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MANUAL DE CONDUTAS DO
AMBULATÓRIO DE PEDIATRIA
DISCIPLINA DE PEDIATRIA
CURSO DE MEDICINA
CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO LUCAS
CENUSLU
Organizado por Elierson Rocha
Médico Especialista em Pediatra
Mestre em Ciências pelo Instituto de Ciência Biomédicas da USP
Professor e Preceptor de Pediatria do Curso de Medicina do Centro Universitário São Lucas
2017
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Índice
Tema Pág
Programa do Internato de Pediatria do Curso de Medicina do Centro Universitário São Lucas. 03
Rotinas e documentos do ambulatório SL/SM 06
Atendimento ambulatorial 08
Roteiro racional para atendimento pediátrico 09
Roteiro específico para o exame físico pediátrico 11
Roteiro de anamnese e exame físico 13
Puericultura 18
A puericultura na promoção de saúde e prevenção de doenças 21
Adenomegalias - propedêutica 35
Anafilaxia 36
Anemia carencial ferropriva – diagnóstico e tratamento. 38
Asma – tratamento da crise 41
Constipação intestinal crônica funcional 42
Dengue 47
Dermatite atópica 54
Dermatite das fraldas 56
Dermatoses 58
Dor abdominal recorrente (DAR) 68
Infecção do trato urinário - tratamento ambulatorial 73
Picadas de inseto - prurigo estrófulo ou urticária papular 77
Rinite alérgica 81
Medicamentos mais usados em Pediatria 83
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Carga Horária Total: 160 horas (8 horas/dia - 5 dias por semana, durante 4 semanas).
Área Cognitiva:
1. Em relação à puericultura
Planejar propostas de atendimento a criança que visem mantê-la saudável.
Organizar de forma racional as prioridades no atendimento a criança para que o
objetivo acima seja alcançado.
Discernir as práticas corretas para que o objetivo acima seja alcançado.
Explicar para os familiares de que forma essas práticas corretas contribuem para
que a criança se mantenha saudável.
Caracterizar os problemas relacionados ao nascimento, alimentação,
crescimento, desenvolvimento neuropsicomotor e vacinação das crianças
atendidas para poder orientar os familiares acerca dos mesmos.
Refletir criticamente sobre o atendimento realizado no ambulatório.
5. Em relação à dengue:
Descrever os principais dados epidemiológicos da dengue na infância;
Estadiar o quadro de dengue de acordo com a proposta do Ministério da Saúde
Identificar os diversos indicadores de risco na Dengue;
Descrever a conduta ambulatorial nos casos de Dengue;
Aplicar as medidas profiláticas para a Dengue
6. Em relação às diarreias:
Aplicar os dados epidemiológicos associados à diarreia aguda na infância;
Explicar a etiopatogenia da diarreia aguda na infância;
Estabelecer as causas de diarreia aguda.
Interpretar os principais elementos de investigação laboratorial da diarreia
aguda;
Interpretar os sinais de desidratação associados a episódios de gastrenterite
Descrever as medidas profiláticas da diarreia aguda na infância.
Área psicomotora
1. Realizar anamnese pediátrica de forma correta e completa;
2. Anotar correta e intelegivelmente os dados de evolução do paciente;
3. Escrever de forma correta e ordenada a prescrição médica;
4. Atender em Ambulatório as situações mais comuns da prática pediátrica;
5. Entender os problemas de saúde a partir das características individuais da
criança e do contexto social e familiar;
6. Aplicar técnica de consulta médica própria ao atendimento ambulatorial;
7. Utilizar adequadamente os recursos de informática disponíveis para a consulta
ambulatorial.
Área Afetiva:
1. Avaliar criticamente a importância do relacionamento médico/criança/família e da
presença dos acompanhantes durante a consulta para o adequado desenvolvimento do
processo diagnóstico e terapêutico;
2. Desenvolver técnicas de contato com a criança, procurando ganhar sua confiança;
3. Reconhecer a importância do trabalho em equipe para o melhor atendimento da criança
doente.
7
2. Em cada turno, deverá ser escalado pelos próprios alunos, pelo menos um, para fazer as
medidas dos dados antropométricos de cada paciente, antes de entrar na sala para a consulta
propriamente dita.
Obs: Dados antropométricos a serem medidos e anotados na ficha do paciente:
a) Crianças de zero a dois anos: peso, estatura e perímetro cefálico.
b) Crianças de dois anos e um dia até seis anos: peso e estatura.
c) Crianças de seis anos e um dia em diante: peso, estatura e pressão arterial.
3. O atendimento é preferencialmente feito por um aluno para cada paciente, a não ser que
excepcionalmente, naquele turno, tenhamos menos de um paciente por aluno, quando estes
poderão atender em dupla.
Obs 1: temos como princípio que o paciente demore o mínimo possível na sala de
espera, por isso, ao chegar um paciente para consulta, a dupla se desfará de
imediato e um dos alunos irá atender o paciente recém chegado, não importando
em que altura a consulta se encontra.
Obs. 2: quando o atendimento for feito em duplas, deverá ser evitado que um aluno faça
a anamnese e o outro, o exame físico, de forma independente. Ambos devem
participar ativamente de ambas as atividades, para que ambos estejam
absolutamente inteirados de todos os detalhes daquela consulta.
Nome do paciente
Inalação
B2 adrenérgico gts --------------------------------------------------------- x gts
Soro fisiológico ------------------------------------------------------------- y ml
Fazer nos seguintes horários: A, B, C...
Porto Velho / /
Declaração
Declaro para os devidos fins que o Sr.(a) Fulano(a) de Tal trouxe hoje pela manhã seu filho
(neto, sobrinho, etc.) menor a esse ambulatório para consulta pediátrica. (CID 10 Z 76.3)
Porto Velho, / /
Assinatura e carimbo do preceptor
Declaração
Declaro para os devidos fins que o menor Fulano de Tal veio hoje pela manhã a esse
ambulatório para consulta pediátrica.
Porto Velho, / /
Assinatura e carimbo do preceptor.
7. Os atestados para os pacientes que necessitarem ficar afastados das aulas por determinado
período, deverão ser feitos em receituário comum obedecendo ao seguinte padrão:
Declaração
Declaro para os devidos fins que o menor Fulano de Tal não poderá comparecer às aulas
entre os dias 00/00/0000 e 00/00/0000 por motivo de doença.
Porto Velho, / /
Assinatura e carimbo do preceptor
Encaminho para sua avaliação e conduta que achar mais adequada o menor Fulano de Tal, uma
vez que o mesmo apresenta quadro clínico compatível com tal patologia.
Grato
Porto Velho / /
Assinatura e carimbo do preceptor
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ATENDIMENTO AMBULATORIAL
O aluno deverá ficar atento, uma vez que aquele momento pode ser uma única
oportunidade que ele tenha de ver um caso semelhante. E se é um caso corriqueiro deve
aproveitar a oportunidade do treinamento uma vez que em medicina a repetição é uma boa
conselheira. As dúvidas que exijam mais discussão ou detalhamento devem ser sempre anotadas
e sempre trazidas ao preceptor na primeira oportunidade fora da consulta para esclarecimento. O
aluno jamais deve deixar passar algo que ele não entendeu ou que tenha dúvidas.
O interno deve sempre ter em mente que a razão de ser da medicina é o paciente. Ele deve
sempre trata-lo com atenção, carinho, afeto e respeito em qualquer que seja a circunstância. O
profissional médico nunca tem direito de perder a paciência com o paciente ou passar a
impressão de que se sente superior a ele em nenhum momento. Esse tipo de atitude deve ser
adquirido ainda no início da vida profissional, quando ele ainda é um acadêmico e leva-la pela
vida afora.
I. Padrão de crescimento:
Peso: Informar a adequação de acordo com as curvas de crescimento da
OMS expressas em escore Z que se encontram no chamado Caderno de
Vacinas do MS.
Estatura: Informar a adequação de acordo com as curvas de crescimento da
OMS expressas em escore Z que se encontram no chamado Caderno de
Vacinas do MS.
Perímetro cefálico: Informar a adequação de acordo com as curvas de
crescimento da OMS expressas em escore Z que se encontram no chamado
Caderno de Vacinas do MS.
II. Alimentar: Informar se está ou não adequado de acordo com a idade.
III. Vacinal: Informar se está ou não adequado de acordo com o Calendário
Vacinal do PNI do MS.
IV. DNPM: Informar se está ou não adequado de acordo ao padrão de
desenvolvimento adequado à idade.
V. Patológico: Informar as hipóteses diagnósticas adequadas ao caso.
1. Introdução
O exame físico pediátrico, sendo o primeiro contato mais íntimo do médico com a criança, é
decisivo no relacionamento entre eles e condiciona a qualidade e quantidade dos achados, à
adesão e atitude da criança nas consultas subsequentes e o relacionamento pais-pediatra. Logo, a
maneira pela qual se examina uma criança é fundamental, sendo importante demonstrar carinho,
delicadeza e muita paciência, sem deixar de lado a energia e a firmeza tantas vezes necessária.
Sempre deve ser levado em conta que a criança apresenta-se em evolução contínua; quem a
examina precisa estar familiarizado com os padrões normais e anormais de crescimento e
desenvolvimento.
Outro aspecto fundamental do exame físico pediátrico é a predominância dos sinais gerais sobre
os regionais, determinada pela maior sinergia entre os órgãos da criança, que dificulta a
ocorrência de manifestações exclusivas de um órgão, embora a lesão determinante o seja. Além
disso, existe a dificuldade prática de enfoque dos fenômenos regionais, devido principalmente
às características próprias da criança, tais como menor tamanho e rebeldia ao manuseio.
2. Abordagem
Lactente:
O exame deve ser feito em um ambiente com temperatura agradável, com a criança
completamente despida. Pode ser iniciado com a criança no colo da mãe, vestida e dormindo,
realizando-se primeiro aqueles procedimentos que o choro pode prejudicar mais, tais como a
12
Pré-escolar:
Esta é a faixa etária em que se encontra maior resistência à execução do exame. O maior desafio
para o médico é completar o exame evitando o choro, luta física ou pais perturbados. Se esse
alvo é alcançado, há uma grande satisfação para todos: criança, pais e médico.
Aqui, mais do que em outras idades, é importante o médico saber como "quebrar o gelo" através
de uma conversa amigável ou algum brinquedo. É necessário avisar sobre todos os
procedimentos, especialmente os desagradáveis e os dolorosos; se possível, demonstrando em si
mesmo ou em algum boneco. Com as crianças mais velhas desta faixa, conversar durante o
exame, evitando períodos prolongados de silêncio (a criança pode pensar que o médico está
zangado).
A ordem do exame é variável, adaptando-se à situação. Geralmente inicia-se com a criança
sentada, de pé ou no colo da mãe. Colocá-la em decúbito apenas para os procedimentos
necessários, de modo que ela se sinta menos vulnerável.
Se for necessário conter a criança para procedimentos específicos, como ocorre frequentemente
com o exame dos ouvidos e garganta, explicar aos pais a técnica mais adequada de contenção e
assegurar-lhes que a reação da criança é normal para a idade. Deixar esses procedimentos para o
final do exame. Porém, se a criança apresenta-se muito ansiosa em relação aos mesmos, realizá-
los logo de início, o que a fará sentir-se livre do problema, deixando prosseguir com os outros
exames.
Escolar:
Nesta faixa etária, praticamente não se encontram problemas de resistência ao exame. A chave é
uma conversa amigável com a criança sobre assuntos variados, tais como escola ou amigos,
passando daí a explicações sobre os procedimentos do exame físico.
Atentar para o pudor da criança, conservando parte da roupa enquanto se examina o resto do
corpo. Geralmente as crianças preferem que os irmãos e/ou pessoas do sexo oposto, mesmo o
progenitor do sexo oposto, fora da sala.
A ordem do exame pode ser a mesma usada em adultos.
Adolescente:
Alguns adolescentes preferem que o exame seja feito na ausência dos pais. Essa decisão deve
sempre ficar a critério do paciente.
Os adolescentes apreciam ser tratados como adultos e esperam isso do médico. O exame físico
deve ser aproveitado para orientar sobre mudanças corporais típicas da adolescência, elucidando
as dúvidas apresentadas. Levar em consideração o pudor do paciente no tocante ao exame dos
genitais, sempre pesando o benefício e o desconforto ou constrangimento causados
eventualmente pelo procedimento, assim como a experiência do examinador.
