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Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho

UNESP – Campus de Franca

Diego dos Santos Ferrari Lopez


Octavio Francioso Salles

A curiosidade da água

Estudo sobre a escassez da água e sua influência na geopolítica internacional

Geografia
FRANCA – 2010

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A curiosidade da água

Enquanto muitos anseiam por dinheiro, casa e conforto, um terço da população


mundial pede apenas por água. A abundância costumeira do sudeste brasileiro nos cega
quanto à realidade de muitas regiões da Europa, da África, da Ásia e até mesmo do
nosso nordeste. Esse contraste exibe a distribuição desigual e destruidora que o homem
concebeu na natureza. Altera-se paisagens, vidas, sociedades e, logo, a água torna-se
centro de discussões internacionais.

Os principais motes dos conflitos pela água configuram-se em função do lobby


estatal ou privado, que trespassa os interesses comuns e detém grande parte das fontes
aqüíferas essenciais. Quando o capital privado apodera-se dos recursos naturais e
estipulam valores para seu consumo destilam o capitalismo às residências e ideologias,
impondo a cultura da escassez para ponderar os preços a bel prazer. Eis a origem do
racionamento pelo lucro. Quando o racionamento parte de um Estado, porém, efetua-se
por estratégia política, submetendo indivíduos ou outros Estados. Existem diversos
exemplos disso no contexto atual da geopolítica internacional. Tomemos o caso
israelense para análise. (ver figura 1)

“Em 1967, Israel transferiu a autoridade dos recursos hídricos da Faixa de Gaza e da
Cisjordânia para a área militar (Ordem Militar 92) e as declarou propriedade do
Estado. Em 1982, a Autoridade Israelense tomou o controle. Os poços palestinos foram
destruídos e as reservas ficaram secas com a larga escavação e bombeamento de água
de poços mais profundos para Israel. No processo de paz, a água foi assumida pela
Autoridade Palestina da Água, mas Israel manteve o controle do fluxo e volume de
água usados pelos palestinos. Por exemplo: os Palestinos requisitaram 450 milhões de
metros cúbicos (mmc) por ano, mas puderam receber apenas 28.6 mmc” (Capagnucci,
Fernanda. 07 de Setembro de 2008)

Isso evidencia que o Estado de Israel, ao atender necessidades hídricas da


população e principalmente das empresas, limita a água da Palestina. Como mostra a
figura, construíram tubulação e encanamento de grande porte apenas para o próprio país
(Israel). Adotam, então, ferramentas de política externa, abusando inclusive do poderio
militar. Israel cria na Palestina uma profunda dependência: institui a cultura da escassez
e “aluga” aos palestinos apenas 20% da água oriunda das nascentes nas Colinas de
Golã, região sob domínio israelense. Impedem, então, a Palestina de desenvolver,
sustentar e buscar outras fontes de recursos hídricos. O domínio não só dos recursos
aqüíferos, como também de regiões estratégicas é fruto do modelo expansionista,

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sustentado pelo ocidente aliado e pelo poder do capital provido da sua burguesia
nacional, adotado por Israel desde a implantação do Estado na região do Oriente
próximo. Assim, o Estado judaico obteve o poder de monopolizar recursos naturais,
subjugando sociedades vizinhas e criando sua hegemonia na região, alastrando a política
imperialista.

É interessante observar como o domínio de alguns recursos naturais limitados


tornam-se estratégicos, configurando a causa de conflitos geopolíticos e das hegemonias
regionais. Os Estados que ficam a margem do controle desses recursos tornam-se
dependentes, não conseguem desenvolver sua capacidade produtiva, retardam seu
crescimento e criam conflitos internos.

“Em 1967 Israel ocupou 100% da Palestina e começou a tomar atitudes de opressão e
discriminação racial, anexando terras, construindo colônias habitacionais nos
territórios ocupados, demolindo centenas de casas, algumas sob alegação de falta de
autorizações legais, além de aplicar taxas e impostos extorsivos, confisco de 84% das
águas dos territórios ocupados palestinos, Cisjordânia e Faixa de Gaza.
Paradoxalmente, enquanto os palestinos sofriam e sofrem de falta de água para beber,
os israelenses das colônias vizinhas tomam banho de piscina.” (Safieh, Hanna Yousef
Emile. Texto publicado em "Jornal de Hoje" em 21 de outubro de 2000)

O clássico exemplo das piscinas de Israel ficou famoso e saiu em muitos jornais.
Ele ilustra e reafirma a questão conflituosa e cultural: Enquanto Israel esbanja e raciona,
a Palestina almeja e sofre pela água. Toda essa teia de interesses é conhecida por
política internacional. A água é somente um meio de moldá-la conforme a vontade dos
dominantes, sejam eles empresas ou Estados. O resultado dessa soma chama-se
imperialismo. O curioso é: De que maneira algo tão comum, abundante e fundamental
como a água, pode ser utilizado tão perversamente? Acontece que, às vezes, o homem
esquece o significado de perverso.

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