da Cáritas Brasileira
Cáritas Brasileira
Guia Metodológico 1
Expediente
Diretoria Nacional
Secretariado Nacional
Elaboração de Conteúdo
Comissão de Formação:
Maria Cristina dos Anjos
Neuza Mafra
Cátia Cardoso
Valquíria Lima
João de Jesus Costa
Ricarte Almeida
GT de Mística e Espiritualidade:
Alessandra Miranda
Leon Patrick
João Paulo Couto
Cleusa Alves da Silva
Ana Maria Freitas
João Sérgio da Silva
1. Introdução 5
2. Os Congressos da Cáritas Brasileira 6
3. Marco Referencial da Cáritas Brasileira 8
4. Informes Gerais do V Congresso Nacional da Cáritas Brasileira 10
5. Texto de Referência para o V Congresso 11
5.1. Viver com alegria a solidariedade libertadora 12
5.2. Viver a pastoralidade eclesial 14
5.3. Celebrar e comprometer-se com a solidariedade
presente na vida do povo 16
5.4. Assumir a libertação das pessoas e da Mãe Terra 17
6. Caminho Metodológico e Místico 22
6.1. O método 22
6.2. As inspirações pastorais 23
6.3. Os sinais sensíveis 23
6.4. A iluminação bíblica 23
6.5. Caminho místico 24
7. A Preparação do V Congresso Nacional nos Regionais 27
8. Sugestões para as Caravanas Temáticas 29
9. Roteiro para a Avaliação do Plano Quadrienal 2012-2015 30
10. Orientações para a Sistematização em Âmbito Regional 31
10.1. Sistematização dos temas 31
10.2. Sistematização do balanço do quadriênio 32
Oração do Jubileu dos 60 Anos da Cáritas Brasileira 39
1. Introdução
Cáritas Brasileira
Os congressos da Cáritas Brasileira são espaços nacionais ampliados para reflexão sobre a realidade
sociopolítica e econômica, da Igreja e da própria Rede Cáritas e para, a partir da avaliação do Marco
Referencial do quadriênio, definição das novas prioridades estratégicas da instituição para o próximo
período. São também espaços de partilha e celebração da caminhada.
O V Congresso Nacional da Cáritas Brasileira, a ser realizado neste ano, assumirá o tema “Cáritas:
Pastoralidade e Transformação Social” e o lema “60 anos de Solidariedade Libertadora”.
O V Congresso já começou!!! E será vivenciado com maior profundidade nos encontros dos
grupos, comunidades, dioceses e regionais. Com esta participação e contribuições de tantas pessoas, o
encontro de novembro será um evento significativo, capaz de confirmar o que está sendo bem feito e de
abrir novos caminhos exigidos pela realidade.
Por fim, agradecemos a todos e todas que contribuíram na elaboração deste guia metodológico,
que se constitui em instrumento de mobilização de toda a Cáritas Brasileira em vista de uma proveitosa
realização de mais um congresso nacional. Agradecemos especialmente à pastora Nancy Cardoso Pereira,
a Ivo Poletto e a João de Jesus pelas horas e dias dedicados a esta tarefa.
Boa leitura!!!
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2. Os Congressos
da Cáritas Brasileira
Cáritas Brasileira
Os congressos vêm sendo, ao longo dos anos, um espaço de celebração, avaliação e compromisso,
juntando o que de melhor os/as protagonistas da solidariedade têm para oferecer como pastoral de uma
Igreja em saída.
Por ser obra de seres humanos, a história é sempre marcada por luzes e trevas. Da já longa história
da Cáritas Brasileira, retomaremos momentos fortes em que, com processos participativos, a avaliação e
a celebração de suas práticas foram fontes para aprofundar a compreensão de sua missão e definir formas
de ação que garantiram a fidelidade a ela. É motivo de alegria dar-se conta que foram muitas as realizações
e projetos em favor dos que mais sofrem, sempre a serviço de sua libertação das situações de injustiça e
marginalização social e em prol da promoção de sua cidadania na construção de uma sociedade que se
aproxime do projeto de Deus para seus filhos e filhas.
É para isso que é importante recordar e, ao mesmo tempo, revivermos os congressos e outros
eventos realizados anteriormente.
O I Congresso Nacional foi realizado em Fortaleza/CE, em setembro de 1999. Teve como temática
motivadora “Cáritas – Construindo um Novo Milênio Solidário”. Os 350 participantes vivenciaram o
objetivo de “celebrar o Ano da Caridade, aprofundando a compreensão crítica da realidade, ampliando a
participação dos agentes Cáritas, pastorais e movimentos nas reflexões da Cáritas Brasileira em vista da
construção de novos caminhos para a prática”.
A riqueza deste congresso se expressou nesta formulação da missão da Cáritas: “Promover e animar
o serviço da solidariedade ecumênica libertadora, participar da defesa da vida da organização popular e da
construção de um projeto de sociedade a partir dos excluídos e excluídas, contribuindo para a conquista da
cidadania plena para todas as pessoas, a caminho do Reino de Deus”.
Para colocá-la em prática, foram definidas as seguintes Linhas de Ação: Construção e conquista
de relações democráticas e de políticas públicas; Atuação em Áreas de emergência naturais e sociais;
Convivência do Semiárido; Desenvolvimento da Cultura da Solidariedade; Valorização e promoção da
Economia Popular e Solidária.
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O III Congresso Nacional, realizado em Aracajú/SE, em novembro de 2006, contou com 480
participantes e assumiu o tema “Cáritas Brasileira – A serviço da Vida”. Foi ponto de chegada de um rico
processo de retomada da caminhada e da celebração dos 50 anos da Cáritas Brasileira, e expressou seu
Cáritas Brasileira
compromisso de fidelidade à missão através da solidariedade aos povos ameaçados do Rio São Francisco e
de todas as comunidades do Semiárido brasileiro.
