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Interações Judaico-Cristãs e Cultura Literária Polêmica

no Mediterrâneo Tardo-Antigo
renata rozental sancovsky
Graduada em História e Mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Doutora em História Social
pela Universidade de São Paulo, Professora de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

resumo Propõe-se analisar algumas das principais abstract We propose to study some of the major theological
construções teológicas do gênero literário patrístico constructions of the Adversus Iudaeos literary genre
Adversus Iudaeos, notadamente produzidas entre os produced between the 4th and the 7th centuries, taking into
séculos IV e VII, em suas consonâncias e digressões com account their conformities and divergences within the vast
um vasto universo de cultura material. Se, por um lado, tal universe of material culture. If, on the one hand, such a
universo corresponde às redes sociais de produção e universe corresponds to the social networks of production and
controle eclesiásticos e sinagogais, por outro, deles se ecclesiastical and synagogal control, on the other, it diverges
afastam. Denotando intensa inventividade de seus from them. Expressing the intense creativity of their authors,
construtores, suas naturezas arquitetônicas, epigráficas e the architectural, epigraphical and material aspects of these
materiais devem ser apontadas não apenas como works should be pointed out not only as objective expressions
expressões objetivas ou confirmações dos discursos or confirmations of the discourses aimed to refer to ‘deviant’
reservados aos “desviantes”. Constituem-se, groups, but also (and fundamentally) as an array of attitudes
fundamentalmente, em rol de atitudes, táticas e estratégias and strategies employed by those who are especially involved
utilizadas pelos sujeitos históricos envolvidos nos conflitos. in Jewish-Christian relationships and conflicts.

palavras-chave História e Arqueologia; Literatura keywords History and Archaelogy; Eclesiastical Literature;
Eclesiástica; Literatura Rabínica; Antissemitismo Rabinic Literature; Ecclesiastical Anti-Semitism; Polemical
Eclesiástico; Literatura Medieval Polêmica. Medieval Literature.

Considerações sobre texto e discurso


no estudo do universo literário medieval
Existe algo inerente à condição humana que perpassa a história e a as principais
indagações sobre a existência, com o mesmo impacto e necessidade que possuem, por
exemplo, a produção para a autosubsistência e as trocas de seus excedentes.
Referimo-nos, especificamente, à condição humana como simbólica, e à necessida-
de de devoção e explicação do ser como parte inseparável desse humano. Vemos as so-
ciedades tardo-antigas e medievais constituírem-se a partir da construção de intuições
mítico-religiosas, que visam a organizar, dar sentido à existência, ordenando o mundo
e as comunidades através de linguagens extraídas de um universo sensível, intuitivo,
perceptivo e imaginativo. Pela conjunção simbólica e mitológica do homem manifes-
tada na linguagem, superava-se aquela condição do “homem racional” (CASSIRER,
2009), abrindo possibilidades de se forjarem organicidades e coerências às coisas do
mundo. Pela sobreposição do simbolismo à ratio, elaboram-se representações e lingua-
gens através de uma história, cujos eventos explicam, cada qual a sua maneira, a posi-
ção, função e destino da humanidade no cosmos.
O objeto do mito religioso, ainda segundo Cassirer (1994), é fornecer um modelo
lógico para resolver contradições, mistérios, enigmas, e fundar algo instituinte na so-

