Nem todos os segredos sobre a vida são revelados aos homens ...
Prefácio ...................................................................................................................................................................................4
Capítulo I ................................................................................................................................................................................5
Capítulo II.............................................................................................................................................................................11
Capítulo III...........................................................................................................................................................................16
Capítulo IV...........................................................................................................................................................................18
Capítulo V............................................................................................................................................................................22
Capítulo VI ...........................................................................................................................................................................26
Capítulo VII ........................................................................................................................................................................28
Capítulo VIII ........................................................................................................................................................................33
Capítulo IX ...........................................................................................................................................................................37
Capítulo X ............................................................................................................................................................................43
Capítulo XI ...........................................................................................................................................................................46
Capítulo XII .........................................................................................................................................................................50
Eram cinco horas da madrugada, quando alguém bateu fortemente à porta. Levantei-
me assustado e olhei em volta. Novamente bateram à porta. Levantei-me e me dirigi até ela.
Ao abri-la, levei um susto. Havia três soldados do Forte Duchigam bem à minha frente.
Estavam fardados elegantemente, sendo um deles um Oficial e os outros dois soldados.
__ Entrem. - falei um pouco assustado e surpreso.
Os soldados entraram e tranquei a porta. Dirigi-me então a mesa e acendi um lampião.
A sala clareou um pouco. Ela era pequena assim como a casa em que morava. Havia
poucos móveis na sala. A mesa, de madeira com seis cadeiras, duas estantes com livros e
anotações que eu costumava fazer, um tapete e um quadro de um navio sendo castigado
por uma tempestade. Olhei novamente para os soldados. Não entendia muito bem o que
faziam ali.
__ Em que posso ajudá-los? - perguntei com grande surpresa.
__ Doutor David, sou o Capitão Kurchov, do forte Duchigam e venho aqui sob ordens
do Almirante Demitre que chama sua presença imediatamente ao forte.
__ Mas o que aconteceu? Alguém está doente? - perguntei.
__ Não, senhor. Trata-se do “Vingador dos Mares”. Ele apareceu novamente e atacou o
Os Sete Mares.
Meus olhos quase saltaram da face ao ouvir aquilo. Eu sou um jovem médico que trabalho na cidade.
Tenho vinte e oito anos, um metro e setenta e cinco, pele e olhos claros, cabelos loiros que vão até os ombros.
Tenho um porte atlético, não musculoso, devido as lições de esgrima que tive na Universidade e que ainda
pratico sempre que posso. A presença de militares a esta hora em minha casa me causava espanto, ainda mais
por tal assunto. Olhei novamente para os soldados e perguntei:
__ Quando foi? Onde está o navio?
O capitão olhou para mim fixamente e disse:
__ Não tenho ordens para lhe fornecer qualquer outra informação, apenas de escoltá-lo
até o forte onde o almirante lhe dará maiores detalhes.
O assunto deveria ser muito importante, para um capitão da nossa marinha vir bater a
minha porta tão cedo. Era muito estranho. Mas o assunto me interessava.
__ Por favor, esperem um pouco para eu me trocar.
__ Sim, senhor. Temos uma carruagem nos esperando ali embaixo. O almirante
também pediu que o senhor levasse seus instrumentos médicos medicina. Rogo-lhe que não
demore.
__ Está bem, afirmei.
Vesti-me rapidamente, lavei o rosto com água fria e segui os soldados. Descemos a
escada do pequeno prédio onde eu morava. Na parte debaixo, ficava meu consultório
médico. Entramos na carruagem e o cocheiro imediatamente seguiu rumo ao forte. A
estrada por onde seguíamos era de pedra e fazia margem a baía de Livid. Observei a
penumbra que a cobria e pude ver alguns navios ancorados. Havia navios mercantes, navios
pesqueiros, também navios de guerra. Tentei perguntar mais alguma coisa ao Capitão, mas
este não me respondeu mais nada.
__ O Almirante lhe dará os detalhes, concluiu.
Tudo começou no ano de 1772, ou seja há nove anos atrás, quando devido a três saques
de nossos navios mercantes, próximo de nossa costa que foram atacados e pilhados por
piratas. O Rei ordenou então a construção de um tipo de embarcação imbatível. Nossa
experiência em construções de navios supera qualquer Reino. As embarcações deveriam ser
de grande porte e com enorme poder de fogo para patrulhar o nosso litoral, escoltar os
nossos navios e varrer de uma vez por todas os piratas de nossos mares. O primeiro navio
construído deste tipo foi chamado o Vingador dos Mares, um colosso flutuante com
enorme poder de fogo e extremamente veloz. Demorou dois anos para ser construído e suas
demonstrações de poder de fogo logo foram realizadas, com o desaparecimento dos piratas
em nossa costa. O seu capitão, diziam os marujos, era uma lenda do mar. Seu nome era
Átila e toda a tripulação foi escolhida pessoalmente por ele. Havia participado de duas
guerras e nunca havia naufragado ou perdido qualquer combate. Também era conhecido
por seus estudos na área de Química onde tinha diversos trabalhos publicados. Uma outra
particularidade sua, era a liderança perante a sua tripulação. Era um homem poderado,
sábio e consciente de seus atos, mas também audaz e valente. Tinha muitas experiências em
navegação e combate, e à frente do Vingador dos Mares, junto com sua tripulação, podia-se
afirmar com certeza que era imbatível no mar. A ordem do rei era clara e precisa. Todo
navio pirata encontrado devia ser afundado. A tripulação deveria ser levada para a ilha
prisão, da qual a fuga era impossível.
