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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA

COMARCA DE SÃO LUÍS/MA

Pedido Liminar de Antecipação de Tutela

FERRALTEC LTDA - ME, pessoa jurídica de direito


privado, inscrita no CNPJ nº 13.582.294/0001-59, sediada nesta cidade, na Rua
Tancredo Neves, nº 101 – Vila Nova República das Palmeiras, Maracanã, CEP
65.099-070, representada por seu sócio-administrador, JOSÉ WILSON DE
AZEVEDO FERRAZ, brasileiro, solteiro, empresário, portador da cédula de
identidade de nº137906935 SSP-MA, inscrito no CPF sob o nº 797.091.763-15, por
intermédio de seus advogados abaixo assinados (instrumento procuratório,
atos constitutivos da empresa e documentos pessoais inclusos – Docs. 01/09),
estes com escritório profissional nesta capital, na Rua do Passeio, nº 823, Centro
– CEP 65015-370, onde recebem eventuais intimações e notificações de estilo
e praxe, vem perante Vossa Excelência, propor a presente:

AÇÃO REDIBITÓRIA POR VÍCIO DO PRODUTO, CUMULADA COM PEDIDO DE


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS E ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

em desfavor de DUVEL DISTRIBUIDORA DE VEÍCULOS E PEÇAS LTDA, pessoa


jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 41.626.169/0004-81 e
inscrição estadual de nº 12230370-9, situada na Avenida dos Holandeses, nº08,
Quadra 31, Calhau, CEP 65.071-380, São Luís/MA, e FORD, pessoa jurídica de
direito privado, inscrita no CNPJ XXXXXXX, situada na pelas razões de fato e de
direito a seguir expostas:
1 – DA SÍNTESE DOS FATOS
Em meados de julho de 2013, a Requerente
adquiriu um veículo na Requerida DUVEL DISTRIBUIDORA DE VEÍCULOS E PEÇAS
LTDA, um automóvel, 0 Km modelo 2013/2013, Ford New Fiesta Sedan de cor
branca, conforme Nota Fiscal nº 89.795 (Doc. 10), no valor de R$46.990,00
(quarenta e seis mil novecentos e noventa reais). De placa número OJG 9137
e Renavam 559518447, conforme documento do veículo (Doc. 11).
O valor do veículo foi financiado integralmente
pelo Banco do Brasil, em 35 (trinta e cinco) parcelas, tendo sido o crédito
liberado em 30 de julho de 2013, conforme Contrato de Abertura de Crédito e
Termo de Cláusulas Especiais Para Utilização de Crédito (Doc. 12/17), somados
as despesas vinculadas à concessão de crédito, o valor do financiamento foi
de R$48.708,82 (quarenta e oito mil setecentos e oito reais e oitenta e dois
centavos). Pois bem. Ao adquirir o veículo a Requerente tinha por finalidade
atender às necessidades próprias daquela empresa FERRALTEC LTDA – ME.
Ocorre que, para o infortúnio da Requerente,
pouco tempo após adquirido, o veículo apresentou problemas mecânicos e
de pintura. Foi agendada a 1ª revisão (10.000 Km) para o dia 17.10.2013.
Embora o mecânico tenha constatado os problemas descritos pelo cliente, o
único serviço realizado foi a troca de óleo, no valor de R$244,00 (duzentos e
quarenta e quatro reais), conforme recibo (Doc. 18).
Naquela orportunidade, foram informados
diversos problemas: infiltração na dianteira, barulho na dianteira em
trepidações, ar condicionado com baixo rendimento, rangido ao acionar freio,
conforme se constata da Ordem de Serviço 0072591 (Docs. 19/20). Nota-se do
mesmo documento que o carro foi entregue ao exame da concessionária em
17 de outubro, com previsão de entrega para o cliente em 09 de novembro,
mais de 20 (vinte) dias depois.
Foi informado pelo autor que um novo
agendamento para o reparo dos problemas tinha sido remarcado, contudo,
nenhum serviço foi realizado pois o gerente do setor de peças, ao andar com
