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Tomemos o enunciado:
O pincel é azul.
Vamos pensar esse enunciado; vamos ver sua condição
lógica. Kant tem, como modelo lógico, Aristóteles. Ainda estamos
longe da chamada virada lingüística do final do século XIX, com a
lógica contemporânea. Então Kant usa o modelo aristotélico:
sujeito e predicado.
Vamos começar.
O pincel é azul.
Com a base empirista, temos um problema sério: ao dizer
isso, qual a unidade que esse enunciado tem? A comunidade dos
observadores. Mas ela pode estar totalmente errada! Eles são o
critério para verificação disso? Por quê? O azul pode ser diferente
para cada um de nossos conjuntos oculares de sentidos. O azul do
pincel pode ser um azul de tonalidade diferente daquele outro azul,
que está no casaco do Bruno, e o que faz este azul ser também azul?
É tudo fruto do consenso. A própria comunidade de observadores,
convencionando, não estabelece um critério válido. Eu posso
admitir, então, a especificação: o pincel tem “azul cobalto”,
enquanto a blusa de alguém é “azul-turquesa”, ou “azul marinho”,
etc. Podemos ter um crivo mais preciso: este azul do pincel é a onda
eletromagnética emitida na freqüência de 6,45.1014 Hz... Mas não
disse nada que é azul! Só disse as características físicas. Vamos
complicar ainda mais: digo que isto é um pincel azul. Abro, escrevo,
e a tinta é vermelha. Ele é o que, azul ou vermelho? Ou pior ainda,
e se o objeto que aparentava ser um pincel é, na verdade, um
isqueiro? A comunidade de observadores não consegue estabelecer
uma diferença entre realidade e aparência. Por quê? Porque
ninguém pode garantir que é mesmo um pincel. Pode ser até um
simulacro de arma de fogo.
Terminamos o tempo.
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