Entre o terceiro e o quarto congressos, a XIV Assembleia Nacional foi realizada em Castanhal/PA
em outubro de 2007, assumindo o tema “Missão e Desafios da Cáritas na Amazônia”. Os 233 participantes
reelaboraram a formulação da Missão: “Testemunhar e anunciar o evangelho de Jesus Cristo, defendendo e
promovendo a vida e participando da construção solidária de uma sociedade justa, igualitária e plural, junto
com as pessoas em situação de exclusão social”.
Além disso, junto com explicitação mais detalhada dos princípios orientadores e das diretrizes,
na XIV Assembleia foram definidas as seguintes Prioridades Estratégicas: Promoção e fortalecimento de
iniciativas locais e territoriais de desenvolvimento solidário e sustentável; Defesa e promoção de direitos
e controle social de políticas públicas; Fortalecimento da articulação da Cáritas com as Pastorais Sociais,
com as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e com o conjunto da Igreja. E foi explicitado que a grande
prioridade a ser assumida era a Região da Amazônia.
Para refletir e
celebrar em grupos:
1) Os congressos nacionais foram passos marcantes na longa caminhada da Cáritas, mas é muito
importante relembrar como eles marcaram a vida da nossa Cáritas regional e local. Quem lembra?
2) Nós fizemos nossos congressos regionais, preparados nas Cáritas diocesanas e locais. Vamos
lembrar em que e como ajudaram a renovar a nossa missão e prioridades de ação?
3) Retomemos, agora, os momentos de intensa e profunda vivência de nossa espiritualidade nos
congressos, fazendo com que esta memória ilumine nossa celebração no encontro atual.
[A equipe animadora das reuniões pode escolher um dos momentos fortes de vivência da espiritualidade
da Cáritas nos seus 60 anos e preparar dinâmicas para renovar sua celebração]
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3. Marco Referencial
da Cáritas Brasileira
Cáritas Brasileira
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PRIORIDADES OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1. Ampliar a sustentabilidade da Rede Cáritas, com atenção às Cáritas
Diocesanas sem regional.
Cáritas Brasileira
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4. Informes Gerais do V Congresso
Nacional da Cáritas Brasileira
Cáritas Brasileira
Local e Data:
• Centro de Eventos Pe. Vitor Coelho de Almeida, Aparecida/SP, de 09 a 13 de novembro
de 2016.
Tema:
• Cáritas: pastoralidade e transformação social.
Lema:
• 60 anos de solidariedade libertadora.
Economia solidária.
Mulheres e equidade de gênero.
Infância, adolescência e juventudes (ênfase em
Processos formativos.
juventudes).
Voluntariado.
Migrações e refugiados.
Incidência em políticas públicas.
Povos e comunidades tradicionais (ênfase em terra
e território). Ação em rede (articulações /
parcerias).
Direitos humanos.
Articulação internacional.
Mudanças climáticas e gestão de riscos.
Processos de comunicação.
Mundo urbano.
Mobilização de recursos.
Gestão de resíduos.
Mística e espiritualidade.
Convivência com o Semiárido e a Amazônia.
Diálogo inter-religioso.
Segurança Alimentar e Nutricional.
Formação na rede.
Voluntariado.
INTRODUÇÃO
A Cáritas Brasileira faz 60 anos e nunca foi tão presente, tão necessária e tão desafiada! Por isso
tem como missão: “Testemunhar e anunciar o Evangelho de Jesus Cristo, defendendo e promovendo a vida
e participando da construção solidária de uma sociedade justa, igualitária e plural, junto com as pessoas
em situação de exclusão social.”
Presente, porque vem aperfeiçoando os modos de resposta da Igreja aos desafios do nosso tempo,
criando metodologias de presença amorosa nas comunidades que vivem em meio ao sofrimento. A presença
da Cáritas Brasileira se dá nos espaços diretos de ação solidária, certamente, mas ela também se faz sentir
nas redes e articulações de políticas públicas, nas respostas mais amplas às emergências, na formação de
comunidades e lideranças com sensibilidade e capacidade de solidariedade e na própria organização da
solidariedade.
Necessária, porque as desigualdades sociais que estruturam nosso país são antigas e persistentes,
exigindo um esforço continuado, sistemático e constante que não se esgota em iniciativas superficiais
e oportunistas. Esta capacidade continuada, aliada a uma presença enraizada de modo horizontal e
participativo, faz da Cáritas Brasileira uma rede de solidariedade, num momento em que os trâmites
políticos e as políticas de Estado estão crivados de disputas e necessidade de aperfeiçoamento. A prática
da Cáritas não substitui os equipamentos de assistência do Estado, mas potencializa e objetiva nas
comunidades a capacidade de acesso, informação e de autonomia. Mesmo que estes objetivos não sejam
imediatamente alcançados, a insistência e coerência das práticas da Cáritas junto com as comunidades em
que age garantem a legitimidade de sua interlocução em cenários locais, regionais e nacionais.
Os desafios sempre estiveram presentes na história da organização, mas agora, na celebração dos
seus 60 anos, eles se tornam urgentes e inadiáveis. A presença social da Cáritas Brasileira precisa continuar
sendo testemunho político de afirmação do Estado para todas as pessoas, em especial num momento em
que setores religiosos, políticos e econômicos se aproveitam do debate e da intervenção social para afirmar
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interesses corporativos, mesquinhos e oportunistas. A metodologia de planejamento e de ação precisa
continuar apontando para a radicalização da democracia e o aperfeiçoamento das formas de participação
e controle social.
Cáritas Brasileira
Entre os desafios que se colocam na atualidade, tendo presente a rica caminhada de 60 anos da
Cáritas Brasileira, está aquele de reconhecer, entender, atualizar e celebrar a missão da organização, que
é de “testemunhar a anunciar o Evangelho de Jesus Cristo”, sendo parte da busca de um projeto popular
de sociedade democrática. Neste sentido, a Cáritas não é uma ONG, mas também não é um movimento
social nem político-partidário, não é uma ação entre amigos, nem uma campanha eventual liderada por
celebridades ou políticos. Também não quer ser uma ação social da Igreja deslocada dos debates mais
amplos sobre os direitos e a igualdade na sociedade brasileira, nem um serviço social desconectado da
espiritualidade e da vivência da fé.
