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O DA ALGEBRA - Um guia paraateoria que marca uni senso para as operacdes Isaac Asimov NO MUND ISCO Ives FA No Mundo da Algebra Como no seu livro anterior, NO MUN- DO DOS NUMEROS, Isaac Asimov redu- ziu a complexidade de alguns lados da ma- tematica para termos o que qualquer um pode entender. Num estilo facil e infor- mal, ele prossegue, sem dor, do mai __A4si- co conceito de algebra as mais refinadas consideracées sobre quadrantes, equacdes ciibicas, equacdes simultaneas e mesmo as que envolvem nimeros imaginarios ou transcendentais. No capitulo final, o prof. Asimov nos da uma demonstracdo espetacular do uso edo poder da Algebra, demonstrando que com esta arma remarcavel o homem torna-se apto a medir o peso da Terra. Este livro é mais tedrico do que, propria- mente dito, uma ferramenta nas operacdes mec&nicas, mas, qualquer pessoa que te- nha um conhecimento bA4sico esta capaci- tada a solucionar as equacdes com con- fianca e certeza. Como foi dito pela American Library Association Book List a respeito de NO MUNDO DOS NUMEROS, ‘a teoria aqui apresentada é tao simples e clara que o leitor com apenas conhecimentos ele- mentares pode facilmente assimilar os con- ceitos basicos.’’ E a mesma clareza é apre- sentadaem NOMUNDO DA ALGEBRA. Isaac Asimov é professor de bioquimica na Universidade de Boston e também au- tor de muitos livros fascinantes a respeito desta ciéncia. Como foi dito pelo jornal Sentinela de Winston Salm, ‘‘Os adoles- centes devem ter sempre na cabega o nome desse autor, pois, com certeza ele é o maior no momento no campo da interpretacao da ciéncia e dos cientistas para jovens e adultos’. E a revista Galaxy ajuntou “Asimov é de um talento raro. Ele pode fazer sua boca mental aguar com fatos se- cos’’. NO MUNDO DA ALGEBRA Isaac Asimov NO MUNDO DA ALGEBRA Traducdao Jodo Guilherme Linke 2° EDICAO Francisco: Alves © 1961, By Isaac Asimov Titulo original: Realm of Algebra Revisaéo tipografica: Henrique Tarnapobsky Edilson Chaves Cantalice Argemiro Figueiredo Impresso no Brasil Printed in Brazil 1989 ISBN 85-265-0072-4 Todos os direitos reservados a: LIVRARIA FRANCISCO ALVES EDITORA S.A. Rua Sete de Setembro, 177 — Centro Telefone: 221-3198 20050 — Rio de Janeiro — RJ OW~IWNNWWN Sumario O Grande Ponto de Interrogacio 9 Igualando Coisas 17 Outras Velhas Conhecidas 33 Misturando as Operacdes 49 De Tras para Diante! 60 A Questio da Divisio 68 Dentro e Fora dos Parénteses 79 As Ultimas Operacdes 95 As Equacées por Graus 111 Fatorando a Equacdo Quadratica 125 Resolvendoem Geral 139 Duas de Uma Vez 153 Pondo a Algebra para Funcionar 169 A Robert P. Mills, Meu Gentil Editor 1 O Grande Ponto de Interrogacdo SIMBOLOS Algebra é simplesmente uma forma de aritmética. Vocé esta espantado? Nao esta acreditando? Nao é de admirar. Do jeito que as coisas geralmente se apresentam no colégio, aritmética é uma matéria ‘‘facil’’, ensinada nas pri- meiras séries, e algebra uma matéria ‘‘dificil’’, ensinada nas séries adiantadas. Além do mais, a aritmética tem a ver com nlumeros, que todo o mundo conhece, ao passo que a algebra é uma bruta confusdo, cheia de xe y. Pois eu volto a dizer que praticamente nao ha diferenca entre uma e outra, e me proponho prova-lo. Vamos dizer, para comecar, que Se vocé tiver seis macas e eu lhe der mais cinco macas, vocé ficara com onze macas. Se vocé tiver seis livros e eu Ihe der mais cinco livros, vocé fi- cara com onze livros. Se vocé tiver seis rosas e eu lhe der mais cinco rosas, vocé ficara com onze rosas. Posso parar por ai, nfo é? Vocé ja entendeu que se tiver seis coisas de qualquer espécie ¢ eu lhe der mais cinco coisas dessa mesma espécie, no final vocé tera onze delas ao todo. Portanto, podemos esquecer os objetos reais com que lida- mos, sejam eles macAs, livros, rosas ou o que mais seja, e concentrar-nos apenas nos numeros. Podemos dizer simples- mente que cinco e seis séo onze, ou que cinco mais seis é¢ igual aonze. Ora, todas as pessoas vivem lidando com numeros: seja no trabalho que executam, nos passatempos que cultivam, nos jogos que jogam. Todo o mundo tem de lembrar-se sempre, ou, se nfo se lembra, ser capaz de calcular que seis mais cinco é igual a onze, ou que vinte e seis mais cinqiienta e oito é igual a oitenta e quatro, e assim por diante. E mais, freqiientemente tem de escrever essas declaracées aritméti- cas. Mas o ato de escrever pode tornar-se cansativo, princi- palmente se os ntimeros sao grandes e complicados. Por isso, desde os primordios da civilizagaéo os homens procuraram idear maneiras convenientemente abreviadas de escrever numeros. O melhor sistema ja inventado foi criado na India por volta do nono século. Nesse sistema, cada numero de um a nove recebeu um sinal especial. Os sinais que hoje usamos em nosso pais sdo 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7,8 e 9. Além disso, o sistema inclui um sinal para zero, que escreve- mos 0. Todo sinal usado como meio de representar alguma coi- sa em forma abreviada chama-se ‘‘simbolo’’. (As palavras que vocé esta lendo séo simbolos dos varios sons que nds produzimos quando falamos, e o som que produzimos quan- do dizemos ‘‘cavalo’’ é um simbolo do animal real.) Os sinais que eu escrevi no peniltimo paragrafo sao simbolos dos primeiros nove numeros e de zero, e podem ser chamados ‘‘simbolos numéricos’’. Os arabes os aprenderam dos matematicos hindus e os passaram adiante aos europeus por volta do 10° século. Por isso, ainda hoje nds chamamos esses simbolos numéricos de ‘‘algarismos arabicos’’. Todos os numeros podem ser escritos por meio de ‘‘nu- merais’’, isto é, algarismos ou combinac6es de algarismos, segundo um sistema que n4o vou explicar aqui, porque ja é bem conhecido.* Assim, o numero vinte e trés escreve-se 23, e setecentos e cinqiienta e dois € 752. * Alias, o sistema dos nimeros ja foi por mim explicado num livro intitulado O reino dos numeros, Vocé nao precisa lé-lo para entender este livro, mas ele podera ser util para melhor compreensdo de alguns pontos de aritmética que aqui eu terei de abordar um tanto por alto. 10 Vocé esta vendo como os simbolos numéricos podem ser praticos. De fato, eles sfio tao praticos que vocé nunca vé ninguém escrever: ‘‘A soma € seis mil ¢ setecentos e cinqitien- ta e dois’’. Todo o mundo escreve: ‘‘A soma é 6752’’. Escrevendo simbolos numéricos em lugar de palavras poupa- se muito espaco e esforco, no entanto vocé esta tao habitua- do aos simbolos que lé uma sentenca que os contém exata- mente como se as palavras estivessem escritas por extenso. E nao s4o os numerais os Unicos simbolos usados no dia-a:dia. Nos negocios, é tao comum ter de lidar com dola- Tes que se faz uso de um simbolo para poupar espaco e tem- po. Eo simbolo $, que tem o nome de ‘‘cifréio’’. As pessoas automaticamente o léem como se fosse 0 prdprio termo, de modo que $7 é sempre lido como ‘‘sete délares’’. Temos ain- da ¢ para ‘‘centavos’’, % para ‘‘por cento’’, L para ‘‘li- bras’’, e assim por diante. Entéo, simbolos nfo tém para vocé nada de extraor- dinario. Nada impede que usemos simbolos para expressar prati- camente tudo que quisermos. Por exemplo, na declaracéo “‘seis mais cinco é igual a onze’’, podemos substituir seis por 6, cinco por 5 e onze por 11, mas no precisamos ficar nisso. Podemos ter também um simbolo para ‘‘mais’’ e outro para “*é igual a’’. O simbolo de ‘‘mais’’ é +, e o simbolo de ‘‘é iguala’”é=. Entéo escrevemos a declaracdo assim: 6 + 5 = 11. ENFRENTANDO O DESCONHECIDO Tao familiares séo para nds esses simbolos, e outros co- mo - de subtragéo, x de multiplicacg&o e + de divisfo, que nds n&o lhes damos nenhuma atencfo especial. Nos os aprendemos nos primeiros anos de escola e eles nos acom- panham por todo o resto da vida. No entanto, quando avancamos em nossa vida escolar e 1] esbarramos com simbolos novos, as vezes sentimo-nos in- quietos porque eles nos parecem estranhos e antinaturais, di- ferentes daqueles que aprendemos em crianga. Mas por que nao aprender novos simbolos que expressam novas idéias? E por que nao encarar esses novos simbolos tao tranqitila e des- temidamente como encaramos os antigos? Vou explicar o que estou querendo dizer. Quando co- mecamos a aprender aritmética, o que precisamos mais que tudo é exercicio, para nos acostumarmos a lidar com nime- ros. Por isso, a todo instante somos submetidos a uma porcéo de perguntas como: Quanto é dois mais dois? Se de oito tirarmos cinco, quanto sobra? Para escrever essas perguntas, é natural usar simbolos. Portanto, na sua prova ou no quadro-negro estara escrito 24+2= 8—5 = e vocé tera de preencher as respostas, que, é claro, sdo res- pectivamente 4 e3. Mas esta faltando um simbolo. O que realmente esta sendo dito é: “‘Dois mais dois é igual a o qué?’’; ‘‘oito me- nos cinco éiguala o qué?’’. Bem, ja temos simbolos apropriados para ‘‘dois’’, ‘‘oi- to’’, ‘‘cinco’’, ‘‘mais’’, ‘‘menos”’ e ‘‘é igual a’’, mas n4o te- mos um simbolo para ‘‘o qué?’’. Que tal arranjarmos um? Ja que se trata de uma pergunta, que tal usarmos um ponto de interrogacio? Podemos escrever 2+2=? 8-5 =? II O ? €um simbolo novo, a que vocé nao esta acostuma- do, e que s6 por isso talvez o deixe preocupado. No entanto, 12 é simplesmente um simbolo, a representacdo de alguma coi- sa. Representa uma coisa desconhecida, uma ‘‘incdgnita’’. **2’? vocé sempre sabe o que quer dizer. Sempre representa ‘‘dois’’. Do mesmo modo, + sempre representa ‘‘mais’’. O simbolo ?, da maneira como usado aqui, pode representar qualquer numero. No primeiro caso, representa 4; no segun- do caso, 3. Num caso qualquer dado, vocé nao pode saber o que ele representa, a menos que resolva o problema aritmético. E claro que nos casos acima a resposta salta aos olhos. Mas em casos mais complicados, néio. No problema 3312 + 46 =? ? é€ igual a um certo numero, mas vocé nao sabera dizer qual sem efetuar a divisio. (Como este nado é um livro de proble- mas, nao vou fazer suspense. No caso, ? representa 72.) Vocé podera achar que eu estou complicando as coisas. Para que, afinal, o ponto de interrogagdo? Por que nao dei- xar O espaco em branco e simplesmente preenché-lo com a resposta, como alias se faz comumente? Bem, a finalidade dos simbolos é facilitar a vida. O olho tende a nao tomar conhecimento de um espaco em branco, ¢ nfo ha maneira de fer um espaco em branco. E preciso preenché-lo com algum sinal, apenas para mostrar que ali cabe alguma coisa, mesmo se de momento n4o se sabe exatamente o qué. Imagine, por exemplo, que vocé tinha um certo numero de macds, mas ndo tinha bem certeza de quantas eram. Entretanto, um amigo lhe deu cinco magas e, depois do pre- sente, vocé contou suas macis e viu que tinha ao todo oito. Quantas vocé tinha antes? A questao se resume em que um certo numero mais cin- co é igual a oito. Vocé nao sabe qual é esse ‘‘certo nimero”’ enquanto nado pensar um pouco. O ‘‘certo numero”’ é uma incégnita. Entao vocé pode escrever e ler assim: 13 245=8 “Que nimero mais cinco é igual a oito?’’ Se vocé tivesse re- solvido prescindir de simbolos como o ponto de interrogacao e simplesmente deixado um espaco em branco, teria de escrever +5 =8 e vocé ha de convir que isso fica esquisito e é dificil de ler. Assim, vocé vé que 0 ponto de interrogacao tem a sua utilidade. E, agora, vocé vai se espantar se eu lhe disser que esta- mos falando de algebra? Pois estamos. Do momento em que passamos a usar um simbolo para representar uma quantida- de desconhecida, estamos no reino da algebra. A maior parte dos livros de aritmética, mesmo nos primeiros anos escola- res, usam pontos de interrogacdo do modo como eu fiz aqui, e ao fazerem isso estao ensinando algebra. Mas isso é simples aritmética, vocé pode estar pen- sando. Exatamente! Foi o que eu disse logo de saida. Algebra é aritmética, s6 que ampliada e melhor, como vocé vai ver se continuar a ler o livro. O modo que ela ensina de manejar simbolos é tao util na investigacéo do mundo que nos cerca que toda a ciéncia mo- derna se baseia nela. Os cientistas nfo teriam como falar das cOisas que acontecem a nossa volta se nao usassem simbolos. E nao teriam como usar os simbolos de modo apropriado se nao conhecessem as regras que serdo deduzidas neste livro. INTRODUZINDO A LETRA Na verdade, o ponto de interrogacdo nao é dos mais convenientes como simbolo de incdgnita. E dificil de ler, 14 porque em geral nds o encontramos no fim de uma pergunta, onde nao o lemos. Se nos forcarmos a lé-lo, o resultado é uma frase de oito silabas: ‘‘ponto de interrogac¢ao’’. O natural é usar como simbolo uma letra, ja que todo o mundo conhece bem as letras e esta acostumado a lé-las. Pa- ra isso, no entanto, houve de inicio um problema. E que, an- tes da adocdo dos algarismos arabicos, usavam-se letras co- mo simbolos numéricos. No sistema romano usava-se V para ‘“‘cinco’’, X para ‘‘dez’’, D para ‘‘quinhentos’’, etc. Se se fossem usar letras para representar valores desconhecidos, seria uma confus&o sem tamanho. Com a entrada dos algarismos arabicos, as letras fica- ram livres para outros fins. Ainda assim, levou séculos para que os matematicos pensassem em fazer uso das letras. (Acreditem ou nao, é muito dificil idear bons simbolos. E muitas vezes a falta de um bom simbolo pode atrasar de séculos o progresso do pensamento humano. Por exemplo, uma coisinha téo simples como escrever 0 representando “‘zero’’ revolucionou a matematica.) O primeiro a usar letras como simbolos de incognitas foi um matematico francés chamado Francois Vieta. Foi por volta de 1590, e por causa disso ele €é chamado por alguns de ‘pai da algebra’’. E claro que sempre existe a possibilidade de confundir letras representando incdgnitas com letras que fazem parte de palavras. Por esse motivo, logo tornou-se habitual, para simbolizar incégnitas, usar as letras do fim do alfabeto. Sao as menos usadas nas palavras comuns, e assim ha menos'pos- sibilidades de concluséo. De todas a menos usada é 0 x, e por isso é a mais comumente usada para representar uma incdgnita. Para reduzir ainda mais as possibilidades de confusdo, o x e qualquer outro simbolo representando uma incdgnita es- tara em italico em todo este livro. Assim, quando a letra for 15 parte de uma palavra sera ‘‘x’’; quando for simbolo de incOgnita sera x. Entdo, em vez de ‘‘? + 5 = 8’’, passaremos a escrever “x+5 = 8". Nao vé como é muito melhor? Antes de mais nada, x é um simbolo familiar, que estamos habituados a ler, e que se diz numa tnica silaba: ‘‘xis”’ Naturalmente, algumas pessoas, assim que véem um x, ficam com medo. A coisa comeca a parecer algebra. Mas é apenas um simbolo exercendo a mesma func&o que o ? en- contrado em todas as aritméticas elementares. Por acaso é um ‘‘simbolo literal’? (formado por uma letra) em vez de um simbolo numérico, mas as mesmas regras aplicam-se a am- bos. Se vocé é capaz de manejar'o simbolo 4, é capaz de ma- nejar o simbolo x. 16 2 Igualando Coisas A IMPORTANCIA DO = Agora que temos o x, vejamos como trabalhar com ele. Eu disse, no final do capitulo anterior, que ele é manejado da mesma Maneira como os nimeros comuns. Portanto, come- cemos com nimeros comuns. Seja a expressao 3+5=8 Observe-se, antes de mais nada, que ela contém um ‘“‘si- nal de igualdade’’. Ha simbolos a esquerda do ‘‘sinal de igualdade’’ e simbolos a direita dele, e os dois conjuntos de simbolos, a esquerda e a direita, representam uma mesma quantidade. O simbolo 4a direita, 8, representa ‘‘oito’’. Os simbolos a esquerda, ‘‘3 + 5°’, representam ‘‘trés mais cin- co’’, o que também vem a ser ‘‘oito’’. Sempre que tivermos um ‘“‘sinal de igualdade’’ com simbolos dos dois lados, cada conjunto de simbolos repre- sentando uma mesma quantidade, temos uma ‘‘equacdo’’. (A palavra deriva de um termo latino que significa ‘‘igua- lar’’.) A palavra ‘‘equac&o”’ pode leva-lo a pensar em ma- tematica ‘‘dificil’’, mas vocé esta vendo que a soma mais simples feita por uma crianca do primario envolve uma equacao. claro que, para que um conjunio de simbolos forme uma equacéo, é preciso que se representem quantidades 17 iguais dos dois lados do sinal de igualdade. A express&o 4 + 5 = 8 n@o é uma equacdo verdadeira: é uma equacfo falsa. Em matematica, é logico, s6 nos interessam equac6es verda- deiras. Vejamos agora uma equacao que contenha um simbolo literal, como é 0 caso de x+5=8 O simbolo x, é certo, pode representar qualquer nime- ro, mas quando é parte de uma expressfo que contém um si- nal de igualdade, € mais do que razoavel querermos que ele expresse somente nimeros que facam da expressio uma equacado verdadeira. Se, na expresséio acima, resolvéssemos que x devia representar ‘‘cinco’’, poderiamos substituir x por 5, e teriamos a expressfo 5 + 5 = 8, que ndo ¢ uma equacdo verdadeira. Para fazer da expressio uma equacéo, sO existe um numero que pode ser representado por x, que é “‘trés’’. Se substituirmos x por 3, teremos a expressio 3 + 5 = 8, queé uma equacgéo. Nenhum outro nimero no lugar de x servira. E claro que x s6 é igual a esse valor nessa expressdo par- ticular. Em outras expressdes, podera ser igual a outro intei- ramente diferente. Sex + 17 = 19, entéo x = 2;sex + 8 = 13, entéox = 5, € assim por diante. Em cada caso, é preciso achar para x 0 numero Unico que faz da expressio uma equacao. TIRANDO O VALOR DEx Mas como encontrar para x o nimero apropriado numa equacao mais complicada? Na expressfio x + 5 = 8 é€ facil de ver que x tem de ser igual a 3, porque sabemos de pronto e quase sem precisar pensar que 3 + 5 = 8. Vamos supor, 18 porém, que temos a expressio x + 1865 = 2491. Como achar nesse caso o valor de x? Poderiamos experimentar diferentes numeros, um apds outro, até encontrarmos um que fizesse da expresséo uma equac&o. Se tivéssemos sorte, poderiamos acabar por dar com o nimero 626. Se substituirmos x por ele, temos 626 + 1865 = 2491 e, olhe, isso é uma equacdo. Viva! Agora sabe- mos que x = 626, ea equacao foi resolvida. Mas os matematicos detestam empregar 0 método das tentativas como meio de resolver uma equacdo. E muito in- certo e muito demorado. Ademais, existem métodos de resol- ver uma equacdo que ndo o das tentativas. Para resolver equacGes existem regras.* Essas regras nos ensinam a modificar uma equacdo de modo a tornar mais facil achar o valor de x. Ha diversos mo- dos de modificar uma equacéo, mas um cuidado é sempre necessario. Ao modificar uma equacdo, é preciso que ela sempre se conserve uma equacdo verdadeira! Seja o que for que facamos, temos de cuidar que os simbolos a esquerda do sinal de igualdade representem sempre a mesma quantidade que os da direita. WY 4+5—-1-—2=6 §9—3=6 (iguais subtraidas de iguais so iguais) * Pelo ano de 825, algumas dessas regras foram pela primeira vez apresenta- das num livro escrito por um matemAatico 4rabe chamado Mohammed ibn Musa al-Khowarizmi. O nome do livro, em 4rabe, é ilm al-jabr wa’l muqa- 19 Uma das maneiras de modificar uma equacéo sem torna-la falsa é somar aos dois lados uma mesma quantida- de, ou subtrair dos dois lados uma mesma quantidade. Pode- mos ver exemplos claros disso usando somente simbolos numéricos. Por exemplo, 3 + 5 = 8, entao 8—4 38+5—4 8+54+7=8+4+7 No primeiro caso, os dois lados da equacdo so iguais a quatro; eno segundo, ambos sfo iguais a quinze. Ora, tudo que vale para simbolos numéricos vale também para simbolos literais. (Este € o segredo para entender a al- gebra.) Se dizemos que x + 5 = 8 € uma equacio, entéo x + 5+ 3 = 8 + 3 também é uma equacao, e também ox + 5-2 = 8-2, Suponha agora que neste caso particular subtraiamos cinco de cada lado da equacéo. Comegamos com x + 5 = 8 e, subtraindo cinco de cada lado, temos x+5—-5=8-—5 Mas se a uma quantidade somamos cinco e em seguida subtraimos cinco, ficamos com a mesma quantidade. E o mesmo que dar cinco passos para a frente e em seguida cinco passos para tras: acabamos no lugar de onde saimos. Assim, 34+ 5-5 = 3;17 + 5-5 = 17, eassim por diante. balah, que quer dizer ‘‘ciéncia da reduc&o e cancelamento’’. Reducdo e cancelamento foram os métodos que ele empregou para lidar com equacées. Al-Khowarizmi nao usava os simbolos que nés usamos hoje, mas os seus mé- todos de operar com equacGes impressionaram tanto os europeus quando es- tes tiveram acesso a traducGes do seu livro, que a matéria que trata das equa- cSes até hoje é chamada ‘“algebra’’, que é uma corrutela da segunda palavra do titulo do livro. 20 Logo, x + 5-5 = x, e quando dizemos quex + 5-5 = 8-5, estamos dizendo quex = 8-5. Ent&o, o que concluimos foi: Se x+5=+8 entio x =§8-5 E como se tivéssemos modificado a equacdo passando o 5 do lado esquerdo para o direito. Essa passagem tem o no- me de ‘‘transposi¢ao”’ (a palavra vem do latim, significando ‘*pér do outro lado’’). Mas, por favor, preste muita atencao em como isso aconteceu. Na realidade nos ndo mudamos o 5 de lugar: o que fizemos foi subtrair um 5 dos dois lados da equacdo, e o efeito foi como se tivéssemos transportado o 5. Hoje em dia, os matematicos preferem insistir em sub- trair numeros iguais dos dois lados da equacao (ou a eles so- mar nimeros iguais) e ndo tomar conhecimento do que pa- rece ser uma transposic¢ao. No entanto, quando a gente se acostuma a lidar com equacdes, parece uma perda de tempo somar ou subtrair nimeros a toda hora, se o mesmo resulta- do @ alcancado simplesmente passando um numero de um lado para o outro. Até o fim deste livro é isso o que eu vou fazer, e vou falar de ‘‘transpor’’ e ‘‘transposi¢&o’’. Vocé ndo deve esquecer, porém, que essa maneira de operar com equacGes nada mais é que uma abreviacdo, e que o que eu realmente estou fazendo é subtrair nimeros iguais dos dois lados da equacdo (ou a eles somar nimeros iguais). Note também que quando eu transpus o 5 na equa¢&o acima, que usei como exemplo, o sinal mais mudou para si- nal menos. Isso mostra um dos perigos de passar numeros de um lado para o outro sem pensar no que esta de fato sendo feito. Se eu simplesmenie mudo um 5 de lugar, o que é que 0 sinal tem a ver com isso? Mas se o que eu faco é subtrair 5 dos dois lados da equacdo, automaticamente o sinal mais se 21 transforma em menos quando o 5 aparentemente muda de lugar. E se tivéssemos partido da equacao x—5=8 Podemos somar 5 aos dois lados da equac¢éo e manté-la verdadeira, portantox-5 +5 =8+5.Mascomox-5 +5 = x (se vocé recua cinco passos, depois avanc¢a cinco passos, chega ao mesmo lugar), entéo x=8+5 Novamente, foi como se o 5 tivesse sido transferido, ou transposto, e novamente nds trocamos o sinal, desta vez de menos para mais. Ora, a soma, representada pelo sinal mais, e a subtra- cio, representada pelo sinal menos, sAo exemplos de ‘‘ope- racdes’’ efetuadas com numeros, quer representados por al- garismos quer'por letras. Essas operacdes sféo constantemen- te empregadas na aritmética, e também na algebra, donde tanto podem ser chamadas de ‘‘operagGes aritméticas’’ como de ‘‘operacdes algébricas’’. Neste livro estamos nos con- centrando na algebra, por isso eu falarei delas como ope- racdes algébricas. Soma e subtracdo, tomadas em conjunto, sfo exemplos de ‘‘operacées inversas’’, o que significa que uma desfaz 0 efeito da outra. Se vocé comeca somando cinco, pode em se- guida desfazer o efeito subtraindo cinco. Ou, se comeca subtraindo cinco, pode anular isso somando cinco. Acaba- mos de ver exemplos dos dois casos. Vé-se, pois, que a transposi¢do muda uma operacéo no seu inverso. Na transposicéo a soma se transforma em subtra- cfo, e a subtracéo em soma. 22 Entendeu por que tudo isso é util? Voltemos 4 equacio de nimeros grandes dada no comeco do capitulo. Era x + 1865 = 2491 Por transposic&o, a equacao se transforma em x = 2491 — 1865 Agora a expresso a direita da equacfo é aritmética co- mum. Pode ser facilmente calculada como 626, portanto po- demos escrever x = 626 enos tiramos o valor de x nao por tentativa, mas pela simples deduc&o de uma regra algébrica. Analogamente, a equaciio x - 3489 = 72 torna-se, por transposicéo, x = 72 + 3489, e conclui-se de que x é igual a 3561. Mas como ter certeza de que resolvemos a equacdo0? Co- mo ter certeza de que podemos confiar nas regras da 4l- gebra? Sempre que tenhamos obtido um valor numérico para x numa equacaéo, por complicada que seja e por complicado que tenha sido o método empregado, devemnos poder substi- tuir x por esse valor numérico na equac4o primitiva sem transforma-la num absurdo. Na equacdo x - 3489 = 72, acabamos de encontrar para x o valor 3561. Substituindo x por esse valor na equacao, te- mos 3561 - 3489 = 72. A aritmética comum nos mostra que isso é uma equacdo, portanto o nosso valor de x esta certo. Nenhum outro valor numérico faria dessa expressfo uma equacao. 