o veículo, relatou que o automóvel não havia problemas. Durante todo esse
tempo que o veículo esteve parado, não foi fornecido nenhum diagnóstico ao
cliente em relação aos problemas apresentados, e impende ressaltar que o
fato de não poder utilizar seu veículo durante todo esse tempo lhe acarretou
diversos prejuízos, tendo em vista que o veículo era utilizado pelo proprietário
da empresa para ir ao trabalho, bem como realizar visitas diárias aos clientes
no Porto do Itaqui.
Além disso, informa o autor que um mês após a
compra do veículo o ar-condicionado deu problema, tendo ele mesmo que
arcar com o reparo, no valor de R$1.293,00 (mil duzentos e noventa e três
reais), conforme o recibo (Doc. 21). Teve também mais um gasto no valor de
R$200,00 (duzentos reais) conforme outro recibo anexo (Doc. 22).
Em novembro de 2013 uma nova revisão foi
realizada, conforme Relatório de Conferência do veículo (Doc. 23). No
entanto, naquela oportunidade fora oferecido um veículo reserva para que o
autor não tivesse mais prejuízos com a ausência de seu automóvel, conforme
Termo de Empréstimo de veículos e Relatório de Conferência (Docs. 24/25).
Outros serviços foram realizados, totalizado mais R$ 132,56 (cento e trinta e dois
reais e cinquenta e seis centavos), conforme Nota Fiscal e Recibo (Docs.
26/27)
Em janeiro deste ano, o autor levou
novamente o veículo para revisão, dessa vez revisão dos 20.000 km,
informando problema na suspensão dianteira e traseira, conforme Ordem de
Serviço 0001091 (Doc, 28). Pelos serviços pagou o valor de R$ 280,00 (duzentos
e oitenta reais), conforme Orçamento e Nota Fiscal (Docs. 29/30). Além disso,
fora orçado um novo jogo de pastilhas de freio no valor total de R$ 610,00
(seiscentos e dez reais), conforme orçamento (Doc. 31).
Somada à ineficiência na prestação do
serviço, ao voltar da revisão, o carro ainda voltou com arranhão na traseira, o
qual fora coberto com uma base de tinta.
Não tendo outra alternativa, o Requerente
decidiu, então, ajuizar a presente demanda, a fim de pleitear a anulação do
contrato e a devolução de todos os valores pagos, pois não suporta mais
tantos defeitos apresentados em um veículo que ainda pode ser considerado
novo.
3 – DO PRAZO DECADENCIAL/PRESCRICIONAL

Os institutos da decadência e da prescrição


não se confundem.
Agnelo Amorim Filho, ao discorrer sobre o
critério científico para distinguir a prescrição e decadência, ensina que a
decadência é aplicável aos direitos potestativos, que independem do sujeito
passivo para estabelecer uma relação jurídica. Por sua vez, a prescrição é
aplicada aos direitos subjetivos, que dependem do sujeito passivo para
estabelecer uma relação jurídica (“Critério científico para distinguir a
prescrição da decadência e para identificar as ações imprescritíveis” in
Revista de Direito Processual Civil, vol. II, nº3, jan./jun. 1962, p. 95/1962, Revista
dos Tribunais, p. 168).
Considerando que a presente ação versa
sobre responsabilidade por vício de produto, aplica-se o prazo decadencial
previsto no art. 26 do Código de Defesa do Consumidor, in verbis:
Art. 26 - O direito de reclamar pelos vícios
aparentes ou de fácil constatação caduca
em:
(...)
II - 90 (noventa) dias, tratando-se de
fornecimento de serviço e de produto duráveis.
(...)
§ 2º - Obstam a decadência:
I - a reclamação comprovadamente
formulada pelo consumidor perante o
fornecedor de produtos e serviços até a
resposta negativa correspondente, que deve
ser transmitida de forma inequívoca;
(...)
§ 3º - Tratando-se de vício oculto, o prazo
decadencial inicia-se no momento em que
ficar evidenciado o defeito.