Mas as ordens do rei não foram seguidas conforme havia se estabelecido.
Após o sucesso das primeiras expedições, notícias começaram a chegar falando de
atrocidades cometidas pelo navio de guerra. Seu capitão ordenara inúmeras selvagerias nos
navios que atacava.
Conta-se que um navio pirata estava em chamas em certo ataque e afundando rapidamente, quando o
capitão Átila deu a ordem para a abordagem para confiscar os tesouros para o Rei. O próprio Átila lutava ao
lado de seus homens. Houve um intenso combate no navio e Átila no calor da batalha matou um marujo
desarmado com um golpe de espada bem à frente do capitão pirata, um velho lobo do mar chamado Ários. Foi
quando o marujo caiu e percebeu-se ser a filha do pirata. Ele a abraçou e olhou para Átila, dizendo:
__ Você matou a minha filha mesmo quando já havíamos pedido rendição e assassinou todos os meus
homens que estavam se salvando em botes. Você é o próprio demônio em pessoa e eu o amaldiçôo a ficar nos
mares eternamente com sua tripulação e seu navio de assassinos. O capitão também o matou, retirou todos os
pertences do navio e terminou de afundá-lo a canhonaços.
Após presenciar estas e várias outras tragédias, o primeiro imediato fugiu do Vingador
dos Mares e foi resgatado por um navio mercante.
Toda a tripulação era leal a Átila, mas o que desertara, alegara não concordar mais com as atitudes de
seu capitão e dizia que toda a sua tripulação estava enlouquecida e haviam se tornado homens sangüinários e
sem fé.
A história piorou depois que o navio atacou um navio mercante, matando toda a tripulação e saqueando
o mesmo. Outros dois navios mercantes surgiram completamente destruídos, a deriva, muito próximos de
nossa costa.
O rei, diante de tais fatos, tomou a seguinte decisão: O navio precisava ser destruído.
Uma esquadra real passou a procurar o navio. O Vingador dos Mares foi encontrado na
noite tempestuosa de 25 de maio de 1876, na arquipélago de Luger, um local com centenas
de ilhas e recifes, onde acreditava-se que o navio estivesse escondido. Trata-se de um lugar
Diário de bordo do dia 26 de maio de 1876. O Vingador dos Mares afundou sobre
intenso combate. Perdemos o Galvez, o Vingança, o Crepúsculo e o Amanhecer. Estamos
bastante avariados, perdi trinta homens em combate e tenho outros cinco feridos. O
Vitória e Os Sete Mares também estão bastante avariados e perderam homens, mas estão
em condições de navegar, assim como nós. Não encontramos nenhum sinal do navio que
perseguíamos, apenas alguns destroços, mas os gritos da noite anterior e as explosões que
vimos não deixam dúvidas sobre o naufrágio do mesmo. Retorno para a pátria com minha
missão cumprida, mas minha alma não entende o que levou à loucura todos os homens de
uma mesma embarcação e um dos melhores capitães que conheci e com quem aprendi
tanto.
Que Deus acolha a alma de todos eles e que encontrem a paz.
Depois deste incidente e o retorno de três dos sete navios que partiram em busca do
navio comandado por Átila, a paz retornou a navegação de nosso reino. O rei, temeroso que
a situação se repetisse, cancelou o projeto de construção de navios de guerra tão potentes
quanto o Vingador dos Mares. Apenas navios de guerra convencionais foram construídos.
A situação, nos dois anos seguintes, foi extremamente calma, até que algo de estranho
começou a acontecer ...
Primeiro, foi o navio comercial Imperatriz, que numa noite de extrema calmaria dentro
do arquipélago de Luger, viu aparecer, de repente, bem à sua frente um navio
completamente destruído, com marcas de fogo e balas de canhão. O velame bastante
avariado e o convés completamente desordenado. O capitão do navio, extremamente
assustado, observou pela sua luneta e descreveu no diário de bordo:
Diário de bordo do dia 12 de abril de 1878. Avistamos um navio semi destruído, sem
nenhum dos mastros inteiro e completamente a deriva. Pude observar que se tratava de um
grande vaso de guerra e que havia participado de grande batalha a julgar pelos seu
estado. Uma névoa esverdeada cobria o convés do navio, mas pude ter a impressão nítida
Assim que o navio comercial aportou em Ugres e a história veio à tona, houve grande
comentário entre os marinheiros e as velhas histórias de navios fantasmas e tripulações
amaldiçoadas começaram a ser contadas pelos marinheiros, principalmente os mais velhos.