Como agentes da Cáritas, todos nós fortalecemos nossa identidade de povo escolhido e reunido
no amor de Cristo, o Bom Pastor. Este serviço é fruto da alegria do Evangelho, que nos humaniza e nos
faz solidários com toda a criação e toda a humanidade. Acolhidos pelo amor misericordioso de Deus no
mundo e na história, somos revestidos de amor:
Ninguém nos pode tirar a dignidade que este amor infinito e inabalável nos confere.
Ele permite-nos levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que nunca nos
defrauda, e sempre nos pode restituir a alegria. Não fujamos da ressurreição de
Jesus; nunca nos demos por mortos, suceda o que suceder. Que nada possa mais do
que a sua vida que nos impele para diante!1
A vida, no Evangelho de Jesus, é movida pelo amor que se expressa na alegria de ir ao encontro
do mundo e seus seres, da humanidade e suas gentes, e de afirmar a dignidade da vida. Somos povo de
ressurreição, e cremos que o amor solidário pode vencer a morte e restaurar aquilo que o pecado e a morte
¹
Papa Francisco. Evangelii Gaudium, 2013: Ed. CNBB. Documentos Pontifícios. 17. Brasília - DF, par. 3.
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destroem. Por isso, nos organizamos no trabalho pastoral e no serviço da solidariedade libertadora: como
expressão da alegria do nosso encontro com Deus no mundo, na história e na humanidade.
Somente graças a este encontro – ou reencontro – com o amor de Deus, que se Cáritas Brasileira
A alegria do Evangelho que nos move aciona também em nós o pensamento crítico e a criatividade
como presença atenta e profética. A alegria não é um analgésico que retira de nós a capacidade de sentir a
dor e a indignação, mas é alimento que recebemos quando vamos ao encontro daqueles e daquelas que são
os primeiros/primeiras no Reino de Deus: os pobres.
Antecipar-se – Tomar a iniciativa, sair em busca, sair a dar testemunho nas periferias.
Envolver-se – Assumir, com toda a sua vida, ser povo e estar com o povo. Tocando a carne sofrida de
Cristo nas pessoas.
Acompanhar – Ser Igreja que caminha com seu povo em todos os processos.
Frutificar – A comunidade evangelizadora mantém-se atenta aos frutos e encontra o modo para fazer com
que a Palavra se encarne numa situação concreta e dê frutos de vida nova.
2) Jesus Cristo é o Bom Pastor que cuida, protege, orienta e doa sua vida livremente para a libertação
e salvação de todas as pessoas. Como estamos trabalhando a pastoralidade na Cáritas?
3) Por que o serviço aos mais necessitados é fonte de alegria? O que significa sermos o povo que se
deixa guiar pelo Cristo ressuscitado?
As orientações para sair ao encontro dos pobres e da Criação explorada sugeridas pelo Papa
Francisco já iluminam nossas práticas? Como podem ajudar-nos a viver com maior intensidade
a alegria do Evangelho?
[Elaborar orações comunitárias, na perspectiva do V Congresso Nacional]
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5.2. VIVER A PAS TORALIDADE ECLESIAL
Cáritas Brasileira
“O bom pastor dá a vida por suas ovelhas” (Jo 10,11)
A expressão “pastoral” vem do imaginário bíblico de Jesus, o Bom Pastor, que se diferencia daquele
que se aproxima das ovelhas para explorar, para roubar e para matar. Jesus, o Bom Pastor, é aquele que
dá a vida por suas ovelhas. Deixa 99 ovelhas no aprisco para ir ao encontro daquela uma que se perdeu.
Evitando tentações de reduzir o cristianismo a práticas de louvação ou de justificativa para a busca de
enriquecimento individual, afirmar a pastoralidade na Cáritas hoje significa viver uma espiritualidade
enraizada nas práticas e no evangelho de Jesus Cristo.
As pastorais sociais, como respostas específicas a desafios colocados pela realidade, a apelos e gritos
que vêm dos empobrecidos e excluídos, realizam um intenso processo de escuta e de interpretação, fazendo
interagir de modo orgânico as motivações do Evangelho e as motivações sociais, visibilizando a presença
da Igreja em meio às urgências de nosso tempo. Alguns desafios que a Cáritas Brasileira já vem assumindo
são processos que precisam de empenho continuado e atualização: convivência com os biomas (caatinga/
semiárido, amazônia); ações locais de desenvolvimento sustentável e territorial (economia solidária, fundos
rotativos); gestão de riscos e emergências; direitos humanos; juventudes; políticas públicas.
Neste sentido, a Cáritas é presença pastoral da Igreja: sua missão é a missão da Igreja traduzida e
vivida no serviço e na caridade. Toda Igreja precisa envolver-se e expressar-se em amor; e, para que isso
aconteça, é também missão pastoral da Cáritas oferecer à Igreja a análise crítica, a metodologia de ação e a
prática que concretizam esse amor solidário. Da mesma forma que não cabe à Cáritas substituir o Estado
e suas instituições, também não deve aceitar substituir as pessoas, comunidades e agentes pastorais que
constituem a Igreja. Jesus não amou radicalmente os empobrecidos de seu tempo no lugar dos discípulos
e discípulas, e sim como vivência de sua missão; e, como parte dela, passou a eles/as o mandamento:
amai-vos uns aos outros como eu amei a vocês, e ninguém ama mais do que quem dá sua vida pelas
pessoas que ama... Da mesma forma, quem participa da pastoralidade de Jesus, como a Cáritas, precisa
amar radicalmente e convocar todos os seguidores/as de Jesus para que entrem nesse caminho. A práxis do
amor é vivência de fé e eclesial; daí tira sua força, sua legitimidade e seu horizonte de esperança.
“Quem não ama a seu irmão e irmã, a que vê, não poderá amar a Deus, a
quem não vê.” (1Jo 4,20)
A Cáritas é Igreja em saída, uma das expressões da Igreja que se faz povo no meio do povo. Esta
saída – pastoral, evangelizadora e missionária – cria espaços ecumênicos e inter-religiosos de encontro,
partilha de dons e serviço na construção de respostas aos sofrimentos das pessoas e comunidades. O
ecumenismo na base é vital para a unidade da Igreja, e a vivência amorosa de outros modos de fé e cultura
enriquecem o processo.
