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PORTOS DE PASSAGEM Pepe eres : 4 Hy i H 3 4 5 : Fy Prsfiio. Inrodugdo ~ Da experiéacia: memévias, prendiragens © utopias ‘Capitulo 1 —Linguagem¢ trabalho linguistico 11 Sinalizagies de pontos de parts 112 A istorcidade da haguagern 130 sujeitoe suas 131A proposito das agdes que se fazem ‘com a Hngusgem 1.32, proposito dasagoes ques fazer so- 1.33, proposto das agoes da lingsagem 1.4 Gontexto social das ineragaes verbal, Capitulo 2 — tdentidades« espeificidades de onsino dengue 21 A consieugso do objeto cient. 2.2 A construgto do conteido de ensino 23 O texto como parte do conteuido de ensino a 8 © 0000000 OCCOOHCOOOOODOTOOOOSOD OCOD (Copa esas do ratte discrsi, cio de moatagem) 3.1 Um discurso js com tradicdo fa montagen i seus personagens). 5.2 Do reconhecimenta a0 conhecimento da produgio & producse B21. produto de textos 322.1 A perigesa entrada do testo ps oa sila de aula 3222 0textoeas strategie dod 32:3, andliselingiation ‘Conelusso — De felto, muito » fazer Note eferéncias biblog bs Iss 9 porque como pals compreendcram "Dobe denon nie © seuberam udar reals. Para Paulo Fee, qu esi sempre 0s prvilepiados destinatarios deste nove bi ro do professor J. Wanderley Gerald (e que leitar imterprete a énfase intensiva desse negri to) So os colegas professores: os que se compro: meter em situagées de sala de aula eos que es tudam as condigoes dessa pratica refletindo so- Ibe elas e pesquisando.as ‘Agora, ndo se espere um texto guia, ou um. texto metodologico, ou os resultados de ura pes dquisa regrada e circunscrita, ou um relato de ex Sos, Esperem um texto fundador, brea qual se pode estimular e organizar uma reflexzo basica para tudo isso: para orienta as agbes interages) pedagosicas, para inspirarestrategias e metodos, para iluminar hipoteses de investigacao, para Conviver com uma ensiquecedore experiencia, pessoal mas transferivel Escrito de um so falego e em um estilo cor rido e quase séfrego,o texto resulta (no se et ‘ganem) de uma paciente experiencia que se ree- labora por mais de dez anos, desde o improviso dlas primeiras aulas, passando pelo critico duro i «iconoclast e, depos, pelo pregador veando por esses brasisafora, ale decantar'se nos grupos de pesquisa universitaria, Uma experiencia que nio Seconta, mas se interroga a si mesma, Uma expe ‘iéncia que no se sintetiza em uma formulagao conclusiva, mas que se quer abertae inacabada, ‘Que, por isso mesmo, nao ¢ bem retrospectiva, nem reminiscente, mas se projeta em perspectiva E esti nisto a primeita singularidade deste bolo lio: confessa'o que as teses académicas com tanto culdado disargam, o seu earster de projeto, de repouso a melo caminho para real Ientar a acto do proprio autor e dos leitores, E no se trata de modestiaretorica ou de parcial dade sazonal. Ao contri, o texto se d4 como Jncompleto e inconcluso como consequéncia do ‘modo pelo qual o professor Wanderley avalia a nnatureza de seu trabalho, Resulta, primeiro, da conviegao do carster dinimico da praca sobre ‘linguagem, sobretudo da pratica pedagoxica so. bre a linguagem. E resulta da convicgio de que 4 producdo de conhecimentos sobre essa prati ‘a € um processo de construgso e reconstrucio muitas mos (de estudiosos,analistas, profes Sores e alunos} o que pressupie uma permanen te reavallagio. Sempre um cenario em videvte! pe de um movimento continuo, Por tras do professor Wanderley esto lin lists Wanderley, oa medida certa, Neo, o seu livro nao € um livro de linghistica. O seu livro também nio tenta construir pontes entre a lin uistca e oensino, Porque o professor eo lings: {a se integram em um $6 corpo, Ou o linguista se encarna no professor. x Deivemne esclarecer es agen. Ou dizer que olingista no fea ali porta da Sala dr aula com seu estoque de ackados e guard dos stendendo a requltgdes A bos formacao em Serine, em sinter pragmatic das inguas ‘aturals, propria do ingdsta, se manifesta nos pressupostos de que autor parte, na concepsao {ringungem gus asvume, na compreensao do {ue soo trabalho eas ages lngulsteos, 908 frincipose atitdes pedagogios uc ada, Des Emad, a informagao linguistics terica 80 Se "Gcolarica nem se "manualiza” Transcen desea estatutoconceitual eestruturado es ns tancis emma patie ‘Destac, nese particular, ope fundamen tal por uma teora da linguagem que aconsidere {sua dimenso discursive, Wanderley sabe que Se pode (e se deve) pensar a linguagem.em sua Sitteiosacompleidade, sob auton ponton de Nini mais ou menos metedologicamente redator fes.ou com abjetivos mats especifeas, como i ‘esgars oa linguagen,anaturera abstratae for ada inion pie orto Charquteture sa propria mente humana, Por uc essa ope por tm anise do escurso, et dima tisuo tbrangente gue sem eertamente do {logo com Hairs Onsabe)? ‘conte ue, naescula, na produSo¢ com- preensto dor texto e na andlie lngstico Eromatial Gnu) dos operases envolvdas esos procests, a linguagem nio sedi camo ob Jewepostemologico, Dae por ineiro, em sua di testo pole, strc, oi come De esses bras for, ate decantarse non propo de fencin que no se slttiza em uta formulasae ‘modo pelo qual professor Wanderley avalia a Deivemme eslarecer essa imagem. Quero dizer que olinglisa no fica alia porta da s8la de sulk com seu estoque de achados e guard ‘Reratendendo arequnigbes A boa formacio em sedis cr sntane, em pragmatic das Lingus Sctaras, propria do linguists, se manifesta nos Dressupostosde que autor parte, na concepgSo Je lnguagem que assume, ga compreensio do ue sejao trabalho e as agdeslingulsticos, aos rincipios asides pedagogicos que adots. Des PE modo, informacgo linguistics e eorica nao Se Nexeolaria”, etn se""manualiza”. Transcen Se seu estatto conceituale estruturadoe sins: tania em uma pratica Desaco, nse Farol opto Fundanen tal por uma tcoria da linguager que a considere tinue dmensio discusia, Wanderley sabe que SEpode e se deve) pensar a linguagem, em su tmisteriosa complexidade, sob outros pontos de {ista mais ou menos metodologicamente redo: Tes eu com objetivos als expecficos, como i esigr, ia linguayem, natura astra. or Ina dos prineplos gue presidem sua construgio Tarquieture da propria mente humana, Por {que esta ops por uma anlise do diseurso, em tina visso abrangente (que vem certamentc do dinlogo com Haguira Onakabe)? ‘Acontece que, naescols, na producio com prenso don ten ane nse ramatica ntuitiva) das operagoes envolvidas sean press, a inguagern nos dace ob Jetweplstemologico, Dase por intero,em sua dk Inert politic, historia, sca context: Di © 00000000CC00H COOH COSCO ORO OD0O00! a cobra do ivto mais do que o autor quis: um texto amadurecdo, mas gue preve sempre ove estagdes;programiticocinterogativa emis defnitnar objeivando novos compromtimenion fo um exercicioacademico, E paro aqui, porque se me agugou uma gran de vontade de relé-lo. a 7 Carlos Franchi xw rR00U0\0, ‘bx exrERIENeAS Certamente o fato de ter sido um professor leigo, bancario que dava aulas numa escola no xv POP ‘urna do Rio Grande do Sul, marcou e marca mais profundamente minha ago como professor, ho Je, do que eu mesmo imagino!, Professor por ‘Acaso (ou pela vaidade dos devenove anon, Hoje diria Felizmente sem habllitagao previa, mas ten {do que me habilitar no trabalho, estava livre pa raarriscarme na consirugso de minhas aulas,na selegao de temas, na conversa com os alunos rao eta profestor, mas bancario. Os alunos sa biam disso, eu sabia disso, Estava na escola, primeieo por colaborasao, depois por painao. EF isto me permitiy ouvir 8 to ‘doo momento meus alunos (em sua maioria com. panheiros e companheiras de divertimentos, de bar, de prags, de danga e de namoros, oque nos unia fors da escola). E, das falas deles c nas fa Jas comeles ia revendo o que faziamos na scala ‘Um quase descompromisso que camprome tia: 0 descompromisso vinha da ignorancia de programas adesenvolver, de metodos e recursos idatieos que so conhecera como alunos 0 com promisso vinha do convivio externa a escola e de tama certa intulgso e vontade de nfo me repetir ‘nas imagens (deslavoravels, em sua maori) que fazia dos professores que tive no I? © 2° graus (recemfeitos). Nas imagens, retratos que nde que ta para mim nos alunos, espelhos que me devol- iam a toda hora o que construlam do professor {que formavam e se formava no trabalho, O compromisso leva o professor nio habil: tado ao curso de Letras mais proximo: a titul ‘do exigida por ll faz abandonar 2 formagio que Sefazia no trabalho ea troca pela caga a0 titulo. Junto com o "habiltade 2” vem muita informe x t (obese cersenasn «oe, comela, a cautela,Arriscar, depois de for tnade (ainda que inconformado, js nao" pegaria tem" aprendt a plancar, aprendi a manejar te Cursos ddaicos aprenda medi parece que es Set lguma cea que se ca Medias Ea ‘acionals) Mas obancario via no profesor a pos Siblidade deexistencia que o manuseo de fichas, bs somas de horas i para confiemar 0 total Que Jase bia, asses horas de formularis que Se preenchem rtiniramente et. matavam- Dar Aula rama vlvula de escape. Nas alas se po dia legtimamente falar de romances, de poesas, delinguagem e, agora habiltad, de prescrigies sramatical. Neste tempo de formasdo e de recémfor mado, muito curso de extensaouniversitara, de Treinarneno especialmente nos tempos dene plantagao dali 69271, de reticlagens, esta Traacdo, Buscava que podia, pos js Incorpor raacrenga de que “ser profesor” €desatalizar feo 1abalho desqualificarse depots que fora ado por habiitado, Incorporara,vejo hoe. a ‘dolegia de que o trabalho nso forma e me via prions do Banari com os cursos que poderiam Fi tornar als habiltad, Velos expecalizagao €, dep dela, o ngresso no ensino de 3° grav E,com este, acarreira nova que faz o professor caaracarveira melhor remunerada do bancé fio Profesor universtai, de excola notarna de formagto de profeswores. Curso de Letras. 50 thal tarde, diploma de mestre na bagagerm, ‘contro a Universidade que 6 conhecera na pos fraduagao, Agora, ja professor de universtdade © 0000000000000 0000000000080 0009: A liberdade académics, nesta, permitiu o retor: ro, com outros olhos, ao enraizamento no com: romisso que havia comegado no longinguo Gi fhisio Comercial de Sao Luis Gonzaga (RS). E intriganteo fato de que o sistema escolar forme dois tipos de recursos humanos*: profi: sionaise professores. Ea na distincdo entre os termos "bacharel” “licenciado” confessamos da Soude tao concebe a formagio de tus (dasa formacio do médica, Criada a distingdo entre a formagio de pro fissionais e de professores, de um modo geral, ‘quando se toma consciéncia da “crise escolar ‘especialmente da escola publica, a primeira cor relagao que se estabelece ¢ entre a desqualifica ‘Ho destae a desqualificagio dos professores.E fem conseqiéncia, os programas de formagao de professores, em sua maioria,acabam incorporan do, como ponte de partida, uma concepcao det balho conto supléncia de caréncias através de cur. s0s de recclagens, reinamentos ¢ atualizagbes Hi muitas razdes para explicar, de wm lado, esta correlacao mecinica entre a baixa qualida de da escola e a desqualificagio de professares (entre elas se pode apontar que 9 sistema esco lar, em suas unidades de ensino, no possibiita condigoes de trabalho a seus profissionais que thes permitam, no trabalho, desenvolver-se)¢ de outro lado, a existéncia continuada de programas especiais para formagao continua de professores, retirando-os do trabalho para cursos esporadicos ‘que acabam atendendo, aparentemente, 4 uma ‘inoriae, por isso, no alteram concretamente '2¢ao global do sistema de ensino, Acredito que Somente mudancas globais que passem a cons derar‘o protessor um profissional do sistema de ceducacao escolar poderso erradicar “a crise” da ‘escola, Retornaret este ponto mais tarde Gostaria de adiantar aqui uma hipotese propdsito desta preocupagso eacupasio constan te do sistema escolar em formar os professores due, ele proprio, dera por habilitade, Minha hi potese tem a ver com a questio da reproducto Social que a escola cumpre enquanto instiuigao Ao diploma seus professores, dando-os como ha Bilitados (penso aqui naqueles com formagio uni versitariao sistema Ihes diz que sta profisso nais, Depo, contrata-ose trata-os como née pro faz isso de varios modos: por uma relagdo de em prego.em que os direitos de trabalhador nao sao Fespeitados: por Thes do sequer espago Fisica para cantinuarem studando, ete igaes de trabalho que nao Para mim, ofato de o sistema escolar dar o professor come formado poderia signficar que Tendo ultrapassado as barreiras ele estaria pron. to para exercer seu trabalho, co auc a condigoes historicas Ihe permitissem, A tonomia e competencia, Ora, um agente edi ional, trsbalhando num sistema que reprodz imbém pela inculcacao da ideologia da incompeténcia‘. nao se pode ter como competen te: Esta autoimagem poderia fazer do protessor alguem que, tendo-e por competente, pod {eisar de inculear ideologia da incompetencia F perderseia todo oestorco empreyado em sua formagda! Pars o sistema escolar € mais impor tante que seus proprios agentes — principalmen: te dos grausinferiores de ago — se tenham por incompetentes para melhor cumpricem o papel Je inculcagao da idcologia da ancompetencia, Formado, qual a solugao para o professor ni cscapar, ele também, da mesma inculeago ideo Topica? Fave ver a todo instante, por cursos de toe ala pars constituise como profisional tam. E,o que € pior (ou melhor?) depots de Por iss0, 0: pr freqlentéclos devem,muitss vezes, “repassar” em ddaas horas de reuniao de prafescares o que ou Viram em AU horas de curso. Esta prtica de apa Fente“tormacso em serviga” permitea manuten ‘0 do sistema como um todo, Como professor de 1° €2° grat, tinha as sistido muitos cursos de reciclagem ¢treinamen o,em sua maioria centrados em questoes de co mo ensinar a que jévinhamos ensinandl, Esta ex perigneia ¢ um componente de explicagao da re usa em dar cursos deste tipo a professares, ‘quando solicitado, Aproveitava as otasibes para ‘ransformi-los na critica a receitas, na critica a0 ‘ue vinha sendo ensiniado como contetdo da tin gua portuguesa; usava de meus conhecimentos para mostrar aos professores que eles do sabiamm que exigiam que os alunos soubesser: lembre me de oeasides em que preparava baterias de exercicios de anise sintatica cam o unico abje ivo de mostrat aos professores que eles nao 53 biam resolsélos. Enfim, iconoclast, sentiane te liz quando imaginava que, depois do curso, nio ficava pedra sobre pedra, Para sproveitar uma imagem de Brecht, "assim se passaram alguns anos que sobre a terra me foram comcedidos Diploma na mio, dissertagaa de mestrado mais do que defendida,apresentada, retomno, em 1978, so interior do Rio Grande do Sul com uma nova erenga, ainda nfo abandanada por comple: 0:0 que falta aos professores ¢ uma melhor for ‘maga teorica. A defasagem entre o que eu ima tinava que conheciam os professores (agors, al {uns ja meus evalunos) eo que eu conhecera na p © 0000000000000 00000000000000000000 jportunidade de estudar dois anos como bolsis. tadeveria ser coberta por cursos de atualieaedo. Missionario na educagao, li vai o professor dar palestras, curses, disciplinas em cursos de espe Clalizagdo: todas falando das novidades aprendi das no centro do pals, Foram cursos sobre sinta ‘Xe gerativa (no modelo que conhecia}, sobre enur- ago, sobre sociolinguistica, Tudo mudata pa ‘Tamim, Mas meus ev alunos continuavam ln escola, com o lio didatico na mao (deles © ra, nenhuim receio mais. Nao se tr tratava de mudaro gue se ensinava.E tudo se re solveria, Foram of tempos de cursos de atval. 2acoes. Uma surpresa: eles duraram mais daque Tempo que figuei no interior. Tambem em Cam: Pinas, a partir de 1980, os primeiros contatoscom professores que imaginava informacdos — afinal ‘iviamn tao proximos da Universidade — mostra que cles esto “desatualizados”. Entao, ‘Walizemotos aproveitando ns oportanidades d Convénio de cursos com a Secretaria de Educ ‘io {eram também tempos de salarios baixos, € ‘brenda extra vinha acalhar numa vida de “cide © Na verdade, ocupava-me com o ensino de rau (até pela fungio de professor de um curso ‘Que formava — ou habilitava — pessoas para Jo redutor com que via a realidade me exigia de Tinir meus cursos (agueles que o departamento me atribula) sem considerar quer a precarieds. dda situagao de ensino nos niveisinferorese para mim, preocupar-se com essa precariedade cra reduri tudo ao didatismo, as téenicas de en sino (e a lembranga do prafessor recielada nio permitia isso}. quer a possibilidadeeletiva deo: alunos produzirem anslises proprias dos dados lingiisticos. Higienizava estes para que aqueles aprendestem a teoriaa ser transmitida, Entao wm slogan me guiavaro que CConstruirs ponte e aor profescres¢ too reas aulas de semanti ca, de sociolinguistica, de anslise do discurso © 8s aulas de lingua portuguesa na escola era pro it lema de quem tivesse que pensi-las. Ew dora ;panheiro de travessiar ito era Fungi da érea edagogica que, confesso, olhava como menor ‘Ocupar'se com a questao, no entanto, era fa sinal de uma preocupagio que se instalara ja comm 6s primeiros cursos de atwalizagio: una turma de Praticas de Ensino ficou sem professor por {que nenhum dos membros do departamento de ceducacao de entio estava em Hei, em 1979) ace tava daraulas no Curso de Letras, Pepino na mio alguém tem que mostrar como pode ser um cur so destes. F 2 coordenagao, na distribuigao das tarefas, coube a mim, Aos colegas, pedi que izes sem “falas” a partir de seu angulo de visio. De minha parte, acompanhava tudo, Ai comecel aver ‘orque Diderot ja dissera na Enciclopedia Literalmente livre da turma no final do se rmestre, volte, j4 nso tao confiante, aos meus cur © 0000000 0000000000 0000000000 000000 s0s de atualizacio para professores. Num deles, Sleuém provocou.e se voce fosse professor de 12 frau, o que faria? De repent, via que ua pe The ndo uma receita. O desdem do passado se tor a duvida a duvida vem comigo para Universidade Em 1981, em curso sobre Teorias Gramaticals € Gramaticas Pedagogicas, que fazia como aluno, ou instado a falar da ponte sobre a qual nao que is estar. Nem ser companheiro na construgso Desta fala surgiram os Subsidios Metodolopicos Series mediatamente publicados como Cadernos da Fidene n® 18, Qual s aposta do texto? India sminhos, retomando uma concepedo que me pa ci, Gpoca, estar subjacente ao que se demo Featores ¢ 0 proprio objeto de ensizo. Este texto inicial tinhs muito de receita ¢ muito de riser aparentemente, até por sugerit tas de distribuigao do horario de aulas, es ila uma certa seguranga aos professores: pe tro lado jogava-os na aventura de se assumt ‘isiilidade do que aconceceria em cad fxn cada projeto que o grupo foss durante o ano leivo, Nao tenho a menor divi de que, em alguns cursos, "vendi a receita par Senquistar os incautos”. Mas a pratiea [oi mos trando que a receita ndo preduzia o mesmo bolo E 0s cursos iniiais se ransformaram em proje tos: um curso, uma disetsséo, uma pratica de sala ‘de aula, um retormo com muitas perguntas.E nee