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dos gragas aos procedimentos empiricos atestados, para resultar em construgdes cientificas justificaveis por um tratamento tedrico. A riqueza da nogdo de representago, como a diversi- dade de correntes de pesquisa, fornece os angulos de ataque ¢ as éticas variadas no tratamento dos fendmenos representativos. Vamos tentar seguir algumas pistas principais. Mas, de inicio, uma constatago. Vitalidade. transversalidade, complexidade Qualquer um que olhe 0 campo de pesquisa hoje eristalizado em tomo da nogio de representagao social ndo deixard de observar tiés particularidades: a vitalidade, a transversali- dade e a complexidade. A vitalidade. Eis uma aogio [2 de representago social] hoje consagrada nas ciéncias fnumanas por um uso que tende a se generalizar depois de uma década, mas que foi, depois de Durkheim, pouco constante. Rapidamente caida em desuso, a nogio de representaro social, apés ser trazida a luz na psicologia social por Moscovici, ainda conheceu um periodo de la- téncia antes de mobilizar uma vasta corrente de pesquisa éa qual 2 bibliografie que figura na abertura desta obra da uma primeira ideia. Atestam essa retomada nao apenas o mumero de publicagdes, mas a diversidade de paises onde & empregada, os dominios nos quais é aplicada, as abordagens metodolégicas e teéricas que inspira ‘Uma tal conquista explica-se pela superago de obstaculos de tipo epistemolégico que tinham impedido © desenvolvimento da nogie. Moscovici (cap. 2) examina, deste poato de vista, 0 periodo que precede sua retomada da nogio de representacao social. Para o periodo que se segue, indiquei athures (Jodelet, 1984; 1985) como seu desenvolvimento sofreu, entre outros, um duplo cerceamento. Inicialmente na psicologia. face ao dominio do modelo beha- Viorista que negava qualquer validade a considerarao dos fenémenos mentais ¢ sua especifi- cidade. Em seguida, nas ciéncias sociais, face a0 dominio do modelo marxista cuja concep¢io mecanicista das relagdes entre infra e super-estrutura negava toda legitimidade a este dominio de estudo tendo-o como povoado por puros reflexos ou suspeito de idealismo. Mas a evolugio das pesquisas e as mudangas de paradigma nas diversas ciéncias humanas deram a no¢do toda sua atualidade, abrindo perspectivas fecundas e novas pesquisas. Na psicologia, uma virada descrita por Markus e Zajonc (1987) foi a0 encontro do ponto de vista defendido desde 1961 por Moscovici. Com o declinio do behaviorismo e as “revolugdes” do “new-look” nos anos 70, e do cognitivismo nos anos 80, o paradigma "esti- mulo-resposta" (S—R) é progressivamente enriquecido. Em um primeiro momento, 0 sujeito —denominado organismo— é integrado no esquema original como instancia mediadora entre © estimulo e 2 resposta, o que se traduz no esquema S—O—R. Num segundo momento, com a considerago das estruturas mentais, as representagSes, estados psicolégicos internes cor- sespoadentes a uma construgdo cognitiva ativa do meio, tributésia de fatores individuais © so- ciais, assumem um papel criador no proceso de elaboragio da conduta. Isto se exprime a0 esquema S—O—R, que coincide com o que Moscovici propunha em sua critica do esquema SR ao dizer que a sepresentacdo determina a0 mesmo tempo o estimulo e 2 resposta, que "ao ha corte entre 0 universo exterior ¢ o universo interior do individuo (ou do grupo)" (1968. p. 9). conceito, que foi inovador na psicologia social, aparece como reunificador nas cién- cias sociais. A mudanca das concepgées de ideologia (tomada, com os trabalhos da escola althusseriana, insténcia auténoma, referéncia de toda pratica, produzindo efeitos de conheci- mento e dotada de eficdcia propria) conduziu a ultrapassagem das aporias de hierarquizacio de niveis da estrutura social e 8 reabilitago da representacdo. Esta é concebids pelo historia- dor como um elemento necessario da cadeia conceitual pemmitindo pensar "as relagdes entre 0 material e 0 mental na evolugio das sociedades" (Duby, 1978, p. 20). Ela vem conferir a0 an- ‘twopélogo a propriedade de particularizar, em cada formacao social, a ordem cultural (Héritier, 