Mas como não houve provas, e devido ao forte nevoeiro acreditou-se tratar-se de uma
alucinação por parte do capitão e de cinco marinheiros que juravam também terem visto o
navio. Histórias como estas não são incomuns de se ouvir nos portos de todo o mundo. Foi,
como todas as outras, tratada como uma visão dos marinheiros.
“O Inferno abriu suas portas e veio diretamente a nós. Espero que Deus tenha piedade
de nossas almas.”
Por ordem da marinha, o navio, foi incendiado logo após sua carga de prata ter sido
retirado do porão. Os corpos dos marinheiros não puderam ser vistos pela suas famílias e
tiveram destino incerto. O alvoroço desta vez foi muito maior a ponto de várias companhias
mercantes terem de aumentar os salários do marinheiros para que pudessem navegar
naquelas áreas.
Um mês depois, outro navio, desta vez um vaso de guerra, o Tubarão, sumiu dentro do
arquipélago de Luger, para ser encontrado no mesmo estado do navio de carga. Segundo
Assim que entrei na sala, vi que não era muito grande, mas possuía móveis finos, de
madeira trabalhada. Tinha uma grande mesa e cadeiras finas. Havia também duas
cristaleiras muito bonitas feitas com madeira negra e muito ricas em entalhes. Tinha ainda
três quadros com as figuras de nossa realeza. Uma de sua Majestade, outra da rainha e a
terceira do príncipe, uma criança de oito anos. Já estivera naquela sala. Era a sala de
estudos do doutor Roberto.
Em cima da mesa existiam dois lampiões acesos e que, com mais outros quatro que ficavam em locais
estratégicos na parede, clareavam muito bem a sala. Seis figuras estavam sentadas na mesa. À luz do lampião,
passavam um ar sombrio e tenebroso. Eu conhecia apenas três delas. A primeira, sentada na cabeceira da
mesa, era o Almirante Demitre, trajando sua vestimenta militar. Era um homem forte, de aproximadamente
uns cinqüenta anos, cabelos e barba grisalhas e pele bronzeada pelos dias a bordo de navios. O segundo
homem era o doutor Roberto, também usando um traje mititar. Tinha cinquenta e oito anos e era considerado
um dos melhores médicos de nosso Reino. Era um homem moreno, estatura mediana e falava sempre de
maneira calma e pausada. Usava óculos e tinha um grande bigode. Fui recebido por ele quando me formei e
decidira me estabelecer na cidade. Ajudou-me a abrir meu consultório, emprestando inclusive alguns de seus
aparelhos médicos. Indicou também uma série de pessoas para se consultarem comigo. Conhecia todas as 25
publicações suas e me baseava muito em seus ensinamentos. O terceiro homem era uma lenda. Doutor Július
era seu nome. Professor sobre Ciências Físicas e Químicas em nossa melhor universidade. Era uma sumidade
em diversos assuntos, desde Literatura, passando por Geografia, Ciências Políticas, Física e Química. Iniciara
seus trabalhos na marinha como capitão e participou de muitas batalhas. Aos quarenta anos, solicitou sua
saída para dedicar-se aos estudos, sua grande paixão. Dizem os marinheiros que serviram ao seu lado, que
ficara triste ao ver os horrores das guerras que tinha participado. Vários anos estudos nas mais diversas áreas,
que o fizeram lecionar em nossa melhor Universidade. Trocou informações com estudiosos de muitos reinos
e era conhecido e respeitado em muitos deles. Havia boatos que o próprio Rei o consultava de tempos em
tempos duas dúvidas pertinentes às Ciências.
Um dos dois homens que eu não conhecia era um bispo, devido ao seu traje. Tinha os
olhos redondos, nariz chato e era calvo. Era um homem de idade avançada. O segundo
homem deveria ser de grande importância dado aos seus trajes nobres e seu ar de
arrogância. Tinha os cabelos presos em um rabo de cavalo, aparentava ter uns quarenta e
cinco, cinqüenta anos. Provavelmente era um conselheiro real ...
Eu imaginava o que aqueles grandes e importantes homens faziam ali. Estavam
discutindo sobre o Vingador dos Mares. O que eu não entendia era o que eu fazia ali.
__ Doutor David, disse o Almirante, aproxime-se e sente-se em uma das cadeiras.
Capitão Kurchov, o senhor também. Gostaria que o senhor conhecesse algumas destas
pessoas, pois acredito já conheça outras. Doutor Roberto, nosso médico, o Bispo Kirsek,
professor Július e o conselheiro Magnus .
Fiquei muito entusiasmado ao cumprimentar aqueles homens, e especial o professor
Július. Tinha muita admiração por ele. Todos me cumprimentaram acenando com a cabeça,
menos o Conselheiro Magnus, que me fitou por um instante.
__ Ainda não sei por que este jovem está aqui e qual a sua importância devido à
gravidade da situação.
__ Senhor Magnus, acalme-se, falou o Almirante Demitre. Ele, então, me olhou
fixamente.
