas, sociais ¢ cul- turais que permanecer em conseqiiéncia de quase auatrocentos anos de trabalho escravo © os entraves estruturais que ainda persistem na sociedade brasileira em decorrineia deste longo perlodo traumatizante da nossa histéria. Parece-nos que ha, de fato, umm atraso tedrico muito grande na andlise ¢interpretagao do sistema escravista no Brasil ¢, especialmente, ino detathamento das suas particularidades em rela¢o aos demais pai se6 da Aniériea. Arquitetamos um pensamente monalltico sobre as ‘economias que foram sriadas pelo mercantilisme ¢ pele colonialismo € nlo procuramos analisar, em cada caso particular, as suas singulae Sidades mais importantes. No caso brasileiro, a0 que nos parece, te= ‘mos uum conjunto de fatos que determinam ndo upenas a especificidacle de certos aspectos relevanies do modo de produso excravista no Brasil em relacdo eos outros paises da América, mas, também, em decor- réncia do seu longo tempo de duragio, a permanéncia de tracose res- tos a formacdo cscravista na estruura da sociedade brasiicira atual. ‘Comsideremos o set primeiroaspecto: # durago do escravisino 4té 0 ano de 1888, O significative ¢ relevante aqui ndo 4 apenss 0 tempo no seu sentido cronoldgico, mas as transformagées técnicas, socials ¢ eeondémicas que se operarim durante esse period ma socie- dade brasileira em decorréncia das modificagses que se reglstraram ‘ht economia mucdial da qual éramos dependentes, Do sistema colo- ial que determinou o perfil da pzimeira Fase do escravisono brasilel- Fo que vai até oano de 1850'c, posteriormente, de 1851 até 0 término do escravismo, modificagdes profundas s¢ verificaram ua economia mundial que passeu da fase da exportariio de mercadoria part a de ‘exportarfio de capitais. Os mecanismos reguladores ¢ o comportamen- To quer da economia interna, quer daquelas nagbes das quais éramos ependentes, também se modificarim. © fiaxo de capitais investidos no-Brasil em setores estrategicamente controladores da nossa exono- mia determinot a fase de modlernizagdo das cidades e das habitos dos brasileitos. Tudo aquilo que significava etvilizagdo no seu conceito do capitalismo eldssico era trazido de fors ¢ se lncorporava & nossa Sociedade civil (excluidos 03 escravos). ‘O proceso de modernieardo da tihima fase desta sociedade ¢s- cxavista era, por ebsas razdes, Injetedo. A teenologia era introduzide do exterior, os melos de comunicario mecanizavam-se, abriam-se ¢s- tradas de ferro em todo o territério nacional, o cabo subimarino era inaugurado, tfnhamos xfs de iluminag8o, teefone, bondes de traio animal, mas tudo isto superposto 2 uma estruturs traumatizada no seu dinamismo pela persisténcia de relagdes de produgdo escravistas, Era, portanto, una modernizagdo sem mudasy social. Eni otras palavras: as estruttvas basicas da sociedad brasileira ainda eram ague- Ins que procuravams manter e eternizar essas relagdes obsoletas, crian- do, com ito, ume contradicdo flagrante © progressiva com o desenvolvimento das Forgas produtivas que se dinamizavam, ‘Neste panorima geral podemos assinalar particularidades r ais. B niio apends regionais. mas também diferenciagdes de iv de prosperidade decadéncia em fungo das preferdacias dos nossos clientes do mercado internacional. Disto resultou uma complexidade tulto grande na caracterizagio das relagdes vocinis fundamentals do imedo de produsie escravista no Brasil. Eram zonas que floresciam, outras que entravam em decadéncia, algumas que estacionavam ou diversificavam a sua producio; finalmente, havia uma teia muito com. {Ben PURGE NEA Ao EXCRANINO TARDE plex de relagdes e interagSes que ctiava diferengas regionals ¢ dia- erdnicas. Mas, em toxlo esse proceavo de diferenciago ema coisa era patents: o trabalho eseravo. Quer na agroincstria canarieira do Nor- deste, ou nos. campos de algedio do Maranhio, nas churqueadas do Sul, nos canaviais da Bahia, na regido urbana de Salvidor e do Rio de Janeiro, nas fozendas de café pavlistas ¢ fluminenss, eu 8a pe- ‘evra, o eseravo negro era quem produzin, quem criata. Por outro Jado, as diversificacses regionals, que determinavam particularids- des na situagio do eseravo — escrave de ganko, eseravo deméstico, esetavo no eito agricola, eserava na minersciio, ete. — nto modifica Flo o essencial, Ele até podia possuir alguns objetos de uso pessoal, Poréra o que ele ndo tinha e no podia ter era.a posse do seu proprio corpo, que era proprisdade do seu senhar. Esta 6 condieao basica que se sobrepde aqualauer outra pact definis-se asituagdo de escrae vo, Isto é: um ser alienado da sua esséncia humane. E¢ a partir dn compreensio deste nivel extrema de dominacto ¢ alienagdo do um ser humano por outro que poderemos compreender os nivcis € 0 com- teiido social, politico ¢ psicoldgico da insurgéncia negra durante 0 pe ado escravista no Brasil ¢ a5 suas particularidades histdricas. Essa grande duragdo do escravismo no Brasil, de um lado, , de outro, as grandes traasformagées havidas nos interssses © com- portamento das nagbes centrais (modificayes internas © externas) cria ram contradicSes que vdo se acumulande © agudizando-se com © tempo, Podemos, por ito, dividir a escravid&o no Brasil em dois pe- Hlodos que se completam, mas ten caracterfstieas particulares, © pr thelro val da chegada a0 Brasil dos africanos em mimere significative corno eseravos aié Lei Eussbio de Queiroz que extingue o trifico hagreiro com a Africa, em 1850, E 0 periodo dos grandes piques do trabalho escravo no- Nordeste acucartiro, da mineragio ¢m Minas Gerais 2. Rasgos fundamentals. Nesse periodo podemos dizer que 8 seus rasgos fundamentals que © saracterizam si 05 s¢- gulntes: 1. Produgio exclusiva para ex- portago no mercado colonial, salvo produga de subsist@ncla pouco relevante. RASOS ROSAMERTAIS D0 WERAVIND HASLEO REND (rin) 25 2, Trifico de escravos de cariter internacional e trifico triangular co» mo clemenie medtador. 