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Resumo
O artigo discute os conceitos de universalidade e de totalidade abstrata,
absoluta e unilateralmente baseados na dialética, com exemplos da implicação
desses conceitos em diversas sociedades ao longo da História e na atual sociedade
brasileira. Especificamente nesta última, vislumbra-se a construção histórica da atual
condição sócio-econômica-cultural das classes desprivilegiadas no Brasil, com
ênfase no sistema de cotas para negros.
Introdução
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Professor Adjunto da Faculdade de Educação – Universidade Federal do Amazonas
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desfavorecido conforme sua posição e situação no modo e relação de produção da
sociedade.
Como exemplo, podemos citar a sociedade indiana antiga, constituída de
cinco partes, chamadas de castas: brâmanes (sacerdotes e sábios); xátrias
(governantes soldados); vaisias (pastores, mercadores); sudras (servos) e intocáveis
(encarregados dos serviços impuros). Nessa sociedade, não somente os brâmanes
(classe privilegiada) beneficiavam-se da exploração do trabalho dos sudras e dos
intocáveis (classes desfavorecidas), mas também as classes intermediárias – os
xátrias e os vaisias – beneficiavam-se de tal exploração.
Outro exemplo é a sociedade espartana, constituída de três segmentos:
esparciatas, classe privilegiada (invasores); periecos, classe intermediária (aliados
dos invasores) e hilotas (população escravizada). Não somente os esparciatas se
beneficiavam da exploração do trabalho escravo dos hilotas, como também o
segmento intermediário – os periecos – beneficiavam-se de tal exploração.
Com esses exemplos, queremos destacar que, historicamente, em várias
sociedades, as partes intermediárias (castas, classes) contribuíram para manter o
sistema de dominação e exploração de segmentos desfavorecidos por parte dos
segmentos privilegiados.
A luta dos negros por cotas tem como objetivo resgatar o que foi negado
a eles em termos de acesso a bens materiais e culturais através de políticas de
discriminação negativa, de racismo e de desigualdade adotadas pelo Estado tanto
no período colonial quanto no período republicano. Temos de considerar ainda que,
sendo a sociedade brasileira dependente desde a sua invenção, a exploração do
trabalho escravo e assalariado beneficiou e favoreceu também as camadas altas e
médias dos países colonizadores (Portugal, Grã-Bretanha etc).
A pobreza material e intelectual dos negros no Brasil explica-se, portanto,
pela exploração e discriminação sofridas por eles em benefício e favorecimento de
outros indivíduos, cuja maioria é constituída de não negros. Muitas vezes, essa
pobreza e discriminação são explicadas por ideólogos das classes privilegiadas ou
favorecidas como sendo devido à incapacidade intelectual e de integração social dos
negros. O que de fato ocorreu foi a adoção de uma política sistemática de
discriminação negativa e de apartheid contra os negros pelo Estado e pela
sociedade brasileira, em geral. É que a política de exploração do trabalho e de
dominação política de um grupo desfavorecido é sempre acompanhada de política
de discriminação, de desigualdade e/ou de práticas racistas por parte dos grupos
privilegiados e/ou favorecidos.
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Carvalho acentua bem essa política de discriminação, de desigualdade
e/ou de práticas racistas na sociedade brasileira que beneficiou a coletividade
branca e negou à coletividade negra oportunidades de ascensão profissional,
educacional etc.:
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lutar pela redistribuição dos benefícios das classes altas e dos favorecimentos das
classes médias.
A aceitação das propostas alternativas pelos grupos desfavorecidos é
criticada pelos ideólogos das classes médias, os quais alegam que tais grupos
contentam-se com as migalhas oferecidas pela classe privilegiada. Tais ideólogos
esquecem ou fingem esquecer que, historicamente, as classes médias aceitaram e
mendigaram migalhas da classe alta, ajudando a manter o sistema de exploração e
de discriminação das classes mais desfavorecidas da sociedade brasileira – negros
e índios, em especial.
Os ideólogos das classes médias não somente defendem que é preciso
alcançar a universalidade para todos os particulares e a totalidade para todas as
partes da sociedade, como também concordam com a ideologia das classes altas,
as quais defendem abstratamente que é preciso alcançar o desenvolvimento para
que todos os indivíduos da sociedade possam ter acesso a bens materiais e
culturais e comungam ainda com os ideais daqueles que postulam uma revolução
socialista para que todos sejam tratados igualitariamente.
Considerações finais
Referências