23 Agora que temos uma regra, qual o melhor modo de formula-la? Eu estive usando nimeros particulares. Disse que se cagmecamos com x + 5 = 8, podemos mudar para x = 8 - 5, e se comecamos com x + 1865 = 2491, podemos mudar para x = 2491 - 1865. Mas, se enunciarmos uma regra desse modo, havera sempre o perigo de darmos a impress&o de que a regra s6 vale para o conjunto particular de nimeros que usamos como exemplo. Um modo de evitar isso seria listar a regra para todos os conjuntos possiveis de numeros, mas ninguém seria louco a ponto de tentar isso. Existe um grupo sem fim de conjuntos de numeros, e um trabalho desses nunca seria terminado. Em vez disso, podemos voltar mais uma vez ao uso dos simbolos. Suponha que facamos a e b representar um par de niimeros. Podem representar 1 e 2, ou 3 e 5, ou 75 e 8.358.111 -- qualquer par de numeros. Podemos entfo dizer que uma das regras para operar com equacées ¢€: Se xta=b entéo x =b-a@ E se x-a=b enta&o x =b+a Veja que agora a regra abrange nao apenas conjuntos particulares de niimeros, mas qualquer conjunto. O que fize- mos foi usar simbolos gerais em vez de simbolos numéricos particulares. OS DOIS LADOS DQ ZERO Sera que fui longe demais? Eu disse que a e b podem representar quaisquer nimeros. Entéo suponhamos que eu faca a representar 8 e b representar 3. A equacdo geral x + a 24 = bpassaaserx + 8 = 3. Aregra da transposicAo permite mudar a equacéo em x = 3 - 8, ea pergunta é: O que quer di- zer 3 - 8? Os matematicos da antiguidade consideravam expres- sdes do tipo 3 - 8 como nao tendo sentido. Como é possivel de trés tirar oito? Se eu sé tenho trés mac&s, como pode al- guém tirar de mim oito maca&s? Assim eles concluiram que uma equac¢io como x + 8 = 3 nao tinha solucéo para x, e recusaram-se a trabalhar com equacoes desse tipo. Mas isso nao é resposta. Os matematicos nfo gostam de ver-se na situacao de esbarrar com uma incognita para a qual nao encontrem solucdo. Mais cedo ou mais tarde, um deles da jeito de descobrir um sistema que leve a uma solucdo. No presente caso, 0 matematico que fez isso foi um italiano cha- mado Geronimo Cardano, pelos idos de 1550. O sistema é bastante simples. Se eu tenho trés macfs, é, sim, possivel alguém tirar de mim oito macd&s. Basta que eu Ihe dé as trés que tenho, e que concorde em lhe ficar devendo as outras cinco. Eu assumo uma divida. Analogamente, se vocé esta no poste de partida de uma pista de corridas, avanca trés passos, depois recua oito pas- sos, ficara cinco passos atras do poste. Tudo que se precisa € um modo de indicar nimeros menores que zero, que representem uma divida; que mar- quem uma posicfo atras do poste de partida. Cardano explicou isso com grande precisdo. Ja que numeros que tais aparecem no processo da subtracdo, adota-se o sinal menos para distingui-los dos nimeros comuns. Assim, 3 - 8 = -5. Sex = 3 - 8, entéo x = -5. O siste- ma de Cardano forneceu uma solucéo razoavel para x em casos dessa espécie. Numeros com 0 sinal menos, que simbolizam quantida- de menores que zero, sdo chamados ‘‘nimeros negativos”’ Isso mostra a relutancia com que os matematicos se dispuse- ram a fazer uso desses niimeros, mesmo depois de percebe- 25 rem que nfo podiam evita-lo, a menos que quisessem deixar sem solucéo determinadas equacdes. Foi como se continuas- sem a negar que tais numeros existissem realmente. Os nimeros comuns, simbolizando quantidade maiores que zero, sio chamados ‘‘numeros positivos’’. Se vocé quiser mostrar sem sombra de divida que um numero é positivo e nado negativo, pode pdr um sinal mais na frente dele. Isso se faz porque, no processo da soma de numeros positivos s6 resultam numeros positivos. Em vez de escrever simplesmen- te 5, vocé pode escrever + 5. +10 +9 +8 +7 numeros +6 adi¢&o positivos +65 subtracgao numeros negativos —8 -9 —10 No entanto, os nimeros positivos foram usados por tan- tos séculos antes que fosserm aceitos os numeros negativos — 26 e, 0 que é mais, nimeros positivos ainda so tao mais usados que nuimeros negativos — que para todo o mundo o sinal mais é subentendido. Sempre que vocé vir um nimero sem si- nal, pode crer tranqiiilamente que € um numero positivo. Quer dizer que se vocé quiser usar um niimero negativo, vocé tem de por na frente dele um sinal menos, sem o que todos o tomardo por positivo. Existe um inconveniente nesse determinado sistema de sinais, que é o de fazer um mesmo sinal desempenhar duas funcdes diferentes, o que poderia dar causa a confusao. O si- nal + é usado para indicar a operacao de soma, e nesse caso € apropriadamente chamado ‘‘sinal mais’’. Também é usado para indicar que um numero é positivo, e nesse caso deveria chamar-se ‘‘sinal positivo’’. Analogamente, o sinal menos deveria chamar-se ‘‘sinal negativo’’ quando usado para de- notar um numero negativo. Um dos motivos por que podemos sem prejuizo deixar a esses simbolos 0 seu duplo papel é que o sinal positivo (tao mais aplicavel do que o negativo) é geralmente omitido, de modo que nds nem nos damos conta dele. Isso nos leva a pensar no sinal mais como o unico existente. Contudo, va- mos ver como fica uma equacéo com os sinais positivos incluidos. Por exemplo, a equacaéo x + 3 = 5 deveria a rigor ser escrita (+x) + (+8) = (4-5) Usamos os parénteses para mostrar que o sinal mais dentro deles pertence ao numero e é um sinal positivo. Os pa- rénteses, por assim dizer, amarram o simbolo ao numero. O sinal mais fora dos parénteses é um verdadeiro sinal mais e denota 0 processo da soma. Vejamos no que da isso quando temos nimeros negati- vos. Seja a equacéo 27 (+x) + (—3) = (+5) Ora, quando somamos um numero negativo a alguma coisa, estamos somando uma divida, por assim dizer. Se eu Ihe dou uma divida de trés ddélares, estou somando essa divida aos seus haveres, mas corresponde a fazer vocé trés délares mais pobre. E o mesmo que tirar-lhe trés délares. Entao a equacao também pode ser escrita (+%) — (+8) = (+5) Coisa muito parecida acontece quando subtraimos um numero negativo, como em (+x) — (—8) = (+5) Se eu tiro de vocé uma divida de trés délares oferecendo-me para paga-la, automaticamente vocé fica trés délares mais ri- co. Eo mesmo que eu lhe dar trés délares em dinheiro. Logo, a equacdo pode escrever-se (+x) + (+3) = (+5) Agora vamos tornar isso tao simples e familiar na apa- réncia quanto possivel, deixando de fora os sinais positivos e os parénteses que os acompanham. Em vez de dizer que (+x) + (-3) €0 mesmo que (+x) - (+3), diremos que x+(-3)=x*-8 Isso parece uma equacdo, mas é mais que uma equacdo. Uma equacaéo comum, como x + 2 = 5, sé é verdadeira para um valor particular de x; no caso, sO parax = 3. Mas a declarac&o de que x + (-3) €0 mesmo que x - 3 28 permanece verdadeira para todos os valores de x. Em outras palavras, néo importa quanto dinheiro vocé tenha, somar uma divida de trés délares é o mesmo que tirar trés dOlares em dinheiro. Declaracdes que valem para todos os valores possiveis de x chamam-se ‘‘identidades’’. Muitas vezes, ainda que nem sempre, usa-se um sinal especial para indicar identidade, e eu farei uso dele todas as vezes que queira mostrar uma identi- dade. O ‘“‘sinal de identidade’’ consiste em trés tracos curtos, =, uma espécie de igualdade reforcada, por assim dizer. Lé- se ‘‘€O mesmo que’”’ ou ‘‘é idéntico a’’. Ent&o podemos escrever x + (-3) = x-3, ou x-(-3) = x + 3, Para tornar a regra geral, devemos evitar 0 uso de numeros particulares. Ela vale para todos os numeros, e por- tanto devemos usar simbolos gerais, como por exemplo a letra a, e dizer x+(-a)=x-a x—(-a)=x+a EVITANDO O NEGATIVO Esse modo de trocar de negativo para positivo facilita as coisas quando numa equacdo ha nimeros negativos e nds te- mos de operar com eles. Seja a equacHo x + (-3) = 5. Pode- mos transpor o (-3), mudando a soma para subtrac4o (é 0 si- nal da operago que muda, n4o o sinal do numero) e obter x = §-(-3). De imediato isso pode ser mudado para x = 5 + 3, que é8. Ou podemos trabalhar a equacdo antes de transpor. Tendo em mente as regras dos sinais, podemos mudar x + (-3) para x - (+3), que escrevemos simplesmente x - 3, e a 29 equacdo se torna x - 3 = 5. Transpondo, temos x = 5 + 3, ou novamente 8. Como se vé, se usarmos corretamente as regras da 4l- gebra o valor obtido para x sera sempre o mesmo, seja qual for o caminho percorrido para chegar a solucdo. Se resolven- do uma equacaéo por um caminho vocé encontrar x = 6, de- pois resolver por outro caminho e encontrar x = 8, pode ter certeza de que cometeu algum engano ao aplicar as regras. As vezes, trabalhando uma equacdo complicada, nao é facil perceber onde se errou ao aplicar as regras. Pode pare- cer ent&o que é possivel aplicar as regras para demonstrar um absurdo: por exemplo, que 1 = 2. Uma contradic¢ao aparen- te como essa é 0 que se chama uma ‘‘falacia’’, que vem de um termo latino que quer dizer ‘‘enganar’’. Matematicos profissionais em busca de novos avancos d&o-se um cuidado especial em evitar falacias, mas as vezes acontece mesmo aos melhores deles serem vitima de uma. As regras que governam os sinais positivo e negativo oferecem mais uma vantagem. Elas tornam possivel evitar de vez a subtracdo, transformando todas as subtracdes em so- mas. Em vez de escrever x - 3, sempre podemos escrever x + (-3). A justificativa para tal é que algumas das regras que re- gem a soma ndo séo as mesmas que regem a subtracdo. Pode-se mostrar isso comecando por considerar operacdes envolvendo somente simbolos numéricos. A ordem em que somamos uma série de nimeros é indi- ferente, ndo é verdade? Assim, 5 + 3 = 8,e¢3 + 5 = 8. Se uma pessoa me da §5 e outra me da $3, nao faz diferenca pa- ra mim qual delas me paga primeiro; no final eu terei $8, de um modo ou de outro. Usando simbolos gerais, podemos di- zer que a+b=b+a 30 Mas e quanto a subtracgéo? Se 5-3 = 2,3 -5 daa mes- ma quantidade? Nao. Como sabemos, 3 - 5 = -2. As duas respostas no sao iguais e portanto a—bxb-a onde, como vocé ja deve ter adivinhado, o simbolo + significa “‘é diferente de’’.* Vé-se, pois, que quando lidamos somente com somas, podemos ficar despreocupados no que toca a ordem em que se tomam os simbolos. Lidando com subtragGes, é preciso ter cuidado com a ordem, ou pode-se chegar a uma resposta er- rada. Dificilmente isso acontece em aritmética comum, em que é pouco provavel que alguém escreva 3 - 5 quando pensa em 5 - 3. No entanto, em equacdes complicadas, onde se mu- dam os arranjos uma porcdo de vezes, é muito facil mudar a ordem dos varios simbolos sem perceber. E quando podemos incorrer numa falacia. Para evitar contratempos, podemos eliminar todas as subtragdes mudando expressGes como a - b para a + (-D). Ent&o a ordem deixa de ter importancia. Por exemplo, se escrevermos a expressio x 3, n&o nos sera permitido escrevé-la como 3 - x. Mas se a escrevermos na forma x + (-3), podemos escrevé-la (-3) + x sem receio algum. Esse método de transformar subtracgfo em soma de nimeros negativos chama-se ‘‘soma algébrica’’, simples- mente porque é na algebra que travamos conhecimento com ela. No entanto, ela em nada difere da soma comum, uma vez que tenhamos aprendido a operar com sinais positivos e negativos. A propésito, quando um numero negativo é o primeiro * E claro que se ae brepresentassem um mesmo numero, teriamosa-b = b- a, porque ambas as expressdes seriam iguais a 0. Mas essa nao é uma excecao importante. E o que os matematicos chamam de “‘trivial’’. 31 simbolo numa expressdo, nfo é necessario empregar Os pa- rénteses, ja que ele nfo é precedido de nenhum sinal de qual- quer operacéo, e portanto nfo ha como confundir o sinal ne- gativo com um sinal menos. Por isso, x + (-a@) é sempre escrito com os parénteses, mas (-a) + x escreve-se usualmen- te na forma simples -a+.x. 3 Outras Velhas Conhecidas OUTRO TIPO DE PASSAGEM No capitulo anterior eu falei unicamente de duas ope- racdes algébricas, soma e subtragdo. E tempo de passarmos a outras duas, multiplicac#o e divisio. Também estas sao velhas conhecidas, usadas com freqiiéncia em aritmética co- mum, e usadas de maneira exatamente igual em algebra. Para ver como estas novas operacdes podem surgir no bojo de uma equa¢do, suponha que vocé compre um certo numero de laranjas por 48 ¢. Vocé nao sabe exatamente quantas laranjas tem na sacola, mas sabe que essas determi- nadas laranjas custam 4 ¢ cada uma. Sabe portanto que o numero de laranjas, seja ele qual for, multiplicado por 4, dara a resposta 48. Chamando o niimero de laranjas de x, vocé pode escrever a equacéo x xX 4 = 48 Resta tirar o valor de x. Mas como proceder quando isso envolve o sinal de multiplicacdo (x)? No capitulo anterior — lembra-se? — eu disse que uma equacdo continua sendo uma equacdo se um mesmo numero é somado aos dois lados ou subtraido dos dois lados. Pois bem, também é verdade que uma equac&o continua sendo uma equacdo verdadeira se os dois lados forem multiplica- dos por um mesmo numero. Alias, também se podem dividir os dois lados por um mesmo numero (com a Unica excecAo de 33 que nenhum lado pode ser dividido por zero, como ex- plicarei daqui a pouco). Por exemplo, vamos dividir por 4 os dois lados da equag&o que acabamos de dar. Podemos escrever 0 resultado assim: xxX4+4=48+4 onde + é0 simbolo da divis&o. Ora, se multiplicamos um numero por uma certa quanti- dade, e em seguida dividimos 0 produto_pela mesma quanti- dade, teremos de volta o numero original. (Se vocé tem divida, faca a experiéncia com diversos numeros.) Ou, di- zendo de outro modo, a expresso 4 + 4 ¢é igual a1, donde x x4 + 4éigualaxx 1. FE, como qualquer numero, conhecido ou desconhecido, multiplicado por 1, permanece inalterado, xxl=x. Portanto a equacdo fica sendo x= 48+4 (ou 12) Uma situacéo muito parecida se apresenta se trvermos uma equacdo envolvendo uma diviséo, como por exemplo x+4= 12 Multipliquemos os dois lados da equac4o por 4. Lere- mos x+4xX4=12X4 E claro que dividir por 4, e em seguida multiplicar o quociente por 4, da-nos de volta o x original, logo a equaca4o fica sendo x=12x4 (ou 48) 34 Como a diviséo anula 0 efeito da multiplicacdo, e vice-versa, as duas operacdes sfo operacées inversas, formando um par a maneira da soma e subtracao. Se vocé repassar o que foi feito até aqui neste capitulo, vai ver que, como no caso da soma e subtracao, 0 modo de operar com multiplicacdes e divisbes envolve o que parece uma passagem de niimeros de um lado para o outro da equacdo. Isso é tio semelhante 4 transposicaéo de que tratei no capitulo precedente, que eu chamarei essa passagem pelo mesmo nome. Esse novo tipo de transposigao ¢ da mesma forma uma abreviagao e nada mais. Lembre-se que o que de fato acontece é a multiplicacdo (ou divisAo) dos dois lados de uma equacéo por um mesmo numero. E, como antes, esta nova transposi¢éo muda uma operacdo no seu inverso: mul- tiplicagdo se transforma em divis&o, e divisfo se transforma em multiplicagdo. Usando simbolos literais, podemos fazer disso uma regra geral: Se xXa=6b entéo x =b+a E se x+a=b entao x =6bXa A proposito, com respeito 4 divisio os matematicos tém uma regra especial que é muito importante, e convém que eu fale dela agora. Essa regra veda absolutamente a divisio por zero. E facil de ver que dividir por zero nao tem sentido. Per- gunte a si mesmo o que é 5 + 0, ou 10 + 0, ou qualquer numero dividido por zero. E o mesmo que perguntar quantos zeros devemos reunir para chegar a 5, ou a 10, ou a qualquer numero. E o mesmo que perguntar quantas vezes é preciso 35 percebidos. E se os dois pontos sairem um pouco borrados, o sinal pode ficar muito semelhante ao sinal mais. Por isso, em algebra 0 usual ¢ indicar a divis&o escrevendo os dois simbolos juntos, com um traco entre eles. O traco tanto pode ser obliquo (barra) como horizontal. O trago horizontal, —, usado na divis&io pode se parecer ainda mais com o sinal menos do que o sinal comum de divisio, mas ha diferencas ca- pitais. O sinal menos fica entre dois ntimeros, um 4 esquerda, outro a direita, O traco horizontal de divis&o separa dois ni- meros colocados um sobre o outro, nao havendo assim qual- quer possibilidade de confusao. Portanto, x + 12 pode-se escrever x/12 ou tp Esses novos simbolos podem ser usados mesmo quando trabalha- mos s6 com numerais. Em vez de 48 + 4 podemos escrever 48 48/4 ou 4" Usando esse sistema para simbolizar as operacGes de mul- tiplicac&o e divisio, podemos escrever como segue as regras ge- rais para com elas trabalhar nas equac6es: Se ax = b . b entao x=- a . x Ese —=6 a entao x = ba Compare com as regras dadas a pagina 34 e vera que eu so mu- dei o sistema de indicar as operacGes, mais nada. Agora vou explicar uma coisa sobre multiplicag&o e divi- so que é semelhante a um ponto ja esclarecido com respeito a soma e subtracao. 38 Quando se multiplica um nimero por outro, nao importa qual deles se multiplica por qual. Assim, (6)(8) = 48 e(8)(6) = 48 também. Essa é uma regra geral, que se pode escrever ab = ba Segue-se que 4x = x4, mas embora essas duas expressdes tenham valores idénticos, os matematicos sempre escrevem 4x enunca x4. Nao é errado escrever x4; apenas nao se faz. E mais ou menos como se fosse uma espécie de etiqueta matematica, como nfo usar o garfo errado para comer salada, embora se possa perfeitamente comer salada com ele. Sempre que os matematicos, ou por sinal qualquer outro grupo de pessoas, adotam um determinado modo de fazer al- guma coisa quando outro modo serviria igualmente bem, estfo adotando uma ‘‘convencio’’. Por exemplo, qualquer letra, como g ou m, ou mesmo um sinal improvisado como + servi- ria para representar uma incognita, mas é convenc&o, no mun- do inteiro, usar x. Essas convencées nado sao de modo algum uma manifesta- cao de servilismo. SAo uma conveniéncia importante. Elas as- seguram que todos os matematicos, em todos os lugares, falem a mesma linguagem matematica. Seria um transtorno, uma perda de tempo e uma fonte de confus&o se um matemiatico ti- vesse dificuldade em entender o que outro escreveu s6 porque cada um usasse uma convencéo diferente. Quanto a divisio, aqui, como no caso da subtracdo, a or- dem dos nimeros faz diferenca. A expresséo ® tem o valor 5, enquanto a expresséo —- tem o valor —-. Podemos expressar 15 5 isso de modo geral dizendo que x ela alo 39 MANOBRANDO COM FRACOES Ao que parece, aqui esbarramos com fracées,* pois certa- 1 x Xin es ~ x mente expressdes como 75 ou ~— tém jeito de fragdes. E sfo fracdes mesmo. A solucdo de qualquer equacéo que envolva multiplica- cdo ou divisdéo muito provavelmente implicara em fazer apare- cer uma frac&o. As vezes a frac&io pode ser convertida num ‘‘namero inteiro’’? comum (também se diz simplesmente ‘‘in- teiro’’). Assim, neste mesmo capitulo nos ja encontramos a x. 48 . , ws fracao “qr que pode ser escrita como o nimero inteiro 12. Mas esse é um caso excepcional. Seja agora a equacio 4x = 47 Transpondo, temos x= 47 4 A fracao a nao pode se transformar num numero inteiro. O mais que se pode fazer é escrevé-la sob a forma ni. A uma frac&o também pode dar-se o nome de “‘razio’’, e é importante lembrar que nimeros inteiros sempre podem ser escritos em forma de fracdes, ou razdes. Onumero 12 pode ser : 12. 24 48 . , oe escrito como, ou, Ou]. Por isso, numeros inteiros e fra- * Neste livro vou supor que vocé saiba lidar com fragdes e nimeros decimais em aritmética comum. Se, por acaso, nao se sentir muito firme ou quiser re- passar os principios gerais, vocé podera folhear os-Capitulos 4 e 5 de O reino dos nuimeros. 40 ¢des, tanto positivos como negativos, sio agrupados como “‘niumeros racionais’’, isto €é, nimeros que podem ser expres- sos em forma de razGes, ou fracdes. Em algebra opera-se com fragdées do mesmo modo como na aritmética. Por exemplo, equacdes envolvendo soma e sub- trac&o de fracdes nada trazem de novo. Se n+25=6 entdo x=6- 25 (ows 5) Ese n-5=3 entao x=83 +5 (ous i) (Poderia ocorrer-lhe de repente que pelo sistema algébri- co de denotar multiplicacio, um namero como 3+ poderia significar 3 multiplicado por . Mas n&o é o caso. Em aritmé- tica, at significa 3 mais + ea algebra aceita isso como con- sagrado demais para mudar. Para escrever 3 multiplicado por 1 : oy ~ a “g sem usar 0 sinal de multiplicacéo, devemn-se usar parénte- . 1 ‘ : sow ses, assim: Bq). Quando se usam simbolos literais nfo é preciso esse cuidado, pois em aritmética comum nfo ha o que ‘ 1 =~. ee se possa confundir com xq: Esta expressdo, sim, significa x ar 1. ~ : multiplicado por “g» 80 que por conven¢cado, como vimos, es- 4) 1 sos creve-se sempre x. Para indicar uma soma, usa-se a notacdo -completa: x + +) Suponha agora que vocé se vé na conjuntura de multipli- car uma fracd4o. Ela pode surgir numa situac4o como esta. Vo- cé sabe que a sua parte numa certa venda importara em 2 do total. A venda é feita e vocé recebe $18. Dai vocé pode calcular a quanto mohtou 0 total da venda. Se vocé chamar de xo valor desconhecido do total da venda, entéo 4 dele € 18, ¢ vocé pode escrever a equacao zx = 18 Quanto ao passo seguinte, ha varios modos de proceder. Primeiro, qualquer fragAo multiplicada pela sua reciproca* é igual a 1. Por exemplo, (24) é igual a i que € igual a 1. Suponha, ent&éo, que multipliquemos os dois lados da equacao por 3, assim: 2 (5 5 (5)()* = «8 G) 5/\2 2 * A reciproca de uma fracdo é outra fragio em que o numerador e o : , 2,3 , denominador trocaram de lugar. Por exemplo, a reciproca de 3 é 7; areci- 5,14 . : , son . proca de 7g ¢ “5, e assim por diante. Mesmo os niimeros inteiros tém recipro- . 12 : 1 ' cas, pois como 12 pode ser escrito 7, sua reciproca é 7. E uma reciproca . . woe : , 1 pode ser escrita como um numero inteiro, pois a reciproca de 7, por exem- , . ‘ plo é +, que pode escrever-se simplesmente 7. 42 Como (24) é igual a 1, o lado esquerdo da equacio fica sendo simplesmente x, e calculando o lado direito por aritméti- ca comum, encontramos que x é igual a 45. Esse é 0 valor total : Regs , 2 x da venda, pois se vocé verificar, vera que = de 45 so, com efeito, 18. A regra geral para situagdes como essa é portanto que uma fracao envolvida numa multiplicagdo, quando transpos- ta, converte-se na sua reciproca, assim: Se @E =Cc entao X=Cl— a Pode parecer a vocé que nesse caso 0 que era uma multi- plicagao de fracéo continua sendo uma multiplicacdo de fra- cHo depois da transposico, em vez de converter-se na opera- cHo inversa. Ha uma explicac&o para isso. Na verdade, uma = a ae a expressio como (7,)* envolve uma multiplicacdo e uma divi- sao, ja que representa a multiplicado por xe em seguida o pro- duto dividido por b. (Se vocé tem duvida, experimente com uma expresséo formada de numerais, como por exemplo (HO, € veja se a resposta nao se obtém calculando 2 multipli- cado por 6 e em seguida o produto dividido por 3.) Quando a frag&o é transposta, a multiplicacfo se transforma em divisdoe a divisaio em multiplicacao. E por causa dessa dupla mudanga para o inverso que parece ndo haver mudanga. Isso pode ficar ainda mais claro se operarmos com a fra- cdo por partes. Como (2)x significa 2 multiplicado por x divi- 43 (+a)(+5) = +ab (—a)(+6) = —ab (+4)(—b) = —ab Isso nao esgota as variacdes possiveis. E se os numeros a multiplicar forem ambos negativos? Por exemplo, na equacao G3) 5 = -5, atransposicao mostra que x = (-5){-3). Qual é ago- ra o valor de x? Infelizmente, nfo ha um modo facil de perceber o sentido de uma multiplicacéo dessa espécie, de um negativo por um ne- gativo. Poderia representar uma divida de cinco dolares tida por cada uma de -3 pessoas, mas que diabo significaria -3 pes- soas? Em vez de tentar esse caminho, examinemos mais de perto as trés regras de multiplicacdo de sinais ja dadas. Observe que quando uma quantidade é multiplicada por um nimero positi- vo, 0 sinal do produto é o mesmo da quantidade original. Se +aémultiplicado por um numero positivo, o sinal do produto é +; ese-a é multiplicado por um nimero positivo, o sinal do produto é -. Parece razoavel supor que quando uma quantidade é mul- tiplicada por um numero negativo, o sinal do produto seja o in- verso do sinal da quantidade original. Nas trés regras, temos um caso em que + @é multiplicado por um nimero negativo e o sinal do produto é -. Sendo assim, quando -a@ é multiplicado por um niimero negativo, o sinal do produto deve ser +. Esta conclus4o mostrou-se satisfatoria para os matematicos, e as- sim podemos dizer que (—a)(—b) = +ab As regras de sinal que valem para a multiplicacaéo valem 46 para a divisdo. Isso pode ser demonstrado de varias maneiras; vou demonstra-lo utilizando as reciprocas. Da aritmética comum, sabemos que ” = 5eque (104) = 5, Vejaque ~ éareciproca de 2 (que, lembre-se, rue es- crever 4). Do mesmo modo, as expressoes “2 J 6 (I5)(—> 1) sao ambas iguais a3, e - éareciproca de 5. Visto isto, temos que >> da o mesmo resultado que (10 ). E25 em ambos os ca- (2 2 ) sos. Talvez vocé veja isso mais raciimente transformando as fracdes em decimais. A fracéo 2. é0,4,e>- 3 é2,5. Ora, tanto ao o como (10)(2,5) dio como resultado 25. Resumindo, vocé pode experimentar com qualquer nt- mero de casos semelhantes e sempre vai verificar que da na mesma dividir uma quantidade por um certo numero ou multi- plicar a quantidade pela reciproca do numero. De um modo ou de outro, o resultado é o mesmo. Generalizando: Oi Isso quer dizer que, assim como podemos sempre trans- formar uma subtrac&o em soma trocando o sinal do subtraen- do, podemos sempre transformar uma divisio em multiplica- cao tomando a reciproca do divisor. x (-15 oe , Se temos a express&o ce) que envolve a diviséo de um name- ro negativo por um positivo, podemos transforma-la em (-15) 47 (+), que envolve a multiplicac&o de um ntimero negativo por um positivo. Como, pela regra dos sinais, (-15(4) é igual a-3 (negativo vezes positivo igual a negativo), ent&io ce) também é igual