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KEENAN, James F.

História da teologia moral católica no


Século XX. São Paulo: Loyola, 2013.
Os Neomanualistas

Segundo KEENAN, (p. 141) a evolução da teologia moral foi provocada por
representantes da teologia dogmática que com o tempo ficou conhecida como teologia
sistemática. Teólogos como Yves Congar, Karl Rahner e Edward Schillbeeckx,
trouxeram fundamentos para a teologia moral, abordando tópicos como Cristo, a Igreja
autoridade magisterial e o amor. Outro que contribui muito, com diversas instituições
para uma nova epistemologia, inclinada para o sujeito, foi o canadense Bernard Lonergan.
A grande pretensão de Lorengan era de discutir também a nossa Cristologia. Em 1967 foi
publicado três artigos que atrapalharam a nossa compreensão da verdadeira moral. Foi
um período de transição de uma mentalidade muito centrada para uma mentalidade que
olhar voltado para história e, isso influenciou muito a teologia moral. Lonergan tinha
concepções diferente dos Classistas.
KEENAN (p. 142), comenta que, para os Classistas, o mundo é um produto finito
e a verdade já foi revelada, expressa, ensinada e conhecida. Para que seja uma verdade
absoluta, é preciso que esta verdade seja universal e imutável. É salientado ainda que tem
quatros pressupostos e que precisam ser entendidos. O primeiro os classistas identificam
as características de Deus com as características da vontade e da lei de Deus. Em segunda
instancia fala que a Igreja é a guardiã do depósito da verdade; salienta ainda que seus
líderes não podem mudar a doutrina da Igreja, pois não podem ir contra a vontade de
Deus. O terceiro pressuposto “A igreja se deve a sua constância.” Caso a igreja mude sua
doutrina, daria brecha para uma desestruturação e deixando os seus fiéis abalados na fé.
O quarto pressuposto olha para a debilidade e a maldade inatas dos seres humanos, que
prejudicam sua capacidade de seguir a lei de Deus.
KEENAN (p. 143) fala de um dos principais pressupostos presente na doutrina da
igreja que se encontra na encíclica Casti connubit (1930) do Papa Pio XI que sustenta a
doutrina sobre o casamento, em particular sobre a prática da contracepção. Outros Papas
irão trazer outros pressupostos doutrinais e que sustentam a igreja. Como muitos dos
Papas tenderam ao classicismo, assim alguns teólogos também caíram neste evento, como
no caso de Ann Patrick. O principal ponto que ela destaca é relacionado aos membros da
igreja onde é exposto que a verdade objetiva não é só encontrada da visão particular de
um membro, mas, nos ensinamentos da igreja e, ela promove uma identidade uniforme
para os membros da igreja. Em relação à verdade, os Historicistas não a enxergam como
construída e forjada; em vez disso a verdade é descoberta na história por meio das pessoas
históricas.
Outro ponto importante é relacionado a mediação e orientação da moral assim,
KEENAN. (p.144) descreve que, para Lottin Curran, todo revisionista acreditava na
necessidade de mediar a orientação moral através do posicionamento e dos valores de
que necessitamos para a ação correta. Em relação à experiencia humana, os manualistas
fizeram pouco para se ter uma incorporação; já os classicistas entendem a experiencia
como uma tentativa de diminuir as reivindicações de verdade de um ensino evidente.
KEENAN (p. 145) fala que Lottin, Vereecke e Mahoney gostavam de estudar a história
da doutrina da igreja para ver como a comunidade de fé procura compreender a história
de uma geração à outra, os valores e visões da verdade moral. Os classicistas ainda vão
dizer que o agente não entra na equação da verdade moral; tem que ficar claro que a
verdade moral permanece a mesma para todos.