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De modo concreto, na luta do povo negro e indígena, por exemplo, a Cáritas parte do reconhecimento
da dívida social em relação a eles e colabora na afirmação da identidade, da valorização da história e
de suas raízes, trabalhando pelo empoderamento das comunidades negras e indígenas enquanto agentes
Cáritas Brasileira
ativos do processo de democratização étnica e racial e de um projeto popular para o Brasil. As matrizes
africanas e indígenas precisam ser evidenciadas, pois elas nos ajudam a assumir uma visão da relação
ser humano/natureza/planeta Terra que coloca em questão a visão utilitarista da cultura e da civilização
ocidental capitalista e nos ajuda a qualificar o projeto popular de país.
Nosso modelo de pastoralidade é Jesus Cristo: vamos ao encontro dos/das últimos/as, daqueles/as
que foram deixados, que foram expulsos da dignidade e dos direitos... e aí encontramos a Deus.
Nas estruturas de um mundo desigual, a solidariedade libertadora está entre os pobres que
suportam a violência e a exclusão: é ali onde a vida está ameaçada que a humanidade conhece sua profunda
capacidade de resistência e de acolhimento. Longe de idealizar o pobre e a pobreza, reconhecemos a opção
preferencial de Deus de fazer surgir ressurreição nesse lugar e a partir desse lugar de negação. Aqueles e
aquelas que o pecado social desprezou, que o sistema econômico condenou... são eles e elas que podem
gerar a extrema partilha capaz de fazer surgir o mundo novo.
Por isso, o Antigo Testamento e os Evangelhos insistem: os pobres sempre tereis convosco!
(Deuteronômio 15,11; Levítico 25,35; Lucas 11,41). Não como fatalidade ou destino! Não como
normatização e naturalização da exploração e da desigualdade. A experiência humana de vida em
sociedade é exercício de poder e fruto de relações sociais que podem estruturar exclusão e desigualdade.
Ter os pobres sempre conosco significa acionar sempre de novo os mecanismos de jubileu, os mecanismos
de reparação e salvação. Sempre e de novo avaliar a vida em sociedade, perguntando e se posicionando
junto aos pobres: este o lugar privilegiado para conhecer e avaliar a sociedade e também para conhecer
formas de resistência, solidariedade e superação.
O trabalho pastoral é esta dinâmica de perguntar de novo e de novo pelos que ficaram para trás,
aprendendo a ler a realidade, fazendo a crítica das relações de poder e se posicionando junto aos pobres,
lugar de salvação. São lugares plurais de classe social, etnia, gênero, geração, capacidade.
Antes de nós e diante de nós temos o testemunho de homens e mulheres que viveram a graça da
plena alegria e do extremo serviço como exemplo e modelo de pastoralidade, radicalidade da fé e amor
pelos pobres... Podemos ir lembrando os que foram testemunhas fiéis perto de nós, e também as pessoas
que, por bondade de Deus, se destacaram, como por exemplo: Beato Oscar Romero da América Latina,
Margarida Maria Alves, Santo Dias da Silva, Berta Cáseres (assassinada há poucos dias em Honduras por
sua atuação em defesa dos direitos dos povos indígenas e camponeses), Marçal (do povo Guarani)...
15
Para refletir e celebrar em grupos:
3) Como a Cáritas pode, ao mesmo tempo, ser presença eclesial evangélica junto aos pobres e à
Criação, que sofrem dores de parto, e presença renovadora das comunidades concretas de nossas
igrejas?
[a partir do Papa Francisco, que lembrou a morte de imigrantes num altar construído com pedaços
de madeira dos barcos destroçados pelas águas do mar, lembremos e celebremos momentos fortes em
que nossa igreja celebrou a vida, as alegrias e também os sofrimentos dos pobres...]
”Mulher, grande é tua fé! Como queres, te seja feito!” (Mt 15,28)
Em muitas práticas, Jesus vai interagir com os pobres, doentes, estrangeiros, excluídos de seu
tempo, e vai identificar situações de negação de vida. A ação de Jesus é de valorizar o que os pobres são e
têm. Valorizar o que já está lá: a fé! Mesmo no turbilhão das situações humanas de limite, dor e vergonha...
Jesus reconhece a fé, a vida, a cura, o amor que já estão lá, e a partir dessa pequena semente... cria as
condições para o empoderamento, a cura, a participação, a convivência. O próprio Reino, o projeto de
Deus para e com seus filhos e filhas, já está lá, “no meio de vós”:
Este é nosso modelo de pastoralidade: em vez de levar verdades, soluções prontas ou modelos
prontos, quando vamos ao encontro, abrimos diálogos de Boa Nova e nos encontramos com a presença
amorosa de Deus no meio dos pobres. O amor já está lá esperando por nós que queremos socializar e
encontrar juntos/juntas caminhos e processos de partilha, superação e solidariedade libertadora. Tudo isso
já sabemos! Tudo isso move o trabalho das pastorais sociais e da Cáritas. Mas é sempre de novo oportuno
reafirmar nossas motivações e reafirmar nossa metodologia: os pobres sempre tereis convosco!
A Cáritas quer ser este movimento de ir ao encontro das pessoas e comunidades que conhecem
o pior da vida em sociedade, aqueles e aquelas que são negados e a quem se nega o acesso às condições
básicas de vida. Ali, entre elas e eles, está a fé, o amor e a solidariedade. Nosso trabalho pastoral quer ser
parte, quer potencializar e compartilhar estratégias salvadoras, mecanismos de acolhimento, e fazer de
novo acontecer o milagre da multiplicação: ninguém ficará com fome.
Esta libertação da solidariedade é fundamental no trabalho pastoral: não está em nós a solução, a
salvação e a fé. Nos movemos e nos colocamos junto aos pobres, e este é o lugar de toda crítica social, de
toda análise de estratégias e, principalmente, de toda espiritualidade da solidariedade libertadora.