a -3. Assim, a regra dos sinais tem de ser na divisdo a mesma da multiplicagfo. Caso contrario, chegariamos a um impasse, com dois resultados diferentes segundo o método usado para obté-los. Poderiamos chegar a +3 dividindo, ea -3 utilizando a regra da reciproca e multiplicando. Nesse caso a regra dos sinais seria ‘‘incongruente’’ coma regra da reciproca, e isso em matematica é um pecado mortal. Os matematicos sabem que tém de ser a todo custo ‘‘congruen- tes’’. Todas as suas regras tém de concordar entre si, nenhuma regra pode contradizer outra. Entao, a bem da congruéncia, a regra dos sinais na divisio pode ser expressa assim: a a F245 =a__2 b ta__a —b 0b —a a =e t5 48 4 Misturando as Operacées MAIS DE UMA Até aqui eu mantive as minhas equacGes tao simples quan- to possivel. N&o usei nenhuma expressdo que contivesse mais de um sinal mais ou de um sinal menos. Mas nao ha nenhu- ma regra que me obrigue a isso. Eu tenho completa liberdade de escrever uma expressio como x + 3 + 2 - 72, ou tao com- prida quanto queira. Cada elemento somado ou subtraido numa expressfo co- mo essa chama-se um ‘‘termo’’. Nao importa se o elemento é um simbolo numérico ou um simbolo literal. Na expressiio aci- ma, 72, 2, 3 e x séo todos eles termos. A uma expressao formada por um tinico termo da-se o no- me de ‘‘mondémio’’. (O prefixo mono vem do grego € significa ‘‘nico’’.) Expressdes com mais de um termo s&o designadas pela aplicacio do prefixo grego que representa o numero de termos contidos. Uma expressao com dois termos, como x+ 3, éum ‘‘bindmio’’, umacomox + 3 + 2éum “‘trindmio’’, uma como x + 3 + 2-72é@um “‘tetranémio’’, e assim por diante. No entanto, é habitual agrupar todas as expressdes contendo mais de um termo sob a denominacao de ‘‘polinédmios’’, em que o prefixo grego poli significa ‘‘muitos’’. Na aritmética comum, da-se pouca importancia ao nime- ro de termos de uma expressdo, ja que, somando ou subtrain- do, podemos reduzir todos a um termo so, Defrontando uma expressao como 17 + 5-16 + 12-3, étrabalho de um momen- 49 to (gracas a alguns anos de suados exercicios nas primeiras sé- ries escolares) converté-la no termo unico 15. Ja em algebra, onde nos vemos as voltas com termos lite- rais, as coisas nao so tao simples. Mas nem tudo esta perdido. Para comecar, pelo menos os termos numéricos podem ser convertidos num termo tinico. Aequagdox+34+2+5=17 + 4-9 pode ser transformada sem problemaem x + 10 = 12. Quanto a termos literais, quando existe mais de um numa determinada expresso, pode-se fazer alguma coisa quando se tem um so tipo de simbolo literal. E claro que se vocé esta dian- te de x + a, nfo ha como operar a soma antes de saber que quantidades x e a representam. Mas, se vocé tem x + x, nfo é preciso saber o que x representa. Para qualquer valor de x, x + x @2x. Isso deve ser expres- so como uma identidade: x + x = 2x, Do mesmo modo, 3x + 2x = 5x,e75x- 11x = 64x. Por isso, uma equac&o como 5x — 38x + 2x 114+ 12-7 reduz-se imediatamente a 4x = 16 Os termos 2x e 64x, e outros como eles, consistem de duas partes, uma numérica e outra literal. Habitualmente, os mate- maticos dao a parte numérica o nome de ‘‘coeficiente’’, termo usado pela primeira vez para esse fim por ninguém menos que Vieta, o pai da algebra. Simbolos literais também podem ser considerados coefi- cientes, de modo que no termo ax, aé 0 coeficiente. Considera- se que o coeficiente esta ligado 4 incOégnita sempre através de uma multiplicacfo, nunca de uma divisio. Um termo que en- volva divisfio tem de ser convertido em multiplicacéo pela re- gra das reciprocas antes que se possa dizer sem errar qual é 0 30 coeficiente. Por exemplo, > deve ser escrito (fx e ent&o se - . , 1 x vé que 0 coeficiente é > € nao 2. A propria express&o x pode ser considerada como tendo um coeficiente. Afinal, pode-se escrever 1x, do mesmo modo como de um livro pode dizer-se 1] livro. Portanto, o coeficiente de xé 1. Quando o coeficiente é 1, geralmente nds o omitimos. Ndio se escreve 2x- 1x = 1x; escreve-se 2x -x = x. Ainda assim o coeficiente existe, e nao deve ser esquecido, pois teremos ocasido de ocupar-nos dele antes de terminar o livro. Mas agora pode ocorrer-lhe um pensamento. Um termo como 2x envolve uma operacdo, a de multiplicacao. Uma ex- pressao como 2x + 3 envolve duas opera¢ées, uma multiplica- cAo e uma soma. E 2 vezes x mais 3. Quer dizer que temos trés termos? Da primeira vez que fa- lei de termos, eu os defini como elementos sendo somados ou subtraidos. E quanto a termos multiplicados ou divididos? Para responder a essas perguntas, temos de examinar um pouco mais essas operacoes algébricas. O QUE VEM PRIMEJRO? Ja sabemos que quando se somam duas quantidades, nao faz diferenca qual é somada a qual; ou seja, quea t+ b=dD+ a. Ese forem mais de duas as quantidades somadas? Se vocé fi- zer a experiéncia, vera que numa expresso como 8 + 5+ 30 resultado sera 16, qualquer que seja a ordem em que tome os numeros. Alias, vocé ja tem como evidente que em tais casos a or- dem é diferente. Ao somar uma coluna de nimeros de cima pa- ra baixo, vocé sabe que pode conferir o resultado repetindo a soma de baixo para cima. Vocé tem a conviccao de obter o mesmo resultado dos dois modos, desde que n&o tenha cometi- do nenhum erro de conta, embora invertendo a ordem da se- gunda vez. 51 Visto isto, a ordem também ndo importa no caso de sub- tragdes, ou de somas e subtragdes combinadas, desde que to- das as subtracdes sejam convertidas em somas mediante 0 uso de nimeros negativos, de acordo com o método exposto no Capitulo 2. Assim, embora 6-3 + 3-6, também é verdade que 6 + (-3) = (-3) + 6. A mesma linha de raciocinio aplica-se a multiplicacdes e divisdes. Experimente calcular expressSes como (8)(4)(2) e compare o resultado com o obtido em (4)(8)(2), (4)(2)(8), (8)(2)(4), (2)(4)(8) e (2)(8)(4). Em todos os casos sera 64. Se considerarmos divisdes, ou combinacdes de multiplicacdes e divisdes, vale o mesmo principio. A ordem éindiferente, desde que as divisdes sejam convertidas em multiplicacdes pelo uso das reciprocas, de acordo com o método exposto no Capitulo 3. Assim, embora > # 4, também é verdade que Az) = (ax. A regra geral é que é indiferente a ordem em que se efe- tuam as operacGdes quando estas séio so de soma ou so de multi- plicacHo. A pergunta seguinte é: E quando uma expressdo contém n&o somente somas nem somente multiplicacdes, mas ambas as operacées? Tomemos 0 caso mais simples, uma expresso que envol- va uma multiplicagdo e uma soma, e para comecar usemos sim- bolos numéricos somente. Para tornar as coisas tao claras quanto possivel, voltarei provisoriamente a usar o sinal de multiplicacdo. Tomemos como exemplo a expressiio 5 x 2 + 3. Se efe- tuarmos as operacdes da esquerda para a direita, teremos que 5 x2é10, eque 10 + 3€13. Poderiamos querer verificar a res- posta pelo mesmo método que usamos para conferir a soma de uma coluna de numeros: isto é, fazendo as contas de tras para 52 diante para ver se chegamos ao mesmo resultado. Ora, calcula- do de tras para diante,3 + 2@5,e5 x 5@25. As respostas nao sao iguais, pois a expressdo da 13 num sentido e 25 no outro. Nao houve erro de conta, e nao podemos aceitar que a resposta mude pela simples variac&o do método aplicado a soluc&o de um problema. Seria uma incongruéncia. Eimportante estabelecer um sistema que evite que isso aconte- ca. O sistema hoje empregado (introduzido por volta de 1600) é pdr entre parénteses as operacdes a serem efetuadas primeiro. A expresso 5 x 2 + 3 poderia ser escrita, por exem- plo, (5 x 2) + 3, indicando que a primeira operacdo é a multi- plicacg&o, de modo que a expresso passa a ser 10 + 3 (os pa- rénteses desaparecem depois de efetuada a operacfo), ou seja, 13. Se, em vez disso, a expressdo é escrita5 x (2 + 3), comegca- se pela soma, e a expressdo fica sendo 5 x 5, ou seja, 25. Agora nao ha incongruéncia. Em vez de uma unica ex- pressio, temos duas expressGes, que, gracas aos parénteses, podem ser escritas de modo diferente. Cada expressfio tem uma tinica resposta possivel. Expressdes muito complicadas, incluindo muitas somas e multiplicagSes, podem ser manipuladas com a colocacio de parénteses dentro de parénteses. A bem da clareza, é costume usar parénteses de formas diferentes, mas todos tem a mesma funcg&o. A convencao é comecar efetuando as operacées conti- das nos parénteses mais internos e prosseguir em ordem de dentro para fora. Se tivermos a expressao {i4-+ 6 x5) ~ 1a] x4xq O paréntese mais interno contém a express&o 6 x 5, portanto esta é a primeira operacdo a efetuar. Da 30 e, eliminados os pa- rénteses, resta 53 {i4-+ 30-12) x4 x 74 O paréntese mais interno dos que ficaram contém a ex- pressio 4 + 30 - 12. Ela envolve apenas soma e subtracdo, e nao é grande facanha reduzi-la a 22; com isso sobra 1 [22 x 4 x Gf Agora so temos multiplicacdes, e o valor final de toda a expres- sdo inicial é portanto 8. Quando sé ha simbolos numéricos envolvidos, é facil eli- minar os parénteses efetuando as operacées indicadas dentro deles. Em algebra, com seus simbolos literais, os parénteses ndo sao tao facilmente eliminados. E por isso que a questo dos parénteses ¢ mais importante na algebra do que na aritmé- tica, e que dificilmente vocé depara com parénteses antes de comecar a estudar algebra. Entretanto, aplica-se a simbolos literais o mesmo sistema que se aplica aos simbolos numéricos. Nao ha nada de novo ou complicado. Vejamos a expressio 6 x »* + 3. Se quisermos -que seja efetuada primeiro a multiplicagao, escrevemos (6 x x) + 3; ese quisermos que seja efetuada primeiro a soma, escre- vemos 6 X (x + 3). Como vocé ja sabe, em expressdes algébricas o sinal de multiplicacdo é geralmente omitido. As duas expressGes dadas podem ser escritas mais simplesmente (6x) + 3 quando quere- mos indicar que a multiplicag&o deve ser efetuada primeiro, e 6(x + 3) quando a soma deve ser efetuada primeiro. Mas, como sempre, os matematicos omitem simbolos sempre que possivel. Na expressdo 6x, os dois simbolos est&o t&o estreitamente unidos entre si que é desnecessario uni-los ainda mais por meio de parénteses. Os parénteses ficam suben- tendidos, e a expresso (6x) + 3 escreve-se simplesmente 6x + 3; 54 do mesmo modo como + 5 se escreve simplesmente 5, e 1x se escreve simplesmente x. No entanto, isso torna tanto mais importante lembrar-se de usar os parénteses assim, 6(x + 3), quando se quer que a so- ma seja efetuada primeiro. Se a expressdo é escrita simples- mente 6x + 3, entende-se automaticamente que os parénteses (embora invisiveis) encerram 0 6x. O mesmo vale para a divisdo. Se tivermos a expressdo 6 + x- 1, podemos escrevé-la ou (6 + x) - 1, ou 6 + (x- 1), depen- dendo de querermos que ov a divisaéo ou a subtracao seja efe- tuada primeiro. A maneira algébrica de escrever essas duas ex- ~ . 6 6 oo. pressOes deveria ser () -l,ou C1" No primeiro caso, en- tretanto, o6e 0 x também aqui esto t&o estreitamente unidos que oS parénteses sio omitidos por desnecessarios, e a expres- mA . : 6 sao é escrita simplesmente x" 1. Quanto 4 expressdo wep Os parénteses podem ser dis- pensados porque 0 traco estende-se de modo a cobrir toda a ex- pressdo x - 1, assim: -o-. Agora temos a nossa resposta para o que constitui um ter- mo. Toda expressao que nao inclui uma operac4o, como x ou 75, @um termo. Além disso, toda express&o que inclui uma ou mais operacdes mas é encerrada entre parénteses ¢ um termo. Assim, x- 1 é uma expressdo formada de dois termos, mas (x - 1) forma um tnico termo. E importante lembrar que multiplicacdes e divisdes sAo consideradas como se estivessem entre parénteses, ainda que esses parénteses nao sejam marcados. Assim, 6x é€ um termo ro 6, nos unico, ¢ ~~ € um termo unico. 55 TRANSPONDO PELA ORDEM Agora podemos falar de equacGes que envolvam multipli- cacéio e soma, como por exemplo 6x + 3 = 21 Aqui nos vemos diante de uma divida. Se a equacdo fosse simplesmente x + 3 = 21, nao haveria problema. Por transpo- si¢éo teriamos x = 21-3, e vemos de imediato que x seria igual al8. Se, por outro lado, a equac&o fosse simplesmente 6x = 21, a transposi¢ao daria x = a ou 34. Mas a equac&o 6x + 3 = 21 envolve uma multiplicacio e uma soma, e surge o problema de qual transposicao fazer pri- meiro. Se transpusermos primeiro a soma e depois a multipli- cacao, teremos: 6x + 3 = 21 6x = 21-8 (ou 18) x = = (ou3) Mas se transpusermos primeiro a multiplicacdo e depois a soma: 64 + 3 = 21 21 1 xr+3= — (ou35) 1 1 x = 385-3 (ou5) 56 Ora, se a mesma equacéo nos da duas respostas diferentes segundo o método que usamos para resolvé-la, estamos diante de uma incongruéncia, que deve ser suprimida. Um dos dois métodos deve ser impugnado. Para saber qual o método a ve- tar, voltemos aos nossos parénteses. Lembre-se que em algebra uma multiplicacio é sempre entendida como se estivesse entre parénteses. A expresso 6x + 3 poderia ser mais claramente escrita (6x) + 3, 0 que signifi- ca que é preciso obter um valor numérico para 6x antes que possamos somar-lhe 3. Mas nfo podemos obter um valor nu- mérico para 6x porque nfo sabemos quanto x representa. Portanto, a unica coisa que podemos fazer é deixar a ex- pressao 6x como esta e abster-nos de parti-la enquanto houver uma operacdo de soma na equac4o. Transpor o 6 seria parti-la, logo nao pode ser feito. Ent&o, podemos dar uma regra geral. Quando um lado da equacao consiste de mais um termo, s6 podemos transpor ter- mos completos. Quando, poreém, um lado da equac4o consistir de um tinico termo, partes desse termo podem ser transpostas. Examinando outra vez a equacio 6x +3 = 21 vemos que 6x + 3 contém dois termos. O numero 3 é por si mesmo um termo completo e pode ser transposto. O nimero 6, porém, @ apenas uma parte do termo 6x e nfo pode ser trans- posto enquanto existir mais de um termo. Portanto, transpomos o 3, o que nos da 6x = 18. Agora 6x é 0 tinico termo do seu lado da equacdo, e o 6 pode ser trans- posto. A resposta €x = 3, eéa tinica resposta. Manipular a e- quac&o do outro modo, que resultaem x = + transgride as regras da transposicéo. Se, por outro lado, tivéssemos a equacdo 6(x + 3) = 21 57 6(x + 3), do lado esquerdo da equacdo, € um termo tnico. Quer dizer que podemos transpor o 6 ou 0 3, a vontade? Bem, lembre-se de que a express4o, incluindo uma multiplicacio, se comporta como se estivesse escrita assim: [6x + 3)] . Isso in- dica, como vocé deve estar lembrado, que a operac&o dentro do paréntese mais interno, no caso x + 3, deve ser efetuada primeiro. Como essa operacao, por envolver um simbolo lite- ral, néo pode ser efetuada agora, o jeito é deixa-la como esta até segunda ordem. Em outras palavras, se as operacoes se efe- tuam dos parénteses mais internos para fora, as transposicdes devem efetuar-se dos mais externos para dentro. Assim, transpomos primeiro o 6, que esta no paréntese mais externo, e temos n+3a=% (cu35) Agora, tendo restado apenas o paréntese mais interno (sem os parénteses, ja que é de habito omiti-los quando encer- ram uma expresséo completa), podemos transpor o 3: 1 1 x= 35-3 (ous) Guardando estas duas regras: (1) Existindo mais de um termo, s6 transpor termos com- pletos; (2) Existindo um s6 termo, efetuar as transposicdes do paréntese mais externo para dentro; vocé chegara a unica soluc&o possivel da equacdo. Alias, ¢ para O que servem as regras: para assegurar que se chegue a uma so- lucdo unica, eliminando a possibilidade de entrar por cami- nhos errados e cair numa incongruéncia. Aesta altura, é bem possivel que vocé esteja com a impres- sio de que resolver equacées exige longas reflexdes, contando 58 termos e localizando parénteses. Na verdade, acredite ou nao, a coisa nfo é assim. Uma vez habituado a manipular equacdes, vocé pega 0 jeito de quais transposicGes vém antes de quais. A coisa toda torna-se tao mecdnica e automatica que vocé nem precisa parar para pensar. E claro que a tinica maneira de chegar a esse feliz estado de coisas é resolver uma porcdo de equacées. E a pratica que leva a perfeicéo na manipulacdo de equacSes, como na mani- pulacdo de um teclado de piano. E por isso que os livros escolares de algebra bombar- deiam o aluno com centenas de equacées para resolver. Po- de ser dificil para o aluno dar-se conta do porqué de tao in- findaveis exercicios enquanto a eles submetido, mas é como os exercicos de dedilhacao ao piano. No fim compensa. E, é evidente, quanto melhor vocé entender o que esta fa- zendo e por qué, tanto mais depressa tera a recompensa. 59 5 De Tras para Diante! LA COMO CA Até aqui, tivemos simbolos literais envolvidos em opera- cdes algébricas sO de um lado da equac&o. Nao ha qualquer motivo para as coisas serem tao restritas. Simbolos literais po- dem estar presentes dos dois lados. Os x podem estar tanto 1a como ca, por assim dizer. Vejamos um exemplo do tipo de problema que da origem a uma duplicac&o como essa. Suponha que Joao tem um certo numero de livros, e José tem o dobro desse ntmero. Joao com- pra cinco livros para acrescentar ao seu acervo, e José compra so um. Depois disso eles passam a ter 0 mesmo namero de li- vros. Quantos livros tinha cada um inicialmente? Eu comecei informando que ‘‘ Jofio tem um certo numero de livros’’, portanto chamemos esse ‘‘certo nimero’’ de x. Jo- sé tem o dobro, isto é, 2x. Joao compra cinco livros, totalizan- do x + 5; e José compra um totalizando 2x + 1. Eles acabam com o mesmo nimero, portanto 2e+il=x+5 De imediato, isso levanta uma questéo. Enquanto eu me limitei a ter simbolos literais de um sé lado da equagao, pode ter parecido natural té-los do lado esquerdo. Agora que temos simbolos literais dos dois lados, qual ou quais devem ficar a es- querda? Eu nao poderia ter escrito a equac&o assim? +5 = 2xe+1 60 E se tivesse, faria alguma diferenca? ie+1l=xt+5 Talvez nem lhe tenha ocorrido essa pergunta. E claro que, se3 + 3 = 6,6 = 3 + 3. O modo como escrevemos nao pode mudar isso, nfo € mesmo? Ou, se quisermos fixar uma regra geral, podemos dizer que se a = b, entdo b = a. Isso pertence a categoria de coisas que se consideram ‘‘Ob- vias’ ou ‘‘evidentes por si’’. Que todo o mundo aceita sem questionar. Uma proposic&o como essa, evidente por si e acei- ta por todos, tem o nome de ‘‘axioma’’. Neste livro eu ja usei alguns. Por exemplo, a afirmac&o que fiz no Capitulo 2, de que se pode somar uma mesma quantidade aos dois lados de uma equacdo e continuar tendo uma equacao, € outro exemplo de axioma. Poderia ser posto em palavras diferentes, dizendo-se que ‘“‘iguais somados a iguais séo iguais’’. Ou poderia expressar-se em forma de equacGes gerais, assim: Sea = b, en- tdioat+c=bic« Talvez vocé esteja a perguntar-se por que a preocupacao especial com axiomas, se todo o mundo os aceita. Por estranho que pareca, ate 1900 mais ou menos os matematicos nao da- vam muita atencfo aos axiomas que usavam, mas entéo levan- taram-se questdes sobre até que ponto o sistema matematico era efetivamente fundamentado na logica. 61 Matematicos como o italiano Giuseppe Peano e 0 alemao David Hilbert corrigiram essa situacdo arrolando cuidadosa- mente todos os axiomas de que faziam uso. Em seguida dedu- ziram todas as regras e proposicées da algebra a partir exclusi- vamente desses axiomas. E claro que neste livro eu nado estou me propondo fazer nada parecido, mas é bom que se saiba que pode ser feito. (Ademais, os matematicos passaram a conside- rar os axiomas simplesmente como os principios basicos de qualquer sistema de pensamento ordenado, sem mais se preo- cupar se eram ‘‘Obvios’’ ou nado. Na verdade, alguns axiomas nao sdo nada Obvios.) Voltemos 4 equacdo Qn+1=x4+5 Uma coisa que podemos fazer é transpor o 1 do lado es- querdo da equac4o para o direito, exatamente como temos fei- to sempre. Mas suponha que por algum motivo quiséssemos em vez disso transpor 0 5 do lado direito para o esquerdo, mu- dando a operacio para o seu inverso, de modo que a equaciio ficaria 2x+1-5= Ve- . 5 ee ] fg g jaque 75 ¢ iguala a queéa reciproca de2. Em outras palavras (e vocé pode verificar experimentan- do outros exemplos), uma equac&o permanece inalterada se tomarmos as reciprocas de ambos os lados da equacfo. Em ex- pressGes gerais: (em que nem a, nem J, nem c, c Se d nem d podem ser zero) d c aia 1 ll entao Portanto, a equacado 10 x-57? pode ser transformada em x—5 10 ou re e pelas transposicdes apropriadas 2-5 = () (10) (ou) x=2+5 (or 7) A solucdo é, como antes, x igual a 7. 73 O PROBLEMA DAS FRACOES Mas a regra das reciprocas expée o principiante a uma ar- madilha em que é muito facil cair — uma armadilha muito se- dutora mas fatal. Seja a equacio 1 1 bn + 3x =i Qx 5 Pensando naregra das reciprocas, vocé poderia ser levado a to- mar as reciprocas de todas as fracdes envolvidas, passando a equac&o para a forma 2x + 3x = 5, que em seguida se reduza 5x = 5,epor transposicio ax = 2 oul. 5 Mas, substituindo por 1 o x da equacdo primitiva, vocé —l , 1 1, td, tet encontra que (HM) + (3)(1) = 5 ,»ou 4 + 3 5 »oque nao éuma equacdo verdadeira, pois de fato > + + = =. Onde esta o erro? Se vocé experimentasse com diversas equac6es, veria que a regra das reciprocas so funciona quando se toma a reciproca de cada lado da equacdo como um todo, e nfo como partes dis- tintas. Em outras palavras, se cada lado da equacao for um mondmio, pode-se tomar a reciproca de cada lado da equacao e esta permanecera inalterada. Contudo, se um ou os dois la- dos forem polinémios, tomar a reciproca de cada termo sepa- radamente quase inevitavelmente reduz a equacdo a um absur- do. O que fazer entéo se nos temos de haver com um binémio, como no lado esquerdo da equacdo + ll On| bet Pe #| 74 Evidentemente, o que tem de ser feito, se quisermos aplicar a regra das reciprocas, é converter o binédmio, num termo unico. E isso significa que nos defrontamos com o problema da soma de fracées. Felizmente, essa matéria se apresenta na aritmética co- mum, e nela é tratada de forma completa. As mesmas regras deduzidas na aritmética aplicam-se em algebra, portanto tudo que precisamos é refrescar rapidamente a memoria. Para comegar, nao ha problema quando se trata de somar fracdes do mesmo denominador. Nesse caso, basta somar os numeradores e deixar o denominador como esta. Assim, 2 mais 2 éiguala —- u ei mais —— 34 éiguala— 20 3 3°° 19 19 19° Para somar fracées com denominadores diferentes, é pre- ciso dar um jeito de transforma-las em fracées do mesmo de- nominador, ou vocé fica em sinuca. E isso, é claro, tem de ser feito sem mudar o valor das fracGes. Ora, toda frac&o pode ser transformada na forma sem mudanga de valor se o numerador e o denominador forem multiplicados por um mesmo numero. Assim, se vocé multipli- ca a fracio > em cima e embaixo, por 2, fica tendo 4; se multiplica em cima e embaixo por 3, tem 3; ; se multiplica em cima e embaixo por 15, tem3> > 0 valor nfo muda, ainda quea . . a sas 2; 1 forma sim, pois vocé sabe da sua aritmética que 4° iguala—, eque 3 e 15 também so iguais a i ae"6 30 2° Agora vejamos a equacdo que nos criou problemas no ini- cio deste paragrafo. Ol 1 1 On + 3x7 75 Rl + It I our ou mle ou eS que, evidentemente, é uma equacdo verdadeira, e mostra que desta vez encontramos a solucao correta. 78 7 Dentro e Fora dos Parénteses ELIMINANDO OS PARENTESES Estou certo de que a esta altura vocé esta perfeitamente convencido da utilidade dos parénteses para resolver uma equacdo sem confusdes. Entretanto, ha ocasides em que os pa- rénteses sao decididamente um tropeco. Vou dar-lhe um exem- plo. Imagine dois retaéngulos de altura conhecida, ambos com 5 metros de altura. Mas vocé nao sabe exatamente as larguras; sabe apenas que um dos retangulos é3 metros mais largo que o outro. Sabe também que a area total dos dois retangulos soma- dos éde 35 metros quadrados. Pergunta-se: Quais sfo as largu- ras dos retaéngulos? Para determinar a area de um retangulo, multiplica-se a largura pela altura. Isto é, a area de um retangulo de 17 metros de largura e 12 metros de altura ¢ 17 vezes 12, ou 204 metros quadrados.* Entendido isso, ataquemos o problema e comecemos cha- mando de x metros a largura do retangulo mais estreito. O ou- tro retangulo, que é 3 metros mais largo, tera naturalmente x + 3 metros de largura. Em cada caso, a largura deve ser * Aqui eu poderia fazer uma interrupc4o e analisar o fato de que a larguraea altura de um quadrilatero sendo medidas em metros, a area sera medida em metros quadrados, mas isso me afastaria muito do tema principal do livro. Se vocé nao estiver muito em dia com o assunto e quiser se enfronhar um pouco mais, podera encontra-lo (além de outros aspectos relativos a medidas) no meu livro O reino das medidas. 