3, Subordinagio total da economia colonial & Motrépols impossi- bilidade deuma acumulacio prirnitiva do capital interno em nivel ‘que pudesse deserminar a passigem do escravismo ac capitalismo ndodependente Latiféndio escravista como forma fundamental de propriedade Legislacdo repressors contra os eseravos, violenta ¢ sem apelacio. (Os escravas lutam sozinhos, de forma ailva e radical, contra o ins- tituto da escravidao. sistema escravista consolida-sc nessa fase. O miimero de ¢3+ cravas eresce constantemente, A producto, através do trabalho es crava, cria um clima de fastigio da classe seahorial cos negros passam {ser 08 pes ¢ as miios dos senhores na expressdio de uen cronista da 4poca. Essa consolidagao do trabalho escrave reflete-se, por outro lado, naquilo que determinard esse fausto da classe senhorial: a si Imago de toial dominacte econdmica e exira-coondmica sobre 6 ele mento escraviaado, as condiges sub-humanas de tratamento, um sistema despotico de controle social e, finalmente, um aparetho de Estado voltado Tundamentalmente para defencier os direitos dos se nhores ¢ os seus privilégias. Esses senhores, donos de escravos ¢ de tetras, 580, a0 mesmo tempo, exportadores de tudo ou quase tudo © que se produzia no Brasil Para que isto pudesse ter éxito ¢ esse dinamismo nao entrasse ¢m colapso, criou-se 0 irdfico com a Africa que supria de novos bra- {705 aqueles que morriam ou exam inutilizados para o trabalho, Desta Forma, 9 fluxo permanente de alricanos permitia ao seahor nivels de exploragdo assombrosos ¢ uma margem de lucro- que propiciava # ma ulenglo de todo im aparate de Lixo e lazer sem precedentes. Esse fastigio tinha, porém, Interna ¢ externamente, fatores de deteriora ¢Ho continuos. O monopélio comercial du Metropole determinava um Alvel de teansagao mercantil unilateral, pois a parte compradora era quem estabelecia os pregos. Com isto, os senhores tinham de accitar quilo que les era imposto. Mas, por outro lado, 0 prego do escravo ‘era estabelecido praticamente pelos traficantes ou por intermedirios ddesses proprietarios de navios negreiros. Enquanto 0 trifies conse- ula equilibrar a demanda de novos bragos para a lavoura e outras tividades, as coisas se equivaliam e a apardacia de prosperidade con- tinua permanecia & superficie. Quando, poréms, por qualquer moti- v0, este desequilfbrio s¢ rompia, 8 seshores comegavasn & protestar contra aquilo que julgavam ser uma explorago unilateral conira eles. DA DRUNEPACA MONA Ao BSeRAUEINO TARO Por outro Indo, essa economia. nto peemitia @ scumulspao in- terna decapitais em nivel eapaz de poder-se dar um pisso de mucian- 4 econmica e social qualitative © que fossem transfornadas as Folagdes de produglio fundamentais, Com isto fisava stagnado o sew dinamismo intemo no nivel de repradgio continua do trabalho ¢:- crave quase quede maneira circular. © escravisma sriava 01 seus prd- prios mecanismos de estagnactio econbmica ¢ social. O latifindio ‘scravista era, por essas razdes, a forma funciamental senio.a dinica relevante de propricdade. Instala-se no Brasil, nucionilmente, o mo= do de producto escravista modem em. sua plenitude. Osniveis de repressaio nesse contexto eram totais, a fim de que ‘taxa de tucro do senhor nio fosse atingida. O trababio escravo-ga- alta, assim, proporedes exteemas de exploragdo. Fechaun-se todas as possibilidades de uma sosiedade na qual exististem mecarismos me- dladores dos conflitos das duas classes soclais fundamentals: eserae ‘vor ¢ senbores. 3. Slgnificado social £ nesta cstrutura que se manifests a ine da insurgéncia surgéncia do esctavo negro, Somente negro-escrava através da compreensio: da situacia sociale politica que economia escra- vista produzia, nesse periodo, em relacda.ae escravo, que paderemos reconhecer a sua importincia. Neste sentido, José Hondrio Redri- gues escreve que ‘A reboiia negra fol um problema na vida institucions! brasiteie, re: presentou un sacdlicio Imenso, vielentowo processahlsiérico ¢ org: ROU um dabate Miatorlegrafies, Com rwlagdo ao atstema oazravecrala, 1 raboiain nogra, insucrelgao racial, fol um processo eontinuo, perma ante ¢ndoespcrkdico, corn tex ver a hiatoriograta offal. G debate histocogrflcoretultou da inierpretagdo oficial do sistema eecravocrata, apregontads como tanda poy base a lagitimiéade ca propriedace 8 nao. 0 preconcelto da Inferorkiade racial, muito mais forte noa Kstadox Unidos, ‘A versdo de-um quadro paternal daca, ne qual a confraternizagéo ore- ‘dominoy sabre a animoaldade, expecialmente nae relagdes doméat ‘as, falearmente generalizac, subverteu a verdadeira infalighnvie do protaess.” Em decorréncia desss extrema explorasse do trabalto do sera vo, ¢ da sua conseqiiente rebeldia, surgiram os racioralizadores do SIONIHCABO SHdLAL DA INBIROCNEIA MEQROLRSERAYA 8) sistema, No particular, 08 dois nuiores sitematizadores desse pro- cesso Foram Antonil e Benci. E interessante notar que ambos s0-je- suitas ¢ procuram difundir uma ideologia através da qual o sistema sscravista podstia ser acionallzada, Nao pot motives altrustas « cris tos, mas, em iltima instdincia, objetivande maior produtividade do tssravo, mais tempo da sua vida itil © medidas capazes de imnpedir ‘sun fuga, Com at medidas por eles preconizadas poderia ser armor: tecido potencial de rebeldia do escravo negro contra o seu senhor. Expondo o seu pensamento, Antonit esceeve: 0 gue pertence as sustent, vestige # maderapae no trabalhe, claro ‘td que se Ines ndo deve negar, porque a quem serve deve 0 senor de jestiga dar suficiente allmanio; mezintas na doenga, e mode, com que decerlemenia se cubes, ¢ 9¢ visla, como pede estado de servo, ‘endo spavecendo quase nu pelss «use; adore também modorer 0 ser igo ce sorte que no aeja superior as Forgas dos quo traualhem, +4 ‘aver que poesam atwar ‘Antoni éexplicito nas suas Intengtes ¢ pondera quesse essas me- didas nfo fossem tomadas pelos senhores, 08 eseravos ‘ou a0 irko embore, fugindo para 2 mato} ov oe malarso por s|, come Gobtumam, tomande a resplragso ou anforcando-s0, ou procurArto th ‘tar 6 vide aoa que tha dde to ma, recorrendo (se for nacesséiio) a tes dlaboticas, ou clamarso de tal sorte @ Deus que os servird.? E insiste: 0 bom tratamento deveria ser concedido aos escrivos porque, em caso contrario, eles fugirto por uma vez para algum macambo no mata, ¢ 9@ forem apanhe dot podotd sor que so mslem al mesrnos, antes ques sender cheque ‘8 agoiléioe, ou qua slgum aeu parents tome a cua conta a vinganga 0 com faitiga, ov com venen0,* Bene] £ nai reffoado, mais teérico do que Antoni, mas chege As mesmas conclusBes, Referindo-se hs falias dos eseravos ¢ & neces sidade do senhor julgd-los com isensao firma: Nie tendo go's © servo castigo, come hd de fazer aus wortade? E quan do ainda nto shogun deapltfolalmenta o mado, porque o castige po- 8 saber bem: da mulls cantinuarse dale nasce outro Inconvenlsnte inde pequens. Porque sehende.6 esctsva que c senhor Ihe no passa ‘om claro faita alguma ¢-que Ihe nia valem padcianos; em chaganco 18 cometer aigum dette vendo que nic tem outro remédio para evitar ‘0¢ rigores de meame saahar, tome carta de wegure e fogs. [No entanto, tais medidas nudes foram aplicadas, pelo menos na primeira fase do escravisme brasileiro. Pelo contrério, a sindro~ 20a eUROENCIA MICA A 540 TARO amie do medo domina profuadamente a classe seahoral « condiclona ‘© su cOmportamente, A possivel revolta dos excraves estuva sempre em primeira plano quer das avtoridades, quer dos seshorts € do seu aparetho repressivo, No Nordeste, com a Reptiblica de Palmaies, esa sindrome se agua ¢ permanece durante quase um século. A luta Los ereravas da Serra da Barriga fot 0 centro de preocupagtes is Netropole © dos seahores de engenhos no apenasina Capitania de Periambuco & qual pertencia o territério emaneipaco, mas em toda a