Transpondo-se tais preceitos para a hipótese,


verifica-se que o prazo decadencial de 90 dias, aplicável ao caso, diz respeito
ao direito potestativo do Requerente de reclamar pelos vícios do veículo (art.
26, caput, II, CDC), destacando-se que, por se tratar de vício oculto, o prazo
decadencial iniciou-se apenas no momento em que o defeito foi evidenciado
(art. 26, §3º, CDC).
Ocorre que, no presente caso, existe causa
obstativa da decadência (art. 26, §2º, I, CDC), consubstanciada nos inúmeros
documentos acostados à inicial que evidenciam as diversas reclamações
realizadas pelo Requerente, tão logo foram detectados os primeiros vícios no
veículo. É o que se depreende das diversas ordens de serviço em anexo.
Evidentemente, tal prazo decadencial de 90
dias não se confunde com o prazo prescricional de 5 anos previsto no art. 27,
CDC. Cada qual apresenta existência independente.
Nessa linha de raciocínio, verifica-se que o
prazo decadencial de 90 dias constitui o período para que o consumidor
reclame ao fornecedor pelos vícios eventualmente apresentados pelos
produtos (nesse sentido, Arruda Alvim e Thereza Arruda Alvim, Código do
Consumidor Comentado, 2ª ed., 2ª tiragem, São Paulo, RT, 1995, p. 172). Tal
reclamação independe de qualquer ato do fornecedor, que, muito embora
possa não concordar com ela, não poderá rejeitar o seu recebimento.
E, não concordando com a reclamação ou
não sendo o vício sanado no prazo de 30 dias (art. 18, §1º, CDC), passará a
correr o prazo prescricional de 5 anos, previsto no art. 27, CDC, para a
dedução da pretensão à reparação dos danos causados por fato do produto
ou do serviço.
Nítido, assim, que o prazo prescricional previsto
na Lei Consumerista fora obedecido, não havendo que se falar em perda do
prazo para que o Requerente mova a presente ação indenizatória pelos
danos decorrentes do vício do produto.

4 – DO DIREITO
4.1 – DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

No que tange aos meios de prova, os


consumidores encontram diversas dificuldades para fazer valer os seus direitos
em juízo. Desta forma, o Código de Defesa do Consumidor, traz
expressamente no art. 6º, inciso VIII, do CDC, a inversão do ônus da prova,
justamente para possibilitar a igualdade substancial no plano processual.
Nessas condições, ao consumidor é
assegurado, por força do art. 6°, VIII, do CDC, a inversão do ônus da prova
como meio de facilitação da defesa de seus direitos, garantia decorrente de
princípio consagrado no texto constitucional (arts. 5°, XXXII, e 170, V, da
Constituição da República), aptas a compensar a inferioridade do mais fraco,
frente ao mais forte, econômica ou tecnicamente (CDC, art. 1°).
No caso em tela, resta evidenciada a
verossimilhança das alegações do Requerente, além da sua hipossuficência
em face da Requeridas. Note-se que há dificuldades na produção da carga
probatória de suas pretensões. Portanto, com fulcro nos princípios da boa-fé,
transparência, confiança, vulnerabilidade, equidade e segurança, requer a
inversão do ônus da prova em favor do Requerente.
Conquanto o dissenso doutrinário quanto ao
momento apropriado à apreciação da inversão, é bem de ver que o
fornecedor, em desfavor de quem deva ela se dar, tem o direito de, sob pena
de agressão ao devido processo legal, saber-se onerado, antes do momento
de sua produção, com a prova ordinariamente cabente à parte contrária.
Desse modo, é certo entender-se que a inversão, quando cabível, deva ser
concedida ao ensejo do despacho de citação das Requeridas.
Portanto, é mister a inversão do ônus da prova,
determinando às Requeridas, ao ensejo de sua resposta à presente Ação.