79 multiplicada pela altura (5 metros) para se ter a area. Portanto, a area do reténgulo mais estreito é 5x metros quadrados, eado outro é 5(x + 3) metros quadrados. Como a soma das areas € 35 metros quadrados, podemos escrever B(x + 3) + 5x = 35 (N&o precisamos escrever ‘‘metros’’ e ‘‘metros quadrados”’ numa equacdo como essa, porque em algebra comum s6 lida- mos com quantidades. Entretanto, é preciso ter sempre em mente as ‘“‘unidades de medida’’ devidas.) Numa equacéio como essa, como tiramos o valor de x? Nosso impulso natural é fazer com que o x fique sozinho de um lado da equac4o, e todos os simbolos numéricos do outro, mas como fazer isso com os parénteses barrando o caminho? Podemos transpor o 5x, depois 0 5, depois o 3, de modo que a equacéio tomara as seguintes formas: B(x + 3) = 35 — ox e+3=207& 5 85 — 5x 5 Agora temos um x sozinho do lado esquerdo da equacfo, mas, ai de nos, também temos um simbolo literal do lado direi- to. Para voltar com o 5x para o lado esquerdo, temos de trans- por primeiro o 3, depois 0 5, e s6 entéio 0 5x, e estamos de novo onde comecamos. N§&o, se quisermos chegar a algum lugar, temos de livrar- nos dos parénteses, que nos impedem de combinar o x dentro deles com o 5x de fora num unico termo. Mas como fazer isso? 3 80 Vamos examinar com atencfo o termo 5(x + 3) e pergun- tar-nos 0 que fariamos se s6 tivéssemos simbolos numéricos. Suponhamos que em lugar dele tivéssemos o termo 5(2 + 3). Nesse caso, € claro, néo haveria problema, pois 2 + 3 éiguala 5, donde podemos mudar a expresso para (5)(5) e ter de pron- to a resposta, 25. Mas nao podemos combinar xe 3, como podemos combi- nar 2 e 3; entféo devemos perguntar-nos: Como calcular o valor da expressdo 5(2 + 3) se, por algum motivo, féssemos proibi- dos de combinar 0 2 e 0 3? O mais natural, me parece, € experimentar multiplicar ca- da ntimero dentro do paréntese por 5. Isso nos da (5){2) ou 10, e(5)(3) ou 15, e, pensando bem, 10 + 15€25. Vocé pode expe- rimentar com qualquer combinacao de niimeros e vai ver que da certo. Assim, 6(10 + 5 + 1) €(6)(16) ou 96. Mas multipli- cando o 6 por cada numero dentro do paréntese separadamen- te, tem-se (6)(10) ou 60, (6)(5) ou 30 e (6)(1) ou 6; e somando os produtos, tem-se 60 + 30 + 6, que também da 96. Usando simbolos gerais, podemos dizer que a(b +c) =ab + ac ab+ac=a(b+c) Ent&o nao ha divida que podemos transformar 5(x + 3) 81 em (5)(x) + (5)(3) ou 5x + 15. Agora a equac&o primitiva teria a forma 5x + 15 + 5x = 85 Eu mantive os parénteses apenas para mostrar-lhe que n@o es- queci a existéncia deles, mas como sO temos somas, e a ordem em que se soma é indiferente, podemos muito bem abandona- los: (5% + 15) + 5x = 35 Agora estamos livres para somar os dois termos que con- tém x e proceder as transposicdes: 10x + 15 = 35 10x = 35 — 15 (ou 20) x = 20/10 (ou2) Se substituirmos x por 2 na equacdo primitiva, teremos 5(2 + 3) + (5)(2) = 35 25+ 10 = 35 e, como vocé vé, esta tudo em ordem. Portanto, dos retaéngulos de que falei no principio do ca- pitulo, um tem 2 metros de largura, e o outro (que € 3 metros mais largo) tem 5 metros de largura. A area do primeiro é 2 ve- zes 5 ou 10 metros quadrados; a do segundo é 5 vezes 5 ou 25 metros quadrados; logo, a area total é de fato 35 metros qua- drados, como especificado no problema. 82 SUBTRAGAO E PARENTESES Agora temos pela frente outra possivel armadilha. No pa- ragrafo precedente, eu eliminei os parénteses dizendo sucinta- mente que sO havia somas envolvidas. Sera que isso se justifi- ca? Vamos experimentar com uma expresséo contendo apenas simbolos numéricos, como7 + 4(2 + 6). Para encontrar o seu valor, primeiro combinamos os nimeros dentro do paréntese obtendo 8, ea expressao fica7 + (4)(8). Multiplicando primei- ro, temos 7 + 32 ou 39, Comecemos de novo e eliminemos os parénteses, com 0 que teremos 7 + (4)(2) + (4)(6), ou 7 + 8 + 24. A resposta, como vé, continua sendo 39, Até aqui, tudo bem; mas agora facamos a coisa um pouco diferente e consideremos esta expresséio: 7 — 4(2 + 6). Combi- nando primeiro os numeros dentro do paréntese, teremos 7 — (4)(8), ou 7 — 32, ou -25 como valor da expressdo. No entanto, se eliminarmos os parénteses exatamente co- mo antes, teremos 7 — (4)(2) + (4)(6), ou7 — 8 + 24, ou +23. Estamos em face de uma incongruéncia, pois ha duas respos- tas, -25 e +23. Onde esta o erro? Evidentemente, foi o sinal menos que criou um caso. Por- tanto, vamos elimina-lo e transforma-lo num sinal mais. Isso pode ser feito, pois vocé deve lembrar-se de que ha muito nos concluimos que a —b pode escrever-se a + (-b). Entdo, em vez de escrever a expressdo como 7 — 4(2 + 6), vamos escrevé-la como 7 + (-4)(2 + 6). Esta vendo o que fize- mos? Para eliminar os parénteses, teremos de multiplicar cada numero dentro do paréntese no por 4, mas por -4, eisso impli- ca uma troca de sinais. A expressao torna-se 7 + (-4)(2) + (-4)(6), ou 7 + (-8) + (-24). Ecomo a + (-b) pode ser escrito a — b, a express&o pode ser escrita 7 —8 — 24, ou -25. Agora repare bem. Quando vocé partiu da expresso 7 + 4(2 + 6), chegou, eliminando os parénteses, a7 + 8 + 24. Mas 83 quando partiu da expressio 7 — 4(2+6), chegou, eliminando os parénteses, a7 — 8 — 24. Os sinais dentro do paréntese fo- ram trocados! Isso também vale quando uma expresso entre parénteses ésimplesmente subtraida, sem nenhum numero visivel do lado de fora deles, como no caso de5 — (2+3). Se vocé combina os numeros dentro do paréntese, o valor da expresso é5 — 5, ou 0. Se, porém, vocé tenta simplesmente tirar os parénteses, fica 5 —2 + 3, queda6. Em vez disso, considere a expressaéo como 5 — 12 + 3), que éo que ela realmente é, ja que 1 vezes qual- quer expresso é equivalente a propria expressio. Isso pode escrever-se também 5 + (-1)(2 + 3), e, elimi- nando os parénteses, teremos 5 + (-1)(2) + (-1)(3), ou5 + (-2) + (-3), ou’S — 2 — 3, que da zero, como devia. Podemos estabelecer regras gerais como segue: a — bic +d) =a — bc — bd a — bec —d) =a — be+ bd a — b(—c — d) =a+ bc+ bd e assim por diante. Generalizando, isso vem a dar em que quando se tem um sinal menos antes de um paréntese, todos os sinais positivos dentro dele devem ser trocados por negativos, e todos os nega- tivos por positivos, quando os parénteses sao eliminados. Na escola, o aluno é obrigado a fazer interminaveis exercicios para aprender a fazer isso automaticamente. Agora que vocé sabe a razdo da inverso de sinais, nao lhe sera dificil lembrar-se — espero. DECOMPONDO FRACOES Agora, nao va pensar que parénteses tém sempre de ser eli- minados a todo custo, do instante em que vocé da com eles. As 84 vezes, vocé sabe, é util contar com eles. Alias, ha ocasides em que vocé pode tornar as coisas mais faceis colocando parénte- ses numa expressdo em que antes néo havia nenhum., Para ver como isso pode acontecer, Comecemos por exa- Ro minar a fracaéo 10° Como o valor de uma frac&o nfo se altera quando o nu- merador e denominador sAo multiplicados ou divididos pela mesma quantidade, pode-se dividir 2 em cima e embaixo, : ~. 1 bt ngs . por 2, e obtém-se a fracdo >" Isso @ aritmética comum, e ja deve ser para vocé uma segunda natureza, de modo que a um 1 ; - 2d ane 3 signala simples olhar vocé sabe que 19 © igual a 5 que D éiguala 3° que i éiguala 4. 23 igual ay e assim por diante. Quando, dividindo uma frac&o, em cima e embaixo, vocé chega 4 menor combinac4o possivel de nimeros inteiros que conserva 0 seu valor, a fracio foi ‘‘reduzida aos termos mais simples’’, ou ‘‘simplificada’’. Por exemplo, a fracao * nado esta reduzida aos termos mais simples, mas a fracaéo equivalen- 2 te 3 sium. Agora, sejamos um pouco mais sistematicos com respeito a simplificacao de fracdes. Um nimero pode ser decomposto em dois ou mais niimeros menores que, multiplicados, dio co- mo produto o numero primitivo. Os nimeros menores assim obtidos chamam-se ‘‘fatores’’, e o nimero primitivo expresso como produto de nimeros menores diz-se ‘‘fatorado’’. Por exemplo, pode-se fatorar 10 escrevendo (5)(2). En- t&o, 5 e 2 so fatores de 10. Pode-se fatorar 12 em (4)(3), ou 85 (2)(6), ou (2)(2)(3). Em certos casos pode até ser conveniente escrever 10 na forma (1)(10) ou 12 na forma (1)(12).* Suponhamos agora que o numerador e o denominador de uma fragao sejam fatorados, e se verifique que pelo menos um fator do numerador é igual a um fator do denominador. Por exemplo, a frac&o i pode ser escrita ey: Se dividirmos o 7 numérador e o denominador por 7, teremos Oo: que é (7) igual a Gy ou a Em vez de tudo isso, o aluno aprende simplesmente a cortar todo fator que apareca em cima e embai- xo. Os 7 sdo ‘‘cancelados’’, e por conseqiiéncia a fracéo é sim- plificada, como vocé aprendeu a fazer em arimética. Mas é importante lembrar que 0 cancelamento é simples- mente uma operacdo abreviada, e que o que vocé realmente es- ta fazendo é dividir o numerador e o denominador por nime- ros iguais. Cancelar estabanadamente pode levar a uma arma- dilha, e nunca sera demais, em casos duvidosos, voltar a divi- dir as duas partes da fracdo para ter a seguranca de estar fazen- do a coisa certa. Se o numerador e o denominador nao tém nenhum fator em comum além de 1, nada pode ser cancelado, ea fracao ja es- ta reduzida aos termos mais simples. Assim, a fragio x pode * Em muitos casos, um numero s6 pode ser expresso como ele mesmo vezes 1, sem nenhuma outra forma possivel de fatoragéo. Por exemplo, 5 pode ser escrito como (5)(1), 13 como (13)(1), 17 como (17)(1), e de nenhum outro modo. Nimeros assim chamam-se ‘‘nimeros primos’’. Ao fatorar um ‘“‘nt- mero miultiplo”’, isto é, néo primo, muitas vezes é conveniente fatora-lo em nameros primos. Por exemplo, 210 pode ser fatorado em (10)(21), ou em (70)(3), ou de varios outros modos, mas se vocé o reduz a numeros primos, 210 é igual a (2)(3)(5)(7). E um teorema importante do ramo da matematica chamado “‘teoria dos numeros’’ que um nimero miltiplo s6 pode ser dividi- do em fatores primos de um unico modo. 86 ser escrita BG) Aqui nio ha o que cancelar, e a fracdo esta (2)(11) na forma mais simples possivel. Entretanto, para ter certeza de que uma fracfo esta nos termos mais simples, é preciso assegurar-se de que o numera- dor e o denominador tenham sido fatorados até onde possivel. Suponhamos a fracio a Como 24 pode ser fatorado em (8)(3) e 30 pode ser fatorado em (6)(5), a equac4o pode escrever-se ey . Parece nao haver fatores em comum — mas espere. Afinal, 8 pode ser fatorado em (2)(2)(2), e6 pode ser fatorado em (2)(3). Em vez de escrever 24 como (8)(3), vamos escrever (2)(2)(2)(3), e em vez de escrever 30 como (6)(5), vamos escre- (2)(2)(2)(3) epo- (2(3)(5) *“P demos cancelar 0 3 e um dos 2. A fracdo se transforma em LQ) oy 4 5 5" Como nfo ha mais fatores comuns, a fragfo esta nos termos mais simples. Agora um aviso contra uma armadilha. Depois que aprende a cancelar, o aluno costuma ficar tao ansioso por fazé- lo que muito freqiientemente o faz onde as regras nfo permi- tem. Lembre-se que cancelamento subentende fatores, e que fatores subentendem multiplicac&io. Pode-se decompor um niimero em niimeros menores que déo o nimero primitivo por soma, como, por exemplo, 13 pode ser decomposto em 7:+ 6. Mas 7 e 6 ndo sao fatores de 13, e nao podem ser objeto de can- celamento, ver (2)(3)(5). Agoraa frac4o pode escrever-se Suponhamos que vocé se veja diante da fracio 5. Aqui, numerador e denominador nao tém nenhum fator comum além de 1, ea frac&o esta nos termos mais simples. Mas o aluno 87 aflito pode decompé6-la assim: Ray , e cancelar os 7, che- gando ao resultado $. ou 2, que é evidentemente falso. Natu- ralmente, o aluno veria isso de pronto e se daria conta do enga- no. Mas, em Sse tratando de expressdes mais complicadas, nao perceberia o erro de imediato, e poderia levar um bom tempo para localiza-lo. ENXERTANDO PARENTESES As regras de fatoracao e cancelamento podem aplicar-sea simbolos literais quase sem dificuldades. Seja, por exemplo, a fracfo x O 10 nao oferece proble- mas: pode ser fatorado em (2)(5). Mas e quanto ao 4x? Bem, 4x pode escrever-se (2)(2x), nao pode? (Cx) (2)(5) e can- 2x = Mas suponhamos que tivéssemos partido de a O 10, no- vamente, pode ser fatorado em (2)(5), e o 2x pode ser fatorado Ent&o vamos escrever a fracdo na forma celar os 2. Logo, a fracdo, simplificada, é em (2)(x). A frac&o pode escrever-se on , os 2secancelam, ea fracado, simplificada, é > Acho que no preciso explicar por que a fraciio ee) nao pode ser simplificada por cancelamento. Vocé pode escre- ver a frac&io ay , mas isso nao lhe adiantara. O 2 no nume- rador nao é fator. 88 Por outro lado, a frac&o ae) pode escrever-se Oa eo 3 no numerador é fator, embora 0 2 nao seja. Os 3 podem ser cancelados, e a fracdo, simplificada, reduz-se a (x + 2) 5 . Sem divida, é facil ver os fatores numa expresso conten- do simbolos literais quando acontece os fatores mostrarem-se ostensivamente. Vocé enxerga que os fatores de 5x sfio 5e x, € que os fatores de‘3(x'+ 2) sao 3 ex + 2; mas é capaz de enxer- gar os fatores presentes numa expresséo como Sx + 15? Daqui a pouquinho sera. Mais atras neste capitulo, nds concluimos que a(b + c) se pode escrever ab + ac. Esse procedimento também funciona ao contrario. Partindo de ab + ac, vocé pode escrever a(b + Cc). Vamos examinar mais de perto. A expresséo ab pode ser fatorada em (a)(b), ¢ ac pode-se fatorar em (a)(c). Entéo, o que se fez foi achar um fator comum, a, e p6-lo fora de um parénte- se criado para o que restou. Voltandoa5x + 15, vemos que 5x pode escrever-se (5)(x), e 15 €(5)(3). Como 5 é um fator comum, podemos pé-lo fora de um paréntese encerrando o resto, e temos 5(x + 3). Seagora eliminarmos os parénteses pelas regras dadas no comeco do ca- pitulo, obteremos novamente 5x + 15 e acongruéncia se man- tem. Com isso torna-se possivel simplificar a fracéo 2S Da maneira como ela se apresenta, parece nada haver a cancelar, porque o numerador nao esta decomposto em fato- res. Entretanto, se escrevermos o numerador na forma 5(x + 3), ele estara fatorado, sendo os dois fatores 5ex + 3. Odeno- minador, é claro, pode ser fatorado em (5)(4). Portanto, a fra- 89 cdo pode escrever-se aD os 5 podem ser cancelados, ea x+3 , Como eu anunciei no comeco do capitulo, nds enxerta- mos parénteses para simplificar uma expressdo. Pode-se, também, dispensar o incOmodo de introduzir os parénteses.-Cada termo do numerador pode ser fatorado sepa- radamente, de modo que a fracdo fica ea Ent&o basta cancelar os 5 que aparecem em todos os termos em cimae fracZo se reduz aos termos mais simples: embaixo para termos 3) Este método ¢ um pouco mais rapido para quem tiver bastante pratica de fatoragdo, mas s6 funciona se um fator determinado ocorrer de fato em todos os termos, em cima e embaixo, sem excecéo. Se um dnico termo, no numerador ou no denominador, nao contiver o fator, o cancelamento nao pode ser feito. E muito comum o princi- piante esquecer isso e cancelar o que nado devia. O mais seguroé dar-se ao trabalho de inserir os parénteses e tirar para fora o fa- tor comum onde vocé possa vé-lo claramente e ter certeza de que é um fator comum. Ai, podera cancelar tranqiiilamente. A proposito, o cancelamento nfo se restringe a simbolos numéricos. Simbolos literais podem ser tratados de idéntica . ~. 5X , . . maneira. Na fracao ex ox éum fator em cima e embaixo, e pode ser cancelado, dando a fracao 2. Ou sejaa fracdo Be O numerador pode ser fatorado em (3)(7x) e o denominador em (2)(7x). Portanto a fracfo pode escrever-se ue e, can- oo 3 celando-se 0 7x, reduz-se aos termos mais simples >: No en- tanto, é preciso nesses casos certificar-se de que nao se esta cancelando uma expressdo que eventualmente seja igual a ze- 90 ro. Lembre-se que o cancelamento é na verdade uma divisao, e nao se pode dividir por zero. O CANCELAMENTO AMPLIADO As regras de fatoracdo e cancelamento, que eu vim usan- do em fracédes, funcionam também para equacées. Para com- provar, consideraremos uma equacdo geral em que chamare- mos 0 lado esquerdo de Ee olado direito de D. A equacio seria E=D Eu disse no comeco do livro que os dois lados de uma equacéo podem ser divididos por uma mesma quantidade sem destruir a equacdo, portanto vamos dividir os dois lados pelo lado direito. A equacao (desde que, bem entendido, D nao seja igual a zero) torna-se _ _D ~ D oft ou _E. D Assim, os dois lados de uma equacéo podem ser escritos como numerador e denominador de uma frac&o igual a um. Portanto, nada ha de surpreendente em que as regras de fato- racéo e cancelamento aplicaveis a fracdes apliquem-se igual- mente a equacoes. Como exemplo especifico, seja a equacéo =] 10x = 15 Transpondo, temos ,-2 ~ 10 9] Podemos fatorar a fracio de modo a simplifica-la, assim: = 8) _ 3 (52) ~ 2 Em vez disso, podiamos de saida cancelar na propria equacdo. 10 x pode escrever-se (5)(2x) e 15 é (5)(3). Quer dizer que se pode escrever a equacao na forma (5)(2x) = (8)(3) - Agora podemos cancelar os fatores comuns, a esquerda e adireita, tal como fariamos, em cimae embaixo, numa fracao. A equacao fica sendo e, por transposicfo, Como vemos, obtém-se o mesmo resultado, quer trans- pondo primeiro e fatorando depois, como eu fiz no primeiro caso, ou primeiro fatorando a equacio e depois transpondo, como fiz no segundo. Em equacao simples como as que eu uso neste livro (apenas para explicar as técnicas da algebra) nio chega a haver diferenca de comodidade. Entretanto, em equa- cdes mais complicadas, geralmente é bem mais cOmodo fato- rar e cancelar o mais possivel antes de qualquer transposicAo. Portanto é melhor acostumar-se a fatorar primeiro e transpor depois. Naturalmente, ao fatorar expressdes que formam equa- cdes é preciso precaver-se contra as mesmas armadilhas que ao fatorar fragdes. Na equaciio 92 x+6= 15 ll poder-se-ia escrever assim: x + (3)(2) (3)(5) A equacdo continua certa, mas vocé poderia ser tentado a cancelar os 3 A esquerdae 4 direita, o que Ihe daria a equacio x + 2 = 5. Transpondo, vocé concluiria que x = 5 — 2, ou3. Mas alguma coisa esta errada, pois substituindo x por 3 na equacido primitiva, ter-se-ia 3 + 6 = 15, o que é absurdo. O engano foi cancelar os 3, pois na expressao x + (3)(2), 3 nao é um fator da expresso inteira: é fator de um dos termos apenas. SO cabe o cancelamento quando cada lado da equacd4o tem um fator comum; cada lado como um todo. Ao fatorar uma expressio com mais de um termo, o mais seguro é introduzir parénteses. Seja, por exemplo, a equacdo 10x + 35 = 15 Poderiamos fatorar cada termo deste modo: (5) (2x) + (5)(7) = (5)(8) O lado esquerdo da equac&o tem dois termos com o fator comum 5. Portanto esse fator pode ser posto fora de um parén- tese que encerre os fatores restantes, de modo que a equac4o se torna 5(2x + 7) = (5)(3) Agora o 5 aesquerda é realmente um fator de todo esse la- do da equac4o e nao de um termo apenas. Entéo os 5 podem ser cancelados a esquerda e a direita, e a equaciio fica 93 2x+7=3 Quer o valor de x seja calculado na equac&o 10x + 35 = 15, quer, depois de fatorar e cancelar, na equacéo 2x + 7 = 3, teremos o mesmo resultado. No primeiro caso: _ (15 — 35) 10 (ou —2) E no segundo caso: 2 = ooo (ou —2) Ou seja, fatorar e cancelar antes de transpor (quando fei- to da maneira certa) nao cria incongruéncias. 94 8 As Ultimas Operacées QUADRADOS E CUBOS Até aqui, o que fizemos com os simbolos literais? NOs os combinamos com simbolos numéricos por via de soma (x + 7), . wee wm , subtrac¢ao (x —7), multiplicacdo (7x) e divisao 7: Também os combinamos com outros simbolos literais por via de soma (x + 7x), subtragéo (x — 7x) e divisdo (= A tnica combinacao que nao usamos foi a de um simbolo literal multiplicado por outro simbolo literal, e é tempo de ata- carmos essa situacdo. Vejamos como um caso de multiplicac&o entre simbolos literais pode se apresentar naturalmente em matematica. Uma das figuras geométricas mais familiares é o quadrado. E uma figura de quatro lados com todos os angulos retos,* o que faz O quadrado de 2é4 131 14} 151 16 O quadrado de 3 é 9 O quadrado de 4 é 16 * Angulo reto é 0 Angulo formado pelo encontro de uma reta perfeitamente horizontal com outra perfeitamente vertical. 95 dele uma espécie de retangulo. Entretanto, um quadrado dife- re dos retangulos comuns pelo fato de os seus quatro lados te- rem © mesmo comprimento. Para obter a area de um quadrado, temos de multiplicar a largura pela altura, como em qualquer outro retangulo. Mas, como todos os lados do quadrado s&o iguais, a largura de um quadrado é sempre igual a sua altura. Um quadrado de 2 me- tros de comprimento tem também 2 metros de altura; um de 5 metros de comprimento tem também 5 metros de altura, e as- sim por diante. Portanto a area de um quadrado de 2 metros de lado é2 vezes 2 0u 4 metros quadrados. A area de um quadrado de 5 metros de lado € 5 vezes 5 ou 25 metros quadrados, e assim por diante. Por causa dessa ligacfo com o quadrado, diz-se que 4 é quadrado de 2, e 25 o quadrado de 5. O produto de qualquer numero multiplicado por si mesmo é 0 quadrado desse nime- TO. Suponhamos, entéo, que ndo conhecéssemos o compri- mento do lado de um certo quadrado. Poderiamos chamar de x, e entao teriamos de imediato uma situacao em que simbolos literais tm de ser multiplicados, pois a area do quadrado seria x multiplicado por x, ou xx. Naturalmente, xx é o quadrado de x, por isso, embora parecesse natural ler xx como ‘‘xis xis’’, é mais comum ler ‘‘xis ao quadrado’’. Uma situaco semelhante surge em relac&o com o cubo, que é uma figura solida com todos os angulos retos e todas as arestas do mesmo tamanho. Dados e blocos de jogos de armar sao exemplos de cubos. Para obter 0 volume de um cubo, multiplica-se o comprimento pela largura e pela altura. Como todas as arestas sio do mesmo tamanho, comprimento, largu- ra e altura sdo iguais. O volume de um cubo de 2 metros de aresta é (2)(2)(2), ou 8 metros ctibicos. Se a aresta medir 5 me- tros, o volume sera (5)(5)(5), ou 125 metros ctibicos.* ee * Estou certo de que metros cubicos nao o assustam. Se ainda assim vocé achar que precisa refrescar um pouco a memoria em relacdo as unidades de volume, pode dar uma olhada em O reino das medidas. 96 Os n° 20 a 26 est&o atras; ( o n° 27 esta no meio O n° 8 esta atras Ocubo de2e8 O cubo de 3 27 Por causa disso, diz-se que 8 € o cubo de2, e125 ocubo de 5. O produto de trés numeros iguais quaisquer é 0 cubo do nt- mero multiplicado. Semelhantemente, se nio soubermos o comprimento da aresta de um cubo, e chamarmos de x esse comprimento, sabe- mos que o volume é igual a xxx. Naturalmente, xxx é chamado de ‘‘xis ao cubo’’. Os conceitos de quadrado e cubo de um numero tiveram sua origem entre os gregos, que se interessaram de modo espe- cial pelas figuras geométricas. Entretanto, ndo existem figuras geométricas que se possam desenhar ou construir representan- do situagdes em que quatro ou mais nimeros iguais devam ser multiplicados, por isso nfo ha nomes especiais para xxxx ou xxxxx. Os matematicos designam essas expressdes simples- mente como ‘‘xa quarta’’, ‘‘xa quinta’’, e assim por diante. Se eu dissesse ‘‘x 4 décima sétima’’, vocé saberia prontamente que eu me estaria referindo ao produto de dezessete x. Nos primordios da algebra, os matematicos verificaram que freqiientemente teriam de se avir com produtos dessa espé- cie, e naturalmente trataram de buscar algum meio mais sim- ples e conveniente de simboliza-los. Escrever uma sucess&o de xX ocupa espaco e pode gerar confusio. Olhando para XXXXXXXX, Vocé nfo é capaz de dizer num relance se esta diante de x a sétima, x 4 oitava ou x a nona. Tera de contar os x. 97 Uma abreviacaéo conveniente foi inventada pelo matema- tico francés René Descartes, em 1637. Consiste em indicar o numero dex a serem multiplicados por meio de um numero pe- queno colocado a direita e acima do x. Por exemplo, xx passou a escrever-se x”, € Xxx passou a escrever-se x°. Continua-se a ler como ‘‘x ao quadrado”’ e ‘‘x ao cubo’’. A seguir tem-se x‘, x’, x”'§ ou o que for, e continua-se a ler como ‘‘x a quarta’’, “‘xa quinta’’, ‘“‘x a ducentésima décima sexta’’ etc. O niimero pe- queno em express6es desse tipo tem o nome de ‘‘expoente’’. OPERANDO COM POTENCIAS Ao indicar uma expressio como x? ou x’, dizemos que es- tamos ‘‘elevando x a uma poténcia’’. Esta é mais uma opera- cao algébrica. Até aqui tratamos de soma, subtracdo, multiplicagao e di- visio — as quatro operacoées algébricas ordinariamente utiliza- das em aritmética comum. A elevac4o a uma poténcia, ou ‘‘po- tenciacdo’’, é uma quinta operacdo, de ordinario nao utilizada em aritmética comum. Vocé podera conjeturar se é razoavel dizer que a potencia- cao é uma quinta operacio. N&o é uma simples multiplicacéo? x’ nao é simplesmente x multiplicado por x? Sim, ¢, mas do mesmo modo a multiplicagdo pode ser vis- ta como uma forma de soma, nao pode? Por exemplo, 2x, que é um exemplo de multiplicac&o, pode ser visto simplesmente como x mais x, que obviamente é uma soma. Uma das raz6es por que se considera a multiplicac4o co- mo uma operacdo distinta é que nas equacées ela é tratada de forma diferente da soma. Numa equacg4o como 2x + 3 = 10, sabemos que temos de transpor o 3 antes de transpor o 2; que nao podemos mexer com a multiplicac&o antes de mexer coma soma. A equacdo poderia ser escritax + x + 3 = 10, queéa mesma equacio, mas agora envolvendo apenas somas. Agora 98 vocé pode transpor 4 vontade qualquer termo; pode, por exemplo, transpor um dos x, separando-o do outro, mudando aequacéoem x + 3 = 10 — x. (De nada adianta para efeito de tirar o valor de x, mas pelo menos a equacdo é congruente com o que era antes.) Assim tambem, verifica-se que poténcias nfo se manipu- lam do mesmo modo que produtos, embora a potenciacao possa ser considerada uma forma de multiplicac4o. E 0 que faz da potenciacéo uma operacfo distinta. Para mostrar isso, to- memos uma expressdo simples envolvendo unicamente simbo- los numéricos. Qual é o valor de (2)(2)(5)? A resposta, imediata, é 20. Nao importa se calculamos primeiro (2)(2) obtendo 4 e em se- guida (4)(5) obtendo 20, ou se mudamos a ordem, (2)(5) iguala 10 e (10)(2) igual a 20. A resposta é uma so, seja qual for a or- dem em que multiplicamos. Suponha, porém, que em vez de (2)(2)(5) tivéssemos escri- to (27)(5). E a mesma expresso, mas agora contendo uma po- téncia. 