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ENSAIO DE RETÓRICA,

CONFORME O MÉTODO E DOUTRINA DE QUINTILIANO,

E AS REFLEXÕES DOS AUTORES MAIS CELEBRES,

QUE TRATARAM DESTA MATÉRIA,

POR FR. SEBASTIÃO DE SANTO ANTONIO


PRÓLOGO

O autor desta obra declara que não a escreveu com intenção de que
saísse a público; mas, unicamente para por meio dela instruir certas
pessoas, que se quiseram servir dele para este ministério; e por isso
ficou tão sucinta: e como lhe faltou o tempo, e por outra parte
considerou que facilmente não poderia no Tratado do Tropos, e das
Figuras, propor melhores exemplares na Língua Portuguesa do que
aqueles que se acham no espelho da Eloquência, que já corre
impresso; atendendo à utilidade dos seus Discípulos, os transcrevo
quase do mesmo modo com que se acham no dito Original: e porque
este Livro é raro, para que todos se possam aproveitar deles, consente
se imprimam juntamente com este Ensaio; o qual sai a luz por ter
mostrado a experiência a grande utilidade que dele tiraram aquelas
pessoas para quem foi escrito.
ENSAIO DE RETÓRICA

I- Da Essência, Fim, Atributos, Matéria, e Origem da


Retórica

Retórica, no sentimento de Quintiliano, é uma arte, ou ciência,


que ensina a dizer bem as cousas que se dizem: Rhetoricen esse
bene dicendi Scientiam 1.

Cícero diz, que é uma parte da Ciência civil, a que chama


Eloquência artificiosa: Civilis quaedam ratio est, quae multis, et
magnis ex rebus confiat. Eius quaedam magna et ampla pars est,
artificiosa eloquentia, quam rhetoricam vocant2.

Um autor moderno, supondo ser a Eloquência um talento de


instruir, de agradar, e de mover; e que se instrui com solidez das
razões; que se agrada pela graça do estilo, e que se move
excitando os afetos, e triunfando das paixões do animo; supondo
tudo isso, diz, que esta Arte não é outra cousa mais que uma
coleção de regras as quais servem de guia a este sublime talento,
que a natureza costuma conceder a certas almas privilegiadas.

Qualquer destas definições é boa e clara, se for bem entendida.


A de Quintiliano; porque somente diz bem as cousas quem diz

 
1
 Intituciones Livro 2 Cap. 15 
2
 De Inv.I. I.  
com verdade, com graça e com eficácia. A de Cicero; porque sem
conhecer os defeitos que podem cometer-se na Oração, e as
perfeições que esta deve ter, e isto por uma longa observação, não
ser fácil dizer sem erro: e estas observações juntas é que formam
a Arte a que chamamos Retórica, como logo diremos. A última
explicação, enfim, também é boa, e clara; porque na substância
vem a dizer isto mesmo.

Conforme a definição de Quintiliano o fim da Retórica é dizer


bem o que se diz, como ele mesmo conclui: Nam si est ipsa bene
dicendi scientia, finus eius, et summum, est bene dicere.3

Cícero distingue na Retórica o fim do ofício. Diz que o ofício é


dizer com propriedade para persuadir, e que o fim é persuadir
dizendo: Officium autem ipsius facultatis videtur esse, dicere apposite
ad persuasiones: finis, persuadere dictione. Ambos vem a dizer o
mesmo; porque certamente quem sabe dizer bem, sabe persuadir;
e a persuasão é o fim principal da Retórica, pois para ela se
encaminha a oração.

Da utilidade da Retórica só pode duvidar quem não tiver


conhecimento do seu ofício e do seu fim. Que cousa mais útil que
encaminhar o entendimento para que não erre no modo de achar
e ordenar seus pensamentos, ensinar o homem a fazer com graça
e energia sensíveis os mesmos pensamentos, e triunfar das
paixões do animo em abono da justiça e da verdade, em beneficio
do bem particular e público? Nem contra isso vale poder-se usar

 
3
 Ibid 
para mau fim desta Arte; porque certamente não há cousa tão
santa de que não tenham abusado ou usado mal os homens.