4.2 – DO VÍCIO REBIBITÓRIO E RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DAS REQUERIDAS

Conforme já informado, a primeira Requerida é


a concessionária pela qual a autora adquiriu o veículo e realizou as
manutenções. Já a segunda reclamada é a fabricante e distribuidora, que,
portanto, é responsável pela qualidade de todos os veículos que envia para as
concessionárias.
Conforme também já informado, o veículo
adquirido junto à primeira Requerida, produzido e distribuído pela segunda
Requerida, apresenta vícios insanáveis e que o torna imprestável para uso.
Assim, ambas as Requeridas devem responder solidariamente pelos pleitos
apresentados nesta lide.
Tanto o Código Civil Brasileiro, quanto o
Código de Defesa do Consumidor são bastante lúcidos a respeito da matéria
e assim impõem:
“Art. 441 do CC. A coisa recebida em virtude
de contrato comutativo pode ser enjeitada
por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem
imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe
diminuam o valor."

Por sua vez, o Código de Proteção e Defesa


do Consumidor não deixa margem a dúvidas sobre a responsabilidade pelos
vícios de qualidade que tornem os produtos impróprios ou inadequados para
o consumo.
Art. 18. Os fornecedores de produtos de
consumo duráveis ou não duráveis respondem
solidariamente pelos vícios de qualidade ou
quantidade que os tornem impróprios ou
inadequados ao consumo a que se destinam
ou lhes diminuam o valor, assim como por
aqueles decorrentes da disparidade, com a
indicações constantes do recipiente, da
embalagem, rotulagem ou mensagem
publicitária, respeitadas as variações
decorrentes de sua natureza, podendo o
consumidor exigir a substituição das partes
viciadas.

Os professores Arruda Alvim e Theresa Alvim,


em sua obra de referência CÓDIGO DO CONSUMIDOR COMENTADO, 2ª
edição, 1.995, Editora Revista dos Tribunais, ao comentarem sobre o disposto
no artigo 18 do citado diploma legal, ensinam, verbis:
"Determina o caput desse art. 18, em primeiro
lugar, que todos aqueles que intervierem no
fornecimento dos produtos de consumo de
bens duráveis ou não duráveis, em face do
consumidor, são solidariamente responsáveis,
sem culpa, por vícios de qualidade ou
quantidade, que os tornem impróprios ou
inadequados ao consumo a que se destinam
ou que lhes diminuam o valor."
Nesse mesmo sentido é o entendimento da
jurisprudência dominante, senão vejamos:
"CONTRATUAL. CARRO ZERO QUILÔMETRO.
PRESENÇA DE DIVERSOS PROBLEMAS.
PERSISTÊNCIA DESTES, AINDA QUE REALIZADAS
VÁRIAS REVISÕES PELA ASSISTÊNCIA TÉCNICA.
DEFEITOS DE QUALIDADE QUE TORNAM O
PRODUTO INADEQUADO AO CONSUMO.
DESFAZIMENTO DO NEGÓCIO. RESSARCIMENTO
DO VALOR APLICADO NA AQUISIÇÃO DO BEM
QUE SE IMPÕE. EXEGESE DO ART. 18, § 1º, DO
CDC.
Ao adquirente de veículo automotor zero
quilômetro é garantida a restituição da
quantia empregada na aquisição do bem,
quando, após reiterados consertos na
concessionária autorizada, persistem os
defeitos observados. Inteligência do § 1o do
art. 18 do Código de Defesa do Consumidor.
(TJSC, ACv n. , de Blumenau). "TJSC - Apelação
Cível: AC 94280 SC 2007.009428-0” (grifo
nosso).

