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Métodos digitais na pesquisa em

Humanidades:desafios e perspectivas

Leonardo F. Nascimento
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Sobre mim

I 15% Programador, 20% Químico, 25% Psicólogo, 40%


Cientista Social
I Coordenador do Laboratório de Humanidades Digitais da
UFBA
I Email: leofn3@gmail.com
I Twitter:@leofn3
I website: www.leofn.com
I www.labhd.ufba.br (Em breve!)
O digital como “fato social total”

I . . . novas formas de localização no espaço


I . . . novas formas de buscar informações
I . . . novas formas de se relacionar
I . . . novas formas de ler livros
Do digital à dataficação

Dataficação é a transformação da ação social em dados


quantificados, permitindo assim o rastreamento em tempo real e a
análise preditiva.(MAYER-SCHÖNBERGER; CUKIER, 2013)
A virada digital nas humanidades: a história digital

Esses projetos [de arquivos digitalizados], exibindo coleções de


dados numéricos, textos, imagens, mapas e sons, criam grandes
repositórios proporcionando espaços nos quais os usuários fazem
conexões e descobertas por si mesmos. Tais arquivos aproveitam a
massa, a multiplicidade, a velocidade, a reiteração, a reflexividade
e a precisão oferecidas pelos computadores. [. . . ] Isso sustentaria
uma nova estética da narrativa histórica. (AYERS, 2001)
A virada digital nas humanidades: a sociologia e a
antropologia digital

“a própria ideia de ‘cultura’ ou ‘sociedade’ não pode ser


plenamente compreendida sem o reconhecimento de que os
dispositivos de software e hardware constituem ativamente a
individualidade, a corporeidade, a vida social, as relações sociais e
as instituições”
(HORST; MILLER, 2012; PRIOR; ORTON-JOHNSON, 2013;
JORDAN, 2014; LUPTON, 2015)
“. . . o digital tem a capacidade de transformar modos de ser. . . ”
(MARRES, 2017, p. 25)
A virada digital nas humanidades: a ciência social
computacional

“A crescente integração da tecnologia em nossas vidas criou


volumes sem precedentes de dados que a abrem novas
oportunidades em direção a um entendimento quantitativo dos
sistemas sociais”
(Manifesto da ciência social computacional - 2012)
A virada digital nas humanidades: a geografia digital

“. . . tem havido um reconhecimento de como o digital está


remodelando a produção e a experiência do espaço, do lugar, da
natureza, da paisagem, da mobilidade e do meio ambiente. Esse
reconhecimento é sustentado por uma virada para o digital como
sujeito/objeto do conhecimento geográfico, e uma profunda
inflexão da teoria e práxis geográficas pelo digital. . . ”
(ASH; KITCHIN; LESZCZYNSKI, 2018)
A virada digital como mudança de paradigma

Todas essas “correntes” ou “escolas” concordam que “novas fontes


de dados e novas técnicas de armazenamento e análise de dados
podem levar a uma mudança de paradigma nas ciências sociais”
(JUNGHERR, 2015, p.34)
O “digital” na pesquisa social pode significar ao menos
três coisas

1. Digital como objeto de pesquisa;


2. Digital como instrumentos e métodos de pesquisa;
3. Digital como plataformas para nos engajarmos com audiências
e públicos interessados em nossas pesquisas.

(HARGITTAI; SANDVIG, 2015; MARRES, 2017)


Digital como objeto de pesquisa

As transformações proporcionadas pelas tecnologias digitais de


informação de comunicação (TDIC’s) representam o advento mais
importante para as sociedades contemporâneas e,
consequentemente, isto afeta todos os tradicionais temas de
estudos das ciências sociais.
Dos fenômenos digitais aos métodos digitais

É possível pesquisar os fenômenos associados às tecnologias


digitais sem utilizar ferramentas digitais de pesquisa?
Digital como método de pesquisa: dados digitais

I Publicidade
I Acessibilidade
I Terceirização
I Evocação versus coleta (produção discreta de dados)
I Representatividade
I Volume, Velocidade, Variedade, Perecibilidade
I Não há isocronia (“tempo da matéria anunciada” versus
“tempo da enunciação” - Roland Barthes)
Digital como método de pesquisa: técnicas

I Coleta/extração (webscraping, data mining)


I Articulação analógico e digital
I Quali-quanti (Análises automatizadas x análises
interpretativas)
I Ferramentas digitais (aprendizagem, open-source x
proprietário)
I Realidade virtual e aumentada
I Inteligência Artificial
Digital como método de pesquisa: resultados

I Dilemas éticos (privacidade, robots.txt)


I Qual a capacidade pública de intervirmos ou de instruirmos
atores em disputa?
I Qual a capacidade preditiva das análises?
I Como avaliar os efeitos das diferentes arquiteturas
algorítmicas (coleta e análise) sobre os resultados?
I Como tratar das dimensões da experiências que escapam à
dataficação (o inefável, o não-quantificável ou
não-dataficável)?
Os métodos digitais costumam ensejar três tipologias
fetichismo: dos dados, dos métodos e dos resultados.