Da nobreza desta Arte nos dá Cícero uma clara ideia, com um


discurso que forma tão engenhoso, como seu. Supõe que os
homens, sendo inferiores aos brutos em muitas operações, a
todos os brutos excedem os homens em poder falar. Donde infere
ser esta a operação sensível mais nobre do homem. E daqui
deduz ser muito nobre a Eloquência; porque faz com que um
homem, falando bem, possa exceder aos outros homens na sua
maior excelência. Seja-me lícito repetir as formais palavras do
texto, que ainda tem mais graça, e maior energia: Ac mihi quidem
videntur homines, cum multis rebus humiliores, et infirmiores sint, hac
re maxime bestiis praestare, quod loqui possunt. Quare praeclarum mihi
quiddam videtur adeptus is, qui, qua re, homines bestiis praestent, ea in
re, hominibus ipsis antecellant.4

Matéria da Retórica são todas aquelas cousas que se podem


dizer eloquentemente, a fim de persuadir os homens: Ego ...
materiam esse Rhetorices judico, omnes res, quaecumque ei ad
dicendum subiectae erunt. De sorte que na sentença de Quintiliano,
referindo-se a Socrates e a Platão, a matéria da Retórica não
consiste nas palavras, mas sim nas cousas: Non in verbis esse
materiam, sed in rebus. Cícero diz quase o mesmo, e ainda com
maior clareza: Verum enim Oratori, quae sunt in hominum vitae
(quandoquidem in ea versatur Orator, atque ea est ei subiecta materia)
omnia quaesita, audita, lecta, disputate, trattata, agitata esse debent.

 
4
 Ibid. supra 
Acerca da origem da Retórica é admirável a sentença de
Quintiliano. Diz que a natureza dera princípio ao dizer; e ao dizer
bem, e com arte, a observação. O que explica bem claramente
com o exemplo da Medicina. Assim como os homens, das
observações que fizeram sobre quais eram as cousas que faziam
bem ou mal à saúde, formaram a Medicina; do mesmo modo,
observando o que era próprio ou improprio para persuadir,
também destas observações formaram a Retórica.

Donde se infere que este estudo é muito útil, e como alguns


não julgam, quase necessário; porque nenhum homem só por si
pode observar tanto, e fazer tantas reflexões, como fizeram, em
todos os séculos, muitos e grandes homens que escreveram desta
matéria. E também se deduz que esta Arte não difere da natural
observação e reflexão do entendimento senão em ser, como fica
dito, uma coleção das observações e reflexões que têm feito os
homens, postas em ordem e reduzidas a umas regras gerais, ou
particulares, conforme a matéria, as circunstancias e o fim da
Oração e do Orador.

II- Das Partes da Retórica

Cinco são as partes da Retórica: Invenção, Disposição,


Elocução, Memória, Pronunciação, ou Ação. Chamam-se
partes, porque de todas deve tratar, e todas são necessárias
para dizer bem, e persuadir. Para se dizer bem, e persuadir,
é necessário achar cousas que se possam dizer úteis e
próprias para este fim. Estas mesmas cousas, que se
acharem, senão estiverem no seu lugar, e com boa ordem,
não causarão tão bom efeito. Ainda que estejam no seu
lugar, e bem ordenadas, se não as disserem com graça, com
energia, em bom estilo, e com decente ornato, não poderão
persuadir com tanta eficácia. Para que nada disto se perca,
é preciso conservá-lo na memória, e que esta na ocasião o
subministre com fidelidade. É preciso, enfim, que a
pronunciação acompanhe com propriedade o que se diz, e
que o gesto com decência insinue assim as cousas que se
dizem, como os próprios afetos.
Quintiliano nesta matéria não concorda em tudo com
Cícero: as definições, porém, com que o mesmo Cicero
explica todas estas cousas, são dignas de saber-se, e muito
pouco há que se lhes possa tirar. Devem recomendar-se á
memória:
Inventio est excogitatio rerum verarum, aut verisimilium, quae
causam probabilem reddant.
Dispositio est rerum inventarum in ordinem distributio.
Elocutio est idoneorum verborum, et sententiarum ad
inventionem accommodatio.
Memoria est firma animi rerum, ac verborum ad inventionem
perceptio.
Pronuntiatio est ex rerum, ac verborum dignitate vocis, et
corporis moderatio.
III. Dos Gêneros a que se reduzem todas as causas

São estes três, Demonstrativo, Deliberativo e Judicial. Ao


gênero Demonstrativo pertence louvar ou vituperar: Quo laus, aus
vituperatio continetur, como diz o nosso Mestre.