1. Anamnese
2. Exame físico
3. Hipóteses diagnóstica
4. Conduta
Roteiro da Anamnese:
1. Identificação: Nome, idade, data nascimento, sexo, cor, nome dos pais, etc...
2. Q.P. – Motivo da Consulta: nas palavras do informante ou da criança.
3. H.D.A - História da Doença Atual.
4. ROTEIRO DA HDA:
4.1 Desde quando está doente.
4.2 Como se iniciou a doença (de modo lento ou súbito - características da primeira
manifestação).
4.3 Ordem de aparecimento dos sinais e sintomas.
4.4 Como tem sido a evolução da doença até o momento.
4.5 Tratamentos aplicados e respostas obtidas.
4.6 Exames complementares efetuados
5. Interrogatório complementar ou anamnese especial com perguntas dirigidas sobre
sistemas e parelhos.
6. História Pregressa: informações sobre a saúde geral da criança.
6.1. Antecedentes Pessoais: descrever enfermidades prévias, internações, cirurgias,
etc...
6.2. Antecedentes perinatais: condições da gestação, parto e do nascimento.
6.3. Alimentação pregressa e atual: uso de leite materno, alimentos que recebe, etc...
6.4. Vacinação: verificar a situação das vacinas no cartão da criança.
6.5. Desenvolvimento neuro-psicomotor: principais etapas evolutivas e pesquisar
desvios.
7. História familiar: proporciona evidências para considerar doenças familiares, bem como
as infecções ou doenças contagiosas. Saúde dos pais e irmãos vivos.
8. História Social: escolaridade da criança e dos pais, condições de higiene, tipo de
habitação, profissão dos pais, renda familiar, nº de pessoas que habitam na casa.
Roteiro do Exame Físico (deve-se sempre lavar as mãos antes de iniciar o exame físico).
Obs: com a experiência profissional que será conseguida ao longo do tempo e com uma
autocrítica frequente, o examinador adquire uma série de habilidades para melhor
aproximação da criança.
Classificação Variação em ºC
Normotermia 36,0 – 37,0
Hipotermia Abaixo de 36,0
Febre baixa 37,5 – 38,5
Febre moderada 38,5 – 39,5
Febre alta 39,5 – 40,5
Febre muito alta - hiperpirexia Acima de 40,5
Atualmente, considera-se segundo a OMS que uma criança estará taquipnéica se a FR estiver:
A pressão diastólica atinge cerca de 60 mmHg, por volta de1 ano de idade, e eleva-se aos
poucos, durante a infância, ater cerca de 75 mmHg.
Os níveis de pressão em pessoas normais variam com exercícios físicos, choro e tensão
emocional.
Para crianças acima de 1 ano usar a fórmula: Pr. média sistólica = 2 x (idade em anos) + 90
Pressão diastólica = sistólica x 0.66
Pr. sistólica limite inferior = 2 x idade em anos + 70
Faixa etária pediátrica Ganho de peso esperado por Ganho de peso esperado por
mês dia
No 1º trimestre 700 gramas 25 a 30 g
No 2º trimestre 600 gramas 20 a 25 g
No 3º trimestre 500 gramas 15 a 20 g
No 4º trimestre 400 gramas 10 a 15 g
Idade da criança Ganho de peso esperado por Dos 2 aos 8 anos funciona:
ano P = 2 x idade (em anos) + 9
No 2º ano de vida 2,5 Kg Dos 3 aos 12 meses funciona:
Do 3º ao 5º ano de vida 2,0 Kg P = 0,5 x idade (em meses) +
Do 6º ao 10º ano de vida 3,0 Kg 4,5
Nos primeiros dias de vida, há uma perda normal de até 10% do peso do nascimento, o qual
deve estar recuperado até o décimo dia de vida. O peso dobra em relação ao nascimento entre os
4 e 5 meses, triplica com 1 ano e quadruplica com 2 anos de idade.
O peso constitui uma medida de grande valor como índice do estado nutritivo. Uma observação
isolada, no entanto, tem valor relativo devendo-se valorizar sempre a curva ponderal.
Medida mais fiel que o peso para se detectar anormalidades, porém menos prática e menos
sensível. As alterações aparecerão mais tardiamente do que em relação ao peso. Maior valor da
curva obtida por uma série de observações do que uma observação isolada. Quando afetada por
fatores ambientais, a estatura sofre mais tardiamente os efeitos do que o peso, mas também sua
recuperação é mais lenta.
dos 10 anos nas meninas e dos 12 anos nos meninos. No estirão da puberdade a criança aumenta
progressivamente até atingir 9,5 a 10,5 cm/ano.
Fórmula prática para o cálculo aproximado da altura ideal dos 3 aos 11 anos de idade: E = (n –
3) x 6 + 95, onde n corresponde a idade em anos.
A medição periódica do PC até os 3 anos de vida, quando atinge o valor médio máximo de
49,5cm, principalmente no primeiro ano, é de grande importância para a monitorização do
crescimento craniano. Reflete o crescimento do cérebro em condições fisiológicas ou traduz um
crescimento patológico (tumor, hidrocefalia). Na medida correta a fita métrica passa pela
glabela e o ponto mais saliente do occipital.
Com um ano de idade a criança deve ter aumentado cerca de 10 a12 cm de PC e mais 10 cm nos
20 anos seguintes; 80 a 85% do crescimento do PC se faz até 4-5 anos e 95% até 6 anos.
O PC é maior que o torácico ao nascimento.
O PC é a última medida a ser comprometida nos casos de desnutrição e o que apresenta menor
grau de recuperação em caso de tratamento.
Fontanelas
Bibliografia
Adaptado de trabalho obtido através de publicação da Internet: PMVR – SMS - Linha de
Cuidado Integral da Saúde da Criança – Coordenação: Dr. Jorge Manes Martins.
Departamento de Pediatria e Puericultura - Faculdade de Medicina – UFRS
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PUERICULTURA
A Pediatria tem por missão a promoção da saúde da criança em toda sua plenitude. Cabe
ao pediatra ajudar a criança (e sua família) em todas as fases da infância de modo que ao
atingir a fase adulta ela esteja apta a exercer plenamente seu potencial físico e mental. Para isso
cabe ao pediatra acompanhar, vigiar e proteger o crescimento e o desenvolvimento da criança
desde o momento do seu nascimento (ou mesmo antes) até o final da adolescência (ou até
depois). A Pediatria quando trata de doenças da criança pode ser considerada uma
especialidade, mas quando incorpora a Puericultura transforma-se na anti-especialidade porque
não trata de só um órgão ou sistema, mas do indivíduo como um todo, um ser indivisível do
ponto de vista físico e psíquico. A meta é a saúde, um processo continuado de preservação da
vida com qualidade.
Isto significa ajudar a criar uma criança saudável, considerando-se saúde no seu sentido
abrangente de estado (processo estável) de bem estar físico, psíquico e social, o que implica não
só em estar livre de doença, mas também estar emocionalmente equilibrado e socialmente
integrado na família e na comunidade.
A Puericultura, no entanto, se baseia na consulta médica pediátrica, que em muitas
situações é feita pelo médico generalista dentro do contexto da medicina social e familiar. A
consulta médica pediátrica tem a peculiaridade de se constituir, no mínimo, numa tríade
pediatra-criança-família. A consulta pediátrica representa um ato de confiança na qual o
médico deve estabelecer com a criança/família um vínculo especial através da empatia.
Empatia não é sinônimo de simpatia. Empatia significa sintonia. Significa “sentir o que o outro
está sentindo” e até “se sentir no lugar do outro”. A empatia começa com um acolhimento
personalizado que implica em respeito e valorização do paciente/família.
O médico deve saber escutar o paciente. Escutar nesse caso na~o se resume ao ato
biofísico (acústico) de ouvir. Escutar é compreender e introjetar o que o outro está falando, é a
valorização do discurso do paciente e se completa pela manutenção de um diálogo (no sentido
real do termo). Isso permite compreender a dinâmica da mãe em relação à doença e fazer a
leitura de suas necessidades, inseguranças, medos, fantasias de culpa e expectativas, além de
detectar situações estressantes pelas quais a família pode estar passando.
Cabe ao puericultor(?) atuar na prevenção, isto é, agir mais para evitar, afastar ou
controlar os fatores de risco do que propriamente nas doenças. A meta é fazer o diagnóstico e
listar os problemas detectados, em relação à alimentação, estado nutricional (desnutrição,
anemia, obesidade), imunização, crescimento, desenvolvimento neuropsicomotor e pubertário e
comportamento. Para isso o puericultor conta com os dados de anamnese e exame físico. A
anamnese exige técnicas de comunicação de acordo com o nível da família com a agravante de
que geralmente se faz por intermédio de um familiar (mãe) que se identifica com a criança,
sofrendo mesmo certa regressão para ficar ao nível da mesma, além da ansiedade que toda
situação de doença acarreta. Cabe ao médico dirigir o diálogo para obter, em tempo curto, dados
objetivos. Impressos padronizados e prontuários informatizados são inegavelmente úteis, mas
não substituem uma entrevista sobre as condições de vida da criança e as condições familiares e
ambientais, incluindo:
1. Condições econômicas e sociais da família (risco social).
2. Condições de moradia e da creche/escola (salubridade).
3. Alimentação (detalhada) habitual, ênfase no aleitamento materno.
4. Funções de eliminação.
5. Habilidades psicomotoras de acordo com a etapa do desenvolvimento.
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Os dados obtidos irão servir de base para a orientação da família. Considerar sempre
que o processo de decisão clínica deve ser compartilhado com a família (paciente), após uma
boa comunicação e interação que garanta à família (paciente) como agente ativo do tratamento.
Dessa forma o plano terapêutico será elaborado em conjunto, para garantir a adesão via
responsabilidade compartilhada e conscientemente adequada àquela realidade.
Nesse contexto, cabe ao pediatra como consequência da consulta bem eleborada:
1. Encaminhar, se for o caso, para assistência social/serviço de psicologia familiar.
2. Promover correção ou melhoria, dentro das possibilidades, das condições da
moradia, particularmente do quarto em que a criança dorme e da creche.
3. Instituir alimentação com um cardápio adequado à etapa de crescimento da criança
e às condições da família: ênfase no aleitamento materno; fórmulas lácteas
adequadas; passagem gradual para a alimentação da família; a partir dos 5 anos –
dieta prudente (prevenção das doenças cardiovasculares e da obesidade).
Aproveitar a oportunidade para corrigir possíveis erros na alimentação da família.
4. Corrigir, através da dieta, o funcionamento intestinal (atenção para constipação).
5. Estimular atividade física (inclusive para os pais).
6. Conscientizar da importância da vacinação (correção das falhas).
7. Advertir quanto à prevenção de acidentes.
8. Orientar quanto às peculiaridades das diferentes fases do desenvolvimento afetivo,
social e cognitivo.
9. Orientar quanto à disciplina e ao estabelecimento de limites.
10. As consultas de puericultura (seguimento) devem ser agendadas com a seguinte
programação mínima: 1ª consulta precoce – 3 a 7 dias após a alta da maternidade
(para solucionar problemas da amamentação e para detectar icterícia neonatal com
os retornos indicados; nova consulta no final do 1º mês e, daí em diante:
mensalmente no 1º semestre, consultas aos 6, 8, 10 e 12 meses, consultas
trimestrais no 2º ano, semestrais no pré-escolar e anuais, no escolar. Se em
qualquer ocasião forem detectados problemas ou desvios da normalidade, consultas
extras devem ser marcada mensalmente ou quantas vezes forem necessárias.
11. Esclarecer a família quanto aos meios disponíveis (telefone, fax, e-mail) para
esclarecer dúvidas bem como proceder em situações de emergência.
A doença incide em um ser humano que além de somático é também mental e social, por
isso “toda doença é psicossomática”. Toda doença é pluricausal obedecendo a fatores biológicos
(que inclui a genética e a etapa de maturação), físicos e químicos aos quais se deve acrescentar o
fator “estresse psicossocial”. Como corolário não existe um diagnóstico único e nem mesmo
principal, mas sim, uma lista de problemas detectados e que devem ser enfocados
concomitantemente, embora possa haver necessidade de priorização. Cabe ainda ao puericultor
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detectar e tratar as doenças mais comuns e frequentes da infância que incluem infecções das
vias aéreas superiores (IVAS), asma, pneumonia, infecção urinária, GNDA, diarreia, anemia,
constipação, dor abdominal, doenças exantemáticas, afecções da pele, parasitoses, acne,
distúrbios do comportamento. Para isso, ele deve ter conhecimentos médicos com bases sólidas,
saber manejar os medicamentos essenciais, conhecer a tecnologia atual e aproveitar medicação
caseira culturalmente aceita. Deve comunicar o diagnóstico sem o uso de jargão médico,
informar o que se espera da evolução da doença e explicar os sinais de alerta que indicariam
uma evolução não satisfatória da doença. Deve ainda colocar à disposição da família meios de
comunicação (telefone) pessoal ou do serviço e instruções para caso de emergência além de
retorno marcado para reavaliação do caso. Em relação à prescrição de medicamentos, obedecer
às regras básicas: poucos (só os essenciais e de valor demonstrado); levar em conta o preço
(genéricos), horário adaptado à família, uso de sintomáticos úteis (evitar a repetição), horário
exequível, letra legível, nunca usar abreviaturas, siglas ou símbolos matemáticos.
