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Em busca de uma maior resistência à sul e sudeste do Brasil e por seu valor econômico
flexão, geralmente em estruturas de grandes vãos acessível comparado a outras espécies de madeira.
ou de elevados carregamentos, uma das soluções As peças de madeira que foram utilizadas foram
propostas é a utilização de fibras sintéticas na face preparadas e classificadas de acordo com a
tracionada da viga de MLC como reforço (MIOTTO NBR 7190 (ABNT, 1997), para reconhecimento dos
e DIAS, 2011). defeitos presentes e posterior classificação.
Considerando que um elemento de
4.1.2 Adesivo para madeira laminada colada
madeira reforçado com fibras na face tracionada,
sujeita à flexão, apresenta comportamento dúctil Para fabricação das sete vigas de madeira
pois o reforço obriga a madeira romper-se na laminada colada foi utilizado para colagem das
região comprimida, entende-se que há enormes peças o adesivo Melamina Uréia Formaldeído MUF
vantagens em sua utilização inclusive para reforçar 1242 com o emulsificante líquido 2542, ambos de
estruturas novas, no processo de fabricação da empresa Akzonobel.
dimensionamento (BARBOSA, 2008). De acordo com o fabricante a viscosidade
O uso de fibras para reforçar vigas não só da cola é de 11.000 mPas (milipascal segundo) e do
garante melhorias na resistência estrutural e catalizador 14.000 mPas (milipascal segundo) e a
rigidez do elemento, mas também altera seu modo proporção da mistura é de 100 partes por peso
de ruptura. Os polímeros reforçados com fibras para a cola e de 20 ou 25 partes por peso para o
(FRP) são formados a partir da ligação de fibras a catalizador.
um adesivo, tornando-se um compósito que Em relação ao tempo pós-catalização, o
apresenta propriedades mecânicas de resistência e produto possui um tempo de cura para atingir total
rigidez superiores às de cada material resistência a água após a colagem de no mínimo 5
individualmente (FIORELLI e DIAS, 2011).
dias.
VR V1 V2 V3 V4 V5 V6
As vigas ficaram sob uma pressão de ressaltos ou com colagem imperfeita, obtendo-se
6 kgf/cm² por um período de cura de 10 horas assim vigas com comprimento de 300 cm.
devido a temperatura ambiente ser de 20ºC, Estando concluídas todas as vigas as
respeitando as especificações técnicas do mesmas estavam prontas para o processo de
fabricante do adesivo. Após a retirada das vigas do aplicação do tecido de fibra de vidro unidirecional,
equipamento as mesmas foram aplainadas para como uma das vigas montadas, a viga de
receber o acabamento lateral final. referência, não recebeu a aplicação do tecido de
Após o processo completo da primeira fibra de vidro unidirecional, a mesma esteve
etapa foram realizados os mesmos procedimentos finalizada para o procedimento de análise logo
para as vigas 4, 5 e 6, mistura do adesivo, aplicação após seu processo completo de fabricação. As
do adesivo e posicionamento das lamelas na fibras de vidro possuem dois modelos de aplicação
prensa, porém a primeira lamela de cada uma das sobre as 6 vigas restantes, em 3 delas o tecido de
vigas 4, 5 e 6 não foi colada juntamente as vigas fibra de vidro unidirecional foi colado em três
devido ao posterior recebimento das fibras de camadas através da resina Compound na primeira
vidro entre a primeira e a segunda lamela, as vigas lamela, ou seja, na face inferior da viga. Nas outras
da segunda etapa também passaram por um 3 vigas restantes o tecido foi aplicado em três
processo de cura de 10 horas sob uma pressão de camadas entre a primeira e a segunda lamela
6 kgf/cm² devido à temperatura ambiente ser de através da mesma resina Compound. A Figura 5
20ºC. Posteriormente a cura total do adesivo e mostra um corte transversal dos três tipos de vigas
retirada das vigas 4, 5 e 6 da prensa, as mesmas em relação ao posicionamento do tecido de fibra
também foram aplainadas, como mostra a Figura 6, de vidro, sendo o primeiro, um corpo de prova de
para recebimento do acabamento lateral, e após referência, sem aplicação das fibras, o segundo
todas as vigas serem coladas e aplainadas foi feito com a aplicação na face inferior da viga e o terceiro
o corte do comprimento de cada viga para com as fibras aplicadas entre a primeira e a
obtenção de extremidades sem desigualdades, segunda lamela.
