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VULNERABILIDADE SOCIAL, SAÚDE DA MULHER, RACISMO AMBIENTAL:


A EPIDEMIA ZIKA VÍRUS DE 2015 NO BRASIL E A AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE N° 5.581

Alexandre Godoy Dotta


Doutor, UniBrasil

Larissa Tomazoni
Mestra, Uninter

RESUMO
Possui o objetivo de identificar vulnerabilidades sociais sobre a epidemia ZIKAV ocorrida no Brasil
em 2015. Busca perceber os principais focos de vulnerabilidade social e possíveis impactos da
doença nas políticas de promoção da saúde reprodutiva das mulheres. Desenvolve-se por meio de
análise dos relatórios oficiais do Ministério da Saúde do Brasil e dos dados apresentados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Conclui apontando a situação de pobreza e a
ausência de serviços de infraestrutura básicos adequados para a moradia principal fator que causou
a epidemia brasileira. Descreve como a doença afetou majoritariamente as mulheres nordestinas
pobres. E tece considerações sobre o racismo ambiental e o relatório da Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADIN nº 5.581/2016), notadamente sobre a proteção e defesa dos direitos
reprodutivos, especialmente o direito ao aborto.
PALAVRAS-CHAVE: vulnerabilidade social, ZIKAV; direitos da mulher; racismo ambiental;
aborto.

INTRODUÇÃO
A microcefalia causada pelo Zika vírus tornou-se centro das atenções em 2015,
especialmente a televisiva. Mas jornais, revistas, sites, fóruns na internet, blogs e facebook
enfatizavam essa condição de saúde que afetava constantemente os recém-nascidos de mulheres
grávidas doentes. Aparentemente, o responsável era o ZIKAV, um arbovírus desconhecido no
Brasil até então. No entanto, a cobertura da mídia enfocou uma perspectiva biomédica que
negligenciou outros aspectos relevantes como o processo de transmissão e a parcela que seria
afetada da população. A falta de infraestrutura adequada afeta consideravelmente as mulheres
pobres que não possui acesso à educação sexual e métodos contraceptivos. A vulnerabilidade social
dessas mulheres aliada aos problemas trazidos pela epidemia, fez com que inicia-se um litígio no
STF em 2016, por meio da ADIN n° 5581, que discute a possibilidade de interrupção da gestação
por parte das mulheres afetadas pela epidemia. Deste modo, a investigação tem como objetivo
realizar uma perspectiva socioeconômica sobre o fenômeno. Ampara-se nos relatórios do Ministério
da Saúde mediante análise geográfica. A bibliografia selecionada estuda as disparidades qualitativas
entre as regiões brasileiras. Ao mesmo tempo, apresenta um resumo das consequências biológicas e
médicas, embora reconheça que essa descrição é insuficiente para compreender adequadamente o
vírus e seus impactos.
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A síndrome congênita do Zika, que engloba a microcefalia e outras alterações no sistema