1979), de ser constitutiva do real ¢ da organizagdo social (Augé, 1974; Godelier, 1984), de ter uma cficécia prépria em seu devir. Para 0 sociélogo, ela da conta de comportamentos politicos (Mickelat e Simon, 1977) seligiosos (Maitre, 1972) e aparece, via sua objetivagio aa lin- guagem e sua aceitabilidade pelo discurso politico, como um fator de transformacao social (Bourdieu, 1982: Faye, 1973). Propriedades atribuidas 4 representaco social desde 1961 por Moscovici coavergem, alids, com a sociologia do conhecimento, elaborada no quadro do in- teracionismo simbélico Berger e Luckman, 1966), a etno-metodologia (Cicourel, 1973), a fenomenclogia (Schutz, 1962), que se referem a realidade social como uma construgo con- sensual, estabelecida na interardo ¢ na comunicagdo. Esta dindmica, que ultrapassa largamente os limites do dominio psicossociolégico, nio é suficiente, todavia, para dar conta da atual fisionomia deste tiltimo. E necessrio também se referis a fecundidade da no¢ao, mensuravel pela diversidade de perspectivas e de debates que suscita. Uma das 1az0es pelas quais Moscovici (1969; 1984) foi levado a renovar 0 uso da no- cio foi a insuficiéncia dos conceitos da psicologia social, a limitagdo de seus objetos ¢ para- digmas. Esta perspectiva critica ocasionou certa fuidez conceitual que foi, também, a razio de sua fecundidade. De fato, ela autorizou empreendimentos empiricos e conceituais diversos ea articulacdo da concepedo psicossociolégica com as de outras disciplinas. Ela é também a rezio da vitalidade na medida em que autoriza miltiplas interpretacdes que séo fontes de avangos teéricos. Essa germinacao tem diretamente a ver com as outras caracteristicas que mencionamos: a transversalidade ¢ a complexidade Situada na interface do psicolégico e do social, a nogdo tem vocacdo para interessar todas as ciéncias humanas. E encontrada em opera¢ao na sociologia, antropologia e historia, estudada em suas relardes com a ideologia, com os sistemas simbélicos e com as atitudes so- ciais que refletem as mentalidades. Sperber (cap. 4) e Laplantine (cap. 13) ilustram a operati- vidade da nogao ¢ seu enriquecimento na antropologia. Ela se articula iguaimente, via os pro- cessos cognitives que implica, com 0 campo da psicologia cogaitiva, da cognigto social. Doi- se (caps. 10 ¢ 16), Semin (cap. 11), Hewstone (cap. 12) cxaminam algumas desses articula- des. Remetendo a uma forma de pensamento, sev estudo resgata também a légica abordada em seu aipecto natural por Grize (cap. 6) ou social por Windisch (cap. 7). Isto néo é tudo. Come mostram Kaés (cap. 3), Chombart de Lauwe e Feuerhahn (cap. 15), pode-se observar nna producdo representativa o jogo da fantasmitica individual e do imaginario social. o que nos remete psicanlise. Da mesma maneira, o papel da linguagem nos fendmenos represen- tativos analisado por Harré (cap. 5) eavolve, também, a reflexdo sobre as teorias da lingua- gem (Fodor, 1981; Searle, 1983). Esta multiplicidade de relagdes com disciplinas vizinhas confére ao tratamento psicossociolégico da representacdo um estatuto transverso que interpela earticula diversos campos de pesquisa, exigindo, no uma justaposigo mas uma real coorde- nagdo de seus pontos de vista. Nesta transversalidade reside sem diivida uma das contribui- oes mais promissoras desse dominio de estudos. Portanto, a nogio de representago social apresenta, como os fenémenos que ela per- mite abordar, uma certa complexidade na sus definiso ¢ em seu tratamento. "Sua posigio mista na encruzilhada de uma série de conceitos sociolégicos © de conceitos psicolégicos" (Moscovici, 1976, p. 39) implica que ela sea selacionada com os processos que se erguem de uma dinémica social ¢ de uma dinamica psiquica que seja elaborado um sistema teérico, ele mesmo complexo. Deve-se considerar, de um lado, 0 funcionamento cognitive e 0 do apare- tho psiquico, de outro, o funcionamento do sistema social, dos grupos e das interacdes, na medida em que estes afetam a génese, 2 estrutura ¢ a evolugdo das representagées e sto afeta- dos por sua intervengio. Este é um vasto programa que esta longe de estar completo, est em