regio. Palmares converge, em pleno séevlo XVIE, para si at atengdesda Meteépale ras, masmo assim, assume proporeSes de wm ato-deresiténcia que no tevesimilar na América Latina. A vasta documentaclo que exis- tea respeito, especialmente de origem portuguesa (saberse, também, dda exist2ncia de documcatos em arquivos holandeses eitaliznos), bem demonstra.s preacupacso da Metrépole, fe ume lado, e, de outro, a imponiincia social, ecombmica militar de Paimares. Esta dicotomia bsica era.o motor do comportamento das duas stasses fundamentals do escravismo brasileiro. A preocupagio substantiva, portant, quer dos senhores quer das autoridades locais or da MetrOpole cea raster a coergiia econdmica e extra-econdmica através da qual se consegui- ria extrair todo 0 sobretrabalho do escravo, Por Isto, no sistema de trabalho escravo na sua plenitud o$ niveis de repressfio desp6ticos funcionavam constantemente ¢ faziam parte da normatidade do com- portamento dos dominadores, Nesse sistema de trabalho a racionatl- dade, ov melhor a racionalizapéo pretendida por Antoril e Benci nio podia funcionas. Conforme j4 dissemos, ao havia nenlur nivel de riediagd0 ea explorapio tinka de ser tated para que o senhor pudesse ter lueras compensadores, dentro da forma como era feita a dist ‘buicdo da renda no sistema colonial, A produgio interna esiava liens da a divisdo internacional do trabalho e isto impedia qualquer ossibilidade de wm comportamento que nao fosse o da absolute ex- ploracso. Marx dizis, por isto: oade aus 08 povos cule produyio se mova einda nas formas inter tesa atcravidt 8 a sorviddo Sto alraidos pelo mereads intemacio- ‘al dominado pete modo de producto capitatstae que em decortoe & vrenda dos seus produtos no estrangetio se toma 9 seu principal Terese, deed este momento.os horroewa do wobrotrabal, 6880 pi ‘deka da olvitzagdo-ver a0 juntar a barbéri da escravidBa # da servo, [Enguante a produgso, nos Estados de Sut a Unio Ammerieana, 67m pain ‘inaimente orip\da para a tals aGHo das necessidades imeciatas, 0 Irabalho dos neios represintava um cardler moderado « pairiarcal SI@MPICADO YoCEH. DA PRUEDPNCTA MHORO-EICRAVA UE ‘A masida, porém, que & exportagio do sigedte toinou-sa 0 Intareens, Estados, o negro Jol cobreceregade » consumagaio de bale toinouse pate IMegrante 4 um de progutos dois. Tratwvees da procugho da ralevalia 40 sméximo.* Isto pode ser aplicado perfeitamente ao escravismo brasileiro, Asestruturas de dominaro¢ os seusmecanismos estratégicos, tanto fem um caso como no outro, eram idéatices ¢ no podiam permitir que o-escrava fosse tratade a ndo ser como coisa, pois de outra for~ ite sistema nile Funcionaria de acordo com os seus objelivos. Por isto, dando continuidade A linha ideolépica de Antonil ¢ Besei, vamos encontrar, apés a Aboligdo, toda uma literatura que idesliza a escravidio no Brasil, criando vertentes hisidricas que de- fendem a sua benignidade. Como vemos ¢ todo um espectro de peit« samento que procifou antes racionakzar ¢ atualmente tenta roman- Haar, atravds de wirios argumentos, « Forma despética como existia a esctavidlo no Brasil exatamente nesse periods que vai da Coldnia até meadss do ‘Sogundo Império que as tevoltas de eseravos, assumindo diversas for- mas, contestam ¢ desgastam mais violentamentc osistema. A quilom- ‘bagem ¢ uma constante nacional ¢ acontece nesse perlodo de forma muito viotenta, A Gikima dessas insurreisies arquitetadas nessa fase € que fracassa ainda em projeto 4 em Salvador, em 1844, seis anos antes, portanto, da Lel Busdbio de Queiroz. Podemos constatar que onde hi o pique do eseravismo na sus primeira fase, hd, também, o pique de revoltas, Na fase colonial te- ‘mos Palmares, a que j4 nos referimos, ¢ 05 seus desdobramentos pos- teriores na regio nordestine que se prolongam até o século XIX, Em Minas Gerais, quando se chega ao auge da explora aurifera ¢ dia- manifera.o quilombo de Ambrdaio ¢ indmeros mais perturbam ¢ des- fgastam a harmonia socfal ¢ econdmica da regio. Ha, como podemnos ver, uma cortespondéncia entre o nivel de exploracto ea incidéncia ddessas revolias Palmares scomtece em um momento em-que o Nordeste estava no auge da produsto agucareira, fato que levou a Holanda & ocupar & re- ‘80 pura explord-la etn seu proveito. Em Minas, 6 Quilombo do Asi- bbedsio, que chegou a ter cetca de dee mil habitantes, fol destruldo em 17746 tamsbéen em um momento de prosperidade. No queremas estabe- lecer, potém, uma relagio mectinca entre os nivels de opressio e rebel- din, Mas podemos estabelecer uma linha de frequltncia no particular Bad wouratnees nace Ao tema. FANAI0 Convém particularizar, tanrbém, 0 tipo de ativilade desses es craves rebeldes na divislo téonics do trabalho. Os esaves que fut ram para Palmares estavam estruturados na agroindutria acucareira. ‘Ténas revoltas urbanas do séeulo XIX, em Salvador, » escava de ga: inho serio micteo dinamizader mais relevante. Por outro lado, come veremos oportunamente, na seguada fase da escravidio essa revoltas terao wm significado bem diferemte, quer em quantidade, quet em ni ‘Velde radicalizagto, Com excep dos quilombes serjipanos de 1870 2 1975, a revolts passive serd tipica do comsportamenio dos eseravos. 4. Prosporidade, Em contrapartida, ¢ exaiamente nos mo- escravidée e entes em Que Os escraves # revoltam que rebeldia as leis repressivas silo aprovadas ¢ executa- das. Ainda no ciclo de Palmares surge 0 Al- vvard de marco de 1741, mandando que fosse ferrado com um Fem sua espidua todo escravo fujgo encantrado em quilmbo, No siclo tmineico de revokas encontramos, além do bando de Gomes Freire de Andrade recomendando 0 cumprimenta do alvari daquele ana, 2 Carta Régia de 24 de fevereiro de 1731 que autoriaya o governa: dor de Minas Gerais a aplicar a pena de morte aos ¢scravos, ‘Finalmente, vem o ciclo das insurreigdes baianas. Em conseqién- cia, surge, em primeiro lugar, a cria¢io no Cédigo Criminal do In- pério, em 7 de janeiro de 1831, da figura juridica de insurreigdo em Telago as revoltas dos escravos. Para os cidadios livres que conspi- ravam contra a trangillidade publica a denominacdo seria de cons» pirapio ov zebetido. No artigo 113 do Cédigo era considerada in- surreiglo a reunio de ‘*vinte ou mais escraves para haverem a liber: dade pela forca’’. ” ‘Mas logo depois da insurreipdo escrava da capital baiana de 1835 éapeovada a Lel n’ 4, de 10 de junho daquele ano, acerea da punt ‘do dos escravos que matassem ou ferisser os seus sebhores. A inte- srca-da ici deve ser transcrita pare uma andlise do scu significado jurfdico © politic: A.RegSncla Parmanante eon Horna do Iinperadoc 0, Pedke Segunds tax ‘Sabor a todos 08 sidites do Impicio que 4 Aseembiéia Garal Legislat. ‘va Deoretou, Bla sancionou all seguinte: AML. 1? ~ Serdo punidos com pana-domorte os @8c7av08 ou #scraves, que matarem por qualquer ma ‘pela que 80), propiciarem vanano,ferirem