Era uma bela manhã de sol quando cheguei a uma maravilhosa casa. Era um sábado muito bonito. Abri o
portão de ferro e passei pelo belo jardim, todo gramado, com flores ao redor de árvores plantadas ao redor da
grande casa. Este jardim era muito bem cuidado, não havia folhas secas pelo chão e a grama estava sempre
muito bem aparada. A casa era grande, bonita, pintada, de tijolos e possuía uma varanda que tomava toda a
frente da casa. Nesta varanda, havia um casal, sentado em cadeiras confortáveis, conversando em um tom
despreocupado. Ao me verem, pararam imediatamente de conversar. Tratava-se do Doutor Roberto e de sua
esposa. Quando me viu, sua expressão ficou apreensiva. Levantou-se e veio ao meu encontro.
__ David, falou com um expressão preocupada. Vieste conversar com Caroline.
__ Sim, Doutor Roberto. Já tomei minha decisão.
__ Você não vai viajar nesta expedição, vai?
Olhei para o senhor e pude ver a expressão de meu pai, que já falecera.
__ Sim, eu irei. Pensei muito nestas duas semanas que passaram e não pude recusar o convite do
professor Július para que o acompanhasse nesta expedição. Sinto que devo prestar esta contribuição para meu
Reino.
O doutor parou por um instante. Olhou-me firmemente.
__ Sabes David, eu o tenho como um filho, e não posso impedi-lo. No fundo, eu o compreendo. Sim,
entendo esta alma de aventura em busca desta história inacreditável. Mas ouça, meu filho. Quero que tomes
muito cuidado e que voltes o mais breve, são e salvo. Esta viagem não será apenas uma aventura. Seu destino
é incerto e seu retorno não é garantido. – Olhou-me nos olhos e continuou - Quero que saibas que se não
quiseres ir continuarei tendo o mesmo respeito e admiração que sempre tive por você. Não pretendo conceder-
te a mão de minha filha somente porque tenho apreço e uma grande amizade por teu pai e por ti. Eu te quero
como um membro de nossa família porque sei do teu caráter, de tua responsabilidade e sei também o quanto
gostas de minha filha.
__ Fico muito honrado que o senhor tenha tais pensamentos a meu respeito. Sinto também ter que deixar
sua filha, a quem amo de todo o coração, mas não tenho coragem de dizer não a estes homens que arriscarão
suas vidas pela nossa pátria. Se não for, jamais conseguirei olhar para sua filha, tampouco para o senhor.
Doutor Roberto olhou para mim e colocou as mãos sobre os meus ombros.
__ Tens todo direito de seguir com estes homens. Que Deus abençoe esta viagem.
__ Ele abençoará, e irá nos proteger do mal, seja ele qual for.
Ficamos por um instante parados. Eu respeitava muito aquele homem. Finalmente, quebrei o silêncio.
__ Agora eu gostaria de saber se poderia conversar com Caroline.
__ Claro que sim. Está no jardim dos fundos. Sabes onde fica.
__ Sim, senhor.
Despedi-me de Doutor Roberto. Segui por uma calçada feita de pedras, que contornava a casa. Na parte
de trás, o jardim continuava. Era repleto de árvores e completamente gramado. Podia-se ver flores de vários
tipos, que davam um perfume adocicado ao ambiente. Pássaros cantavam e voavam de um lado para outro.
Caminhei mais um pouco e pude ver uma jovem sentada em um banco. Usava um vestido longo, de cor
branca. Tinha os cabelos longos, encaracolados, de cor castanho claro. Aproximei-se lentamente por trás e
coloquei minhas mãos sobre seus olhos. Ela não ficou nenhum pouco assustada.
__ É você David?
__ Sim. - respondi.
Ela levantou-se e me abraçou.
__ David, meu amor. A cada dia que passa meu coração torna-se cada vez mais seu.
Eu a segurei pelos ombros e olhei para seu rosto. Aquela visão fazia com que eu me esquecesse de todo
o resto de minha vida. Era de uma beleza insuperável. Tinha a pele clara, os olhos castanhos. Possuía uma
ternura sem par e um sorriso meigo e carinhoso.
__ Poderão se passar séculos, mas meu coração será sempre teu.
__ Não vejo a hora destes poucos meses que faltam para o nosso casamento passarem.
Ao dizer isto e olhar para meus olhos, sua expressão se alterou.
__ O que tens?
Olhei para ela e respondi:
__ Tenho que lhe contar uma coisa.
Passei dois dias em grande alvoroço. Corria para explicar a meus clientes que iria fazer um curso em
outra cidade e ficaria um tempo incerto fora. O Doutor Roberto, conforme concordara, os atenderia até meu
regresso. Por outro lado, tratei de arrumar as minhas coisas. Levei roupas frias e quentes, pois não sabia que
condições climáticas encontraria em minha viagem. Levei capa de chuva, alguns livros que considerava
interessante. Também levei minha espada, que ganhei de meu pai. Era linda, com um lâmina bastante afiada.