vias de realizacdo, como veremos. Mas é necessatio dizer: as representagies sociais devem ser estudadas articulando elementos afetivos, mentais e sociais e integrando, ao lado da cog- nigdo, da linguagem e da comunicagao, a consideracdo das relagbes sociais que afetam as re- presentagoes ¢ 2 realidade material, social e ideal sobre 2 qual elas intervem. E nesta perspec- tiva que Moscovici formulou e desenvolveu sua teoria (cf. notadamente 1976, 1981; 1982; 1984). Uma teoria que constitui a dnica tentativa sistematica ¢ global existente até hoje, como secorda Herzlich (1972) De fato, em uma exploragaa da perpétua tensfo entre o polo psicolégico e o pola soci- al. 0s diferentes trabalhos conduzidos em laboratérios ¢ no campo sdo frequentemente focali- zados, por uma preocupardo heuristica, sobre aspectos muito circunscritos dos fendmenos representativos. Ndo sem correr as vezes 0 rise ais, ou de os diluir nos processos ideolégicos ou culturais, limitagdes e reducionismos com os quais o desenvolvimento teérico da nozdo s6 pode softer e que é preciso evitar, como sublinha Doise: "A pluralidade de aproximagdes da noo e a pluralidade de significagbes que veicu- Jam fazem-na um instrumento de trabalho dificil de manipular. Mas a riqueza e a variedade dos trabalhos inspirados por esta nocd fazem com que st hesite em fazé-la evoluir por um reducionismo que privilegiaria, por exemplo, uma aproximacdo exclusivamente psicologica ou sociologica. Isso seria precisamente retirar da nog0 sua fungdo de articulagao entre dife- de os reconduzir aos eventos intra-individu- rentes sistemas explicatives. Nao se pode climinar da nogio de representaso social as refe- réncias aos miltiplos processos individuais, interindividuais, intergrupes ¢ idcolégicos que frequentemente entram em ressonincia uns com cutros e cujas dindmicas de conjunto desa- brocham nas realidades vivas que s40, em iiltima instancia, as representagdes sociais (1986, p 19, $3). Também, é numa aproximacao que respeite a complexidade dos fendmenos e da no- cdo que deve desenvolver-se a teoria, mesmo que isso pareca uma aposta O espaco de estudo das representacées so Em mais de vinte anos, constituiu-se, particularmente na psicologia social, um campo que foi objeto de revisdes e comentarios diversos (Codol, 1969; Farr, 1977, 1984, 1987; Har- 1€, 1984; Herzlich, 1972; Jodelet, 1984; Potter e Litton, 1985) e cujas aquisigées apresentam certas convergéncias. A multiplicidade de perspectivas desenha territorios mais ou menos au- ténomos pela énfase em aspectos especificos dos fenémenos representativos. Isto resulta em uum espago de estudo multidimensional que ensaiaremos balizar com 0 auxilio do Quadro I (p. 11) que sintetiza as problematicas ¢ seus eixos de desenvolvimento. No centro dese Quadro figura o esquema de base caracterizando a representacio como uma forma de saber pratico ligando um sufeito a um objeto. Todos esto de acordo com esse esquema mesmo se conférem a seus termos importancia e implicagdes varidveis. Reen- contramos af os elementos e relacées, jd mencionados, que as pesquisas procuram especificar ce explicar-Ihes as modalidades. Recordemo-las antes de sobrevoar as pesquisas — A representacao social & sempre uma representacdo de alguma coisa (objeto) e de alguém (sujeito). As caracteristicas do sujeito e do objeto terdo uma incidéncia sobre o que ela é — A sepresentagao social esta com seu objeto numa selacdo de "simbolizacao", ela toma seu lugar, e de “interpretag2o", ela lhe confere significagdes. Estas significardes resul- tam de uma atividade que faz da representago uma "construgdo” ¢ uma "expresso" do sujei- to. Esta atividade pode remeter seja acs processos cogaitivos —o sujeito é entéo considerado de um poato de vista epistémico — seja aos mecanismos intra-psiquicos (projects fantasma- ticas, investimentos pulsionais. identitirios. motivagdes etc.) —o sujeito é entdo considerado de um ponto de vista psicolégico. Mas a particularidade do estudo das representacées sociais €2 de integrar na andlise desses processos o pertencimento e a participagdo sociais e culturais do sujeito. E 0 que a cistingue de uma perspectiva puramente cognitivista ou clinica. De outro ado, pode também se prender a uma atividade mental de um grupo ou de uma coletividade, ou considerar esta atividade como o efeito de processes ideolégicos que atravessam 0 indivi- duo. Retornaremos sobre estes pontos essenciais — Forma de saber, a representagdo apreseata-se como uma "modeliza¢io" do objeto diretamente legivel em, ou inferido de, diversos suportes linguisticos, comportamentais ou materiais. Todo estudo de representag’o passara por uma analise das caracteristicas ligadas 20 fato de que cla é uma forma de conhecimente. 