2? é 4, e multiplicado por 5 da 20. Mas, sera que pode- riamos multiplicar primeiro 2 por 5 e depois potenciar? Vamos experimentar, sO para ver 0 que acontece. (2)(5) é 10, e 10°é 100; temos uma incongruéncia. Para evitar incongruéncia, potenciacdes tém de ser efe- tuadas primeiro, antes de multiplicagdes; do mesmo modo co- mo multiplicagdes tém de ser efetuadas antes de somas. A titulo de exemplo, examinemos a expressAo 3x’ e nos perguntemos o que ela significa. Significa (3x)(3x) ou (3)0Q(*)? Para ter a resposta a essa pergunta, lembremos o que eu expliquei atras: visto que multiplicagdes devem ser efetuadas antes de somas, um produto é sempre considerado como se es- tivesse entre parénteses. A expresso 3x + 2 entende-se como se fosse (3x) + 2. Assim também, como a potenciacao deve ser efetuada antes da multiplicag4o, numa express4o que envolva 99 ambas, é a poténcia que se considera como se estivesse entre parénteses. Portanto, 3x” é na verdade 3(x’), e significa (3)()(x). Nao ha confusdo possivel. O habito consagrado de dispensar os pa- rénteses em expressOes como 3x’ € o tinico motivo de surgir a divida no espirito do principiante. (A esta altura, talvez vocé esteja um pouco irritado com 0 modo como se dispensam os parénteses. Por que nao usa-los sempre que cabiveis, para evitar confusdes? Bem, se fizésse- mos isso, as equacées ficariam atulhadas de parénteses. E, a medida que se tornasse um perito em manipular equacées, vo- cé mesmo se cansaria deles e por si mesmo passaria a abandona-los.) (3x)*=9x" Mas e se quiséssemos de fato multiplicar 3x por 3x? Como indica-lo? Mais uma vez podemos nos valer dos utilissimas pa- rénteses e escrever a poténcia (3x). Agora vé-se facilmente que toda a express4o contida no paréntese esta sendo elevada ao quadrado, do mesmo modo como antes entendemos que na ex- pressféo 3(x + 2) toda a porco entre parénteses esta sendo multiplicada. Pelo uso apropriado dos parénteses, podemos mudar a ordem em que as operacdes devem ser efetuadas. 100 Se escrevermos a expressao (3x)? em forma de produto, ela se torna (3)()(3)(x). Agora s6 temos multiplicacdes, e pode- mos arranjar os simbolos em qualquer ordem que queiramos sem alterar o valor final. Logo, podemos escrever (3)(3)(x)(x), eretornar a expressao a forma de poténcia como (3”)(x”). Se vo- cé experimentar 0 mesmo truque com a expressao (7x), verifi- cara que ela equivale a (7°)(x°). Na verdade, podemos escrever que (ab)” = (a")(6") onde “é0 simbolo geral usualmente adotado para representar um expoente. Seguindo a mesma linha de raciocinio, nado havera dificul- dades em perceber que (5x)(3x) é igual a 15x’, e que 30x° pode ser fatorado (2x)(3x)(5x), ou em (2)(3)(5)\()Q)Q). COMBINANDO POTENCIAS E se nos virmos diante de uma operac&o envolvendo duas poténcias? Por exemplo, seja a expressao (2°)(x’?), em que te- mos uma poténcia multiplicada por outra. Podemos simplifi- ca-la, substituindo poténcias por produtos. Assim, x? € xxx, e x? & xx. Logo, (x*)(x*) € Gomx)(xx). Como sO temos produtos, n&o ha necessidades dos parénteses, e a expressdo torna-se xxxxx ou x°. Em resumo, (x°)(x’) =x°. Aparentemente, o que nos fizemos foi simplesmente somar os expoentes. Experimente outros exemplos e vai verificar que é sempre assim, Em todos os casos semelhantes os expoentes se somam. Generalizando, podemos escrever (a”)(a") = aim) O tépico seguinte é obviamente a divisio de uma expres- 101 s4o envolvendo uma poténcia por outra. Vocé é capaz de cal- 5 cular o valor de a! E facil ‘de imaginar que, se a multiplicacéo de poténcias envolve soma de expoentes, a diviséo de poténcias deve envol- ver subtracdo de expoentes. Assim, o resultado de x° dividido por x’ deve ser x’, pois 5 — 3 62. A expressao x° pode escrever-se xxxxx, e x’ pode escrever- 2NNK x, a se xxx. Portanto, oe . Podemos cancelar trés dos xem cima e embaixo, porque cada um deles representa um fator co- mum. Desse modo, os trés x do denominador se subtraem dos cinco do numerador e sobram dois, logo a resposta €, com efei- to, x?. Generalizando: a™ /a" = qi") Essa conclusao nos leva a algumas conseqiiéncias interes- santes. Descartes s6 usou expoentes para indicar 0 produto de dois ou mais simbolos iguais. Nessas condicdes, o menor ex- poente seria 2, Mas, ese dividirmos x’ por x’? Segundo a regra 3 da subtrac&o de expoentes, a é igual a x!. O que significa isso? x XXX . Bem, se escrevermos ena forma x? dois dos x po- dem ser cancelados em cima e embaixo, e 0 valor da fracao é simplesmente x. Entéo temos duas respostas para o mesmo problema, x' e x, dependendo do caminho seguido para chegar a soluc&o. A maneira de manter a congruéncia é concluir que as duas respostas so na verdade uma s6, dizendo que x' = x. De certo modo, isso faz sentido, pois, pela regra de Descartes, x' significaria a multiplicacao de um tinico x. Ora, como é im- possivel multiplicar um x sozinho (so precisos dois fatores pa- 102 ra termos um produto), isso equivale a dizer que x permanece como estava, ou seja, x! é o mesmo que x. O mesmo se aplicaa qualquer simbolo, portanto podemos dizer que a=a Mas podemos ir mais longe. E se dividirmos x’ por x°? Co- mo qualquer namero dividido por si mesmo é igual a 1, pode- 3 mos dizer que a = 1. No entanto, se aplicarmos a regra da 3 subtracao de expoentes, diremos também que a = x8) ou x, Novamente, o inico modo de evitar uma incongruéncia é admitir que os dois resultados sao iguais, e que x° é igual a 1. Chegaremos ao mesmo desfecho dividindo 2? por 2? ou 7° por 7°, Somos forcados a concluir que qualquer simbolo, numerico ou literal, elevado 4 poténcia zero, é igual a um. Generalizan- do, podemos dizer: a@&=)1 Esse exemplo nos mostra que em matematica a congruén- cia é mais importante que o ‘‘senso comum’’. Vocé pode achar que x* deveria representar o produto de zero x. Na verdade isso nao faz sentido, mas para a maioria das pessoas a impressdo é de que o resultado devia ser zero. Mas se admitirmos x’ igual a zero, teremos a incongruén- 3 cia de que = pode ser igual a 1 ou 0, dependendo da regra de diviséo que aplicamos. Em nenhuma hipotese podemos aceitar isso, portanto estabelecemos que x° é igual a 1, nado importa que o ‘‘senso comum’’ nos diga coisa diferente. E podemos ir ainda mais longe. Suponha que queremos dividir x? por x°. Aplicando a regra da subtracao de expoentes, 103 temos que )(x>) é igual a x>+ >, que da x', ou simplesmente x. Se perguntassemos agora: Qual o nimero que multiplica- do por si mesmo da x?, a resposta seria x~. Mas ao perguntar- mos que numero multiplicado por si mesmo da x, estamos per- guntando: Qual é a raiz quadrada de x? Logo, temos de dizer que a raiz quadrada de x é.x;, ou seja, /X = x;. Isso nos da o sentido do expoente fracionario 7. E outro modo de simbolizar a raiz quadrada. De modo semelhante, verifica-se que (x+)(x3)(x3) ¢ igual ax, logo x7 ¢ a raiz clibica de x, ou seja, Vx = xr. Podemos generalizar dizendo que 1 Va = a" Agora vocé tem tudo que precisa para entender o signifi- cado de uma expresso como x?+. Isso pode escrever-se x7, € sabemos que é 0 mesmo que (x‘)7, porque pela regra da multi- plicac&o de expoentes (x5)+ é igual a x6" ou xz. Como 0 expoente 7 indica a raiz quadrada, podemos es- crever (x5) como «/-x:, Ou seja, xz é igual a 2, e, generali- zando, 109 m a= %Y a™ Esse modo de trocar indices por expoentes e vice-versa po- de eliminar temporariamente‘a radiciac4o e facilitar a multipli- cacao de raizes. Por exemplo, vocé poderia ficar atrapalthado se lhe pedissem para multiplicar a raiz quadrada de x pela raiz clibica de x, se vocé nao pudesse fazer outra coisa além de es- crever «/xi/x. No entanto, trocando os indices por expoentes, vocé tem xt +e, pela regra da soma de expoentes, a resposta é xz + >) ou x, que se pode escrever §/x*. E agora vocé pode soltar um suspiro de alivio. Nao precisa esperar novas surpresas em matéria de operacGes algébricas, porque nado ha mais nenhuma. Em toda a algebra nao ha mais que trés pares de operacOes: (1) Soma e subtracio (2) Multiplicacio e divisio (3) Potenciacao e radiciacao e isso é tudo. Nosso proximo passo é 0 manejo de equacées envolvendo poténcias e raizes. 9 As Equac6es por Graus UMA NOVA TRANSPOSICAO Suponha que tivéssemos um cubo com um volume de 27 metros cubicos e quiséssemos saber o comprimento da aresta. Vamos dizer que a aresta do cubo mede x metros de compri- mento e, como o volume do cubo se obtém elevando o compri- mento da aresta a terceira poténcia, temos a equacaéo x? = 27 Em capitulos anteriores, vimos que um mesmo nimero pode ser somado ou subtraido dos dois lados de uma equacdo; e que um mesmo numero pode multiplicar ou dividir os dois la- dos. Nao é dificil supor que potenciacdo e radiciacao se acres- centem 4 lista. Os dois lados de uma equacio podem ser eleva- dos auma mesma poténcia ou reduzidos a uma mesma raiz sem destruir a equacio. Para transformar x? em x, basta tirar a raiz cibicade x3. A raiz ctibica de x3 é 3/3, que é 0 mesmo que x3, qué, natural- mente, é igual a x', ou simplesmente x. Mas para tirar a raiz cilbica de um lado da equacfo, temos que tirar a raiz cibica do outro, para manter a equagdo. Por- tanto: Ve = V2 O lado esquerdo da equacdo é x, como acabamos de ver, e 111 o lado direito é3, visto que (3)(3)(3) éigual a 27. A equacdo fica sendo x=3 que éa solucdo. Seja agora uma equacdo como esta: Va = 4 Para converter */x em x, nds elevamos ao cubo 3/x. Afinal, o cubo da raiz clbica de x é (2/x)3, que se pode escrever x3, ou simplesmente x. Alias, por essa linha de raciocinio, podemos estabelecer uma regra geral para qualquer poténcia ou indice: Va" = (Wa)" =a Voltando a nossa equacio 4/x = 4, e elevando os dois la- dos ao cubo, temos (~/x)3 = 43 ou x = 64 Como no caso das outras operacdes, estamos resolvendo equacGes que envolvem potencializacéo e radiciagéo, moven- do um simbolo de um para o outro lado da equacao. Estamos deslocando o numero pequeno que representa 0 indice de uma Taiz ou 0 expoente de uma poténcia. Se vocé examinar mais uma vez as equacées vistas até aqui neste capitulo, vera que Se x? = 27 entaio x = W/27 E se Wx ll me entado x = 43 Em cada um dos casos, poder-se-ia dizer que 0 pequeno ? foi transposto. (A rigor, o termo ‘‘transpor’’ limita-se as ope- racges de soma e subtracfo. Mesmo assim, eu 0 empreguei em relacio 4 multiplicacéo e divisdo, e a transformacéo no caso das poténcias e raizes é sob certos aspectos tao semelhante que também o empregarei aqui.) Também neste caso, como no das outras operacées, a transposicao implica uma inversao. Potén- cia transforma-se em raiz quando 0 expoente é convertido em indice. E raiz transforma-se em poténcia quando o indice é convertido em expoente. Isso é bastante evidente nos exemplos que acabei de dar. A razao de nao ser tao evidente quanto deveria, é que qua- se todas as raizes usadas em algebra sdo raizes quadradas, e es- se € o Unico caso em que o indice é omitido. Se dizemos, por exemplo, que x? = 16 vocé vé de imediato, pelo que eu disse até aqui, que x = V16 sO que agora o pequeno? parece ter sumido no processo, eo fa- to de que foi transposto e mudado de expoente em indice nao é patente, Seria patente se escrevéssemos a raiz quadrada de 16 como 4/16, que €.0 que logicamente deveriamos fazer — mas nao fazemos. Por outro lado, se partirmos de vx = 8 podemios converter em x = 8? € O pequeno ? parece ter brotado do nada SOLUGOES NO PLURAL Os matematicos dao grande atencfo a4 presenca de potén- cias em equacées. Elas tornam as equacdes mais dificeis de re- solver. Alias, quanto maiores as poténcias, mais dificil é mane- jar as equacées. Em vista disso, por volta de 1600 os matemati- cos passaram a classificar as equacdes de acordo com a maior poténcia da incégnita nelas encontrada. As equacodes dizem-se de um certo ‘‘grau’’. Em equacdes simples do tipo que eu vim apresentando até este capitulo, co- mo x — 3 = 5, a incégnita pode escrever-se x', portanto a equacéo é uma ‘‘equacao do primeiro grau’’. Do mesmo modo, uma equacéo como x? — 9 = 25éuma ‘*equacdo do segundo grau’’, porque a incognita esta elevadaa segunda poténcia. Numa equac&o como x? + 2x — 9 = 18,em que a incognita esta elevada a segunda poténcia em um termoe a primeira poténcia em outro, éa maior poténcia que conta, ea equacdo é ainda do segundo grau. Equacdes como x} — 19 = 8, ou 2x} + 4x? — x = 72, so ‘*equacées do terceiro grau’’, e assim por diante.* Essa é a maneira mais simples e légica de classificar equa- ¢des, mas, infelizmente, os matemAticos se familiarizaram tan- to com esses diferentes tipos que também lhes deram nomes es- * A rigor, estas deveriam ser citadas como ‘‘equacées polindmias’’ de tal ou tal grau, porque envolvem polinémios, o que nao se da com certos tipos de equagdes. No entanto, como neste livro eu so falo de equacdes polinémias e de nenhum outro tipo, nao me preocuparei em particularizar todas as vezes. 114 peciais. Como os nomes especiais sfo usados tao freqiiente- mente quanto a simples classificagéo por grau, é melhor que vocé os fique conhecendo. A equacéo do primeiro grau € chamada ‘‘equacio linear’’, porque o grafico dessa equacao é uma linha reta. (Graficos, infelizmente, sio um assunto que eu nao posso abordar neste livro.) A equacéo do segundo grau é chamada ‘‘equacfo quadra- tica’’, por envolver quadrados. Por razdes igualmente Sbvias, as equacdes do terceiro grau sao chamadas ‘‘equacdes cubicas’’. As do quarto grau sao ‘‘equaces quarticas, e as do quin- to grau, ‘‘equacdes quinticas’’. As vezes, uma equacdo do quarto grau é chamada ‘“‘biquadrada’’, porque envolve a mul- tiplicagéo de dois quadrados. Afinal, (x°)(x’) = x". Visto isso, passemos a examinar a mais simples possivel das equacGes do segundo grau:* =] Transpondo o expoente, temos x= Vi e sO nos resta perguntar que numero multiplicado por si mes- mo da 1. A resposta parece ridiculamente simples, pois sabe- mos que (1)(1) éigual a 1, logo x=1 Mas, espere um pouco. Nos nfo temos pensado nos si- nais. Quando dizemos que x? = 1equex = V1, o que realmen- * Poderia parecer que x = 1ndoéuma equacéo polinémia, ja que nao ha polinémio a vista. No entanto, transpondo, tem-se x” -1 = 0, e ai estéo poli- ndmio. 115 te queremos dizer éque x? = +1, quex = ./+1.(Osinal mais, lembre-se, € um daqueles varios simbolos que os matematicos teimam em omitir.) Isso muda as coisas. Se perguntarmos que numero multi- plicado porsimesmo da + 1, estaremosderepentenum dilema. E verdade que (+1)(+ 1) éigual a + 1, mas nao é também ver- dade que (-1)(-1) €iguala +1? Entéo, +1 e-1 sao ambos solu- cdes para x na equacdo x? = 1? Nao lhe parece uma incongruéncia, duas respostas para 0 valor de x numa equacéo? Um modo de eliminar essa compli- cacao incémoda seria firmar uma regra que nao considerasse nimeros negativos como solucd4o de uma equacdo. Com efei- to, até o século XVI os matematicos adotaram essa regra. Mas nfo andaram bem em fazé-lo. Os nimeros negativos S40 téo titeis que elimina-los simplesmente para evitar compli- cacdes é errado. Além do mais, aregra nao resolve o caso. Ha equacdes do segundo grau que dao duas respostas e ambas po- sitivas. Por exemplo, veja-se a equacdo x? — 3x = -2. Sem entrar no procedimento para encontrar o valor de x, eu lhe afirmo simplesmente que tanto | como 2 s4o solucées. Se substituir- mos x por 1, entéo x’é1,3xé3e1 — 3 éde fato -2. Se, por ou- tro lado, substituirmos x por 2, x°é4, 3xé€6e4 — 6 também é igual a -2. Ha também equacodes do segundo grau em que existem duas solucdes e ambas negativas. Na equacio x’ + 3x = -2, as duas soluc6es para x sdo -1 e -2. Por volta de 1600, os matematicos resignaram-se a idéia de que as regras aplicaveis as equacdes quadraticas nio eram as mesmas aplicaveis as equacdes lineares. Numa equacdo do se- gundo grau, podia haver duas solucées diferentes para a incdg- nita. Quer dizer entéo que esbarramos numa incongruéncia? E claro que néo. Tem-se uma incongruéncia quando a solucdo de uma equacdo por um método da uma resposta, e a solucdo por 116 outro da uma segunda resposta. A solucdo de uma equacdo do segundo grau da duas respostas ao mesmo tempo. E nao im- porta que diferentes métodos se usem, obtém-se as mesmas duas respostas. Para deixar isso bem claro, se eu Ihe perguntasse o nome da maior cidade dos Estados Unidos e vocé respondesse uma vez Nova York e outra vez Chicago, vocé estaria sendo incon- gruente, Mas, se eu lhe perguntasse os nomes das duas maiores cidades dos Estados Unidos e vocé respondesse Nova York e Chicago, ndo estaria sendo incongruente. Estaria certo. Alias, voltando as equacées, logo descobriu-se que a in- cOgnita numa equac&o cibica podia ter trés solucdes, e que a incégnita numa equacdo quartica podia ter quatro solucées. Em 1637, René Descartes, o homem que inventou os expoen- tes, concluiu que a incognita de qualquer equacfio tinha um numero de solucdes exatamente igual ao grau da equacio. A prova completa disso foi dada finalmente em 1799 por um ma- tematico alemao chamado Carl Friedrich Gauss. NUMEROS IMAGINARIOS Seé assim, esea incognita de uma equacdo cubica tem trés solucoées, ent&io na mais simples das equacdes clibicas (em que desta vez eu farei constar os sinais), = +1 deveria haver trés solucdes para x. Transpondo o expoente, temos x= V+1 e basta perguntar-nos que numero tomado trés vezes e multi- plicado da +1. De imediato podemos dizer que + 1 € uma solu- cao, ja que (+1)(+1)(+ 1) é igual a +1. Eas outras duas solucGes, onde est&o? Seria -1 uma delas? Bem, (-1)(-1) € + 1, eo produto multiplicado por um terceiro -1 da(+ 1)C-1), que é igual a -1. Logo, (-I)(-I)(-)) é igual a-Lle nao a +1, portanto -1 nao é uma solucdo para a equacdo cubi- ca acima. E nao existe nimero nenhum, nenhuma frac4o, nem mes- mo nenhum irracional, seja positivo ou negativo, com a tinica excecéo de +1, que seja a raiz cibica de +1. Que concluséo podemos tirar, sendo que temos uma equacaéo cilbica em que a incOgnita sO tem uma solucdo? Sera que pilhamos em erro grandes matematicos como Descartes e Gauss? Tao depressa e tao facilmente? E um pouco bom demais para ser verdade, portanto va- mos dar um passo atras e voltar 4 equacdo do segundo grau. Agora que estamos fazendo constar os sinais, vamos experi- mentar uma equacao desse tipo com um sinal negativo, como esta: x? = —1 Transpondo o expoente, temos x=V—i1 e agora temos de achar um numero que, multiplicado por si mesmo, seja igual a -1. Como (+ 1)(+1) é +1 e (-1)(-1) tam- bém é +1, de repente assalta-nos a idéia de que nao existe ne- nhum nimero cuja raiz quadrada seja -1. Sera possivel que pa- ra uma equacao tao simples como x” = -1 nao haja soluc&o? Acontece que em 1545, Cardano, que, como vocé deve es- tar lembrado, introduziu os nimeros negativos, resolveu in- ventar um numero que, multiplicado por simesmo, davacomo produto -1. Como esse nimero parecia nao existir no mundo real mas somente na imaginacdo, ele chamou-lhe ‘‘nimero imaginario’’. Em 1777, o matematico suigco Leonhard Euler 118 representou a raiz quadrada de -1 pelo simbolo i (de ‘‘imagina- rio’’), Ou seja, i é definido como um nimero que, multiplicado por simesmo, da-1. Podemos escrever: (i)(i) = -1, oui? = -1, oui= V-1. Parece dificil aceitar que i seja um numero tao valido quanto 1. De nada adianta chamar i de “imaginario’’ e nime- ros como +1 ou-1 de ‘‘nimeros reais’’, mas é 0 que se faz até hoje. A. verdade é que i nada tem de imaginario. Pode-se lidar com ele com tanta seguranca como com |. Assim, podemos ter dois diferentes tipos de i, do mesmo modo que podemos ter dois diferentes tipos de 1. Podemos ter +ie-i. Assimcomo + 1 e-1 tém o mesmo quadrado, +1, assim também +ie-itémo mesmo quadrado, -1. Portanto, a raiz quadrada de -1 tem, em vez de soluc&o nenhuma, duas solugdes: +ie-i. E comum, quando uma in- cOgnita é simultaneamente igual ao positivo e ao negativo de um mesmo nimero, escrever esse niimero com um sinal que combina o positivo e o negativo, assim: +. Lé-se ‘‘mais ou me- nos’’, de modo que o niimero +1 se lé ‘‘mais ou menos um’’. Usando esse sinal: Se x? = —1 entao x= +1 Vocé deve estar meio aflito, se esforcando por visualizar o que éie formar uma idéia clara da sua exata natureza. Bom, lembre-se de que a principio houve esse mesmo problema com os nameros negativos. Uma maneira de explicar 0 que seriam aqueles misteriosos nimeros menores que zero foi utilizar dire- cées. Assim, + | podia ser representado por um ponto | metro a leste de um certo ponto de partida, +2 por um ponto 2 me- 119 tros a leste do ponto de partida, +5 por um ponto 5 metros a leste, e assim por diante, Nesse caso, os numeros negativos re- presentariam posigdes a oeste; -1 seria representado por um ponto 1 metro a oeste do ponto de partida, etc. eixo dos niimeros reais eixo dos numeros imagindrios Podemos levar isso mais adiante, e fazer com que +ie os outros imaginarios positivos sejam representados por distan- cias ao norte, e -i e os outros imaginarios negativos, por dis- tancias ao sul. Efetivamente os imaginarios so representados desse mo- do, e tém sido de enorme utilidade para os matematicos. Com os nimeros reais somente, os matematicos se viam limitados, por assim dizer, a uma unica linha, leste-oeste. Com a introdu- gao dos numeros imaginarios, puderam viajar em todas as di- recdes — leste, oeste, norte e sul. Foi como sair de uma prisao, e a chamada ‘‘matematica superior’’ seria impossivel sem os niimeros imaginérios. 120 Tudo que precisamos para lidar com numeros imagina- Ti0s €0 simboloi. Num primeiro instante, alguém poderia ima- ginar que seria necessario uma infinidade de simbolos para a infinidade dos imaginarios. Por exemplo, /-4, J-8, ib, etc. Sao todos imaginarios, ja que nao existe nenhum nimero real de nenhum tipo que dé um numero negativo de qualquer tipo como quadrado. Para entender por que 0 numero i é suficiente, examine- mos primeiro a expressio /36, que é igual a 6. Ela pode escrever-se /(9)(4), e se decompusermos esse radical no produ- to de duas raizes, assim, (./9)(./4), podemos calcula-lo como sendo (3)(2), que é ainda igual a 6. Outros exemplos mostra- riam que essa é uma regra geral, e que Vab = (Va)(v6) Agora entéo podemos escrever V-4 como /4(-1), que, pe- la regra que acabamos de citar, pode escrever-se (./4)(/-1), que se resolve em (2)(i), ou simplesmente 2i. Do mesmo modo, -16 resolve-se em 4i, e V-8 em Bi. (O valor de Be éum nime- ro irracional; seu valor aproximado é 2,824, portanto pode- mos dizer que -8 é aproximadamente igual a 2,824i.) Com efeito, podemos estabelecer como regra geral que Va—n=ivn e assim sendo, a existéncia de i atende as raizes quadradas de todos os nimeros negativos. Agora podemos afirmar que a incdgnita de qualquer equacao do segundo grau tem duas solugdes, desde que nos lembremos de que as solucdes nao sao obrigatoriamente nime- ros reais, mas podem ser imaginarios. Podemos até aventurar uma questéo do quarto grau, co- mo x* = +1 Transpondo o expoente, temos x= V7+1 e precisamos encontrar valores de x tais que tomados quatro vezes e multiplicados déem + 1. Dois valores possiveis sio + 1 e-1,jaque(+ 1)(4+ 1)(4+ 14 1)= + LeCDEDCDCD = +1. Se vocé n4o esta muito certo da correcao deste ultimo pro- duto, pense nele assim: [(-1)(-1)] [(-1)(-1)]. O produto dos dois primeiros -1 @ + 1, eo dos dois outros também. Logo, a expres- sdo se torna (+ 1)(+1), ou +1. Outros dois valores possiveis de x sio +i e -i. Considere- mos primeiro (+i)(+i)(+i(+i). Decompondo em pares, ((+i)(+ 0] [(+i)(+ 0], vemos que o produto do primeiro par é -1, e também o do segundo par. Portanto, a expressdo se trans- forma em (-1)(-1), que da o resultado desejado, +1. Pelo mes- mo raciocinio, (-i)(-i)(-i)(-i) € também igual a +1. Vé-se assim que na equacdo quarticax’ = + 1 harealmen- te quatro solucées possiveis para x, que sdo + 1,-1, +ie-i. Os numeros imaginarios s&io portanto essenciais para determinar o numero correto de solucdes. Mas, serdo suficientes? COMBINANDO O REAL E O IMAGINARIO Voltemos a equacao cubica x3 = +1 na qual, até aqui, s6 encontramos uma solucdo para x, a saber, +1. Admitindo-se agora solucées imaginarias, seriam +ie-ia segunda e a terceira? Vejamos a expresséo (+i)(+i)(+i). Os dois primeiros +i, multiplicados, dao -1, logo a expressfo passa a (-1)(+ i), 122 o + bi (numero imaginério) a+ bi (numero complexo) eixo dos numeros reais a+oi (nimero real) eixo dos nimeros imaginarios que, pela lei dos sinais, da o produto -i. Portanto, +i nao éso- lugéo da equac4o. Do mesmo modo, verifica-se que (-i)(-i)(-i) da o produto +i, logo -i também néo é solucdo da equacdo. Onde, entéo, estéo a segunda e a terceira solucdes da equacdo ° = + 1? Para encontrar a resposta a essa pergunta, devemos com- preender que a maioria dos numeros nao s4o nem inteiramente reais nem inteiramente imaginarios. Sdo uma combinacao dos dois. Usando simbolos gerais, podemos dizer que 0 nimero ti- pico apresenta-se assim: @ + bi, em que a@é um numero reale bi um numero imaginario. A esses nimeros, em parte reais e em parte imaginarios, Gauss, em 1832, deu o nome de ‘‘numeros complexos’’. Na verdade, os nimeros inteiramente reais ou inteiramen- te imaginarios também podem ser considerados como exém- plos de numeros complexos. Suponha que na expressdo a+ bi se faca a igual a zero. A expressdo se torna 0 + bi, ou simplesmente bi. Dando a b qualquer valor exceto zero, podemos produzir qualquer nimero imaginario. Portanto, 123 todos os numeros imaginarios sfo numeros complexos da forma 0 + bi. Suponha, por outro lado, que na expressdo a + bise faca b igual a zero. A expresséo torna-se a + Oi. Mas, como qual- quer numero multiplicado por zero é zero, 01 é 0, logo a expres- sdo pode escrever-se a + 0, ou simplesmente a. Dando a a qualquer valor que nao zero, podemos produzir qualquer nu- mero real. Portanto, todos os nimeros reais sio niumeros com- plexos da forma a + 0i. As solucdes da equacio x? = + 1 podem ser dadas em for- ma de nimeros complexos. Sfo 1 + Oie-1 + Oi. No caso dex = -1, as duas solucdes, em forma de numeros complexos, si0 0 +ie0-i. Mas os niimeros complexos que constituem solucdes para x numa equacéo particular nio envolvem necessariamente ze- ros. Uma solucéo pode consistir de um numero complexo, a + bi, em que nem anem bé zero. E, por sinal, € 0 que acontece na equacao cubica x* = +1. A solucdo a que eu vim chamando +1 pode ser escrita em forma complexa como | + Oi. As ou- tras duas solucdes nado envolvem zeros. Sao + + +vii e + - 5 Vii. Qualquer dessas expressGes elevada ao cubo da -1.