Ao gênero Deliberativo pertence persuadir ou dissuadir. Ao


gênero Judicial pertence acusar ou defender. Nem haverá causa
que não se possa reduzir a estas: Ceterae species in haec tria incidunt
generae: nec invenietur ex his ullae, in qua non laudare, aut vituperare,
aut dissuadere, aut suadere, intendere quid, vel depellere debeamus, diz
o mesmo Quintiliano.

IIII. Das Classes às quais se reduz tudo quanto pode entrar


na oração

Atendendo às partes materiais de que se forma a Oração, o


que nela entra, ou são cousas, ou palavras: Omnis autem Oratio
confiat, aut ex his, quae significantur, aut ex his, quae significant; id
est, rebus, et verbis. Por cousas se devem entender pensamentos,
argumentos, sentenças, e tudo quando se costuma significar por
palavras.

Atendendo ao fim do Orador, tudo quanto pode entrar na


Oração, ou é para instruir, ou para recrear, ou para mover: Tria
sunt item, quae praestare debet Orator, ut doceat, moveat, delectet. De
sorte que, em toda e qualquer Oração, entram cousas e palavras;
e também em qualquer pode o Orador instruir, deleitar, e mover;
posto que algum destes gêneros mais particularmente pertença a
umas, que a outras Orações.

V. Das Classes a que se reduzem as questões

As questões, ou são Infinitas, isto é, sem determinar pessoa,


cousa, ou circunstância em particular; ou são Finitas; isto é, que
determinam em particular, ou pessoa, ou cousa, ou
circunstâncias. Por usarmos do mesmo exemplo com que se
explica Quintiliano: An uxor ducenda, é questão indefinida: An
Catoni ducenda, é questão determinada.

Quase sempre a questão determinada supõe a indefinida,


como universal que lhe precede, e debaixo da qual se contém,
como se observa no mencionado exemplo. Se em geral não fora
lícito casar, em particular o não seria a Catão. A questão
indefinida é a que os Gregos chamam Thesis, e a finita
Hypothesis.

Uma e outra, ou podem ser puramente especulativas, ou


práticas. Ou se pode tratar uma questão unicamente para saber,
ou também para obrar. A Oração quase sempre tem por fim as
ações humanas, as quais consistem na pratica. Por esta razão
deve o Orador empregar-se menos na tese do que na hipótese;
porque esta pertence mais ao obrar; aquela ao saber.

VI. Que cousa seja Estado da causa e suas espécies.

Estado da causa é o que principalmente toma por empresa o


Orador, e se propõe à expectação dos Juízes, ou dos ouvintes: Id,
quod et Orator praecipue sibi obtinendum, et iudex spectandum maxime
intelligit.

Três podem ser, conforme Quintiliano, os Estados das causas.


An sit, Quid sit, Quale sit. Ou se pode tratar da existência de
alguma coisa, ou da sua essência, ou das qualidades de que se
reveste. Por qualidade se deve entender tudo quanto, além da
essência, diz respeito à mesma cousa. Segundo a ordem natural,
primeiro se deve averiguar se uma cousa existe; depois, quais
sejam as partes por que se constitui; ultimamente, quais sejam os
seus atributos.

Cícero sobre esta matéria seguiu outro rumo. Quintiliano,


porém, porque achou melhor esta sentença, o desampara nesta
parte, e dá por desculpa uma razão digna de se recomendar à
memória: Etenim supervacuus foret in studiis longior labor, si nihil
liceret melius invenire praeteritis.

