Analisar o Federalismo a brasileira da Primeira República, as instituições
estaduais (Receitas e Forças Públicas) de sustentação das oligarquias e o
coronelismo, como cultura política dominante. Coronelismo A proclamação da república em 1889 deveria representar a instauração do governo pelo povo, mas foi marcado pelo governo de oligarquias regionais representada pelos coronéis, principalmente de Minas Gerais e São Paulo, cujo a economia era baseada sobretudo no café fazendo o Brasil um país predominantemente agrícola. Como resquício do Império a sociedade brasileira ficou caracterizada como escravocrata, com grande parte da população analfabeta, sem o sentimento de pátria brasileira, desigualdade entre coronel e os demais habitantes, pouca participação pública na política acompanhada de eleições fraudulentas que segundo Oliveira Viana o povo brasileiro não formou uma tradição de fato democrática. Um dos grandes obstáculos para o alcance da cidadania no Brasil e que merece destaque é a escravidão, sendo um empecilho para formação de uma verdadeira nação, pois separava a população restringindo uma participação social e política como também na formação de grandes forças armadas. Outra barreira para a cidadania era a grande propriedade rural, realidade ainda presente no país, dominada por grandes proprietários em aliança entre comerciantes urbanos que estruturavam a política dos coronéis. A princípio o coronelismo era identificado como mandonismo local, como citado por Eul-soo- Pang e Barbosa Lima no prefacio do livro Enxada e Voto. De acordo com Victor Nunes o coronelismo deve ser visto como um sistema complexo, a “Trama de coronéis” era um conceito que ligava municípios, estados e união. Sendo fruto de uma estrutura econômica inadequada, por tornar o trabalhador dependente das propriedades do coronel para sua sobrevivência, estabelecendo nesse sentido características de mandonismo conferindo ao dono de terra poder sobre a política local.
Por muitas vezes o coronel era visto como um benfeitor pelos
trabalhadores por ter jurisdição local e influência social, era ele capaz de prover recursos quando necessário, como por exemplo, acesso a saúde além de proteção e assistência tido como uma figura paternalista e heroica. Esses formavam pequenos estados dentro do próprio estado federado, desta forma o governo não interferia em suas terras. Assim nas eleições era comum que os trabalhadores votassem no candidato apoiado pelo seu coronel, “afinal este obedecia a orientação de quem lhe tudo pagava. ” Dando origem as práticas fraudulentas, como o voto de cabresto, e atuação dos cabalistas, capangas e fósforos, de forma que podia ser fraudado no lançamento na apuração e até mesmo no reconhecimento dos votos. O direito político da população brasileira sofreu um grande retrocesso com a reforma de 1881, em que a quantidade do eleitorado brasileiro foi drasticamente reduzida. Com as novas leis exigia-se 200 mil reis (valor não considerado alto) como, renda mínima para ser capaz de exercer seu voto, além disso proibia-se o voto dos analfabetos, mulheres, escravos, soldados, membros de ordens religiosas e tornava o voto facultativo. A proclamação da república em 1889 não obteve mudança notória, o que deveria representar uma maior participação popular na política não ocorreu, uma vez que apenas eliminou-se a exigência da renda de 200 mil reis. O presidente dos Estados e prefeitos começaram a ser eleitos pela população, a ideia era aproximar o povo do governo, entretanto o que ocorreu foi a aproximação apenas das elites gerando a formação de oligarquias estaduais. De acordo com as eleições da época, havia sempre um fator pessoal, ou seja, desde a promessa de empregos públicos até a obtenção de pequenos objetos, como troca de favores as vezes contrariando a lei. Essa estrutura favorece amigos, o que de acordo com Victor Nunes seria o que ele chama de “favoritismo”, que desorganiza a administração pública. Neste sentido o coronelismo se trata de um sistema com a presença não só do mandonismo local, mas também com influência do coronel na decisão de cargos públicos. Dentro desse sistema os direitos civis só existiam na lei, e era comum a pratica do “filhotismo” e a troca de privilégios, com frases famosas na época, como, “Para os amigos tudo, para os inimigos nada”. Uma vez que imperava a lei do coronel. Para o chefe local, o que tem maior importância é a vitória política a qualquer custo, por isso precisa do apoio dos coronéis, e se submetem a negociações e barganhas em um sistema de reciprocidade. Esse ciclo ocorre inclusive em esferas superiores, ou seja, desde prefeitos, governadores até presidentes. Um responsável por essa influência e que mantém o coronelismo nos governos é a fraqueza financeira dos municípios, e muitas vezes o coronel utiliza ameaça e violência para garantir a eleição para sua facção, por vezes sendo a corrente local com menos aceitação popular. “Para os amigos pão, para os inimigos pau”, um pensamento comum dos chefes locais da época que simbolizava a hostilidade nas eleições.
Referência Bibliográfica
CARVALHO, Jose Murilo de. Cidadania no Brasil. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2010, Cap. II VIANA, Oliveira. Instituições políticas brasileiras. Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 1999. LEAL, Vitor Nunes. Coronelismo, Enxada e Voto. CIA das letras, (Cap. 1 e Cap. 2)