* E através do sistema dos numeros complexos que é possi- vel demonstrar que em qualquer equacdo x tem um nimero de solucdes exatamente igual ao grau da equacao. Assentado isso, voltaremos a equacdo quadratica, e, por algum tempo pelo menos, podemos esquecer as equagdes de grau maior que dois. * Em relacdo a isso peco-lhe que aceite a minha palavra, pois neste livro nao disponho de espaco para aprofundar mais 0 assunto dos imaginarios. Entre- tanto, em O reino dos nuimeros, onde trato dos imaginarios mais detalhada- mente, vocé pode encontrar o cdlculo dos cubos dessas expressdes no final do Capitulo 9, 124 10 Fatorando a Equacéo Quadratica ATACANDO O SEGUNDO GRAU Podemos tornar a equacao do segundo grau um pouco mais complicada acrescentando outras operacdes, como em 3x? — 8 = 100 Ja expliquei que uma multiplicacAo é tratada como se esti- vesse entre parénteses. O mesmo, com maior razfo, aplica-se a potenciagdo, de modo que, quando ha uma multiplicaco pre- sente, a poténcia é encerrada num paréntese interno. Se todos os parénteses fossem indicados, a equacdo se escreveria [3(x?)] — 8 = 100 Como sabemos, devemos transpor primeiro 0 8, depois o 3, depois o 2, trabalhando de fora para dentro as camadas de parénteses. Os resultados sao: 3x? = 100+ 8 (ou 108) c= on (ou 36) x = V36 (ou + 6) que sao as solucdes. 125 Quando os parénteses se dip6em num arranjo diferente, a ordem das transposig¢des muda correspondentemente. Na equacao (x + 3)? — 7 = 42 que poderia ser escrita, de forma completa, como [(% + 8)?] — 7 = 42 transpGe-se primeiro 0 7, mas a outra operagdo de soma esta dentro de um paréntese interno e nfo pode ser trabalhada an- tes de cuidarmos do expoente dentro do paréntese externo. Lo- go, aordem de transposico ¢ 07, depois 0 2, depois 0 3, assim: (x + 3)? =42+7 (ou 49) x+3= V49 (ou +7 ou -7) Portanto, temos x=7-—8 (ou 4) que é uma das solucées, ou x=-7-—3 (ou — 10) que é outra solucao. Até aqui, as equacGes do 2° grau se parecem com simples equacoes lineares, apenas com a complicacéo adicional de ha- ver trés conjuntos de operacgdes com que se preocupar em vez de dois, e de haver duas solugdes em vez de uma. As duas solucées, é claro, sio perfeitamente validas. To- mando como exemplo o segundo caso, ume outro valor numé- rico determinado para x podem ser levados a equac&o 126 (x + 3)? —7 = 42 Levando 4, temos: (4+ 3)? —7= 42 7? —7 = 42 49 —7 = 42 que esta certo. Levando -10, temos: (-10 + 3)? -7=42 —P—7=42 49 —7 = 42 que também esta certo. Mas a equacao do 2° grau abrange algo mais do que vimos até aqui. Lembre-se que uma equacdo do 2° grau também po- de ter um termo contendo x elevado a primeira poténcia, as- sim: x?+ 5x =6 Uma equacao como essa pode apresentar-se muito natu- ralmente a partir de um problema como o seguinte: Seja um objeto retangular cuja largura é 5 metros maior que o compri- mento, e cuja area é 6 metros quadrados. Pede-se o compri- mento e a largura do retaéngulo. Para comecar, chamemos 0 comprimento dex. A largura, sendo 5 metros maior que o comprimento, sera, evidentemen- te, x + 5. Como a area do retangulo se obtém multiplicando o 127 comprimento pela Jargura, x(x + 5) é essa area, dada como 6 metros quadrados. Pela regra referente a eliminacdo de parénteses, que vimos atras neste livro, sabemos que x(x + 5) pode escrever-se (x)(x) + (x)(5), que vem aser x” + 5x, eisso nos leva a nossa equac4o x + 5x = 6. Aparentemente, teriamos uma soluc&o para x transpondo como a seguir: x? = 6 — 5x +V6 — 5x x mas isso nfo nos leva a parte alguma, pois temos x igual a uma expressdo que contém um x, e nao podemos calcula-la. Na ver- dade, o que fizemos foi pular da frigideira para o fogo, pois trocamos uma poténcia por uma raiz, e raizes sio mais dificeis de lidar. DO SEGUNDO GRAU PARA O PRIMEIRO Uma maneira possivel de sair do impasse esta no processo da fatoracéo. Fatoracfio, como vocé deve estar lembrado, é 0 método de decompor uma expressdo em duas outras que, mul- tiplicadas, recompdem a expresso primitiva., Assim, 69 pode ser fatorado em (23)(3), e 5x — 15 pode ser fatorado em (5)(x — 3). Geralmente, a fatorac&o converte uma expressdo com- plicada em duas ou mais mais simples, e ha sempre uma boa possibilidade de podermos manejar as mais simples onde a pri- mitiva, mais complicada, n&o se deixava manejar. Antes de chegarmos a saber como fatorar uma expressdo, temos de formar certas idéias sobre 0 processo da multiplica- co. Se soubermos 0 tipo de multiplicacaéo que da origem aum tipo particular de expresso, saberemos melhor como decom- por essa expressao. 128 Eu ja dei um exemplo de multiplicacio que da origem a um termo do 2° grau, quando falei de x(x + 5). Esse era um ca- sO que nao criava problemas, pois sabemos que numa multipli- cacao desse tipo o termo fora do paréntese se multiplica por ca- da um dos termos dentro dele, e se somam todos os produtos. Mas seja uma expresséo como (x + 7)(x + 4). Como multipli- car? Parece légico avancar um passo. Tome-se cada termo dentro de um paréntese e multiplique-se por cada termo do ou- tro, depois somem-se todos os produtos. Sera que isso daria a resposta certa? Para verificar, voltemos aos simples simbolos numéricos e vejamos 0 que eles nos dizem. Suponha que queremos multi- plicar 23 por 14. Na verdade, 23 6 20 + 3e14é10 + 4, logo (23)(14) também se pode escrever (20 + 3)(10 + 4). Experimentemos. a multiplicagéo. Primeiro, multiplica- mos 20 por cada termo do outro par: (20){10) € 200, e (20)(4) é 80. Fazemos em seguida a mesma coisa com 0 3, (3)(10) é 30e (3)(4) é 12. Sesomarmos os quatro ‘‘produtos parciais’’, temos 200 + 80 + 30 + 12, 00322. Multiplique 23 por 14 do seu mo- do e veja se ndo é essa a resposta que obtém. Vocé podera achar que esse nfo é o modo como vecé mul- tiplica, mas na verdade é. Vocé aprendeu uma regra mecdnica expedita de multiplicar um numero por outro, mas se a exami- nar atentamente, vera que o que vocé faz é exatamente 0 que eu acabei de fazer. Podemos escrever a multiplicaco de 23 por 14 assim: 20 3 10 4 com as setas indicando as varias multiplicagdes envolvidas. Alias, ha quem acredite que foram as setas cruzadas no centro que deram origem ao sinal x de multiplicacdo. 129 Ora, 0 mesmo sistema funciona quando simbolos numéri- cos sao substituidos por simbolos literais. Na expressdo (x + 7)(x + 4), podemos armar a multiplicacdo assim: x+i7 Let x+ 4 AS quatro multiplicagdes sfo: (x)(x) = x7; CO(4) = 4x; (7)(x%) = 7x; e (7)(4) = 28. Agora, como somar esses quatro produtos parciais? Nao adianta querer somar um termo contendo x? com um que con- tém x ou com um que nao contém nenhum simbolo literal. O x’ tem de permanecer x’ e, pelo mesmo raciocinio, 0 28 tem de permanecer 28. No entanto, os dois submiultiplos res- tantes contém x. SAo 4x e 7x, e pelo menos podem ser somados, dando 11x. Ent&o temos finalmente: (x + 7)(x + 4) = x? + 11x + 28 Quer dizer que, topando a expresso x? + 11x + 28, vocé pode prontamente substitui-la por (x + 7)(x + 4). Aexpress&o do 2° grau estaria fatorada, dessa forma, em duas expresses, cada uma delas, em si mesma, do primeiro grau. Tudo bem, vocé deve estar pensando: mas como se faz is- so? Como é possivel, so de olhar a expresso x” + 11x + 28, di- zer que ela pode ser fatorada em (x + 7)(x + 4)? Nestecaso, s6 sabemos disso porque fizemos antes a multiplicacéo, e isso é como olhar as respostas no fim do livro. Bem, vocé tem razao. Fatorar é um negocio espinhosoe as vezes trabalhoso. E o mesmo se da na propria aritmética. Vocé sabe que 63 pode ser fatorado em (7)(9), mas como sabe disso? SO porque muitiplicou 7 por 9 tantas vezes na vida que 63 = (7)(9) é parte do seu cabedal geral de conhecimentos. 130 (x44) (x7) a + 12+ 4+ 28 Mas vocé é capaz de fatorar o numero 24.577.761? A maioria das pessoas nado é capaz de fazé-lo s6 olhando, como nao o é de fatorar uma expresso algébrica polindmia. Contudo, existem regras de fatoracéio. Por exemplo, a soma dos digitos de 24.577.761 ¢ 39, que é divisivel por 3. Quer dizer que 3 é um fator de 24.577.761, que portanto pode ser fatorado em (3)(8.192.587). Também existe regras que podem orientaé-lo na fatora- cHo de expressGes algébricas. Por exemplo, suponha que multipliquemos duas expres- sdes, usando simbolos literais em vez de simbolos numéricos. Vamos multiplicar x + @porx + b. A multiplicacdo teria este aspecto: a2 <—ek + PA +. o~< A Os quatro produtos parciais sfo x’, ax, bxe ab. axe bx po- dem ser combinados em (a + b)x, portanto podemos dizer o seguinte: (x + a)(x + 6) =x? + (a+ b)x + ab Isso nos da um modelo. O coeficiente do termo em xé a + b, eo termo sem x é ab. Agora podemos combinar expressdes sem mesmo nos dar ao trabalho de multiplic4-las. Dada a mul- tiplicagéo (x + 17)(x + 5), temos imediatamente que 0 coefi- ciente do termo em xé 17 + 5, ou 22, e que uv termo sem x é (17)(5) ou 85. Portanto, o produto éx’? + 22x + 85. Para fatorar um polinémio, é s6 seguir esse caminho em marcha a ré: procurar dois nimeros que somados déem 0 coe- ficiente do termo em x, e multiplicados, o termo numérico, Seja o polinédmio x? + 7x + 12. Considerando7 e 12, vocé pode concluir que os niimeros procurados sdo 3 e 4, pois3 + 4 @7, e (3)(4) é 12. O polindmio pode ser fatorado em (x + 3)\(x + 4), Multiplique esses fatores e veja se ndo obtém o poliné- mio. Ou sejaa expressdo x? — 2x — 15, Se vocé pensar um pou- co, podera ocorrer-Ihe que -5 + 3 éigual a-2, enquanto (-5)(3) é-15, Entao, -5 e 3 sfo os nimeros procurados, eo polinédmio pode ser fatorado em (x — 5) e(x + 3). E claro que para isso dar certo o primeiro termo tem de ser x’, en&o 3x’ ou 5x’ ou coisa assim. Se o coeficiente de x’ for ou- tro que nfo 1, a fatorac&o ainda pode ser efetuada, mas torna- se um pouquinho mais complicada. As vezes € possivel fatorar uma expresso em que falta o termo em x, como, por exemplo, x’? — 16. Para ver como se faz isso, vamos multiplicar novamente simbolos gerais, mas com uma pequena diferenca. Desta vez vamos multiplicar x + a por x — a. Armaremos o produto substituindo x — a por x + (-a), assim: 132 Os quatro produtos parciais sdo x’, ax, -ax e -a’. Asoma de ax e -ax é zero, ficando portanto (x + a)(x — a) = x? — a? Assim sendo, uma expressao como x? — 16 é facil de fato- rar. Pode escrever-se x* — 4’, ja que 4’ é igual a 16, e pelo mo- delo da equagao geral que acabei de dar, vé-se que x*-4? deve fatorar-se em (x + 4)(x — 4). Multiplique esses fatores e veja se nao obtém x’ - 16. As regras de fatoracfo nio acabam aqui. Por exemplo, vocé é capaz de imaginar o que é preciso fazer quando se tem um coeficiente no termo em x”? Como fatorar a-expressio 2x? + 13x + 15? Mas isso fica por sua conta. No que toca a fatora- cdo, ja fui até onde é preciso para os objetivos deste livro. AS UTILIDADES DA FATORACAO Vocé deve estar-se perguntando para que lhe serve fato- rar. De que modo isso o ajuda a manipular equacGdes? A melhor maneira de responder a isso é dar um exemplo de como a fatoracao transforma uma equacéo aparentemente complicada numa simples. Comecemos pela seguinte equacao: x2+x— 20 _ x? — 25 = 15 Uma maneira de operar seria transpor o denominador x? +x — 20 = 15(x? — 25) 133 eliminar os parénteses x? + x — 20 = 15x? — 375 e, por meio das transposicGdes devidas, levar todos os simbolos literais para a esquerda e todos os simbolos numéricos para a direita: x? — 152? + x — 3875 + 20 ou —14x? + x = — 355 Podemos eliminar o sinal negativo no principio multipli- cando cada lado da equac4o por -1, obtendo 14x? — x = 355 Podemos até experimentar fatorar o lado esquerdo da equacdo de modo a transforma-la em x (14x — 1) = 355 mas e agora? Estamos encalacrados, a menos que procuremos, por tentativas repetidas, um valor de x que satisfaca a equacdo. Agora voltemos a equacdo primitiva +x — 20 _ x? — 25 = 15 e experimentemos fatorar antes de fazer qualquer outra coisa. Examinemos o numerador da fracao, x? + x — 20. O coefi- ciente do termo em x é + 1 (como sabemos, o coeficiente 1 é sempre omitido, mas ndo se esqueca de que ainda assim ele existe, e que eu lhe preveni mais atras que é preciso té-lo sempre 134 em mente), e o termo numérico é -20. Ora, acontece que a so- made +5e-4é +1, eo seu produto é -20. logo, o numerador pode ser fatorado em (x + 5)(x — 4). Quanto ao denominador, x’? — 25, pode escrever-se x’ - 5? eportanto fatorar-se em (x + 5)(x — 5). Agora a equacfo pode ser escrita na forma (% + 5)(% — 4) = 15 (x + 5)(x — 5) Mas o fator x + 5 aparece tanto no numerador como no denominador e portanto pode ser cancelado. A equacfo se torna e de repente tudo ficou muito simples. Transpde-se o denomi- nador e prossegue-se segundo as regras usuais: x—4= 15(« — 5) x—4= 15% — 75 x— 15x = -75+4 —14x = —T71 14x = 71 p= 14 que é a solucado. Ha um outro caso em que a fatoracdo pode ser de utilida- de. Seja a equac&io x? —9xr +18 = 0 Como -3 e -6 somados dao -9 e multiplicados dio + 18, podemos fatorar a express&o e escrever a equacdo assim: (x — 38)(x — 6) = 0 Agora podemos valer-nos de um fato aritmético. Sempre que multiplicamos dois fatores e encontramos o resultado 0, um ou outro fator tem de ser igual a zero. Se nenhum dos fato- res for zero, 0 produto nunca podera ser zero. Suponhamos, ent&o, que x — 3 éigual a0. Por transposi- co, temos de imediato que se x—38=0 entao x=83 Mas é possivel que o outro fator é que seja 0; isto é, que x—6=0 x=6 Qual, ent&o, é a resposta certa? x éigual a3 oua6? Nao ha por que supor que um fator tenha mais possibilidade de ser 0 do que 0 outro, logo as duas respostas sao igualmente validas. Isso nao nos deve surpreender, ja que a equacdo é do 2° graue deve mesmo ter duas solucdes. Podemos verificar (s6 para ter certeza) experimentando as duas solucdes na equacaéo primiti- va, x?—9x+ 18 =0. 136 Experimentando 0 3, a equacdo se torna 3? — (9)(3) + 18, ou 9 — 27 + 18, que realmente da 0, logo 3 € uma solucdo cor- reta. Substituindo em seguida x por 6, a equacdo se torna 6? — (9)(6) + 18, queé 36 — 54 + 18, que também da 0, logo 6é ou- tra solucdo correta. E claro que s6 nos podemos valer desse artificio quando podemos fazer o produto de dois fatores igual a zero, e para is- so deyemos comegar conseguindo um zero no lado direito da equacao. Por exemplo, antes, neste capitulo, eu falei de um objeto retangular de largura 5 metros maior que o comprimento e area de 6 metros-quadrados. A equacdo envolvida era: x? + 54a = 6 Aquela altura, nds nado sabiamos o que fazer com a equa- cao, mas agora suponha que transponhamos 0 6 para o lado es- querdo de modo a deixar um zero muito desejavel no direito. A equacdo ficaria: x?+ 54 —6=0 Como os nimeros 6 e -1 somados dao 5 e multiplicados dao -6, a expressio da esquerda pode ser fatorada e a equacdo escrita (x + 6)(x - 1) =0 eas nossas duas soluc6es para x so -6e 1, obtidas fazendo ca- da fator igual a zero. O significado da solucio 1 é claro. O objeto retangular tem o comprimento de 1 metro. A altura, que é 5 metros maior que o comprimento, é portanto 6 metros, e a area é (1)(6) ou 6 metros quadrados, como especificado no problema. 137 Mas, e a solugdo -6? Poderemos dizer que 0 comprimento é -6 metros, e a largura, que € 5 metros maior, é-1 metro? A area seria (-6)(-1) ou ainda 6 metros quadrados, mas qual o sig- nificado de um comprimento negativo? Os gregos desconside- ravam solucdes negativas para equacdes como essa, certos de que nao havia sentido num comprimento negativo. No entanto, podemos arranjar um sentido admitindo que medicdes feitas numa direcfo sejam positivas e na direcdo oposta, negativas. Nesse caso, as duas solucées aplicam-se ao mesmo objeto colocado de dois modos diferentes, 138 I] Resolvendo em Geral O PRIMEIRO GRAU Resolver equacdes quadraticas por fatoracao nado chegaa ser muito satisfatorio. Afinal, ha equacdes nado muito faceis de fatorar. Nao havera um meio de resolver qualquer equacdo quadratica, sem se preocupar com fatores? Para chegar aonde queremos, vamos considerar nado equacées especificas, mas equagoes gerais. Por exemplo, aqui temos a ‘‘equacdo geral do primeiro grau’’, uma equacd4o que usa paradmetros em vez de nimeros, portanto pode representar qualquer equacdo desse tipo: ax +6b=0 Dando-se valores particulares a a e b, qualquer equacao particular pode ser representada por essa expressdo. Se fizer- mos aigual a2 e bigual a3, aequacao fica sendo2x + 3 = 0.0 sinal mais da equacdo geral n&o exclui subtracdo, pois se fizer- mos aigual a2 e bigual a -3, a equacdo se torna 2x + (-3) = 0, ou2x —3 = 0 Mesmo uma equacdo como 9(x + 4) = 25 pode ser ex- pressa na forma geral. Eliminando os parénteses e transpondo, temos W(x + 4) = 25 9x + 36 = 25 139 9x + 36 — 25 = 0 9x +11=0 Portanto, a equacdo 9(x + 4) = 25 pode ser posta na for- ma geral ax + b = 0, com a igual a 9e db iguala 11. Resolver a equacdo geral do primeiro grau é facil: ax+b=0 ax = —b —b x= — Portanto, dada qualquer equacdo do primeiro grau, basta dispd-la na forma geral e imediatamente obtemos o valor de x. Nao ha mais que preocupar-se em transpor, simplificar ou fa- torar. Basta-nos conhecer os coeficientes, os valores de ae b. 8 17 e esta Assim, na equacdo 17x — 8 = 0, ovalor dexé acabado. Se fosse 17x — 8 = 0, a resposta seria 4, Como se vé, o valor de x na equacdo geral do primeiro grau pode ser qualquer inteiro ou fracéo imaginavel, seaaeb se atribuirem os valores inteiros correspondentes. Se inventar- . 1 mos uma fracd&o ao acaso, digamos 993.200" de x na equacéo 222.222x — 17.541 = 0. Podemos expressa-lo de outro modo, dizendo que na equacdo geral ax + b = 0, em queae b sejam inteiros quais- quer, positivos ou negativos, o valor de x pode ser qualquer nt- mero racional. Nunca sera um nimero irracional, pois o resul- tado é inevitavelmente uma frac&o definida. sera esse o valor 140 Vocé podera estar se perguntando o que acontece se Os va- lores de ae b nao forem inteiros. E se forem fracionarios? Nes- se caso, as fragdes poderdfo sempre converter-se em inteiros. Assim, na equacao 15 3 (B)=+5-0 podemos multiplicar os dois lados da equacdo pelo produto dos dgnominadores das duas fragdes: (22)(5) ou 110. Teremos entao l(a) or 3 [110] = (0)(110) Eliminando os parénteses da maneira habitual e lembrando que (0)(110) (ou zero vezes qualquer numero, alias) € 0, temos [(z3) #] 101 + (2) ato = 0 1650 330 (FB )a+ = =0 15x + 66 = 0 Assim, a equag4o de coeficientes fracionarios converteu- . . oo, , 66 se em uma de coeficientes inteiros, e a solucdo para x é “75: Qualquer equac&o de qualquer grau pode ser convertida de coeficientes fracionarios para coeficientes inteiros, portanto é suficiente considerarmos este Ultimo caso. Suponhamos que ae b nao fossem nimeros racionais (isto é, frac6es) e sim irracionais, como na equacdo J2x - Jd = 0. 14] Nesse caso o valor de x seria we e seria ele proprio irracio- nal, Entretanto, se considerarmos somente equacdes polindé- mias gerais com coeficientes racionais, podemos dizer que o valor de x numa equac4o do primeiro grau pode ser qualquer numero racional, e néo pode ser irracional. O SEGUNDO GRAU Visto tudo isso, que € bastante simples, estamos em con- dicdes de perguntar como proceder com a equacdo do segundo grau. Como encontrar o valor de x simplesmente conhecendo os coeficientes e os dispondo numa férmula estabelecida? A equaco geral pode escrever-se ax’ + bx + c = 0, onde a, bec podem ser quaisquer inteiros ou, alias, quaisquer nu- meros racionais. Os simbolos b e c podem inclusive ser iguais a zero. Se b for zero, a equacdo torna-se ax? + c = 0; sec for zero, a equacdo torna-se ax’? + bx = 0; ese bec forem am- bos zero, a equacdo torna-se ax’ = 0. Todas essas formas sao ainda equacées do segundo grau. Contudo, a n4o pode ser nulo, pois isso converteria a equacdo na forma bx + c = 0. Numa equacdo geral de qual- quer grau, 0 coeficiente do termo de maior poténcia nio pode ser nulo, ou a equacdo se reduz em grau. Na equacdo do pri- meiro grau ax + b = 0, b podeser nulo, mas a nao. Neste ulti- mo caso, a equacdo se tornaria simplesmente b = 0, que ja nao é uma equacao do primeiro grau. A dificuldade de resolver a equacdo geral do segundo grau reside no fato de ela nado poder ser fatorada. Entao, o que te- mos a fazer é converté-la numa forma que possa ser fatorada. Primeiro, as regras de fatoracdo que eu dei no capitulo an- terior sempre diziam respeito a uma equac&o quadratica con- tendo um simples x’. Vamos ver se, para comecar, podemos conseguir isso. Para tanto, vamos dividir os dois lados da equacdo por a, assim: 142 (ax? + bx +c) _ 0 a Q Quanto ao lado esquerdo da equagao, sabemos da aritmé- tica que G4) pode escrever-se a + +. (Experimente e veja se a resposta nao é 3 em ambos os casos, e se, em outros casos do mesmo género, o resultado obtido nfo éo mesmo, de um ou de outro modo.) Portanto, podemos escrever a equac&o assim: ax? Na fracao , podemos cancelar os a. A fracao oe pode escrevel-se (2x, e quanto ao lado direito da equacdo, a evidentemente, é 0. Agora a equacado pode ser escrita ) x? -)x +(s)e+ Nessa forma da equacé&o do segundo grau temos 0 x? sim- ples, mas ainda nfo podemos fatoraé-la. Precisamos duas quantidades que somadas déem 0 coeficiente do termo em x £9 a (que é 2) e multiplicados déem o termo numérico (que é *)s de acordo com as regras dadas no capitulo anterior. Entretan- to, ndo ha maneira Obvia de fazer isso. x x c we Entao, por que nfo remover o termo ae substitui-lo por algo mais facil de manejar? Remover ae facil. Basta trans- por, assim: 143 et+(2\r= -< A questao agora é: substituir por o qué? Bem, a maneira mais simples de encontrar dois valores que somem certa quan- tidade é tomar a metade dessa quantidade e soma-la a si mes- ma. Ou seja, 4éiguala2 + 2,76a38 + 38, e assim por diante. Ametadede b € (4) (2) ou b logo b + be b aes Qt 4a 2a’ 2a 2a” F" . ; bb Temos assim dois valores, 2a © 2a’ que somados d&o o coeficiente do termo em x. Qual é o produto desses mesmos dois valores? A resposta é: (z2) (as) = a 2a)}\2a/ 4a? Temos que somar isso ao lado esquerdo da equac¢Ao, e pa- ra fazé-lo temos de soma-lo também ao lado direito, de modo que a equacao se transforma em b b? 6? e+( eta ote Agora, por um momento, concentremo-nos no lado direi- to da equacdo. Suponha que multipliquemos a fragdo ——7, 4ac Aq’? o que nfo muda o valor da fracdo e nos da o mesmo denomina- dor da segunda fracdo do lado direito. Agora 0 lado direito da equacdo ficou sendo em cima e embaixo, pela quantidade 4a. Temos assim — _ fac, 4a? * 4a? 144 ou (6? — 4ac) 4a? Portanto, a nossa equacdo geral pode escrever-se b? — 4dac +(()e+i- Ga Agora é tempo de examinarmos o lado esquerdo da equa- cao. Nos o arranjamos de modo a ter dois valores, ye 2 , que somados dio b , 0 coeficiente do termo em x, e multiplicados 2, dio = que representa o termo sem incdgnita. Isso quer di- zer, de acordo com as regras do capitulo anterior, que o lado esquerdo da equacao pode ser fatorado em (x + * (x + 2), ou (x + Py, Agora a equac&o se transforma em b\? _ (6? — 4ac) (« t x) ee? Podemos transpor o expoente, 0 que nos da (6? — 4ac) 4a? Como se vé, formar a raiz quadrada torna necessario introdu- zir um sinal ‘‘mais ou menos’’. etpae b’— 4ac) ode escrever-se 4a’ P Quanto ao lado direito, + 145 al Pee A raiz quadrada do numerador nao pode ser calculada, mas a do denominador sim, ja que (2@)(2a) éiguala 4a’, Logo, «/4a’ é igual a 2a. Agora a equacdo pode escrever-se b Vb? — 4ac —= + —_——_ 2a 2a Por transposic&o, temos Bh? — doc 2a 2a Como as duas fracdes tem o mesmo denominador, pode- mos combina-las, e a equacdo toma finalmente a forma ea OE VE = hee ~ 2a Essa é a solucdo geral para x em qualquer equacdo do se- gundo grau, expressa em termos dos coeficientes submetidos a varias operacées algébricas. Para resolver qualquer equacdo quadratica, basta disp6-la em sua forma geral e levar os coefi- cientes 4 formula de x acima. Por exemplo, na equacéo 17x72 -— 2x—5 =0, @=17, b= —2ec=-—5. Levemos esses valores numericos a solucdo geral e teremos gp = T6o?) & V(—2)(—2) — AAD(-5) (2)(17) 2+ VE+ 340 rn 146 247344 24 (4(86) 2+ 2V86 ee 34. i=‘ *”*~“‘“‘S™SC‘CSSC*™” _ (2)(1 + V86) _ 1 + V86 (2)(17) 17 Note em primeiro lugar que ha duas respostas, ja que te- mos uin sinal ‘“‘mais ou menos’’. E uma resposta quando apli- cado o mais, e outra quando se aplica o menos: _(d+ve8) _d— v8) 17 it Note também que ./86 é um numero irracional. Vocé vé entéo que em equacGes do segundo grau é possivel obter para x valores irracionais, mesmo os coeficientes da equacAc sendo racionais. Em problemas praticos que envolvam solucGes co- mo essa, pode-se achar uma resposta aproximada tomando o valor do numero irracional com tantas casas decimais quantas sejam necessarias. (Felizmente, esses valores podem ser calcu- lados, ou simplesmente encontrados em tabelas). O valor de J86, por exemplo, é aproximadamente 9,32576. Portanto, as duas respostas sio aproximadamente 0,6074 e —0,4309. E claro que também podemos ter solucdes racionais para uma equacdo quadratica. Na equacéo x? + 5x + 6 = 0, aéigualal, biguala5ec igual a 6. Levando esses valores a formula geral, temos: = 5+ V6)6) — (4)0)6) (2)(1) 147 —5 + V25 — 24 2 -5+vi1 x= 2 Aqui, como se vé, a raiz quadrada desapareceu, pois Ji é igual a 1. As duas solucdes sAo portanto: _(-5+1)_-4__, 2 27 ou _(-5—-1)_ -6_ %=—— 5 =>3 3 que, alias, poderiamos obter diretamente por fatoracdo. GRAUS MAIORES As solucées gerais para as equacées do primeiro e segundo graus jA eram conhecidas antes da ascensdo da algebra no sécu- lo XVI. Por isso, a essa altura os matematicos passaram a inte- ressar-se na possibilidade de uma solucdo para a equaco geral do terceiro grau em termos de manipulacdes algébricas dos coeficientes. NA&o entrarei na natureza da solucio geral, mas ela foi des- coberta, e o descobrimento esta ligado a um episédio conheci- do. Foi em 1530 que um matematico italiano chamado Nicolo Fontana conseguiu finalmente encontrar a solucgdo geral. (Fontana tinha um defeito de fala que lhe valeu o apelido de Tartaglia — ‘‘gago’’ emitaliano. O apelido se vulgarizou de tal modo que até hoje ele é conhecido quase unicamente como Ni- colo Tartaglia.) 