O médico generalista precisa ter conhecimento pediátrico suficiente para torna-lo apto a
fazer pelo menos a investigação inicial dos casos complexos e sem se comportar como simples
triador, ou médico “au, au” (“ao” Pediatra, “ao” ORL, “ao” dermatologista. “ao” alergista).
Precisa ter o bom senso de encaminhar ao especialista, inclusive ao Pediatra os casos que
escapem da sua alçada. O encaminhamento ao especialista não exime o médico puericultor de
sua responsabilidade. Ao contrário, além de apoiar a prescrição do especialista, continua
cabendo a ele a tarefa intransferível de educação médica da família para uma qualidade de vida
melhor no presente e no futuro.
Bibliografia
Pediatria Ambulatorial – Sociedade Brasileira de Pediatria, 2004 (adaptado)
21
5) Para estimular a sucção ela deve passar o mamilo nos lábios da criança e quando
ele abrir a boca introduzir o seio até a auréola, para que ele a abocanhe.
6) O lábio superior deve estar virado para cima e o inferior virado para baixo
(evertidos) e o queixo tocando a mama.
7) A mamada em cada seio deve durar de 20 a 30 minutos.
8) Quando atingir esse tempo de mamada no primeiro peito, ela deve introduzir o
dedo mínimo no canta da boca da criança para interromper a sucção sem
machucar o mamilo e tira-lo daquela mama.
9) Colocar a criança sobre o ombro em posição vertical e bater-lhe levemente às
costa para que arrote.
10) Após arrotar coloque-o na outra mama por mais 20 a 30 minutos ou até ficar farto
e parar de sugar.
11) Na próxima mamada a mãe deve iniciar pela segunda mama da mamada anterior.
Alimentação complementar
Na primeira semana a criança deverá receber papa de fruta (qualquer fruta que não seja
muito ácida) em torno de 100 g às 09:00 horas.
Na segunda semana além dessa papa da manhã, ás 09:00 horas, deverá ser oferecida outra
papa de frutas às 16:00 horas.
A partir da terceira semana além da papa de frutas das 09:00 horas e 16:00 horas, deverá
ser oferecido também o almoço às 11h00min, o qual deverá constar de feijão (caroço e caldo),
legumes (é suficiente três tipos diferentes de preferência de cores variadas), folhas, se
disponível (couve ou brócolis) e carne bovina moída ou frango desfiado ou peixe ou fígado.
Amassar todas as coisas juntas, com um garfo. Não pode ser peneirado nem passado no
liquidificador.
Ao completar o sétimo mês deverá ser introduzida a janta entre 18:00 horas e 19:00
horas, contendo os mesmos componentes do almoço. Devem-se evitar sopas e macarrão, mas
deve ser adicionado ovo cozido ao almoço pelo menos umas três vezes por semana. A figura 1
mostra todo o esquema de introdução dessa alimentação complementar entre o sexto e o sétimo
mês.
FIGURA 1
Horário Idade
Até o Sexto mês Seis meses e Seis meses e Sete meses
sexto mês uma semana duas semanas
06:00 às Leite materno Leite materno Leite materno Leite materno
7:00
09:00 Leite Papa de frutas Papa de frutas Papa de frutas Papa de frutas
11:00 materno Leite materno Almoço Almoço
14:00 exclusivo exclusivo em Leite materno Leite materno
em livre Leite materno livre demanda
16:00 demanda exclusivo em Papa de frutas Papa de frutas Papa de frutas
18:00 livre demanda Leite materno Leite materno Janta
21:00 às exclusivo em exclusivo em Leite materno
24:00 livre demanda livre demanda
23
As crianças de uma maneira geral, tem uma preferência por alimentos de sabores doces.
Deve-se ter em mente que esse tipo de alimento por conter açúcar, é muito calórico,
contribuindo para a obesidade infantil, uma doença grave com repercussões importantes na vida
da criança e do adulto de amanhã. Por isso, só deve ser permitido em quantidades pequenas e
apenas ocasionalmente. Também deve ser evitado o uso de sal no almoço e jantar, por ser uma
substância prejudicial ao ser humano e quanto mais precoce sua introdução, maior o risco.
À medida que a criança for crescendo e desenvolvendo a dentição deve-se aumentar a
consistência dos alimentos estimulando cada vez mais a mastigação e aproximando cada vez
mais o seu cardápio do cardápio da família como um todo, desde que respeitadas as regras
nutricionais de uma alimentação saudável para todos.
A partir dos 8 meses, a criança pode receber os alimentos consumidos pela família, desde
que amassados, desfiados, picados ou cortados em pedaços pequenos. Aos 10 meses, a criança
já deve estar recebendo alimentos granulosos, caso contrário corre um risco maior de apresentar
dificuldades alimentares aos 15 meses (16). Aos 12 meses, a maioria das crianças pode receber
o mesmo tipo de alimento consumido pela família, desde que com densidade energética e
consistência adequadas (13). Até a idade escolar, deve-se restringir o uso de alimentos semi-
sólidos e deve-se evitar alimentos de formato aguçado e/ou consistência dura ou com sementes
(ex: cenouras cruas, amendoins, castanhas, uvas), pelo risco de engasgar (17).
Os alimentos pastosos, semi pastosos ou líquidos devem ser oferecidos à criança
utilizando-se colher e copo (inquebráveis, de preferência), que são bem aceitos por crianças
pequenas (18,19). Mamadeiras devem ser evitadas porque, além de ser uma fonte de
contaminação para a criança, prejudicam a dinâmica oral (19) e podem, principalmente durante
o estabelecimento da lactação, confundir o bebê (confusão de bicos) (21), expondo-o a um risco
maior de desmame precoce (22,23). É importante lembrar que o bebê, ao longo do seu
desenvolvimento, não precisa usar mamadeira (13).
As mães e cuidadores devem ser desencorajadas de fazer uso de práticas inadequadas de
encorajamento para que a criança coma. Exemplos disso é oferecer o alimento com a criança
distraída (andando ou brincando) ou usar o alimento como se fosse um aviãozinho (24).
Recomenda-se alimentar a criança lenta e pacientemente até que ela se sacie, jamais a forçando
a comer. As refeições devem ser prazerosas, com troca amorosa entre a criança e quem a está
alimentando, por meio de contato visual, toques, sorrisos e conversa, porém sem engodos. A
hora da alimentação deve ser tranquila e prazerosa, sem estresse. A mãe deve tratar esse
momento com seriedade, porém relaxada, consciente de que esse é um dos momentos que a
criança mais usa para manipular e chamar a atenção de mães ansiosas, inseguras e com
sentimento de culpa.
O Ministério da Saúde elaborou um conjunto de recomendações para estimular a
alimentação saudável denominado “Dez passos para uma alimentação saudável: Guia alimentar
para crianças menores de dois anos” (10)
1. Dar leite materno exclusivo até os seis meses, sem oferecer água, chás ou qualquer
outro alimento;
2. A partir dos seis meses, introduzir de forma lenta e gradual outros alimentos,
mantendo o leite materno até dois anos de idade;
3. Após seis meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes,
leguminosas, frutas, legumes) três vezes ao dia para crianças em aleitamento
materno, e cinco vezes ao dia para aquela não amamentada;
24
Situação Recomendação
Lactentes nascidos a termo, com peso
adequado para a idade gestacional, em Não indicado uso de ferro
aleitamento materno exclusivo até os seis
meses de vida.
Lactentes nascidos a termo, com peso
adequado para a idade gestacional, em uso
de fórmula infantil até os seis meses de Não indicado uso de ferro
idade e a partir do sexto mês se tiver
ingestão de no mínimo 500 ml de fórmula
por dia
Lactentes nascidos a termo, com peso
adequado para a idade gestacional, a partir 1 mg de ferro elementar/Kg/dia até os dois
da introdução de alimentos anos de idade.
complementares
Prematuros maiores de 1.500 g e recém- 2 mg de ferro elementar/Kg/dia durante
nascido de baixo peso, a partir do 30º dia todo o primeiro ano de vida e a partir daí
de vida. 1 mg de ferro elementar/Kg/dia até os dois
anos de idade.
Peso ao nascimento entre 1.000 e 1.500 g 3 mg de ferro elementar/Kg/dia durante
todo o primeiro ano de vida e a partir daí
1 mg de ferro elementar/Kg/dia até os dois
anos de idade.
Peso ao nascimento menor que 1.000 g 4 mg de ferro elementar/Kg/dia durante
todo o primeiro ano de vida e a partir daí
1 mg de ferro elementar/Kg/dia até os dois
anos de idade.
25
2. Suplementação de vitaminas A e D
3. Outras vitaminas
Aleitamento artificial
Só é permitido lançar mão do leite de vaca ou das fórmulas lácteas (ex. Aptamil ou
NAN), por um motivo absolutamente intransponível como morte da mãe, mães portadoras de
algumas doenças infecto contagiosas, uso de drogas incompatíveis com a amamentação, doença
psiquiátrica, etc.
Na impossibilidade do aleitamento materno, deve ser indicada uma fórmula infantil. As
fórmulas infantis podem ser classificadas em pré-termo, infantis para lactentes (até os seis
meses de vida), infantis para seguimento dos lactentes (dos seis aos doze meses de vida) e
especiais. Esta classificação está relacionada com a faixa etária e as necessidades nutricionais
específicas, com especificidade de corrigir dificuldades de aproveitamento de nutrientes,
conforme orientação da SBP (3).
26
Nas circunstâncias acima, em caso de populações pobres, lança-se mão do leite de vaca
“in natura”, que até o terceiro mês de vida da criança, deve ser administrado diluído com água
fervida na proporção de 1:1 e entre o terceiro e o sexto mês, na proporção de duas partes de leite
para uma parte de água. Com isso se tenta adequar a concentração de sódio e proteínas, para
consumo do lactente, podendo ainda ser acrescido de aproximadamente 5% de açúcar e 3% de
uma massa com a finalidade de lhe aumentar o potencial calórico. Já o NAN 1 ou Aptamil 1 são
preparados na proporção de 01 medida para cada 30 ml de água. Ambos devem ser oferecidos a
cada 3 horas na quantidade que a criança aceitar. Por questões econômicas algumas mães fazem
opção pelo Nestogeno 1 que é mais barato. Sua forma de preparação é igual a dos outros dois
leites
(1) BCG – ID - Administrar dose única, o mais precocemente possível, preferencialmente nas
primeiras 12 horas após o nascimento, ainda na maternidade. Crianças com baixo peso: adiar a
vacinação até que atinjam 2Kg. Na rotina dos serviços, a vacina é disponibilizada para crianças
até 4 (quatro) anos 11 meses e 29 dias ainda não vacinadas. Crianças vacinadas na faixa etária
preconizada que não apresentam cicatriz vacinal após 6 (seis) meses da administração da vacina,
revacinar apenas uma vez.
28
(2) Hepatite B - Para recém-nascidos: administrar 1 (uma) dose ao nascer, o mais precocemente
possível, nas primeiras 24 horas, preferencialmente nas primeiras 12 horas após o nascimento,
ainda na maternidade, caso não seja possível Esta dose pode ser administrada até 30 dias após o
nascimento.
Completar o esquema de vacinação contra hepatite B com a combinada vacina penta
(vacina adsorvida difteria, tétano, pertussis, hepatite B (recombinante) e Haemophilus
influenzae B (conjugada), aos 2 (dois), 4 (quatro) e 6 (seis) meses de idade.
Para crianças que iniciam esquema vacinal a partir de 1 (um) mês de idade até 4
(quatro) anos 11 meses e 29 dias: administrar 3 (três) doses da vacina penta (vacina
adsorvida difteria, tétano, pertussis, hepatite B (recombinante) e Haemophilus
influenzae B (conjugada), com intervalo de 60 dias entre as doses.
Em recém-nascidos de mães portadoras da hepatite B, administrar a vacina e a
imunoglobulina humana anti-hepatite B, preferencialmente nas primeiras 12 horas,
podendo a imunoglobulina ser administrada no máximo até 7 (sete) dias de vida.