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ciedade, através de um conjunto de ações definidas po, e não como fenômenos exógenos, destituídos
sobre a realidade, ou para se referir a ela. Portanto, de sentido, ou como meros resultados estruturais
os fenômenos religiosos não devem ser compreen- de vicissitudes socioeconômicas.
didos, mas sim decifrados, porque seus campos Assim, para ser possível estabelecer cabíveis rela­
semânticos são diferentes dos campos da lingua- ­ções entre universos de crenças, de construções sim-
gem usada pela ciência. bólico-culturais da realidade e os meios sociais nos
As religiões são expressões socialmente organi- quais se encontram e se afirmam (BURKE, 1992)
zadas de manifestações do intuitivo e do sensível. – sejam estes de origem material ou literária –, deve­
Lutam contra a ideia de finitude do ser, e elabo- ­mos elucidar a importância de dialogar com conjun­
ram uma espécie de lógica de sistematização dessas ­tos conceituais da Sociologia das Religiões, da An-
manifestações. Criam-se leis, rituais, orações, hie- tropologia Cultural e da Semiologia do Discurso.
rarquias, instituições, locais de congraçamento, de- Neste sentido, em defesa da legitimidade da li-
voção, canalizando para o particular um conjunto teratura medieval como campo de estudo, o me-
de sentimentos que se supõem universais. As reli- dievalista Paul Zumthor (2009) alerta para a neces-
giões, ao sistematizarem a fé, propõem-se agir no sidade de se suplantar, no processo de pesquisa, a
âmbito mais específico da vida humana em comu- atitude comum de tomar a análise do texto literá-
nidade, acompanhando o ente no nascimento, na rio como “mera decodificação filológica”. Normal-
morte e, em muitos casos, estendendo seu contro- mente, tendia-se a se recusar tudo “o que se desta-
le social a partir do axioma da existência perene. cava das letras”, negando que o universo de signi-
As formas mais essenciais, mais universais da ficações que delas se depreendesse pudesse ser pas-
consciência humana são resultado da visão mítico- sível de análise, ou mesmo digno de apreciação
-religiosa de mundo: liberdade, imortalidade, eter- crítica. Zumthor (2009) exige audácia analítica do
nidade, redenção e salvação. Por isso, pode-se afir- medievalista ao se defrontar com os textos. Toma-
mar categoricamente que nenhum ser humano es- dos como práticas sociais discursivas, os fatos lite-
capa do mito. Embora não seja a única, a religião rários ultrapassam a prática filológica/linguística
pode ser vista como a forma mais notória de or- e permitem a compreensão dos universos sociais
ganização dos mitos em sociedade, mostrando que dos produtores dos discursos e dos sujeitos histó-
os limites do humano não se encerram nas dimen- ricos, objetos de suas discursividades.
sões da esfera natural (animal ou vegetal), mas vão Dessa forma, é necessário redefinir a textuali-
além, e são inteiramente flexíveis, quase infinitos. dade medieval em termos de sua historicidade, de
Os historiadores, neste sentido, precisam estar seus impactos sociais e semioticidades, o que equi-
sensíveis a estas expressões tão profundas da exis- vale buscar os estatutos sociais dos documentos e
tência, cujas manifestações foram abundantemen- os níveis de receptividade. Se para Roger Chartier
te documentadas (materiais, iconográficas, jurídi- (1996) e Paul Zumthor (1990) os textos percorrem
co-legislativas, literárias, canônicas), concedendo-­ todo o universo das representações das práticas e
lhes lugar importante em suas análises sociais. É experiências sociais – objetivo último e fulcral da
preciso situar as religiões como legítimas expressões análise histórica –, é então premente a extensão do
do humano, localizando seus particularismos, su- conceito de texto para além da práxis da cultura
as linguagens, suas formas de organização no tem- literária escrita.