gravements ov fizerem ou o.orsoasre econ ‘ra qualquer ofan teica any sonhor, aaua mulher, a desoandenten ‘ou ascencentes,qve om tua conpenhla mararem, ¢ eaminisirader, tore a6 seas aulnares que com elas corviveren. Se o ferimento ou ‘ofensa fica foram loves, 8 pen serd do apaiter 8 gropere&o das clr ‘cunatancias mais ov menos sgrarantes. Art. 2° — Acontecando agin {dos deltoe mascionados no Ar. 19, ode maurteigto @ qualque’ ula ‘omotida por posuoas exeravas, que exlba.s pana de mone, Navéed ‘unido eitrecrdnéia do Ju da Termo caso nanestejacm axerckio) ‘convocadupelo Juz de Divito, aquer leis acontacimenio werda Ine: lstament comunicades. Ant, S* — Os Juzes da Pat Wards jursdlggo Ccumialiva, em todo o Maniciol para precesearem tals dalton als a erdncia com a diligtncias lapse posterior, « piso dos dalirqien- tes, © consluléo quo soja stviaras a0 dls de Olt para este rasentaio 20 Jin, Sog0- Que estelareunido « equirte o8 meemos mos, Ar 4° — Em {ale dalton a impoaiGke da pena ce morte aera vehcida por dota ergos do mimare devotonse para aa utras pela malox ‘ia; 94 sentenca soforcondanatiris, es exeestara.em recurso algum, ‘At.8° — Ficam revogadas todasae Las, ecrotes amnala capo goon ‘en contiério. Dada ne Palio de Rio do Janeiro, aos 10-chae do més e Junho oe 1695, * Como podemos ver havia uma conexio entre a insurgéncia es crava (quilombagem) a legislacdo repressiva. Articulou-se uma Je aislagdo baseada na sindrome do medo criada pelos antagonismos esiruturais do escravisino e que atingfa a classe senhorial de forma 4 doformar-ihe 0 comportamento, As Tutas dos eseravos foram um clemento de desgaste permanente. Como podemos ver, se a8 cons- {antes jutas ndo chegaram ao nivel modificador da estrutura, eriando lum novo modelo de ordenaeao social, foram, no entanto, im moti- vo de permanente deseaste do sistema. Podemas dizer que exte des- aaste permanente apeesena-ce em irés nives principals: a) desgaste econdimico; b) desgaste politica: e) desgaste nsical ico. 5. O desgaste No primeiro nivel de desgaste devemos consi- BeONGMIeo — derar ofaiade que. escravo Fugido correspon- «ia a um patriménio subtrafdo ao senor. Mas, aldm disto, cra urn patrimOnio que produzia valor através do seu tr: balho, ¢ esse valor no-produzide também onerava 0 seu senor, pois além da perda fisica do eseravo cle perdia aquilo que deveria ser pro- duride durante 0 tempo ein que permanscia evadido, muitas vexes para o resto da vida. Além disto, devemos computar as despesas com a capttra, pagamento a capitlis-do-mato, recompensas a informan- (B_ba nesumcers RA AO RICE NENG TARBID tes, despesas com 0 tempo em que 0 escravo encontavasse «m prl- ses do Estado e muitns outras. Somase a todas ease rardes a des- valorizaco no mercado do valor do fugitiva, dificilmenteadquirivel or @uiro senhor & nto ser por baixo prevo. Esse desgaste econdmico, quendo podemos quaniticar, mas foi significative, onerava obviamente 0 custo de produglo, dai vermos, ‘constantemente, as queixas des seahares contra a fuga dos seus s- cravor, Jo Alipio Goulart, abordando apenas um dos aspestos do desgaste econdmice — 0 propo do escrava evadide —, afizma que: Nource tugidon cortavern ae nos nlthare, mutos nha, seek bau lomaados ou rbetrinhos. Representando Cada cabera datminado ve Jar monetd, toma-ae podshet ulin vlurmago casita! mpredutv, ‘coneentiede na popul ‘calhambotas esputhados pot estes brit fis, Calcutando © prego unitiic de cada wecrave, goto mod0, ¢m 1098000, valor corte durante large eepago de temps; conelserada fs Infoomagao de que apenasrnente nos Palmares concantraverns6 om Jarno de-60 000 tuples, onctukse que 86 aquele quiomnao represen: {oy eciirsto de capital Inoperanie da ordem de avis mil contoa de w8is (6.000-0008000), verdadelm tAbuta em dinheleo naquets apace. En 1abn- ‘Hea erdem de raciozinta, tase @-qulombo ce Trombstag, ne Parks {fe tnancelramente pobre e onde portal azo a inoldbvcin de weraves Hegtas folrelativamente oequema. Aquete quinoa, con seus 2 00 cir Inambolas representava uma imobilizaydo de capital da order do ie anlos conte dors (320008000), pals al, vo auger, 08 ahicancs fram vendidos, quando menos, por 1504000 a “cab. Assim @ aul fombo de Campo Grange, am Malo Groseo,« outros ave oglutinavn denenae, centenas, vazes ati mihares de Componentes. ” Mas, conforme jd dissemos, tise desgaste nfo s¢ limitava & per- «da do valor do escravo © do sew trabalho, Era muizo mais abrangen- te. Inchufa, tamixim, as despesas dos senbores ¢ do aparetho do Estado. Neste particular, as Clmaras sempre reclamavam falta de dinheiro everba para dar combate aos quifombolas. Por isto, os governos das provinciag ériavam verbas para premiar eaptores. Em 1852 hd uma resolugilo do presidente do Pari Brasil nessa tegunda fase do exeravismo, Eim Campos de Geitacazes, Estado do Rio de Faneito, os ssora- vos Fugitives incendiavam as fazendias numa atitude radical que ge- tou panico entre os-senhores. No dia 15 de agasto de 1877 mat festou-se o primeira incéndio em uma usina do Queimado. Seguiu-se um rasério de snistros provecadas pelos eecravor ovientadas neste sentido pelos atolicionistas. Segundo um historiador desse periodo: (© encarrogado te Incanciar 0 canavial exccutavs esse atentaso eam Faovio do que-gudeste 0 acusar de 0 ter filo, Um vide de Ooulos, uma lento, ra caloado erslugar andeconverginds os "aos sola Fi ‘cender a mecia ca weopara of posta, © Ax mesmas horas co dia ante: tot, estande 0 Incenao longe de lugs, © canal ea peta a chemas. Depois do primeiro incéndio néo param mais. Pelo contrécio. ‘Continuam com maior intensidude, Depoe lio Feydit: Em 14 60 jancizo do 1887, em Gunrulhos, foram incendiados os cana vials das fazendias 0 ustaas 8. Jo8o des ars, Linn & Bfarelra: uma fa. ‘Zenda Perna, do Si. Antonke Pévea, oulvos dois na Fazenda Abadi Sete clas dapoke 0 (ogo destrula no (roguasla de 8, Salvador um cane: lal do Sr. Ferrera Pinto, # 00 dia seguinte, auto, A 26.d@lanoivo 0 Sr, Bario-ce Miranda pordin devida @ incéndio um canavtal de 1 800 aera: than da agdearou 90 ealuas: a cide dépdis, 08 eanavials das lazer. {das co Sf, Manoel Coelho Batista Cabral ardiam. AAldm deosas fazerdns, a do Outelro,a 23 de anol, ado Sr, Sebaatiio do Ameida Rebello, tverem os eanaviate incendiades. Em 9 de feversire de 1887, a0 molo-la, arclar as canaa da Fazenda Vola: mais 08 cansiale na Fazenda Paraiso, pertancente a Guither- ne de Micanca © Siva, © também outs tbs na Tazeed do mtlox reap, Em margo, na troguasia do. S. Sebaati8o langariey fego a um canavist 420 Sr, J086 Pinto Passa, sando 0 neu prejvizo de 18 8 20 anodes aca uma.” Como podemes ver, era um estado de conilagragiio permancn- ‘te, que transcend ao simples protesto pacifico costumeico'na segunda fase da eseravidio, mas enveredava em um movimento de subleva- sho regional. © mesmo historiador afirma, ainda, contentando a