tes projetos fui me envolvendo durante dez anos (O primeira grupo de professores que acabeh acompanhando foi da longing Aracaju. Incl mos em 1981, E nto terminamos ate hoje. Algum dia terminaremos, ou, como acontece atualmen Campinas, a partir de 1983. Lembro, como pas sagem, um dos encontros desse grupo em que ur Bio a inseguranga como forma de aprender. Ao trabalho ja nio ia sozinbor colegas me acompa ‘bes!. Enestes trabalhos fomos aprendendo: dos paras seminsrios de tro teas de experigncias e destas para um projeto co espalhansdo: Aracaju, Campinas, Oeste do Para ny Mato Grosso do Sul, Rondonis. At de wma ‘coMmisséo oficial acabei fazendo ps ‘0 que aprendemos com tudo sv0? Imposst possivel detectar algumas aprendizagens 1. gue wma mudanga s6 se produc coletiva tstudos, formados por professores rm que suces Tasdes para o que havia ocarrido. A sposta era ‘que os professores destes grupos acabariam por pressionar o sistema escolar tanto por melhores ondigoes de trabalho quanto por oportunidades ae para sair de si proprios com ind 08 que os o. Em alguns ligares isso se dou: Aracaju, Oeste do Parana, Mato Grosso do Sul. Por isso os grupos eram chamados a inter rogarem a sua propria experiéncia. E, para sur presa nossa, professores antes tao avestos a to a passaram a exigit cursos de Filosofia, de So ciologia, de Fonologis, de Teoria Politics, de teratura,.. Isto nos levou a aprofundar a posta a constatar que ¢ preciso tempo de formacto ho trabalho, © ndo meramente um scompanh mento que Fesponda a duvidas. O tempo nos fez ‘er que as trocas de experigncias, em cujos se minarios s40 chamadon a falar professores que, pesar de tudo, se tornaram protissionais, ris: Tizam as experiencias de cada um, tornando-ss rodelos. A tide o que se dt, o professor respon de: ja faco isso, So no se da conta de que o faz ‘esporadicamente, no interior de uma pratica que snula a experiencia que oui, © que, por repe ir, ndog experiénela sua, mas corpoestranho ‘que'"moderniza”,“enverniza” aulas nao assum las, A constituigio de grupos permitin que 4 ex periénetia se lizesse em conjunto: 2rque o grupos, ao mesmo tempo que néo podem fica a le, {dentro da proposta; iso esta fora. Agindo as sim, do s6 8 proposta vira receita; também ox professores viram tarelciros, aplicadores. E co no ndo ha uma receita com pesos e medidas, 0 Dolo acaba abatumado, sem vids; 43 que tudo isso seria inutl se 0s professo res ndo conquistassem uma aivionomia, que nao 1m um ponto final, mas que se vai construindo tidianamente. Para tanto, era preciso deiivios andar com as proprias pernas: que signica no" se responsabilizar, enquanto docentes universt arios, pelas praticas destes professores, nem tampoueo controli-los para, em nome de uma cigneia, com variaveis bem definidas,cransfor mar o que era vida em tema de exposigoes cit fificas, Esta aposta passou a ser uma preocupa- fo constante de nosso grupo: nao bastava ace: {ar um conte para participa de um projeto ra ‘mais breve possivel, para nao criar obstaculos ‘A construgao da autonomia do novo grupo de pro fessores ede cada uin deles, Penso que esta aur tonomia comprometew muitos professores que, fem fungao das dificuldades que foram constatan do, procuraram cursos de especializacto, e mes mode mestrado, em escolas as mais diversas, ni ‘como alunos sem indagages, mas como alunos fque traziam na bagagem whavexperitneia de trugso de um conhecimento ainda nao explt (do mas que ja era suifciente para perguntas lem daquelas que demandam um receitusrio de as “4. que, sa critica se quer construsio, ¢ pre ciso apontar alguns caminhas. Isto nos levou a Tepensar, no interior da crise da escola, a crise do professor, expropriad nao so em seus salt fos, mas também em suas crengase identi ‘que uma proposta tem varias lltueas: how se professores que as tomaram como receita ces io sempre a exigirsolugées para os problemas ‘que a pratica Ihes traz; houve profestores que experienciando, viram que ro havi tantas res ppostas prontas quanto parecia haver, e retorna sm a0 livro didtico, mais seguro ¢ menos com: prometedor; houve professores que entendendo-a como proposta, passaram a construir 0 seu rminho enesta construcao foram vendo os proble ‘mas efetivos que a propria proposta continka Mas, sobretudo, aprendeu-se que no hé pon ze entre a teoria ea pratica. A praxis exige cons trucdo, permanente, sem cristalizagoes de carn hos. Na praxis, alteramse sujeitos envolvidos ® pereepgbes sobre o proprio objeto, Em se tre tando de objeto que se move, se constitu a pro Pris naturera do objeto destroi pontes enquanto Eaminhos que se fixam. Entio, € precisa elege ‘omovemerto.come ponto de parti © como pom to de chegada, que é partida Em sentido estrto, este trabalho alo esco lhe um topico delimitado de estado para a qual a lingulstica poderia fornecer resposta adequa da na agao peagogica: a0 comtrrio, escolhe uma perspectivatem relagao a guage e, Ia. diseute as praticas correntes no ensino de lit 0a portuguesa apontando para outras praticas Implicadas pela perspectiva assumida, Trés a pectos serio privilegiados: oensino da redagdo SO ensino da feitura e o ensino da gramattea. Em nenhumn deles, noentanto, ea nio-ser a titule de ‘exemplo, se womar4 uma questdo delimitada em todas as suas filigranas, apresentanda resultados ‘desu caminho percorride e analisado em todos (0s seus detalhes, Neste trabalho, noha o relato {© aanalise de uma experiencia, Results de expe riéncias de contatos com professores e deles & continuidade. Mas resulta também de contatos ‘com estos da linguagem, especialmente aque Tes realizados por linguistas que tém tomado 0 texto ou a discurse como seu objeto de reflexao. Assim, este trabalho tem duplo objetivo: de um Indo registrar uma reflexso que se esta pro- cessando; de outto lado, pelo registro, permitir ' continuidade. E, pois, ponto de chegada e por to de partida — passagem. Como ta, lacunar e programatico, Depois de dez anos de trabalhos Com professores, a tepistro se impae para clarear lacuna, falhas, faltas, mas também para apro fundar opgdes, fandamentar praticas intutiva: mente construidas e experienciadas, subsidian- do aqueles que fazer no seu dia-tdia da sla de sult a educagso lingdistica possivel no interior dle um sistema escolar falido numa nagdo de ex: plorados em beneficio de uma minora, (0 que se vai ler eum pouco destas aprendi zagens.e tambéra um pouco das utopias que le 1a. si izagoes de pontos de partida Nocensino,sucesso.ou fracasso nfo se deixam cexpliear, a0.que parece, como encadeamentos su ‘cetsivos de “estas estritamente determinados” ‘como ondas, as duvidas levantadas em cada en- ‘contro, em cada curso, em cada projeto, assina lam a existencia de uma crise cujas causas no se fixam em um unico lugar e cujas conseqdén visiveisaolho mu, desde que lho stento, ga nam ja destaque da imprensa ns acontecimentos extraordina Alguns exemplos deseasrepercussaes podem ser esclarecedores: "Vestibular poe ensine em xe que” é a principal manchete do Jornal da USP (Ano Vn! 127, 19 252.90) com chamada para Feportagem de quatro paginas em que se analisa a Situagao do ensino de 19 ¢ 2° graus, reporta em motivada pelo fato de que 739 vagas da Uni ‘etsidade nio foram preenchidas porque os can Aidatos nao obtiveram a pontaagso minima ex: Bida pela concurso;"Barbarie educaconal”€ th tulode editorial da Falha de S. Paula (Ano 70, n° 22.243, 28-20), motivado pela publicagao, no mesmo jorna edois dias antes, dos primeiros da .s20 do ensino publica alizada pela Fundagao Carlos Chagas pedida do Ministériada Educagéo, “O analfabetismo no dos de pesquisa de aval Brasil” ¢ tito de texto de Sérgio Haddad, pu blicado no mesmo jornal, no dia internacional d alfaetizagdo (8.89), em que se pode ler que noma brasileira, na period de 1940 a 1980 1 multiplicos, com crescimento meso de 796 20 do de 49* economia do mundo ps 8+, no mundo capitalists, enquanto que ao mes ceresceu de 21,2 para 32,7 milhoes Mas ha tambem repercussdes de outra or dem: a crise ¢ suas consequncias, como lamen tos, chegam & Constituinte de 1988; a erradica ‘lo do analfabetismo e a universalizagao do en Sino fundamental passa, no Brasil a principios consttucionals, fixando-se em dez anos 0 prazo para a consecueso de tais objetives: Dentincias e ansincios que desafiam ¢ conv dam para uma rellendo sobre oensino de lingua portuguesa entre nés. Concomitantemente, paem im obstaculo: como focalizar a quesiao se a ex ‘convivio com ela demonstra a nat feza multifacetaria de seus problemas? Trata im tema multifacetario ¢ sempre um rico, Ris nigneia de delimitar 8 questdo, ou bem "corre & redea solta na multidiseipinaridade ¢ cai nam deriva que leva frequentemente a deixar 9 cam po de sua disciplina para tudo dizer, tudo descre ter, ser especialista em tudo e de fato nada di ** Aparentemente, a ranguilidade da escolha de um foco poderia ser atingida pela selegto do proprio objevo de ensino: a longua ou mais am Plamente a finguagem. No-entanto, laminar nos a compreensio do ensino de lingua portuguesa ‘coonstruir a partir di, lternativas possiveis de {que queremos), tomando como loco propria in uagem e pensando que desta forma afastamos todos os riseos, € uma ilusto Por iso, ao escolhermos a linguagem como posto de observagie para a compreensio das uestoes de seu ensino nao evtamos, ips facto, © risco apontado por Fall etampouco podem esquecer que a tranquilidade dss resposias does pecialisa pode se chocar comas tranailidades das respostas de outros especialistas, Como Ben to, personagem de Nélida Pinon(Arepublica dos sonas), ems que compreender que nada no un ‘erso humano guarda estritafidelidade a mera parencia de realidade e que a interpretagao da ‘ealidade se justifica mediante acerteza dese fa zer dela uma abordagem que leve em conta sua suurds ¢ infinita complexidade omens, nascidos na historia e constrangt dos pela histéria, vamos construindo solugdes {que a cada vez nao se querem paliativas), cons entes de que 0 que se vai eceno, a poco e post co, cm cada ponto, em cada no, ¢ uma fesposta mareada pela eleigdo de postos de observagio possveis que somente uma socologia do cone Cimento uma historia do conhecimento pode ‘ao explcar: Navegantes, navegar¢ preciso vier. 'Nossos roteiros de viagens ditto de nds o que fo mas: de qualquer forma estamos sempre definin do rotas — os focos de nossas compreensd Face a0 reconhecimento, icitoouexplicito, de que s questéo da inguagem ¢ fundamental no desenvolvimento de ado equslquer homem; de que ela é condigao sine ua non na apreensio de conceitos que permitem 20s sujeitos compreen: Sdero mundo enele aair de que ela e ainda a mais usual forma de encontros, desencontros © con fronios de posigdes, porque & por ela que estas posigdes se tornam publicas, crucial dar alin {Eungemo relevo que de fato tem: ao se trata ev Gentemente de confinar a questao do ensino de Tinga portuguesa & linguagem, mas rata-se da necessidade de pensi-lo a luz da linguagem. Es olha-se, por inevitabilidade, o posto. Escolhide, posto & mosedico, E preciso desenhislo Eo lugar privilegiado deste deseaho éa in ‘entendida como espago de produto 4e linguagem e de constituiga0 de sueitos tes de qualquer outro componente, a linguagem (Osakabe. 1988) fulcra'se como evento, farse na Tinha do tempo e $6 tem consistencia enquanto eal” na singularidade do momento em que se tenuncis, A relagao.com a singulanidade ¢ da turera do processo constitutive da linguagem ¢ dos sujeitos de discurso, Evidentemente, os ac0% tecimentos discursivos, precarios, singulares © ddensos de suas proprias condigdes de produgso fazemse no tempo e constroem historia. Estru ras lingisticas que inevtavelmente se reiteram tambem se alteram, a cada paso, em sus consi tGncia signifiestiva. Passado no presente. que se st passado: trabalho de constitwigdo de sujeitos ede linguagem Focalizar linguagem a partir do processo imerlocutivo e com este olhar pensar 0 processo ceducactonal exige instaura-o sobre a singulart lade dos sujevtos em continua constituigao eso bre a prevariedade da propria temporaidade, que te © 0000000 000000000000 000C CLO OOSECe o especifico do momento implica, Trata-se de eri gir como inspiragao.a disponibilidade para amu ddanga, Focalizar ainteragdo verbal como o lugar da produsao da linguagem ¢ dos sujcitos que, es te processo, seconstituem pela linguagem sign fica admit a} que a lingua (no sentido sociolingtistico do terme) no esta de antemao pronta, dada co- moum sistema de que o sujeito se apropria para Ia segundo s snecessidades especificas do 30, mas que o proprio pro- incerlocutivo, na atividade de linguagem, ‘cada ver a (reiconsti b) que os sujettox se constituem como tas & medida que interagem com os outros, sua cons cléncia e seu conhecimento de mund. como “produto” deste mesmo processo, Neste Sentido,osujeito& Eo trabalho de um artesae, mas trabalho social wal ja que inguagem 0 ) au contexto social ehistorico mais ample; na fe, elas se tormam pe jentos singulares, no interior € nos limites de tuma determinada formacao social, sofrendo as interferéncias, os controls eas selegdes impos tas por esta, Tambem nio sio, em relacio a es tas condligdes, inocentes. Sio produtivas histo come tas, acontecendo no interior nos aprecariedade ea singularidade do bal E no acontecimento que se lcalizarso as ixos que me Apontase, desta forma, para 1 recem explicitagso: a historicda Oo sujeito e suas atividades Linguistieas € 0 com texto social das interagdes verbais. Creio que este desl noe as atividades interlocutivas eferivas em sa: tla de forma diferenciada. De modo geral, falas em alla so tomadas como "meio", co fo atividades instrumentais de acess0e apropria: {ao de um conhecimento que se erige como te falas. Ou sea, odialogo (ex ha entre professor nd posigao do prote Eoalusos) normaliente topealiza um cer der. Fala se sobre ele; lose sobre ele. Nesta in crlocusoes allorat informagoese conformagies 5 comma, Crése que fol aprendide quando, com Se produ. Hl no entante autra aprendizagem im plieita que se dia precisamente no processo que onduziu esta aprendizagem: porque os temas estas interlacugdes so constituidas como “con: teados de ensino” prontes, acabados, aos quais abe so aprendiz "aceder’ porque a interlocuo de sala de aula se caracteriaa mais como “aferi ‘lo" de incorporagao do que ja estava pronto, AAcabado: porque os sujeitas envolvidos se sujet {3s compreensoes do mundo que se hes ote recem na escola, o que se aprende propriamente que tudo na cigncia esta pronto (eishificagao ‘onhecimento), ue resta apreendé-lo e que, s¢ ndo se apreende, o deficit nao ¢ das explica {es cienificas, mas do sujeite que expica ou d Sujeito que apreende Nos contrapantos entre a construgio dos ob- mlificos e a construsdo dos conteudos de jeto fensino; entre as identidades social e historica mente construldas do professor e as especific. dades do trabalho com textos, entre ui ‘como reconhecimento eum ensino como conhe timento e producio, 0 deslocamento que uma ‘oncepgio interacionista da linguagem produz pode contribuir para a construcao de outras a {emativas, sem que isto sgnifiqeo abandon de conheciaentas historicamente produzidos em roca do senso comum de interpretagoes mornen Para explcitar esta concepcso de Kinguagem, retomo, como esbogos de um desenho, os és ek sos que cla obrigs a consigerar 1.2.4 historicidade da Hnguagem Nascidos num universo de discurso, que se ‘expie atraves de recursos expressivos! & per ‘cepeso primeira eingénta que fazemos deste fe ‘cursos € que para tudo o que se tem a dizer hé uma expresso adequada, pronta e disponivel com cla vamos representando mundo e as ages j Gq nelepraticamos, Quando nos faltam palavras, | hosso desconhecimento destas oresponssvel pe los torncios expressivos que fazemos para dizer coque queremos dizer Ano compreensao de nos ‘olntetlocutor nao ¢ vista como uma negociacio de sentidos das expressoes que uilizames, mas ‘oma pobreza de recursos expressvos do proprio icutor ou de sua contraface, 0 interlocutor ‘Se dermos, no gaciagdo de sentidos, aos mal-entendids, 36 te lificagies, as correyGes auto e hetero-niciadas, cic umm outro estatuto, veremos que o falar de pende ni sé de um saber previo de recursos ex Pressivos disponiveis mas de operagdes de cons Tragio de sentidos destas expressdesno proprio momento da interlocugao. Para Talo de Mauro tanta, aos processos de ne Nao se creia que uma proposta que toma o ato signifcador como seu abjetoexpresse que es teato seja totalmente nao regulado, nfo ordens do, como se qualquer expressio pudesse signi ‘ar qualquer coisa. Fora assim, sequer os proces sos de negociagso de sentidos seriam possiveis. 