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Zumthor (2009) denuncia a dificuldade, até ho- polêmicas sobre o outro, à profusão literária de
je percebida entre os medievalistas, de desligamen- gênero polêmico, o autor identifica uma trilogia
to de uma História da Literatura ancorada em um formada pela textualidade, teologia, e memória, a
positivismo mecanicista, tomada ainda pelo pri- partir das seguintes linhas epistemológicas:
mado da forma e da “retidão intelectual”. Em de-
trimento do conteúdo, da ambientação, das recep- 1) Todo texto pressupõe a existência de uma longa
ções sociais dos discursos e das intencionalidades série de relações interpessoais dialógicas, sem
de seus autores, os medievalistas ainda se debruçam dúvida móveis, e articuladas ao longo do tempo
sobre os textos literários como se revelassem, por a partir dos próprios usos feitos sobre ele. Por-
si mesmos, grandes estruturas lógicas e coerentes tanto, todo texto enuncia um conjunto de va-
de compreensão. Desta forma os textos são insa- lores e práticas sociais.
tisfatoriamente “concretizados”, recaindo-se em
processos analíticos tautológicos, que não ultra- 2) É pelo viés das relações interpessoais dialógicas,
passam a superfície e a generalização. inscritas na textualidade, que a História adentra
Sabemos que os textos não se deixam apreender ao debate sobre os discursos literários, no dese-
por si mesmos, e que nenhuma atividade crítica jo de se aproximar aos sentidos possíveis da lin-
deve sucumbir a tal “primado da objetividade”, guagem do outro. O texto é lido em busca do
que camufla a necessidade de se trilhar caminhos homem que nele reside. E o que se constitui
sociais, que vão da produção do texto à recepção existente é, finalmente, socializado pelo texto.
e apropriação dos discursos apreendidos. Tais ca-
minhos são evidências do que Chartier (1996) de- 3) A
 fastando-se de todo e qualquer modelo de cau-
nomina de “concretização do texto”, e tal deve ser salidade na explicação histórica, os textos repre-
a tarefa do historiador. É necessário, igualmente, sentam lugares de semiose coletiva, localizados
“investir o objeto de sentidos”, mas que isso não no campo da chamada “estética da recepção”.
signifique que o texto queira dizer tudo: “(...) En-
quanto ele subsiste materialmente, o que ele diz é Logo, na História do Mediterrâneo dos primei-
apenas uma visão nova, apropriada por leitores ros séculos medievais, de inquestionável profusão
sucessivos daquilo que no começo ele declarou. literária (BROWN, 1972), a argumentação e sub-
Toda a hermenêutica de Dilthey a Gadamer e a jetivação sobre práticas e crenças religiosas, nas in-
Paul Ricoeur girou em volta desse problema” (ZUM­ terpolações literárias sobre comportamentos ditos
THOR, 2009, p. 48). “desviantes”, tornam-se elementos antitéticos (KO-
Aplicáveis aos estudos sobre a patrística Nicena SELLECK, 2006) e necessários à concepção mito-
e Pós-Nicena, à literatura rabínico-talmúdica, ou lógica de um “corpo social cristão” que, em equi-
às dimensões materiais das disputas identitárias, líbrio ao cosmos, prefiguraria uma ontologia uni-
Zumthor levanta uma série de pressupostos epis- tária, verdadeira e, sobretudo, universal.
temológicos que podem, a contento, orientar os Os embates institucionais intrínsecos ou decor-
historiadores dedicados à análise hermenêutica das rentes das proposições antitéticas em torno da ver-
altercações discursivas, erigidas a partir dos confli- dade e do ser também são localizados pelo histo-
tos judaico-cristãos. Da materialidade exibida pelas riador no âmago de um vasto universo de cultura

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material eclesiástica e sinagogal, embora não se tardo-antigas mediterrâneas em processo de cristia-