10 — Quilificar esse saber de "pritico" se refere & experiéacia a partir da qual cle se pro- daz, 20s quadros e condigSes nos quais se insere, e sobretudo ao fato de que a represestacio serve para agir sobre 0 mundo e 0 outro, o que esclarece suas fungées e sua eficacia sociais. A posicio ocupada pela representaco no ajustamento pritico do sujeito a seu meio faz com que seja qualificada, por alguns, de compromisso psico-social As questdes apresentadas pela articulacdo desse conjunto de elementos e de relacdes podem ser condensados na seguinte férmula: "Quem sabe e de onde sabe? — O que e como sabe? — Sobre o que sabe e com que efeito? *. Essas perguntas abrem-se para trés ordens de problemas que so apresentados a direita do Quadro I: a) condigdes de produgio ¢ de circula- cio; b) processos e estados; c) estatuto epistemolégico das representagies sociais. Essas pro- blemiticas so independentes ¢ subsumem os temas dos trabalhos te6ricos e empfricos ‘Se acompanhamos a historia do campo de pesquisa, € para a relagto da representacio com a ciéncia e com a sociedade que devemos nos voltar. De fato, Moscovici renovou 0 con- ceito de Durkheim, néo 26 de uma perspectiva critica, que, alias, partiu de uma viséo consteu- tiva: dar a psicologia social objetes e instrumentos conceituais que permitissem um coaheci- mento cumulative, apreendendo as verdadeiras questées postas pela vida social. A obra La psychanalyse, son image et son public, seguindo os desvios de rumo de uma teoria cientifica apsicandlise, a medida em que fazia sua penetraco na sociedade, entendia contribuir para um psico-sociologia do conhecimento entio inexistente ao lado de uma sociologia do conheci- mento florescente e de uma epistemologi do senso comum apenas nascente (Heider, 1958) Este estudo do "choque" entre uma teoria e os modos de pensar préprios 2 diferentes grupos sociais identificou como se opera a transformaco de um saber (cientifico) em um outro (sea- so comum) ¢ vice-versa. Dois eixos de preocupagio esto ai associados. O primeiso se liga a febricagao de um conhecimento “popular”, a apropriagao social de uma ciéncia por uma "so- ciedade pensante", composta por "sabios amadores", e a0 estudo das caracteristicas distintivas do pensamento natural em selago ao pensamento cientifico (Moscovici ¢ Hewstone, 1983; 1984). © segundo eixo conceme & difusdo de conhecimentos a que se seferem Schiele e Bou- cher (cap. 19). Nos trabalhos que examinam 2 interdependéncia entre os processos de repre- sentagdo ¢ de vulgarizacao (Ackermann et al. 1963: 1971; 1973-1974: Barbichon.1972: Ro- queplo, 1974), ecoa a énfase posta com insisténcia crescente na didatica das ciéncias e forma- gio de adultos, no papel das representacdes sociais como sistema de acolhide, podendo ser obstaculo ou servir de ponto de apoio para a assimilacio do saber ciemtifico e técnico (Alber- tini e Dussault, 1984; Astolfi, Giordan et al., 1978; Audigier et al., 1986). Essas duas ticas convergem para o fato de que o conhecimento "ingéauo" nio deve ser invalidado como falso ou viesado. O que contradiz certos postulados cognitivistas segua- do os quais existiriam "vieses" naturais, inerentes a0 funcionamento mental esponténeo, por exemplo aa atribuigao causal. Trata-se de um conhecimento “outro” do da ciéncia mas que é adaptado para, e comoborado pela, agdo sobre 0 mundo. Sua especificidade, que considera uma formagio ¢ finalidades sociais, é um objeto de estudo epistemolégico, nao apenas legiti- ir mo mas necessario para compreender plenamente os mecanismos