Johan Ford (1902-1989) e Gerald Kelly (1902-1964)
Os revisionistas Lottin e Hering, oponentes dos classicistas, tiveram outras duas
oposições: dois teólogos que eram contra a esta ideia de inovações. Estamos falando de
John For e Gerald Kelly, são Jesuitas norte-americanos que escreveram as notas sobre a
teologia moral para a teologia studies de 1941 a 1954, eram defensores da natureza
clássica da lei moral. Segundo KEENAN (p. 147) havia uma grande complexidade em
relação ao pensamento destes dois. Kelly por exemplo era chamado pai da ética médica,
devido os seus escritos sobre meios ordinários e extraordinários de sustentação da vida.
Já Ford, teólogo moral na Weston School of Theology, ficou conhecido por seu ensaio
eletrizante contra o bombardeio em larga escala, nos momentos cruciais da segunda
guerra mundial em 1944. Ford e Kelly procuravam o problema moral, para eles o lugar
primário do problema moral era Roma, ambos partiram para uma pesquisa em 1964 sobre
a diferença entre ética e teologia moral. O que ficou claro destes estudos foi que “A
teologia moral procura estudar o homem na ordem sobrenatural” a ética parte para o lado
da razão. Kelly e Ford estavam bem convencidos de que Roma era a única intérprete
autentica das leis de Deus. Eles sempre deram prioridade à Roma, para sempre cumprir
com os seus deveres de explicar o ensinamento da igreja, no caso o Romano Pontífice.
KEENAN (p.149) destaca que já naquele período a maioria dos teólogos morais
contemporâneos, seguiam os ditos de Haring, que interpretava os ensinamentos do
magistério de forma crítica. Já Ford e Kelly não comungavam desta hermenêutica, ambos
eram completamente dependentes de qualquer autoridade da igreja.
A hierarquia como professores neomanualistas
No momento em que a hierarquia percebeu que teólogos morais estavam com o
olhar voltado para a pessoa, afim de que ela encontrasse a verdade moral. Começaram
lecionar cada vez mais consequente, utilizando os métodos dos manualistas. Pois a
verdade moral para a igreja estava contida nas normas e nos princípios. De maneira
progressiva, ao longo dos séculos, os papas, bispos e as autoridades da cúria promulgaram
doutrinas morais sobre vários campos; ética fundamental, médica, sexual e social. O autor
continua dizendo ainda que desde o concilio de Trento até meados do século XX, as
autoridades papais, episcopais e curiais em geral responderam às petições recém
admitidas, questões peticionarias ao julgamento dos manualistas “aprovados”.
Humane Vitae
Antes do Concilio especificamente, Ford e Kelly tinham em vista que havia uma
fragilidade na razão. E tinham com eles que o ensinamento da igreja era bastante
difundido. Segundo P. 154 a partir de 1957, teólogos morais publicaram artigos sobre o
controle de natalidade. No período do papado de Paulo VI, percebemos que o papa estava
preocupado com esta questão e, com isso, o papa indicou alguns arcebispos, bispos, e
teólogos mais conservadores, entre eles Fuchs, que ouvia primeiramente testemunhos de
casais, e vendo os testemunhos abandonou sua ideia de verdade moral que se baseava nas
normas antigas impostas pelo magistério. Fuchs, vendo que estava errado, tomou rumos
novos e passou a fazer críticas às posições de Karl Rahner a saber se aplicar uma norma
a um caso, também seria adequado para determinar a verdade moral.
Segundo KEENAN (p. 155) Fuchs foi indicado por seus pares para se tornar o
principal redator do relatório que representava as visões de 15 dos 19 teólogos. O relatório
reconhecia que as pessoas casadas em consciência precisavam determinar se a séria
questão do controle de natalidade deveria ser um meio de se realizarem com os pais
responsáveis. Fuchs explicou que o local para encontrar a verdade moral havia mudado
dos enunciados para as pessoas. Pois muitos confundem moralidade objetiva com as
prescrições da Igreja.