Recomendações: Administrar a imunoglobulina humana anti-hepatite B em grupo muscular
diferente de onde foi administrada a vacina hepatite B, anotando na caderneta de vacinação
local de aplicação.
(3) Pentavalente - Administrar 3 (três) doses, aos 2 (dois), 4 (quatro) e 6 (seis) meses de idade,
com intervalo de 60 dias entre as doses. Considerar o intervalo mínimo de 30 dias entre as doses
apenas para as crianças acima de 6 (seis) meses de idade. Na rotina dos serviços, em crianças de
até 4 (quatro) anos 11 meses e 29 dias, que vão iniciar esquema vacinal, administrar 3 (três)
doses com intervalo de 60 dias entre as doses, mínimo de 30 dias. Esta vacina é contraindicada
para crianças a partir de 7 (sete) anos de idade.
29
(4) VIP - Administrar 3 (três) doses, aos 2 (dois), 4 (quatro) e 6 (seis) meses de idade, com
intervalo de 60 dias. Em situação epidemiológica de risco, o intervalo mínimo pode ser de 30
dias entre elas.
(5) VOP - Administrar o primeiro reforço aos 15 meses de idade e o segundo reforço aos 4 anos
de idade. O esquema vacinal está indicado para as crianças até 4 (quatro) anos 11 meses e 29
paralisia flácida associada à dose anterior da VOP.
Os indivíduos com 5 anos de idade ou mais residentes no Brasil que viajarão para países
com recomendação da vacinação contra poliomielite:
Sem comprovação vacinal: administrar 3 (três) doses da VOP, com intervalo de 60 dias
entre elas, mínimo de 30 dias;
Com esquema incompleto: completar esquema com a VOP;
Gestantes e imunodeprimidos e/ou seus contatos devem receber esquema com a VIP.
Para aqueles indivíduos que receberam três doses ou mais de VOP ou VIP, caso a
última dose tenha sido administrada há mais de 12 meses, garantir antes da viagem uma
única dose de reforço com VOP ou VIP.
(6) VORH - Administrar 2 (duas) doses, aos 2 (dois) e 4 (quatro) meses de idade. A primeira
dose pode ser administrada a partir de 1 (um) mês e 15 dias até 3 (três) meses e 15 dias. A
segunda dose pode ser administrada a partir de 3 (três) meses e 15 dias até 7 (sete) meses e 29
dias. Manter intervalo mínimo de 30 dias entre as doses. Se a criança regurgitar, cuspir ou
vomitar após a vacinação, não repetir a dose.
(7) Pneumocócica 10 valente - Administrar 2 (duas) doses aos 2 (dois) e 4 (quatro) meses de
idade, com intervalo de 60 dias entre as doses, mínimo de 30 dias, em crianças menores de 1
(um) ano de idade. Administrar 1 (um) reforço preferencialmente aos 12 meses de idade,
considerando o intervalo de 6 (seis) meses após o esquema básico, intervalo mínimo de 60 dias
após a última dose, podendo ser administrado até os 4 anos 11 meses e 29 dias. Crianças entre
12 meses e 4 anos 11 meses e 29 dias de idade sem comprovação vacinal, administrar uma única
dose.
(8) Meningocócica C (conjugada) - Administrar 2 (duas) doses, aos 3 (três) e 5 (cinco) meses de
idade, com intervalo de 60 dias entre as doses, em crianças menores de 1 (um) ano de idade.
Administrar 1 (um) reforço preferencialmente aos 12 meses de idade. Crianças que iniciam o
esquema básico após 5 (cinco) meses de idade, considerar o intervalo mínimo de 30 dias entre
as doses e administrar a dose de reforço com intervalo de 60 dias após a última dose, podendo
ser administrada até 4 anos 11 meses e 29 dias. Crianças entre 12 meses e 4 anos 11 meses e 29
dias de idade sem comprovação vacinal, administrar uma única dose.
A partir desse ano de 2017 passará a ser oferecida pelo SUS aos adolescentes, conforme
demonstrado no quadro abaixo. Atualmente, a aplicação é restrita a menores de 5 anos.
Ano Público
2017 Meninos e meninas de 12 a 13 anos
2018 Meninos e meninas de 11 a 12 anos
2019 Meninos e meninas de 10 a 11 anos
2020 Meninos e meninas de 9 a 10 anos
O esquema será de uma dose ou reforço, de acordo com a situação vacinal.
(9) Febre amarela - Indicada para residentes ou viajantes para as áreas com recomendação da
vacina (pelo menos 10 dias anteriores à data da viagem na primovacinação): todos os
estados das regiões Norte e Centro Oeste; Minas Gerais e Maranhão; alguns municípios dos
estados do Piauí, Bahia, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Indicada
também para pessoas que se deslocam para países em situação epidemiológica de risco.
30
Administrar 1 (uma) dose a partir dos 9 (nove) meses de idade. Administrar 1 (um)
reforço aos 4 anos de idade (intervalo mínimo de 30 dias entre as doses).
Indivíduos a partir de 5 anos de idade que receberam uma dose da vacina antes de
completar 5 anos de idade administrar uma única dose de reforço, com intervalo
mínimo de 30 dias entre as doses.
Indivíduos a partir de 5 anos de idade que nunca foram vacinadas ou sem comprovante
de vacinação administrar a primeira dose da vacina e 1dose de reforço 10 anos após a
administração dessa dose.
Indivíduos a partir de 5 anos de idade que receberam 1 dose da vacina após completar 5
anos de idade administrar o reforço 10 anos após a administração dessa dose.
Indivíduos a partir dos 5 anos de idade que receberam 2 doses da vacina considerar
vacinado. Não administrar nenhuma dose.
Esta vacina não está indicada para gestantes, mulheres que estejam amamentando
crianças de até 6 (seis) meses de idade e indivíduos com 60 anos e mais que ainda não
receberam a vacina febre amarela e vai recebê-la pela primeira vez. Em situação de
risco de contrair a doença, o médico ou enfermeiro deverá avaliar o benefício/risco da
vacinação.
Em menores de 2 anos de idade primovacinados não administrar a vacina febre
amarela simultaneamente com a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e/ou
tetra viral (sarampo, caxumba, rubéola e varicela) e/ ou varicela. Estabelecer o intervalo
mínimo de 30 dias, salvo em situações especiais, que impossibilitem manter o intervalo
indicado.
(10) SCR - Administrar a 1ª dose aos 12 meses de idade com a vacina tríplice viral e a 2ª dose
aos 15 meses de idade com a vacina tetra viral, sendo que esta poderá ser administrada enquanto
a criança for menor de 2 anos de idade para as crianças que já tenham recebido a 1ª dose da
vacina tríplice viral.
Para as crianças acima de 2 anos de idade administrar a segunda dose com a vacina
tríplice viral observando o intervalo mínimo de 30 dias entre as doses. Considerar
vacinada a criança que comprovadamente tenha 2 (duas) doses de vacina com
componente sarampo, caxumba e rubéola.
Em situação de bloqueio vacinal em crianças menores de 12 meses, administrar 1 (uma)
dose entre 6 (seis) meses e 11 meses de idade. Essa dose não é considerada válida para a
rotina.
Em caso de esquema vacinal incompleto completar o esquema, de acordo com a faixa
etária.
Não administrar simultaneamente com a vacina febre amarela (atenuada) em crianças
menores de 2 anos de idade, estabelecendo o intervalo mínimo de 30 dias, salvo em
situações especiais que impossibilitem manter o intervalo indicado.
(11) Hepatite A - Crianças de 15 meses até menores de 2 anos (1 ano, 11 meses e 29 dias)
devem receber uma dose.
O PNI não disponibilizará a vacina hepatite A para as crianças acima de 2 anos de idade
e para as que já receberam uma dose em clínica particular.
(12) DTP - Administrar 2 (dois) reforços, o primeiro aos 15 meses de idade e o segundo aos 4
(quatro) anos de idade. Administrar o primeiro reforço com intervalo mínimo de 6 (seis) meses
após a 3ª dose do esquema básico; intervalo mínimo de 6 (seis) meses entre os reforços;
Crianças entre 4 (quatro) anos de idade e 6 (seis) anos 11 meses e 29 dias, sem nenhum
reforço, administrar apenas 1 (um) reforço.
Crianças entre 5 (cinco) anos de idade até 6 (seis) anos 11 meses e 29 dias, sem
histórico de vacinação com a pentavalente, devem receber 3 (três) doses com intervalos
de 60 dias entre as doses e mínimo de 30 dias.
31
(13) SCRV - Administrar 1 (uma) dose aos 15 meses de idade (até 1 ano, 11 meses e 29 dias),
em crianças que já tenham recebido a 1ª dose da vacina tríplice viral. O PNI não disponibilizará
a vacina tetraviral para as crianças que não receberam a primeira dose da tríplice viral e aquelas
(14) HPV - Administrar 2 doses da vacina HPV com intervalo de 6 meses entre a primeira e a
segunda dose (0 e 6). Não administrar a vacina em meninas grávidas, que tiveram reação grave
à dose anterior ou a algum componente da vacina.
O Ministério da Saúde passa a disponibilizara partir de 2017 a vacina HPV quadrivalente para a
população masculina de 12 a 13 anos de idade. A faixa etária será ampliada, gradativamente, até
2020, quando serão incluídos os meninos com 9 anos até 13 anos de idade. Ver ao final do
capítulo a disponibilização da vacina para os próximos anos de acordo com a faixa atária
Atenção: Abordar com a família, em todas as consultas, a importância das vacinas, explicando
sua importância para que a criança possa crescer saudável. Falar sobre o calendário oficial
conferindo o cartão vacinal da criança para saber se está em dia. Caso alguma vacina não tenha
sido tomada, de acordo coma idade, a mãe deve ser orientada a buscar atualizar o calendário
vacinal o mais rápido possível.
Bibliografia:
Calendario Nacional de Vacinacao. Portal da Saúde – Ministério da Saúde – www.saude.gov.br.
– 2017
Monitoramento do crescimento
Deve ser feito o acompanhamento mensal do lactente até o oitavo mês de vida. A partir
daí a cada dois meses a não ser que haja alguma intercorrência. Em cada consulta devem ser
medidos o peso, o comprimento e o perímetro cefálico. Todas essas medidas devem ser
colocadas nas curvas de crescimento da OMS para ver como se encontra em relação ao escore
Z, se está ou não dentro do padrão adequado para a idade. A avaliação do crescimento da
criança deve ser sempre explicada e mostrada para o acompanhante em que condição se
encontra, para que ele entenda e possa ser parceiro do pediatra nessa tarefa de manter o
32
Monitoramento do desenvolvimento
1. Identificar-se e procurar saber o nome dos acompanhantes que estão com a criança.
quilos nasceu). Perguntar ainda do pós-parto com quanto tempo após o nascimento foi
colocado no peito, se tomou algum outro alimento além do leite materno na maternidade
ou em casa, com quanto tempo recebeu alta para casa, quanto tempo levou para evacuar,
quanto tempo levou para cair o umbigo. Perguntar sobre doenças importantes na família
como hipertensão, tuberculose, hanseníase e diabetes (a não ser em situações especiais,
outras doenças são de pouca importância) e condições de moradia (água tratada, esgoto,
coleta de lixo, tipo de casa, se mora em zona urbana ou rural) e renda familiar
aproximada.
Se a mãe está insegura quanto ao seu leite a melhor forma de convencê-la é pesando a
criança e colocando o peso na curva de crescimento e mandando retornar de cinco a sete dias
depois para medir e avaliar se o ganho de peso está adequado para a idade.
2. Fissuras na mama
Quase sempre se deve a técnica inadequada de amamentação. Ensinar a técnica correta de
amamentação para que haja a pega correta. Com isso as fissuram serão evitadas. Para apressar o
processo de cicatrização orientar as mães a tomarem banho de sol nas mamas pelo menos duas
vezes no dia durante 10 minutos.
5. Troca de fraldas
Explicar à mãe, que sempre que possível, nas trocas de fraldas deve usar um algodão
umedecida com água para a higiene, uma vez que os lenços umedecidos podem causar irritação
da pele e assaduras (dermatite de contato) e por isso devem ser usados apenas em situações de
emergências, mas ao chegar em casa deve ser feito a lavagem com água. Nas meninas a limpeza
deve ser feita sempre da frente para traz a fim de evitar o contato das fezes com o meato uretral
o que facilita o surgimento de ITU e vulvovaginite. Falar da necessidade de lavar as mãos
sempre que trocar as fraldas uma vez que essa medida simples evita doenças.