resumam ao campo do conflito. Suas naturezas ar- nização. A escolha reside fundamentalmente na ideia
quitetônicas, epigráficas e tumulares devem ser de que os mecanismos discursivos presentes no gê-
apontadas não apenas como expressões objetivas nero Adversus Iudaeos conferem historicidade ao
das políticas reservadas aos “desviantes”. Consti- pensamento intolerante sobre os judeus, conversos
tuem-se, fundamentalmente, em rol de atitudes, e cristãos judaizantes, sendo possível situá-los den-
táticas e estratégias utilizadas pelos sujeitos histó- tro de um universo semântico, representativo-dis-
ricos envolvidos nos conflitos. cursivo, e considerar “(...) a retórica do preconceito
como sendo uma das inúmeras formas de expressão
Da Antiguidade ao Medievo: do discurso social” (CARNEIRO, 1996, p.22)
relações judaico-cristãs na Neste sentido, é relevante alertar para que os
literatura religiosa mediterrânea produtos intelectuais deste gênero literário polê-
mico não sejam vistos apenas como meios de re-
Igreja e Sinagoga, em suas práticas sociais, re- conhecimento, ou meros reflexos dos processos
presentações culturais e metáforas alegóricas po- sociais que os inspiraram. Segundo Simona Cerut-
dem ser aqui identificadas como símbolos de or- ti (1998), a linguagem por meio do discurso é instru­
ganicidades antagônicas construídas, e encontram-­ ­mento histórico capaz de agregar e gerar laços de
se no cerne de nossa discussão. solidariedade entre aqueles que dela compartilham.
No que tange ao campo das manifestações dis- Para Cerutti (1998), é fundamental que o dis-
cursivas antitéticas, opta-se metodologicamente pe- curso permaneça como impulso metodológico à
la análise e apresentação tipológica dos grupamen- pesquisa, e não o seu coroamento. Mais do que a
tos discursivos deflagrados em séries de tratados própria relação entre discurso e estratificação so-
polêmicos e exegéticos, considerados a partir da cial que engessa as possibilidades interpretativas
dilatação conceitual e alcances hermenêuticos do sobre a intolerância, entende-se que a chamada
gênero literário Adversus Iudaeos. “construção discursiva” por si mesma deve interes-
Logo, ainda que alguns de seus principais ex- sar ao historiador.
poentes tenham pertencido a diferentes períodos, Consideremos então que a análise da linguagem
regionalidades e escolas narrativas, é possível siste- é central para a investigação das práticas, experi-
matizar e demarcar a retórica histórica do precon- ências e representações culturais dos produtores de
ceito, aqui construída por importantes setores do discurso (e onde for metodologicamente possível,
episcopado mediterrâneo, uma vez configurada co- na investigação dos códigos adotados pelos recep-
mo “(...) retórica da intolerância, ou seja, da ex- tores desse discurso), além de permitir reavaliar as
pressão do pensamento sobre a diferença, a desi- visões mecânicas que impuseram, até hoje, uma
gualdade” (DELUMEAU, 1999, p.296). dependência direta entre o discurso e contexto so-
No mapeamento do que ora se denomina de cial. Os indivíduos, ao formarem códigos linguís-
uma “hermenêutica da identidade sociorreligiosa” ticos repletos de contradições e simbolismos, pas-
a partir das produções do século IV, permite-se apon- sam a constituir objeto de pesquisa, abrindo ao
tar para a identificação de campos semânticos de si historiador novas possibilidades de entendimento
e do outro. São expressões indeléveis das sociedades do real.

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Cabe reiterar que, perceptíveis na documenta- além dos processos de cristianização em diversas
ção, experiências e comportamentos sociais, mui- dioceses do mundo mediterrâneo.
tas vezes, mostravam-se irredutíveis aos discursos. Um cenário de fortes heterodoxias pode ser evi-
A exemplo dos problemas levantados na literatura denciado pelas demarcações de campos identitários
patrística de natureza polêmica, nos deparamos que tanto insistiam em afirmar, através de recursos
com inúmeras oscilações quanto aos meios de abor- interpretativos e alegóricos.
dagem da questão judaica. Interações, ambiguidades e estratégias de con-
Encontram-se sérias divergências entre o discur- vívio estariam longe de um ideal eclesiástico de
so político-apologético de estilo contido e diplomá­ universalização da práxis religiosa pela fé. Dessa
tico, divulgado nas “Histórias oficiais”, e o fervoro­ forma, os discursos voltados aos “judeus” variavam
­so enfrentamento teológico, de fala contundente em suas acusações e tons de gravidade nos relatos.
e vocabulário rancoroso, característico dos tratados Pode-se afirmar que as polêmicas Adversus Iudaeos
polêmicos e altercações teatrais, nos quais pensa- gravitavam por uma espécie de “Judaísmo imagi-
mentos e instituições adquirem forma humana. nário” construído pelos autores, e com o qual os
Na disputatio encenada, uns são interrogadores, mesmos “debatiam” para, em última instância,
por direito legítimo, por anunciarem no plano ter- condená-lo em sua totalidade.
reno o “êxito das verdades anunciadas”, enquanto Neste sentido, são nítidas as elaborações de cam-
outros são interrogados e punidos, pública ou re- pos semânticos envolvendo o Judaísmo, e suas di-
servadamente, por seus “pecados e desvios eternos”. versidades podem ser atestadas a partir dos textos
Observa-se que a amplitude discursiva polemi- produzidos nos séculos IV e V.
zante na documentação patrística da Antiguidade A necessidade de se diferenciar cristãos de ju-
Tardia e dos primeiros séculos medievais indica, deus levou a um conjunto de tipificações e símbo-
objetivamente, a necessidade e a funcionalidade na los em torno do que supostamente entendia-se co-
demarcação de lugares sociais em um contexto de mo “Judaísmo”. Os “judeus” citados pela literatu-
fortes hibridismos identitários (LIMOR; STROUM­ ra polêmica representavam antes um conjunto mui-
SA,1996, p.1-26). Construídos e definidos no discur­ to mais extenso de sujeitos e grupos sociais des-
­so polemizante, atribuíam-se a cristãos e judeus, viantes do que apenas as comunidades judaicas
ago­­ra diferenciados em suas existências e destinos, renitentes, igualmente estereotipadas em suas prá-
os caminhos erigidos pela fusão entre práxis religio­ ticas pelo gênero Adversus Iudaeos.
­­sa e crença (LIEU; NORTH; RAJAK, 1994, p.79-96). Os “judeus” da literatura polêmica eram tam-
A percepção teológica da patrística tendia a de- bém os conversos cristãos de origem judaica, os
marcar Judaísmo e Cristianismo como duas enti- cristãos judaizantes, eclesiásticos praticantes de ri-
dades absolutamente dissociadas e antagônicas, res- tuais judaicos, os heréticos (Monofisistas), entre
saltando a necessidade de convergência entre prá- outros grupos cristãos heterodoxos como Ebioni-
tica e crença, particularizadas para cada um desses tas, Symmachianos, Nazarenos e Caelicolistas, as-
grupos. Na verdade, as intenções e os símbolos sociados a perfis judaizantes (SHARF, 1971). Pre-
usados pelos autores polemizantes tornam-se arte- sentes nos discursos patrísticos, eram semantica-
fatos indiciários fundamentais para a reflexão das mente tomados como elementos pertencentes ao
relações judaico-cristãs entre os séculos IV e VII, mundo da descrença, da desordem, e da hostilida-