si« ‘tuagio geal nesse periodo: 228_oA OUNGENCEA NEORA NO ICRA MD ARID Era uma devastagdo medonha; ea una lute tremenct; 0s Iazendelros ‘enchlam a¢ fazercas de capangns sob tflulo do agegacos e come ‘radas, fazlem reunioge, tendo em uma dela s}¢0 propisto eue ve com (prasse.ochete abolctonistaem Gampos 20 elena Gésesce se vondar ‘39 pagasee # quem 9 suprintsss, Podemos ver, pelo exposto, que em Campos havia urn desgaste ponderivel nz economis escravista daquela regio fuminense. Em- bora tenha sido uma manifestaco t6pica e jd sob a influencia ou div regio de abolicionistas radicais, 0 comportamenta dos excravos all demonstra como o desgaste econdmico produzido pea rebeldia ne= ura, em vétios niveis ¢ durante todo o tempo, no dev: ser desprezae do na andlise da importincia do seu comportamento de negaciio a0 sistema, 6. © desgaste politico No particular do dewaste politico, 4 quilombagem despertou na classe senhorial o recelo permanente ¢ agudo de propagasi de redeldia, «a insubmissio, da viol€ncia dos quilombolas das fazendas ou dos insurrctos urbanos. Isto porque as negros daram demonstracio na [pratica politica (deseartamos o conceive de mavimentos pré-paliticas) de que havin a possibilidade de ura solusin alternative possivel mes- ‘mono sistema escravista: « formagéo de unidades independentes nas quais o trabalho escravo néo era praticado, © exemplo-de Palmares 8 sua organizagao politica sempre-era visto-com aprecnsiio pelas au- toridades coloniaise imperiais, Durante a existéncia do Quilombo da Ambrasio, em Minas Gerais, 0 mesmo raciosinio se verificou, Sabie se que ali havia uma organizagao politica que ordenava a sua ezono- mia de modo comumitirio. Segundo se afirma havia ‘um modelo de ‘organizagto ¢ disciptina, de trabalho comunitério’’. Os negros cram ddivididos em grupos, ou setores ‘todos trabathando de acorde com a saa capacidade No Quilombo do Ambrésio praticava-se a pecudria, através de ‘campeiros ¢ criadores. A parte responsivel pela produgao agricola encatregava-se dos engenhos, da plantacao de cana ¢ fabricacdo de astiegr, aguardente, além de mandioca para fazer farinha e azeite co- mo produtos complementares Essa preocupagte politica das autoridades & mais vistvel alnds durante as insurreiges baianas do néculo XIX, Especialmente ma oy ‘A StuoRoME Da EDO Insurrsigilo dr 1835 encontramos um bem elaborade plano militar que ado fol totalmente enecatade pela antedipardo do movimento © uma caixa para finangas, através da qual eles conseguiain recursos finenesiros para angariar ou comprar alforria dos seus Heres. As prd- prlas autoridades da Provincia reconheceram o conteida politico do movimento. ‘Outta preocupagde das autoridades dos senhores era a slisn- a dos quilomboias ou insurretos negeos de um modo geral com ca: madas © grupos oprimidos da sociedade excravisia. Os palmarinos A lARgamente esse costume, © mesmo acontecendo em Mi- Nessa Capitania os quilombolas ligavam-se com freqQ ela wos faiseadores € aos contrabandistas de diamantes e ouro, com ‘les mentendo comércio clandestino. Em face dessa concordata, ot ‘contrabandistas prestavam servigos aos quilombolas, informando-os das medidas tomadas pelo aparelho repressor contra eles. Esse con- ‘nto dos negros fugidos ou aguilombados com outras camadas opri- midas, quer durante a Colénia, quer durante o Império, serd uma. sonstante preoeupasdo politica © mibtar das autoridades e da classe senhorial. 7. A sindrome Finalmente, o desgaste psicoldgico, Referimo- do medo ‘nos aquele sentimento sociopsicoidgico que de- nominamos de sindrome do medio e que foi responsivel pelo comportamento da classe senhorial durante toda a duragio do escravismo, O receio da insurreisio,, especialmente no pi cio periodo, criava um estado de pinico permanente. © “*perigo de Sdio Domingos” (repetidamente mencionado), as possivcis ligariies dos escravos brasileiros com os de outros paises, a provével articula- (¢80 cm nivel nacional dos escrayos rebeldes, a absesséo da violencia sexual contra mutheres brancas ou outras formas de insurgéncia, tudo isto Jevou a que 0 senhor de escravos se transformasse em um rneurdtico. ‘Uma verdadcira parandia apoderou-se dos membros da classe senhorial ¢ determinou o seu comportamento bisico em relacio as medidas repressivas contra os negros em geral. Na primeira fase, as autoridades colonials ¢ a classe seahorial usam de tods a brutalidade, Iegislando de forrna despética contra. eécravo, Isto vai dos alvards mandando ferrar éveravat a Kegislagto 242A Nuno Nean4 49 EseRAMN ZAR da pena de morte, do agoite, execucto suméris ‘sem welo algun” dos escravos rebeldes etc. Nessa fase nto hd nenhurm prwcesso deme~ dingo e a legislarho terrorista reflete essa sindrome de forma ans parents. Aliés, pera respaldar esse conjunto de medidas juries: ha todo um aparato de repressio brutal ¢ Jeral. Os escraws tém oseu direito de iocemocao praticamente impedico. Os tronca 0s pelts tahos, # gonitha, © bacaldau, & mascara de flandres, 0 vira-mand, 0 anjinho, o libambo, as placas de ferro com inscricBesinfamastes, as correntes, 03 grilhdes, as gargalbeiras, tudo isso formava 0 apace- tho de tortura ou aviltamento através do-qual as eis eraia executid as come medida de normalidade social A sindrome da medo das classes senhorisis tinha apoio mate: rial no grande niimero de escravos negros ¢ na possibilidade perm nente da sua rebeldia, Refletin uma ansiedade continuae, com 0, ‘ neccssidade de um aparelho de controle social despética, capar de ‘amagar, no primeiro sintoma de rebeldin, a possibilidado dessa mas- sa escrava se rebelar. Os senhores de escravas, por isto, especialmen- te os senhores de engenho, onde a massa negra era bem superior a branca ¢-0s meios de comunicacéo escasios, estavam senpre a pedir providensias acaureladoras ao govern, ‘Na Bahia, por exemplo, a classe senhorial vivie.angustiacla com ' possivel rebeldia dos seus escravos, Quantitativamente Spix ¢ Mar: thus, quando estiveram em Salvador, por volta de 1824, davam a se- suinte estatfseica populacional a qual bem demonstra a superioridade dos homens de sor sobre os brancos. Apolados em Balbi, davam, incluindo-se a Capitania de Sergipe, este quadro demogrifico: Bre0 98 192.00 fnos 33.000 Gonte wre Ge Govains 80000) Eectav09 4 COfenmne- 950g + 118.000 \ Negros escraves..--- 489000 sacoo Niogros foros...» 