Para dar início ao processo de aplicação extremidades, este processo foi repetido até a
das fibras inicialmente realizou-se o corte do tecido colagem de três faixas de tecido de fibra de vidro
de fibra de vidro unidirecional em uma quantidade para cada viga, sendo que nas vigas 1, 2 e 3 o
de 18 faixas de tecido, com dimensões de 10 cm de reforço foi aplicado na face inferior da primeira
largura e 315 centímetros de comprimento. Após o lamela de cada viga com a última camada em
processo de corte do tecido iniciou-se a mistura do adesivo, como mostra a Figura 6.
componente A com o componente B do adesivo Nas vigas 4, 5 e 6 o tecido foi aplicado
Compound na proporção de 1:1, foi necessário entre a primeira e a segunda lamela, através do
anteriormente misturar cada componente mesmo processo de aplicação das fibras das vigas
separadamente para obtenção de um produto final anteriores, logo após o término da aplicação das
homogêneo. fibras na segunda lamela, as três vigas foram
O adesivo foi aplicado sobre as vigas com colocadas na prensa juntamente com a primeira
um pincel e rapidamente foram posicionadas as lamela de cada viga para obtenção de peças com
faixas do tecido sobre o adesivo, devido à alta dimensões iguais as anteriores.
temperatura ambiente que acelerou o processo de Depois de finalizadas as seis vigas, como
cura do adesivo, em seguida retirou-se o ar mostra a Figura 7, as mesmas permaneceram sobre
incorporado através da aplicação de movimentos um processo de cura de 7 dias para obtenção da
horizontais no sentido do centro da viga até suas resistência total do adesivo Compound.
FIGURA 6: Aplicação do reforço sobre as vigas. FIGURA 7: Vigas durante processo de cura.
FONTE: Autores (2017). FONTE: Autores (2017).
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4.2.5 Determinação do módulo de elasticidade chapa metálica e dois parafusos, como mostra a
das vigas Figura 9, foram feitas as medições dos
deslocamentos de cada viga durante a variação das
Para determinação do módulo de
porcentagens de carga.
elasticidade das vigas foi inicialmente realizado o
rompimento de uma viga reforçada de cada
modelo, ou seja, da viga 1 e da viga 4, para 4.2.6 Determinação da capacidade de carga das
determinação da capacidade de carga de vigas
referência em toneladas através do equipamento Inicialmente foi realizado o ensaio de
Prensa Universal. As vigas foram posicionadas em capacidade de carga da viga de referência, da
um sistema de três apoios de acordo com a NBR
viga 1 e da viga 4, já a determinação da capacidade
7190 (1997) demonstrado na Figura 8, com uma
de carga das demais vigas foi realizada logo
carga concentrada posicionada no meio do vão e
após a determinação do módulo de elasticidade
com 5 centímetros de folga em cada extremidade,
das mesmas através do ensaio de flexão
ou seja, com uma vão livre de 2,90 metros.
segundo as diretrizes da NBR 7190 (ABNT, 1997).
Após a obtenção do valor de referência
Através do equipamento Prensa
das vigas 1 e 4, foi determinado o módulo de
elasticidade das vigas 2, 3, 5 e 6 seguindo as Universal e do mesmo esquema de apoio e
diretrizes dispostas pela NBR 7190 (1997), com a posicionamento da carga concentrada de
aplicação da carga de referência com variação de 3 pontos, com 5 cm de folga em cada extremidade
10% e 50% do valor da carga e repetidas e vão livre de 2,90 metros como mostra a
estabilizações de 30 segundos por duas vezes com Figura 10, foi aplicada a carga concentrada
a carga a 50% e por duas vezes com a carga a 10%. até o rompimento de cada viga e obtenção do
Através de um transdutor de deslocamento valor de capacidade de carga de cada uma
instalado na lateral das vigas fixado através de uma quando submetidas ao ensaio de flexão simples.
FIGURA 92: Modo de fixação do transdutor de FIGURA 10: Modo de apoio para determinação da carga
deslocamento. FONTE: Autores (2017). de ruptura. FONTE: Autores (2017).