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de. Estavam em total contradição à configuração ni), referentes aos relatos dos episódios de con-
do logos platônico em Verbum, e da Ecclesia, ve- versão da comunidade judaica de Mahón, em
tores da mensagem revelada. Por isso, tornar-se-iam 417, e da chegada das relíquias do mártir Estê-
alvos sistemáticos e históricos da justa ira divina. vão às Ilhas Baleares, através das iniciativas do
Esses grupos encarnavam tudo aquilo que o dog- bispo Paulo Orósio.
ma definia como “desvio judaico”. Eram todos,
portanto, metaforicamente, judeus. 2) Linha Disputatio/Altercatio, direcionada à
Assim, no âmago do universo literário em ques- personificação e institucionalização dos confli-
tão identificam-se três grandes tipologias discursi- tos judaico-cristãos através das representações
vas dos tratados teológicos de gênero polêmico, da Ecclesia e Synagoga. Apresentam-se em for-
sem deixar-se de mencionar o conjunto discursivo mato dialógico e teatral, instituindo em suas
judaico coevo. De difícil definição tipológica, a li- personagens traços morais, comportamentais e
teratura rabínica entremeava heteroglossias, juris- atitudinais coletivos, cujos resultados convergem
prudências e alegorias através de sua literatura tal- para o convencimento teológico e cristológico
múdica e midráshica. da verdade eclesiástica e a denúncia dos equívo-
Diferentemente das considerações historiográ- cos e erros judaicos. Nesta tipologia situam-se
ficas de inclinação generalizante sobre a profusão os escritos de Eusébio de Cesaréia, Disputatio
literária das fases nicena e pós-nicena, opta-se aqui Christianorum et Iudaeorum Habita Romae co-
por dividi-la em grandes campos semânticos. Di- ram Constantino et Helena, de Quodvultdeus,
ferenciados por seus recorrentes instrumentos e Altercatione Ecclesiae et Synagogae Dialogus, o
objetivos, mas com profundas interseções, as pro- tratado De Comparatione Ecclesiae et Synago-
duções polemizantes são situadas por importantes gae, do bispo Cesário de Arles, e os diálogos
linhas discursivas: apresentados pela Altercatio Simonis Iudaei et
Theophili Christiani, do bispo Evagrius.
1) L
 inha Homilética/Moralizante, voltada às
ações pastorais de catecumenato e conversão, na 3) L inha Histórico-Narrativa, perfazendo a traje­
exortação de seus leitores e ouvintes às analogias ­tória das chamadas “Histórias Eclesiásticas”. Nes-
entre evangelização e práxis combativa e mili- tes textos, o judeu emerge como sujeito coletivo
tante. Nesta linha localizam-se os principais tra- e figura antagônica necessária. Na dinâmica dis-
tados Adversus Iudaeos e homilias pastorais de cursiva, é testemunho ocular não apenas do des-
João Crisóstomo, Agostinho de Hipona, Quod- tino e crescimento da Igreja, como também de
vultdeus de Cartago, Cesário de Arles, Ambró- sua própria ruína e desvio. Nesta linha, destaca-­
sio de Milão e Isidoro de Sevilha. Situam-se, se o trabalho de Eusébio de Cesaréia em Histo-
igualmente, as homilias de Ambrósio de Milão, ria Ecclesiastica. Outro texto de sua autoria, a
Expositio Evangelii secundum Lucam, e as car- biografia produzida sobre Sylvestri I (314-335),
tas do bispo Severo de Menorca (Epistola Seve- traz importantes contribuições sobre a prática
ri Ad Omnem Ecclesiam, De Virtutibus Ad Ju- da disputatio, a partir de relatos sobre a partici-
daeorum Conversionem In Minoricensi Insula pação do eclesiástico em altercação judaico-cris-
Factis In Praesentia Riliquiarum Sancti Stepha- tã, provavelmente convocada por Constantino.