VII. Do Genero Demonstrativo

Aristóteles, a quem seguiu Theophrasto, deixou-se persuadir


de que este gênero era totalmente alheio aos negócios públicos.
Quintiliano, porém, o convence, e prova com algumas razões o
contrário. Primeira; porque alguns louvores fúnebres foram
recitados por autoridade pública, para com eles premiarem o
merecimento dos Heróis defuntos, e desse modo persuadirem à
imitação das suas virtudes os ouvintes. Segunda; porque o louvor
que se dá às testemunhas, e pelo contrário o vitupério com que se
tratam, é um documento atendível nas causas. Terceira; porque
os louvores que se costumam dar a qualquer das partes, a fazem
recomendável aos Juízes. Donde se infere também, que os
gêneros, em parte, dependem uns dos outros.

O principal ofício do Orador, neste gênero, é amplificar e


ornar as cousas, ou para as engrandecer, ou para as diminuir.
Sem embargo, porém, de tudo isto, também neste gênero pode
ter lugar a prova; pois algumas vezes dependem dela, assim o
louvor, como o vitupério. De sorte, que o Orador deve usar da
prova, todas as vezes que necessitar dela, com a cautela de ser
menos extensa neste gênero.

Em quanto às pessoas, ou cousas, a quem se pode dar louvor,


em primeiro lugar, se deve contar Deos Optimo Maximo: em
segundo, os Santos: em terceiro, os Herois: em último, os
Homens grande em armas, e letras, as ações dignas de
recomendação, as Cidades Grandes, os Lugares Famosos, as
suntuosas fábricas, tudo, enfim, quanto é digno de admiração, e
de memória. O fim de todo o louvor, falando do fim principal, é
premiar a virtude, para que se imite. Tudo quando fica dito do
louvor, se deve entender, pelo contrario do vitupério, que tem
por fim o aborrecimento do vício.

As Orações que pertencem a este gênero, são as seguintes: Em


primeiro lugar o Panegírico, a que também chamam Elogio, no
qual se mostra o singular e admirável caráter do Herói, que nele
pertende louvar-se. Em segundo lugar as que se vão seguindo: a
Genethliaca, em o nascimento de alguma Pessoa Grande: a
Epinicia, no triúnfo de algum vencedor: a Eucarística, em ação de
graças por algum singular benefício: a Paranínfica, na chegada de
algum Esposo de alta esfera: a Salutatória, na chegada de algum
príncipe: a Votiva, no cumprimento de algum voto: a Saudosa, na
despedida de alguma Pessoa grande, e amada de todos: a
Gratulatória, pela restauração ou reparação de algum bem
grande, e verdadeiramente estimável: a Phernodíaca, por ocasião
de alguma desgraça pública: a Consecratória, na Dedicação de
algum Templo, na Sagração de algum Prelado, ou na Unção de
algum Monarca.

As fontes donde se podem tirar assim o louvor, como o


vitupério, são as mesmas, das quais se costumam tirar os
argumentos; como são a pátria, os progenitores, o tempo, a idade,
o sexo, os dotes assim do ânimo, como do corpo, os costumes, as
companhias, as inclinações, e todas as mais circunstâncias de que
se reveste a pessoa, ou cousa, de que se trata. Desta maneira,
porém, trataremos mais largamente, quando falarmos dos
lugares, dos quais, como dissemos, se tiram as provas, nas quais
a Confirmação consiste.

VIII. Do Genero Deliberativo

Três cousas se devem atender principalmente neste gênero; a


matéria, ou questão, sobre a qual se deve tomar resolução; as
pessoas que devem resolver o que se propõe; e a pessoa que
persuade. Em quanto à matéria que pode entrar em questão, tudo
quanto é útil, ou honesto, pode servir de matéria neste gênero:
com mais clareza, somente o que é útil, e honesto, deve servir
neste gênero de matéria. Ninguém prudentemente pode deliberar
ou persuadir o que não pertence a alguma destas duas classes.
Pelo que pertence à qualidade da mesma matéria, tanto o
certo, como o duvidoso, se pode persuadir, com esta diferença,
porém, que na matéria duvidosa se persuade uma das partes, ou
não tomar partido entre elas, apontando os meios, e movendo a
eleição deles, e à execução do fim pretendido pelo Orador: na
matéria certa, somente se persuadem os meios, a eleição deles, e a
execução do que se conclui. Os argumentos próprios deste gênero
são tudo quando pode servir para o fim de persuadir ou
dissuadir sem engano, e com decência.