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assistencialismo, populismo e sentimentalismo superficial é Boa Nova:
Graças te dou, ó Pai, Senhor dos céus e da terra, pois escondeste estas coisas
dos sábios e cultos, e as revelaste aos pequeninos (Mateus 11,25). Cáritas Brasileira
1) O que significa dizer que a solidariedade, a fé, a esperança e o amor estão presentes em nossa
realidade?
2) De que forma podemos e devemos fazer crescer a solidariedade e quais as consequências disso na
vivência da missão da Cáritas?
Iluminados pela Palavra de Deus, vamos celebrar práticas da solidariedade que nos
surpreenderam, que certamente são presença de Deus na vida das pessoas e nos seres da
natureza...
“Toda criação espera ansiosamente a revelação dos filhos e filhas de Deus” (Rom 8,19)
O V Congresso Nacional da Cáritas Brasileira vai acontecer em novembro de 2016: um ano depois
do desastre de Mariana/MG, quando as barragens de Fundão e Santarém, da Samarco, controlada pela Vale
e BHP Billiton, se romperam liberando uma onda de lama que teria chegado a mais de 2,5 metros de altura,
matando ao menos 18 pessoas e deixando um rastro de destruição e morte de cidades, vilas, plantações,
animais, rios e vegetação. O Rio Doce foi tomado pela lama tóxica que chegou até o mar, deixando muitas
cidades sem água, sem vida. O que se sabe é que o desastre se anunciava pela irresponsabilidade das empresas,
da legislação ambiental sempre favorável aos interesses do capital e pela falta de fiscalização eficiente. Por
mais que, como fruto das lutas dos afetados/as e da solidariedade política de muitas entidades, as famílias
estejam recebendo algum tipo de indenização, ninguém sabe como e quando a sociobiodiversidade do
Vale do Rio Doce será restabelecida. As comunidades continuam a conviver com a destruição, a lama, a
sujeira e a mentira.
Um ano depois, esta lama de morte ainda deve doer em nós! Também por ser lembrança de tantos
outros crimes socioambientais que geraram dor, sofrimento e morte a comunidades e à Terra. Entre eles,
vale lembrar especialmente as enchentes e a falta de água que afetaram o Sudeste brasileiro. Já se sabia
que a desigualdade social leva muitas famílias a viverem precariamente em áreas e condições de risco
em nossas cidades: beiras de córregos e rios, encostas de morros, barracos de papelão, beiras de ruas e
estradas. Já se sabia que o descuido e a contaminação de córregos e rios, bem como a falta de coleta e
tratamento adequado dos esgotos e lixos, eram anúncio de desastres ambientais e sanitários. Já se sabia
também que o desmatamento continuado e quase total da Mata Atlântica provocaria problemas climáticos,
particularmente em relação à disponibilidade de água. Mas poucos imaginavam que milhões e milhões de
pessoas se sentiriam ameaçados por falta total de água, e em área urbana, sem alternativas.
Recebemos, nos últimos anos, avisos insistentes da Terra de que agredir os ambientes de vida dos
biomas provoca respostas ameaçadoras a todas as formas de vida. Que formas de vida não sofreram com
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as secas e fortes enchentes que ocorreram na região Sul? E no Semiárido? E na Amazônia? E no Cerrado,
no qual é cada vez mais preocupante o encurtamento do tempo das chuvas – em 2015/16, começou
praticamente em novembro e encerrou no final de março, deixando no ar a previsão de problemas de
Cáritas Brasileira
abastecimento em toda a região.
Recebemos igualmente avisos de que precisamos conhecer e cuidar mais das relações entre os
diferentes biomas. Ao faltar água no Sudeste, junto com a denúncia de todos os descuidos e das consequências
da privatização e comercialização deste bem indispensável à vida, cresceu a consciência de que a falta de
chuvas na região tem tudo a ver com o avanço do desequilíbrio causado pelo desmatamento crescente da
floresta e pelas agressões ao ambiente no bioma Amazônia por parte das iniciativas empresarias. Diminui
por lá o “rio aéreo” gerado pela umidade jogada na atmosfera na relação das águas, floresta e calor; com
isso, diminui a umidade transportada para o Sudeste pelos ventos que batem na Cordilheira do Andes.
Por outro lado, a diminuição das chuvas e a compactação dos solos pelos usos do agronegócio fazem com
que o Cerrado não consiga mais reabastecer os aquíferos; e com menos águas neles, menos água no São
Francisco, menos água para a Amazônia...
A beleza e maravilha das relações entre os biomas do nosso país e de toda a Terra, bem como as
notícias de desastres e ameaças de agravamento do aquecimento global e das mudanças climáticas, foram,
em 2015, motivação para duas inciativas significativas: que o Papa Francisco publicasse a encíclica Laudato
Si’, como convocação da humanidade a mudar profundamente o sistema sócio-político-econômico
dominante e o estilo consumista de vida para enfrentar os sofrimentos dos pobres e da Terra provocados
por eles; e que os 195 países reunidos pela ONU na COP 21 aprovassem o Acordo de Paris, anunciando a
intenção de enfrentar as causas humanas das mudanças climáticas.