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5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
obtidos foram menores do que para o segundo
5.1 VERIFICAÇÃO DA RIGIDEZ DAS VIGAS DE modelo de colagem do reforço, no qual o reforço
MADEIRA LAMINADA COLADA REFORÇADAS E
foi aplicado entre a primeira e a segunda lamela
NÃO REFORÇADA, POR MEIO DA DETERMINAÇÃO
DO MÓDULO DE ELASTICIDADE DAS PEÇAS das vigas, demonstrando que a lamela posicionada
logo abaixo do tecido de fibra de vidro, para as
O módulo de elasticidade das vigas pode vigas 5 e 6, interferiu positivamente no
ser obtido através do rompimento de vigas comportamento das vigas. Apesar do reforço nas
semelhantes para obtenção da carga de referência, vigas 5 e 6 estar posicionado mais próximo da linha
desta forma as vigas 1 e 4 foram rompidas para neutra comparando-se ao modelo de aplicação das
que o módulo de elasticidade das vigas 2, 3, 5 e 6 vigas 2 e 3, além de o processo de colagem do
fossem obtidos e estão dispostos no Figura 11. reforço ter sido mais satisfatório nas vigas 5 e 6, as
Comparando-se os resultados das vigas mesmas foram colocadas na prensa para aderência
pode-se observar que sendo o módulo de da primeira lamela à viga, o que pode ter causado
elasticidade proporcional a rigidez, logo, a viga 5 o acréscimo de rigidez devido a uniformização do
possui a maior rigidez, sendo seguida pela viga 6 e tecido unidirecional de fibra de vidro, através da
pela viga 2. Já a viga 3 é a que possui menor rigidez retirada de vazios e ondulações.
comparada as demais. A Figura 12 demonstra o comportamento
Observa-se que para o primeiro modelo da viga de referência, que não possuía reforço, ao
de colagem do tecido de fibra de vidro, no qual o longo de seu trajeto até a ruptura, sendo a carga
reforço foi aplicado na face inferior da primeira de ruptura de 3,01 toneladas e o deslocamento no
lamela das vigas, os módulos de elasticidade momento da ruptura de 47,053 milímetros.
A viga mostra certa linearidade e Notou-se durante a ruptura das vigas que
proporção nos deslocamentos em função da carga enquanto a viga de referência VR possuiu certa
crescente aplicada. Através do comportamento da linearidade nos deslocamentos ao longo da
viga e da Equação 4, pode-se obter o valor do aplicação crescente e proporcional da carga, as
módulo de elasticidade da viga de referência, demais vigas comportaram-se de forma que no
sendo de 8.698,76 MPa, que quando comparado às início da aplicação da carga o deslocamento era
vigas que possuíam reforço o valor é menor, porém acelerado e linear, como na viga de referência VR,
não tão abaixo da viga 3, que possui menor módulo porém após certo valor de aplicação de carga e
comparada as demais. também certa flexão das vigas, próximo ao valor de
ruptura da viga de referência, as mesmas
(Fm50 % Fm 10 %) L³ diminuíam seu deslocamento enquanto que a
Emd Eq. [4]
(V50 % V10 %) 4 b h³ carga continuava sendo aplicada na mesma
velocidade e proporção anterior a desaceleração.
Em que: A Figura 13 apresenta os deslocamentos
Emd = módulo de elasticidade da viga; de cada viga no momento em que a carga aplicada
era de 3,01 toneladas, carga correspondente a
Fm,10% e Fm,50% = cargas correspondentes a 10% carga de ruptura da viga de referência.
e 50% da carga máxima estimada, aplicada ao O deslocamento da viga de referência no
corpo-de-prova; momento da ruptura era de 47,053 mm enquanto
V10% e V50% = deslocamentos no meio do vão que nas demais vigas o deslocamento para a
correspondentes a 10% e 50% da carga de mesma carga é menor, o que mostra a eficiência do
referência da viga rompida inicialmente; reforço em aumentar a rigidez, das vigas,
diminuindo sua deflexão, para uma mesma
b = largura da seção transversal da viga.
aplicação de carga.
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FIGURA 5: Deslocamento das vigas para carga de ruptura da viga de referência: 3,01 toneladas.
FONTE: Autores (2017).