Soberbamente comprovado os diversos vícios


ocorridos no produto desde os primeiros dias de uso, inequivocamente, impõe-
se o reconhecimento do direito vindicado, para que seja declarada a
responsabilidade solidária das Requeridas, bem como a decretada a
anulação do contrato de compra e venda e a consequente restituição dos
valores pagos pelo Requerente, uma vez que o veículo entregue é
inadequado e impróprio para sua utilização.

4.3 – DA INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL

De início cumpre esclarecer que é possível a


pessoa jurídica ser vítima de ato ilícito passível de ofensa à sua moral, pois tem
o seu nome a zelar, perante os seus clientes e fornecedores.
Aliás, não se olvide que a jurisprudência vem
admitindo tranquilamente essa possibilidade, inclusive ocasionando a edição
da Súmula n.º 227 pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça, in verbis: “A pessoa
jurídica pode sofrer dano moral”.
Cumpre ressaltar que a Requerente teve de
efetuar o pagamento mensal do financiamento, embora não tivesse utilizando
de forma satisfatória o bem adquirido, não se tratando, portanto, de mero
aborrecimento, mas da quebra dos princípios basilares de toda a relação de
consumo, principalmente os da confiança e segurança.
Ademais, pensar de forma diversa acarretaria
em compactuar com a impunidade daquele que pratica ato merecedor de
censura, na medida em que deixar o causador do dano moral sem punição, a
pretexto de não ser a pessoa jurídica passível de reparação, parece, data
venia, equivoco tão grave quanto aquele que se cometia ao tempo em que
não se admitia a reparação do dano moral nem mesmo em relação à pessoa
física. Isso só estimula a irresponsabilidade e a impunidade.

Acerca do tema, Sérgio Cavalieri Filho1, traz o


seguinte enfoque:

“Induvidoso, portanto, que a pessoa jurídica,


embora não seja passível de sofrer dano moral
em sentido estrito – ofensa à dignidade, por ser
esta exclusiva da pessoa humana -, pode
sofrer dano moral em sentido amplo – violação
de algum direito da personalidade -, porque é
titular de honra objetiva, fazendo jus a
indenização sempre que seu bom nome,
credibilidade ou imagem forem atingidos por
algum ato ilícito. Modernamente fala-se em
honra profissional como uma variante da honra
objetiva, entendida como valor social da
pessoa perante o meio onde exerce sua
atividade”.

1
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 8. ed. rev. e atual.– São
Paulo: Ed. Atlas, 2008. p. 98.
Segundo o Código Civil, em seus artigos 186,
927, caput e parágrafo único, fica obrigado a reparar o dano, ainda que
exclusivamente moral, aquele que comete ato ilícito.
Conforme explicação do próprio artigo supra
citado, a obrigação de reparar o dano será independente de culpa, nos
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida
pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem,
destarte, respaldo jurídico ao pedido de indenização.
Mister se faz esclarecer que o Requerente tem
sofrido reflexos negativos com a aquisição do veículo, por uma conduta que
jamais deu causa, ou seja teve sua moral ofendida, por adquirir um veículo,
como novo, sendo que é impróprio para uso, trazendo risco à vida de seu
sócio-administrador e funcionários que utilizem automóvel, que perdura pelo
tempo sem a devida solução que deveria ser tomada pelas Requeridas, tão
logo tivessem ciência do erro injustificável que cometeram.
No presente caso, o dano moral é vislumbrado
por ter tido a Requerente seu direito lesado enquanto consumidor, causando-
lhe constrangimentos, angústias e dissabores provocados pela Requerida.
Assim, pelo evidente dano moral que
provocaram as Requeridas, é de impor-se a devida e necessária condenação,
com arbitramento de indenização em favor do Requerente que experimentou
o amargo sabor do descaso por parte das Requeridas.
Nesse sentido, aduz com clareza singular
CLAYTON REIS em Avaliação do Dano Moral, 1998, ed. Forense, que trata-se de
uma:
"lesão que atinge valores físicos e espirituais, a
honra, nossas ideologias, a paz íntima, a vida
nos seus múltiplos aspectos, a personalidade
da pessoa, enfim, aquela que afeta de forma
profunda não os bens patrimoniais, mas que
causa fissuras no âmago do ser, perturbando-
lhe a paz de que todos nós necessitamos para
nos conduzir de forma equilibrada nos
tortuosos caminhos da existência."