nervoso central, tem geografia de classe no Brasil, pois são as mulheres pobres e nordestinas as
mais afetadas pela doença. Essas mulheres é população foco de vulnerabilidades sociais pois
sobrevivem a um amplo regime de políticas de precarização da vida, sendo a pobreza a mais grave
delas (DINIZ, 2018). Doenças transmitidas por mosquitos afetam desproporcionalmente a
população mais pobre. A epidemia de Zika de 2015 teve maior impacto no Nordeste do Brasil, onde
reside uma percentagem maior da população pobre. Destaca-se que “as condições climáticas são
mais favoráveis à propagação de vírus transmitidos por mosquitos do que no Sul, mais rico e menos
tropical” (LESSER; KITRON, 2018). Já em fevereiro deste mesmo ano, sete meses após a Copa do
Mundo de 2014, a Secretaria de vigilância em Saúde do Ministério da Saúde passou a monitorar o
registro de Síndrome Exantemática Indeterminada nos estados da região Nordeste do Brasil; entre
os diversos arbovírus investigados estava o Zika vírus – ZIKAV (BRASIL, 2018a). Em 2014 foi
verificado na Oceania, e especialmente Polinésia Francesa constatou-se um aumento incomum de
17 casos de malformações do cérebro em fetos e recém-nascidos, que coincidiu com o surto do
vírus em 2015.
Nenhuma das gestantes relatou sinais da doença, o que sugeriu a possibilidade de uma
infecção assintomática. Somente em 29 de abril de 2015, anunciaram a presença e circulação do
vírus no Brasil, até então o arbovírus não era conhecido no país, e tampouco a doença que ele
causava(DREZETT; GOLLOP, 2018). A infecção pelo vírus Zika pode acometer pessoas de todas
as idades e ambos os sexos. Trata-se de uma doença febril aguda, e estima-se que somente 20% das
pessoas infectadas apresentem sintomas ou sinais clínicos; não há tratamento específico e os
sintomas são leves e duram poucos dias. A infecção em humanos pelo vírus Zika é disseminada
principalmente pelo mosquito Aedes aegypti e, a partir disso, pode ser transmitido nas relações
sexuais ou de forma vertical da gestante para o feto (DREZETT; GOLLOP, 2018). O Aedes aegypti
é particularmente bem adaptado ao ambiente urbano, onde há grande concentração de seres
humanos e locais de reprodução nos espaços residenciais, por conta dos recipientes artificiais para
água encontrados em quase todas as casas, como caixas d’água, baldes e pneus (LESSER;
KITRON, 2018). Apesar de existirem relatos de transmissão vertical e sexual do ZIKAV, para fins
de prevenção e controle da doença, considera-se que o principal modo de transmissão seja vetorial
(BRASIL, 2018a). Durante 2014 e 2015, os médicos acreditavam que as pessoas contaminadas com
o vírus Zika estavam apresentando um quadro alérgico.
A doença rapidamente se disseminou pelo sertão nordestino e resultou em 2015 um
aumento do número de bebês nascidos com microcefalia. Todavia somente em novembro de 2015 a
relação entre a contaminação de mulheres grávidas pelo vírus e o nascimento de bebês com
microcefalia foi comprovada cientificamente. “A microcefalia é uma malformação congênita, em