00000000 0000000000 0000000000000000 ds uniformidade pola iuséo da multiplicidade in feterminada. Numa posigao etariamos negando jonepudas pelos fa00s jerlocutor ateibus ao locutor. Na expresso d Watgenste s implesmen rise-se de jingua como umn codigo disponivel, nie have necessiris fenomenos lingsticos empiricamen a construtssemos um sistema de expressbe dos recursos expressivos usados nto quer dzet sat jvos usados nos processos interativos = Phra s0s, insuficientes para a identificagao tan > dos objetos referidos (realidade factual di ti levante: porele a linguagem se con titui marcada pela historia deste fazer continuc nqui e agora”, e para isso temos como "mat ial” para este trabalh que "resultou ‘contecimentos anteriores. E por {que 0 retorne é visto come o retorno do mesmo, de 3 primeira pereepeao ingens que se tem da Input @¢ de um sistema extrturado,feshadocuja aprenclizagem se daria por uma especie Ge "apro- priacao" dosstema:¢ porque em cada disctrsa 2s expressGes adguirem seatidos diferentes que ate erep nu oma os eu ex Dressivos como”'sem qualguer sentido" este ser Eo apenas o produto de um discurso que acon tecendo, apagare © trabalho lingiistico, ininterrupto, esta sempre a prodzt "uma sistematizagaeaberta consequéncin docquilrio entre duas exigencias Spostas uma tendenca a dferencagio, observa Vela cada uso da expressdo, eum tendéncia 8 Tepetigo, pelo retorno das mesmas expresso om os mesos sipifivados presentes em sta. ‘ses anteriores Esquematicamente, poderiamos fepresentar este movimento pela figura aba i. = — rmrouioe— Algumas explicitagdes 2) a situagdo historico-social € 0 espago-no qual se dio as interagoes entre os sujeitos. Elas thio se dio "metafisicamente”, sem constricoes. Como veremos em Is, a0 tratarmos dos conten: tos interacionais, as sociedades organizam econ tla, numa rede de sistemas, as interagdes pos toda interagdo € uma relagdo entre um eu © um tu, relagao intersubjetiva em que se tema tizam representagdes das realidades factuais ou ‘Ja relago interlocuiva se concretiza no tra balho conjunto, compartlhado, dos seus sujitos, straves de operagdes com as quais se determina, ‘hos discursas, a semanticidade dos recursos ex: pressivos utilizados "d) 08 discursos produidos so necessaris: mente Sigificatives, ois "so se pode conceber sun existencia enquantoligada a um processo pe To qual eu e tu se aproximam pelo significado (Osakabe, 1979: 21, Trabalho sociale historico de produgio de discursos produa continuamente a lniguaen- {quanto sistematizagao aberta, o que permite, por Seu turno, 9 movimento continuo de produgso de discursos, embora nao Sejaa lingua condigao su ficionte para que estes ocorram. Retomando a ctacao de Franchi, a lingua en {quanto sistema simbalico torna-se signilicativa por remeter aim sistema de referencias, prod ido nas relagdes interativas que, por seu turn, ‘Situatn-se numa determinada formagaa social © fdentemente neces so por esta marcadas, Dai compreender a ling rias que vio incorporando,enquanto signos, no processos interlocutivos de que parsicipan Como o trabalho ingilistice¢ continuo, re lizada por diferentes sueitos, em diferentes mo mentos historias, em diferentes formagoes feréncia se eruzamn (ese digladiarn).a lingua que se vai constituinda mantémse porque se modi: a, E neste sentido que a semantics de uma in relativan Com *historicidade da linguagem” pretend fem, movimento que +e da na historia pelo tra batho de sujeitos. As batho dos sujeitos falantes, sdo mais ou menos do tipa de operagio. Al 1.3.0 sujeito e suas agdes lingtistleas Ahistoricidade da linguagem afasta, a0 mes mo tempo, dois mites: aqucle da univacidade ab- lua, Hdentificavel cam a sonho da transparen: ia, e aquele da indeterminagao absolut em que no seria possivel atribuir qualquer signiticaca ma expressdo fora de seu contexto, Entre os ‘qualquer interpretagao que tome o sje Fonte dos sentidos. Entre o tudo (produto un ‘codos setidos)e onada assujeitamento comple Toaumaestrutura sem frinchas), hiuma pratica cotidiana em que os sujeitos nao podem ser con {ebidos como “automates sintaticos”,"monstros dda gramatica” e também — e no mesmo sentido = no podem ser concebidos como meros porta vores da hegemonia discursiva de seu tempo. Para aprofundar um pouco mais este mov fem dois niveis que, evidentemente, se entrecru dam: aquele da produ mas de referéncia em rela cursos expressivos se tomam signficativos aos sistemas de referencia, permitem a intercom 2em sobre a linguagem; no agenctamento de re referencias pode-se der que hi uma ago da lin ‘Obviamente, estes trés tipas de agdes see sivos que, materialmente, os revelam, Considero ‘que alinguager permite tas ages em fungdo de ridade, ito €, 0 poder de reme Coma linguagem nao s6 representamos a real ¢ mos sentides, mas representamos a pro tum conjunto deitens lexicals yo vecabulariog pela ;prendizagem de um conjunto de regras de est tuiragio de enuinciados (gracnatica. pela apreen como participar de uma conversagio ou de co mmo construir um texto bem montado sabre de terminado tema, ientificados ses interlocut Aaprendizagem da linguagein ¢ ja um ato de eflex30 sobre a linguagemr as agoes lingisticas Aue praticamos nas interacdes em que nos envol ‘emos demandam esta ellexao, pois compreen tuteo tem a forma do dilogo: quando compreen- corresponder sua pa as nossas palavras cles fazem corresponder urna série de palavras suas (Bakhtin, 1977} rem tém tim sentido definido e nico enguanto propriedade de cada enunciagio como Porque Bakhtin chama de tem ©0000 0000000000000000 Ora, se 2 compreensio do tema demanda uma contrapalavra (de conflito ou de acordo, pa que esta contrapalavra nao signifique uma rap tara na producto conjunta de sentidos, ela deve orientar'se em relaggo & palavra do locutor. Ob ter esta “orientagao",visivel nos processos dene ociagées de sentido explicitos, invisivel nos pro ‘cessor mentals dos sujeitos envolvides, impli tados pela propria continuidade e progressao da intelocusdo,¢ consequéncia de um trabalho de reflexao sobre as express6eslinguisticas utiliza das, Isto significa admitir que nas ages I cas ha ja agacs de reflexao sobre a linguagem E nio paderia deixar de ser assim, ot a lingua gem ngo seria o que ¢. Se entendermos a lingua fem como mero cddigo, © a compreensio como Alecodificagso mecanica, a reflexao pode ser dls sntendermos como ua sistemat de recursos expressivos cujaconere fieativa se da na singularid ‘mera decodificacao e a reflex reflexao sobre os pro prios recursos utilizados ¢ uma constante em cx Ua provesso em Bakhtin mesmo que podemos encontrar uma explieagao para a orientacao da contrapa lavrado interlocutor & palavra do ocutor le viee versa 0 ato de que todo 0 tema se apsia sobre uma cera establidade da signiticagio dos recur os expressivos. Esta estabilidade, rago de iio entre intelocutores, se fundaria na historieldade de sua presenga em interacdes anteriores, com endo atribuids, ‘se pode dedusir da seguinte passa 09s sentidos que hes forarm No processo de compreensie ativa e respon siva, a presenga da fala do outro deflagra uma especie de “inevitabilidade de busca de sentido! festa busea, por seu turno, deflagra que quer tro. Como esta se constréi tanto com elementos a sitwagao quant sdequada compreensio destes results de um tr batho de reflexao que associa os elementos da s: ttagso, os recursos utiizados pelo locutor © 0s recursos ullizados pelo interlocutor para est vamente, na imagem de Bakhtin, @significacto "é como urna faisca elétrica que 50 s© prog qvando hs contato dos dois polos opostos' ‘Assim entendidas a produgdo e @ compreen so, podemos recuperat'uma distingao que nos ‘ai ser til para compreender as ages que se fs zem com a linguagem, as agaes que se fazem so brea linguagem e as agdes da linguagem Trata se da distinao entre atvidades linguisticas, ei Tingisticas e metalinguisticas, Todas elas ocor Fem em qualquer tipo de ages (com a linguagem, sobre @ linguagem e da linguagem), mas repre Sentam niveis distintos de eflexdes, so aquelas que praticadas nos processos interacionais, referem 420 assunto em pauts, "wo de si”, permitinda a progressto do assunto. As reflexes que aqui se fazem, tanto no agenciamento dos recursos eX pressivos pelo loeutor quanto na sua compreen Sho pelo interlocutor, no demandam inter pers progressio do assunto de que se ests tra las dem a) Asarividades fin finda. Come vim sadam, na. con preenséo responsiva, um certo tipo de Fellexdo {ue se poderia dizer quase “automatics. sem Stispensio das determinagoes do sentido que s pretendem construir na intercompreensio dos st lifiquemos, com um caso particu lar, cstaatividade linguistca geral, Os exempl scolhidos mostram o trabalho de determina Jo tema atraves de recursos expressivos cada vez isis eapecificos. Retio-os de um stud sobr a parairase Hilgert (1989), tratando da parafrase como procedimento de constitu. ir determi com exemplificar mais a tentab hando sentido, na pro ‘do que retornos ou retomadas das expressies us fdas, Tomo dois destes exemplos! Exemplo 1 (ps eG ‘ (pe Exempt ue centdo se dia ls que ele. ahi= na hora em que ia para o ar O Bem Amado .. ele Se trancava fr gabinete dele..e dria que ele tinha despachos urgentes e ficava Ta trancado Entdo eu pensava(..) so eu dizia "mas ¢ uma col ‘Sa estranha neste Brasil inteiro naguela hora (.) der da noite © as criaturas mais diversas as falxas sociais mais diversas Dresas a esse enredo essa historia que se processa Hilgers, 1989: 2 nto ew estava explicande ‘gue para cada cer engenheivos ue S00 pedidos..-e pedido UM quer dizer @ desproporséo ¢ (Hilger, 1989: 225), eocccccee Asp: rases apontadas sio autopardfrases iz setiam extensivas, com a funcao explicita dora Se pensarmos do ponto de vista dos objet vos procurados pelo locutor, estas parsfrases me parecem ter uma fungi de, ao explicitarem sua Inatrizes, dar maior forga” ao que se din trie, epor isso so dela ums continuidade e nao parecem resultado de uma rellexso do locutor precader, Sao agées linguisticas que ¥S0 com: fnheza de alguei se trancar no gabinete (para f er o que todos fariom naquele momento} Note Exemplo 1 ‘tao cu pensava (.) neste Brasil inteira neste No exemplo 2 a “paratrase” apontada pe forga argumentativa, inclusive pela presenga de cias aio semanticamente paratrasticas. Minha | pretensdo ¢ chamar a atengo para ofato de que ressdo do tratamento do assunto pelo locutor+ fm fungéo de uma allvidade epilinguistiea tip Tizadas como assunto do enunciade que se lhes egue. Neste sentido, ao contrario de outeas ps ralrases, estas (talver com exceydo da relagaoe do hater qualquer marca prosodica assina ads a separar matrie/paratrase) relevam muito is da atividad linguistica que se esta proces Sando do que de uma “parada’'destasatividades ue, tambem presentes nos processos interacto nals, eneles detectavels,resultam de uma rele eccccceccee: to compreender envolvem intencionalidade. A | quando este parece néo querer responder}, ora te sobre a linguagem. Pergunta Legrand-Gelbe incidindo sobre sua propria organizagao (por latins coms nvidoccs uc independctcmen metalinguagem sstemtica com 2 qua fala ee a ET ae, weimento que analisam a linguagem com que estio usando'®, Seriar Wwdes que se ral dos sujeitos. Dependendo do nivel de escol: pelo sujeito afasico (ver De Lemos, 1982; Coudry, na construgao de sentencas ou na significacao dos sobre a linguagem no € ocupagto exclusiva de especialistas. Isto pode ser uma consequéneia do come meio de regular e mediar a aividade psiguica humana (cf. Coudry ¢ Morato, 1988), Estes tres tipos de atv Fagdes que permitem a produgéo de discursos com sentidos determinados usando recursos ex pressivos em si insuficientes para tanto”. Tra fando-se da produgao de discus ager, Adis eBo-em 18s tupos de adesndo ¢, portanto, uma 13.1.4 propésito linguagers| as ages que se Farem com a Como.as agies lingiisticas se dona relagio mo um jogo. Isio demanda considerar que Enneste jogo ha objetivos a ating: os parce tum sobre o outro, No jogo, ps ddade mas nao ha espa jeitos pelo significado e este significado remete po interior destes sistemas de referénelas que -cursos expressivos se tormam significativos, por as represent fazer do mundo dos mens cam o mundo ¢ entre Em conseqiéncia, as ages praticadas com a linguagem sao, a cada passo, "ditadas” pelos objetivos pretendidos,o que pode levar um locu fora representar de modo distinto uma mesma alidade em fungao dos interlocutores a que di ‘us falas ou em fungao da ago cles pretende realizar. Dado que a fala serealiza entre os homens, as agdes que com ela pratica Jelas representamos, © apresentamos @ nossos interlocutores uma certa construco da reaida de, para com isso interferirmos sobre seus jul gamentos, opiniges, preferéncias, nquanto a coeredo (fsica ou simbolica) in cide diretamente sobre as agdvs dos sujeitos, dleterminandoas ou proibindo-s, iadependente mente do grau de “convencimento” ou" persua 10" dos agentes a proposito das vantagens ou desvantagens de agir (ou deixar de agit) de un tdeterminada forma, as agdes linguisticas sobre ‘outro incidem sobre as motivacoes para 2g Como estas motivagies podem ser de diferentes fordens eresultam dos diferentes motos de como ‘ada sujeito se poe diante do mundo, alterar tas mativagoes demanda construlr, pelo discurso e para o interlocutor, novas motivagdes que alte fem as anteriores ou que as reforcem, ji que a testo dos sujeitos 9 suas crencas e 2 suas re presentagdes do mundo sempre de intensidade criavel, 4é vimos que no espaco da interlocucéo constituemese os sujeltos ea linguagem. Como os suicito slizacdesimutaveis, os pro ‘Cessosinterlocutivasestao sempre a modificales ‘a0 modificar o conjunto de informagaes que ca ‘da um dispoe a proptsito dos abjetos e dos ‘do mundo; 20 modifi ragio de nov dlficar lingwager com que alamos represen: tamos 0 mundo e as relagaes dos homens nes mundo, studos das agdes que se fazem com ali sagem, respondendo a diferentes interestes de pesquisa, tem em comum o ato de ressaltarem, auc através destas acces vidos no processo os estudos sobre a argamentagio, especialmente aqueles vin Sulados a Revorica, tm ressaltado as formas pe ias quais os sujeitos, argumentando, tornam 0 possivel necessario: permitido, obrigatorio: 0 Inacetasel,aceltivel. Os estudos sobre os atos de fala tém ressaltado tanto as condigoes previas ne cessirias a pratica de cada ato em particular ‘quanto a mudanga que a pratica de cada ato pro dduz nas relagoes entre os interlocutores e suas ‘omnsequéncias nos atos que se seguem: Diversas operagdes discursivas sdo realiza das pelos falantes, na construgi de seus discur Sos, para atingir os propositos que motivam suas falas. Como retornarei a estas operagoes, exer plifico aqui as des que se fazem com a lingua em, ressaltando a relagio entre os interlocu: Exemplo 3 Em um boletim estudantil, 0 Ditetorio Central de Estudantes convida os alunos pa radebater a deterioracio dos servigos ofere dos pela universidade, So apresentadas co mo evidencias desta deterioracto as "trad cionais filas” para o dnibus e para e cestau Fante.Tais problemas sao classificados como “requentes"e itides”- No ultimo paragrafo do boletim, que antecede a frase que con a para a reunio, com informagdes sobre 0 jocal ¢ horario da reunito, lee ‘Como se iso nao bastasse,falase em re servaro restaurante velho para o pessoal do Hospital das Clinicas, pois o proprio restau ante do hospital nto pode ser coneluldo pe a falta de verbas, sso sumentaria sinda mais as filas para oa Independentemente de qualquer anise mais profunda, importa ressaltar que 2) ha umm objetivo explicito para a “fal” do DCE: trazer o maior numero possivel de estudan. es para uma reunito: bya propria proposta de uma reunigo se fun: dda na crenga na forga da mobilizagao estudantl ‘}fato conhecide de todos 60 argumento pa mostrar que ha uma deterioragio nos serv 0s prestados: a existénci See para o onibus; dye precisamente o que se toma como poss iid lho... o melhor argumento do DCE para provo cara mobilizagao: ha ainda tempo para impedir a decsdo que, se tomada,“aumentaria ainda mais 2s fils para o almogo! DCE nao alirma que havers a reserva do estaurante velho pars pessoal do Hospital das Clinicas (falese) o que Ihe permitiriaineluir ou tros elementos na discussSo sobre a deterioragao dos servigos prestados Como se modificaram as relagdes entre DCE cestudantes a partir da distribuigao do boletim? De um lado, a entidade se mostra atenta ao que vem acontecendo e chama a atengso dos esta tes para.a possiblidade de piorsr a situagdo, Nao pode, pois, ser acusada de omissa; de outro lado, sso informados sobre uma poss vel decisio que os prejudicaria e convidados a reas, junto como DCE, contra sta decissr no poderioalegar desconhecimento da informacto, proposta, Exemplo 4 4985 APROVAM ATIVIDADES ESPORTIVAS. DE COLLOR Quase metade dos eleitores — exatos 4986 — aprova as demonstragoes esportivas as experiéncias do presidente Fernando Col Tor, 40, em avides supersénicos, motos e sub marinos. alto, tamibem,oindice dos que ao faprovam eseas demonstragdese experiencias “37%. O presidente encontra os maiores in nivel superior de escolaridade 51%) e entre = que moramm em Porto Alegre — RS (48%). B em Belém, no Para, que os atos do presk dente recebem mais apoio — 618%, Esse €0 resultado da primeira pesquisa feita pelo Da taFolha para aferit &tepercustao, ctr os leitores, das atividedes do presidente (otha de S. Paulo, 155%) A referénciaa pesquisa de opiniso, com aexa tidio dos percentuais, parece isentaro texto de qualquer tomada de posigao do locutor (no caso, PO OOCC OOOO COOOL COOH OO OOOO OSOOOOOOO® 1 redagSo do jornalktrata'se aparentemente le Torecer 3s informagoes, de forma “neutra’. aque tange & particularidade da disjuncao entre ‘Sprovar desaprovar as demonstragbes presider: Cais, Mas ¢ evidente que esta suposta neutral dade & produtiva na relagao entre interlocutores {os leitores) ¢ locutores fo jornal '8)a exatidio dos numeros, baseados em pes ‘quisa, constroi paraoleitor a imagem de um jor nalismo serio, imparcia: informa os resultados: bos dados relativos a duas capita, dees tados distantes, reforgam a confiangs na pes: auisa: 8 inclusto do percentual de desaprovacéo, predicado como alto, ea releréncia a desaprova- {Fo entre os eleitores com nivel superior de es- Solaridade reforgam a imparcialidade do jornal ‘Sto caracteristicas que, somando'se uma 2 ‘uta, vao prodzindo no interlocutor o feito de Sejador a imagem de seriedade jornalistica e a Imagem de imparcialidade, Trata-se de informar lleitor, nada mais ‘No entant, esta aparente “inocéncia infor mative pode ser posta sob suspeita ‘porque a existéncia da propria pesquisa so- bre o tema se inclul no universo de discurso de ‘marketing utilizado pela Presidéncta da Republi a, ressaltando a figura do presidente: nenhum texto ido sem que a leltor, no pracesso de com eens, inchua num universo discursive mais, fmplo. E aqui a atha atende s todas as possibi Tidades, pastando inclusive ura imagem de "opo ‘sigd0" por causa da informago de desaprovacio entre of eleitores de nivel superior by jornal, neste contexto, consciente os in conscientemente, desliza do pedestal de sua su , posta neuraidade-otese que um indice de 484 tio ¢apresentado somo menos da metade dot tietores, mas como quase metade dos eleiores {Uma coutra forma de construr a realidade fa zem a diferenea Estes da exemplos, que poderiam ser mul Uplicados, so sulicentes pata mostrar que os fates, os dados do munde,tracidospara'o ds curso neleexercem mais do que una simples Tungao informative: eles sto agenciados pelo locuitor em fungao de seus objeivose esta aed0 os transforma em dois senidos de um lado por {ue so apresentados como uma census cope sifica do real de outro lado porque se tran formam, no discuro. em argumentos favor do ponto de vista que o locator pretend defer der" Como vimos com Bakhtin, 2 conscineia dos sujetosforma-se neste universo de discur Soe deles que cada um ext, em funcio das ivr le oe prin, am do on recursos exprssivon, consroy sua com preensio do mundo. ‘No dmbito mas estrte do estudo dos enun clados, a teotla dos ates de fala vem mostrando Que cada enunciad correspon sun ato dea Ib! Na terminologia de Seare, estes aos de ala so as unidades minimas de sentido. ara Osa abe (1979, discutratos de fala parti de umn perpectva disursiva naa uma spropragioe i de uma proposia teSriga mum dom Austin, qucinaugur tradi dese pode peo fsoe que primero singe segeno un gue ‘Bohpsetic de aon de lnguagem,pensouos fal: ‘emebente dente pao da ceunnda vit oud ocmpiica was ampioe masconcret "ona de Strattera au stacanttegral de dscuro.6 no fia dan conan unico endmeso qe procramos eh ‘dae de fa E ainda 0 mesmo auior que afirma, no inte rior da dstingdo entre atos locucionarios, loc ‘Gionairios e perlocuctonarios, que "do pont de Vista do diseurso, os atos perlocucionsrios tém {uma importancia capital” (p. 82). Evidentemen- te nenhuim falante agencia recursos lingisticos, ‘ofganiza os morfossintaicamente ¢ os promuncia {ato locucionario) sem realizar, ao mesmo tem po. km ato locucionario, Tambem nao se prat. ‘Eam tas tos sem qualauer motivacio. Como se Sabena teoria dos atos de fala, as locucoes © as HTocugtes seriam convencioaais,enquanto que as petlocughes (efeitos pretendidos com a pratica {dos atosilocucionarios) seriam nio convencio hale Ainda que ndo consencionais, coerdo com Osakabe