Vale observar que a obrigatoriedade de


reparar o dano moral está consagrada na Constituição Federal, precisamente
em seu art. 5º, V e X, in verbis:
"é assegurado o direito de resposta,
proporcionalmente ao agravo, além de
indenização por dano material, moral ou à
imagem"
“são invioláveis a intimidade, a vida privada, a
honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação." (destacou-
se)

Da mesma forma, o Código de Defesa do


Consumidor (Lei 8.078/90) também prevê o dever de reparação a título de
dano moral, no art. 6º, VI e VII, in litteris:
"a efetiva prevenção e reparação de danos
patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos"
"o acesso aos órgãos judiciários e
administrativos, com vistas à prevenção ou
reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos ou difusos, assegurada à
proteção jurídica, administrativa e técnica aos
necessitados"

Vê-se, desde logo, que a própria lei já prevê a


possibilidade de reparação de danos morais decorrentes do sofrimento, do
constrangimento, da situação vexatória, do desconforto em que se encontra
o Requerente.
Com efeito, é notório o direito do Requerente
em receber a indenização por Dano Moral, haja vista os inúmeros prejuízos
suportados, pois conforme supramencionado nos fatos, o veículo em questão
possui uma finalidade ímpar, qual seja, a de representação da empresa e
visita aos clientes da mesma.
Ainda de acordo com o CDC é importante
ressaltar que a responsabilidade da empresa é objetiva, isto é, independe de
culpa, conforme dispõe o art. 14 do CDC:

Art. 14 “o fornecedor de serviços responde,


independentemente da existência de culpa,
pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua fruição e riscos.”

Com relação ao quantum indenizatório, o


posicionamento da jurisprudência pode ser traduzido no seguinte julgado:

“O dano moral deve ser arbitrado de acordo


com o grau de reprovabilidade da conduta
ilícita, com a capacidade econômica do
causador do dano, com as condições sociais
do ofendido, em quantitativo consentâneo
com a natureza e intensidade da humilhação,
da tristeza e do constrangimento sofridos pelo
ofendido, com o ato ilícito praticado pelo
ofensor. A indenização deve representar uma
punição para o infrator, capaz de desestimulá-
lo a reincidir na prática do ato ilícito, e deve
ser capaz de proporcionar ao ofendido um
bem estar psíquico compensatório do amargor
da ofensa” (TJRJ, AC nº 2001.001.03804, 4ª
Câmara Cível, Des. Wilson Marques).

Presentes, portanto, os requisitos necessários à


configuração do dever de indenizar, assistindo à Requerente o direito de exigir
do prestador de serviço a reparação pelos danos morais experimentados,
conforme provam fartamente os documentos ora colacionados.

4.4 – DOS DANOS MATERIAIS - DA DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS

As Requeridas devem responder pelos danos


materiais causados ao Requerente, pois não podem sair ilesas dos danos que
causaram,
Esta é matéria pacífica na Legislação Pátria,
na Doutrina e na Jurisprudência, senão vejamos:
O nosso direito positivado, especificamente o
art. 5º, incisos V e X da Constituição da República Federativa do Brasil c/c os
arts. 186 e 927 do Código Civil determinam verbis:
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
"Art.5º (...)
V – é assegurado o direito de resposta,
proporcional ao agravo, além da indenização
por dano material, moral ou à imagem;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada,
a honra e a imagem das pessoas, assegurado
o direito a indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação".
CÓDIGO CIVIL
“Art. 186 - Aquele que por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar danos a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
“Art. 927 - Aquele que por ato ilícito (arts. 186 e
187), causar danos a outrem fica obrigado a
repará-lo”.