do pensamento, ¢ pertinente para tratar do saber cientifico, do qual Palmonari e Zani (cap.14) dio um exemplo a propésito da psicologia Aqui encoatramos um postulado fundamental do estudo das representardes sociais: 0 de uma inter-rela¢do, de uma comrespondéncia, entre as formas de organizacio e comunicacio sociais e as modalidades do pensamento social, vista sob o angulo de suas categorias, de suas operardes e de sua légica. Este postulado encontrou sua primeira formula¢o em Durkheim que insistiu no isomorfismo entre as representagdes e as instituigdes: as categorias que servem para a classificacio das coisas so solidarias com as formas de agrupameato social, as rela- gies entre classes so aquelas que organizam a sociedade. E foi diferentemente desenvolvido segundo o que os autores chamaram a atengdo . no que se refere & ligagdo existente entre co- municagao social de um lado, estrutura social de outro, e representagdes. Quadro I Espago de Estudos das Representagdes Sociais oe ee Processose Estates das R.$, Estat Epistemolégico cuws Vir de Verdate (cobtivado grepo) rap See entre peazomento ve yore autwale pemsmeato cine “Bode: {iio > Draviakes “af wsodos combecimentos or viastormaio de um saber i co Minguagem ¢ Comunsaei¢ Formas de Sater episemobia do seaso- + terindiitval conwa * hestveonsl melsite Representa e Cifncia rio —, modetiznsio -inerreasio 8 . Sujeito | Representar des Odieto lepresentagao eritimiro os pitied snaotsayio MEO Dieange cde ist uel 4 ston compromiso psieo nate ee + aplemaarso Sociedode Pie ‘peta mento tig oad Valor de welidade Timo soon os tenre Experiincia e Agfo spk FungSes das R.E = Bear etapa ea Eficécia das R.S wooksrwpicsocal inate = win dos gros (Quem sabe ede onde? O que sabee como sabe? Sobre oquee com qual efeito? 12 Este postulado forte em Moscovici que explica os fenémenos cagnitives partindo das divisdes ¢ interagSes sociais. Ele insistiu particularmente sobre 0 papel de comunicacio social por muitas raztes. Inicialmente, trata-se de um objeto proprio da psicologia social que contribui assim de maneira original para a abordagem dos fenémenos cognitivos. Além disso, acomunicacao tem um papel fundamental nas trocas e interagdes que contribuem para a insti- tuigdo de um universo consensual. Enfim, ele remete aos fenémenos de influéncia e de per~ tencimento sociais decisivos na elaboragao dos sistemas intelectuais e de suas formas. A inci- déncia da comunicagao é examinada por Moscovici em trés niveis 1) No nivel da emergéncia das representagdes onde as condigées afetam os aspectos cognitivos. Entre essas condigbes se destacam: a dispersto e a distorgo das informagbes con- cerneates ao objeto representado ¢ que so desigualmente acessiveis segundo os grupos; a fo- calizagio em certos aspectos do objeto em funsSo dos interesses © da implicagéo des sujeitos; a pressio A inferéacia devida 4 necessidade de agix, tomar posigo ou cbter 0 reconhecimento on adesio de outros. Da mesma maneira, os elementos que vio diferenciar o pensamento na- ‘tural em suas operacdes, sua légica e seu estilo, 2) No nivel dos processos de formagio das representardes, a objetivagio e 2 ancora gem consideram a interdependéncia entre 2 atividade cognitiva e suas condigdes sociais de exercicio, nos planos do agenciamento dos conteiidos, das significagdes ¢ da utilidade que thes so conferidas. 3) No nivel das dimenstes das representacdes que tém influéncia na edificacio das condutas: opinido, atitude, esteredtipo, sobre os quais intervém os sistemas de comunicacio mediatica. Estes, segundo os efeitos pesquisados sobre a audiencis, apresentam propriedades estruturais diferentes correspondeates a difusto, a propagac3o e propaganda. A difusdo é selacionada com 2 formasio das epinides, a propagagéo com as atitudes ¢ a propaganda com ot esterestipos. Assim, a comunicagdo social, sob seus aspectos inter-individuais, institucionais e me- didti-cos aparece como condi¢do de possibilidade e de determinacio das representacdes ¢ do pensamento sociais. Numerosos autores desenvolveram implicacées de tal estatuto. Grize (1984 ¢ aqui) relata os processos de esquematizacio