9000} 598000 Como se vé, para uma populagtio branca de 192 000 pessoas ha- via uria grande massa ndo-branca, inchiindo-se os [ndios, de 666 000 pessoas, A dexproportto-era gritante, Essa posicao de ansiedade da classe senharial se agucard diante da inquietagii da classe escrava. que ic levantara naquela regio a partir de 1807. Os cidadios ¢ senhores de escravos dirigtram-se cm 1814 diretamente ao rei expondoslhe o% seus temores. Comentando a situagéo canflitante s historiadora Ma- ria Beatriz Nizzn da Silva assim a expoe: ee, ee A Stuonoe 90 809 _2at 'Paro.o¢ sochoroe da Bahia leso nada tinna de imposales, pole a dee: roporpéo numérica eramutto grande entre brancos emulates, deum ‘indo, # n6pI08 do ulro, Pains lata de populag8o mandaes tar No. tempo do Conde da Ponte, antwcessor do Conde dos Arcos, st na cl ‘dade ae coleulara entre 24 a 27 naqrea pora cade nomem Drange ov ulate, Fora dela, u dasproporese aumentve: havie 408 angeanos, ‘caloulande-se 100 escravon por angenhio ®, nornéximo, 8 brancose par. dos em cada wm, De nada servis argumantar, como ee tina feito, que 8 rabelido ora Impoasivel por terem os negres da nacSes diterantes © ljmigas ere si, pots © que se verticara na inserrelgso eva atianga dos Ausshs aog Nagés, Colabar ote A.sindrome do medo nos senhores reflete-se nos termos de um ‘documento que enviaram ao rei. Vejamos: ‘Senhor, ‘Como male protundo respelto 0 Gorpo do Gomércto, ¢ main cldectos de praga da Babla chelos da malor aligdo vo tepresertar 8 V. A. ‘a horrorosa catdstiofa, @ atentades, que tém acontecida @ suplicar a ‘ronta previdtncia que axige 0 deplondvel oalado das cousas para & seguranga de aves video, honran, « fazendas E not6tie que hd para 4 anou ox negtok tantarn rebslar-te 0 mate to- dos 08 brancos, ¢ tendo nos anteriores felio 2investidas, agocn.4o ama: ‘hecer do cls 28 de feveceio em cat sncie pomente de ume iégua deat temos no Brasil 6 fabries todos 60 utensilios de Wis oidlnta, do ade paca cima, ¢ quase (odes os artigos de luro,u de hacessicsdo, (vse a siVinste at6 0 vestios cars, Cariamics inglera, os aitigos ingle. 5e3 da vidro, ferro a madalea, afo ido universsis cerio 08 panoe 10 # 28 tcid08 de sigod8o, A Gré-Brelanne tarnace av Graal os aeus ns vos a vaoor 8 avala. calgary 0 ofonahe as russ. Hluminwtne & 948 4 ckdades, constrdiiine as ferrovias, exaioradhe ax nines, ¢ 9 seater, ‘queiro, lavantadna as Hinh&s lelagriticas, iransports-tho us melas pos 3. constrOlihe as docas, motores, vagdes, numa padawra: vaste © fa2 ‘tude, mane alimantar o pove brasileeo, Nelson Werneck Sodré, comemtando esta realidade, afiema’ No infolo da segunde metade do e¢culo XP, roalmente, o Brasi! come (Ga.a emergir da prolongeds criss qua tires no Inic'o com adecadén- Gia da mineragéo, ainda no periodo colonial, A nocessidade eataa am aumontar a expontagdo, consenando a ebtruture vigerite, lato 6, umentéte produzindo a\ ‘aleparvblisade tor ‘a forga de trabalho, jé concentrada 6 adepteds 20 raplma eacravistn. O lator nogative, 4 pod, condlatia na aca die ponisiitade de recurses monetarios, Esta emergéncia no produr ruptura com a estntuta esceavis- (a, mas prolonga-a ¢ reajusta-a nos novos moeanismos internat ¢ ex- ‘ernos sempre na dirego de sujeigo progressiva ao eapital externo, Para se ter uma idéia do nivel de subatternizagéo econdinica do Brasil no final do escravismo tardio ¢ de como todos o¢ addulos e4- atégicos da noses economia dquela épocs encontram-se dominados pelo capital atienigena, vejanios 0 levantamento de Humberto Bas- ‘tos no fim do sdeulo XIX ESCONTRO Do RCRAMEMG TARDDO Cond CAPITAL MONGPOLISTA 392 Precisamente no fm do bnpéito varios consiatar que as vints tirmmas ‘males exportadoras de calé eran d@ origern aelrangolea, controlan- do.cutca de 70% cas expertagdes, como citarel a seguir: Arbukle Bro- ‘thers E.Johnaton & Gin, Levering & Gia, Hard Rand & Cla,,J. H.Doane £.01s, Philipps Brothers 8s, Wille Sahwmifnak & Cia, Gustav Thunske ‘& Gia, Norion Megaro & Gia, Andrew Mu & Cla., Kart Valols & Cie Berle Cla. Me Kine! & Cis., Max Nothmann & Cia., ©, 8, Nicholson ‘Cin. Prados & Fils. Comindieagdo nacional havia apenas duas gran {des frmas na praga do Alo de vaneiro; JF, de Lacards & Gia, «Zena Rames & Cia. 0 Bias links 6 moneptilo natural dapredugto aé-caé, © monopéilo comercial, porém, pertencla a fiamaa estrangelras. Ds mesma forma come 0 capital monopolista estrangeiro ab- sorve € domina a comerciatizagtio do cafe, monopoliza, igualmente, ainda em pleno regime escravista, todos os setores estratdgicos da nossa economia. Ainda é Humberto Bastos quem inform: ‘Num fonge perindo.que vai de 1088 « 1888, ndo.se registra em tarnitérlo beaslleo a fundagdo de tertea empresas necionals. Natamos isto air, ss tendapo da The Amazot Stean Navagation Ca, Lid., New Lengen ‘and Brazifan Bank Ltd, The Broganza Geld Mining Ltd, The Madeira fang Mamar¢ Railway, Te S80 Pedro Brazil Gls Co, Lid, The Penguy Gals Mining Ga, Wilsen Sane and Co. Lut, Tha Rio Grands do Sut Gold Mining Lic, The Gity of Santos Improvements Go. Lid,, The Gamnpos Syncleata Lid., The Rio de Janeieo Flour Mills ane Granarles Lic., Se. ‘iets Anonime du Alo do Janeiro, The Singee Manufseturing Co,, ta Nan Exploration Go. Ltd, B o-cncontro do cscravismo tardio com 0 capitalismo monopo- lista internacional estrangilando a possibilidade de wm desenvolvi- mento capitalista auldaome #0 Brasil 8. Encontro do Comisto ficam traumatizadas ¢ estrangu- escravismo tardio tadas as fontes de desenvolvimento capl- com 0 capital talista auténomo, A modernicepdo avan- monopolista a, 8 economia 9 regionaliza, a urbanl- zasdo se acentua, mas as relagdes esera- vistas ¢ as suas instituigties correspondentes, finalmente a extrutura social, conserva-se intoedvel no fundamental embora.jé com todos ‘as sintomas de decomposigo em face da sun incapacidade de dina- ‘mismo ecoabmico interna, Por outro lado, progride o estrangulamen- to das possibitidades de desenvolvimento capitelista nacional cm conseqiléncia da dominasio do capital das metrdpoles. Esse proces on meunencin NEGEA Jo WMA MD THRDID. $0 de decomposicdo val encontrar do ponto devista interno — uma saida para adiar a sux morte © seutralizar os gupos abolicionistas ue se formavam: a Guerra do Paraguai ‘O conflito resultou, de fato, dos interesses ngteses aa América 4o Sul, mau, internamente, jeri de anteparo idolégico para susiar 4 visto critica que ia st avolamando em relacio my trabalho escravo. Passou-se Invocar o brio patridtico de pave tolas a8 vezes que al- -guem ou tlgum grupo queria tocar no delicado issunto, Por outro lado, os escravos passaram ser recrutades emultas fugiran des seus senhores para se alistarem abjetivando alcangar a iberdade que Ihes a prometida, Ele ¢ também alforriado pele Império ¢ os chamados cexcravos da nago 680 incorporados i tropas braileiras. Os senho- 16s, por seu turno, para fugirem ao dever de se ineorporarem as (r0- as, envi ef seu higar escravos da sua propriedade em mimero de um, dois, 18s ¢ até mais. Com a deseecho quise total da classe senhoriat dos seus deveres nites, o exércio serdengrossado subs- tancialmente por exceavos negros (voluntdrios ou engalidas compel- Ssotiamente), capociras, negtos forros, mulatos dexocupados etc. A Leth? 1.101 de 20 de sciembro de 1880 (Antigo 5°, § 4%), €, depois, o Decreto n? 3.513, de 12 de setembro de (868, facultavam at substitulgdo do convocado ou