In casu, o ato ilícito das Requeridas


consubstanciou-se no momento em que venderam veículo apresentando
vários defeitos, esquivando-se de solucionar os problemas apresentados,
obrigando o Requerente a pagar por um produto imprestável.
Como se observa, por autorização dos
dispositivos retro, é direito do Requerente reaver, corrigidamente, os seguintes
valores:
1) O integral do veículo, na quantia de R$46.990,00 (quarenta e seis mil
novecentos e noventa reais), expedindo-se ofício ao Banco do Brasil
para que suspensa a cobrança do financiamento;
2) O valor de R$ 1718,82 (mil setecentos e dezoito reais e oitenta e dois
centavos), correspondente às taxas de financiamento;
3) O valor de revisão de 10.000 km, de R$ 244,00 (duzentos e quarenta e
quatro reais);
4) O valor de R$1.293,00 (mil duzentos e noventa e três reais), conforme o
recibo (Doc. 21), por conta do reparo no ar-condicionado;
5) O valor de R$200,00 (duzentos reais) conforme outro recibo anexo (Doc.
22);
6) Mais R$ 132,56 (cento e trinta e dois reais e cinquenta e seis centavos),
por serviços de manutenção, conforme Nota Fiscal e Recibo (Docs.
26/27) e;
7) O valor da revisão de 20.000,00 Km, na quantia de R$ 280,00 (duzentos e
oitenta reais);
Todos devidamente atualizados, uma vez que
o veículo entregue sempre foi inadequado e impróprio para utilização.

5 – DA NECESSIDADE DE CONCESSÃO DA TUTELA ANTECIPADA

Necessário se mostra seja, em caráter de


urgência, suspensa a cobrança das parcelas vincendas, a partir do mês de
junho de 2014, decorrentes do financiamento do veículo objeto da lide,
devendo a primeira Requerida arcar com tal adimplemento, vez que principal
responsável pelas ilegalidades suportadas pelo Requerente, em conformidade
com o art. 273 do Código de Processo Civil, expedindo-se ofício ao Banco do
Brasil para a suspensão das cobranças.
Todos os argumentos expostos nesta exordial,
comprovam de maneira incontestável a licitude e a plausividade do direito e
da pretensão invocados: é o que se pode depreender das inúmeras ordens de
serviço e recibos de pagamento anexados, bem como da comprovação da
má prestação de serviço pela primeira Requerida, que se esquivou de resolver
os problemas decorrentes do defeito do veículo, apresentados em sede
administrativa. Eis a prova inequívoca e a verossimilhança das alegações.
Noutra banda, mantendo-se a situação como
está, o Requerente continuará responsável por arcar com as prestações de um
veículo que, conforme soberbamente demonstrado, encontra-se impróprio
para uso, oferecendo, inclusive, riscos ao condutor... E, em especial, terá ainda
mais abalado o orçamento mensal de sua família, diga-se, já deficitário. É que
em virtude de o veículo encontrar-se parado, impróprio para o uso a que se
destina, o Requerente deixou de realizar as entregas de gás em domicílio, o
que acarretou significativa diminuição das suas receitas, prejudicando seu
sustento e da sua família, sem se esquecer sua aflição, angústia e desespero.
Eis o perigo de dano irreparável ou de difícil reparação.
Esses fatos, de per si, são suficientes para que
seja deferida a tutela antecipatória, na forma como regrado pelo art. 273, I do
CPC, — até porque se trata de decisão perfeitamente reversível.