A Cáritas já sabe, mas tem diante de si o desafio de ampliar o que se entende como solidariedade
libertadora, articulando duas grandes dimensões da vida que reclamam crítica e ação: as lutas e saberes
que surgem das bases, da vida dos pobres, e as lutas e saberes da vida na Terra e com a Terra. As lutas
pela justiça, pelos direitos, pela economia solidária, pela agroecologia e por tudo que vai construindo o
projeto popular de Brasil precisam estar unidas com as lutas em defesa de tudo que constitui os ambientes
que favorecem a vida nos diferentes biomas. Não se avança na qualidade de vida sem a libertação das
pessoas e sem a libertação da Terra. É isso que nos revela o apóstolo Paulo quando diz que a Terra aguarda
ansiosamente a manifestação dos filhos e filhas de Deus para libertar-se da opressão que a leva a gritar em
dores de parto. (Cfr. Rom 8)
A autonomia desde as bases é fundamental e visa interromper todo mecanismo de ação que atrela
as comunidades ao Estado e que apresenta as políticas públicas como elos de dependência das comunidades
às instâncias estatais. O desastre de Mariana e tantos outros nos mostram quanto as comunidades não
têm acesso à legislação, nem controle dos usos econômicos de seus territórios de vida. Estão à mercê das
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empresas que instrumentalizam o Estado para seus interesses. O desafio deste tempo é o de não só discutir
o Estado que temos e o Estado que queremos, mas também e principalmente reforçar a autonomia das
comunidades, os espaços de democracia direta que interrompem os projetos de monocultura política,
Cáritas Brasileira
econômica e social, estruturando o poder desde baixo, desde as comunidades.
Estamos num difícil momento da vida do país! A última década mexeu um pouco no eixo do
poder político: avançou em algumas mudanças sociais, mas manteve uma estratégia de conciliação (com
o grande capital e com as oligarquias políticas) que se esgotou. Isso está levando a uma ameaça de derrota.
Há várias maneiras de explicar este esgotamento: os limites do reformismo nos países de capitalismo
dependente; os limites do neodesenvolvimentismo num só país; os limites da manutenção do país como
fornecedor mundial de commodities; os limites de fazer reformas sem mudar as estruturas econômico-
sociais fundamentais; os limites de melhorar a vida do povo sem fazer reformas estruturais; limites no
estatuto jurídico e político do Estado que explicam as ameaças e os retrocessos nas conquistas de direitos...
A partir das aprendizagens, avanços e derrotas dos últimos anos, precisamos continuar animando
as comunidades, retomando o trabalho de base da educação popular e política, evitar e combater o fatalismo
e a passividade e insistir, com nossos parceiros/as e redes, na busca de um projeto popular para o Brasil
que precisa inovar e radicalizar nos modos de participação política, tomada de decisões, acompanhamento
de processos e execução de políticas. A radicalização da democracia é tarefa e mística alimentada pela
ressurgência dos modos utópicos de vida dos povos originários. O horizonte e a utopia que nos atraem
e nos provocam a multiplicar práticas concretizadoras da civilização do Bem Viver, acolhida por nós dos
povos que são sinais históricos da ressurreição por terem sobrevivido a um decreto de extermínio de cinco
séculos.
Entre a lama do Rio e a devoção popular, a Senhora Negra foi reunindo a fé do povo e suas aspirações.
Desde baixo, na vida de trabalhadores, no meio da natureza... tudo isso é artigo de fé! Teologia primeira!
Também as formas de poder que vão se organizar em torno da religião do povo, e as formas institucionais
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de controle da Senhora – mulher e negra –, vestida pelo Império, elevada ao posto de Padroeira... deixando
o povo longe, na devoção sem protagonismo.
Cáritas Brasileira
As manifestações da piedade popular católica que têm a Virgem
Maria como referência precisam ser valorizadas e, onde for necessário,
aperfeiçoadas a partir da boa nova de Jesus Cristo. Tais práticas têm
grande significado para a preservação e a transmissão da fé e para a
iniciação à vida cristã, bem como para a promoção da cultura. “As
expressões da piedade popular têm muito que nos ensinar e, para
quem as sabe ler, são um lugar teológico a que devemos prestar atenção
particularmente na hora de pensar a nova evangelização” (DGAE 88).
Este momento deve nos ajudar a pensar os desafios das práticas populares. Em Aparecida, a
Cáritas tem a oportunidade de reafirmar seu compromisso com o povo negro, indígena e marginalizado, e
em especial com os jovens e as mulheres negras e suas comunidades sofridas e lutadoras.
Nas águas do Paraíba, na lama da vida do povo, foi encontrada a imagem de Maria! Esta é a
expressão de fé do povo que nos acompanha nestes 60 anos. O desafio de invocar a Senhora Negra na
defesa das Mães de Maio e de todas as mães dos mártires das lutas por libertação, da juventude negra da
periferia, dos quilombolas, e tantos outros desafios que vêm das águas barrentas da vida do povo!
1) De muitos tipos de “lama” vem e cresce o sofrimento dos pobres das cidades e do campo, junto com
o sofrimento da Mãe Terra. Lembrando de Mariana/MG, que tipos de “lama” estão acontecendo
em nossa região?
2) O que significa para a missão da Cáritas o desafio de saber que a libertação das pessoas se faz junto
com a libertação da natureza?
3) Como não aceitar que nos roubem a esperança, e como renovar a esperança das pessoas e
comunidades nas situações concretas em que vivemos em nosso país e no mundo?
“A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador,
porque olhou para a humildade da sua Serva.
Todas as gerações, de agora em diante, me chamarão feliz,
porque o Poderoso fez em mim coisas grandiosas.
O Seu nome é santo,
e Sua misericórdia se estende de geração em geração
sobre aqueles que o temem.
Ele mostrou o poder de seu braço:
dispersou os que têm planos orgulhosos em seu coração.
Derrubou os poderosos de seus tronos
e exaltou os humildes.
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Encheu de bens os famintos, e mandou embora os ricos de mãos vazias.
Acolheu a Israel, seu servo,
lembrando-se de sua misericórdia,
Cáritas Brasileira
conforme prometera a nossos pais,
em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre.”
(Lc 1,47-55)
Mariama,
que se acabe, mas se acabe mesmo a maldita fabricação de armas.
O mundo precisa fabricar é Paz.
Basta de injustiça!
Basta de uns sem saber o que fazer com tanta terra e milhões sem um palmo de terra onde morar.
Basta de alguns tendo que vomitar para comer mais e 50 milhões morrendo de fome num só ano.
Basta de uns com empresas se derramando pelo mundo todo e milhões sem um canto onde ganhar o pão de
cada dia.
Mariama,
Senhora Nossa, Mãe querida,
nem precisa ir tão longe, como no teu hino.
Nem precisa que os ricos saiam de mãos vazias e os pobres de mãos cheias.