5.2 COMPARAÇÃO DA CARGA DE RUPTURA DAS face inferior das vigas é de 3,56 toneladas e do
VIGAS REFORÇADAS COM A VIGA SEM REFORÇO segundo modelo, no qual o reforço foi aplicado
entre a primeira e a segunda lamela das vigas é de
De acordo com Fiorelli (2005) a carga de
3,63 toneladas.
ruptura de vigas de madeira laminada colada,
A Tabela 1 mostra o acréscimo, em
quando há a utilização do conjunto fibra de
porcentagem, de carga de ruptura comparando-se
vidro/resina epoxídica como reforço, se torna
a viga de referência, viga sem aplicação de reforço.
maior quando comparada a uma viga de madeira
A porcentagem de reforço aplicado, sendo a
laminada colada sem aplicação do reforço, em
espessura do tecido de fibra de vidro unidirecional
concordância com o autor o Figura 14 mostra as
utilizado de 0,62 mm, foi de 0,93% em relação à
respectivas cargas de ruptura de cada viga
altura da viga, o que corresponde a três camadas
demonstrando um acréscimo de carga para as vigas
de fibra de vidro, sendo que segundo Fiorelli (2005)
reforçadas.
a máxima resistência obtida com aplicação de
A viga que obteve maior carga de ruptura
reforço de tecido unidirecional de fibra de vidro é
foi a viga 1, com 3,8 toneladas, seguida das vigas 5
quando se utiliza um reforço com espessura de
e 4, com 3,7 e 3, 69 toneladas respectivamente, a
3,3% em relação à altura da viga. A utilização de
viga 6 obteve carga de ruptura de 3,51 toneladas e
3,3% de espessura de reforço em relação à altura
as vigas 2 e 3, obtiveram ruptura com o mesmo
da viga corresponderia à utilização de 11 camadas
valor de aplicação de carga sendo de 3,44
do tecido de fibra de vidro unidirecional, o que
toneladas.
inviabiliza o processo de aplicação do reforço e
A média de carga de ruptura das vigas do
aumenta consideravelmente os custos do uso do
primeiro modelo, no qual o reforço foi aplicado na
reforço.
A viga 6, obteve uma ruptura frágil, porém das mesmas era linear e proporcional, assim
mais brusca comparando-se as demais vigas como a viga de referência, até o valor de carga
analisadas, como pode ser observado pela Figura de ruptura da viga de referência, 3,01 toneladas,
21, a ruptura deu-se inicialmente por tração nas após este valor o deslocamento sofria
três primeiras lamelas da viga e no reforço, e por uma desaceleração e quando era atingida a
cisalhamento longitudinal que causou aberturas na carga de ruptura da viga, ocorria um
terceira, quarta, quinta e sexta lamela, sendo que deslocamento acentuado da viga e por fim sua
houve separação total da viga por cisalhamento ruptura.
longitudinal observado na terceira e quarta lamela. A Tabela 2 mostra os valores de carga de
Notou-se também esmagamento das lamelas ruptura e deslocamento no momento de ruptura
superiores por compressão. de cada viga, nota-se que a viga 1 obteve o maior
A ruptura da viga 6 deu-se a uma carga de valor de carga de ruptura, 3,80 ton, e o menor
3,51 toneladas, 16,61% maior comparando-se a deslocamento entre as vigas reforçadas, 62,821
viga de referência, e um deslocamento no mm, a viga 5 obteve o segundo maior valor de
momento da ruptura de 81,625 milímetros. carga, 3,7 ton, e o maior deslocamento final,
Em todas as vigas analisadas não houve o 83,722 mm, a viga 6 obteve o terceiro maior valor
descolamento entre as lamelas de madeira por de carga, 3,51 ton, com o segundo maior
mau funcionamento do adesivo Melamina Uréia deslocamento final, 81,625 m, a viga 4 obteve o
Formaldeído MUF 1242 com o emulsificante quarto maior valor de carga de ruptura, 3,69 ton,
líquido 2542 aplicado entre as lamelas, e também com deslocamento final de 63,279 mm, por fim as
não houve descolamento do reforço por mau
vigas 2 e 3 obtiveram o mesmo valor de carga de
funcionamento da resina Compound. Em todas as
ruptura, 3,44 ton, com deslocamentos de 63,310 e
vigas reforçadas observou-se que o deslocamento
65,999 mm, respectivamente.
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