das representagdes e as propriedades da logica natural nas relacdes de influéncia envolvides nas situacdes de interlocuedo, influéncia que visa transformar ideias em evidéncias objetivas. Igualmente as relapdes de influéncia fun- dam o papel da comunicaro nos meios cientificos (Knom-Cetina, 1981) quando se trata da construgo das ciéncias e de seus fatos: “De todas as atividades humanas a fabricagio de fatos €2:mais intensamente social, tal é 2 evidéacia que permitiu recentemente 2 sociologia das ci- encias alcar seu voo. O destino de um enunciado esta, literalmente, nas maos de uma multi- io; cada um pode deixé-lo cair, contradi-lo, taduzi-lo, modific4-lo, wansformi-lo em artefa- to, tomé-lo irracional, introduzi-lo em outro contexto a titulo de premissa, ou em alguns ca- 13 sos, verificd-lo, certifica-lo e passé-lo tal ¢ qual a alguém. A expresso “é um fato’ no define (Latour, 1983), Esse percurso nfo se refere apenas 20 fato cientifico. Esté na base de muitas produ- aesséncia de certos enunciados, mas certos percursos mums multid’ des mentais institucionais. E particularmente visivel nas comunidades urbanas ou rurais cuja unidade e identidade sdo asseguradas pelas trocas informais estabelecidas entre os grupos "co- ativos" (Maget, 1955) que os compéem. Estes partilham o mesmo tipo de atividade, constitu- em de maneira dialégica o sistema normativo e nocional que rege sua vida profissional e coti- diana. Esse processo esclarece os riscos encontrados pela transferéncia e trocas tecnolégicas que Darré (1985) exemplificou a propésito da criagao de animais no ambiente camponés. A comunicacdo serve, entio, de valvula para liberar os sentimentos disféricos suscitados por situagées coletivas ansiogénicas ou mal toleradas. E também, os fenémenos de rumores que frequentemente surgem no meio urbano por ocasiao das crises, dos conflitos inter-grupos (Morin,1970). O medo, a rejeiggo da alteridade entre outros, suscitam trocas que dio corpo as informagées ou eventos ficticios. Dese modo se criam verdadeiras "lendas urbanas” (Brun- vand, 1981) cujos temas apresentam uma notvel estabilidede no tempo e no espago (Campio- Vincent, 1989). A atuacio do imaginario cole-tivo na comunicagao é ilustrada pelo discurso sobre a inseguranca (Ackermann, Dulong. Jeudy. 1983). Os relatos que as vitimas de agressio (roubos, ataques etc.) fazem do que Ihes ocorreu, chega, fiequentemente, literal, em um mes- mo cenario retomado coletivamente que permite se situar em uma mesma categoria vitimiza- da, forma de uma nova solidariedade social. Revelamos fenémenos similares acerca da AIDS. Sperber insiste em seu capitulo sobre a importincia de considerar a circulagdo das re- presentagies culturais. Sua observacao ultrapassa a antropologia. As pesquisas que abordam as representagdes como formas de expresso cultural remetem mais ou menos diretamente a tais processos de difusdo, quer se trate de codigos sociais servindo para interpretar as experi- éncias do individuo na sociedade — por exemplo, o da doenga (Herzlich, 1969) — seus valo- res ¢ modelos que servem para definir um estatuto social — por exemplo, a mulher, a crianga (Chombart de Lauwe, 1963; 1971) — quer sejam os simbolos e invariantes que servem para pensar as entidades coletivas, por exemplo, 9 grupo (Kaés, 1976), 2 loucura (Schurmans, 1985). Esses exemplos ressaltam a importancia primordial da comunicacio nos fendmenos representacionais. Em primeiro lugar, aquela é 0 vetor da transmisséo da linguagem e porta- dora de representagdes. Além disco, incide sobre os aspectos estruturais e formais do pensa- mento social, visto que engaja os processos de interago social, influéncia, consenso e dissen- soe polémica Enfim, a comuaicardo concorre para forjar representagdes que, apoiadas numa energética social, so pertinentes 2 vida pratica e afetiva dos grupos. Energética e pertinéncia sociais que consideram, a0 lado do poder de desempenho das palavras e discursos, a forga pela qual as representagbes ineuguram as verses de realidade, comuns e partilhadas O social: da participagao a vida coletiva

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