35
ADENOMEGALIAS - PROPEDÊUTICA
Atenção: adenomegalias cervicais são muitas vezes confundidas com caxumba. O diagnóstico
diferencial ao exame físico é simples. Nas adenomegalias os contornos do gânglio são
facilmente palpáveis, o que não ocorre com a parótida hipertrofiada, que tem limites imprecisos,
além disso, costuma ser dolorosa a palpação e elevam ligeiramente o lóbulo da orelha.
36
ANAFILAXIA
primeira linha para seu tratamento, e sua prescrição precoce é essencial para reversão do quadro
e salvar a vida do paciente.
Conduta diante de um quadro de anafilaxia:
Bibliografia
Anafilaxia – Guia Prático de Atualização - Departamento Científico de Alergia da Sociedade
Brasileira de Pediatria - 2016
38
Ferritina
A ferritina é o parâmetro bioquímico mais específico, pois se correlaciona com o ferro corporal
total. As baixas concentrações indicam depleção do depósito de ferro na ausência de processos
infecciosos vigentes. Cada g/l de ferritina sérica representa cerca de 8 a 10 g de ferro
armazenado (4). Os valores de referência de ferritina para identificação de deficiência nos
estoques de ferro variam de 10 a 16 μg/l (3).
Receptor de transferrina
O receptor de transferrina é o método mais promissor para a avaliação funcional e representa a
expressão plasmática dos receptores de transferrina presentes em todas as células. Esses
receptores são tanto mais numerosos na superfície
celular quanto maior o grau de deficiência de ferro. A concentração plasmática é diretamente
proporcional a sua concentração na membrana celular, não sofrendo interferência de processos
infecciosos e/ou inflamatórios, idade, gênero e gravidez.
Em indivíduos saudáveis, observaram-se valores médios de receptores de transferrina de 5,6
mg/l. O nível médio em indivíduos com anemia ferropriva é de 18 mg/l (7). Ainda há poucos
estudos que definam sua utilização e pontos de corte em crianças e adolescentes (8). A tabela
abaixo (Tabela 1) resume as principais alterações bioquímicas encontradas na deficiência de
ferro em diferentes fases.
Tabela 1. Interpretação dos exames laboratoriais empregados na avaliação das diferentes fases
de deficiência de ferro.
Depleção das reservas
Exames laboratoriais Depleção das reservas de ferro e do ferro Depleção de ferro com
de ferro ainda sem circulante ainda sem sinais de anemia
sinais de anemia sinais anemia
Hemoglobina Normal Normal Diminuída
VCM Normal Normal Diminuída
HCM Normal Normal Diminuída
RDW Normal Normal Aumentada
Ferro sérico Normal Diminuída Diminuída
Ferritina Diminuída Diminuída Diminuída
CTLF Normal Aumentada Aumentada
(PEL Normal Normal Aumentada
Obs: 1 ml = 20 gts.
BIBLIOGRAFIA
1. Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (2007)
2.
41
1. Suspeitar de asma em todo paciente com queixa de tosse persistente, mesmo que não tenha
queixa associada de sibilos e dispneia.
2. Auscultar atentamente o tórax do mesmo.
3. Em caso de sibilos fica caracterizada a presença de asma, porém pensar na possibilidade de
bronquiolite (primeiro episódio) e lactente sibilante em crianças abaixo de dois anos
(frequente), corpo estranho e laringite (mais raros e com histórias sugestivas).
4. Em sendo asma, estando no PS, fazer inalação com medicação bronco dilatadora beta 2
agonista de curta duração (B2) e Soro fisiológico (SF) em aparelho de inalação ou spray
dosimetrado do B2, reavaliando a cada 20 minutos para determinar a necessidade de repetir.
5. Caso apresente melhora significativa nessas primeiras três inalações iniciais da 1ª hora,
mandar para casa com corticoide sistêmico (predinisolona) dose única diária por cinco dias e
B2 a cada 4 a 6 horas, dependendo da intensidade da crise, até desaparecimento da tosse.
6. Caso não melhore na primeira hora iniciar corticoide sistêmico EV ou oral, dependendo da
aceitação da criança e fazer B2 em spray ou em inalador a cada 2 horas reavaliando sempre
antes de fazer o medicamento.
7. Caso melhore nas próximas 6 horas, seguir as orientações do item 5.
8. Se não houver melhora após 6 horas de observação e tratamento no PS, encaminhar para
internação.
9. Sempre após alta do PS, mesmo não havendo piora, orientar para buscar nova avaliação
clínica em ambulatório, entre 24 a 48 horas ou voltar ao PS a qualquer momento, caso
observe piora dos sintomas.
Obs: o atendimento ambulatorial da asma quase sempre está relacionado a episódios mais leves
ou moderados. Nesses casos prescrever B2 de 4/4 ou 6/6 h até desaparecimento da tosse e
corticoide sistêmico por cinco dias, orientando retorno ambulatorial em 48 horas para
reavaliação ou ao PS, caso haja piora dos sintomas. Após isso, caso se trate de asma persistente
ou intermitente moderada a grave sem tratamento ou em tratamento, mas não controlada, após
estabilização do quadro clínico, encaminhar para acompanhamento do especialista.
42
Diagnóstico:
Os critérios para diagnóstico de constipação intestinal crônica funcional foram definidos na
terceira edição dos critérios de ROMA em 2006 e estão associados a 95% das queixas
relacionadas a essa patologia nas crianças. Esses critérios estabelecem que para o diagnóstico da
patologia, é necessária a presença de pelo menos dois dos seguintes eventos há no mínimo dois
meses (Critérios de ROMA, terceira edição, 2006):
• Duas evacuações por semana, ou menos
• Dor abdominal recorrente;
• Grande massa fecal no reto
• Eliminação de fezes de grande volume, que chegam a obstruir o vaso sanitário
• Atitude retentiva;
• Episódios de escape fecal.
A causa mais comum de constipação na infância é a decisão feita pela criança de protelar a
evacuação após ter tido uma experiência dolorosa, consequente a eliminação de fezes
endurecidas. As principais causas de fezes endurecidas geradoras de evacuação dolorosa são:
• Uma dieta pobre em fibras
• Baixa ingestão de líquidos.
• Postergação do ato evacuatório.
Isso acaba por gerar o chamado círculo vicioso da constipação:
• Medo da dor durante a evacuação
• Comportamento de retenção
• Aumento da consistência e do volume do bolo fecal
• Mais dor, mais retenção, mais constipação
Esse processo em geral tem início na faixa pré-escolar (70% dos casos). Ele se desenvolve
porque por algum motivo e o principal é não querer para a brincadeira na qual está envolvida,
quando a criança percebe o desejo de evacuar, assume atitudes para que haja o retorno das fezes
para o reto e sigmoide, sublimando o reflexo de defecação, contraindo o esfíncter externo do
ânus, a musculatura pélvica e glútea e nesse esforço ela cruza as pernas e chega a ficar na ponta
dos pés. Essa atitude repetida ao longo dos dias acaba compactando as fezes endurecidas no
sigmóide e reto, o que torna a evacuação progressivamente mais dolorosa levando a criança a
reter cada vez mais. Em algumas situação, com passar do tempo, a superfície ao redor da massa
fecal retida sofre uma semi liquefação que escapa pelo ânus de forma involuntária e tem um
odor muito ruim. A perda involuntária dessa porção liquefeita do conteúdo fecal é denominada
escape fecal ou soiling.
43
Nos lactentes constipados, o que ocorre, em geral, devido a uma dieta a base de leite, há
um predomínio de fezes em forma de cíbalos (caprinas), dor e esforço nas evacuações. Nas
crianças maiores as fezes costumam ser calibrosas. Nos pré escolares e escolares é comum a
queixa de dor abdominal recorrente.
Exame físico:
Deve-se pesquisar na palpação abdominal, a presença de massa na região de colo
descendente e sigmoide. Ao toque retal se encontra uma ampola retal cheia de fezes de
consistência endurecida. Na inspeção da região anal pode ser constatado a presença de fissuras
anais, plicomas e ânus anteriorizado. A avaliação do estado nutricional é importante para
diferenciar das constipações de causa orgânica, como a doença de Hirschsprung e a doença
celíaca. Pode-se ainda lançar mão também de estudos radiológicos (raio x simples abdominal,
enema opaco), manometria anorretal e biópsia retal.
Diagnósticos diferenciais:
1. Pseudoconstipação do lactente:
• Primeiro semestre de vida
• Aleitamento materno exclusivo
• Menos de três evacuações por semana.
• As fezes são pastosas sem esforço ou dor
2. Disquesia do lactente
• Se caracteriza por esforço, gemidos, choro e vermelhidão na face, por 10 a 20
minutos, antes da eliminação de fezes amolecidas de ocorrência diária e até
mais de uma vez ao dia.
• A disquesia ocorre por incoordenação entre o aumento da pressão abdominal e o
relaxamento pélvico necessário para que ocorra a evacuação.
44
Tratamento:
Os estudos mostram a persistência dos sintomas em 15 a 30% das crianças presumidamente
tratadas corretamente. O tratamento envolve as seguintes etapas:
• Desimpactação do fecaloma. A desimpactação incompleta pode levar a reimpactação,
sendo a causa mais frequente de insucesso terapêutico, por isso precisa se feita de forma
correta. Para o esvaziamento colônico e retal o método mais utilizado é o emprego de
enemas com soluções fosfatadas (Fleet enema), sorbitol (Minilax), glicerina ou
vaselina;
• Educação dos familiares;
• Mudança de hábitos alimentares por meio do aumento da ingestão de fibras e água;
45
Dieta alimentar:
• Aumentar a ingesta de fibras (verduras, frutas, legumes, grãos, castanhas e azeite)
• Estimular a ingesta de água (1 a 2 litros por dia dependendo da idade).
• Evitar dieta a base de leite e massas feitas com trigo branco em geral e arroz branco.
Medicamentos
Os medicamentos usados atuam como lubrificantes (óleo mineral) ou como agentes
osmóticos (lactulose, hidróxido de magnésio e polietileno glicol - PEG).
1. O óleo mineral é contraindicado em lactentes, neuropatas e nos pacientes com história
de regurgitação, pelo risco de aspiração pulmonar e pneumonia lipoídica.
Dose: 1 a 18 anos: 1–3 ml/kg/dia até o máximo de 90 ml em dose única ou fracionada.
2. A lactulose é um dissacarídeo sintético, fermentado pelas bactérias intestinais,
resultando na diminuição do pH colônico, aumento do volume fecal e aceleração do
trânsito intestinal. Tem como efeitos adversos: flatulência, distensão, dor abdominal e
desenvolvimento de tolerância quando usado por tempo prolongado.
Dose: Lactentes: 5 ml/dia; Crianças de 1 a 5 anos: 5 a 10 ml/dia; Crianças de 6 a 12
anos: 10 a 15 ml/dia; Acima de 12 anos e adultos: 15 a 30 ml/dia.
A posologia pode ser ajustada para que se obtenham duas ou três evacuações por dia
conforme orientação médica.
3. O hidróxido de magnésio estimula a secreção de colecistoquinina elevando a motilidade
colônica, é pouco absorvido no intestino aumentando a osmolaridade. É contraindicado
em crianças nefropatas pelo risco de hipermagnesemia e hipofosfatemia. O sabor e o
volume/dose necessário contribuem para uma menor adesão.
Dose: Para crianças de 2 a 5 anos: 5 a 15 mL uma vez ao dia, 6 a 11 anos: 15 a 30 mL
uma vez ao dia; 12 anos ou mais: 30 a 60 mL uma vez ao dia.
4. O polietilenoglicol (PEG) é um laxativo osmótico utilizado para o tratamento da
constipação, com absorção de 0,2%, insípido e inodoro, disponível com os pesos
moleculares 3350 e 4000 Dalton, com ou sem adição de eletrólitos. Não é degradado
pelas bactérias intestinais, exercendo uma ação osmótica não irritativa, aumenta o
conteúdo de água das fezes. Apresentado em forma de pó, em sachês, tem a vantagem
de poder ser misturado a vários tipos de líquidos (água, sucos e leite). Tem como
vantagem uma melhor aceitação pelas crianças por não ter sabor e poder ser adicionado
a alimentos, tendo um perfil de efeitos colaterais melhor. Seu uso em pediatria necessita
de mais estudos.
Dose: inicial média é de 0,8 g/kg/d (de 0,3 a 1,4 g/kg/d). A apresentação é na forma de
saches de 14g É preferível que cada copo da solução seja ingerido de uma só vez, a uma
ingestão lenta e contínua. A dose deve ser ajustada de acordo com a resposta individual
do paciente.
Bliografia:
1. Tabbers C, DiLorenzo MY, Berger C, Faure MW, Langendam S, Nurko A, Staiano Y,
Benninga V, Benninga MA. Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition –
JPGN - Volume 58, Number 2, February 58: 258–274. 2014.
