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A doação de órgãos inclui a noção do bem comum e de solidariedade

pelo próximo, ou seja, algo que é benéfico para a sociedade em que se vive
como um todo. No entanto, não tão arraigada no Brasil, a noção de bem
comum e, especialmente no que tange á doação, pouco é explorada como uma
alternativa viável e benéfica durante os anos de educação formal ou mesmo
citada abertamente em âmbito familiar e em rodas de amizade. Nesse âmbito,
nota-se que faltam informações e esclarecimentos a respeito de transplantes e
da necessidade da doação ao longo da formação do jovem, bem como há
pouco interesse da familia em conhecer a vontade individual de cada membro
de ceder os órgãos após a morte.
Em primeira análise, cabe ressaltar que uma educação formal que preze
por elucidar e esclarecer a necessidade e o benefício de doar órgãos implica
em uma maior número de doadores e no fim do tabu sobre o tema dentro da
família e em outro círculos sociais. Nesse raciocínio, observa-se que a
escolarização não enfoca social ou biologicamente as consequências da
doação de órgãos, o que não permite ao jovem criar opinião ou mesmo
reconhecer a importância de tal ação social e carregar o relevante discurso de
salvar vidas na esfera familiar, instituição tende a manter o conceito de
menoridade kantiana sobre o jovem – conceito no qual as decisões pessoais
são tomadas pelo intelecto e influência de outros –, principalmente devido a
crenças religiosas e dogmas pessoais que configuram a ação como errônea, e
mesmo a cautela ao tratar da morte perante a criança e o adolescente, os
quais não sabem ou não estão preparados para compreender a maturidade do
assunto.
Paralelamente, cabe ressaltar que são as famílias quem tem o poder de
autorizar ou não a doação dos órgãos após o falecimento do individuo
mediante a vontade em vida deste. Desta forma, observa-se a falta de diálogo
sobre o assunto, de modo que os indivíduos possam expressar ou não a
vontade de abdicar dos órgãos em favor da vida de outra pessoa após a morte.
Por consequência, a maioria das famílias opta por não doar os órgãos em
respeito a memória do falecido, por desconhecerem a vontade deste, fazendo
com que milhares de estruturas biológicas em perfeito estado deixem de
integrar outra vida humana, cerceando alguém do direito á vida e ao bem
comum social propiciado pela ação altruísta.
Infere-se, portanto, que é essencial uma mudança da estrutura
brasileira no que se refere ao trato da doação de órgãos, em especial na esfera
familiar e com relação ao jovem. Nesse sentido, cabe ao Estado contemplar na
Base Nacional Comum Curricular por meio das Áreas de Conhecimento a
importância social e biológica da doação de órgãos, com a finalidade de
fornecer ao jovem informação capaz de torna-lo independente ao fazer a
própria escolha em ser um doador ou não, bem como compete ao indivíduo
deixar registrado seu desejo de ajudar outros cidadãos por meio de
documentos e outros meios, como pulseira de doadores e carteiras de
motorista. Desse modo, em longo e médio prazo, cria-se indivíduos que
atingem a maioridade kantiana e cumprem o bem social.

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