Nem pobre, nem rico.
Nada de escravo de hoje ser senhor de escravo de amanhã.
Basta de escravos! Um mundo sem senhor e sem escravos. Um mundo de irmãos!
De irmãos não só de nome e de mentira.
De irmãos de verdade, Mariama!
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6. Caminho
Metodológico
Cáritas Brasileira e Místico
6.1. O método:
ETAPA MOMENTO
Construção do texto de referência e do caminho metodológico. VER
Caravanas temáticas nos territórios e nos regionais. VER, JULGAR E AGIR
Pré-congressos inter-regionais e seminário/caravana nacional. JULGAR E AGIR
Congresso nacional. AGIR E CELEBRAR
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6.2. As inspirações pastorais:
E Maria disse: ‘Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria
em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde
agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em
mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo. Sua misericórdia
se estende, de geração em geração, sobre os que o temem. Manifestou o poder
do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os
poderosos e exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de
mãos vazias os ricos. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia,
conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para
sempre’. Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois, voltou para casa”.
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6.5. Caminho místico:
Cáritas Brasileira
Iluminados pelo Cântico do Magnificat, queremos celebrar os 60 anos da Cáritas reconhecendo
a organização dos empobrecidos e empobrecidas nos grupos, movimentos, comunidades e tantos
coletivos que lutam por transformação social.
O chão sagrado de Aparecida, em São Paulo, nos convida a recordar o mistério das águas. O Papa
Francisco, recordando a aparição da imagem de Nossa Senhora Aparecida, diz:
“Os pescadores não desprezam o mistério encontrado no rio,
embora seja um mistério que aparece incompleto. Não jogam fora
os pedaços do mistério. Esperam a plenitude. [...] Há aqui algo de
sabedoria que devemos aprender. Há pedaços de um mistério, como
partes de um mosaico, que vamos encontrando. [...] Depois os
pescadores trazem para casa o mistério. O povo simples tem sempre
espaço para abrigar o mistério.”4
A caminhada da Cáritas Brasileira sempre nos colocou em diálogo de aprendizado com as pessoas
empobrecidas. Com elas temos aprendido e resignificado a prática da solidariedade libertadora. O
convite do Papa Francisco é para que a Igreja aprenda com o mistério de Aparecida. A peregrinação
da Imagem de Nossa Senhora Aparecida, os processos preparatórios e a realização do V Congresso
Nacional são um convite para que toda a Rede Cáritas também aprenda com Aparecida, com os
pobres e com a solidariedade.
O ofício que apresentamos a seguir é também um convite para celebrar a caminhada da Cáritas
nas comunidades, paróquias, dioceses e regionais; e, junto com Maria, com as empobrecidas e
empobrecidos, alimentar nossas forças para seguir lançando as redes na busca de novidades para
garantir a transformação social.
Ambiente: Bandeira do Brasil, círio ou vela grande, cartaz com logomarca dos 60 anos da Cáritas,
rede de pesca e outros elementos que representem a história da Cáritas.
Acolhida
Animador/a: Os pobres pescadores que lançavam suas redes ao Rio Paraíba estavam desanimados
por nada conseguirem pescar naquele dia de outubro de 1717. A imagem da virgem que surge das
águas, pequenina e negra, alimenta as redes e as esperanças dos três pescadores.
Na celebração dos 60 anos da Cáritas Brasileira, queremos continuar lançando as redes junto
com empobrecidas e empobrecidos, e inspirados pelo testemunho dos pescadores do Rio Paraíba,
alimentar as esperanças para seguir testemunhando e anunciando o Evangelho de Jesus Cristo,
com alegria, na opção pelos pobres e inspirados por Maria.
(Durante o canto, a imagem é entronizada no espaço. Se for nos espaços de trabalho da Cáritas,
sugere-se que seja carregada por mulheres. Se o momento acontecer com algum grupo ou
comunidade acompanhada, a sugestão é que seja levada pelos sujeitos – crianças, jovens, catadoras/
es, agricultoras/es, indígenas, quilombolas e outros)
⁴ Discurso do Papa Francisco no Encontro com o Episcopado Brasileiro. Rio de Janeiro, 27 de julho de 2013.
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Canto:
Recordação da Vida
Acolher as pessoas... Lembrar o sentido da Imagem Peregrina, e convidar os presentes a trazer
fatos, pessoas, situações que são para nós sinais de esperança que nos motivam a celebrar os 60
anos da Cáritas.
Hino
Santa Mãe Maria, nesta travessia, cubra-nos teu manto cor de anil
Guarda nossa vida, mãe Aparecida, Santa padroeira do Brasil.
Ave Maria, Ave Maria.
Ave Maria, Ave Maria.
Mulher peregrina, força feminina, a mais importante que existiu
Com justiça queres que nossas mulheres sejam construtoras do Brasil.
Leitura Bíblica
Aclamação: Vamos ouvir uma palavra bonita que vai sair daqui agora. / Palavra de Jesus Cristo,
Filho de Nossa Senhora (Lc 1, 39-56).
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Cântico de Maria
Com Nossa Senhora Aparecida, cantemos as maravilhas que o Senhor fez através das ações da
Cáritas Brasileira Cáritas e proclamemos o sonho de novo Céu e Nova Terra, com justiça e solidariedade.
Preces: Irmãos e irmãs, confiantes no Deus de Maria, que levanta os humilhados e enche de bens
os famintos, façamos os nossos pedidos.
. Ouve, ó Deus, o grito das águas e da terra que são destruídos pelos projetos do agronegócio.
. Reforça a luta das mulheres por igualdade com seus companheiros; que juntos, em parceria,
possamos construir o mundo novo...
. Acolhe na tua glória, junto com Maria, os agentes Cáritas que já fizeram sua Páscoa definitiva.
Preces espontâneas.
Oração: Ó Deus, quiseste que a mãe do teu Filho fosse amada e querida por todo o povo brasileiro,
como mãe negra, Aparecida. Celebrando os 60 anos da Cáritas Brasileira, derrama sobre nós a
alegria do teu amor, e reforce todas as lutas pela defesa da vida e pela promoção dos direitos. Isso
Te pedimos em nome de Jesus, nosso Senhor. Amém.