Eu já havia ganho alguns torneios importantes de esgrima e havia estudados com um dos melhor espadachins
do mundo, um senhor que morava próximo da universidade, a quem tinha curado de um problema de coluna
que o incomodava há anos. Em troca, concordou em ensinar-me seus segredos com as espadas. Treinei
técnicas de diversos tipos, até mesmo algumas que não eram de nosso Reino, mas que ele fez questão de me
ensinar. Também não poderia deixar de levar meus instrumentos de trabalho. Um dos fatores que tinham
favorecido minha entrada nesta expedição era o fato de o Professor Július necessitar de um médico a bordo. O
Doutor Roberto seria o mais indicado, mas devido a sua idade mais avançada e também as minhas opiniões a
respeito do assunto, fizeram com o professor me fizesse o convite.
No fim do terceiro dia, após minha conversa com Caroline, uma carruagem chegou a minha casa. Tinha
dois soldados vestidos com trajes civis. A charrete também não tinha nenhuma indicação que se tratava de
assunto militar. Colocamos nossas coisas e partimos direto para o forte. Lá despedi-se do almirante Demitre e,
em uma pequena embarcação nos dirigimos para um navio de guerra, ancorado em local mais afastado da
baía. Ao nos aproximarmos, notei que se tratava de um grande navio, de três mastros, mais duas velas na
proa. Notei a movimentação no convés e pude ver o Capitão Kurchov dando ordens para os homens. Nas
laterais do navio, podia-se ver duas linhas de canhões. A de cima, tinha o calibre mais fino que a debaixo.
Cada canhão tinha uma janela para protegê-lo. Estavam todas abertas. O mar estava calmo, com alguns
bandos de gaivotas circundando o navio. Aproximamo-nos devagar. Uma teia de cordas nos foi jogada e subi
por ela. Minhas coisas foram içadas por cordas. Observei as feições dos homens. Todos, sem exceção eram
fortes, de pele bronzeada. Trajavam uniforme da marinha. Calça de linho, camisa branca, com decote em V,
entrelaçado por um barbante branco. Alguns deles usavam coletes de couro marrom. O Capitão Kurchov
estava vestido de farda da marinha, calça azul, com uma listra negra, uma camisa branca, coberta por um
bonito paletó também azul. Os cabelhos compridos estavam presos mostrando um bonito rabo de cavalo.
Tinha na cintura uma espada fina.
__ Vamos, homens! - ordenava. Temos que partir esta noite, para aproveitarmos a maré.
Ao me ver, pronunciou ordens para o primeiro imediato, um jovem que devia ter a mesma idade que eu,
e dirigiu-se para mim.
__ É uma honra tê-lo a bordo do Tempestade, meu amigo. Este barco é muito veloz e possui excelente
poder de fogo.
__ A honra é minha também Capitão. E espero retribuir com meus conhecimentos este convite. - disse
apertando a mão do Capitão.
__ Eu também espero. - disse uma voz conhecida.
Virei-me rapidamente e pude ver o professor Július e o bispo Kirsek aproximando-se de mim.
__ Doutor David.
__ Professor Július. Bispo.
__ Filho. - disse o bispo.
Cumprimentei-os. O bispo trajava uma batina negra e carregava um rosário nas mãos. O professor vestia
calça e paletó cinza. Usava um par de botas, que pude notar, apesar de estar meio escondido pela calça. Eu
vestia uma calça e uma camisa branca, de mangas compridas devido ao receio de queimar-me ao sol durante o
início da expedição, e botas de cor marrom, bastante resistentes. Minhas calças estavam por dentro das botas.
__ Vou deixar que conversem, pois tenho que preparar o navio para partir.
__ Sim, Capitão. Doutor David, Bispo, caminhemos pelo navio para esticar nossas pernas.
Andávamos junto às laterais do navio. Na popa havia dois lances de escada, que nos permitiram atingir o
comando da embarcação. Nesta parte, situava-se o leme onde um marinheiro já estava próximo, verificando
os últimos detalhes para o início da viagem. Ao todo existiam oitenta marinheiros a bordo, sem contar com o
professor, o bispo, o Capitão, o primeiro imediato e eu. A tripulação dividia-se em grupos e cada grupo tinha
um responsável. Havia o grupo responsável pelas velas, navegação, artilharia, limpeza, organização e
Dirigi-me para minha cabine. Eu a dividia com o primeiro imediato. Era um quarto pequeno, possuia um
beliche rústico de madeira, uma pequena mesa redonda com duas cadeiras e um criado mudo de madeira
negra, que tinha alguns livros e um pequeno lampião sobre o mesmo. Um pequeno guarda-roupa para
acomodar as roupas e os pertences. Havia um pequeno espaço vago onde acomodei as minhas coisas.
Coloquei a espada de meu pai atrás de minhas roupas. De repente a porta se abriu e o primeiro imediato
entrou.
__ Doutor David, muito prazer. Sou o primeiro imediato. Meu nome é Sebastian.
__ O prazer é meu. Mas tire esse Doutor. Pode me chamar somente de David.
Era um jovem da mesma idade que eu, aproximadamente. Era forte, tinha na face uma exp ressão de
sinceridade e um ar de aventureiro. Seus olhos era miúdos, os lábios finos. Sua face era bronzeada devido a
sua exposição ao sol. Os cabelos eram cortados bem curtos, de cor castanha escura.