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que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada, para idade e sexo. As microcefalias podem
ser causadas por fatores biológicos, genéticos, ambientais, químicos ou físicos” (BRASIL, 2018b).
Na microcefalia o perímetro cefálico pode ter dois ou mais desvios padrão abaixo da média, e pode
estar presente no nascimento ou se desenvolver nos primeiros anos de vida (DREZETT; GOLLOP,
2018). O Ministério da Saúde estava acompanhando desde o dia 22 de outubro de 2015 a
notificação e investigação de casos de microcefalia em Pernambuco. No primeiro comunicado
foram identificados 26 casos de microcefalia, em diferentes regiões do estado. Até 17 de novembro
de 2015 foram notificados 399 casos provenientes de sete estados da região Nordeste, sendo 67,2%
dos casos em Pernambuco, 11,0% em Sergipe e 9,8% em Rio Grande do Norte (BRASIL, 2018b).
Até 21 de novembro de 2015 foram notificados 739 casos suspeitos de microcefalia, sendo 65,9%
em Pernambuco, 13,0% na Paraíba e 7,3% em Sergipe. (BRASIL, 2018c). A 19 de dezembro de
2015 foi notificado ao Ministério da Saúde 2.782 casos suspeitos de microcefalia relacionados à
infecção pelo vírus. Entre o total de casos foram notificados 40 óbitos suspeitos (BRASIL, 2018d).
Até 26 de dezembro de 2015 o Ministério da Saúde foi notificado sobre 2.975 casos suspeitos de
microcefalia, sendo 38,76% provenientes de Pernambuco, 16% da Paraíba e 9,11% da Bahia. Entre
o total de casos foram notificados 37 óbitos suspeitos (BRASIL, 2018e). Em junho de 2016, foi
descoberto que à medida que as crianças cresciam, embora não tivessem mostrado nenhum sinal de
microcefalia enquanto recém-nascidas, começaram a ter convulsões e dificuldades visuais, auditivas
e motoras (CARVALHO, 2018).
O Boletim Epidemiológico n° 41 de 2017, que apresenta a situação epidemiológica dos
casos e óbitos suspeitos de alterações no crescimento e desenvolvimento possivelmente
relacionados à infecção congênita, registrou 14.916 casos suspeitos até 14 de novembro de 2017.
Do total de casos 3.014 (20,2%) foram confirmados, e 287 (1,9%) foram classificados como
prováveis. A maioria dos casos concentra-se na região Nordeste, os cinco estados com o maior
número de casos notificados são: Pernambuco com 17%, Bahia 16,2%, São Paulo 8,9%, Paraíba
7,5% e Rio de Janeiro 7,4%. No que se refere as notificações de recém-nascidos e crianças em
monitoramento, dos 4.918 casos suspeitos, 533 foram confirmados (BRASIL; 2018f). O Boletim 49
n° 2-2018, apresenta dados de janeiro a dezembro de 2017, em relação às gestantes foram
registrados 2.160 casos prováveis, sendo 949 confirmados (BRASIL, 2018g). “O combate ao Aedes
aegypti é tão necessário quanto complexo, envolvendo a mobilização da população e as
providências das autoridades públicas. Não bastasse, o Aedes aegypti, tem mostrado capacidade
extraordinária de adaptação biológica, o que torna desafiador o seu controle e, principalmente, sua
erradicação” (DREZETT; GOLLOP, 2018. OLIVEIRA, 2018).
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DESENVOLVIMENTO, SANEAMENTO E RACISMO AMBIENTAL E OS DIREITOS