que os efeitos buseados sao determinan tes, num discurso, para a selego e organizayo {dos aos ilocutorios que nele se praticam. Esti longe dos objetivos deste trabalho uma discussdo aprofundada da teoria dos aos de fa la: Eles nos interessam, no entanto, enquanto ope ragies discursivas dos Sujets, em dots aspectos diferentes: trabalho de determinagao diseurs: ‘a da lorga locutoria ea mudanga da relagao en tre os interlocutores resultante da pratica dos atos da fala. Aceitando uma indeterminaco relativa dos recursos expressivos, no se pode coniderar que ‘orga lcuciondria que definiria cada ato pra” scursos estes sto sao determiiados 2 perguta auefiea come wd adr, Una das {Endencias mais simpisias¢ deixar tudo por con {ado cotexto(entendido como os elementos er bal que precedem ou sucedem as expresstes que «sid send compreendlidas edo contexto(enten ido como os aspectossitacionais dentro dos ‘unis interagdo oe processa). A indeterminagao Feltiva da inguagem c sua determinagio dscat siva fancionam aprosimadamente como. ambi idade do sagrado. Toda orca em estado latte, provoea 20 mesma en peg desi tem, ane oo hak omede ape ‘enka enum erro: sesperanen que cs veshe ct ‘Stlsocoro Mas cadaver gues smanfena¢ na Imaldgse,Virwal eae ambigus pasando’ acl ‘Stomsunnocs Gualgierbeaedonaos paride Mobilizado 0 desejo de intercompreenséo, um principio de racionalidade exige que os inter locutores admitam que ot sgnoseenunciodos tem um ethos roca rode Sem Deco et elope sdivergentes, um quadto de reterencias clerente tes sega athe gre pet ae enendida retin 2 oo aroma Como as expresses orientam as interpreta ‘des, embora se possa admitir que a forga ilocu Cioniria dos atos praticados nem sempre venha tmarcada com o mesmo recurso (ou, 0 que vem {dar na mesma, um mesmo fecurso expressivo pode orientar no sentido de atribuir diferentes Forgas ilocucionarias a um enunciado) nao équal- ‘quer forga que se pode atribuira qualquer enun: lado: ela depende eruclalmente dos recursos ex pressivos usados; a racionalidade dos processos Interactonaisexige ue se dé aos recursos expres: sivos usados um papel eructal ‘Tomemos alguns exemplos Exemplo 5 18) Tu podes abrir a porta? ‘que, tendo a forga ilocucionsria jussiva, pode ta to servie para realizar uma pergunts quanto po de servir pars fazer um pedido. Em situagdes com {retas, um ou outro ato estara sendo praticado. “Mas com a enunciagao deste enunciad nio se po- de praticar um ato de fala qualquer. Se especiti Cearmos de forma diferente o sintagma nominal {porta a anibiguidade pode desaparecer por com plecoe 1) Tu podes abrir « porta da igreja? Girigida por um leigo.a um sacristo, numa con vetsa de bar, ¢ uma perguta sobre as fungies es pecificas atribuiveis a um sacristao, Dirigida 0 fhestno sacristio, por Seu superior, volta 9 am bigtidade, masa interpretago primitiva de per uta (eno de pedo) so poser recupetata fonstruindese contextos“rabolanex” Agus 2 interpretaga derived que ny Modlicando'se um pouto mais ©) Tu podes abrir uma porta de 100 kg? seria sgora preciso construir um contexto “mi Tabolante” para que a interpretagao deriva de Pedido fosse aquela visada pelo locutor Exemplo 6 8) Tu tens minha permissio para se reticar by Tenho sua permissto para me retirat? sto pedidos. Dificilmente alguém dia a) a ou trem simplesmente para informa-lo de que pode se retira, tanto que numa sequéncia galopica 2) Locl ~Tu tens minha permissio para se Loc? — Eu nioa pedi (on eu nto pergu tei) ‘fala de Loc? seria interpretada como recusa a seretirar,pondo em questio oquadre dentro do {ual falou o Locl, ou poderia ser interpretada co. ‘mo "eu me retiaria de qualquer modo" que tam: bbem poe em questio.o mesmo quad. Tomande, se b) em dislogo semelhante bb} Locl — Tenho sua permissio para me ‘Loe? — Nao (ou sim) as diferentes respostas de Loc? seriam interpre {adas ou como proibigao ou como autorizacio pa a0 Locl se retirar. Novamente, seria preciso Construir contextos “"mirabolantes” para que © Sinunzo do Loc? fosse entendida como meta Fes posta a uma pergunta Exemplo 7 4) Bu prometo ica sua casa 1) Ea prometo ira sua casa e acabo no indo. ) pode ser interpretada tanto como promessa {Quanto como ameaca, dependendo das relagdes {xistentes entre os interlacutorese dos objetivos {i imteragio.b) aoentanto, <0 sdmite a interpre tacao de uma afirmagao sobre agGes reiteradas Ao locutor, jamais como promessa. Para recupe rar o sentido de promessa (enquanto resultado Ga enunciagéo global), seria necessario uma no- ‘a promessa expressa, neste co-exto, normale te sem a presenga do verbo prometer 'b) Eu prometo ir a sua casa acabo no in do, Desta er eu vou Exomplo 8 2) Acrdem sera mantida, custeo que custa. by A ordem seria mantida, custasse © que 1) pode ser interpretada tanto como promessa {quanto como ameaca, mas dificilmente se pode ‘a atribuira sua enunciagso a forga de aftrma- ‘0; a0 contrario, b) nao ¢ nem promessa, nem eaca, mas uma afirmagso sabre o dito de ou trem, em um tempo anterior ao da enunciaco, Exemplo 9 )Nos da Folha de S. Paulo j registramos aqui os perigos de tal ago, »)A‘comunidade acade! vencao do governador ca rejelta a inter ‘© que chamaa atenco nestes exemplos €que eles concretizam atos performativos através dos qual © locutor se constitu e se afirma na fala como: membro da Fotha de S. Pano, em a} pelo uso de nos; como porta-voz de uma comunidade em b) Os exerupls poderiam maltiplicarse. So ss ficientes no entanto para os objetivas pretend dos: a) mostrar que, apesar das vaguezas dos re ‘cursos expressivos utilizados, cles sao sempre uma indicagao fundamental para acompreensio se fazer; b) mostrar que quando falamos prat amos ages e estas refletem ou alteram as rela Ges entre o eu e 0 tu envelvidos nos procestos interacionais, quer porque eriam novos compra: ‘missos entre 0s Sujltos. quer porgie praticar um e e ° e e e ° e e e ° e e e e ° ° e e e ° e e e e e e e e e e e te: determinado ato implicar qu as condies pa fa agie de tal modo exto satseitan ‘otese que em cadaum dos evemplos uti zaudos, om recursos expressios agneiados para Asierminar a to ocutoro pratiead foram dt ferontes. uso de especiieagees de um sintagma ‘ominal” a ports ports da igrejauma porta de 700 ke: Jogo no uso de pronomes pessoal @ ‘aclonais”¢ paradoxal: ao mesmo tempo que os onsderamnos como nao existentes, damostbes tims forga sbrentural como sea vq os ro Kerise nase un pose sobrenatural Pome Eenzedcirascaromantes, se. sho consliadas Em certo sentido, nos momentos de crise de sa dey sujesios parece mas sensives escutar Como verdad: o que no escutariam como a em Sutras circunstancas: tomas orerédio indica do pelo médico (receituarie “racional”), mas: {omase tmbcm o cha indicado pels vzinhos, Delon amigos, pela curandeira (mal nao ha de Rien ‘Oterceira mecaniamo é a oposico do verda dleino edo falvo A vontade de verdade a vers de de uma determinada epoca, apéia-se num con junto denso de praticas que envolver toda a cir” ‘ulagao de textos ede falas. Como nio ha a ver: dade, mas seesta numa verdade, as exclusoes dos discursos Talsos" so definidas historicamente Lembresse, por exemplo, num passado nio mul to recente, aqueima de livros, a inquisigao, dita ») Os mecanismos intemas de contrale Trata-se de um conjunto de controles que se cexercem do interior dos proprios discursos, um controlando outro. O mais evidente deles €0 co ‘mentario que, incidindo sobre outro texto, ¢ por este controlado, Ao mesme tempo, porém, se 0 comentario deve fidelidade ao texta que comen ta, por seu turno este mesmo comentario apre- senta 0 texto comentado de determinada forma € por isso, ocontrola, Exemplo mais evidente na ‘ossa cultura s80 as interpretagoes dos textos tevangélicos que, por seus comentarios, cons tioemse diferentemente em diferentes grupos © em diferentes epocas, ‘A quroria & outro procedimento: esperase que o autor de, de se texto, testemunho: espers Se uma identidade e coeréncia que o organizer, © insiram numa certa realidade’ Espersse de um ‘autor que sua fala de hoje sejacoerente com sua fala de onter. Adiscipina, enquanto definidora de um con: junto de procedimentos, de métodos, de assur ts, ede proposigées consideradas verdadeiras, estabelece regras para os diseursos que se fazer, ©0000 CCOOCOCO OOOO OCOOOCOOOOTODOOE® Ha temas que estso fora da disciplina contempo- tinea dos estudos da linguagem, por exemplo, 0 estudo da origem da linguayem, que ocupou no ppassado muitos estudiosos, ) Mecanismos de controle dos sujeitos Na sociedade contempordinea ha todo um sis tema de apropriaggo dos saberes produridos hherdados. escola ¢, sem duvida, uma institul 0 tipica destes processos de apropriagao. Ne la sedetinem os sujeitos“competentes” para fa lar sobre determinados temas, segundo 8 pecialidades. Pouco importa que "de mé loucos, rodos tenhamos umm pouco”: para produ zir um discurso medico (uma receita, por exer plo) ¢ preciso ter uma competéneia autorizada; ho basta a competencia, As sociedades de discurso, constitu pelos sujetos “autorizados", constrocm e interferem os proprios pracessos de apropriagaa da saber: fs medicos so os professores que aprovamire provam nas faculdades de medicina. Existem so Ciedades mais abertas, outras mais fechadas! mas sempre "sociedades” que, em nome da defesa de interesses de todos, linitam o numero dagueles que podem proferiro discurso de suas especia Tidades, A doutrina liga individuos pela aceitagho de eterminados enunciades e, portanto, pela rej: [80 a outtos. Define se pela doutrina um certo pertencimentoa determinada corrente de pensa ‘mento, Produrse assim uma dupla sujeigae: dos sujeitos a determinados discursos: dos discursos destes sujeitos as perspectivas, pontos de vista, mods de ver 0 mundo, proprios da doutrina {Que pertencem, Lembre-se, por exemplo, do per fencimento a diferentes "medicinas’: alopatia e hhomeopatia. Eno interior destas, as divergentes cescolas 'No interior das sociedades de discursos ha diferentes doutrinas; estas por seu turno orga- 2am formas de permitir sua continuidade por diferentes sistemas de apropriagées que est ‘Com base neste texto de Foucault se poderia organizar o seguinte quadro de controles socials dos discursos: Tease [Raa dx Seon Beets | Souetde Este primeiro quadro, assoclando-se20$ pro- ‘cessos interacionais de producto dos discursos, mostraria que os mecanismos de controle inc. dem sobre os temas que sao objetos dos discur 10s, os sujeitos envolvidos e sobre as formas de participagso nas interagées, dandonos um segun @o quattro: © 0000000 0OCHOOOOOO CO DOCOOOTOOOOO0R ——— Ha assuntos proibidos: hi assuntos que sa0 comentarios hi ansuntos que demandam conhe cimenio epeilagen od Go os cla com seus proprio dscursos anteriores; € de ies que se cobra o pertencimento a ideologi: tspetase dos sujeltos uma contribu relevan tere verdadera,expressa de acordo com as for thas unuais de feo sepundo seu pertencimen {oa determinado grupo de "especialistas Ha uma serceta possibliade de eruzamen to.com oquadro que resultou da leurs aqui fet. tn do texto de Foucault. Tratac de pensar estes {ergncias que se fem so mundo, o loeutor © 0 interlocutor. Isto os daria 0 seeuinte quadeo \wresniswos DF coNTROLE DAS CONDICOES DERHODLENO TWontenads Ate wrseacbes [am asta Espera'se que, nas interagdes, as enunciagdes os sujeitos incidam sobre temas nto proibid para a interacao em curso; que o lacutorsiga Principio de racionalidade na troca: que o loc tor fale a verdade; que o interlocutor, na com preenséo, comente enunciado e enunciagao do lo Eutor, considere quem esta falande; compreen da sua fala dentro de certa configuragao(que te seus principios e regularidades) de como se fala (por exemplo, num dislogo, espera-se a troca de turnos de fala, que os snalistas da conversagso 1ém mostrado seguir determinadas regularida des}: 6 locutor que, enunciando, se constitu co ‘mo locutor e, portanto, como alguem motivado para falar sobreo assunto porque tem uma con Uribuigéo a fazer, édo locutor que se cobra “sis tema de referencias” que ust: ao locutor se alr bu e ele se auroatribul determinado lugar do qual fala, Esta rede de controle, parece-me, esté pre sente nas diferentes respostas que dao os inter locutores 8s questdes que sustentam as forma inarias presentes no jogo do discurso © que transcreva tais come formuladas por Osa Kae (1979-49-50 0000000 O0OH0HO00S0OH0OOCODDO9OOOD ‘Asse esquema acrescenta-s outro constitu do dos pontos devistade Aede Bsobreoeferente Acestas questdes, Osakabe acreseenta outra, ‘que naose localizaemumdosinerlocutores, mas fa relagdo entre ambos, assim formulada: 0 que ‘A (locutar) pretende falando dessa forma? que o autor desdobra em outras duas: O que Alocuror) pretende de B (interlocutor) falando des: | | storms? 0 gue A prsiende de A alana dessa Para exempliicar um pssive funcionamen-* to desta imagens, considerandoos mecanismos de controle spontados por Foucault, tomarei co da uma destanpergunta para construir un aus rohipotetico de esportas que um sluno na ee ‘ola, construiria para mim, constr quando The € solicitado que escreva um texto*. he 1, Quem sou eu para the falar assim? Aluno, por definigzo um aprendiz. O conv vio com situacoes semelhantes c anteriores, ern face da avaliago que teve de textos prévios, mos ta que esta imagem de aluno que esta aprenden do pode ser positiva ou negativa. Novigo, aluno aprendiz, esta passando pelo "sistema de apro priagdo” de saberes para ingressar numa socie dade de discurso, 2. Quem é ele para eu the falar assim? Professor, por definieso aquele que ensina, porque sabe. Leprand-Gelber observa que {egendo asin. itera, sua fa iLeprendGeer 1986: 46 O professor faz parte da “sociedade de discurso” que avaliarao texto. Paraescrever, eleespera que e e e ° e e e e e e e e e e e e e e e e e ° e e e e e e e e e suse as técnicas ensinad certas preferéncias que devo se (disciplina), Ble tem 3.0 Professor: no meu papel, me cabe ensinar the, aferindo o que aprender 4. Quem Ele € 0 aluno, o que esté aprendendo: sobre ‘o-assunta. sabre a forma de tratslo na modali dade exerita, Ele espera pois que eu o comente, ‘ao mesmo tempo que ele esta comentando 0 que Ihe foi easinado pela escola e por mim, portanto) 5. De que the falo eu? De um assunto que ele (professor) domina melhor do que eu. Eu no tenho o que the dizer devolvohe o que disse. Tem ele suas preferén (doutring) assuemo-as para obter uma avalia so positiva ele sabe como uma historia tem que Ser contada: tenho que seguir as regras ensina das (disciplina). Nao posse contar qualquer coi ‘1 (proibigio}s6 posso no falara verdade se es. tou"inventando" uma historia, do contrario te ho que dizer © que se tem por verdadeiro 6: De que ele (aluno) me fala? Do que eu jf sei! Logo, o que ele me fala € uum comentario do que the falei A autoria & dele ou minha? Como ele organizou, ¢ dele; co tmo.0 que organizou eu the disse, © minha, Mas 7. Oque ele pretende de mint falando desta forma: Tirar boa nota no pretende de si proprio falanda Mostrar que aprendeu: que no pode falar de qualquer coisa, que deve dizer a verdade que Ihe Tot ensinada, et Mais ilustrativa do que as hipoteticas ima: gens apontadas € a lenda persa do século IX, ct. fada por Coquet ting vous de eet demand pi A. Na escola, os sistemas nada explicitos de avaliagio" parecem repetir 0 que se di com 0 discipulo da lenda: depois de anos de escolari 0000000000000 000000008 O CCS ELSES dade, passados os rituais todos, diplomado, ele € um dos nossos. E a porta se abre ‘Neste item, parti de uma consideracso geral sobre os mecanismos de controle de diseursos, sis como apontados por Foucault. Fiz uma le ura adaptando-os para chegar a consideragSes breves sobre sua presenca nas formagoes imag! indrias que se constituem em condigoes de pro ‘dugdo de enunciagdes nos processos interacio nals, Penso que este movimento, ue vai do par ticular ao geral ¢ da geral a0 particular, pode ser bbenéfico para pensar as questdes envolvidas no ensino de lingua portuguesa. Evidentemente, os Giferentes lugares saciais acupados pelos suje. tos eas diferentes institigdes em que as intera 6c ocorrem so determinantes do trabalho exe Cutado pelos sueitos na produgao de seus discur sos, Como este trabalho se d& por operagdes que tomam recursos expressivos Insuficientes para determinar os eentidos, a= candies em que os discursos sto produzidos contribuem nesta de ‘Os usos da linguagem, em diferentes insta ciase por diferentes grupos socinis,revelam di ferentes graus de funcionamento dos mecanismos de controle, Numa socicdade altamente dividida, prodizemse também recursos expressivos dis. Tintos. No ensino da lingua, estas questOes $40 presenca constante, 2.1. A construcio do objeto cientifico Meu objetivo aqui é trazer elementos que ‘dentifiquem, em diferentes momentos historicos, algumas especificidades do trabalho de ensino Minha hipotese é a de que estas especificidades ‘constroem diferentes dentidades a0 longo da his: toria. Ocontraponto necesssrio ao delineamento desta historia ¢a correlagdo entre o trabalho ciew tifico eo trabalho de ensino, ot se, a ‘so entre o conhecim ie ‘que se tem propos ‘Obviamente, a amplitude do tema exige de limitagio, o que se fara aqui nao pelo mergu Iho vertical numa determinada epoca histories, mas pelo ponto de vista a ser defendido- 0 de {ue 0 trabalho de ensino fetichiza 0 produto do trabalho cienafico, isto é, autonomiza as des crigoes © explicagses lingtisticas desconside rando o processo de produso do trabalho cien tifico que produziu as descrigies © explicagaes ensinadas ara acercar-se ao tema, ¢ preciso comecar com trabalho cienifico, Em nossa area, desde Saussure, jase sabe que a primeira regra éa de construgio de objeto: o ponto de vista que eria © abjeto ‘No entanto, ste gestoinaugural do trabalho cientifico nfo &inacente nem sem consequencias. Nao € inocente porque is amplos contri bbucm na definigso de como se Wo fendmeno a ddescrever e explicar através do modelo ou idea Vizagdo do cientista isto significa, de um lado, que os produtos do trabalho cieatifico tm que ser vistos com des contianga critica e, por outro lado, que as dispu 'as na definigio do objeto, de que Ihe & proprio edo que the'e exterior, produzem resiios. re ‘uperaveis a partir de autros postos de observa so. Neste sentido, as lutagdes nos projetos de Conhecimento, os processos de construgao e des. constructo jamais permilirio que, neste terreno, se coloque um ponte final. 