__ O Capitão Kurchov pediu-me para verificar se o senhor está em boas acomodações.
__ São ótimas. Diga ao Capitão que tenho tudo aqui o que preciso.
__ Então está bem. Irei me retirar para o convés. Partimos em aproximadamente dez minutos.
__ Está bem.
O primeiro imediato saiu do quarto e, cerca de dez minutos ouvi claramente a voz do capitão, dando
início a aventura mais incrível que participei em minha vida:
__ Zarpar ...
Eu não estava no convés, mas conhecia os procedimentos. Alguns homens içavam a âncora, enquanto
outros soltavam as enormes velas. Senti um leve tremor, seguido de um ranger de madeira. Estávamos
navegando. Dirigi-me então para o convés. A situação já estava mais calma. As velas dos três mastros
estavam içadas. O capitão gritou algumas ordens para um grupo de marinheiros. Estava no posto de
comando, junto ao marinheiro que comandava o leme. Conversou com ele, indicando a posição que o navio
deveria seguir e em seguida, colocou as mãos para trás e respirou fundo. Era uma figura imponente, o Capitão
Kurchov. Não era homem para ficar atrás de uma escrivaninha e sim para estar em ação. Se colocassem um
homem destes para serviços burocráticos, com certeza seria o seu fim. Eu penso que cada homem nasce para
um tipo de atividade, e caso ele não a execute, sua vida perderá o sentido. Eu próprio não conseguiria
executar nenhum outro serviço que não o da medicina. Olhei para a costa, que se afastava rapidamente. Meus
pensamentos encontraram a bela figura de Caroline. Sorri, por um breve momento. E, neste momento, percebi
o quanto a amava.
Os dias passavam calmos e tranqüilos. Às vezes, o Tempestade passava por alguma frota mercante, às
vezes algum brigue solitário. Sempre identificávamos o navio, que era colocado no diário de bordo. Passamos
também por uma tempestade, que demonstrou a força da natureza no mar, mas também mostrou a robustez e a
manobralidade do navio. Nestes dias de tempestade, fiquei praticamente o tempo todo dentro de meu quarto.
Algumas ondas as vezes atingiam o convés e os marinheiros andavam amarrados, para não serem atirados ao
mar. Todas a velas haviam sido arriadadas e amarradas. Ao fim do terceiro dia de tempestade, o mar acalmou
e parou de chover. Na outra manhã, o sol surgiu novamente.
Antes de chegarmos ao arquipélago, ancoramos o navio em uma ilha, que era na verdade um posto
avançado da marinha. Lá, aproximadamente oitenta homens montavam uma guarnição que visava ao
reabastecimento de navios de guerra. Tivemos nosso suprimento de água potável renovado e também uma
nova provisão de víveres. O Tempestade continuou sua viagem.
Dois dias depois, chegamos ao arquipélago de Luger, também conhecido como arquipélago da morte.
Pude notar nos homens um estranho sentimento, não de medo, mas de receio. Mas os trabalhos no navio,
fizeram com que este receio logo passasse. O Capitão Kurchov uma vez, em uma das muitas conversas que
tive com ele, declarou:
__ Sabe, doutor, em um navio de guerra, você encontrará um terço da tripulação com estas
características. Este homens que não se amedrontam facilmente diante do perigo. Foram escolhidos a dedo,
com exceção de cinco deles.
__ Por que cinco deles?
__ Vieram junto com o professor. São homens que ele próprio escolheu. Não são homens de nosso
Reino, mas o professor os colocou sob meu comando e seguem rigorosamente as minhas ordens. Trabalham
junto com todos os outros. Em sua última guerra, a tripulação de seu navio não era formada somente por
soldados de nosso Reino. Ele tinha quase metade da tripulação de homens de outras nacionalidades, com
costumes e maneiras de lutar que a maioria de nossos capitães jamais tinha visto. Ele era admirado por todos
nós, e até nossos inimigos o temiam mais que a própria morte. Ele era o Vingador dos Mares vivo. Não era
um capitão cruel, não. Mas era extremamente astuto e habilidoso. Conhecia o navio que comandava, prego
por prego, tábua por tábua, sabia o número de balas de canhão existente no navio, bem como a quantidade de
pólvora disponível, o número de mosquetes, chamava cada marinheiro pelo nome. Lutava, em um combate,
lado a lado com seus homens.
__ Mas por que ...
__ Saiu da marinha? Por dois motivos. Um foi perder sua esposa, que afundou em um navio, quando ia a
seu encontro. Ficou bastante transtornado com sua morte. Aí a situação se agravou quando perdeu seu único
filho em combate. O navio em que lutava foi afundado pelo inimigo. Dizem que chegou ao Rei e falou “Vossa
Majestade, se não consegui proteger os bens mais preciosos que tive, não sirvo para proteger o Reino”. E
virou as costas para o Rei. Sumiu por um longo período até retornar e dedicar-se somente aos estudos, o que
passou a ser um obsessão.
Naquele momento entendi por que aquele homem parecia tão solitário.