Pelo que toca às pessoas, a quem se deve persuadir, são muito


atendíveis, o gênio, o caracter, a capacidade, a ciência, os
costumes, e as inclinações, para os saber levar, e persuadir. Nem
em todos fazem os mesmos argumentos igual efeito. Em certas
matérias, são mais fáceis de persuadir os sábios, que os
ignorantes; os velhos, que os moços; os da plebe, que as pessoas
ilustres; e pelo contrário: Donde se infere que quando o Orador
pretender persuadir a todos; isto é, a pessoas de todos os estados,
deve usar de argumentos que possam convencer a todos; ou,
cabendo na Oração, de argumentos de todo o gênero.

Pelo que diz ordem à pessoa que persuade, ou lhe pode valer
de muito a razão, ou a autoridade, ou ambas estas cousas. A
autoridade funda-se no nascimento, na virtude, na ciência, no
poder, na reputação, e na fortuna, que é isto mesmo. A razão
consiste na justiça da causa, e na força dos argumentos. Quem
tiver autoridade, necessita menos da razão; e mais, quem não a
tiver. Donde se infere que somente se devem alegar, para
persuadir, as sentenças e os exemplos de pessoas nas quais
concorram as referidas qualidades.

Quintiliano põem em dúvida, se o Exórdio pertence a este


gênero, e exclui dele a Narração. Eu, porém, venerando tão
grande Mestre, julgo estas questões de pouca utilidade. Conciliar
a benevolência dos ouvintes, e a sua atenção, sempre é útil; e
pode acontecer que a Narração, em muitas ocasiões, seja útil para
que o auditório melhor conheça a matéria de que se trata. Eu
tenho por uma regra certa, e inalterável, que o Orador deve usar
de tudo quanto julgar útil e de eficácia para persuadir o que
pretende, ou para dissuadir o que julga não ser honesto, ou útil.
Do estilo que mais propriamente pertence a este gênero, diremos
em seu lugar.

A este gênero se reduzem as Orações seguintes: a


Admonitória, por causa de alguma fatalidade que se deve
remediar ou acautelar: a Consolatória, para que se não percam o
ânimo e a constância em algum funesto acontecimento: a
Conciliadora, que tem por fim concordar os ânimos, os pareceres,
e os votos de todos: a Instrutiva, a qual, na promulgação das leis,
as explica, e mostra ser útil e necessária a sua observância: a
Catequética, que declara e expõe os fundamentos da Religião,
para persuadir a firmeza da Fé, e atrair os ânimos para a
verdadeira crença: a Polêmica, enfim, que em alguma
controvérsia sobre algum dogma, mostra e persuade o
verdadeiro partido que se deve seguir.
IX. Do Genero Judicial

Dois são os ofícios que pertencem principalmente a este


gênero, acusar, e defender. Toda a causa, na qual se achar ser um
destes o seu fim, pertence a este gênero.

Para tratar, como convém, de qualquer causa destas, em que


tanto se arrisca, como são a honra, a liberdade, a reputação, a
fazenda, a vida, ensina Quintiliano, que é preciso considerar bem
as cousas seguintes: que gênero de causa é a de que se trata: que
se pretende nela averiguar: que é o que pode nela servir de
proveito, ou de prejuízo: depois o que necessita de prova, ou de
refutação: além disto, por que modo se deve narrar o que se
pretende provar, de sorte que sirva de preparação para que
possam convencer com clareza as provas: ultimamente, como se
deve conciliar a vontade e pia afeição do Juiz, refletindo nas sua
paixões, e principalmente naquela que mais predomina no seu
ânimo.

Desta natural observação deduz Quintiliano serem cinco as


partes formais da Oração, e sobre este número disputa, como
também duvidam muitos, se deve aumentar-se este número, e se
a Divisão, e Proposição, são partes diversas. Afetando, porém, na
pouca utilidade que destas questões, puramente especulativas, se
tira, trataremos das partes formais da Oração na sua divisão mais
prudente; isto é, que melhor nos parece para formar o juízo que é
necessário neste matéria, e seguiremos as definições de Cícero,
por serem mais claras, exceto a respeito da Proposição, de que
expressamente não fala Cícero.

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