reeruta por outza prssga ou pessoas ‘oy © pagamento de uma “indenizacto” ao governa. "Com isto, 0 Exdrcite que foi combater no Paraguai era predominaatemente ne- 270, Os negros eram enviados em grande mimero par a ha de freaee ¢ foram o$ grandes imoladees nas bataihas ali travadas. Por esta rae tio J. J. Chiavensto eseteve que: AAs conseqdBnciae de Quera do Paragual foram terivele para os re- ‘gros. Os mals fortes, em uma selog.b0 Que os tow do sito para 8 gue. ‘Os negrcs mortee somaram de 63: Cotojando-so pordm estimatiras de mitares brasieitos — Caxias In- huslvo ~ & marger da histoviogralia ofc} dos obsarvadoves eat. eiroe, dos prépiosallados argeatinos, chege-se com reiilva sopwana fem fofno de 90 rail pegron morfow na Guatia Go Paragual. Ma guar ‘em si, porque outros rihos miororam ae oSlora durante a tae 6@ treloamenta, de dleentetis, de maus-ratce nes trenaportes, © que desejamos destacar, em seguica, ¢ a diferenga da insur- séncis negra durante a primeira fnse do escravizma e na fase do et ‘revismo tarda. E também salicntar a mucanga de estratégia da classe senhorial em relagto & legislaco de controle social sobre 0 escrave «que foi praticamente invertida: de uma legisiacdo repressiva terraris- tae despética passou a producir uma lesisiacio provetora, CONG Po ESCAATISHN TABDIO cons CARTAN MONCROKIETA ME (Os sembores de escravos e suns estruturas de poder correspon: dentes, com a Guerra-do Paragaai, resolveram ou pelo menos adia- ram a solids da crise institucional que a eseravidto havia criado, apclando pari 0 patriotisma des aboticionistas ¢, do ponto de vista dda ideologia cial, encontraram oporiunidade de Brariguear a poy lap brasileira através do envio de grande quantidade de negros ps- a 05 campos de batatha, de onds a suamalorla nfo regiessou © muitos. ‘dos que voltarani foram reeseravizados. ‘Ao mesno tempo, o comportamento do negro escravo bem diferente daquite que proporcionou a formacto de Palmares, no sé- ‘culo XVI, e at insurreigdes baianas do século XIX. Nessa segunda, fase jh aio sc aprovetarn da guerra para se livrarem dos seus senho- res, como fizersi aqueles que iiem formar Palmares durante a oct ‘pacio holandeiz ou como aqueles negtos que durante @ lata pele indgpendéncia, na Bahia, fugiram pare as matas, escapando a0 con- trole dos seus senhores. Nao se-tim noticias de grandes movimentos de rebeldia escrava durante o periodo da guerra, B que a propria classe ‘evcrava jd estava parclalmente desarticulada, passare pot um proces- 0 de diferenciago muito grande quer na divisio-do trabalho quer 1a localizagdio dis suas atividades ¢, por estas ¢ outras cazdes, jd nko tinhs mals aquele erhos de rebeldia antiga, anestesiada (pelo menos pparclalmente) pelas medidas juridicas decretadas em seu favor, A rebeldiaescrava chega ao seu apogeu até primeira parte do século XIX. Em seguida & substituida por uma resisttncia passiva, rmuitas vezes organizada nie por eles bas por grupos iberais que pro- cura coloear 05 escravs dentro de padrdes nBo-contestatdrios 20 sistema, Nao € por acaso que um ane depots da Guerra do Paraguai $ promulgada a Lei do Vent. Livze quesdd Aqueles escravos descon tentes a espernnga dle que através de medidas Insivucionais 2 Aboli- ‘io chegaria, A classe senhorial manipula mecanismos repuladores novos ¢ arma urns estratéjia que consepue deslocar satilmente 0 fim do escravismo das lutas dos escravos para © Parlamento. ** Mas essa esteatégia aenhorial ¢ desenvolvida em cima de condi- ‘es econdmicas ¢ sociais muito particulares ¢ desfavoraveis. E que (© Bras, ao sair da guerra, ¢ ume nagdo completamente dependent eendividada, com compromissos aliensdores da nossa soberania que produaem descontentamenio ¢ inquictaro politica em diversos sep- ‘mentos sociais. Par isso procura manobrac, de um lado, provurando: inpedir ur confito mealor entre senores ¢eseravos,e, de outro, ten- ‘tendo saldar os seus compromissos financeiros internacionais assu midos durante © conflte, especialmente com og Rotsshild, Yon poURENe Nec no KSCHAVEMD TaRDIC A populactio escrava, por sew turmo, ssi considaardmente dl- minuida da Guerra do Paragual. Neo ttm mais 9 peo demogriifico dda primeira fase do excravismo. Por outro lado, o-apiclhe repressor s¢ refin pelo menos aparemiemente, os negros.eecrav9s esto menos -concentrades, a urbaabzasto ea meclerntsavdo prossspuenn, Tudo is +o diferencia ainds mais o excravo na diviaio tbenkea do trabalho, Seu ‘potencial de rebeldia 4e v8 bloqueado por todas casas rarBes, enquanto ‘© capital monopoliste consegue dominar aqueles setors erenémicos ‘que darto protseguimento & formas de um modelo dependence de capitalismo. ‘Apés a Guerra do Paraguaia escravide decomptinda-se social € economicamente nil apenas naquelas areas decadettes do Nordes- te, mas no centro mesmo daquelus de economia nowa.e ascend Se, de um lado, 08 eseravos ndo mais participavam de movi- smentos radicais armatos, de outro, na sltima fase de-eserevidao, a simples resisténcia passiva atuava como agente desartcuisdor e de sestruturadsr daquelst unidades evondmicas que ainda produziam ba- seadasexclusivamente no trabalho escrave. O movimento abolicionista £6 se articula nacionalmente em 1883, quando ¢ fundata a Confede- ‘apo Aboticiontsta. Esee movimento que teve diversas tlns ideoldgi- eas procurava, na verdade, extinguit a egcravidido, mas objetivava igualmente manter as eseravos que wbandonavam 0 trabaiho sob seu controle, Desses movimentos da Ultima fase do escravisme dois sto os mais signlffeativos: a atuacto dos Caifases ea extruturagso do Qui- Jombo do Jabaquara, ambos em Si0 Paulo, sendo que 0 segundo: um prolongamento do primeiro, ‘Os Capfuses, liderados por Ant@nio Bento, iniciama-se com um discurso radical, pregando através do seu Jornal A Redengdo a cman- ‘cipacdo dos escravos por quaisquer meios, inciusive 0 revoluciona~ rio. Mas jf n0 final a sua directo entra em. conciliagito com 08 fazendeitos, inclusive servindo de intermediria entre os escravos fu Bitivos ¢ 08 proprietatios das fazendas. Nao queremos negar que du ante algum tempo Anténio Bento tenha sido um elemento valioso para a desarticulagio clas relagdes escravistas nessa ultima fese. O que desejamos caracterizar e destacar & que dentro das eondigdes socials ¢ histériens em que. transis se realizava, com os pdlos de mudan- 198 jd dominados estrategicamente pelos agentes econdmicos externos —inslusive com a intradusio do irabalhador ¢sérangriro para subs- Usuir o negro —, nto havia possibilidades de que o discurso radical fosse posto em prética, Os negrosescravos no tinkam a hegerionia do ppracesso dé mudanga. Dai porque o prépric Anténio Bento ¢n- trou em centaio com fazendeiros paulistas que necessitavam de bri 0s para alavosra e-oferece-Ihes os préprios escravos fugit de ousras fazendas. Bueno de Andrada descreveu essa megociago nos seguin- tes