A cada dia que passava, conhecia melhor a tripulação. Às vezes conversava com a equipe responsável
pelas velas, com a equipe de artilharia. A medida que entrávamos no arquipélago, sentíamos que estávamos
para nos confrontar com algo estranho, extraordinário. Mas nada alterava a rotina do navio, e a cada final de
dia me sentia aliviado por não termos encontrado o tal navio fantasma. Outra figura interessante era o bispo.
Homem extremamente reservado e que tinha pensamentos bastante definidos acerca destes acontecimentos.
Em uma conversa que tive com ele, pude ter certeza de suas opiniões que eram totalmente divergentes das do
Capitão e do professor. Enquanto ambos acreditavam que não se tratava de um fato sobrenatural, o bispo tinha
suas dúvidas. E em uma das conversas que tive a sós com ele, em seus aposentos, pude ter uma idéia melhor
de suas opiniões.
__ Então o senhor acredita em fatos sobrenaturais?
__ O que você entende por sobrenatural. Fantasmas? Ou será “fatos” que o homem, com seus parcos
conhecimentos hoje não consegue explicar são considerados sobrenaturais? Os milagres de Jesus podem ser
explicados cientificamente? São sobrenaturais? O senhor mesmo já deve ter presenciado algum doente,
moribundo e desenganado ganhar saúde, mesmo após medicina ter esgotado todos os seus recursos.
__ Já sim senhor. Já vi homens que considera mortos voltarem a vida.
__ Agora me diga, se o senhor tem certeza do que diz: Eles estavam mortos e voltaram a vida?
__ Então o reverendo acredita que os mortos podem voltar?
__ Eu, em meus poucos conhecimentos, acredito no que Jesus disse: A morte não é o fim, mas o início.
E nem todos os segredos foram revelados aos homens. Para mim, o que aconteceu com este navio e com todas
as almas que nele estavam é um mistério. Eu conhecia o Capitão Átila pessoalmente. Jamais acreditarei nesta
história de loucura, que tomou conta de seus homens e de seus navios. Ele era um homem muito poderado,
justo e de excelente caráter.
__ Mas o que o senhor acha que aconteceu, e o que está acontecendo agora?
Dois dias depois, passávamos próximos da ilha da morte. Realmente, sua costa ficava coberta por um
nevoeiro e podia-se ver alguns recifes. Era, também, na minha opinião, impossível chegar àquela ilha. Ao
final da tarde, retirei-me para minha cabine para ler um pouco. A vista para o mar estava difícil. Parecia que
todo o mar fora coberto por uma névoa pardacenta, que hora era espesso, ora podia-se enxergar por um ou
dois quilômetros. Tanto o professor quanto o capitão disseram que a região era propícia a nevoeiros. Havia
uma calmaria que eu não via fazia vários dias. Mesmo com as velas içadas, o navio viajava lentamente. Eu
estava em minha cabine fazendo algumas anotações quando ouvi um grito do marinheiro que estava no ninho
de gaivotas.
__ Navio a vista.
A princípio, a notícia não me causou espanto, mas houve um grande alvoroço entre a tripulação.
Levantei-me então e fui para o convés. Marinheiros corriam de um lado para outro.
__ O capitão gritava com o homem que havia visto o navio.
__ É um dos nossos?
__ Não, senhor. É um navio “hostil”. Está se dirigindo para cá.
Nós do convés não víamos o navio, mas o termo “hostil” indicava que o navio pertencia ao reino com o
qual estivéramos em guerra há pouco tempo.
__ Senhor, gritou o marinheiro, o navio está avariado.
Neste momento, surgiu um navio a nossa frente. Era tão grande quanto o que viajávamos, três mastros,
mas as velas estavam recolhidas. O casco do navio estava intacto, mas, devido a neblina, não se podia ver o
convés.
__ O que aconteceu? perguntei ao professor.
__Também não estou entendendo, parece que não há ninguém a bordo, mas como chegou aqui então? É
um navio de guerra, veja as escotilhas dos canhões e o desenho do casco. Não poderia estar nestas águas, mas
um navio destes não viaja sozinho.
O Tempestade passava vagarosamente a uns vinte metros de distância. O outro estava parado, ao sabor
das ondas. O Capitão Kurchov gritou:
__ Alguém a bordo?
Não houve resposta. Novamente o capitão gritou e novamente não houve resposta.
__ Timoneiro, meia volta. Sebastian, içar âncora. Desça dois escaleres. Quero cinco homens bem
armados em cada um deles. Professor, doutor, gostaria que fossem comigo.
Nos prontificamos imediatamente e dez minutos depois rumávamos em direção ao navio. Todos os cinco
homens convocados pelo professor estavam nos escaleres. Nos aproximamos do navio. Dois ganchos foram
atirados e se prenderam à amurada do navio. A corda tinha um nó a cada meio metro, para facilitar a subida.
O primeiro a subir foi o Capitão. Todos os homens tinham espadas e pistolas. Até mesmo eu recebi uma
pistola. Quando eu cheguei e coloquei minhas mão na amurada, fiquei aterrorizado. Toda a tripulação estava
no convés. Todos mortos. Havia corpos por todos os lados. Calculei mais de setenta homens. Em alguns
faltavam membros, como braços, pernas, algumas cabeças estavam à distância dos corpos. Os olhos de alguns
dos mortos estavam abertos. O cheiro era intenso. Venci o impacto inicial e aproximei-me de um dos corpos.