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4) L
 inhas Narrativas na Literatura Rabínica te do social, a cultura material está carregada de
Tardo-Antiga. Como arcabouço documental símbolos e significantes que as palavras ou textos
fundamental para o estudo do universo socio- escritos, na maioria dos casos, não nos revelam.
cultural judaico está a literatura talmúdica dos Segundo Norberto Guarinello “(...) desde os anos
séculos IV e V. Sua estética narrativa apresenta 60, a semiótica e a antropologia têm buscado de-
dialógicas discursividades aramaicas, na conjun- cifrar o mundo das coisas pensando-as como es-
ção de atributos alegóricos (Hagadah), doutri- truturas de linguagem – dotadas de significados”
nários (Halachá) e jurisprudenciais (Guemará). (GUARINELLO, 2005).
Pautados em tradições rabínicas orais de origem No âmago dos mais recentes debates teóricos
palestina dos séculos I e II (Mishnah), os textos sobre as interfaces entre a arqueologia e o saber
tardo-antigos e medievais constituem-se instru- histórico, a cultura material socialmente constru-
mentos documentais para análise das inflexões ída deve ser entendida como conjuntos de sistemas
culturais judaico-cristãs e dos conflitos institu- simbólicos, situados antes na esfera da ação do que
cionais em jogo. Indicados proficuamente como de reflexos ou espelhos das organizações sociais. A
principal fonte para o estudo do mundo judai- cultura material como conjunto simbólico é ins-
co do período, neles encontram-se a construção tituinte do social, e não apenas constituída ou
simbólica de ideais essencialmente rabínicos de apreendida. Dotada de complexidade é, portanto,
vida social, através de tópicos discutidos de for- objeto de análise e decifração.
ma difusa e inconclusiva dentro de seus sessen- Através do uso de fontes de caráter material,
ta e três tratados, valendo mencionar aqui ape- impõe-se aos medievalistas uma série de obstáculos
nas alguns: produção material urbana e rural, metodológicos. Reduzindo o peso absoluto atri-
trabalho e subsistência, educação, sinagoga, ri- buído às fontes literárias nas pesquisas em Histó-
tuais e liturgias, laços parentais e matrimoniais, ria da Antiguidade Tardia e da Alta Idade Média,
sexualidade, monolatria e idolatria, criminali- o reconhecimento da cultura material (admitindo-­
dades e proselitismo. se suas variantes iconográficas) estaria longe de
gravitar pelo tratamento meramente descritivo. Por
Horizontes de pesquisa sobre muito tempo, a arqueologia acreditava ser essa a
as polêmicas Adversus Iudaeos sua função, agindo no sentido de confirmar os
e as relações com fontes materiais corpi documentais academicamente “consagrados”.
Rompendo com este rol de objetividades cien-
Nas últimas décadas, a cultura material tornou-­ tíficas, como bem ressaltam Guarinello (2005) e
se porta de entrada do historiador no universo da Rede (1996), a cultura material muitas vezes mos-
arqueologia. Os diálogos com uma antropologia tra-se contraditória e contraposta às fontes escritas,
histórica contribuíram para dar tratamentos reno- ou seja, esta cultura não deve ser metodologica-
vados aos documentos materiais, inserindo-os, se- mente operacionalizada no sentido de confirmar
gundo Marcelo Rede (1996), em unidades de aná- o conteúdo revelado pelo texto escrito/literário.
lise mais amplas e coerentes. Neste sentido, a es- Os retratos sociais possibilitados pela análise ma-
crita da História “a partir das coisas” permite que terial são sempre polissêmicos, polifônicos, e des-
se pense para além dos textos literários. Instituin- caracterizam os falsos consensos historiográficos

