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Ó Máquinas Febris

Ó máquinas febris! eu sinto a cada passo,


nos silvos que soltais, aquele canto imenso,
que a nova geração nos lábios traz suspenso
como a estância viril duma epopeia d'aço!

Enquanto o velho mundo arfando de cansaço


prostrado cai na luta; em fumo negro e denso
levanta-se a espiral desse moderno incenso
que ofusca os deuses vãos, anuviando o espaço!

Vós sois as criações fulgentes, fabulosas,


que, vibrantes, cruéis, de lavas sequiosas,
mordeis o pedestal da velha Majestade!

E as grandes combustões que sempre vos


consomem
começam, num cadinho, a refundir o homem
fazendo ressurgir mais larga a Humanidade!

Guilherme de Azevedo, in 'A Alma Nova'


Aos Vindouros, se os Houver...

Vós, que trabalhais só duas horas


a ver trabalhar a cibernética,
que não deixais o átomo a desoras
na gandaia, pois tendes uma ética;

que do amor sabeis o ponto e a vírgula


e vos engalfinhais livres de medo,
sem peçários, calendários, Pílula,
jaculatórias fora, tarde ou cedo;

computai, computai a nossa falha


sem perfurar demais vossa memória,
que nós fomos pràqui uma gentalha
a fazer passamanes com a história;

que nós fomos (fatal necessidade!)


quadrúmanos da vossa humanidade.

Alexandre O'Neill, in 'Poemas com Endereço'

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