0 estado provisorio pois ado se trata de uma caminhada teleoldgica ‘em busca da estabilidade na terra prometida: Ponto fino. Neste processo de construcio © des Construgao fazse'a historia da cieneia No entanto, normalmente as origens desta laboracéo primeira sto silenciadas este mesmo Ignoradas. Da absurda complesidade do fenome- no linguistico, de suas multiplas faces, o obj ‘onstruide e trabathado pela cienciaclareia al puns aspectos, estabelece alguns pardmetros de adequagao das descrigoes eexplicagdes, parame {ros estes articulados tanto aas postos de obser ‘agdo quanto a historia da propria ciencia Aciéncia, na verdade, ngo se quer acartogra. fia desenvolvida na provincia descrita no conto Frequentemente citado de Borges laa ciencia da fazer mapas” se desenvolveu tao profunda ‘mente, of mapas se tornaram tio completos que cabaram cobrindo a provincia toda, de modo ue 2 propria provincia desapareceu sob o mapa que a descrevia. Aocontrério, a ciéncia se quer mapa ° ° e e e e e e e e e e e e e e e ry e e e e e e e e e e ° e e ° e Uti: que mostre direg6es. Mapas so pereltos en {quanto servem aos propositos para os quals fo Fam construidos, "Mas nio se creia que o abandono da “ilusfo ‘objetivista” corresponde pura. simplesmente & abertura de um espaco pars a lusdo da opiniao’ fm todas as ciencins se constituramn rotinas © m< todos de pesquisa que impedem tanto a subjet vidade da opinigo quanto a influéneia incontro Jada de interesses pessoais. Isto nso quer dizer que nio seja o interesse que guie a construct o conhecimento, Antes, aponta para a necess- dade continua da avaliagao crtiea dos pad ‘que constituiram as condigoes historicas da ob Jetividade possivel em determinado momento, ‘critica, como forma de desmascaramento dda conexao entre interesse econhecimento, tage ds ilusdo do objetivismo pelo reconhecimento da cexisténcla desta conexdo, assim restmida por bermas: DO interesse tenico correspond a produgio de tecnologia que permita melhores condigoes ‘materia de produgao e de sabreviveneia huma has: o interesse pratico correspande a definigao de valores, sistemas de referencias de compre: fensdo da vida, de que as definigaes que damos «a progresso, justica,liberdade, amor sto exem- plos.o interesse emancipazorio corresponde ade finigdo de novas formas de vida e de eompreen sio da natureza ¢ do homem, libertadoras das oresses historicamen: amarrase presses dos i te localizados ou localizaves. ‘As ligoes a tar do fata de que a ciéncia nfo se identilica com a realidade que pretende des crever €explicare do fatode que a interesse guia ‘conhecimento e este produ, por seu turno, ou tugs interesses que levam a novos conhecimen tos, si0.a do movimento na produgio clenifica a da historicidade de seus produtos ‘Com Granger, explicitemos umm pouco mais como se di este processo de produso cienifica Trés distingbes do autor so fundarmentais:a ex perigncla, ofenémeno e o objeto. A experiéncia €otalizante, ativa, global, vivida, e recobre nio ‘6 fatos humanos mas tambérn os chamados fa tos naturais, as realidades existentes que o fato humane observa ja como feriomeo, ito, ue re carte que nos fornece ja uma deserigao da expe rigneia, que Jango ¢a experiénciae sim uma sis tematizagao dest: classifica e define os elemen tos da experiencia, situando-e no prolongamen todo nivel pereeptivo. Numa segunda abstracao, ‘encontramos aciéncia determinando seu objeto, isto, construindo um modelo cono um conjun to abstrato de invariantes estruturadas, defini das por leis de composicdo no interior do proprio conjunto, num jogo de correlagées que atribui a ada elemento seu valor no sistema (Granger 1968 e Lahud, 1975). Importa-nos aqui © 0000000000000 0000000000 0000000008 2) que a passagem da experiéncia vivida a0 Fendmeno percebido deixa de lado residuios nao percebidos, b) que a passagem do fendmeno a abjeto, por seu turno, no é sem marcas porque baseada na Percepeao.e nao e sem residuos porque a ciéncia ho se propce como descrigao e compreensio do fendmeno percebido, mas como sistema de aces: so explicativo do Fendmeno, definindo as vari veis que vai levar em conta (ou se, estruturan- do parte do fenémeno} Os residuos, que subsistem apes estes dois hiveis de abstrasao Incontomavels no processo de fazer ciéncia,exigem desta uma linguagem ex plicita para que seus resultados possam ser ava jos e suas predigoes possam ser contraditas Para que se saiba que elementos pretendeu ex Plicar, para que se possa avaliar seus produ tos. Somente assim permite um legaco que, con traditoriamente, pressiona econdiciona as novas seracdes mas tambem Ihes permite ultrapassé To na construcao de novos legados. Recorro a Habermas, mais uma ver, para buscar neste autor elementos que nos permitsin compreender como se praduzem, de forma am: pla, 0s "postos de observagao” responsavels pe las diferentes delimitagoes dos objets da citn cia e pelos residuos que thes si0 associados {ccm aja de ii fo cu gu enllam Correlacionando os conceitos de Granger (1968) explicitagao de Habermas. poderemos re fesquematizar 0 processo de consiruyo de obje tos cientificos para posteriormente complexifics lo'com a itrodacio de nosso objeto especifio de Se considerarmos um pouco mais profunda mene lingusgem ordinaria, para Habermas me disdora da convivéncia humana, cuja existéncia Se assesura em sistemas de trabalho © de auto afirmagdo violent, veremos que esta mediagao permitida pela linguagem nao se faz sem 0 fra batho linguistico de sujeitos ver item 1.3. deste livro} Para Lahud (1973), este trabalho é uma at: vidade quaseestruturante, no sentido de que pe Ia-e com a linguagem os sujeits referem a0s fe némenos pereebidios ¢, dizendo-os, estruturam ros dentro da tradigao condensada nas expres ‘oes lingdisticas. Isto nos leva a uma tercelra abs. tragio: a da passagem do fendmeno pereebido & sua expressdo linguistica, Nosso quadra teria, em io, uma nova configuracio: A.cada abstragdo, a definigao de um “site ma" e a0 mesmo tempo o esquecimento de res. duos. Este esquema dé & fnguageyn hugartalvez excessivamente importante mesmo na construc de objetos eientificos nas ciencias da natureza, Desconte-se, no entanto, este possivel excesso, ‘mas considere-se que a linglistica, oque é toma tio como fendmeno a estrufurar em objeto &pre cisamente esta atividade quaseestruturantey ¢ portanto ja responsavel por uma segunda produ {io de residuos em relagao a experiencia global Sivida Dai a complexidade da linguagem: de wm la do refere ao mundo do percebido: fala dele. De ou tro lado, ¢ ja um trabalho de quaseestruturago «por isso, abstracdo. ‘Associemos as consideragées aqui tecidas & ‘questio das variedadeslinglisticas:a maior par {edas descrigges linguistieasdisponiveis constr yam seu objeto a partir da variedadeculta, na mo- Galidade eserita. Esta "opsao”,evidentemente, ¢ tum recorte que no pode ser esquecido. Fn i terior da descrigso desta variedade, haa opgoes por uma forma de tratamento das questaes que Aproximam as estruturas do portugués as estru- Tras da lingua latina, ja que esta era o modelo ‘alorizador ou legtimador nao s6 da variedade mas da propria lingua porwuguess (Goer, 1985: 100) hd mais em terms de interesse na pr ‘iodo conhecimento gramatial,nio se pode es (Goever a noticia que nos dé Gnerre, cltando Joao de Barros: as armas e padres portugueses |.) mmateriais soe podess o tempo gastar, pero nio gastata a doutrina costumes ea linguagem que SoPortuguesesnestasterrasdeisaram” (Gnerte, 1985: 10, Mais recentemente, Merculano de Carvalho ‘em conferencias proeridas em Si Bande Nova Landacm Se 8 de abel de 1968, referind se 4 difusio da lingua portuguesa na Afriea en tre “portugueses” nao falantes da lingua da sua pate, firm: E, pois, impossvel esquecer as “postos de obser svagio” a partir dos quais as descriges lingdist ; Para se acercar ao.ensino a partir do foco d linguagem ¢ preciso, antes, delimitar 0 proprio foco, assumindo uma concep jeto da linguistica, uma vez qu do proprio ob 22. A construgio do conteudo de ensine Trazer a reflexso, aqui, a questéo da constr 480 do objeto da ciencia permitira que, como pas So imediat, se fizesse um lingua historia da ciencia da em, observando como a0 longo do tempo se definiu de forma diferente o seu objeto e, na perspectiva defendida no item anterior, fazer esta Ristoria com atengo especial aos resicuos, rect dos em um novo projeto, Evidentemente ia da Lingllstica esté muito alem | | zrafia razoavel que pode ser lida considersndo- Seeste movimento de construcoes ‘que ¢ preciso Fear claro, especialmente ps rao professor de lingua portuguesa daescola de TP prau, € que as mudangas continuas a pes ‘quis clentfica nao responder simplesmente a tim modismo, mas a0 desejo de desvelamento de fquestdes obscuras no processo de compreensSo Ada fendmeno que se quer explicar pela ciencia Meu objetivo com a rellexao anterior ¢ atender a dois aspectos: 1. quando novidades da pesquisa chegam & cexcola nlo.é porgue “agora tudo mudou” ou por ‘gue "o que se pensava antes estava errado” © preciso “embarear na nova onda”. E preciso afas faresta ingenuidade. E preciso entender que il mminagées novas so conseqUncias de definigdes nhavas do objeto de estudos. Neste sentido, cum: pre afastar duss formas de fetichizagdes: com. preender o navo como mera “novidade’e pensar ueeste nova. definitive, que azora sim chegou Sev um ponto omega, a um ponto final de inves tigacto, Esta segunda fetichioagao € uma das res ponsaveis por certas alrmagoes ingenuas de pro- scores "pessimistas” que, a0 final ou quase 30 final da carreira, acabam reagindo a qualquer mudanea porgie“viram multas mudanas na Vi ds" eclas nada significaram de concreto na me Thoria do ensino, Tratase de uma especie de sau dosismo, mas saudosismo que ndo € <6 do passa {dor¢ fundamentalmente un saudosismo da esta bilidade, da fsiden,oque revela uma incompreet So do processo de fazer clencia; 3 eStabelecer uma diferenciaga0 que me pa rece fundamental a diferenga entre conteido de tnsino e produto da pesquisa cientifica. E deste bres diferentes idenidades que historicamen (e-em fungio desta relagto, foram construindo dodlferentes dentdades do professor (de ingua portuguesa ‘historia da educasdo, como toa a hist Us fcupera stain ees, pases As vees(a titulo de exemple, lmibremos a pre pot cmt ca prope uae fromeme aos interessesexpecllcos de deter tadaformagio socal. A letra desta striae ‘quanto historia, nao pode dinar de lado as Su Tez, as diferengas, as mudangas, Mas meu ob ietvo nia eo detalhe nese process. peta Jor seas desimplificagiocrelo que poderomos ds tingir em linhas geras, re diferentes momen tal sintese Mas talvesasintee to ej al pa ‘a compreender a construsio socal «historia dhs diferentes identidades do professor Fstudando a tuagio os seculoe XV eXY. Manacorda js detecta os primordon de uma re Tundamentalmenteprofisional noes. 105 € no Quatro ccentos, da existéncia de tais mestres? Distantes lum seculo da modernidade, onde vagarosamnen te educar todos os homens vai se tornando um objetivo, estes mestres e suas diferentes escolas ‘do ainda a sobrevivencia do que poderiamos cha- mar de “escolas de sabios”” Nesta, o professor ago ou nao por seus alunos, pela comunidade 64 sustentado pela abadia, se caracteriza ou se ‘entities pelo tato de ser uim pradutor de conhe cimentos, produtor de umn saber, ce uma refle Xo. F como tal fala sobre este saber a discipu los (ou mesmo seguidores), Este nao € visto 6 mo alguem a ser instruido (ainda que se the dé instruéo), mas como alguém a ser considerado conquistado para os pontos de vista defendidos pelo “sabio em sun escola” Socrates, Plata, Ais eles ou gramatico Varrao sao produtores de Saber e seus discipulos sio interlocutores (aia dos ou “adversirios, aprendizes que com o mes ire produzem conhecimento,e com ele siv per seguidos (nao s4 Galil foi perseauido pea In Auisig0, mas tambem aqueles que com ele.com partthavamn opines Mesto na historia da lere Jase poderiam encontrar exemplos de conventos ‘uordens religiosascuja ase nical é a lideranga intelectual de um pensador (© que me parece identificar este empo, que vai até 0s injeios da modernidade,¢ ofatode que entre aquele que ensina e aquele que produz métio: no havia diferenca entre o filosofoe professor de Filosofia, entre o fisico eo profes for de Fie Stal do trabalho responsivel pelo surgimento de ul pelo saber que produ, mas por saber vs ber producio que ele transite Somente 0 mer canon a surge ope ds scl thugs de novos saberestmatematices,fsieos tmedicos ete) a nham se delinido. Ha urgéncia tes" Emerge na historia o profess. Neste sen ido, ¢instutivo ler, na deesa que faz Comenius mal ane len oe caus cotpor ne dee De produtores a transmissores: uma nova Identidade: do outro lado do to, também uma outa dentidade: de discipulos a alunos. Como Se dara agora a relagio entre a produgio de co- hecimenitos eo ensino? Se no periodo anterior produzir conhecimentos e ensinar estes conheci- ‘abalho de um mesmo mestre, ¢ es ese tomava mestre ado por ensinar, mas por produit, agora ja nao temos nem a mesma pes oa, nem a mesmo processo, nem Identidade en tre objetos. Como caracterizar agora este nove profissional-professor? [Deu lado, o professor se constituirs socal mente comno um sujeito que domina um certo sa ber, isto 6, produto do trabalho clentifico, que fem acesso em sua formagao sem se tornat le proprie produtor de conhecimentos. Este "eixo Coloca de imediato uma questo aeste novo pro fissional: estar sempre a par das ultimas desco bertss da ciéncia em sua area de especialidade. Ironicamente, isto sempre significa estar desstus Theado, pois do convivendo com a pesquisa e com ‘os pesquisadotes e tampouco sendo responsavel pels producdo do que vai ensinar. o professor (e a escola esta sempre im passo aquem da atua lads No sntant nua compténca Se mira pelo seu acompanhamento e atualizagso. Neste Sentido, o professor emerge como categoria sob ‘O'signo dat desatualizacao. ‘De outro lado, haa necessidade de articular os conhcimentos com as necessidades, reais Ou {magingrias, da tranamissdo destes conhecimen- tos. Agu serdo os conbecimentos da pedagogia, Ga psivologia, dos recursos didsticas que lumi. Ariicular um e outro eixo nao € trabalho sem produto. E nesta articulagso que Se constroi o contetido de ensino. A selegio de topicos, a se ‘quenciago destes topicos, a seiagao nla corres ondem nem em termos cronoldgicos nem em ter mos de abjetivos & construcao dos produtos ma nhuseados nesta nova construgao. Tomeftos ape ‘nas um exemplo, em nossa area: as deserigoes lgramaticas (inclusive muitas das descrigbes das ramiticas tradicionais) ém objetivos de com: preender o funcionamento ou a estrutura da lin ua, No entanto pene alae rena sais tee eee eres ena ogo pecans Imada dabosexpresio cove ssproga a pare serene rent anacrsccemas salem oped Se Assim, o resultado do trabalho cenifico que professor competente deve concer enquanto fesultado sem que se he ex conhocer ae rates ser pngl cats ei nar seem conteado de ensinocm face de imagens ue iar profesor das difculdades de comprecnsio auc poder ter seus alunos, Mas nao so, Como Se tata de achar um modo de transmis com certafacildade, as informagoes colhidas no es tudo dos results da pesquisa, 0 ecletismo, a hanalizacioe, prncipalmente, a compreensio como definitives, cristalizam dima verdad den. inte um exemplo estes resulta trode cert perspectiv, Nova aque nie demands exceso de imaginagio-aestr {ra suetofprediado ds sentengas: Retirando lagu de formas de defini suet, msturam. b verbo concorda) ou mas sfisticadsmente, com critrios pragmatics ujlto € 2 expresso que referencia alg de que s fala alguma coisa) ative: historia da propa diseplina no sent SE de matara de enino.Contetdos de ensino ha ue foram, sg sera conteios porque simples fonderaqalguernecesidade do entadante po ‘Sr nas continua stad os programas deen Sho at ai produit na historia do ensino de {ido de Foucault, que vos em 1) certos con tds s0 suo apenido ara responder a neces ter deer expr porn a Tatofesor, Esescomteddo sequer so tran ue € apenas formas de ver na historia (os contetidos de ensi ‘no, por inerivel que parega, nao tém historia: so, ddados definitivos). Assim, © comum professores alegarem que “ensinam” determinadas nosoes Porque elss serdo cxigidas pelas series segues, pelo vestibulinho, pelo vestibular. Nao se dio com ta de que esta exigencia acaba se fechando no in terior da propria estrutura do sistema escolar Passado o tempo de nele viver, esquecese a in formagio, Endo ¢ preciso chegar ao final da es colaridade, A tiulo de exemplo, dais depoimen {os de alunos coletades por pesquisa de Jose Luiz Beliran Ege cud sin predating se ‘Sot esa. dlanga na concepedo de educasio es construgae de novos recursos diasieos sao alguns dos ie © eabalho de produgaa cleniica eo trabalho de tnsino. Beste trabalho, cvidentemente, pros Sas mags no to “trnamiti Ene ara descrigdo, ea gramaticapedagdgica, va enorme Aistineia‘O trabalho socal do prolessor¢0 do articulador dos eixos epistemologicoe das neces Sidades didatico-pedagogicas. Importa salientar aqui a caracteristca iden: tificadora da construsio destes dois diferentes ‘objetos: trata-se de transmit um saber ja pro durido. E do processo de producdo deste saber ‘fo participam nem o professor nemo aluno. En tre 0 fildsato eo professor de Filosofia, entre 0 professor de lingua eo gramatico, estabeleve-se A diferenga. Divide-se o trabalho. No ensino, ndo se trata de tabalhar com dados ou fatos pars, refletindo sobre estes, produzir uma explicagao, Tratasse de aprenderlensinar as explicagées ja produzidas ¢ fazer exercicios para chegar a res postas que o saber ja produrido havia previamen te fornecido, ‘Do mercanilismo a0 capitalisrmo contempo- rineo alteraram-se profundamente ss condigoes de produgao de bens e com estas alteragdes, no vas divisdes do trabalho, Na produgio cienifica, rmudamse as relagoes. Se as expressoes lings. ticas trazem sempre um pouco do "murmurio da historia” instrutivo atentar para o fato de que hoje nao se fala mais em "stbios” ou em “elem tistas” mas em pesquisadores (esta mudanga de Adenominagdo néo refletiia também uma mudan a qualitativa nas relacdes de produsdo: empre bo, exigencia de produtividade, salatos, graifie A reflexio e a producio de conhecimentos subordinam-se a relagoes de interessee tambérn A condigies de infra-estrutura técnica, como mos ta Habermas (1965) A nova configuragao intro- dduz na relagdo entre a atividade de produgio de ‘conhecimentos e a atividade de ensino uma no ‘a realidade: a produgdo de material didstico pos to Adisposigao do trabalho de transmissSo. Trata~ sede uma "parafernalin didstica” que vai do hi ‘ro didatico (para o professor, com respostas da as} até recursos da informatica, com videos de tinados ao ensino de determinados tpicos ou dis- dquetes com textos e exercicios. Em relagi 20 tra Balho do professor, a profecia de Comenius se coneretiza: “tudo aquilo que devers ensinar 6 bem assim, os modos como o ha de ensinar,o tem escrito como que em partituras Se na etapa anterior era de responsabilida de do professor articular os eixos epistemologi 0 e das necessidades diditico-pedagagicas, no mundo tecnologizado muda-se qualitativamente identidade eo trabalho de professor. Sua com: peténcia ja ndo se deline por saber um saber pro- uzido por outros. ple mora te acento da cidade cu ‘ow ala weed sora de Piaul,e8 reporta m focaliza a questao salaral.Interessarme es {a questo tanto quanto outra: como se chegou a-estabaixa remuneraeao? Como uma professo- "aensina para alunos com escolaridade superior sua? A depauperizacso do professor ndo esta desligada