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em torno da formação dos universos identitários documental, sendo este o grande desafio ao histo-
judaicos e cristãos. riador medievalista.
Por um lado, de fato, muito desta cultura ma- Até hoje demarcado por análises de superfície
terial apresenta dimensões do conflito judaico-cris- sobre a formação histórica do antissemitismo teo-
tão que se poderiam apontar como condizentes às lógico eclesiástico (LIMOR; STROUMSA, 1996),
principais linhas literárias polêmicas Adversus Iu- resumida ao rol de reflexões doutrinárias (WILKEN,
daeos. Entretanto, todas essas dimensões trazem 2004), homiléticas e de altercações dos textos pa-
significantes adicionais às disputas identitárias, co- trísticos (PARKES, 1977), o campo de uma Histó-
mo os mosaicos e representações pictóricas de in- ria das relações entre judeus e cristãos no mundo
versão da simbologia judaica e as alegorizações mediterrâneo ainda está por ser construído. Afir-
pedagógicas das escrituras da Bíblia Hebraica. memos que este deve adentrar um universo de cul-
Por outro lado, e na maior parte das vezes, os turas materiais polissêmicas, tomando-as como ins-
universos de cultura material judaica e judaizante trumentos empíricos contundentes dos interacio-
atestam para a existência de desníveis entre as po- nismos simbólicos praticados por judeus e cristãos
lêmicas e estereotipias trazidas pelos textos patrís- dos primeiros séculos medievais, que utilizavam o
ticos e a práxis cotidiana da crença em sociedade. Mediterrâneo como ponte entre o Ocidente e o
De uma vasta gama de imponentes vestígios Oriente.
templários (LEVINE, 1982) de natureza sinagogal
(CANTERA y BURGOS, 1955), registros epigráfi-
cos funerários de judeus, conversos e cristãos ju- referências
daizantes (FELLE, 2007), a simples artefatos de uso
cotidiano por camadas menos abastadas – como
ATTIAS, Jean-Christophe. De la Conversion. Paris: Centre
amuletos (BONNER, 1950) e lamparinas –, os fa- D’ Études des Religions du Livre/Du Cerf, 1997.
tos arqueológicos nos defrontam com inesperadas (Patrimoines Religions du Livre).
evidências de usos e apropriações culturais, na in- BURKE, Peter. O Mundo como Teatro: Estudos de
terface entre cultura rabínico-talmúdica, culturas Antropologia Histórica. Lisboa: Difel, 1992.
simbólicas cristãs e representações mágicas de es-
BARCALA MUÑOZ, Andrés. Biblioteca Antijudaica de los
copo romano-helenístico. Escritores Eclesiásticos Hispanos. Madrid: Aben Ezra
É correto hoje afirmar que a cultura material e Ediciones, 2005. 2.v.
a cultura epigráfica entre os séculos IV a VII não
BAUER, Yehuda. “Antisemitism as a European and World
concretizam de forma imediata e cabal as propo- Problem” in Patterns of Prejudice. London: The Institute of
sições homiléticas e antitéticas encontradas no gê- Jewish Affairs, v.27, n.1, p.15-24, 1993.
nero literário polêmico Adversus Iudaeos. Não con-
BONNER, Campbell. Studies in Magical Amulets Chiefly
cretizam ainda as definições em torno de supostas Graeco-Egyptian. Ann Arbor: The University of Michigan
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solidadas pelas metáforas e estímulos conflituosos
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Recebido em 05/05/12
Aceito em 20/06/12

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