2. Gomes PB, Melo MCB, Duarte MA, Torres MRF, Xavier AT. Polietilenoglicol na
constipação intestinal crônica funcional em crianças. Rev. paul. pediatr. vol.29 no.2 São
Paulo June 2011.
3. Junqueira JCF, Calçado AC, Gracia J, Guerra SP, Carvalho SR, Valadares MAB
Constipação intestinal crônica na criança e no adolescente- Temas de Pediatria vol 87 –
Nestlé Nutrition Institute.
47
DENGUE
1. Definição
A infecção pelo vírus dengue pode ser sintomática ou assintomática.
Quando sintomática, causa uma doença sistêmica e dinâmica de amplo espectro clínico,
variando desde formas oligossintomáticas ate quadros graves, podendo chegar ao óbito. Três
fases clínicas podem ocorrer: febril, crítica e de recuperação.
1.2.2.1 Choque
O choque ocorre quando um volume crítico de plasma é perdido através do
extravasamento, o que geralmente ocorre entre os dias quatro ou cinco (com intervalo
entre três a sete dias) de doença, geralmente precedido por sinais de alarme. O período
de extravasamento plasmático e choque levam de 24 a 48 horas e a equipe assistencial
deve estar atenta para as rápidas alterações hemodinâmicas que isso pode gerar.
2. Diagnóstico
No atual cenário epidemiológico do Brasil, com confirmação de casos autóctones de
chikungunya a partir de 2014 e de infecções pelo vírus zika em 2015, algumas particularidades a
respeito do diagnostico diferencial entre dengue e estas doenças merecem destaque e estão
descritas nas tabelas a seguir.
Exame físico:
Sorologia:
IgM, costuma positivar após o 6º dia de doença.
IgG, costuma positivar a partir do 9º dia.
49
A história epidemiológica positiva deve ser sempre considerada para a região o período do ano.
Obs 1: Todo caso suspeito deve ser notificado!!!
Obs 2: O exantema, quando presente, é máculo-papular com ou sem prurido e pode aparecer
precoce ou tardiamente.
50
3.1 Grupo A
3.1.1 Caracterização
Caso suspeito de dengue.
Ausência de sinais de alarme.
Sem comorbidades.
3.1.2 Conduta
• Exames laboratoriais complementares.
Hemograma completo, obrigatório (a amostra deve ser colhida no momento do
atendimento e o resultado liberado no maximo 24 horas após o atendimento).
Pesquisa de Antígeno viral: até o 5° dia dos sintomas da doença pode ser solicitado o
NS1 antígeno.
Avaliar se há hemoconcentração através do hematócrito (acima de 40% entre os 3
meses e 10 anos).
Outros exames poderão ser solicitados de acordo com a condição clínica associada ou a
critério médico.
Crianças < 13 anos de idade: orientar hidratação por via oral. Oferecer 1/3 do volume a
ser ministrado na forma de soro de reidratação oral (SRO) e o restante através da oferta de
água, sucos e chás. Considerar o volume de líquidos a ser ingerido conforme recomendação
a seguir (baseado na regra de Holliday Segar acrescido de reposição de possíveis perdas de
3%):
• Crianças até 10 kg: 130 ml/kg/dia
• Crianças de 10 a 20 kg: 100 ml /kg/dia
• Crianças acima de 20 kg: 80 ml/kg/dia
3.2 Grupo B
3.2.1 Caracterização
Caso suspeito de dengue.
Ausência de sinais de alarme.
Com sangramento espontâneo de pele (petéquias) ou induzido (prova do laço positiva).
Lactentes – menores de 2 anos – ou crianças com comorbidades importantes.
3.2.2 Conduta
Solicitar exames complementares:
Hemograma completo, obrigatório (a amostra deve ser colhida no momento do
atendimento e o resultado liberado em ate duas horas, ou no máximo quatro horas).
Avaliar a hemoconcentração (hematócrito acima de 40% entre os 3 meses e 10
anos causa preocupação e exige acompanhamento atento).
Outros exames poderão ser solicitados de acordo com a condição clínica associada
ou a critério médico.
4. Prevenção
Há muito se deseja uma vacina segura e eficaz contra a dengue e embora várias estejam em
diferentes fases de desenvolvimento, só há uma vacina licenciada em todo mundo, a do
laboratório Sanofi Pasteur (Dengvaxia®), aprovada pela Anvisa em 2016, e agora disponível em
serviços privados de imunização do Brasil.
Trata-se de uma vacina de vírus vivos atenuados, tetravalente, composta por quatro cepas
recombinantes vivas atenuadas de vírus da dengue.
A vacina comprovou sua segurança através de diversos estudos científicos que envolveram
mais de 20.000 vacinados. Os eventos sistêmicos mais comuns foram cefaleia (>50%), fadiga
(>40%), mialgia (>40%) e febre, que ocorreram em 16% dos pacientes entre 9-17 anos e em 5%
dos pacientes entre 18-60 anos. No local da aplicação, o mais comum foi dor (49,2% de 9-17
anos; 45,2% de 18-60 anos).
A eficácia total para todos os sorotipos em pacientes maiores de 9 anos foi de 65,6%
(IC95% 60,7%–69,9%), sendo maior nos pacientes que apresentavam soropositividade prévia
81,9% (IC95% 67,2%–90,0%). A efi cácia demonstrada para formas graves da doença foi de
95,5% e para a prevenção de hospitalização de 80,3%. Em relação ao sorotipo houve diferença
entre os resultados, sendo a eficácia no grupo que cumpriu o protocolo de 58,4% para o DEN1,
47,1% para DEN2, 73,6% para DEN3 e 83,2% para DEN4.
A vacina está licenciada em nosso país para indivíduos de 9 a 45 anos de idade no esquema
de três doses: 0, 6 e 12 meses. Após a reconstituição deve ser aplicado o volume de 0,5mL por
via subcutânea, preferencialmente na região deltoide. Não estão definidas ainda a duração da
proteção e a eventual necessidade de doses de reforço subsequentes.
Não há dados publicados sobre interferência na resposta imune quando da aplicação
simultânea com outras vacinas, embora, em recente publicação, a OMS considera permissível
seu uso com vacinas inativadas, pelo baixo potencial risco de interferência.
O Comitê Técnico Assessor de Imunizações (CTAI) do PNI, avaliando diversos aspectos
da implantação de um novo imunizante no calendário vacinal brasileiro, e embora reconhecendo
que o licenciamento de uma vacina para prevenção de dengue é um grande avanço para o
controle desta doença, entende que, no momento, os resultados de estudos que estão em
andamento são imprescindíveis para a definição da utilização da vacina no Brasil, destacando-se
as avaliações de custo efetividade, soroprevalência e as estimativas do custo da carga da doença.
Esses dados irão aportar maiores subsídios para o planejamento dos recursos financeiros e
orçamentários e fundamentar, sob firme base técnico-cientifica, a decisão político institucional
de inclusão ou não de uma vacina dengue no Calendário Nacional de Vacinação.
As Sociedades Brasileiras de Pediatria, Imunizações e Infectologia recomendam, em nível
individual, em seus calendários, o uso rotineiro da vacina dengue para pessoas de 9 a 45 anos
que vivem em região de risco para a doença, no esquema habitual de três doses (0, 6 e 12
meses).
5. Bibliografia:
Dengue diagnóstico e manejo clínico adulto e criança. Ministério da Saúde - Secretaria
de Vigilância em Saúde - Diretoria Técnica de Gestão.
53
DERMATITE ATÓPICA
A dermatite atópica (DA) é uma doença inflamatória de curso crônico, recidivante, de etiologia
multifatorial, que causa expressivo comprometimento da qualidade de vida nos pacientes
afetados. Caracteriza-se por prurido intenso, xerodermia, hiper-reatividade cutâneas e lesões de
morfologia e distribuição típicas variável conforme a faixa etária da criança. Em pacientes
pediátricos atópicos, a inflamação é caracterizada por níveis elevados de IgE. O termo atopia
atualmente significa tendência pessoal e/ou familiar para tornar-se sensibilizado e produzir
anticorpos específicos classe IgE em resposta à alérgenos. A prevalência tem aumentado nos
últimos anos e os fatores provavelmente implicados neste aumento de casos seriam a
predisposição genética, poluição, infecções e exposição alergênica.
No Brasil, o ISAAC - fase III (International Study Asthma and Allergy Childhood) determinou
que a prevalência de DA em 20 cidades foi de 8,2% em crianças entre 6 e 7 anos e de 5% entre
adolescentes de 13 a 14 anos. A DA é a doença cutânea mais prevalente na infância,
acometendo entre 7 e 17% das crianças nos Estados Unidos. Em torno de 85% dos pacientes
apresentam as manifestações clínicas iniciais antes dos 5 anos de vida. Aproximadamente 60%
das crianças afetadas tem o início do quadro na fase de lactente. A DA pode persistir na idade
adulta em cerca de 40% dos pacientes. Os principais fatores de risco para permanência dos
sintomas são gravidade inicial da dermatite e sensibilização atópica. Conforme dados
publicados a prevalência média de asma nos pacientes com DA é de 30%.
Diagnóstico:
Os critérios utilizados para diagnosticar DA são fundamentalmente clínicos. A presença de
prurido é essencial dentro das manifestações desta doença. Os achados histopatológicos são
inespecíficos e exames complementares laboratoriais auxiliam no diagnóstico, porém não são
patognomônicos. A DA raramente inicia nos primeiros 2 meses de vida e as características e
distribuição das lesões são distintas dependendo da idade:
1. Fase infantil
Inicia-se a partir do terceiro mês de vida. Caracteriza-se principalmente por lesões na face que
geralmente poupam o maçico central. Outros locais como face extensora dos membros e tronco
podem ser acometidas. As lesões são constituídas por eritema, pápulas, vesículas, às vezes
confluentes, muito pruriginosas.
2. Fase pré púbere
Nesta fase, as lesões localizam-se principalmente nas dobras dos joelhos e dos cotovelos,
pescoço, pulsos e tornozelos. As pápulas eritematosas e vesiculosas são substituídas
gradualmente por liquenificação (espessamento, escurecimento e acentuação dos sulcos da
pele). É importante salientar que 60% dos pacientes apresentam melhora efetiva ou
desaparecimento total das lesões nesta fase.
Trtamento:
1. A hidratação vigorosa da pele. Aplicar em todo o corpo, no mínimo 2x/dia. Consiste na
medida básica no tratamento da DA.
2. Corticoides tópicos de baixa potência (hidrocortisona a 1%) aplicar 1x/dia sobre a lesão
até desaparecimento da mesma.
3. Inibidores da calcineuria (pimecrolimos e tacrolimos). Podem ser usados em lugar do
corticosteroide tópico, são muito efetivo e têm menos efeitos colaterais em relação à
pele. Tem a desvantagem, comparados ao corticosteroide, de serem bem mais caros.
55
Medicações:
1. Cremes hidratantes:
Manipulado: Creme Lanete com óleo de amêndoas ou óleo de sementes de uva
de 3 a 5%.
Fisiogel, Fisiogel AI, Fisioativ, Umiditá loção infantil, Umiditá A
2. Hidrocortisona creme a 1%
3. Elidel creme (pimecrolimus).
4. Sabonete neutro de glicerina do Laboratório Granado.
Bibliografia
Dermatite atópica - Guia Prático de Atualização - Departamento Científico de Dermatologia da
Sociedade Brasileira de Pediatria - 2016
56
• Limpeza
Obs: As fraldas mais modernas são cada vez mais absorventes buscando evitar a hiper-
hidratação e diminuem o contato com urina e fezes.
Limpar suavemente – a limpeza deve ser realizada com água fria ou morna e sabonetes com
pH ácido, sem esfregar a pele e enxugar com suavidade.. Esta medida permite manter o manto
ácido. Na presença de fezes utilizar um sabonete infantil líquido. Os lenços úmidos, desde que
sem álcool ou fragrância, podem ser uma opção para a limpeza ocasional.
Expor a pele ao ar – expor o períneo ao ar logo após a limpeza, para secar a pele melhor.
Aplicar cremes de barreira – a utilização contínua nas trocas de fralda é uma medida eficaz de
prevenção da dermatite de fraldas e também tem efeito terapêutico. Os cremes de barreira
formam um filme lipídico que protege da umidade e evita o contato com irritantes. Deve ser
hipoalergênico e dermatologicamente testado. Estes produtos exercem atividade protetora e
preventiva ao mesmo tempo, por meio da formação de um filme na superfície cutânea. Devem
ainda ser de fácil aplicação e inócuos para a pele da criança. A maioria dos cremes de barreira
contém os ingredientes ativos óxido de zinco e/ou petrolato, além de óleo de fígado de bacalhau,
aloe barbadensis, dimeticona, e dexpantenol. O creme deve ser aplicado em uma camada que
cubra as áreas passíveis de lesão. Nas trocas subsequentes não é necessário remover toda a
camada, as áreas que não contiverem resíduos de fezes podem ser mantidas e se renova
aplicação.