da deinigSo de sus nova identidade na sda entre 0 saber © 0 ensino Em face do desenvolvimento recnologieado, parece caber ao professor a escolha do material Fidatico quc sara na sala de aula, Mas qual a $a funcho depols dsto? Una bos metaora € Sompartloa.um eapatar de fabrca:sua fungao STomiolar tempo de contato do aprendiz com © matcral previamenteseleclonado: definir © tr respostas do sluno com as respostas dads no anual do professor”, matcar‘o dia da "vert fleagto da aprendizagem", entregando aos al Came,» depoimentos de alunos da pesquisa de Beka: A tecnologia, que permitiye permite a pro clgdo de material didanico cada Yee mats soe tho do prolesor. O material esté at faclvow @ {area minula a tesponsablidade pels defn ‘Gods coneudo de ensino, preparoutudo-—até SS resposasparao manual ou gua do profesor. F permit eleva o numero de horas com Sharelas do tempo anterior, seria imposstvel a um mesmo sujeito dar 40 a 60 horas de aula se ‘manais, em diferentes niveis de ensino} ditninuir 4 remuneragio (o trabalho do professor aproxis mavse, em Lermos tecnicos, cada vez mais do (a batho mantal c este, como se sabe, em nossa so: ciedade, sempre foi mal remunerado} comtratar protessores independentemente desis formagao fu capacidade’, etc. Some-se tudo e temos a0 menos uma pista para compreender 0 "despres tigio” social da profissdo, Afinal, oaluno de 5? serie da IWonete Paixso s6 continua na 5? serie Porque no quer ser professor (idealista, no s0- nha em enriquecer acusta dos cafres publicos. hugo, spent de td, 9 ralensorcos tilha que os adota(o material didatico, em geral, uma vee selecionado, adota professor ¢ alunos que 0 seguem reto", Ha, nas salas de aula, val. ‘Vulas de escape de um tal projeto: muitas per gun tas, do ano e do professor, fogem do previsto, Siss respostas a estas perguntas podem ser ei vadas de senso comum, mas talvez sejam os mo mentos de reflexio que de fato se deem na es: cola contemporines. A existencia de tais fatos, no entanto, nao é suficente para descaracteri zar a identidade do projeto contemporaneo, que poderia ser denominado de “exercicio da capa Em restmo, podemos caracterizar tts dle rentes identidaules pars. professor, ao longo da historia. Identidades que, repito, padem conviver ‘numa mesma ¢poca historica (ainda que se pos sadizer que um professor que sabe o saber pro tmente poderiam set confirmadas pelo professor ‘caso letse 0 texto como interlocutor do aluno, De qualquer modo, fago aqui um exercicio de letu Fadas motivagGes possveis (endo as come como Feais, oexercicio vendo apenas como indicacso de leituras efetivas do protessor, embora bascie teste exerciclo nas pistas que o texto me oferece} 1. Por que tora dito que "a escola é bonita e limp"? Por que ele assim a vf, omparanda com a belezae limpeza de outros ambientes que fre ‘tents (a propria cass, os banheieos publicos, a Sua rua, etc) ou por que quer obter a simpatia do leitor (a professora), que representa conere tamente para ele a escola? 2. Porque ele teréescolhido repetir as ordens ino pode trazerchiclete", “nde pode trazer ovo ‘do pode repett lance” ¢“traver 0 material Sendo a professora da ingo"? Sao quatro regras Aisciplinares da escols(aestasalturaso alana j fer aprendide muitas outras regra... Exempla fs, estas regras podem ter sido as que mais the chamaram a atengo, talver ate porque auviu pes Soalmente xingamentos por néo cumprilas ou porgue presenciou fais ingamentos. Mas o que ‘mais me chama a atengao ¢o ato de que um alu no, falando da escola, pratica sete tos de fala, tmais de metade dos quais ao a demonstragao pa ‘ao leltor de que “incorporou” as regras da ins tiuigso escolar. Que fique claro: nso estou de fendendo uma anomia,ainexistencia de normas Fstou salientando apenas a imagem de escola que coneretamente vai-se constitu pars os suje- tos escolarizados 5. Por que ele tera dito “na hors do lanche, ruitas coisas no Ianche”? Esta informagao far sentido no texto: ela pode ser uma razdo pa: ‘a existencia das dus repras anteriormente ex pressas, mas tambem pode ser o resultado de tima comparagao com outros lanches. Ou ainda ‘ama razao para o nao cumprimento da regra ex pressa no ato de fala “f-Por que tera dito “tem muita gente que re pete o lanche”? Trata-se evidentemente de uma tlenuncia,etalvez esta seja de fato a razio maior de todo o texto: apontar que existem regras que hig se cumprem. Observando melhor aspectos formais do texto, se notara que a crianga "emen- dda” palavras, mas e significative notar que isto ‘corre mais fortemente nesta passagem (note-se ‘Que aluno nio desconhece, por exemplo, que se tesereve tem (e no ten; que lanche ¢ uma pal ‘ra independent) mas este “saberes” nao se pre fen mutajeteque repétenolo Por qué? Provavelmente, na orslidade, isto teria sido dito com outra entonacao e,talvex, mais ra pido eem outro tomem relagdo ao restante. Aqui ® jungao de palavras pode estar refletindo a fer. Sdo do sujelto que, denunciando, anunciase e O exercicio de reflexso sobre as morivagdes de tala pode ser totalmente desclassiticado, ja que suas conclusées podem ser verossimeis mas nao ‘erdadeiras, Nao é a verdade da minha retlesto puntusl em relagdo ao exemplo que importa; im porta ligdoa trar da comparagso dos dois tex: tos. Num deles, apenas uma experiencia escola com consequeneias para allno, noutro, uma ex periéncia escolar com consequéncias para o su Feite do texto (ao menos do ponto de vista da pro ducio, embora possa néo sé1o do ponto de vista {de sua buroctatizada leitura) )se tena para quem dizer-quem melhor do que uma protessora para “tomar as providen- las" no caso da denuncia em (6)2O grande pro- blema € que o leitor de redagoes & sempre 8 fungdo professor e nio 0 sujeito;professo 1d) se constitua como locutor que se compro rete como que diz: se levado a serio, oaluno te ‘que comprovar o que diz. Nocaso, das razbes para achar bonita ¢ limpa a escola; mostrar que fe comporta segundo as regras que incorporou (e quando nioo faz, sabe que nao o far) compro ‘ar que tem gente que repeteo lance te. As per santas pte qe comprove pet na ore, }escolha das estratégias: se a leitura que fiz 4o texto deste aluno tiver algum sentido adequa do, 0 autor fol muito feliz: tentou a sedugso pelo clogio; mostrou que incorporou regras de com portamentos: somente depois de falar da “rique 2 dolanche & que aparece a dentincia, aque se lhe Sesue imediatamente uma outra regrae aqui, do ponto de vista da sedugao, um deslize: a pro fessora dé xingo. A professora podera nao gos tar de saber disso. Ou se se quiser, em face da presenga desta "sendo a protessora da xing" Pode-se ver ai outra dentincia, Também se pode Yer queo nso cumprimento de regras de eompor tamento tem conseqlneias. O aluno ter conv: vido com nso xingamentos, descumpridoalguma repra? Impossivel responder, mas, felizmente,¢ provavel que sim. Outra leltura possivel € a do Clogio & professora, porque ela "da xingo"” em {quem nae cumpe regras pode entdo receber ade: funeia da "repeticao no lance” elevisla a serio, Note-se que uma anilise mais deoldgica des -xto possivelmente eaminharia no sentido de chamar a atengao para a grande presenga de re tras e para a presenca de dedodurismo. Talvez ta seja uma discussio que a professora passa conduzir na sala de aula. Mas, para mim, nao € sta a questo cin jogo, a0 pensar textos produ 2idos para a escola. Preocupa-me muito mais. nes tes, a auséncia de pontos de vist, a ausencia de Sujeitos que, tilizandose da modalidade escfl- / ta, se (desjelem, até para que as discussdes a ccunho mais ideologico possam ser levantadas ‘Antes de sintetizarmos wna proposta de af temnativas para uma producto de textos na esco Ja, tomemos mais dois exemplos, agora de dale gos entre professor e alunos’ Exemplo 3 i — Psi, descrigdo de pessoa. Eu vou dar um quadto pra voeés evoots vio, completar esse quado, Fu vou dar tuma deserigso de um pai. (Depois) faa um vai deserever a sua mie, preste atengio gente ‘Aqui nds vamos vero tipo fisico de Ten. aqui nds vamos ver outros as ppectos dele... Bom, no tipo fisio es Seppai agui ¢ alto, gordo, lero, cabe: fos e ols castanhos .. depos, ele tem onariz grande, boca pequena bbragos e pernas compridas. foo) Agora outro aspecto: ele gosta de se vestir bem, anda com os ombros ca dos (..) fala alto, gesticula com as ‘Bh mais do que estes dais elementos quase “super e ° ° ° . Bom, além disso, podemos ainda Ty A—Arvore lees peat ectes peu Th A~ Polhas e fear gat seit Th P— Chega, Agors otra cos. qu porrexemplo, que cle gontade face? eheea teetete . ts Abe dorm! Talk Emeril Ty P— Entdocolaca ele gosta de dorm, Ty P= Muto bem’ ° a descrigdo,entdo no vai inventar e tata O recone feito aq. de dezesste turnos de Como aqui ns estamos descrevem fala otra de ns eu inci como oble ° dd de um modo geal eu no pegue ive de tntrodurr win “gener” a descrgto. Ha e eee er eae ta longa exposicdo, no primeir tummo, da pr e CGliudia.ca do Claudine ex pepset fessor Neste tno alisndo patie” ¢ eon C eee eae Oboe ate pa yera para mostrar qu na deserigio de e ‘severe MAE ou MINHA MAE E Tpetos picoliyios,lteressatte é que to Ts : BS dicaraee carats Beer anew abe sande assim goris. Outra cols | tha produzinde como “"modelo"para ce shin ° feb ibeieal iekreaee io eo veto a ivencio! si trercicio que nos Reemos Do final dT a0 Tha, com extraorinsria Fibs coe exemplridade,acondugao&eterizaao deme e tforasecomparagdes. Nao strata, pots, Je“en ° 1 A—Carvio ir” doscrgoon rninse tame de excl > 1, P= Quem sabe? Fala! Ricardo como? Cnparagbes posses em beneicio de cliches 1 A Pah | eee eee tec anges ll kes ° 1 P= Piche. Ni pichi Piche!Olhos pre | tho ao carvdo que se exci 9 possbilidade de ° eho | chow pees Con curv" ran ida us i. Tae er | ‘erde tie, arnbem no pode. Nao se pode 1 P= Cert! Olhos verdes como? | replete enlace e Ty A~Grama des ako ron, e+ cumcralas lew Cac bar e Te Esta senbncta, an verdad, mostra 00 ie To A=Pern e ° e e © 0000000000000 000000 0HSHOCHOO9OS9E (iis reativs & descrigdoeimposicto de je: a0 se descrove de um jeter 39 3 compa reg ates fe compara produgo de exton, a5 “iastrugoes”esolaesso- 4 pela finalidade da descricso, by pela natureza do objeto da descr: «) pelasinterlocurores a que a descrigao se "dl plas representages que faz o locutor €o |obieto que descreve Este esquecimento se produz, fundamental: ment, porque na escola os textos no 8800 pro Auto de um trabalho discursivo, mas exercicios dedescricdo apenas pars"mostrar que aprenden ‘Mislle (1988) em seu estudo sobre desc 1 representacao, defende o pono de vista Ae que a descrigao de'um objeto resulta da ins txigao deste objeto, atraves de operagoesdiscur Sitas,como pertencente a determinada classe de aby: hors progestin insta dagen Para o autor, estas representagdes produzem tum “préconstruto cultural” que orienta a sti dade descritiva, segundo dois eixos: um ciso sb cioligieo, responsavel pela pratica, pelo ideole- fico e pelas matrizes culturais,e um eto copit !uvo,responsavel elas abstragdes, generalizes « simbolizagoes. Da prtica (ou da experiencis} ‘ sujlto entnciador busca os exemplos ou acon: tecimentos conecidos ou supostamente cone cidos por seus interlocutores que Ihe petmitem incluir 0 objeto de descrigao num dominio ree rencial especifico, Do ideoldgico ele busca as no 2es ou eateporias com que interpretamos oman: ddo.eque Ihe permitem qualificar o objeto de des. crigio, Das matrizes culturais © enunciador re tira formas de inserever 0 objeto de descriglo nos rmodos de pensar e agir de seus interlocutores. Com a abstragao projeta o objeto que descreve fem certo modelo de realidad, Com a generali- 1zacio desloca argumentos ou exemplos puntuais, validos para situagoes particulares, apresentan do sua descrico do objeto como valida em qual (quer circunstancia. Com a simbolizagéo, eatua- Tiza sua desericao na memoria coletiva, progres sivamente estruturada pela sociedade em sare Tago com os objetos. ‘As proprias caracterizagées didaticas da des crigso podem oferecer um bom exemple de fun cionamento destes dois eixos, Verifiquemos isto fem nosso exemplo (3), extraindo dele as das “ine ‘trucdes de como se descreve’ s)a descrigdo de uma pessoa deve conter as pectos fsicos e psicoldgicas:a rega, desconhecen- Gos finalidades da descrigao, torna geral o que vale para descrigdes especificas e puntuais. Com iso generaliza-seo que ¢ exemplar, particular, ‘exemplificadas por outras descrighes, inscreven fos descrigso de pessoas numa certa interpre taco do homem e cumprindo, assim, a mateiz ‘cultural da completade necessaria em toda a des- risa: by} na descrigdo, nao lugar para. a inven: a descrigao, correspondendo a realidade, evel as representagoes que osujeit faz do objeto que Adescreve? De fato, cada caracteristica que pro- iressivamente vat constituindo 0 objeto descr tose inspira nestas representacoes. “Nosso pai eral" ealto (em relacao a qué, gosta de vestir bem (informagao que, classificand o pai dentro de um certo conjunto de pessoas, seu pertenck ‘mento a esse grupo, resulta de “conhecimentos Supostamente compartithados” que permite Aistinguir vestr bernio vestir bem, conhecimen, tos que, por comparacao, se inscrevem na meme ria de uma certa época de uma certa sociedade) Esta regra apaga todo o processo que permite 0 ‘que desereve aproximar se das representacies co. Ietivas sobre os objetos de descrigao, a0 mesmo tempo que o constrange 4 utiizagso de contig ragdeslichés de deserigdes, ‘Apesar de todo o esforco didstico em distin: if descrigao de narragio. os textos reais pare Een ndo se eonformar’em narragies ha descTh ‘Goes e em descrigoes apela-se para a narragso de fatos que caracterizam (¢ portanto descrever), Abandonando 2 distingio, podemos generalizar as consieragoes de Micville para outros textos, | que também os textos narrativos e dissertati ‘vos ndo fogem as representacses construidas no {que ele denominou einos sociologicoe cognitive, ‘Quando tratarmos da “analise linguistic”, retor~ naremos a Mieville para refletirmos sobre 0s pro ‘esos operacionais de construcio linguistics de Por fim, de nosso exemplo (3), uma das ligdes a tirar é relativa ao processo escolar de eterni 2agio do cliché, quer em termos da configuracao do texto fas regras sobre a descrigio), quer em termos internos, aa exigéncia do uso das mesmas cexpressdes metaloricas “consagradas” ieee (A professora solieita 20s alunos a letra si lenciosa de um texto ja ido. Tal como conceitua da no dialogo, na parte que antecede ao recorte Feito agi, a leiturasilenciosa¢ "sb com os olhos ‘ea professora avisa que nao quer ouvir nenhum barutho, T) P— Eu vou dar 10 minutos .. 5 minutos para voeds lerem a leitara A Eu ja termine, donal P— Todos terminaram? AS Ewis A Terminamos A — Eu nao P— Vocts recordaram bem a leitura? A — Recordamos! Ty P— Nos jaestudamos o vocabulario nao €? Fem, agora vou Lazer as pergun tas .. Voces fizeram nos cadernos? © 0000000000000 0000000000 00000000005 Tw A—Fizemos! Thy P— Entao abram os cadernos... Vamos ter! A primeira pergunta & esta, Om de se passa essa historia? Ts A—Na Aldeia dos indios Mave 1); P— Qual o personagem principal desse Tis A—O guarana,olhinhos de gente? Ts P—0 principal personagem ». O-que & sonagem hein? To A— Pessoa! Th; P— Naoe pessoa... personagem pode ser tama pessoa, um animal, até um ob- jeto... mas aqul nesse easo quem €? Ti A~O indio, o garotinho, Tis P— Exatamente Bem voce ndo vai cor Tigi agora. vai corrigit na sua ca Sa voce entende novamente ¢ faz aqui eu nao quero. Neste recorte, temos nove turnos ocupados pela professors eder turnos ocupados pelos alr fos. Exeluidos os turmos I, 2e 19, os demais so Constroem numa sequéncia de perguntalrespos 1a. Estedidlogo poderia ser assim representa: (4) ORDEM! ACAO 1) AFIR (INE) — PERG — Ry, Ry} > PERG — R = (PERG). AVISO, PERG) — R— (ORD, ORD, PERG) ~ Rm PERG R!— (AV NEG, PERG) ~ R— (AV NEG, R PERG) ~ R=» (AV POS, ORD, ORD, (ORD, ORD, ORD, onde = = seqaéncias implicadas pelo orp = ordem AFIR = alirmagdo(informacéo) PERG = pergunta R = resposta AVIS = aviso AV NEG = ataliacdo negativa {AV POS = avaliagao positiva LORD (Eu vou dar 10 minutos. § minutos para voods lerem a leituea}rata-se de uma ordem produzida por um ato de fala indireto 2.R (Eu nio..), resposta do terceiro aluno, To, no & levada em conta na continuidade do dialogs: 3: PERG (Nés ja estudamos o vocabulérionso ‘2eneste mesmo turmo temos uma sequéncia de tos de fala e 4 pergunta que oinicia, na verda dd, €quase retrica, ja que ndo espera resposta Na verdad, esta pergunta pode funcionarelet wamente como uma afirmacso; ‘3° (O guarana, olhinhos de gente?) € uma resposta ou candidata a resposta a pergunta do turno anterior, embora em forma de pergunta Navamente, temos um ato de faa inditeto S.ORD (Bern voct nto vai corrigir agora val corrigi na sua casa... voce entende novarnen tee faz. aqui eu nao quero} trata-se de uma se ‘quéncia de ordens (a ordem "trés” se desdobra fem duas) que édirigida diretamente ao aluso do Te: mas que, testemunhada pelo auditorio como um todo, passa a valer para todos) Levando em conta que nos processos intera: cionais, a0 nos constituirmos come loeutores 4 ) © OOOO OOS OOOOOO OOOH 0OOH8HHOOSO8E880 cada turno de conversago, estamos investindo ‘nos aos lingtisticos que praticamos, no sentido de que a imagem que se tem de si proprio € uma identidade que a interagao constr, a0 mesmo tempo, ameaga, que dizer do dislogo da-nosso exemple (4)? Antes de mais nada, o disloga se dé a prope: sito de um texto lide, com perguntas previamen: te formuladas para resposta “em casa’, “no derno, pelos alunos. Pade se estabelecer, endo, ‘Que o propésito desta “conversagdo didatica” 2 aferigao das respostas dadas, cotejando-se com fas "respostas que deveriaa ser dads” ASSim, po demos dividir este dislogo em trés partes: @)a preparagio a0 “didlogo de aterigio": Ty 8 y's aferigdo propriamente dita: T) Tr(a 1? parte) {has conseqiaencias da aferigdo: Ti Evidentemente te pela participaco em pro: ‘cessos semelhantes em acasives anteriores, al nos e professora sabem, desde a preparagio, 0 proposito da comersacio que se dara. A prime Faparte, neste sentido, contém uma ordem e um onjunto de trocas de informmagoes pertinentes a fa que se dé-0 proposito cletivo. Anotar, nests parte, €4 absoluta falta de conseqiéncias do fo 6: oluno, na troca de informagoes que se es t processando, diz "Eu ndo termine)”, mas sua fala nio¢ considerada pela professors: seguese a danga, mesmo que um dangarino estes fora da pista Na segunda parte, 60 turno 14. suas conse ajaéncias que chamam a ateng. O sluno prope tim enuneiado candidato a resposta. Segue uma avaliagdo nevativa, com uma atividade me talinguistca da professora. Enunciado e enuncia ‘slo sto aqui interessantes: & proposta do aluno, 2 professora, nao aceitando, cepete um sintagms de sua pergunta anterior fo principal persona gem.) Quer dizer, no € necessarioo professor dizer “errado” ao alunor o simples fato de rete ‘mar o sintagma avalia negativamente a “candi dlatura” proposta. Imediatamente a pergunta que Se segue, neste