“Coletar mais dados e de uma diversidade de fontes garantiria per


se uma pesquisa necessariamente melhor” - FALSO
“Utilizar uma diversidade de métodos digitais garantiria per se uma
pesquisa necessariamente melhor” - FALSO
“Os resultados das pesquisas baseadas em dados digitais e
métodos digitais são necessariamente melhores e/ou superiores às
pesquisas analógicas tradicionais” - FALSO
O fetichismo é o esquecimento da história

Para trabalhar com dados, você precisa entender o que os dados


estão tentando representar. Uma das primeiras coisas que você faz
quando obtém qualquer tipo de conjunto de dados é tentar
entender as condições sob as quais o conjunto de dados passou a
existir. Há sempre uma história por trás dos dados. Há sempre
algum tipo de narrativa. (Smári McCarthy Making data speak)
“Raw Data” is an oxymoron (GITELMAN,
2013)
O que devemos fazer em relação aos métodos digitais ou
vamos andar de bicicletas?

1. percepção da utilidade;
2. aprendizado inicial;
3. aperfeiçoamento do uso;
4. diversificação/especialização
5. criação
Conclusão 1 ou “quem tem medo de computador?”

É preciso superarmos o posicionamento “apocalíptico versus


integrado” (ECO, 2011) em relação ao aprendizado dos métodos
digitais de pesquisa
Conclusão 2 ou “a verdade está lá fora?”

Os dados digitais “estão lá” mas para estar “à altura” de


analisá-los é preciso um letramento digital que é, em si, a medula
óssea de toda a pesquisa. Mas deve ser um letramento digital
crítico para não perdermos o controle das categorias analíticas das
diferentes tradições das humanidades.
Conclusão 3 ou “que fazer?”.

Os métodos digitais constituem um chamado urgente do “espaço


de experiências” movediço de processos sociais
não-planejados(ELIAS, 2006) ainda em desdobramento e que, por
conseguinte, nos proporciona um “horizonte de expectativas”
(KOSELLECK, 2006) nebuloso que, como cientistas sociais, nós
precisamos enfrentar.
Obrigado!
Referências bibliográficas
ASH, J.; KITCHIN, R.; LESZCZYNSKI, A. Digital turn, digital
geographies? Progress in Human Geography, v. 42, n. 1, p. 25-43,
2018.
AYERS, E. L. The Pasts and Futures of Digital History. History
News, v. 56, n. 4, p. 5-9, 2001.
ECO, U. Apocalittici e integrati: Comunicazioni di massa e teorie
della cultura di massa. [s.l.] Bompiani, 2011.
ELIAS, N. Escritos e ensaios: Estado, processo, opinião pública.
[s.l.] Zahar, 2006.
GITELMAN, L. Raw Data Is an Oxymoron. [s.l.] MIT Press, 2013.
HARGITTAI, E.; SANDVIG, C. Digital Research Confidential: The
Secrets of Studying Behavior Online. [s.l.] MIT Press, 2015.
HORST, H. A.; MILLER, D. Digital Anthropology. [s.l.]
Bloomsbury Academic, 2012.
Referências bibliográficas
JORDAN, T. Internet, Society and Culture: Communicative
Practices Before and After the Internet. Reprint edition ed. [s.l.]
Bloomsbury Academic, 2014.
KOSELLECK, R. Futuro Passado. Edição: 1a ed. Rio de Janeiro:
Contraponto, 2006.
LUPTON, D. Digital Sociology. [s.l.] Routledge, 2015.
MCCARTHY, S. making data speak | Exposing the Invisible.
Disponível em: http://exposingtheinvisible.org/films/
sm%C3%A1ri-mccarthy-making-data-speak. Acesso em: 22 jul.
2018.
MARRES, N. Digital Sociology: The Reinvention of Social
Research. [s.l.] John Wiley & Sons, 2017.
MAYER-SCHÖNBERGER, V.; CUKIER, K. Big Data: A
Revolution that Will Transform how We Live, Work, and Think.
London: John Murray Publishers, 2013.
PRIOR, N.; ORTON-JOHNSON, K. Digital Sociology: Critical

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