Trata-se de infecção fúngica que acomete a área de fraldas, principalmente nos menores de 12
meses de vida. Apresenta eritema difuso de cor vermelha intensa, bem delimitada, com pápulas
características ou vesículas satélites. Localiza-se nas regiões perineal anterior, perianal e dobras,
as lesões satélites sugerem esse diagnóstico. A cavidade oral deve ser examinada quando
existem lesões no períneo. O uso prévio de antibióticos sistêmicos é fator desencadeante
frequente e sugere o diagnóstico. O tratamento consiste no uso de nistatina ou miconazol creme,
limpeza suave e frequente e se existirem lesões na cavidade oral associar a nistatina solução
oral.
Medicamentos:
Nistatina solução oral
Pomada de óxido de zinco
Bibliografia
Dermatite da área das fraldas - Guia Prático de Atualização - Departamento Científico de
Dermatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria - 2016
58
DERMATOSES
Obs: As lêndeas devem ser retiradas com pente fino após aplicação de vinagre 1:1 em água
morna. Havendo infecção secundária do couro cabeludo, utiliza-se antibioticoterapia local ou
sistêmica.
descamação fina (furfurácea) que aparecem mais frequentemente no pescoço, região superior do
tórax e inferior da face. A descamação fica mais evidente ao se passar a unha na lesão (sinal da
unha) ou realizando o estiramento da pele lesionada (sinal de Zileri). É causada pelo fungo
Malassezia spp, que tem como reservatório a natureza e o homem. Parece haver uma
predisposição constitucional do indivíduo. Admite-se que o fungo seja comensal da epiderme e
as lesões apareçam por esta predisposição constitucional (imunidade direcionada ao fungo seria
pouco eficaz?). Transmissão pessoa-a-pessoa não é frequente.
Diagnóstico é clínico, epidemiológico e laboratorial. O diagnóstico diferencial deve ser feito
principalmente com hanseníase indeterminada, pitríase alba e eczemátide.
Tratamento deve ser voltado para a pele e o couro cabeludo. Sulfeto de selênio ou cetoconazol
sob a forma de xampu por 30 dias, enxaguando após 5 minutos associado a antimicóticos
tópicos, cetoconazol creme 2 a 3 vezes ao dia, até desaparecer as lesões.
Ectima: pode ser uma complicação do impetigo ou apresentar uma lesão inicial
semelhante ao impetigo, porém mais profunda. Ocorrem mais frequentemente em
crianças maiores, em geral escolares, em MMII. Deixam cicatrizes e são formados por
crostas mais aderidas. Tem como agente etiológico o estreptococos.
Tratamento: remoção das crostas e limpeza, duas a três vezes ao dia, com água e
sabão. Após isso lavar com sabonete antesséptico (Soapex) ou permanganato de
potássio 1/40.000 ou água boricada a 2%. Em seguida aplica-se pomada de antibióticos
tipo neomicina, mupirocina, gentamicina. Se necessário, em caso mais extensos,
introduzir cefalexina 30 a 50mg/kg/dia dividida em quatro tomadas por 10 dias ou
penicilina benzatina dose única de 600.000U em crianças abaixo de 20 Kg ou
1.200.000U em maiores de 20Kg.
com líquido das vesículas na fase ativa da doença. Os sintomas da doença incluem febre (que
varia de 38º C a 39ºC), hiporexia, úlceras na boca e erupções cutâneas. Em geral a doença se
inicia com febre, falta de apetite e mal-estar. Um ou dois dias após os sintomas iniciais, feridas
dolorosas se desenvolvem na boca. Surgem como pequenas manchas vermelhas que se tornam
úlceras e estão localizadas principalmente em torno da língua, gengivas, úvula e palato. As
úlceras regridem em 5 a 7 dias. As erupções cutâneas se desenvolvem ao longo de 1 a 2 dias
ocorrendo principalmente nas palmas das mãos e nas plantas dos pés, mas também pode
aparecer nos joelhos, cotovelos, nádegas ou na área genital. As manchas são geralmente
indolores e não costumam causar prurido. Ocasionalmente, elas podem progredir para pequenas
bolhas, que podem ser dolorosas. As erupções cutâneas desaparecem em 3 a 7 dias.
Diagnóstico é essencialmente clínico. Deve-se estar atento ao diagnóstico diferencial com
gengivoestomatite herpética. As duas doenças são extremamente semelhantes quanto a
apresentação, evolução e quadro clínico, mudando apenas o agente etiológico.
Tratamento: não tem tratamento específico e os sintomas desaparecem depois de 7 a 10 dias
em média. Os medicamentos prescritos para o tratamento da SMPB incluem sintomáticos como
paracetamol que auxiliam no alívio da dor e como antitérmicos. Complicações são raras, e
podem incluir: desidratação, infecção secundária, meningite (rara)
Excepcionalmente, há pacientes que desenvolvem herpes zoster após contato com doentes de
varicela e, até mesmo, com outro doente de zoster, o que indica a possibilidade de uma
reinfecção em paciente já previamente imunizado pelo vírus selvagem ou vacinal. O quadro
clínico do herpes zoster é, quase sempre, típico. A maioria dos doentes refere, dores nevrálgicas,
além de parestesias, ardor e prurido locais, antecedendo às lesões cutâneas, acompanhados de
febre, cefaléia e mal-estar. A lesão elementar é uma vesícula sobre base eritematosa. A erupção
é unilateral, raramente ultrapassando a linha mediana, seguindo o trajeto de um nervo. Surgem
de modo gradual, levando de 2 a 4 dias para se estabelecerem. Quando não ocorre infecção
secundária, as vesículas se dissecam, formam-se crostas e o quadro evolui para a cura em 2 a 4
semanas. As regiões mais comprometidas são a torácica (53% dos casos), cervical (20%),
trigêmeo (15%) e lombossacra (11%). Em pacientes imunossuprimidos, as lesões surgem em
localizações atípicas e, geralmente, disseminadas. O envolvimento do VII par craniano leva a
uma combinação de paralisia facial periférica e rash no pavilhão auditivo, denominado
síndrome de Hawsay-Hurt, com prognóstico de recuperação pouco provável. O acometimento
do nervo facial (paralisia de Bell) apresenta a característica de distorção da face. Lesões na
ponta e asa do nariz sugerem envolvimento do ramo oftálmico do trigêmeo com possível
comprometimento ocular. Nos pacientes com Herpes Zoster disseminado e/ou recidivante é
aconselhável fazer sorologia para HIV, além de pesquisar neoplasias malignas.
Sinonímia: Catapora e Cobreiro (herpes zoster).
Complicações: infecção bacteriana secundária de pele: impetigo, abscesso, celulite, erisipela,
causadas por S. aureus, Streptococcus pyogenes, que podem levar a quadros sistêmicos de
sepse, com artrite, pneumonia, endocardite. Encefalite ou meningite e glomerulonefrite. Pode
ocorrer Síndrome de Reye, caracterizada por quadro neurológico de rápida progressão e
disfunção hepática, associado ao uso de ácido acetil-salicílico principalmente em crianças.
Infecção fetal, durante a gestação, pode levar à embriopatia, com síndrome da varicela
congênita (varicela neonatal, em recém-nascidos expostos, com micro-oftalmia, catarata, atrofia
óptica e do sistema nervoso central). Imunodeprimidos podem ter a forma de varicela
disseminada, varicela hemorrágica.
Diagnóstico é feito através do quadro clínico-epidemiológico e o diagnóstico diferencial é feito
principalmente com infecções cutâneas (piodermites).
Tratamento:
• Sintomático: Antihistamínicos sistêmicos para atenuar o prurido e banhos com
sabonetes antissépticos (Soapex) ou Permanganato de Potássio na diluição de 1:40.000
ou.
• Infecções secundárias disseminadas: a princípio deve-se usar antibióticos sistêmicos por
via oral (cefalexina na dose de 30 a 50/mg/kg/dia, de seis em seis horas, dez dias).
• Tratamento antiviral específico: o aciclovir por via oral é feito na dose de
20mg/kg/dose, VO, 4 vezes ao dia, até dose máxima 800mg/dia, durante 5 dias. Em
crianças a varicela costuma ser uma doença benigna e em geral não é necessário
tratamento específico. O uso se justifica em crianças imunocomprometidas ou
apresentando gravidade e nesses casos, não é indicado por via oral, mas intravenoso na
dosagem de 10mg/kg, a cada 8 horas, infundido durante uma hora, por 7 a 14 dias.
dois dias após o mesmo, estão mais expostos à varicela grave, com a letalidade podendo atingir
30%. A infecção intrauterina e a ocorrência de varicela antes dos 2 anos de idade estão
relacionadas à ocorrência de zoster em idades mais jovens.
Prevenção:
• Medidas gerais como lavar as mãos após tocar lesões potencialmente infecciosas.
• Medidas especificas: crianças com varicela não complicada podem retornar à escola no
6º dia após o surgimento do rush cutâneo ou quando parar o surgimento de novas lesões
(a presença de crostas não transmite a doença). Pacientes internados: isolamento.
Desinfecção: concorrente dos objetos contaminados com secreções nasofaríngeas.
• A vacina é aplicada a criança dentro do PNI associada à tríplice viral aos 15 meses.
Utilizada até três dias após a exposição, pode prevenir a ocorrência de doença no
contato. Após uso de imunoglobulinas ou transfusões sanguíneas deve-se esperar 5
meses para ministrar a vacina.
• Imunoglobulina hiperimune anti varicela zoster, 125UI, IM, para cada 10kg de peso,
com dose máxima é 625UI, é usada em indivíduos susceptíveis sob alto risco de
desenvolver varicela severa, nas seguintes condições: recém-nascidos expostos à mãe
com varicela adquirida 5 dias antes do parto ou dois dias após, gestantes sem história
anterior de varicela, devendo ser aplicada até 96 horas após a exposição. Não é efetiva
após a doença se estabelecer. Crianças imunocomprometidas, em uso de drogas
imunossupressoras que tiverem contato com varicela também têm indicação para o uso.
Bibliografia
O que se observa é que muitas queixas de dor abdominal estão relacionadas a constipação
com erro alimentar importante, caracterizado por uma oferta à criança de uma dieta a base de
leite e/ou muito pobre em fibras, não ingerindo frutas e verduras ou ingerindo apenas pequenas
quantidades e/ou de forma ocasional. Nesses casos quase sempre há melhora com aumento da
ingesta de água, que deve ser de um a dos litros por dia dependendo da idade da criança e essa
correção da dieta, o que nem sempre é fácil, devido às questões sociais e culturais que muitas
vezes estão por traz desse contexto.
Conclusão: o tratamento da DARF deve enfatizar os fatores emocionais, por meio de conversas
com a família, usando abordagem positiva quando o problema estiver sendo exposto. À medida
72
que a transição do enfoque orgânico para o funcional ocorre, o paciente terá alívio da dor sem
necessitar de maiores intervenções cognitivo-comportamentais. O primeiro e mais importante
passo é a obtenção de uma história detalhada. Para alcançar esse objetivo, é necessário deixar a
família e a criança falarem; seu corpo, seus gestos, sua voz têm que ser ouvidos. Entrevistas
conjuntas e individuais com os pais e a criança são componentes essenciais dessa ausculta.
Detalhes da dor, do ambiente familiar, social e escolar, dos antecedentes familiares e pessoais
são importantes para compor o diagnóstico. Deve-se procurar identificar o que motivou a
procura de auxílio médico naquele momento de um processo crônico como o da DAR, e saber
por que os pais e, eventualmente, a criança, elegeram aquele episódio de dor para consultar.
Além disso, deve-se valorizar cada episódio de dor como sendo dor aguda, já que uma criança
com DAR não está isenta de desenvolver uma doença aguda, como, por exemplo, apendicite.
Bibliografia:
1. Duarte MA, Mota JAC. Dor abdominal recorrente J Pediatr (Rio J);76(Supl.2):s165-s72. 2000
2.
3. Alves JAR, Santos Filho E. Parasitoses intestinais na infância. Pediatria Moderna 41(1) pag. 7-15.
2005.
73
Suspeita clínica:
• Febre é o sintoma mais frequente, independente da idade.