turno, "suspende” topica da con versaedo (a afericto) pars constrair nove topice o conceito de personagem: os turnos 15.4 17 540 edicados a este nove topico. E segues ‘mente, uma candidatura & resposta (Tha), m0 aceita pola professors, mas agora nio porque 8 ‘andidatura ¢ em st inadequada, mas por sua in completude, Note-se que no Tira professora in ‘ia sua avaliagdo negando validade a resposta da da; mas imediatamente, no mesmo turno, diz ‘personagem pode ser wma pessoa, um animal, ‘le umn objeto”, Devese compreender entéo que ‘enunciado anterior (ndo¢ pessoa) nao pode ser compreendido como negagso incidindo sobre pessoa", mas Sobre a exclusividade de ser so pessoa. Independentemente de consideragaes de ot tra ordem, importa sqjii o movimente: contri buigdo doaluno¢ desqualificada "ab initio”, mes mo que contenha parte da resposta desejada. Que revela isto? Se lembrarmos 0 exemplo (3), onde todas as candidaturas a""comparagio” dos olhos pretos no sto aceitas enquanto nio se chega a0 Cliche desejado, podemos aproximar as orient: ‘ies que se dio em dialogos dest tipo: sdcabens resposas cistalizadas, prontas acabadas. As con “Tibaigoes dos alunos, nos dois dialogos de nos sos exemples, nfo $6 sao desclassificadas quan do possveis respostas, mas tambem o sao quan dd contém parte da resposta desejada. O turna 17 no se iniia com uma avaliagao postiva da professora, com novas perguntas que permitam, fovas candidaturas até se chegar a uma respos ‘a mais completa. Iniciase pela avallagao nega. tiv, snda que a colaboracdo prestada tenha que ser rtomada posteriormente, Isto tem stas con Seincias a participacao em dialogos como es. ‘cana medias ge eels pel alos: s ensinando:s0 se responde quando se fem “Tresposta que a protessora quer-Nao quero com Ro dizer que outros tipos de didlogos nto ocor ‘am, emesmo que contribuiges de alunos nao ‘io nunca consideradas. Diz isso seria una ab- Solutainverdade. Mas se alguma contribuigdo se pode ober das analises mais estrtament Hingis- ticas sobre didlogos de sala de aula, uma delas sem divida ¢ que no didlogo de sala de aula lnvercemse paptis e fungaes dos tos linguist os pratcados. Aprofundemos um posico esta Ehlich (1986), em estuda sabre didlogo es or, contrapoe dois tipos de discursoso dscur Sbetsinoapreadizagem eo discurso de sala de aula. Em ambos ha pontos em comum: 3) entre fs partcpanes, hs uma distribuigao desigual de coahecimenios e, portanto, uma assimetria no {ue tange a0 contetde ou tépico do dislogo: b) hi o reconhecimento desta diferenga e a vonta de de supersla, isto ¢,entra-se no processo dis fursivo com a pretensao de superar as diferen 88: c) estas condigdes organizamn as agdes lings ficas praticadas no dislogo. Mas 08 dois discursos se distinguem: o dis cursode sala de aula, ue se pretende um discur So ensino-aprendizagem, na verdade distribui de forma totalmente diterenciada os papeis dos par ticipantes as fungdes dos atos praticados. To- memos a pergunta para nossa rellexao. Quando flguem quer aprender algo, eimagina que se in terlocutor Ihe possa ser uti, dinigedhe pergun- tas eujas respostas poderio suprir “a falta de co- nhecimento desejada”. Neste sentido, a iniciat vada agao.¢ de quem aprende, endo de quem en sina, No discurso de sala de-aula, ¢0 inverso 0 ‘que acorre: pergunta quem sabe ha resposta(@ ‘que pocemos erificar em nossos dois exerplos ‘em muitos outros) ou quem o interlocutor alu ho) imagina que ja sabe 3 resposta, Sua a¢30 lin tuistica de responder ¢, entao, mareada por es: Sa situao: suas respostas serio “candidatas” & Fespostacerta, cabendo a qiiem perguntou (0 pro fessor) o poder de avaliar a resposta dada. As pos”) sibilidades, portanto, de "quebrar a cara” sto muito maiores nos diaiogos de sala de aula do que \ Emoatasireustncian ema a esos ae uada rept dua cong nce par Obviamente, nem sempre o aluno entra no processodialdgico escolar coma pretensio de su: Perata diferenga de conhecimentos: sabese per © 0000000000000 0000000000 0OSCODOO0® cola, recuperando a ambos (professor e alunos) como sujeltos que se debrucam sabre um objeto a conhecer e que compartilhamm, no discurso de sla de aula contribuigoes exploratrias na cons ‘rugio do conhecimento. As contribulgdes do pro- fessor, to contribuigies quanta as dos alunos, serio, dependendo do topic, maiores ou meno res. Nao le cabe "esconder” ou "sonegar” infor majées de que disponka, sob pena de continuar a seanular como sujeito. Sua atitude, no entan to, em relagdo ao conhecimento, & que muda: as espostas que conece, por sua formagao que nao apenas escolar, mas que esta sempre se dando na Vida que selva, s80 respostas © ndo verda. Ades a seremincorporadas” pelos alunos e por ele Proprio ‘Retomemos consideragoes anteriores, que ‘os forneceram um certo quadro de condigoes ne ‘cessirias & produgao de um texto: 43} se tena 0 que dizer bse ena uma razao para dizer oque se tem a diver, ©) Se tenba para quem dizer o que se tern 9 dizer ‘yo locuor se constitui como tal, enquanto sujeito que dizo que diz para quem diz que ic plica responsabilizarse, no processo, por suas falasy ) se esolher asestratégia para realizar (a), (6), @)e td) ‘A devolucdo de palavra ao aluno faz deste 0 condutor de seu processo de aprendizagem, assumindo-se como tal Isto nao quer dizeca de cretagso de um “nada a fazer ou a declarar” para o professor. Fora isto, teriamos a descon- Sideragao pela palavra,o que signitica, na verda- de, una nao devolugso da palavra a0 outro. Ow . vidos moucos, ano escuta ena verdade uma no ‘devolugao da palstra; €negacdo ao direito de pro- ferir, Ano escuta do protessor ou seu mutismo ‘empuurrariam a ambos alunos e professor, mo- fologia. Tomado este principio como ponto de partis: o aluno como locutor efetivo, poderia ios tragar, com base nos itens acim, 0 seguin te esquema Ure ia | | Hue Aleiturado quadro, com flechas em dois sen tidos, quer representar que ninguém se asstumeco- tno locutor a nao ser numa telagao interlocutiva, fonde se constituicomo tal: assumir-se como lock tor implies estar numa relagso interlocttiva Compreender os processos migratérios, a partir dda propria migragao de sua familia, ser a are pliacionecessaria de conhecimentos que perm {ira a0 aluno relornar ao fato vivido compreen dendos de forma distinta de um acontecimento aleatorio. E precisamente este movimento que importa: do vivido particular, somado a outros isidos partculares revelados por seus colegas, 2 reflewdo ea construcio de catogorias para com: preendero particular no getal em que s inserem, Festa uma dasfinalidades das praticas de leitw: ras de textos na escola, a que fetormaremos no prosimo item 44 Aescolha de estatépias ea escolha nfo se diem absteato, Elas s60 selecionadas ou cons {ridas em fungSo tanto do que se tem a dizer quanto das razées para dizer a quem se diz Considerandose, por exemplo, as modalidades orale eserita, € preciso notar que as estratégias ‘to diferentes. Dal os relatos ora em sala de au Ia, antes da propria eserita, oferecerem ja op. tunidades para discusses sobre estas diferen (no como um ponto a ser estudado para se sx bers diferenes, mas como uma questio que se coloca para o trabalho que se quet exccutar ert face do projeto em que esiao professores eal nos ngajados}, Talverseja neste topicn que mais Se dara contribuigao do professor que, nos do destinatrio final daabra conjunta que se pro {dz, faze interlocutor que, questionande, ge indo, testando o texto do aluno come teitor, Consttoise como "coauitor” que aponta esminhos possiveis para. aluno dizer © que quer dizer na forma que escolheu. Retornaremos a esta ques 180 ao tratarmos da “analise lingulstica entrar oensino na producio de textos &t0 mar a palavra do aluno como indicador dos ca tminhos que necessariamente deverao ser till {dos no aprofundamento qucr da comprecnsso dos proprio fatos sobre os qual se fala quer dos mo. {dos (estratepias) pelos quais se fala. Nao preten {do com isso dizer que os textos produidos, no final deste encaminhamento, se tornem automa ticamente “narrativas” exemplares, “poems ‘exemplares, Que tod o sluno, em consequencia ‘de um tal projeto, se torna ipso facto um eser tor no sentide de produtor de uma nova Fiega0 fs mudar os rumos da historia da literatura, Co mo a Haquira Osskabe (1988), incomoda-me tam bem esta pedagopia da faciltagdo. No populismo pedagogico que caracteriza a faclitagao, qual ‘quer texto do aluno ¢ clevado & eategoria de ex Celencia, em prosae verso (do elogio barateado}, Compreender a distancia que separa o texto que produzimos de outros textos prodiridos por Ou {ros 0 torna a diferenga uma forma de sllencis ‘mento quando tais textos sao vistos como mode Tosa seguir, e nao como resultados de trabalhos penosos de constragio que deveriam funcionsr para todos nds come horizontes ¢ nfo como mo Selares, Repett los em nada os lisonjela, Telos em ‘mente pode nos ajuda julgar a relevancia de Na perspectiva assumida neste livro, grande parte do trabalho com leitura ¢"integrado” a pro- A sublinhar nesta passagem, que pode ser es tendida tambem a textos aio literarios, dois a= pects: a) 0 esforgo do autor na construgio de sua bra, que em nossos termos se concretiza como § raballo; b) a consteusao da “sabedoria" do lei ( ‘or também trabalho) que opera a partir do tra.) balho do outro CConsideremos dois aspectos que, somados os aspectos ja tratados, podem dar uma visao ‘mais explicita da proposta de ensino como pro- ddusdo de conhecimentes. 322.1. porigoss entrada do texto para » sala deaula A primeira pergunta a fazer aqui é para gue se leo que se le? Como ensina Ducrot que ndo se pode fala a alguém sem imaginar que o que se Fala pode the interessar, podemos nos perguntar se esata legitimidade das leturas que Se considerarmios as prticas normalmente propostas por livros didaticos, toda a igao ou uni ‘ade destes livros, organizados em unidades e, fem geral, sem unidade, inteiam se por um texto para leitura, Como tas lituras ndo respondem ‘'nenhum interesse mais imediato daqueles que Sobre os textos se debrugam, a relagia interlo cutis a ocorter deverd se legitimar fora dela pro: ria. Ou sea, mesmo quando aleitura se inspira fm concepgoes mais interessantes sobre textos fe sobre a letra, as relagoes interlocutivas a se tempreeenderem em sala de aula nfo respondem ‘a necessidade do estabelecimenta destas rlagies. Dai, sua legitimidade se estatuire nio se cofsti tuir, Os alunos, Isitores © portanto interlocuto- fe, em para afende a leeiumasio social de apa ler (um prtipo aga as prtises de Ancorada na autoridade, a legitimidade se limpoe. Os procedimentos so, aqu, os mesmos aque, na passaigem do produto do trabalho cient fico'aconteudos de ensino, reficam estes prod: tos, Tornam hipoteses verdades ahsolutas. Tor nam textos, que se eleger para as aulas, em let tura obrigataria, eujos temas valem por sie cu jas estrategias de construgao sao tamber validas em si, Relficamse os textos. E, contraditoriamen: te, “repartindoos” pela escolarizagéo, sactalt zam-nos ena ambiguidade do nos incluams to dos os seus sentidos: os textos, seus autores, seus Slecionadorese, por mais incrivel que parecs, Seus leitores, pois estes, no contato magicamen: te imposto, “eruditos” se tornam porque leram ‘o que sclecionado ler se hes "deu” a ler — es colarizados esto). © 0000000000000 C00S COOL OOOO OR2000: _Niose tata, pois, de textas buscados por su Jes que, querendo aprender. vio acleasheids de perguntas proprias,E mais uma ver oque po deta Ser uma oportunidade de discurso ens nolsprendizagern, um dialogo em sentido enfat. ode fala conjunta, de um com o outro em bus ade resposias", produzse 0 discurso de sala de aula que como a pergunta didatica, faz do tx toum meio deestimular operacdes mentaixe nia. "um meio de, operando mentalmente,-produzir ¢o- “Hizsentos. Nao ht perguntas provins para se “er- Hs perguntas que se fazem porque slew. E € tuito requente os alunos lerem primeira as perguntas que se seguem ao texto de letura do Tinto dito para encontrarem alguma raza par aoesforyo que fardo, Mais frequentemente sin da, como tais perguntas podem ni exigir qual ‘quer esforgo, de posse dela, aluno passeia pe Totextoe sua superficie em busca das respostas Aue asada ndo a sinmas a afergdo de era ‘ue lio didstico e professor podem vir a fazer Para fugit isso, 0 "remedio pedagogico’ tem sido criar motivagdes que, por sua exterlo- ridade, nada mais fayem do que ancorar pelos Ia dos uma lestimidade que nao se poe sob suspet ‘a, mas que rul sobre seus pés de barro. Como construir outra legitimidade que nso se assenie ns autoridade? B aqui, sepundo a pers ‘ectiva qué Yenho defendeado, que a leituta se Integra a0 processo de produgio, No item ante tor ja vimos como esta pode ser deslocada, em Sus temas, por um projeto de produgao de tex tosassumidos por seus autores: Ora, estes, para produzirem, precisam voltar-se para sua propria experiéncia (real ou imagingria) para dela fla fem: buseam e inspira se nela para extrait dal aque deer & a0 dizelo, desvelam as catogoriaa fou sistema de referencias) em que iterpretam ‘Stas experiencan suas vias. E desta interpre fagdes que se podem trar topics que, discut {fosna sala de aula, demmandam a busca de oats informagtes, de otros modos com que outros tam e vem experiencias semelhantes. neste sentido que a leitura inde sobre “o que se tem) a dizer" porque lendo a palavra do outro, posso| descabrip asia outras formas de pensar qu, con ttapostas as minhas, poderao me evar aconstr {a0 de novas formas assim sucessivamente Nao secreiaqucestoua defender um "prag: rmatisno” como inspragio da leltra as fazet {Em sala de aul, Estou detendendo, sto sim, que ‘to paricipamos gratsitamente c jmotivamen tee relagtesinterloctvas, © que 380 08 pes derelagocsinerlocutvas em que nos eng “Gre melhor podem mspirar3 3 Seemiprcender Astin ses produtivas na le “Taha equETaPGn da leitura uma produgao de sen Tidos pela mobilizacao dos ios" dos textos ede tnouoeproprios “ios” podem ser recuperadas de fossa historia de leituras externas 8 escola” 2) Posi ote mbna de a reaps ta pergunta gue tenho, Tratase ag de pergun taro texto Eo que se pode chamar de fear busca de nformafdes, Ora, nao se buscam infor tuagdcs para nada: Somente quand queremes at tnentar nossa adesioe ade outros ateses que de fendemos ou quando suspeitamos de teses que ob tros deendem ou que nbs mesos defendemes, POOOCOOOO OOO OCO OOOO CEOOOODELOOESO0R: € que buscamos maiores informagoes que nos permitam essa adesdolabandono da tese. Eo que rer saher mais a azo que nos leva a buscar em outros suas posicoes, suas propostas. Mas este «querer saber mais nao se da sem complement sempre queremos saber mais sobre alguma coi- sa para, compreendendo-s de diferentes modos, destas novas compreensoes fazer uso, ainda que este uso ndo este imediatamente detinido nem Sela pontualmente limitado, ') Posso i ao texto para escutdto, ou sei, rnio para retirar dele uma resposta pontual a uma pergunta que lhe ¢ prévis, mas para retirar dele tudo o que ele possa me fornecer(e eu, No m0 mento desta letura, possa detectar) Eo que se pode chamar leitwraestudodotexto, Estorgo maior, esta leitura eonfronta palavras: a do au tor com ado leltor. Como. palavra do autor 0. zinha, nao produe sentido, minha escuta exige-me uma atitude produtiva. Que razdes podem levar_ ‘um estudo de um texto? Novamente, aqui ogi Ter saber mais ¢imprescindivel a leitor no dis: posto ao confronto, 20 risco de constituirse nas Interlocugdes de que participa, este risco sponta para.a possbilidade de refazermos continuamen ternossos sistemas de referencias, de compreen so do mundo ou de leitura do mundo, nas pala ras de Paulo Freire, 1982), podera passear os olhos sobre o texto sem escutilo, Pela segunda ver este “querer saber mais aparece. Como justifica-lo? Como surge no ho- ‘mem esta vontade de saber? O que nos faz per guntadores"? Ou o que apagiv em nds a peru 3? As respostas, sabes, ou se crstalizam como misjificagdes ou sto suscltadoras de novas per funtas claro que pars manatenco da order {Go progresso de uns), pela massificagoe pela, Shenagao as respostatencontradas se apresen tam como solugoes defintivas: a clas ndo cabe produsir novas perguntas, mas imobilizar elas Thistoricidade don sujeitose de seus sistemas de Telerencas, No entanto, como se di {Sapam sida da acgaoemavaicso? “por que os que cacapam descjam sempre, que cutrososacompantem? Ha resposts para odas Stas perguntag?A-unica que'no momento me posto olerecer(oferecendos sos leltores) tem & er com opie que assume que destino do bomen & compres na sa singulaga eC ibe compete mn mt de au prt den ‘tina fonin, sontnuamente erate Se ‘Meno do que uma decorrencia natura revindie ‘ico desis roars etre am diocese explana ion a oats earoce {clfundsam principe de sobrevinénel ia forme ede Snunbrcnloe Ese Se apace” mgs wecone atone do dict cape po is ¢) Poss ir go texto nem para perguntarhe nem para escutilo, mas para nso na producto de outras obras, inclusive outros textos. Pretex lepine cunstnce, Powe fui por exemplo, no diretor de teatro que mon {anda uma pees, sus obra no se mede pea fide Ilda a texto que sustenta as plo novo tex to tmontagem) auc Taz reaparecer. A leiture pretento nao me parece em sium mal (aliss, haverd alguma leitura sem pretext?) sob pena deur endeusamento do dio e, por ricochet, 2 decretacio de sua morte na imobilidade Ge ser ‘que tsem predicativos. Esidentemente hi pre textos que, ndo por serem pretextos, legit ma Taher omehor ecipi dit sj aut Cussto da sintane de seus enunciados,Ailegit tmidade no me parece surgit do estado sintai oem si mas da erstalizacdo de ais analies que Sendo apresentam como possivels mas como ver dades aque 6 sabe adert, sem qualquer pergun ta. Qualguer texto, oral ou escrito, nos elerece ‘casio pra tent descobrr os mecanismos sin tatieos da lingua e estan ¢ portanto a ques Go. O problema es em que nao €adescoberta de ais mecanismos que funciona de fato como pretento. Fa mera ncorporacao de explicagoes Sinttieajéprontas que legitimam eta atitude de uso do texto, 4) Posso, por fim, ir aa texto sem perguntas previamente formuladas, sem querer estan To por minha excuta, sem pretender usirlo: des Polado, mas carregado de historia. Eo que pode ferchamado de leturaruigto, Na €« ined tee a linha condutora desta relagao com os ou os mig a patidad do estar com soto, dialogo, ¥ : (Os quatro “tipos” de relagdes aqui aponta dos no esgotam as possbilidades, etn ¢ me ob jetivotenaresgotslas Exemplificam, apenas al temativas de “entrada” do texto no movimento tana produgso. O que se diz ou as formas dod zer podem levara leituras de textos que, amplian de nossos horizontes de anilise (pela incarporw Sho critica de categorias de compreensio do mit {do que nao conheciamos), ampliam o que temas dizer; a forma como outros disseramo que dis: Seram (jt vimos que na relagaointerlocutivatais elementos nao se separam em si, embora posss omprovam as atividades epilingulstcas ¢ meta lingiistieas) amplia nossns possbilidades de ‘Antes de nos dedicarmos ao segundo