DO EXPOSTO, requer seja essa tutela deferida,


inaudita altera parte, a fim de que seja determinada a suspensão da
cobrança do pagamento das mensalidades vincendas, a partir do mês de
junho de 2014, decorrentes do financiamento do veículo, devendo a primeira
Requerida arcar com tal adimplemento.
Para tanto, o Requerente compromete-se em
depositar em Juízo, no prazo conferido por V.Exa., o carnê com os boletos de
pagamento restantes.
Outrossim, requer a imputação de uma multa
diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) pelo descumprimento do decisum (arts.
84, caput e §§ 3º e 4º, do CDC e 461, caput e §§ 3º e 4º, do CPC).

6 – DOS PEDIDOS
Ante ao exposto, requer à Vossa Excelência:

a) A citação das Requeridas no endereço aposto no preâmbulo, na


pessoa dos seus representantes legais, após o deferimento da tutela
antecipada, para, querendo, apresentar resposta à presente Ação no
prazo da lei, advertindo-as dos efeitos da revelia;

b) A inversão do ônus da prova em favor do Requerente, com fulcro no


art. 6º, III, CDC;

c) que os pedidos da presente Ação sejam julgados totalmente


PROCEDENTES, nos seguintes termos:

d.1) Seja concedida a tutela antecipada, initio litis e inaudita altera pars, a
fim de que seja determinada a suspensão da cobrança do pagamento
das mensalidades vincendas, a partir do mês de junho de 2014,
decorrentes do financiamento do veículo, expedindo-se ofício ao
Banco do Brasil, devendo a primeira Requerida arcar com tal
adimplemento, sob pena de multa diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais)
pelo descumprimento do decisum (arts. 84, caput e §§ 3º e 4º, do CDC
e 461, caput e §§ 3º e 4º, do CPC). Para tanto, o Requerente
compromete-se em depositar em Juízo, no prazo conferido por V.Exa., o
carnê com os boletos de pagamento restantes;

d.2) Seja declarada a responsabilidade solidária das Requeridas, nos


termos do art. 18 do CDC.

d.3) Seja decretada a anulação do contrato de compra e venda e a


consequente restituição dos valores pagos pelo Requerente, uma vez
que o veículo entregue é inadequado e impróprio para sua utilização;

d.4) Sejam condenadas as Requeridas à restituição da importância de R$


50.858,38 (cinquenta mil, oitocentos e cinquenta e oito reais e trinta e
oito centavos), correspondente a tudo o que foi pago pelos reparos,
revisões, mensalidades e entrada do veículo;

d.5) Sejam condenadas as Requeridas ao pagamento de indenização por


danos morais a serem arbitrados por Vossa Excelência, uma vez que
estão presentes os requisitos que ensejam a reparação do dano;

d.6) Condenação também no pagamento das custas e honorários de


sucumbência, estes no importe de 20% (vinte por cento) sobre o valor
da condenação.

d.7) Que todas as publicações sejam expedidas em nome do advogado:


Dr. Antônio José Sales Bacelar Couto- OAB/MA 9.566, sob pena de
nulidade processual;

d.8) a incidência de juros e correção monetária na forma da lei em vigor.

Protesta por provas suplementares, em


especial pelo depoimento pessoal dos representantes legais das Requeridas,
sob pena de confissão, oitiva de testemunhas, juntada de outros documentos,
perícia e demais provas em direito admitidas.
Por fim, os subscritores da presente declaram,
na forma da lei, sob sua responsabilidade pessoal, serem autênticas as cópias
das peças que instruem esta petição (CPC, art. 365, IV).
Atribui-se à causa, o valor de R$ 50.858,38
(cinquenta mil, oitocentos e cinquenta e oito reais e trinta e oito centavos).

Nestes termos,
P. Deferimento.
São Luís, 22 de maio de 2014.

ANTÔNIO JOSÉ SALES BACELAR COUTO


Advogado, OAB/MA nº 9.566

ALMIR FRANCISCO DUTRA NETO


Advogado – OAB/MA 8922

RICARDO BRUNO BECKMAN SOARES DA CRUZ


Advogado, OAB/MA nº 12.216

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