• No lactente a ITU pode ocorrer com febre, sem caracterizar sintomas próprios de ITU e
se acompanhar de irritabilidade, recusa alimentar, icterícia, distensão abdominal e baixo
ganho ponderal.
• Na criança maior pode se manifestar por sintomas urinários clássicos (disuria, dor
abdominal, incontinência urinária, enurese, urina escura ou vermelha, odor ruim).
• Após os dois anos é comum aparecer sintomas mais relacionados ao trato urinário
inferior como: disúria, polaciúria, urge-incontinência, enurese (em crianças que já
apresentavam controle esfincteriano prévio) e tenesmo. Esses sinais/sintomas
caracterizam as cistites, mas precisam ser vistas com atenção porque podem evoluir
para pielonefrite.
Diagnóstico laboratorial:
• Exame de elementos anormais e sedimento (EAS ou exame de urina tipo I) é um exame
de triagem e na criança não estabelece o diagnóstico, mas quando alterado reforça a
suspeita clínica. Nele devem ser avaliados os seguintes dados:
Presença de nitritos – tem uma sensibilidade de 50% e uma especificidade de 92%.
Número de leucócitos acima de 5 por campo – tem sensibilidade de 73% e
especificidade de 81%.
Presença de esterase leucocitária – tem sensibilidade de 83% e especificidade de
78%.
Número de bactérias aumentado – sensibilidade de 81% e especificidade de 83%.
Mais de uma bactéria por campo em bacterioscopia de gota pelo método de Gram
em urina não centrifugada – sensibilidade de 93% e especificidade de 95%.
74
• A Urocultura é o padrão ouro para diagnóstico de ITU, por isso deve ser pedida em toda
suspeita de ITU, com antibiograma, antes de se introduzir o uso de qualquer antibiótico. Esse
exame esclarece qual a bactéria está causando a infecção e especifica através do antibiograma
(TSA), quando solicitado, a quais antibióticos ela é sensível.
Bibliografia
Infecção do Trato Urinário - Guia Prático de Atualização - Departamento Científico de
Nefrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria - 2016
77
Apresentação clínica
A apresentação mais comum é com pápulas eritematosas de distribuição linear e aos pares,
demonstrando o hábito do inseto que provocou a reação. O número de lesões é variável podendo ser
disseminadas. As urticas podem desaparecer em algumas horas, permanecendo as lesões
características que são as pápulo-vesículas (seropápula de Tomazoli) ou pápulas com tamanho
variando entre 3 e 10 mm, recobertas ou não por crostas hemáticas. Algumas crianças podem
apresentar formas vesiculosas e bolhosas as quais são menos frequentes e ocorrem, sobretudo, nas
extremidades e mantém o padrão de distribuição aos pares e lineares. Geralmente as regiões expostas
do corpo são as mais acometidas quando o agente é “voador” (mosquitos e pernilongos), sobretudo
região extensora de membros superiores e inferiores. O tronco é acometido principalmente quando
os agentes são “andadores” como pulgas ou percevejos. A presença de pápulas em grupos de 2 ou 3,
com disposição linear e próxima aos elásticos de roupas e fraldas sugerem esses agentes. Além da
pulga humana, Pulex irritans, as pulgas dos gêneros animais, como as de gatos (Ctenocephalis felis)
e de cães (Ctenocephalis canis) também atacam o homem. As lesões são menos observadas na face,
raramente ocorrem nas palmas, plantas, região axilar e não são encontradas nas regiões genital e
perianal.
Prevenção
• A primeira e mais importante etapa do tratamento é convencer os pais de que as lesões são
decorrentes das picadas. Evitar a picada é o tratamento mais eficaz. Deste modo, a
orientação de medidas ambientais é um passo importante.
• As roupas podem ser uma barreira física quando são usadas mangas longas e calças
compridas em locais de maior exposição aos insetos como nas áreas rurais. As roupas finas
e mesmo transparentes têm pouco benefício na prevenção das picadas, pois permitem que o
mosquito pique através delas.
• Nas janelas e portas das casas podem ser colocadas telas que impeçam a entrada de insetos
voadores. A utilização de mosquiteiros nas camas para evitar os insetos voadores é medida
eficaz, porém o mosquiteiro deve ser checado para observar se não existem insetos dentro
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dele antes de colocar a criança. Além disso, pode-se optar pela aplicação de permetrina no
mosquiteiro aumentando a sua eficácia, sendo esta medida segura e comprovada. Nos
períodos do nascer e do pôr do sol as janelas devem ficar fechadas, pois é neste horário que
os insetos voadores do gênero Anopheles procuram a refeição. Os mosquitos do gênero
Aedes têm maior atividade diurna e em áreas abertas devendo a criança ser protegida
durante esse período quando está brincando fora de casa.
• Ambientes climatizados com ar condicionado são uma forma eficaz de afastar os mosquitos.
• Os repelentes tópicos podem ser usados durante passeios em locais com maior número de
insetos como praias, fazendas e chácaras, não devendo ser utilizado durante o sono. Abaixo
de 6 meses – existem poucos estudos nessa faixa etária sobre segurança dos repelentes e
extrapola-se o uso dos recomendados para bebês acima de 6 meses em caso de exposição
inevitável e com orientação médica. Acima dos 6 meses o IR3535 protege por cerca de 4
horas. É usado na Europa há vários anos e, em concentrações de 20%, é eficaz, mas os
estudos diferem quanto ao período de ação contra o Aedes aegypti que parece ser muito
curto. Recentemente a icaridina em gel, derivada da pimenta, foi liberada para uso a partir
de 6 meses no Brasil. A eficácia é mais longa (até 10 horas) e permite aplicações mais
espaçadas que o DEET, com eficácia comparável. Aparentemente é mais potente contra o
Aedes Aegypti do que o DEET e o IR3535. Acima de 2 anos, os que contém DEET são os
mais utilizados. Quanto maior a concentração da substância, mais longa é a duração do seu
efeito, com um platô entre 30 e 50%. Uma formulação com 5% de DEET confere proteção
por aproximadamente 90 minutos, com 7% de DEET a proteção dura quase 2 horas e com
20% de DEET a proteção é de 5 horas.
• Os anti-histamínicos tópicos podem ser utilizados com a aplicação duas vezes ao dia,
porém essas medicações podem desencadear dermatite de contato e mesmo
fotossensibilização. Como as áreas em que os mosquitos picam normalmente são áreas
expostas à luz, quando se utilizar estas medicações deve-se alertar os pais desta
possibilidade e realizar proteção da exposição ao sol.
• Quando as lesões apresentarem infecção secundária indica-se o tratamento com
antibióticos. O tratamento tópico deve ser reservado para as infecções secundárias sem
repercussões clínicas e quando o número de lesões infectadas for pequeno. Entre os
antibióticos tópicos recomenda-se o uso de mupirocina ou ácido fusídico 3 vezes ao dia
por 7 dias, ou utilizar a retapamulina 2 vezes ao dia por 5 dias. Os antibióticos tópicos
contendo neomicina e bacitracina podem provocar dermatite de contato em 6 a 8% da
população, e não são recomendados.
• Eventualmente, as associações de corticoides e antibióticos tópicos (desonida e
gentamicina, betametasona e ácido fusídico ou betametasona e gentamicina) podem ser
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uma opção nos casos em que a infecção secundária é frequente; são aplicados uma vez
ao dia por 7 dias.
• Quando as lesões apresentam complicações como celulite deve-se instituir antibióticos
sistêmicos sendo recomendado o uso de cefalexina 50 a 100mg/kg/dia de 6 em 6 horas
por 7 dias a 10 dias.
Bibliografia
Picadas de Inseto - Prurigo Estrófulo ou Urticária Papular - Guia Prático de Atualização -
Departamento Científico de Dermatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria - 2016
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RINITE ALÉRGICA
A Rinite Alérgica (RA) é definida clinicamente como uma doença inflamatória crônica do nariz,
mediada pela produção elevada de IgE em resposta a determinados alérgenos, principalmente
aos inaláveis. Na sua fisiopatologia estão envolvidos os mecanismos responsáveis pela resposta
de hipersensibilidade do tipo I na mucosa nasal. É a doença crônica mais comum no mundo. No
Brasil, segundo o estudo ISAAC (International Study of Asthma and Allergy in Childhood), 30%
das crianças e adolescentes apresentam sintomas compatíveis com RA.
Características faciais típicas estão presentes em grande número de pacientes com rinite
alérgica, tais como: olheiras, dupla linha de Dennie-Morgan, prega nasal horizontal (causada
pelo frequente hábito de coçar a narina com movimento para cima “saudação alérgica”),
alterações musculoesqueléticas da face, bem como a alteração torácica conhecida como pectus
scavatum, entre outras.
Tratamento:
• Baseia-se nos sintomas. Quando há predomínio de coriza, espirros e prurido nasal e/ou
ocular, a medicação para alívio imediato é o anti-histamínico de segunda geração por
via oral. Porém essa medicação não é eficaz para o sintoma obstrutivo. Quando esse
ocorre, e é a queixa que mais incomoda o paciente, deve ser usado o corticoide tópico.
Esse medicamento tem efeito ainda sobre os outros sintomas, porém leva mais tempo
para o paciente perceber a melhora. Por isso, quando a obstrução vem associada ao
prurido, espirros e coriza devemos iniciar com as duas medicações por duas a três
semanas e depois retiramos o anti-histamínico mantendo o corticosteroide tópico por no
mínimo, oito semanas. Essa conduta em geral tem ótimos resultados. Caso a resposta
não seja a ideal pode ser associado o inibidor de leucotrienos e feito exames para
diagnóstico de alergias, entre outros. Mas esses quadros mais complexos e mais raros
devem ser, quando possível, encaminhados ao alergista para acompanhamento.
• Em crianças abaixo de 1 ano, onde a rinite se manifesta principalmente através de
processos obstrutivos, é recomendável evitar, a princípio, o uso de corticoides tópicos.
Nesses casos, iniciar o tratamento com o cromoglicato dissódico a 4% spray nasal, que
é um estabilizador de membrana de mastócitos e observar se há melhora, mesmo sendo
bem menos eficaz que o corticosteroide. Deve-se manter o tratamento por dois a três
meses, com um acompanhamento clínico bem próximo para dar suporte aos familiares.
• Como se trata de uma doença alérgica, tendo na maioria das vezes como causa a poeira
de casa, devido à presença na mesma de antígenos de ácaros, barata e fungos, como
forma de proteção dessas crianças e otimização do tratamento, devemos orientar sempre
a família acerca da higiene ambiental (evitar tapetes e carpetes, almofadas de pano e
bichos de pelúcia, colocar lençóis e cobertores no sol diariamente, evitar varrer a casa e
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espanar os moveis com a criança na casa, limpeza doa aparelhos condicionadores de ar,
evitar convívio com fumantes, entre outros).
• A presença de animais em casa junto com a criança, apesar de ser sempre questionável,
por outros motivos, no caso de alergias respiratórias é um elemento desencadeador
apenas ocasional e não devem ser retirados do convívio com a criança, o que pode ser
traumático para ela, a não ser em situações onde inquestionavelmente são
desencadeadores de alergia, o que é pouco comum, e só deve ser sugerido à família
quando documentado através de teste alérgico realmente positivo e feito com técnica
correta.
• Situações onde alimentos são desencadeadores de episódios de rinite como queixa
isolada em crianças, é muito pouco provável e não deve ser motivo de preocupação, a
não ser no contexto da reação anafilática desencadeada por alimentos.
• Os anti-inflamatórios não hormonais (AINH), dentre os quais destaca-se o ácido
acetilsalicílico, podem desencadear ou agravar rinite alérgica.
• Corantes e conservantes alimentares raramente podem induzir rinite alérgica.
• É necessário estar atento ao fato de que existe uma forte associação entre rinite alérgica
e asma. A proporção de indivíduos com sintomas de rinite, em grupos de asmáticos,
pode chegar a 100%, conforme demonstram alguns estudos longitudinais. Por outro
lado, é frequente encontrar hiperreatividade brônquica entre pacientes com rinite. A
rinite, seja ela alérgica ou não alérgica, está associada a forte risco para o
desenvolvimento de asma, conforme tem sido demonstrado por diversos estudos de
coorte nos Estados Unidos e na Europa.
• Na prática, a recomendação para não especialistas é proceder anamnese e exame físico
cuidadosos para identificar manifestações de rinite em asmáticos e de asma entre
pacientes com rinite, o que permite tratamento integral adequado de cada paciente. Esta
avaliação é eminentemente clínica.
Medicação:
• Anti-histamínico de primeira geração:
Dexclorfeniramina uso a partir de 2 anos
Hidroxizina uso a partir de 6 meses