Saideira: (Enquanto cantam, as pessoas dançam com a Imagem Peregrina. Podem também fazer
uma pequena procissão pelo espaço).
Ô, Mamãe, / abraça eu, Mamãe, / embala eu, Mamãe, / Cuida de mim.
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7. A Preparação do V Congresso
Nacional nos Regionais
Cáritas Brasileira
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Mobilização de recursos – Como a rede Cáritas desenvolve os processos de mobilização de
recursos em torno da economia solidária? Em que medida os recursos captados contribuem para o
fortalecimento da rede Cáritas e dos grupos acompanhados?
Cáritas Brasileira
Mística e espiritualidade – Como a rede Cáritas integra a dimensão da mística e espiritualidade
em sua ação no campo da economia solidária? Que valores e símbolos da economia solidária estão
presentes na mística e espiritualidade da rede Cáritas? Que valores da mística e espiritualidade da
rede Cáritas estão presentes na economia solidária?
Diálogo inter-religioso – Como se evidencia na atuação com a economia solidária o diálogo inter-
religioso?
Observação: Cada regional poderá escolher outros temas específicos, conforme sua realidade, desde que não
haja prejuízo para o aprofundamento dos temas selecionados pelo respectivo inter-regional.
AS ETAPAS DE PREPARAÇÃO
Etapa 1 – As caravanas temáticas percorrerão os territórios nos regionais para promover a escuta ativa dos
sujeitos da ação (grupos acompanhados, comunidades, agentes Cáritas, parceiros). Também serão espaços
para a peregrinação da imagem de Nossa Senhora Aparecida.
Etapa 2 – As caravanas regionais receberão e organizarão os resultados das caravanas territoriais, para
indicar as situações de violação/negação de direitos que ocorrem nos territórios naquela temática específica
e sobre as práticas e alternativas assumidas pelos sujeitos. Também consolidará o balanço do quadriênio.
Etapa 3 – Os pré-congressos inter-regionais farão a sistematização das temáticas selecionadas, com base
nas conclusões das caravanas regionais, e construirão uma síntese da avaliação da execução do Plano
Quadrienal no inter-regional.
Etapa 4 – No seminário nacional, serão realizadas partilhas, reflexões e aprofundamentos das temáticas
desenvolvidas e o desenho das prioridades para o próximo quinquênio.
CRONOGRAMA GERAL
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8. Sugestões para as
Caravanas Temáticas
Cáritas Brasileira
O objetivo das caravanas temáticas é promover a escuta ativa dos sujeitos da ação (grupos
acompanhados, comunidades, agentes Cáritas, parceiros). Cada caravana poderá abordar um
ou mais temas específicos e utilizar diferentes dinâmicas, de acordo com a temática e com as
experiências desenvolvidas nos territórios.
A seguir, apresentam-se alguns exemplos para a organização das caravanas territoriais e
regionais:
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9. Roteiro para a Avaliação do
Plano Quadrienal 2012-2015
Cáritas Brasileira
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10. Orientações para
a Sistematização em
Âmbito Regional Cáritas Brasileira
10.2. Sistematização do
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balanço do quadriênio:
Cáritas Brasileira
Esse é o instrumental a ser utilizado para a sistematização do balanço do quadriênio:
Secretariado Nacional e
Regionais da Cáritas com
programas de segurança
4. Promover e fortalecer alimentar em execução
iniciativas de soberania
e segurança alimentar e Mais de 10 grupos
nutricional acompanhados pela Rede
Cáritas, em cada Regional,
acessando as políticas de
segurança alimentar
200 mil assinaturas na
Campanha da Lei da Economia
5. Fortalecer o desenvolvimento Solidária (EcoSol)
e a articulação de iniciativas de Redes de Fundos de
economia popular solidária Solidariedade articuladas em
todos os regionais e em âmbito
nacional
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PRIORIDADE II – DEFESA E PROMOÇÃO DE DIREITOS, MOBILIZAÇÕES E CONTROLE
SOCIAL DAS POLÍTICAS PÚBLICAS.
PRINCIPAIS ATIVIDADES
OBJETIVOS ESPECÍFICOS METAS QUADRIENAIS
REALIZADAS Cáritas Brasileira
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PRIORIDADE III – ORGANIZAÇÃO E FORTALECIMENTO DA REDE CÁRITAS.
PRINCIPAIS ATIVIDADES
OBJETIVOS ESPECÍFICOS METAS QUADRIENAIS
REALIZADAS
Cáritas Brasileira
Política nacional do
voluntariado elaborada e
efetivada em toda a rede
7. Fortalecer e animar
a vivência da mística e 100% da Rede Cáritas
espiritualidade na Rede Cáritas, aprofundando os documentos
em uma perspectiva ecumênica sobre mística e espiritualidade
e do diálogo inter-religioso
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1º BLOCO – OUTRAS INICIATIVAS NÃO RELACIONADAS AO PLANO QUADRIENAL
•
•
Cáritas Brasileira
•
•
•
•
1.
2.
II – DEFESA E PROMOÇÃO DE DIREITOS, 3.
MOBILIZAÇÕES E CONTROLE SOCIAL DAS
POLÍTICAS PÚBLICAS. 4.
5.
1.
2.
III – ORGANIZAÇÃO E FORTALECIMENTO DA REDE 3.
CÁRITAS. 4.
5.
36
4º BLOCO – ANÁLISE GLOBAL DO PLANO QUADRIENAL
COMO O PLANO QUADRIENAL 2012-2015 CONSEGUIU RESPONDER AOS DESAFIOS? Cáritas Brasileira
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PRIORIDADES INSTITUCIONAIS SUGESTÕES DE MODIFICAÇÕES
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ORAÇÃO DO JUBILEU DOS 60 ANOS DA CÁRI TAS
a nossa pastoralidade,
Que a gratidão
padroeira do Brasil,
Amém!