termos: Aattnto Beato enveredou por um caminho revouciontelo male ova nl Combneu com sipuna lands, do qusls nav ja deepoven do a ras, para receborameecravosretredos de cutis Gonos, Casa Urabatnador acento reeabota see palrGweo alae ce 00 be © procesee, sem perturba completamente a levoura lberiou tuimes {turmas co encrarzndos einiresace muitos fazendokoa na Wa des noses Idélas, Fol ume bela idtia! Sobre essa soluclio encontrada pelos abolicionisias paulistas, Ro- bert Conrad escreve atte: Segundo este proprietéria, que candutiu alo mesmo os pr 4 Bento para negosiangbos, na cate da Anctigd mais de ur {azordae da provincia de Sto Pools jk eatavarn Sando tiabalhedas por “ebcravos" que haviam abandonado outras propredades. (.) P2/a 05 lantadores de caf, ¢ claro, wate arcanjo ora vantaloro, iA qs, 2 400 ov da, tave2 mesmo umaeseala temporéra de saldro, arenda snual io trabathador recentemente bertado ara mais.ou menos o equivalete ‘do velor de its scan do cath, vex umolavoda ova capwoldade poe utiva Como vemos, 0s escravos que fugiram através da proteyio dos (Catfases nao tiveram liberdade de vender a sua forea de trabalho de Forma independente, mas ela foi felta atravds de intermedidrios que sstabeleccram inclusive o valor do salir, Tudo isto estava subordi nado & conjuntura de transisio sem a participagdo em primeiso pla- no daquelas forgas sociais interestadas na mudanga radical Existiam, portant, mecanismos controladores da insurgéacia cicrava por parte dos préprios abolicionistas. B com isto 08 negros fugidos ficaram praticamente & mere® do protecionismo dos aboli- cionistas brancos. ‘Com 0-Quilombo do Jabaquara, prolongamento da atuacio dos Ciases, © mesmo acontecs. Ele também surge na ultima fase da cam- panka, organizado por politicos que eram contra 0 institute da es- cravidio, mas, a0 mestbo tempo, tinkam reseto de uma radicalizagio independente da grande massa de negros fugidos das fazendas de ca- (8, Por isto mesmo teve particularidades em relario acs quilembos ue.e organizaram na primeira fase do escravismo, Uma delas ¢ que 2a_DA RCRA NORA Ao FECRAMIBIO TARDD cle nfo sungit lenta € expontaneanente, como acontect: com o& qui Jombos da primeira fase e era criaro dos quilombolasem contronto com. a sociedade escravista na seuconjunto. Foi, ao contnicio, orga nizado por um grupo de abolicionistas que tinkam otjetivas muito -clarose metas bem delimitadas. Or excravos evadidos tiverat, no cue $0, portanto, um papel passive no processo. O seu lider, por outro lado ( talvez por isto mesmo) foi 0 ex-escravo sergépano Quintino de Laverda que nao suraiu de oma iuta independente dos escravos até conseguir peta confianga gerala sua chefia, mas foi ndicado pelo xgiupo organizador de abolicionistas moderades. Como vemos, 0 qui- Jombo teve a sua formacio subordinada as peculiaridaces concilia.é- ris da \deologia aboticionista ¢ ndo as Lutas dos propsios escravos. ‘A chegada de ondas sucessivas de catives a Santos, vindos de diversas regides da Provincia e que ali s¢ refugiavam, levou os aboli cionistas dsquela cidade paulista a tomarem uma posicio prética no sentido de organizé-1os convenientemente. fm 1882, por iniciativa de Xavier Pinheiro, realizou-se uma reuniso desses aboliionistas para decidirem o destino que poderiam dar as centenas de negros que che- gavam diariamente iquela cidade Feita uma coieta entre eles para 2 organizario de um quilor- bo, conseguiu-se “num abrir e fochar de othos"’ duzentos homens ar: mados. Quintino de Lacesda foi escolhido chefe do quilombo ¢ elemento de ligacdo entre os negros da reduto ¢ os abolicionistas da cidade. Os abolicionistas escolheram, também, 0 local do quilombo: ‘uma érea ainda em estado primitive, eaberta de matos e cortada de riachos”. ** Segundo um historiador da cidade de Santas a esco~ Iha de Quintino de Lacerda para ehefe do quilombo deveu-se & ne- ‘cescidade de um Ider que “os mantivesse (08 negros fugidos) em ordem -¢ arrefecesse os seus impetos naturais e compreensiveis”. 7” Como vemos, © quilombo fol organizade como mecanismo controlador de um possivel radicalismo no comportamente dos negros fugidos. Esse quilombo, somo vemos, era bem diferente de quantos se formaram na primeire fase da escravidito, Os abolicionistas procura- ‘vam tirar os escravos das fazendas, mas no permitiam que eles se ‘organizassemn sem a mediagho do seu podor de dicgo sobre eles, Era portance uma solusio intermedidria. que subordinava os eseravos fu- aidos ds correntes abolictonistas Daf terem surgido, dentro desse conjunto de forras, contradi- Des e divergéncias quanto ao tratamento que deveria ser dado a es- ses negeos. Joaquim Xavier Pinheiro, abolisionista ¢ inspirador da SPIRO £ ReeRAVOE EM LUTAS PARALILA 8 fandlacto do quilombo, embora bo seu inicio tena ajudado eom di- nheiro 0 movimento, explorou posteriormente o trabalho dos quilom bolas em proveito proprio, Possuidor de uma caielra, empregava os scravos refugiados no Jabaquare sem remaneracdo na sua empresa, atroco de comida ¢ esconderijo. Os demais abolicionistas sabiam do fato mas fingiam ignor4-to, pois, para eles, a sua conttibuigto a cau sm justificava squele procedimenio, ‘Sem acesso A terra, © negro.se marginalizow nacionalmente de- pois da Aboligio. Em relagio ao Nordeste, Manoel Correta de An- deade esereve com acerto que: ‘A Aboligte, apesar de for sido-ama medisa revelucionéra, de ve2 que ‘tingly om chosa0 dirolto de propriedde, negando indunlzagdo aos de> ‘sapropriades, nBo tendo sido complementada por medkiae que demo- cralizassomo acedo d proprisdada datona, nbs provocou modifiongsa8 substanciale nas estraturas existentes, As mesmas familias, ow m ‘mo grupos dominantes continuaram a dingira economia da dren agur care, apanas substitulnds ©aue om parte Mavis feito, 0 uso da mdo-decobra escrava pelo uso da mso-decdra assalariada. Os mecanismos selerores ¢ discriminadores foram os mesmos, Tanto no Nordeste quanto nas demais regives. Como vemos, a rebeldia negra, na fase conclusive da Abolisio, ficou subordinada Aquelas foreas abolicionistas moderadas que pro- curaram subalternizar 0 negro livre de asordo com padrées de obe- digncia préxcimos a0s do escravo. Era o inicio da marginallzagte do negro apés a Abolicao que persiste até hoje, Os proprios abolicioni tas se encerregaram de colacé-lo ‘no seu devide lugar". 10. Operdrios @ 6 uma caracteristica desse escravismo-tardio escravos em 0 crusamento de relases escravistas e capi lutas paraletas —talistas. Seisto se verificava no nivel dascias- ses dominantes, vamos encontrar © mesmo fendmeno no nivel da classe trabalhadors, iste é, aexisiéncia de mo- visnentos de ressténcia escrava © movimentos de (rabslhadores Hivres, de opetdrios, Os escravos ainda lutavam pela extinglio do cativeire 0s opertrios, paralclamente, partiam para uma posi¢io re

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