148 Naquele tempo, n&o era raro que os matematicos guar- dassem segredo sobre as suas descobertas, mais ou menos co- mo hoje as industrias as vezes mantém secretos os seus méto- dos de producdo. Tartaglia ganhou grande fama por ser capaz de resolver problemas que envolviam equacdes cibicas e que ninguém mais sabia resolver. Sem diivida ele se comprazia na sua condicao de milagreiro matematico. Outros matematicos, naturalmente, viviam insistindo com Tartaglia para que revelasse o seu segredo. Por fim, Tar- taglia cedeu as pressdes e, em 1545, revelouo método a Geroni- mo Cardano, 0 matematico que introduziu os nimeros negati- vos e os imaginarios. Ele exigiu de Cardano o juramento de manter o assunto em sigilo. Mas Cardano, de posse da soluc&o, prontamente publi- cou-a e a deu como sua. O pobre Tartaglia teve de travar uma longa luta para assegurar-se os méritos da descoberta, e desde entéo os matematicos discutem a quem se deve credita-la. Hoje em dia, como se sabe, considera-se imoral que um cientista guarde em segredo uma descoberta. Achamos que ele tem o dever de publica-la e de comunica-la a todos os colegas cientistas; s6 assim a ciéncia e a cultura podem progredir. Alias, o mundo cientifico confere a paternidade de qualquer descobrimento, fato ou fendmeno a pessoa que primeiro o di- vulgar. Se alguém mais fez a mesma descoberta antes e a man- teve em segredo, perde o direito as honras. Segundo esse modo de ver, Tartaglia estava errado em manter a solucio em segredo, e Cardano estava certo em pu- blicaé-la, e de justiga merece o crédito. Contudo, no século XVI ndo era esse o ponto de vista comum, e deve-se levar em conta o fato de que na época n4o se considerava imoral manter segre- dos cientificos. Ademais, mesmo estando certo, como matematico, em publicar a soluc4o, Cardano estava errado, como ser humano, em anuncié-la como de sua autoria e nao dar a Tartaglia o mé- rito de té-la ideado primeiro. A verdade é que Cardano, a par 149 de grande matematico, foi também um grande patife em mui- tos aspectos. Mais ou menos na mesma ocasiao, Cardano tentou en- contrar solucéo para a equacdo geral do quarto grau. Nao teve éxito, e passou o problema para um jovem chamado Ludovico Ferrari, que era seu aluno. Ferrari resolveu-o prontamente. Depois disso, os matematicos acharam que seria apenas questo de paciéncia e perseveranga encontrar a solucdo paraa equacéo geral de qualquer grau, mas quando atacaram a do quinto grau, viram-se em apuros. Nada parecia funcionar. Por quase trezentos anos tentaram tudo que podiam imaginar, e por quase trezentos anos falharam. O proprio Euler (0 primei- ro a usar O i para representar a raiz quadrada de -1), um dos maiores matemAaticos de todos os tempos, quebrou a cabeca com 0 quinto grau e fracassou. Em 1824, um jovem matematico noruegués, Niels Henrik Abel (entéo com apenas 22 anos, e que viria a morrer apenas cinco anos depois), demonstrou que a equacao geral do quinto grau era insolivel: nao podia ser resolvida em termos de seus coeficientes por meio de operacoées algébricas. Havia outros meios, mas nao por Algebra. Ficou provado que nenhuma equacao de grau maior queo quarto pode ser resolvida desse modo. Em 1846, um jovem e brilhante matematico francés, Evariste Galois, tragicamente morto num duelo com apenas 21 anos de idade, criou uma ma- tematica nova e mais avancada, a ‘‘teoria dos grupos’’, capaz de manobrar equacées de grau superior, mas isso, éclaro, nfo é para este livro. ALEM DOS GRAUS Se tomarmos uma equacdo geral de qualquer grau, qual- quer valor que sirva de solucdo para x é chamado um ‘‘nimero algébrico”’ Por exemplo, ja vimos que no caso da equacao geral do primeiro grau, qualquer nimero racional, positivo ou negati- vo, pode servir de solucaéo. Mesmo zero pode ser soluco para x, ha equacéo ax=0. Portanto, todos os nameros racionais sao ntimeros algébricos. No caso da equacfo geral do segundo grau, qualquer nt- mero racional pode ser soluc4o, bem como certos nimeros ir- racionais. Assim, a raiz quadrada de qualquer numero racio- nal pode ser soluc&o. No caso da equacao geral do terceiro grau, niimeros racio- nais, raizes quadradas e raizes cibicas podem ser solucdes. O quarto grau acrescenta raizes quartas a lista, o quinto grau rai- zes quintas, e assim por diante. Enfim, o rol dos numeros algébricos inclui todos os nume- ros racionais, e todos os irracionais que sejam raizes (de qual- quer grau) de nimeros racionais. Sera que isso abrange todos os niimeros? Havera numeros irracionais que nao sejam raizes, desse ou daquele grau, de al- gum numero racional? Em 1844, um matematico francés chamado Joseph Liou- ville demonstrou a existéncia de tais irracionais, mas nfo foi capaz de demonstrar que algum numero particular fosse um exemplo. S6 em 1873 outro francés, Charles Hermite, conse- guiu a facanha. Demonstrou que uma certa quantidade, de grande aplica- cio nas matematicas superiores e geralmente simbolizada por é, era um numero irracional que n4o era raiz, em nenhum grau, de nenhum nimero racional. (Hermite também resolveu a equacdo geral do quinto grau por métodos nao-algébricos.) O valor aproximado de e é 2,71828182845904523536028- 74... Modernos computadores calcularam-lhe o valor até 60.000 casas decimais. A quantidade e foi o primeiro nimero nao-algébrico a ser descoberto, e 6 um exemplo de ‘‘niimero transcendente’”’ (do latim, significando ‘‘que sobe além”’’, por- 151 que esses ntlmeros existem além da longa lista dos nimeros al- gébricos).* Outra quantidade interessante € a que os matematicos usualmente representam por 7, que é a letra-grega ‘‘pi’’. Re- presenta a razdo da circunferéncia de circulo para o diametro. Multiplicando por 7 o comprimento do didmetro de um circu- lo, encontra-se 0 comprimento da circunferéncia. O valor aproximado de a é 3,1415926535897932384626433832795028- 8419716939937510... e modernos computadores ja lhe calcula- ram o valor até dez mil decimais. Em 1882, o matematico alemao Ferdinand Lindemann, empregando métodos de Hermite, provou ser 7 transcendente. Hoje se sabe que quase todos os logaritmos sao transcenden- tes; que quase todas as ‘‘funcdes trigonométricas’’, como por exemplo o seno de um Angulo (matéria do ramo da matematica chamado ‘‘trigonometria’’), sfio transcendentes; e que todo numero elevado a uma poténcia irracional, como por exemplo 2%?, é transcendente. Alias, existem muito mais nimeros transcendentes do que numeros algébricos. Se bem que existam mais nimeros algeé- bricos do ave é possivel contar, ainda assim é verdade que qua- se todos os numeros sdo transcendentes.** * A importdancia de e esta no fato de ser ele essencial ao calculo de dois con- juntos de valores de grande importancia em computac6es e relagdes matema- ticas. Sdooslogaritmos(ver No Mundo dos Numeros)easrazoesentreoslados do tridngulo retangulo (‘‘funcGes trigonométricas’’). Quase todos os logarit- mos e funcdes trigonométricas sdo irracionais, e os que 0 séo, sao também transcendentes. ** Um modo de expressar isso é que o conjunto de todos os nimeros algébri- cos, conquanto infinito, pode ser representado pelo menor numero transti- nito. Oconjunto de todos os nimeros transcendentes também éinfinito, mas pode ser representado por um transfinito maior. Se o assunto lhe despertaa curiosidade, eu trato dele com algum detalhe no ultimo capitulo de No Mun- do dos Numerus. 152 12 Duas de Uma Vez EQUACOES SEM SOLUCAO Até aqui, nio nos ocupamos de nenhum problema ou equacao em que houvesse mais de uma quantidade desconheci- da. No entanto, pode haver mais de uma incognita. Vejamos um caso. Suponha que lhe digam que o perime- tro de um certo retangulo é de 200 metros (perimetro é a soma dos comprimentos dos quatro lados). Pergunta-se: Quais so Os comprimentos dos lados? Para comecar, chamemos de x o comprimento de um dos lados do retangulo. O lado oposto a esse também sera x (pois uma das propriedades do retangulo é que lados opostos tém o mesmo comprimento). A soma dos comprimentos desses dois lados opostos é 2x. E quanto ao outro par de lados opostos? Pode-se ter idéia de qual seja o seu comprimento? Infelizmente nao, pelo menos em valor numérico. Eles saéo tao desconhecidos quanto o primeiro par, e também de- vem ser designados por um simbolo literal representando uma incognita. Usar x causaria confusao, pois x ja est4 sendo usado no problema. O costume é usar y como segunda incdgnita. Do outro par de lados pode-se entdo igualar cada um a y, dando um total de 2y. Agora podemos dizer que 2x + 2y = 200 Podemos tentar tirar nessa equacdo o valor de x e ver no que da, e para isso podemos comecar fatorando: a(x + y) = 2(100) Dividindo cada lado da equac4o por 2, temos x+y = 100 E, por transposicao, x=100—-y Ai esta o nosso valor de x, mas de que nos adianta? Como nado sabemos o valor de y, nfo podemos converter o nosso va- lor de x num valor numérico, Claro, se soubéssemos ser y igual a 1 metro, x seria igual a 100 — 1 ou 99 metros. Ou se de algum modo pudéssemos determinar ser y igual a 7 metros, x seria igual a 100 — 7 ou 93 metros. Ou, se y fosse igual a 84,329 me- tros, x seria igual a 100 — 84,329 ou 15,671 metros. Cada um desses pares de valores satisfaria a equacdo. 2(99) + 2(1) = 200 2(93) + 2(7) = 200 2(15.671) + 2(84.329) = 200 Poder-se-ia formar qualquer numero de outros pares que também satisfariam a equacao. E claro que isso nao significa que dois nimeros quaisquer serviriam. Uma vez escolhido um valor para y, sO ha um valor possivel para x. Ou, se de inicio se escolhe um valor para x, sO resta um valor possivel para y. Outra observacéo. Nao se pode escolher um valor para x ou para y que seja 100 ou acima de 100 sem incorrer em certas 154 dificuldades praticas. Se fizermos y igual a 100, ent&o x sera igual a 100 — 100 ou 0. Entao nao teriamos um retngulo, mas simplesmente uma reta. Se fizermos y igual a 200, x seraiguala 100 — 200 ou -100, e sera necessdrio julgar qual o significado de um retangulo em que o comprimento de um dos lados é um numero negativo. ; Contudo, apesar dessas dificuldades praticas, matemati- camente esses conjuntos de valores satisfazem a equacdo: 2(0) + 2(100) = 200 2(—100) -+ 2(200) = 200 ‘Mas, mesmo se decidirmos limitar os valores de x ey a fai- xa dos niimeros maiores que zero e menores que 100, existira ainda a escolher um numero infinito de pares que satisfariam a equacéo. E nao ha qualquer motivo para achar que um deter- minado par de valores fosse soluc&o mais certa que outro par qualquer. Nao haveria como escolher entre esse namero infini- to de pares, e por isso uma equac&o como 2x + 2y = 200 é cha- mada uma ‘‘equacdo indeterminada’’. SO INTEIROS Vocé deve estar pensando que uma equacdo sem solucio definida é uma coisa que n4o serve para nada, e que com certe- za os matematicos devem jogaé-la no lixo. Nada disso. Na ver- dade, equacoes dessa espécie tém fascinado os matematicos so- bremaneira. Um dos primeiros a se interessar em equacdes indetermi- nadas foi um matematico grego chamado Diofanto, que viveu por volta do ano 275 D.C. na cidade de Alexandria, no Egito. Ele interessou-se particularmente em equacées cujas solucdes s6 podiam ser nimeros inteiros. Veja-se um exemplo de pro- blema que leva a uma equacdo como essa. 155 Suponha que uma classe tem 8 alunos, sendo que alguns sao meninos e alguns séo meninas. Quantos s4o os meninos, e quantas as meninas? Se chamarmos de x o numero de meninos e de y o de meninas, teremos a equacdo x+y =8 Ora s6 podemos admitir para xe y certos valores. N&o po- demos ter x ou y igual a /2 ou a 17, porque nao podemos ter uma quantidade irracional de criangas, nem tampouco uma quantidade fracionaria. Também nao podemos ter nem x nem y igual a zero, porque dissemos que ha meninos e meninas na classe. E nenhum dos dois pode ser igual a 8, pois entéo 0 outro seria igual a zero, nem maior que 8, pois o outro seria um nt- mero negativo, e um numero negativo de criancas também nao NOs serve. Visto isso, s6 hA um numero muito limitado de solucdes possiveis para a equacdo. Se x=1, ent&io y=7; se x=2, entdo y =6, e assim por diante. Na verdade, s6 ha 7 conjuntos possi- veis de respostas: 1 menino e 7 meninas, 2 meninos e 6 meni- nas, 3 meninos e 5 meninas, 4 meninos e 4 meninas, 5 meninos e 3 meninas, 6 meninos e 2 meninas, e 7 meninos e 1 menina. Embora o numero de respostas seja limitado, a equacéo continua indeterminada, porque néo temos como dizer qual dos 7 pares de numeros é a resposta certa, porque nfo ha uma resposta certa. Todas séo igualmente certas. Uma equac4o indeterminada cujas solucGes s6 possam ser expressas por numeros inteiros é chamada ‘‘equac@o diofanti- na’’, em homenagem ao velho matematico grego. Algumas equacées diofantinas séo famosas na historia da matemiatica. Por exemplo, os gregos interessaram-se muito no triangu- lo retangulo (figura de trés lados em que um dos Angulos é reto). Um matematico grego chamado Pitagoras, que viveuem 156 torno de 530 A.C., demonstrou que a soma dos quadrados dos dois lados que formam o Angulo reto do triangulo reténgulo era igual ao quadrado do lado oposto ao 4ngulo reto (chamado ‘‘*hipotenusa’’). Em sua homenagem, esse fato matematico é conhecido como ‘‘teorema de Pitagoras’’. Isso pode expressar-se algebricamente, chamando um la- do de x, o segundo de y, e a hipotenusa de (o que agora?) z. A equacio fica sendo x? + y? = 2? Como temos trés incégnitas numa tnica equacéo, temos um numero infinito de solucdes possiveis. Escolhendo a4 vonta- de valores quaisquer para duas das incOgnitas, determina-se um valor para a terceira. Se dermos a xe a y 0 mesmo valor 1, ent&o z?é igual a 1? mais 12 ou 2, donde zé igual a ./Z. Se fizer- TEOREMA DE PITAGORAS mos x igual a2ey igual a 13, ent&o z? sera igual a 2? mais 13? ou 173, e zsera igual a/173. Temos assim dois conjuntos de trés nimeros, a saber, 1, 1, J2e 2, 13, 173, que satisfazem a equacdo pitagorica. Vocé pode encontrar quantos outros conjuntos queira sem nenhum esforco. Mas suponha que sé nos interessem solucdes em que x, ye zsejam todos nimeros inteiros, de modo que a equagdo se tor- ne diofantina. De inicio vocé poderaé conjeturar se existem solugées aten- dendo aessa condicéo. Bem, suponha que facamos xiguala3e yigual a4. Entdo z?é igual a 32 mais 4? ou 25, ezéigual a./25 ou 5, Ai temos um conjunto de inteiros — 3, 4e5 — que serve co- mo solucfo para a equacdo. Existem outras. Por exemplo, 5? + 12? = 132, de modo que 5, 12 e 13 sAéo uma solucdo. Na verdade, verifica-se que existe um numero infinito de solugdes de nimeros inteiros para a equacio. Os matematicos determinaram regras para achar essas solucGes, e em o fazendo aprenderam muito sobre a ma- nipulacdo dos nimeros inteiros. Um matematico francés chamado Pierre de Fermat, que viveu nos comecos do século XVII, estudou o comportamento dos inteiros de forma téo completa que fundou um ramo da matematica relativo aos inteiros e chamado ‘‘teoria dos nime- ros’’, Fermat tinha o habito de rabiscar nas margens dos livros que lia, e certa vez escreveu que tinha descoberto um fato inte- ressante sobre as equacdes do tipo en + yy” = 2n em que # pode ser qualquer numero inteiro. (A equac&o pita- gorica é um caso particular desse grupo, em que n é igual a2.) Fermat anotou ter descoberto que, sempre que m fosse maior que 2 nessa equacdo, nao havia solucdes formadas sé de 158 inteiros. Ou seja, é possivel somar os quadrados de dois intei- ros e encontrar o quadrado de outro inteiro, como em 3? + 4? = 52, mas ndo é possivel somar os cubos de dois inteiros e en- contrar o cubo de outro inteiro, nem somar quartas poténcias de dois inteiros e encontrar a quarta poténcia de outro inteiro, e assim por diante. Fermat escreveu no livro que tinha disso uma simples e elegante prova, mas que a margem era pequena demais para conté-la. Ele nunca escreveu a prova (ou, se o fez, ninguém a encontrou), e o chamado ‘‘Ultimo Teorema de Fermat’’ nado foi provado até hoje. Os matematicos tém tentado. Fermat foi um estudioso tao brilhante que é dificil crer que se tivesse enganado. A prova deve existir. Todos os grandes matematicos tém-se esforcado por acha-la. Ofereceram-se prémios. O teorema parece verda- deiro — mas, quanto a prova, até hoje nada. E possivel que Fermat se tenha equivocado ao julgar que tinha a prova, mas nfo ha nada que possamos afirmar. Pena que a margem do livro nao fosse um pouquinho maior. ACRESCENTANDO INFORMACOES O que faz que uma equac4o seja indeterminada éa falta de dados. Se alguém nos diz que o total de meninos e meninas nv- ma classe é 8, tudo que podemos afirmar é que x+ y=8, endo ha solucfo definida. Mas suponha que algo mais nos fosse in- formado. Suponha que nos dissessem que ha trés vezes mais meninas que meninos. Se nds chamamos de x o numero de me- ninos e de y o de meninas, podemos dizer que y= 3x. Agora, os dados que temos permitem-nos armar duas equacgdes, cada qual com duas incdégnitas: x+y=8 y = 3x Sao chamadas ‘‘equacdes simultaneas’’, porque os mesmos valores de x e y devem satisfazer simultaneamente as duas equacoes. Se y= 3x, naturalmente podemos substituir y por 3x onde quer que ele apareca. Em particular, podemos substituir y por 3x na primeira equacdo e obter x+3x=8 E eis que temos uma equacdo com uma incdgnita sé, e por sinal muito simples, que da: O numero de meninos é 2, e agora podemos substituir x por 2 onde quer que ele apareca. Podemos fazé-lo na equac4o y= 3x, que se torna y=(3)(2) ou 6. Nossa soluc&o final é pois que ha 2 meninos e 6 meninas na classe. A soma, com efeito, €8 e, com efeito, ha trés vezes mais meninas que meninos. O mesmo principio funciona em situacdes mais complica- das. Sejam as duas equacOes seguintes: Tix —- 3y=7 5x + 2y = 34 Vamos tirar o valor de x na primeira equacio: ix —3y=7 160 Tix = 7+ 3y _ (7+ 8y) 7 Agora podemos substituir x por ry) na segunda equa- cao e obter: 5(7 + 38y) _ a + 2y = 34 G5 +1) | 9 - 34 4 + ay = 34 5 + = 2 + Qy = 34 12 + 2 = 34-5 15y | oy = 99 7 ‘ Espero que até aqui as razdes de cada passo tenham sido claras para vocé. Agora vamos fazer desaparecer as frac6es, simplesmente como fariamos em aritmética, multiplicando ca- da Jado da equacdo por 7: 7 (2 4 2) = 7(29) 161 7(=2) + 7(2y) = 7(29) 15y + 14y = 203 29y = 203 _ 263 Y= 99 y=T Agora que sabemos que y= 7, podemos voltar a qualquer das equacées primitivas e substituir y por 7. Na primeira equa- cao: Tx — 3(7) = 7 Tx —21=7 Tx = 7+ 21 7x = 28 x = 28 7 x= 4 Ou, se preferirmos usar a segunda equacdo: 5x + 2(7) = 34 ba + 14 = 34 5x = 34 — 14 5x = 20 _ 20 5 x=4 De um modo ou de outro, a resposta tinica a que chega- mos é que x éiguala4eyiguala7, ese os dois valores forerm le- vados a qualquer das equacGes, vocé verificara que so solu- cdes validas, O que é mais, se tirassemos x na segunda equacio e levas- semos 0 seu valor a primeira, ou se tirassemos y em qualquer das equacdes e levassemos o seu valor a outra, chegariamos sempre a mesma solucdo: x é 4e y é 7. (Vocé pode comprovar por si mesmo.) Outro procedimento seria tirar em ambas as equacdes o valor de x ou o de y; digamos que fosse o de y. No primeiro ca- so: ix-—3y =7 —3y = 7 — Tx 38y = Ix —7 _ (x=) ye 3 No segundo caso: 5a + Qy = 84 2y = 34 — 5x _ (34 — 5x) a) Agora temos duas expressOes diferentes para y. Para que nao haja incongruéncia, temos de admitir que as duas expres- sdes tem o mesmo valor, logo podemos iguala-las: (7x — 7) _ (84 — 5x) 3 — 2 Agora temos uma tinica equac4o com uma incégnita. Po- demos comegar eliminando as fracdes pelo método usual arit- mético de multiplicar as duas fracdes pelo produto dos dois de- nominadores, (3)(2) ou 6: 6(7x — 7) _ 6(34 — 5x) 3. ©~SC~«S 2(7x — 7) = 3(84 — 5x) 14x — 14 = 102 — 15x 14x + 15x = 102 4-14 29x = 116 _ = 116 ~ 29 x=4 164 E, naturalmente, substituindo x por 4 em qualquer das equacdes primitivas, encontraremos que y é igual a 7. UM TERCEIRO METODO Ha ainda um outro artificio que podemos aplicar as nos- sas duas equac6es com duas incégnitas. Para entendé-lo me- Ihor, comecemos por considerar duas equacGes gerais muito simples: a=bec=d. Sabemos que um valor qualquer pode ser somado ou sub- traido dos dois lados de uma equac4o sem tornar falsa a equa- cio. Até aqui eu sempre somei ou subtrai a mesma expresso de cada lado, mas n&io tem de ser necessariamente assim. Posso somar (ou subtrair) expressdes diferentes, desde que tenham o mesmo valor. Por exemplo, posso somar 5 a um lado da equa- cio e 17 — 12 a0 outro. Ora, se c= d, posso somar c a um lado da equacgdo e dao outro sem tornar falsa a equacdo. Expressando isso em simbo- los: Se a=b e c=d entdo atc=b+d ou a—-c=b6b-d ou ac = bd ou a_b c od e assim por diante. Agora podemos voltar as nossas duas equacOes: Tx — 3y = 7 5x + 2y = 34 Pela regra geral que acabamos de ver, posso somar 0 lado esquerdo da segunda equacéo ao lado esquerdo da primeira, e o lado direito da segunda equacdo ao lado direito da primeira. Obtenho: (7x — 8y) + (6x + 2y) = 7+ 34 Tx + 5x — 38y + 2y = 41 12x —y= 41 Agora vocé perguntara o que foi que eu consegui com is- sO, € a resposta é: nada. Mas no seria bom se com a soma eu me livrasse de x ou de y? Se pudéssemos dar um jeito de fazer com que o termo em y de uma equacéo somado ao termo em y da outra desse 0, teriamos esse resultado. Vejamos como fazé- lo. Suponha que eu multiplique a primeira equacdo por 2, dos dois lados, como posso fazer sem destruir a equacao. Te- rei: 2(7x — 3y) = 2(7) 14x — 6y = 14 Suponha que, em seguida, eu multiplique a segunda equa- cao, dos dois lados, por 3: 3(5x + 2y) = 3(84) 15x + 6y = 102 166 Veja que fazendo isso eu consegui ter um -6y em uma equacéo eum + 6y na outra. Se agora eu somar as duas equa- ¢des, esses dois termos somados dao zero, e nfo mais havera termo em y na equacdo: (14x — 6y) + (15x + 6y) = 14+ 102 14x + 15x — 6y + 6y = 116 29x = 116 , = 118 ~ 99 x=4 e, por substituicao, temos novamente y igual a 7. Assim, por diferentes artificios, é sempre possivel tomar duas equacoées, cada uma contendo duas incdgnitas, e fazer de- las uma unica equacéo contendo s6 uma incognita. Entretan- to, um ponto importante a lembrar é que a segunda equacao deve ser independente da primeira; isto é, deve realmente acrescentar uma nova informacdo. Se uma das equacodes puder ser convertida na outra por soma ou subtracéo de um mesmo valor dos dois lados, ou por multiplicacao, divisio, elevacio a uma poténcia ou radiciacao igualmente dos dois lados, elas sio na verdade uma mesma equacéo. A segunda n4o acrescenta nenhum dado. Para tomar um caso simples, suponha que tivéssemos: x-Y=2 2x — 2W=A4 A primeira equacao se converte na segunda, simplesmen- te multiplicando por 2 cada lado; ou a segunda se converte na 167 primeira se se divide por 2 os dois lados. Portanto elas sio uma mesma equacdo. Se vocé nao levar isso em conta e quiser de qualquer modo ir em frente para ver o que acontece, pode tirar o valor de x na primeira equac&o e encontrar x=2+y. Em seguida substituir x por 2+ y na segunda equacdo: 22+47)-az=4 4+ 2y—2y=4 A soma dos termos em y da zero, e resta apenas 4=4 O que sem duvida é verdade, mas nao ajuda muito para deter- minar os valores de x e y. E um exemplo de ‘‘raciocinio em cir- culo’’. Naturalmente, se tivermos trés incégnitas, precisaremos de trés equacGes independentes. As equacgGes 1 e 2 podem ser combinadas de modo a eliminar uma das incégnitas, eas equa- cOes 1 e 3 (ou 2 e 3) podem ser combinadas para eliminar essa mesma incdgnita. Isso nos da duas equacdes com duas incégni- tas, e desse ponto em diante proceder-se-4 do modo que ja vi- mos. Analogamente, podem-se encontrar valores numéricos para quatro incdgnitas se existirem quatro equacdes indepen- dentes; cinco incdgnitas se existirem cinco equacdes indepen- dentes, e assim por diante. E certo que o processo torna-se pro- gressivamente trabalhoso, e requer técnicas especiais, mas em principio o numero de incdgnitas nado nos deve amedrontar — desde que disponhamos de dados suficientes. 