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DOS AUXILIARES DA JUSTIÇA

1. INTRODUÇÃO

Com certeza a figura mais importante em um processo é o juiz, já que é o mesmo


quem detém o poder jurisdicional. Mas os atos e providencias de um processo
dependem do trabalho de certas pessoas, os auxiliares da justiça. Possuem
autonomia no exercício de suas atribuições, sem violar, é claro, o conteúdo da
ordem emanada, a legalidade e devem atuar com impessoalidade, da mesma forma
que o juiz.

2. CONCEITO

O art. 139 CPC não é taxativo no que diz quem são os auxiliares da justiça, mas
determina os principais: permanentes e eventuais. Ele diz “São auxiliares do juízo,
além de outros, cujas atribuições são determinadas pelas normas de organização
judiciária, o escrivão, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador e o
intérprete.” Os auxiliares permanentes são o escrivão e o oficial de justiça, os
eventuais são os outros. Os eventuais só são convocados em situações especiais,
quando o juiz determina a atuação deles. Já os permanentes executam funções de
rotina, como vamos explicar ao longo do trabalho.

3. AUXILIARES PERMANENTES DA JUSTIÇA

3.1. ESCRIVÃO

Do artigo 140 até o 144 o CPC trata dos principais auxiliares da justiça, o escrivão e
o oficial de justiça. No art. 140 diz “Em cada juízo haverá um ou mais ofícios de
justiça, cujas atribuições são determinadas pelas normas de organização judiciária.”
O juízo é composto então pelo juiz, detentor do poder jurisdicional, e pelos auxiliares
da justiça.
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O ofício de justiça é o escrivão, que, exceto o juiz, é a figura mais importante dos
integrantes que compõem o juízo. O escrivão é quem dirige o Cartório. O artigo 141
enumera as atribuições do escrivão, como, por exemplo, a redação dos atos,
execução de ordens judiciais, comparecimento à audiência, guarda e
responsabilidade dos autos e a confecção de certidões. O escrivão possui
atribuições autônomas, como as funções descritas no inciso I e V, e atribuições
vinculadas à ordem judicial, como as funções descritas no inciso II. Como a
presença de um escrivão é obrigatória nas audiências, se o escrivão não puder
comparecer ele deve designar escrevente juramentado, de preferência datilógrafo ou
taquígrafo, conforme inciso III. Se não designar substituto, o juiz deve convocar
outro escrivão para substituí-lo ou nomear pessoa idônea para o ato, conforme art.
142.

3.2. OFICIAL DE JUSTIÇA

O oficial de justiça é também um auxiliar permanente da justiça. É ele quem executa


as funções externas da justiça. O art. 143 enumera as atribuições do oficial de
justiça, como, por exemplo, fazer pessoalmente citações, prisões, penhoras: todas
estas com certificação no mandado do ocorrido, com menção de lugar, dia e hora;
estar presente as audiências e efetuar avaliações. O oficial de justiça também possui
atribuições autônomas como o inciso III e atribuições vinculadas à ordem judicial,
como as funções descritas no inciso I.
Geralmente o trabalho do oficial de justiça é praticado de forma isolada e sem a
necessidade de testemunha, embora seja conveniente a presença de duas, exceto o
caso de arrombamento contido no artigo 661 do CPC que determina a presença de
dois oficiais de justiça, além de duas testemunhas.
O oficial de justiça deve participar das audiências e auxiliar o juiz no bom andamento
da mesma. As avaliações, contida no inciso V, estão determinadas na lei 11.382 de
6/12/2006. No artigo 652 § 1o determina que o oficial de justiça faça a penhora e a
avaliação do bem. No caso de necessidade de conhecimento especializado o juiz
determina a nomeação de um avaliador e o mesmo terá um prazo de 10 dias para a
entrega do laudo, conforme art. 680 da mesma lei.
Tanto o escrivão como o oficial de justiça tem fé publica e respondem civilmente
quando praticam ato nulo com dolo ou culpa ou, sem motivo justo se recusam a
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cumprir dentro do prazo os atos que lhe impõe a lei, ou que o juiz, a que estão
subordinados, lhe comete, conforme art. 144. Nestes casos, a responsabilidade é de
caráter pessoal, sujeito de responsabilidade objetiva do agente conforme art.37 § 6o
CF.. Além da responsabilidade civil, no caso de omissão ou recusa do cumprimento
da ordem, o juiz deve instaurar procedimento administrativo conforme artigos 193 e
194 do CPC para fins de apuração de responsabilidade do servidor.

3.3. OUTROS AUXILIARES PERMANENTES DA JUSTIÇA

Muito embora não estejam descrito nos artigos destinado aos auxiliares da justiça no
CPC, existem mais três tipos de auxiliares permanentes da justiça: o distribuidor, o
contador judicial e o partidor.
O CPC não fala a palavra distribuidor, mas destina os artigos 251 até o 257 para
tratar do mesmo. É ele quem distribui os processos onde houver mais de um juiz ou
mais de um escrivão, além de alternar a distribuição obedecendo a rigorosa
igualdade conforme artigos 251 e 252.
O trabalho do distribuidor poderá ser fiscalizado pela parte ou por procurador
conforme art. 256. O artigo 253 define algumas exceções para o distribuidor
selecionar quem irá receber determinado processo, para garantir a celeridade
processual. Se o distribuidor não agir de forma correta na distribuição do processo, o
juiz pode fazê-lo de ofício ou a pedido do interessado, corrigindo o erro ou a falta de
distribuição, conforme art. 255.
O contador é o auxiliar da justiça que realiza as contas do processo. O contador
judicial é o chefe de uma unidade de serviço, a contadoria. Eles prestam serviço a
todas as varas.
O juiz pode chamar o contador para verificar os cálculos que ele deve julgar ou para
verificar os cálculos feitos pelas partes. Pelo descrito no CPC, o contador é
responsável pela elaboração do calculo de impostos no inventário, conforme artigos
1.003 parágrafo único e 1.013 §1o. Além disto, ele deve organizar o quadro geral de
credores no processo de insolvência, conforme artigos 769 e 770.
O CPC trata do partidor o artigo 1.023, que determina que o partidor deva organizar
o esboço da partilha de acordo com a decisão, observando alguns requisitos.
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4.0. AUXILIARES EVENTUAIS DA JUSTIÇA