aspec todesta perigosa entrada do texto na sala de au Ja, tomemos um exemple que concretize ¢ resu sma as idéias expostas Exemplo 5#* Fu queria que meus alunos escreves- sem bastante, entao, disse a eles para colo- ‘carem no papel tudo o que havia acontecido ‘durante o dia Elesfazem tanta coisa, ndo 6? ‘Vocé pensou em partir da experiencia da crianga?” Pols é, mas ndo gostei dos resultados. \Vejam, por exempla, este aluno, Luis, Voces cham que eu poderia dar nota numa coisa dessas? Meu dia Eu acordele fui escovar os dentes e de pols fui toma cafe. Aleu ful arrumar a mi na cama. E depois ful jogar bolinha e depois fui joga bola. E depois eu fui anda de bicicle- tae depois eu fui au moca ai eu ful asisdi te levisio. E depois eu tomei bano e fui faze 2 tarefa e depois vim pra escola (iexto de allan da 4? série) Antes de mais nada, afastemos a preocupa: ‘elo em dar uma nota. A pobreza aparente do.co- fidiano contada numa estrutura do tipa "um f to pura outro" (ef Franchi, E1984) abrese em possibilidades que permitiriam reflexdes rit plas sobre este fazer cotidiano. Apontemosalgt 8) ex acordel: por que dormimos? que sonfios « pesadelos a noite nos trouxe? a0 acordar, que Jimaginamos do dia a construir? bj fu escovar ox dentes: que pasta voc’ usou? qual o gosto? desde quando escovamos 0s den {ese para que 0s escovamos? o gosto ruim na be a, por que se forma? ‘9 depois ful tomar cafés 0 que hava no mew cafe? repete'se sempre 0 mesmo em meus caies dda mana? hi quem tome café todo 0 santo dia, ha os que nao tomam por qué? A)at eu ful arrumar a minha cama: sempre sou eu mesmo que arrumo minha cama? e 0s ou fros tambem fazem isso? por que os lengois de ‘que saimos precisam ser alinhados para apagar fossa presenga? todo mundo tem cama pars, usando, poder arrumar depois? ‘ee depois fui jogar bolinha e depois fu o ‘gar bola. E depois fui andar de bicicleta: uma ma ‘nha que se fee brincadeiras: com quem? a que & jogar bolinha e o que ¢ jogar bola? quais as re tras destes jogos? poderia se fazer isso sazinho?, como me sai nestes jogos? ganhei? perdi? sera ‘que saberia dizer as regras do jogo de bolinka, ensinando-as para outro? fhe depois eu fu almocar: quem fez 0 almo- 50? a mie? a empregada? o pai? eu estava com fome? comi o qué? que necessidades fazem sur gira fome, que nos leva em busea do alimento? Como ficam entio os que nlo comem tantas ve 2es por dia? 1) ¢ fui assistir rlevisdo: vi 0 qué? por que ts pessoas assister televisdo? alguma propagan- da da pasta de dentes que usei quando acordei? ‘como era esta propaganda? eu me reencontrei ne- In? por que stm? por que nso? hh) depots eu tomei banho: por que se toma bbanho? em todos os higares e em todas as Fam lias se toma banko antes de ir para a escola? Ie fui fazer a tarefa: por que a escola dé ta refaa fazer? poxle-se aprender sem fazer tarefa? se eu nao tivesse feito a tareta, 0 que acontece Fla? a gente, num dia cheio que se fez de brinca deiras, pode esquecer de fazer a tarela? quando fesquecemos porque ficamos brincando, alguém celta esta justficativa? {) depois vim para a escola: fazer 0 qué? para que ¢ que a gente vem para a escola? on: de aprendemios mais 6 que nos interessa: brin. ccando de manha ou aqu: na escola? as pessoas {que eu encontro aqui séo tambem aquelas com {quem brinco de manha? quais? equals nao sao? ‘onde moram? que fizeram durante a manhi. os ste conjunto de perguntas, aque se pode tum dislogo Devlverapalauraaoutrn implica Querer esculado. A escuta, por seu turno, no € dina attude responsi O dslogo ques pode dar “partir dacurfosidade das qustocs formulas produs um texto eoenunciada. Afi, pedise 20 aluno paracontaro seu dia para daribe una nota ou para saber como fol este dia? fm que sentido todas estas perguntas te a ver com feitura AS respostas que surgem de per {unlas como as formuladas vio nos mostrando fue, sobre maltas cosas, que sabemos€miito pouco™ E.€ este pouco que pode se tornar um fuerer saber mais € este quoter saber mals que inpulsiona busca de respostas dadas por ow Este o mosimentg que se defende E com Iso se pretende(inverter a flecha da forma de entrada, do texto de leimra oa sala deaula: ele nao res onde ao previamente fixado, mas ¢ eonsequen-/ ia de um movimento que articula produgao,lei- tra, retorno a produgso (aos fatos do cotidiano no nosso exemplo) revista a partir das novas ea tegors gue slog, entre protesser alunos ¢) F isto scriaensinar lines portuguesa? B in enue pensar que uma tal perspectiva apenas briria espaco para uma acto ideologizante. Se ‘ linguagem nao ¢ morta, ndo podemos eseapar do ato de que ela se refere a0 mundo, que. por tlae ela que se pode detectar a construgto hie ‘uerer eon some de uma suposta neutalidade abandonar qualquer agao pedagogies que opere* ‘erdade,arificializar o uso da linguagem para [erse a aspectos que no enolvemn a linguagerm ‘omo um todo, mas apends uma de suas partes ‘Aoaprender'a lingua, sprende-se a0 mesmo tempo outras cols staves dela constrdise uma imagem da realidad exterior e da propria real dade interior. Este um processo social ois co ‘mo vimos,éno sistema de refergncia que as ex pressdes se tornam sgnificstivasIgnoréas no fnsino, ou deixar de amplislas no ensino, re duit nao 36.0 ensin & im formalism inocu, E tambem reduziralinguagetn, destruindo sua catacteristica Fandamental: scr similis Seo texto escrito pelo aluno era para ser I raga" que seextai do texto, mas efetivamente tnvolve leitor, nso xejo como um professor le {or dos textos d's als, poses gnorac ian {as perauntas que as informacbes dads peo tex Lo area stggle® F note se, perguntas formula “es com Base m5 que disse o uno nao teen res posta previamente conhecida pelo professor. As ergunias ja nao sio perguntas didaticas, mas perguntas efetivas que fazem do dialoge da sala de aula uma troca e a construgto do texto oral ‘co-enunciado, As respostas dos slunosjé ndo sto, ccandidatas a respostas que o professor cotejaria com uma resposta previaimente formlad, A par. Ucipacae do professor neste dislogo ja nao € de alerisao mas de interlocugso, 1 © 0000000000000 0000000000000 000000: Por esta via talvez a entrada dos textos pa ra, leitura em sala de aula tenha outrasrazdes de ser as razdes efetivas pelas quais fora da es cola buseamos textos. E mais, oconvivio com eles nose constitui como um convivio que os crista lina em modelos, Na mesma medida deste convi- io, vamos extraindo 0 que js seqlisse sabre ote mac formas de dizer, com isso sumentando nos sas condibes de escolha de estratégias de dizer Isto nos leva a0 segundo aspect. 3222.0 texto as estratésias do dizer Osakabe (1982) sponta para ofato de que o processo de escolarizagao hipertrfia duas carac teristicas da escrita a sua fixie (necessaria para permitira interlocuedo & distancia) e a tenden. ia monologica (resultante das condigdes de pro- ‘dugio em que o interlocutor nao se (sz presente, face a face, como na oralidade, mas como ima gem do proprio autor). Na esteira do mesmo ra loci, pole se dizet que 0 conjunto de textos ‘que se olerecem a leitura de aprendives da lin fa escrita nao so funcionam como modelos i Plicitos de discursos a serem proferidos ne que {ange sos conteudos “valldos” que se dio como tats, mas tambem enquanto "modelos" a seguir ‘enguanto forma de configurar textos. A pratiea | ‘escolar &, aqui, profundamente destruidara dos proprios textos que se Idem, Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, po racitar apenas alguns dos autores hoje presen: tes nos livros didaticos, nao esereveram os te tos que esereveram imaginando-os modelos 2 se- rom seguidos. Existents, estando no mundo, cles thos fornevem, ¢ claro, o resultado de ur trabae tho de consirucao sabre o qual nos debrucamos, com os quais convivemos e dos quais nos apro. priamos. Mas no € por serem “modelares” que fe tornam modelos inspiradores:inspitam por ‘que convivendo.com eles vamos aprendend, no ‘como trabalho dos outros, formas de trabalhar ‘mos tambem. Dai porque a leitura permite a ex .cio das con{iguracoes teXTuals, endo s6 as fas que incidem sobre o que o texto diz po- ‘dem levarnos a buscar outros textos. Tambem refletir sobre o modo como outros ofganizam 0 (que tinham a dizer pode ser a razdo de leituras ‘atengio a estas confipuragdesrexuais nBo quer dizer que, de imediato,0s texios idos devamn for fnecer 20 professor o parametro a partir do qual Jers textos de seus slunos ao contrario,a ate so que se Thes dedica vai constituindo para ea: Ga lettor em particular e para o grupo de leit res, horizontes de possbilidades dos quals vamos ‘extraindo, come o faz a crianga na aguisigao da oralidade, um conjunto heteroelito de "regras" ‘de regularidades" que, a longo do processo his tarien destes convivios, vai nos constituind © mmo sujeitos competentes no uso da inguaizem em Sas instancias publicas. Competénicia que nao ¢"fixada para sempre”, mas € 0 que € em cada momento historico do sujeito tal como a avalia lima sociedade em sew momento historico!, E ‘que tambem nao ¢fixa para cada sujelto, ener alida para todas as ocasioes, ‘Aaposta que se faz aqui € que a agao peda sogiea, a0 chamar a atengdo do leitor para os TTT aspectos configuracionais, sera uma ago media dora entre o letor eo texto. Mediagio que no deve impor as estrategias do texto que se I co ‘mo nico caminbo a ser guido pelo que apren ‘de; mas mediagso que, alertando para tai aspec ‘os, vai permitindo a0 que aprende a sua propria transformagso pessoal pelo fato de dispor, cada vez que le de outras possibilidades de escolha de estrategias de dizer 0 que tom a dizer. ‘Antes de tomarmos um exemplo real, cons: true um, tomando como ponto de partida o tex to de nosso exempla 5) ¢ possivels Fespostas &s quesides que suscitou, Exemplo 6 Suponha-se que o aluno, a0 informar o tipo de pasta de dentes que usou nesta mana. diz ‘que a marea¢ Kolytos. De posse desta infor ‘acto, como poderlamos inelut-s no texto? Tisto aqut slgumas possibilidades: a) Eu acordei ¢ a Kolynos, no bane ro,me dia: agora ¢escovar os dentes,e de pois fui tomar cafe ‘6b) Eu acordei ¢, Kolynos aa escova, 0 tito de escovar os dentes. ‘6¢) Eu acordei e como sempre faco, uset ‘minha Kelynos no habito de todas as mans, fe depois fui tomar cafe Nao € nada dificil a0 leitor continuar. O re sultado deste trabahocom 0 texto doalunoe com dequele que fl sun mate Notes: nex pa qu importa to como parimetto, exigindo que 0 aluno o sigs ‘que te meoniniatnetiforas comperngbes ovque mas der pare recorever ou teas im lie jeacoma lnguagsmape ‘objet Werle. Se UME Os re { atrinés da ingungen enquantoAGAO SOBRE 0 08 HOG poet conta eens AD Sa cnaingiogemenunis OBEY wre Integrando, como se esta tentando fazer aq, produsao de textos e leitura de textos, na busca Ae perspectivas de um ensino que nao seja de re conhecimento, mas de conhecimento: que ndo se jade reproducao mas de produgso,semos que no ‘que tange a escolha de estratégias de dizer, mas de gut defini como se i embrese odious sobre a descricao de nosso exemplo 3) importa. infer na pratica da linguagem, 0 que Bis mente esta pratica foi constrain, ~"Oracessi-a0 mundo da escrita € também urn acesso aesias estrategias que resultam de rela s6es interlocutvas do passado, de seus objetivo {razoes para dizer) e das imagens de iterlocuto Fes com que aqueles que escreveram pretenderam lum certo tipo de relagao. As estratépias que se © 0000000 0000000000 000000080000 0000' escolhem revelam, em verdade, esta historia por ‘que delas so resultado, Estou usando aqui a de- ominaeao “configuragao textual” nao “esiru tara” por duas raze ay conjunto de configu ages (ou gerteros) no ¢fix0, com fegras a sex fem obrigatoriamente seguidas. Assim, a conf traci de uma narrativa no se obtem pela sim ples obedigneia a regras, mas pela inclusio do ‘Que se narra, he et mune, na configurago de ou {ras narrativas;b) estas configuragoes no =o im permedveis entre si, de modo que tim texto em ‘que se queira defender umm ponto de vista, vem ‘Que se deferde wm ponto de vista (texto argumen- | {utivo) no possa ser cruzada por configuragaes | ‘outras que ndo a “estrutura” de uma argumen: ‘ago, Que a fabula sirva de exemple. Pondo-nos, por hipotese, de outro lado doo, aqucle da produso, 0 locutoriautor so escolher uma certa configuragao para o seu texto, “deses ‘olhe” outras , em certa medida, compromete se com as estrategias escolhidas, Estas sto ta bem chaves com que o Ie Js chamamos a ater ‘0 para expressoes cristalizadas como "Era uma, Yer.” O letor imediatamente situa-se num cer to campo de interpretagio do que se segue: for necida esta pista do “era uma ver.." convisios previos fazem esperar uma historia situada num espaco de fieco ou, mesmo que historia eal, com tada, como se ndo 0 fosse" Se, de um lado, estas "configuragdes” abri: gam certas"responsabilidades", de outro lado 0 movimento entre clas produ2 0 inusitado, 0 no vo. Este nfo resulta apenas do que se diz. Como Foucault (1971) aponta, “o novo nao esta no que € dito, mas no acontecimento de seu retorno” € também o retorno, no interior dem tipo de con-, figuracao, de configuragces outras, prod um certo "estranhamento” que faz de que se dig uma novidade”. Para exemplificar,considerese 0 se szuinte poems: Exemplo 7 Receita de Hers Reinaldo Ferreira Tome-se um homem feito de nada Como nos em tamanho natural Embeba-sedhe a carne Lentamente De uma certeza aida, irracional Intensa como 0 édio ou como a Fome. Depois perto do f Agite-se um pendao E toguese um slarim ‘Servese morto O titulo (receita) eo uso de expresses como “tomese”,“embeba-se”,“agitese”,"servese”si0 retirados de um contexto configuracional que sponta para a receta culinaria, Posto, no entan to, que temos um poema, sua novidade esta nes ta emergéncia de uma outra configuragao dentro dla configuragao que nao Ihe ¢ propria. Uma le tura deste poema que nao reconheca nele a pre senca de outro "tipo" de textos cuma leiture que ©0000 0OCO0OOOO OOOO 0000800800000 00 ‘io aciona as estrategias escolhidas pelo autor ©, por isso mesin, ¢ uina leitura da superficie do inda mais um exemplo Exemplo 8° rau € domingo R. Machado Levantou tarde com vagaresimulacro de sorrise examinou os dentes no espelho do ba heiro ¢tirand o carto para a frente da ca sa lavouso tendo para isso vestido o short & {omou um chuveiro e fez barbae pos sapato sm mein camisaexporte fora das calease be bbeu caipirinha discutindo futebol no bar da esquina e comprou uma garrafa de vinho cs guarangs e comen demais no almoce e fo- Theou o grosso jornal pensando ¢ so desers: ‘ano mundo © bocejou diversas ve7es e co- Chilow e acabou indo deitar no quarto escor ‘dou ts quatro horas com preguica pensando vou visitaro Ari ele ago vai estar mas vou as: ‘Sh mesmo e pegou as chaves do carro e dis Sea mulher vou dar uma volta e rodou no ‘olks por tuasdiscretas cheias de solo radio ligado no futebol e batew na casa do Ari no tinha ninguem pensou endo vou até o Paul hoe foi mesmo. por sorte o Paulinho esta ‘a-em casa de chinelo casaco de pijama velo Algo portaoc cle no quis entrar e gozou com ‘cara do Paulinho o teu time nfo é de nada sta empatando logo com o lanterninha e gt Fava as chaves do carro no dedo e o Paulinho disse o jogo ainda ndo acabou eele contou pro Paulinho que estava comendo a secretaria e ‘© Paulinho despeitado so deu im sorriso ama reloe depois o Paulinho disse que deseobriu ‘que o Carlinhos rouba no jogo de buraco € ‘que nao joga mais com aquele cara e insistiu paraque entrasse ele agradecea ji andan- doe abanou de dentro do carro e voltou pra ‘casa antes botou gasolina no posto disse pra mulher que tina ido nas easas do Arie do Paulinho e ela perguntou se ele queria cafe cele disse que nao e pergumtou ela se ‘ha comesado o programa de televisdo ¢ en {quanto sentava a poltrons e via comes tim ppedago de pudim es mulher quebrou um co ona cozinha ¢ele gritou o que que qucbrou ai dentroe dew um arrotoe quando o progra: ‘ma jaestava quase no ima mulher disse que ‘queria sair ele levantou ¢foj trocar de roupa foi ao cinema com a mulher eo filme era ‘comm a Sophia Loren cera colorido e eles gos taram e qvando voltaram para casa viram ind um pouco mais de televisao e eomega- ramos dois a bocejare ele escovou os dentes c fechow a casa e dew corda no despertador € foram dormir ja um povea tarde, porque € ‘domingo Qualquer explicitasio, por marcadores, da cordem eronaldgica do texto produiia uma se ‘qbgncia mais banal. No entanto, estamos ante © OOOO COOOOC OOO 0000000000 0008000000' ‘uma narrativa cujos acontecimentoso leitor vai reestabelevendo a medida que le: misturamse & cronologia de taos pensamentos do personagem Nao€a.cronologia ofio que conduzo que se nar ra, Compare-se, agora, a texto de nosso exemplo (6) com a estrategia de Rubem Machado, e tere ‘mos ai uma leitura que podera incidir nao sé no aque se diz em textos escolares, mas também nas estratégias de dizer a cotidianidade Resumamos, em topicos, os pontos de vista aqui defendidos: /o movimento entre producdoe leita ¢ pa a nos um movimento que vem da producao pa ‘2a leiturae desta retorna a produsio (ao inver ‘s0:do que costumam ser as pratieas escolaes ais como aquelas propostas pelos livros didaticos b) a entrada de um texto para a leitura em/ sala de aula responde a necessidades e provoeal rnecessdades; estas necessidades tanto podem tet Sursido em funcao do que temos chamado “er, fae dizer quanta em fungio ds “esirateiog Ae dizer”, ‘2 leitura, sendo também producio de sen tidos, opera come condigao basica como proprio texto que se oferece a leitura,interlocueso; nes te sentido sdo as pistasolerecidas pelo texto que Tevam a acionar o que Ike € externo (por exer plo, outros textos lidos anteriormente). Do por tode vists pedagopico, nao serrata de ter no ho- Nizonte a leitura do professor ou a leitura histo ricamente privlegiada como parametro da aco; importa, dante de ums leitura do aluno, recupe esis porque teremos, entgo, realizado » utopia po- Eeremos consirulr novas utopias, Estaremos, na continuidade, coneretizando a profecia do poeta edn nc majo art carlos Drummond de Andrade) Noras ox INTHOLEAO | ane i ee case mente lorenis ance e e e e aie ight eee raven ng ee tresses ul orm et seem eda Sa e e e e e se: © OOS 000000000000 000800008 OO0OOO880E OOOO OOH OOO OOH OOOH OOOOOOOOOOOOOOSO Alida, CM. 1989) “redicasso metafirics€ Simccnse er Sern asi 3098, “igre and dans pliers ee Arroyo, (989 "A lormacsodzets dos proissionis da ee eas cme ree ee flied apcontodisphasintsds sees Be Cian FER fess sttutive: éléments pour une approche de law pC OOCCOOO OOOO OOOSCOOOSE OOOO 9O0®R Deere cree teed tas el fg in ee oom saan ass Rarimoe ied gegen Tre se claude Yara she Soe Po feces 2 fH fori de 5) hn Mr pa sro {arora nstrucdo public, RS, Miaiserio da Educa ¢ Epes obras Compl cea arbos Senn Sea eet Pea geindecer cine IGLIB 8 eet CUNO oes iti ota td So Pant, Merce site BGO) “on jd gg” in rae pelea ent os Neate ae Pa Ca Nned SAS tae nga cet 222 Soi nce rma enna Pe Tv ate pal eps oes 903. tee donc kx sca roar 87. 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