REPRODUTIVOS DAS MULHERES

A relação entre saúde e saneamento, em especial a importância do papel do saneamento no


quadro de saúde dos países em desenvolvimento, que se encontra fortemente associado ao modelo
sócio econômico praticado, e a população vulnerável corresponde justamente àquela excluída dos
benefícios do desenvolvimento. O “saneamento constitui o controle de todos os fatores do meio
físico do ser humano, que exercem ou podem exercer efeitos deletérios sobre seu estado de bem
estar físico, mental ou social” (HELLER, 2018). Em resumo, os riscos decorrentes da insalubridade do
meio afetam intensamente as populações de menos status sócio econômico (HELLER, 2018). No
intervalo entre o ano 2000 e 2008, o déficit na prestação do serviço de abastecimento de água foi
elevado, com aproximadamente 12 milhões de residências no País sem acesso à rede geral. Em
alguns municípios, devido à inexistência, insuficiência e ineficiência da rede de água existente em
certas localidades, o abastecimento ou distribuição de água pode ocorrer por outras formas. Foram
identificados 794 municípios onde, independentemente da existência de rede geral de
abastecimento, ocorreu a distribuição de água por outras formas, a ocorrência de fornecimento de
água, por formas alternativas, atingiu quantidade superior a 827 (14,9%) municípios no País. O
Nordeste (30,1%) possui a maior proporção de municípios com ocorrência de outras formas de
abastecimento de água, que não a rede geral, sendo superior ao dobro da proporção observada para
o conjunto do País é de 14,9% (BRASIL. IBGE, 2018). A relação entre saneamento e
desenvolvimento é bastante clara, países com melhores coberturas por saneamento têm populações
mais saudáveis, o que por si só constitui um indicador de nível de desenvolvimento. O IDH
“compõe-se de três fatores: expectativa de vida, conhecimento e padrão de vida” (HELLER, 2018).
Os estados mais afetados pela epidemia, e a consequente microcefalia foram: Pernambuco, Bahia,
Paraíba, Sergipe e Rio Grande do Norte.
O saneamento básico e a coleta de lixo são serviços quase universais em lares urbanos, mas
estão menos disponíveis em famílias lideradas por homens ou mulheres negras. O esgotamento
sanitário é o serviço mais desigual, o que ressalta a desigualdade social. Além disso, pessoas
precisam acumular água em reservatórios para enfrentar longos períodos sem água nas torneiras. “A
exposição desproporcional de populações negras a fatores ambientais contaminantes foi definida, na
década de 1980, como racismo ambiental” (CARVALHO, 2018). O racismo ambiental faz com que
áreas marginalizadas, com populações majoritariamente negras e pobres, tendam a ter pior acesso a
serviços públicos, o que impacta na capacidade de ruptura com a marginalidade. A restrição de
acesso ao saneamento básico, submete determinados grupos populacionais a diversas epidemias ao
longo do tempo (CARVALHO, 2018). No Brasil, o racismo ambiental pode ser entendido como um
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padrão recorrente das políticas de saneamento, na medida em que é frequente que os mesmos
grupos populacionais sofram com falta de acesso a esses serviços, o que tende a aumentar o risco à
saúde dessa população, que são os principais expostos aos mais diversos vetores que utilizam a falta
de saneamento como mecanismo de reprodução (VELETA; SOUZA; CORREIO, 2018). O racismo
ambiental é uma das razões para as desigualdades de acesso ao saneamento básico e está na base do
adoecimento de grupos sociais vulneráveis, e acaba reiterando o ciclo de pobreza e marginalização
da população negra. O adoecimento de mulheres negras grávidas em decorrência da epidemia do
vírus, é um indicativo de continuidade da situação de vulnerabilidade enfrentada por essas
mulheres. “A problematização das doenças em relação aos movimentos populacionais e ao espaço
geográfico, não pode ser separada de dinâmicas que são, na sua gênese, de âmbito político e social”
(NUNES; PIMENTA, 2018).
Outro aspecto fundamental é o gênero, pelo fato de a Zika ter sido enquadrada como um
problema de mulheres, especialmente em idade fértil ou grávidas e por ser uma doença sexualmente
transmissível. A epidemia suscita o debate sobre o controle que as mulheres têm sobre a própria
vida sexual, a liberdade de gerenciar uma gravidez, o direito ao aborto e a opinião/intervenção sobre
as políticas que tem efeito sobre o corpo feminino (NUNES; PIMENTA, 2018). Primordialmente,
dirigido às mulheres, inclusive, as autoridades de saúde recomendam que as mulheres não
engravidem por um período, mas ignoram o papel dos homens na transmissão (LESSER; KITRON,
2018). Aproximadamente 20 milhões de mulheres na América Latina e no Caribe têm necessidades
não satisfeitas de planejamento reprodutivo, mas estão submetidas à legislações penais restritivas
em relação ao aborto. “A intercessão desses fatores resulta em taxas elevadas de abortamento
induzido clandestinamente, com 95% das interrupções da gravidez praticadas em condições de
risco, com consequências que recaem, principalmente, sobre as mulheres pobres” (DREZETT;
GOLLOP, 2018). São essas mesmas mulheres em situação de vulnerabilidade que apresentam
maior risco de infecção com o vírus Zika, em decorrência da precariedade no fornecimento de
serviços de saneamento básico e saúde, do menor acesso à escolaridade formal e educação sexual.
Após a associação do vírus com a microcefalia, configurou-se também a epidemia como um
problema de gênero, que trouxe a tona questões de saúde materna e direitos reprodutivos no Brasil e
na América Latina. “Autoridades públicas têm advogado em prol do gerenciamento de gravidez,
contracepção e até abstinência sexual durante a gravidez – trazendo de volta um discurso ideológico
sobre a liberdade e sexualidade femininas” (NUNES; PIMENTA, 2018; TOMAZONI; BARBOZA,
2018).

A AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 5581 E A POSSIBILIDADE DE


INTERRUPÇÃO DA GESTAÇÃO
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A ADI n° 5581 que tramita no STF, foi proposta pela Associação Nacional dos Defensores
Públicos (ANADEP) em 24 de agosto de 2016 e é de relatoria da Ministra Carmen Lúcia. A ADI
está cumulada com a ADPF, na qual se discute a omissão do Estado brasileiro em dispor sobre a
possibilidade de interrupção da gestação por parte das mulheres afetadas pela epidemia. No tópico
sobre a omissão na garantia de acesso a métodos contraceptivos e repelente contra o mosquito vetor,
o argumento é de que o Estado brasileiro foi omisso ao não conceber e executar políticas públicas
focadas no planejamento familiar e saúde reprodutiva das mulheres em risco de infecção pelo Zika
vírus, com a distribuição de métodos contraceptivos e acesso à repelentes contra o mosquito
(BRASIL, 2018j). O direito ao planejamento familiar, que encontra fundamento no artigo 226, §7º
da Constituição, pressupõe o acesso à esses métodos, e no caso da epidemia, “é fundamental uma
política pública de acesso a meios contraceptivos extensiva, a qual foque em especial nas mulheres
em idade reprodutiva e na população em maior vulnerabilidade, com ampla distribuição dos meios
contraceptivos” (BRASIL, 2018j). No Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia o uso de
repelentes é frequentemente citado como estratégia de prevenção, porém não ocorreu a distribuição
gratuita do produto. “Em tempos de crise de saúde pública provocada pelo vírus, o repelente é
requisito básico de uma gestação saudável, e, portanto deve ser entendido como parte dos “métodos
de concepção” que, segundo o art. 9º da Lei Federal nº. 9.263/1996, compõem o direito ao
planejamento familiar” (BRASIL, 2018j). Em relação a omissão sobre a possibilidade de
interrupção da gravidez nas políticas públicas do Estado brasileiro para a mulher grávida infectada
pelo Zika a ANADEP requer que os artigos 124, 126 e 128, I e II do Código Penal sejam
interpretados conforme a Constituição de 1988. O parecer do Global Health Justice Partnership
(GHJP), que integra a ADI, ressalta a omissão do Brasil em implementar políticas públicas voltadas
à saúde reprodutiva. No contexto das mulheres grávidas contaminadas pelo Zika, a possibilidade de
interrupção lícita da gravidez conta com respaldo na jurisprudência do STF e por interpretação
conforme a Constituição dos artigos 23, I, 24 e 128 I, II do CP.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados oficiais compilados do Ministério da Saúde e a pesquisa demonstram que a
questão no Brasil sobre a microcefalia é fator de vulnerabilidades sociais. Fica evidente que trata-se
de uma “doença dos pobres”, o tipo de doença que afeta desproporcionalmente as classes mais
empobrecidas das regiões mais pobres. Também é possível aplicar o conceito de “racismo
ambiental”, já que a população negra está entre as mais empobrecidas do Brasil. Em síntese: a
população negra sofre com as consequências do vírus. Destaca-se, o ZIKAV tende a ser um fator de
dificuldade para as mulheres. Depois de dar à luz, resta para a mulher cuidar de bebês afetados por
microcefalia e assumir uma série de responsabilidade com a criança. Não raro, essas mães não têm
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o apoio de políticas governamentais e de familiares. Trata-se de um círculo vicioso, já que a


ausência de efetividade nas políticas públicas e serviços públicos são principais causas da epidemia
ZIKAV de 2015, certamente porque não há garantia de direitos mínimos, como por exemplo o
abastecimento de água, a educação e assistência médica. Não há educação sexual tampouco a
possibilidade expressa de interrupção da gestação nesses casos. Há diversos relatos de mulheres que
foram abandonadas pelos maridos e companheiros que não queriam ter filhos com deficiência. O
abandono seja pelo Estado, seja pelos homens, aumenta a situação de vulnerabilidade dessas
mulheres e crianças. A ação direta de inconstitucionalidade que tramita no Supremo Tribunal
Federal ainda não tem data para julgamento. A perspectiva biomédica é certamente relevante; no
entanto, está longe de ser solucionar todos os problemas. Combater o ZIKAV exige uma
perspectiva mais ampla, capaz de apreender as complexidades do sistema que a produz e
desigualdades do Brasil. Portanto, a única maneira de ser bem-sucedido contra o ZIKAV é
compreender as raízes socioeconômicas do problema e ir além da perspectiva cientifica-médica.

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