168 13 Pondo a Algebra para Funcionar GALILEU ROLA BOLAS Pode ser que,.ao ler este livro, lhe ocorra o pensamento: Para que serve tudo isso? Estou certo de que no fundo vocé sabe que a matéria é de fato utilissima, mas, enquanto tenta acompanhar todos os mo- dos em que as equac¢des devem ser manipuladas, é possivel que ainda assim vocé se sinta um tanto impaciente. Sera que a alge- bra vale todo o esforco que custa aprendé-la? Sem divida ela pode ser de utilidade na solucdo de proble- mas que ocorrem no dia-a-dia. Por exemplo, suponha que vo- cé t8m $10 para gastar, e pretende fazer compras numa lojaem que todas as mercadorias estao sendo oferecidas com 15% de desconto sobre os pre¢os de lista. Se vocé tem um catalogo que da somente os precos de lista, qual é o preco do artigo mais ca- ro que vocé pode comprar? Vocé poderia, se quisesse, simplesmente tomar alguns precos ao acaso e subtrair 15% até encontrar um que lhe desse 0 preco liquido de $10. Mas isso seria pouco pratico. Por que, em vez disso, ndo dizer a si mesmo que com 15% de desconto vocé paga 85% ou = do preco de lista, de modo que ral de um valor desconhecido, que chamara de x, € $10? A equacfio é: 85x ioo = 1° 169 e vocé deve ser capaz de resolvé-la facilmente, aplicando os principios expostos neste livro: _ (10)(100) _ |, 65 x= "95 11G5 Com aproximacao de centavos, isso da $11,77. Verifican- do, vocé vera que um desconto de 15% em $11,77 é, com apro- ximacdo de centavos, $1,77, o que deixa um preco liquido de $10,00. Ou suponha que alguém esta seguindo uma receita desti- nada a preparar 4 porcédes de um certo prato, quando precisa de7 porcdes, A cozinheira sabe, éclaro, que deve aumentar to- dos os ingredientes proporcionalmente. Na vida real isso geral- mente é feito ‘‘a olho’’, e por isso o quitute nao sai como devia, embora preparado com a receita em maos. Por que nao fazer uso da algebra? Se a receita original manda botar 1'% colher de cha, vocé pode dizer: ‘‘Quatro esta para sete como um e meio esta para alguma coisa que eu ainda ndo sei o que é.’’ Um modo de escrever matematicamente esse enunciado €: 4:7::1,5:x, que o expressa em forma de ‘‘razdes’’. Mas, quando falei de fracdes 4 pagina 40 eu disse que elas podiam considerar-se razdes, logo a equagéo também po- de escrever-se 15 x -1| e pode resolver-se como segue: 4x = (1.5)(7) = 10.5 x= ae = 2.625 E claro que vocé nao vai medir tempero com aproximacao de milésimos de colher de cha, mas podera tentar medir um pouquinho mais que 2 colheres, o que sera bem melhor que usar a chutometria. Evidentemente, essas sdo coisas corriqueiras, e vocé tal- vez ache que a algebra nao é tao importante, se s6 serve para calcular precos e adaptar receitas de cozinha. Mas nao é so para isso que ela serve. A principal utilidade da algebra esta ligada aos esforcos dos cientistas de compreen- der o universo. Vejamos como ela se aplica nesse contexto, e como alguns simbolos podem ajudar a realizar as mais nota- veis conquistas. Comecarei pelo comeco. Os fil6sofos da Grécia antiga interessaram-se de modo es- pecial nas formas dos objetos, e assim levaram a geometria a ura alto grau de desenvolvimento. N&o se interessaram pro- priamente em pesos e medidas, e por isso nao desenvolveram a Algebra. O resultado foi que os seus conceitos neste campo eram um tanto nebulosos. Por exemplo, o maior dos filésofos gre- gos, Aristdételes, interessou-se no modo como os corpos se mo- viam quando abandonados a si mesmos. Entretanto, conten- tou-se em declarar que corpos solidos e liquidos moviam-se pa- ra baixo, espontaneamente, em direcdo ao centro da Terra, ao passo que 0 ar ec o fogo se moviam, espontaneamente, para ci- ma, em direcdo oposta ao centro da Terra. Além disso, afir- mou que objetos pesados moviam-se para baixo (caiam) mais depressa que objetos leves, de modo que uma pedra-caia mais depressa que uma folha, por exemplo. Nao lhe ocorreu tentar medir o tempo que uma pedra le- vava caindo, ou se ela caia em velocidades diferentes no come- co e no fim da queda. No despontar da idade moderna, as coisas comecaram a mudar. O artista italiano Leonardo da Vinci, em fins do século XV, desconfiou que objetos em queda aumentavam de veloci- dade a medida que caiam. Mas foi somente cem anos depois, em fins do século seguinte, que o cientista italiano Galileu Ga- lilei (geralmente conhecido sé pelo primeiro nome) se propéds efetivamente medir os tempos de queda. Nao era coisa facil, pois Galileu néo dispunha de relégios com que trabalhar. Para medir 0 tempo, tinha de valer-se do seu pulso, ou ent&o medir o peso da agua escorrida através de um orificio feito no fundo de um balde. Isso ndo se prestava a medicdo dos pequenos intervalos envolvidos no estudo de ob- jetos caindo livremente por efeito da ac&o da gravidade. En- t&o, o que ele fez foi rolar bolas ao longo de calhas suavemente inclinadas. Dessa forma, o rolamento das bolas era mais lento do que seria a sua queda livre. A forca da gravidade, por assim dizer, se diluia, e os meios toscos de medir o tempo de que dispunha Galileu eram suficientes, Nessas experiéncias, Galileu verificou que a velocidade com que uma bola se movia num'‘plano inclinado era direta- 172 mente proporcional ao tempo que se movia. (Nao me darei ao trabalho de explicar como ele media velocidades, pois nfo é o que nos interessa aqui.) Assim, podia ser que a bola, tendo partido de uma posi- cao de repouso no alto da calha, se estivesse movendo a razao de 3 metros por segundo ao fim de um segundo. Ao fim do do- bro desse tempo (2 segundos), estaria se movendo com o dobro da velocidade (6 metros por segundo). Ao fim de quatro vezes o tempo (4 segundos), a velocidade seria 4 vezes maior (12 me- tros por segundo), e assim por diante. Como se vé, para calcular a velocidade basta multiplicar o tempo que a bola esteve rolando por um numero fixo. No caso descrito, o numero fixo ou ‘‘constante’’ é 3, logo pode-se de imediato concluir que ao fim de 37,5 segundos a bola estaria se movendo a velocidade de (37,5)(3) ou 112,5 metros por segun- do. Para expressa-lo em termos gerais, podemos chamar de f o tempo quea bola esteve rolando. (E costume em experiéncias desse género simbolizar as diferentes grandezas pela respectiva inicial.) A velocidade é representada por v, ea constante por k (que pelo menos tem o som da inicial c). A equacdo determinada por Galileu para representar a sua descoberta sobre os corpos em movimento foi v= kt Ora, k tinha um valor constante numa determinada expe- riéncia, mas Galileu verificou que esse valor mudava quando ele mudava a inclinacdo da calha. Quando a inclinag&o era mais suave, o valor de & diminuia, quando era mais ingreme, aumentava. Evidentemente, o valor de X seria maximo quando a incli- nacdo da calha fosse a maior possivel — isto é, perfeitamente vertical. Ent&o a bola cairia livremente sob a acdo da gtavida- de, e a constante ent4o seria simbolizada por g (de gravidade). 173 A equacdo do movimento de um corpo em queda livre é por- tanto v = gt A partir das experiéncias com planos inclinados, Galileu calculou o valor de g (alids, nfo por algebra comum, mas por outro ramo da matematica chamado trigonometria), verifi- cando ser ele igual a 980, de modo que a equacfo se torna v= 980F Isso quer dizer que se um corpo é mantido imoével acima da superficie da Terra e em seguida largado de modo a cair li- vremente, ao fim de um segundo se estara movendo a velocida- de de 980 centimetros por segundo; ao fim de dois segundos, a 1.960 centimetros por segundo; ao fim de trés segundos, a 2.940 centimetros por segundo; e assim por diante. Galileu também descobriu experimentalmente que a mes- ma equacéo de movimento valia para todos os corpos rolando ou caindo sob a acdo da gravidade — para todos os corpos, fossem pesados ou leves. Havia uma segunda forga, a resistén- cia do ar, que se opunha 4 atracdo da gravidade, sendo porém muito pequena e s6 mostrando efeitos perceptiveis em corpos muito leves que oferecessem uma grande superficie ao ar — pe- nas, folhas, pedacos de papel, etc. Esses caiam lentamente, e foi isso que levou Aristdételes a julgar equivocadamente que a forca da gravidade atuava de modo diferente em diferentes corpos. Galileu mediu também as distancias percorridas por um corpo rolando num plano inclinado. Naturalmente, sendo a velocidade crescente, em cada segundo ele percorria mais ter- reno do que no segundo anterior. Galileu verificou que a dis- tancia total era diretamente proporcional ao quadrado do tem- po. Em 3 segundos a distancia percorrida era (3)(3) ou 9 vezes a 174 distancia percorrida em 1 segundo. Em 17 segundos era (17)(17) ou 289 vezes a distancia percorrida em | segundo, eas- sim por diante. A equacdo determinada por Galileu para a distancia d percorrida por um corpo em queda livre foi ga kt 2 Como g é igual a 980, a equacdo se reduz a d= 4907 Isso significa que, depois de 1 segundo, um corpo em que- da livre percorre uma distancia de (490)(1)(1) ou 490 centime- 490 cm 1 segundo 1960 cm 2 segundos 4410cm 3 segundos 7840 cm 4 segundos d = 4901? 175 tros; ao fim de 2 segundos, percorre uma distancia de (490)(2)(2) ou 1.960 centimetros; ao fim de 7 segundos, uma distancia de (490)(7)(7) ou 24.010 centimetros, e assim por diante. Dessa forma, Galileu expressou o comportamento de cor- pos em movimento por meio de equacées algébricas. Com isso, o comportamento péde ser descrito de maneira mais concisa e clara do que o seria sO por meio de palavras. Além disso, como emprego de equacdes, os problemas ligados 4 queda de corpos podiam ser resolvidos através das técnicas algébricas que os matematicos tinham desenvolvido no século precedente. Em conseqiiéncia, o estudo do movimento dos corpos progrediu rapidamente, e o mundo dos estudiosos foi contem- plado com o espetaculo de como o conhecimento aumentava quando a matematica e as técnicas matematicas eram aplica- das aos fenédmenos naturais. O resultado foi que a algebra veio mostrar-se essencial para a ciéncia (assim como, mais tarde, as matematicas superiores). Na verdade, as experiéncias de Gali- leu com corpos rolantes assinalam o nascimento da ciéncia mo- derna. NEWTON DEDUZ A GRAVITAGAO AS equacées usadas para expressar observacdées experi- mentais podem levar 4 deducdo de importantes generalizac6es a respeito do universo. Por exemplo, suponhamos que ao plano inclinado de Ga- lileu fosse dada a menor inclinac&o possivel; ou seja, suponha- mos que ele se tornasse perfeitamente horizontal. Nesse caso, k seria igual a 0. (Isso pode ser verificado por experiéncia direta com um plano horizontal, ou por calculo, empregando a trigo- nometria, a partir de experiéncias com planos nao horizon- tais.) A equac4o do movimento numa superficie horizontal é portanto: v= Ot 176 ou v=0 Isso significa que uma bola descansando numa superficie horizontal permanece imével. Agora suponhamos que a bola ja se estivesse movendo a uma velocidade constante, que chamaremos de V, e depois passasse a rolar num plano inclinado. Sua velocidade aumen- taria de acordo com a equacdo que ja vimos, e em cada ponto, a essa velocidade variavel, somar-se-ia a velocidade constante inicial. Ou seja, v=kh+V Suponhamos, porém, que o plano fosse horizontal, de modo que k fosse igual a zero. Entéo-0 movimento da bola com a velocidade inicial constante seria, deacordo com a equa- cao, v=(0i+ V ou v=V Isto é, um corpo que se movesse a uma velocidade cons- tante em condicdes nas quais nem a gravidade nem outra forca qualquer agisse sobre ele, continuaria a mover-se aquela velo- cidade constante. Nao ha termo em ¢ na equacdo, logo nao ha variacaéo da velocidade com o tempo. O cientista que pela primeira vez expressou isso claramen- te foi o matemAatico inglés Isaac Newton, nascido em 1642, o ano da morte de Galileu. Newton estabeleceu que todo objeto em repouso perma- nece em repouso a menos que sofra a acdo de uma forga exter- na, como a gravidade, e que todo corpo em movimento conti- 177 nua a mover-se a velocidade constante e em linha reta a menos que sofra a acdo de uma forca externa, como a gravidade. E a “Primeira Lei do Movimento’’, ou ‘principio da inércia’’. ; Nenhum dos filésofos antigos pressentiu essa verdade. Imaginavam que um corpo em movimento espontaneamente tendia para 0 repouso, a menos que uma forga continua o man- tivesse em movimento. A razéo desse conceito é que os fené- menos reais sio complexos. Bolas rolando numa superficie ni- velada parecem chegar ao estado de repouso espontaneamen- te, quando na verdade isso se deve a acdo de forcas externas co- mo 0 atrito e a resisténcia do ar. O préprio Newton, talvez o maior pensador de todos os tempos, possivelmente nao teria concebido a Primeira Lei do Movimento se nao Ihe fosse dado fazer mais que observar o comportamento de objetos movendo-se realmente na superfi- cie da Terra. Seu principio derivou da andlise das equacées de Galileu, simplificadas propositalmente pela ndo consideracao da acdo do atrito e da resisténcia do ar. Desde os tempos de Newton foram freqiientes os casos em que 0 emprego de equacées redundow na simplificacao de fe- ndmenos naturais a um ponto que permitiu apreender um pa- dro subjacente. Newton deduziu de modo semelhante duas outras leis do movimento, perfazendo as chamadas ‘‘Trés Leis do Movimen- to’’. No século entre 1550 e 1650 fizeram-se grandes descober- tas astrondmicas. O asirénomo polonés Nicolau Copérnico afirmou ser o Sol, endo a Terra, o centro do sistema solar. (Em sua maioria os antigos fildsofos gregos, inclusive Aristdteles, insistiram na centralidade da Terra.) Depois, o astr6nomo ale- mao Johann Kepler demonstrou que os planetas, a Terra inclu- sive, moviam-se em torno do Sol em elipses, e nfo em circulos como supunham os astrOnomos antecedentes. Dai surgiu a quest&o da explicac&o de os planetas se move- 178 rem em elipses e a velocidades varidveis com a sua distancia ao Sol. (Kepler calculou também quais deveriam ser essas veloci- dades.) Tanto Kepler como Galileu pressentiram que devia ha- ver alguma forga atraindo os planetas para o Sol, mas nenhum dos dois chegou a definir como essa forca operava. Newton percebeu que no espaco exterior nao havia nada que criasse atrito ou resisténcia ao movimento dos planetas, e que assim as Leis do Movimento operavam de modo perfeito. Ele manipulou as equacgdes representativas dessas leis e de- monstrou que a forca entre dois corpos quaisquer do universo era diretamente proporcional ao produto da ‘‘massa’’ (quanti- dade de matéria) de um dos corpos pela massa do outro. area = 2568 fond Bore sees sn" multiplicando o raio por 4 multiplica-a area por 16 multiplicando o raio por 8 multiplica a 4rea por 64 179 Por outro lado, ao afastar-se de um corpo, essa forca po- dia imaginar-se como que se distendendo numa esfera gigan- tesca que continuamente aumentasse de tamanho. Assim, a forca se distribuiria na superficie da esfera e tornar-se-ia mais fraca 4 medida que aumentasse a area a cobrir. Como varia a 4rea da esfera em func4o do tamanho des- ta? Bem, a area (A) da esfera varia com o quadrado doraio (r), que é a distancia do centro a superficie da esfera. A formula exata é A = 4qr* onde 7 é a quantidade mencionada no fim do Capitulo 11. Se a Area da esfera cresce de acordo com o quadrado da distancia do centro 4 superficie, Newton concluiu que a forca de atrac&o da gravidade entre dois corpos devia decrescer com o quadrado da distancia entre eles. Agora ele estava pronto para pdr suas idéias sobre a forca da gravidade em forma de uma equacao, e aqui esta ela: onde F simboliza a forga da gravidade, m, a massa de um dos corpos, m, a massa do outro corpo, eda distancia entre eles (de centro acentro), enquanto G é uma constante chamada ‘‘cons- tante gravitacional’’. Vejamos como a equacdo funciona. Suponhamos que a massa de um dos corpos seja duplicada: em vez de m, temos G(2m,)m mm, 2 transforma-se em » que po- @ a G 2m,. A expressio 2Gm,m, , de escrever-se RE A nova expresso é exatamente duas vezes a anterior, o que significa que dobrando a massa de um dos corpos, dobra a forca gravitacional. Se duplicarmos as 180 GQQm,)(2m 4G massas de ambos os corpos, teremos “emer ou a ou quatro vezes a forca gravitacional. Suponhamos que a distancia entre os corpos triplique. A expresséo torna-se Gm,m, ou Gm,m, ou ( i Gm,m, mos- (3d)? 9d? 9/ & 1 9 palavras, diminuiu nove vezes. Diminuiu, como se vé, com 0 quadrado da distancia, que aumentou sé trés vezes. trando que a forca é agora apenas — do queera, ou, em outras CAVENDISH PESA A TERRA Verificou-se que a equacdo de Newton explicava bastante exatamente o movimento de todos os corpos do sistema solar. Isso impressionou de tal modo os sabios do século XVIII que todos passaram aimitar Newton, procurando chegar a grandes generalizacdes a partir de poucos dados e solucionar proble- mas pelo raciocinio. Tanto assim que 0 século ficou conhecido como a ‘‘Idade da Razfo’’. No século XIX a equacéo de Newton ganhou projecio ainda maior, quando se verificou que ela se aplicava igualmen- te as estrelas duplas, girando uma em torno da outra a trilhdes de quilémetros da Terra. Depois, quando se observou que um planeta recém-descoberto, Urano, néo obedecia rigorosamen- te a equacdo de Newton, os astr6nomos inferiram a existéncia de um planeta ainda desconhecido, cuja atragdo devia ser a causa de Urano sair da linha. Esse planeta ignorado foi procu- rado e logo descoberto — gracas a manipulac&o de equacdes algébricas. Vejamos um exemplo do que a equacdo de Newton pode fazer. Suponha que vocé segurasse uma pedra na borda do Grand Canyon ea soltasse. Ela comecaria a cair. Ao fim de ca- 181 da segundo (desprezando a resisténcia do ar) ela estaria caindo 980 centimetros por segundo mais depressa que no fim do se- gundo anterior. Esse aumenio de velocidade (‘‘aceleracdo’’) é considerado, de acordo com a Segunda Lei do Movimento de Newton, igual a forca de atracao da gravidade que age sobre a pedra, sendo o seu valor 980 centimetros por segundo em cada segundo. Assim, na equacado de Newton, F pode ser substitui- do por 980. Suponhamos que a pedra pesa | grama. Sua distancia ao centro da Terra é aproximadamente 637.100.000 centimetros. Se na equa¢ao de Newton substituirmos F por 980, m, por 1 ed por 637.100.000, teremos G(1)(m,) 637,100,000? 980(637,100,000)? = Gm, 980 = Gm, = 398,000,000,000,000,000,000 Agora, seria formidavel se pudéssemos achar o valor de m,, que representa a massa da Terra, mas, por transposicdo, tudo que podemos afirmar é que __ 398,000,000,000,000,000,000 - G e nds n4o sabemos o valor de G, que é a constante gravitacio- nal. Newton também ndo sabia, nem ninguém depois dele, por todo um século, soube. Mas, em 1798, um cientista inglés chamado Henry Caven- dish imaginou uma experiéncia. Ele fez o seguinte. Por meio de um arame, pendurou pelo centro uma vareta leve. Em cada ex- tremidade da vareta havia uma bolinha de chumbo. A vareta era livre para girar na ponta do arame, de modo que bastava 182 umla pequena forca aplicada as bolinhas para produzir uma torgao. Cavendish determinou experimentalmente a intensida- de da forca que produzia uma determinada torgao. Em seguida aproximou duas bolas grandes das duas boli- nhas, em lados opostos. A forcga de gravidade entre as bolas grandes e as pequenas torceu o arame. Com base no grau de torgaéo, Cavendish pdéde calcular a intensidade da forca gravi- tacional (F). Ele conhecia as massas das diversas bolas (m, e mea distancia entre elas, centro a centro, (d). Vamos tomar valores simples, s6 para mostrar como a coisa funcionou, e supor que as bolas grafides 2) pesavam 1.000 gramas, eas pequenas (m,) 1 grama; que a distancia entre elas (d) era 10 centimetros, e que Cavendish calculou a forca gravitacional entre elas como sendo igual a 0,000000667 — uma forca muito pequena, como se vé. Substituindo na equacdo de Newton, temos G(1)(1000) (10)? Portanto, pela aritmética comum, 0.000000667 = 10G 0.000000667 = e, por transposicdo, 0.000000667 _ 10 G e entéo G = 0.0000000667 Voltando a nossa equacdo anterior da massa da Terra 398,000,000,000,000,000,000 Ms = eT 183 e substituindo G por 0,0000000667, temos mi, == 328:000,000,000,000,000,000 2” 0.0000000667 que vern a ser mz = 6,000,000,000,000,000,000,000,000,000 gramas ou mz = 6,600,000,000,000,000,000,000 toneladas Assim Cavendish, por meio de uma experiéncia cuidadosa com pequenas bolas, mais as técnicas da algebra, conseguiu pesar a Terra. E agora, vocé esta convencido da utilidade da algebra? Se esta, olhe mais longe. A verdadeira importancia da al- gebra, e da matematica em geral, nao é o fato de ter permitido resolver tal ou tal problema, mas o de ter proporcionado ao homem uma nova visdo do universo. Do tempo de Galileu para ca, a matematica animou o ho- mem a examinar 0 universo com a constante indagacdo: ‘‘Exa- tamente quanto?”’ Dessa forma, ela deu nascimento a grandiosa estrutura da ciéncia, e essa estrutura em si mesma é muito mais importante que qualquer fato ou grupo de fatos que simplesmente consti- tuem partes da estrutura. 184 Indice Remissivo Abel, Niels Henrik, 150 Aceleracdo, 182 Algarismos arabicos, 10 Algebra, origem da, 20 Angulo reto, 95 Aristoteles, 172 Axioma, 71, 72 Bindmio, 49 Biquadrada, equac4o, 115 Cancelamento, 91 ss. Cardano, Geronimo, 25, 118, 149 Cavendish, Henry, 182 Coeficiente, 50 Congruéncia, 49 Constante, 173 - gravitacional, 180 ss. Convencdo, 39 Copérnico, Nicolau, 178 Cubo, 96 Descartes, René, 99, 117 Diofanto, 155 Divisdo, 34 ss. nimeros negativos e -, 45 ss. simbolos de -, 38 ss. e, 151, 152 Equagado, 17 - biquadrada, 115 - cibica, 115, 117 ss., 122 ss. - diofantina, 156 .grau da-, 114 ss. - indeterminada, 155 ss. - linear, 115 - quadratica, 115 métodos de solucdo da - -, 125 ss. solucdo geral da - -, 142 ss. - quartica, 115, 122 - quintica, 115 solucdo geral da -, 150 ss. Equacées polinémias, 114 - simultaneas, 160 ss. Falacia, 30 Fatores, 85 ss. polindmios e -, 132 ss. Fermat; Pierre de, 158 Ultimo Teorema de -, 159 Ferrari, Ludovico, 150 Fontana, Nicolo, 148 Fracdes, 40 ss., 74 ss. simplificagao de -, 84 ss. G, 180 ss. g, 173 Galileu (Galileo Galilei), 172 ss. Galois, Evariste, 150 Gauss, Carl Friedrich, 117, 123 Gravidade, 178 ss. Hermite, Charles, 151 Hilbert, David, 62 Hipotenusa, 157 i, 119 ss. Identidades, 29 Incdgnita, 13 Indice, 106 Inércia, 178 Kepler, Johann, 178 Leis do Movimento, 178 Leonardo da Vinci, 172 Lindemann, Ferdinand, 152 Liouville, Joseph, 151 Logaritmos, 105 185 Mohammed ibn Musa al-Khowarizmi, 19 Monémio, 49 Multiplicacdo, 33 ss. nimeros negativos e -, 45 ss. parénteses e -, 79 ss. polindmios e -, 128 ss. simbolos de -, 36 ss. Numeros, 9 - algébricos, 150 - complexos, 123 - imaginérios, 118 ss. - inteiros, 40 - irracionais, 108 - multiplos, 86 - hegativos, 25 ss. divisio e - -, 45 ss. multiplicacdo e - -, 45 ss. parénteses e - -, 83 ss. - positivos, 26 - racionais, 41 - reais, 119 - transcendentes, 151 Operacdo algébrica, 22, 98, 105 - inversa, 22, 35, 105 Operagédes, 22 ordem das -, 51 ss., 98 ss. Parénteses, 27 ss., 55 ss. eliminacao de -, 79 ss. insercao de -, 88 ss. Peano, Giuseppe, 62 Pi (x), 152 Pitdgoras, 156 Polinémios, 49 fatoragdo de -, 132 ss. 186 multiplicagdo de -, 128 ss. Potenciacao, 99 Quadrado, 95 Queda dos corpos, 172 ss. Radical, 106 Radiciag&o, 105 Raiz quadrada, 106 Raizes, extragdo de, 105 Razao, 40, 171 Reciproca, 42, 47, 71 ss. Rudolph, Christoff, 106 Simbolos, 9, 36 ss. - literais, 6 - numéricos, 10 Solugdes, nimero de, 114 ss. Soma, 17 ss. - algébrica, 31 Subtracdo, 20 ss. Tartaglia, Nicolo, 148 Teorema de Pitagoras, 157 Teoria dos nameros, 86, 158 Termo, 49 Terra, massa da, 183 ss. Tetrandmio, 49 Transposicao, 21, 35, 111 ss. ordem de -, 56 ss. sentido de -, 65 ss. Trindmio, 49 Vieta, Frangois, 15, 61 Zero, divisdéo por, 35 - uso exponencial do, 103 Atendemos também pelo Reembolso Postal LIVRARIA FRANCISCO ALVES EDITORA S.A. 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