4.1. PERITO

Perito é o profissional que é chamado a Juízo a fim de auxiliar o juiz e as partes na


busca da solução judicial por conta de conhecer determinado tema de natureza
técnica ou científica. O CPC trata do perito do artigo 145 até o 147. O perito é um
auxiliar da justiça eventual, só aparece quando o juiz determina a sua presença para
assisti-lo. O perito então, por conta da limitação técnica ou cientifica do juiz, ajuda a
esclarecer a verdade sobre determinado fato.
O juiz deve observar alguns pré-requisitos para a nomeação do perito, observados
nos parágrafos 1o e 2o do artigo 145. No §1o determina que o perito seja um
profissional de nível universitário, devidamente inscrito no órgão de classe
competente. No §2o os peritos devem comprovar suas habilidades sobre a matéria
que deverão opinar mediante certidão do órgão profissional em que estiverem
inscritos. A única exceção é para os locais onde não houver profissionais
qualificados, onde o juiz pode indicar livremente o perito, conforme §3o.
O perito, quando nomeado, é investido da função pública somente para o fato em
que deve averiguar, não possuindo vínculo com o juízo após a conclusão do seu
trabalho.
O perito tem direito a uma remuneração, que recai sobre as partes conforme o art.
33 do CPC. Quando a Fazenda Pública é parte, ela deve fazer o depósito prévio dos
honorários conforme Súmula 232 do STJ. Além disso, as partes podem indicar
assistentes técnicos para
O perito deve cumprir o oficio no prazo legal, utilizando toda a sua diligência,
conforme art. 146. No parágrafo único do mesmo artigo ele diz que o perito pode, no
prazo de cinco dias, contados a partir da intimação ou do impedimento
superveniente, escusar-se da função alegando motivo legítimo.
No caso do perito agir com dolo ou culpa ou prestar informações inverídicas, ele
pode sofrer três sanções conforme art. 147:
Sanção administrativa – inabilitado de atuar por dois anos em outras pericias;
Sanção penal – o juiz comunica ao Ministério Público para que este instaure o
inquérito penal baseado no art. 342 CP.;
Sanção cível – ele responderá pelos prejuízos causados a parte.
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O assistente técnico não responde ao artigo 147, já que o mesmo é de confiança da


parte e não está sujeito a qualquer suspeição ou impedimento, conforme art. 422
CPC.
É importante lembrar que a conclusão do perito não vincula o juiz, que pode decidir
livremente e inclusive determinar nova perícia se não estiver convencido ou
suficientemente esclarecido.

4.2. DEPOSITÁRIO E ADMINISTRADOR

O CPC trata do depositário e do administrador nos artigos 148 até o 150. O art. 148
determina que a guarda e a conservação dos bens penhorados, arrestados,
seqüestrados ou arrecadados serão confiados ao depositário ou administrador, que
deverá zelar por sua guarda e conservação, evitando que se extraviem ou se
deteriorem. Quando a natureza do bem exigir a continuidade de uma atividade, o
depositário assume papel de administrador conforme art. 677.
O depositário pode ser público ou privado e possui a função de guarda e
conservação, conforme art. 666. Já o administrador, além das responsabilidades de
depositário, tem a incumbência de manter em atividade e produção o
estabelecimento penhorado.
Ambos, de acordo com o art. 149, são remunerados. O valor da remuneração será
fixado pelo juiz da causa, atendendo à situação do bem, ao tempo do serviço e às
dificuldades de sua respectiva execução.
O administrador ou o depositário responde pelos prejuízos quando, por dolo ou
culpa, causar a parte, perdendo a remuneração que lhe foi arbitrada. Mas tem o
direito de haver o que legitimamente despender no exercício do cargo, conforme art.
150.

4.3. INTÉRPRETE

O CPC trata do intérprete dos artigos 151 até o 153. O interprete funciona parecido
com o perito, ele serve para ajudar o juiz a entender o processo. No art. 151 ele diz
quando o juiz deve nomear um interprete. São três casos:
Para analisar documento de entendimento duvidoso, redigido em língua estrangeira;
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Verter para o português as declarações das partes e das testemunhas que não
conhecem o idioma nacional;
Traduzir a linguagem mímica dos surdos-mudos, que não puderem transmitir a sua
vontade por escrito.
No art. 152 ele diz o rol de situações em que o intérprete está impedido de participar
do processo. São os que não têm a livre administração dos seus bens; se for
arrolado como testemunha ou servir como perito no processo e se estiver inabilitado
no exercício da profissão por sentença penal condenatória, enquanto durar o seu
efeito.
No art. 153 ele diz que o interprete é obrigado a prestar o seu oficio, salvo nas
situações dos artigos 146 e 147, tal qual o perito.

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