Mais tarde um grupo de bispos cardeais irão perguntar a Fuchs se ele mudaria a
sua compreensão sobre a tomada de decisão de moral e ele deu seu parecer narrando o
surgimento de suas dúvidas em 1963. Outro ponto importante é quando John ford estava
na comissão e nomeou o anti-conservador Fuchs para fazer parte da comissão, e tornou-
se o autor do relatório minoritário. Uma resposta ao relatório majoritário, tornou-se como
relata Gentilo visitante ocasional do Papa Paulo VI, recordando ao santo padre sua
responsabilidade de manter os ensinamentos de seus predecessores. O italiano
Emenegildo Lio do santo oficio e o teólogo pessoal do papa, Carlos Colombo,
aconselharam o papa no mesmo que Ford dizia. Estes três irão instruir Paulo VI para
passar por cima da Casti connubi, e com isso surgiu a Humanae Vitae. No começo foi
passada por várias comissões, foram revistos alguns termos, nem todos eram de acordo
com este documento do santo padre, assim como outros documentos da igreja.
Uma obra contemporânea: Veritatis splendor (1993) de João Paulo II
Nesta parte da Veritatis splendor, um dos nomes que aparece na compreensão
neomanualista é o filósofo alemão Germain Grises com suas grandes obras, como o
grandioso livro “O Caminho do Senhor”. É uma obra que passou por todos os princípios
básicos da existência cristã, chegando a abordar questões difíceis. Em 1964 ele foi autor
de outra obra chamada “contracepção e lei natural”, porem ainda sim se manteve na
posição de neomanualista por mais trinta anos. Foi colaborador de John Ford e consegue
neste período como colaborador, ter uma apreciação melhor de sua posição. Griz é bem
conhecido também por sua teoria dos bens básicos e sua expressão como uma nova teoria
do direito natural; ele desenvolveu esta teoria com a ajuda de dois grandes filósofos
daquele período, John Finns e Joseph Boyle. Com eles, foram escritos ensaios
relacionados aos princípios morais, e um outro sobre a defesa do discursão nuclear. E
assim eles começaram a escrever com teólogos como John Ford e William E.. um dos
escritos até chama atenção, pois é relacionado à uma teoria que propuseram sobre a lei
natural com consentimento de sete bens incomensuráveis.
Segundo KEENAN (p. 164) em sua grande maioria os neomanualistas eram como
o papa João Paulo II, filósofos treinados. Os nemanualista tiveram como adversário
McCormick. Continua KEENAN (p. 165) dizendo que a melhor obra neomanualista é a
obra de 1990 o documente Veritattis splendor do papa João Paulo II. Não era um manual,
mas sim uma reflexão sobre “o ensino moral da igreja como um todo”. A encíclica se
divide em três capítulos. O primeiro capitulo faz uma reflexão sólida sobre a questão do
jovem rico (MTs 19,16) e, o capitulo conclui com a urgente questão de enfrentar debates
que pudessem comprometer o ensinamento da Igreja sobre a relação de liberdade e
verdade. O segundo capitulo fala para não ficarmos conformados com este mundo (Rm
12,2), e o foco desta temática é muito relevante para a igreja, trata-se de liberdade e lei,
consciência e verdade, escolha fundamental e ato moral. Na terceira parte da encíclica o
papa instrui seus irmãos bispos a sustentar a doutrina da encíclica. E ele encerra a
encíclica com uma compreensão da teologia moral baseada em princípios, universal,
incluindo proibição absolutas “ cada um de nós pode ver a seriedade do que está
envolvido, não só para os indivíduos, como para toda sociedade, com a reafirmação da
universalidade e da imutabilidade dos mandamentos morais, em particular aqueles que
proíbem sempre e sem exceção atos intrinsecamente maus. A encíclica foi muito útil para
os teólogos morais e ajudou-lhes a reconhecer que um grande desafio moral de nosso dia
é determinar como podemos compreender a verdade moral, como, mediando as relações
entre a ordem do ser e a ordem ética dos valores. E o autor termina falando de uma
reconciliação onde a igreja procurou superar as antigas divisões. E com isso, no ano de
1994, a igreja através dos bispos, entre eles o nosso caro amigo Cardeal Humes, convidou
15 teólogos e 15 bispos para examinar a Veritattis splendor e, assim, a igreja estava
começando a abrir espaços para novos estudos da teologia moral.

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