Tinha uma cicatriz grande no peito, causada por uma espada. Atingira diretamente o coração. Virei o corpo e
constatei que havia atravessado o mesmo. Abri a camisa para retirar uma dúvida.
Ninguém dizia uma só palavra. Somente se ouvia o ranger do convés ao sabor das ondas.
__ Doutor, disse o Capitão aproximando-se de mim, juntamente com o professor, o que matou toda esta
tripulação?
Olhei fixamente para aqueles homens.
__ Este marinheiro morreu por um objeto cortante. Uma espada. Seu ferimento é igual ao do marinheiro
do Forte Duchigam. Pelo estado recente do corpo posso afirmar que ele morreu a não mais que dois dias.
__ É impossível! Fantasmas não podem fazer isso!
__ Calma Capitão, ponderou o professor. Ninguém disse que foram fantasmas.
__ Então como o senhor me explica um navio armado como este, com homens treinados terem um fim
destes? E por que não há nenhum corpo além da tripulação? Por que todos os mortos estão com as espadas
nas bainhas? Não houve resistência. Olhe a expressão daqueles homens. Parece com combateram algum outro
marinheiro? O senhor, como eu, já presenciou homens mortos em batalha. Jamais tiveram esta expressão.
__ Como deves saber, Július, enquanto estávamos em guerra, esta área foi palco de grandes combates. É
uma região estratégica devido às ilhas e provisões que pode fornecer. Perto do final e com nossa marinha já
tendo dificuldades de se locomover até aqui para combater e regressar para nosso Reino para reabastecimento,
demos início a uma busca de uma ilha onde pudéssemos reabastecer e nos rearmarmos sem ter que voltarmos
para o nosso reino. Infelizmente a guerra acabou e saímos derrotados. Mas uma ilha, localizada aqui no
arquipélago foi descoberta. E, nesta ilha, era possível a construção de um forte e de um arsenal sem que
ninguém tivesse conhecimento.
__ Isto é impossível. A construção de um forte seria avistada por nós mais cedo ou mais tarde.
__ Não se a ilha fosse coberta de uma névoa espessa.
Os olhos do professor se abriram.
__ A ilha da morte!
__ Esta mesma. Em um dos combates, já no fim da guerra, um dos nossos navios ficou com o velame
todo comprometido e pôs-se a deriva. Foi quando uma correnteza o puxou para dentro da ilha. Os marinheiros
que estavam a bordo se apavoraram. Mas o navio passou por entre os rochedos e lançou âncoras em uma
grande baia. Os homens puderam então desembarcar em terra. É uma ilha grande com água potável. A neblina
cobre somente as extremidades da ilha. O navio foi reparado e após içar as âncoras a correnteza o levou para
fora da baía. Voltando a nosso Reino, o segredo foi revelado. Dois navios foram enviados para constatar o que
havia por trás destas correntes. Um deles, tentando entrar com as velas içadas, bateu num rochedo e afundou.
O outro, somente ao sabor da maré passou novamente pelos rochedos e aportou na baía em segurança. Ficou
constatado então tratar-se de um fenômeno de marés. Uma maravilha da natureza. Só que havíamos
descoberto um tanto tarde. Nossa marinha não dispunha de recursos para um projeto desta natureza. Então,
para não comprometer o resto de nossa marinha, o rei preferiu um acordo. Foi então que chegou em nossas
mãos um projeto de um tipo de navio revolucionário. Um navio veloz, com canhões potentes e que poderia
alterar o equilíbrio naval. Era um projeto que tinha muitas inovações, no casco, mastros e velas. Era uma
maravilha de engenharia. Iniciamos a construcão quase que no mesmo tempo que vocês e os nossos
Vingadores dos Mares ficaram prontos três meses depois que o seu primeiro foi inaugurado pelo capitão
Átila.
__ Como assim Vingadores dos Mares? – perguntou o Capitão Kurchov.
__ Foram construídos dois navios. Um deles, comandado pelo capitão Macek, rumou para o arquipélago.
__ O capitão Macek, o carniceiro.
O almirante Haloram sorriu.
__ Sim. Trajavam vestimentas de seus marinheiros e tinha a bandeira de seu reino. Abordaram o
Vingador dos Mares em uma manhã. Invadimos o navio e o capitão Átila foi feito prisioneiro. A tripulação se
rendeu mesmo com os pedidos de Átila de se rebelarem. Todos os homens lhe eram muito fiéis. Átila se
juntou a seus homens no porão do navio. Então o capitão Macek o afundou.
__ Loucura! – gritou o professor. Que o capitão Macek era um sanguinário eu já sabia. Mas matar o
Capitão Átila e toda a sua tripulação afogados. Que Deus amaldiçoe todos vocês!
O almirante Haloram fez uma pausa. Depois continuou.
__ Gostaria que se acalmasse Július e continuasse a me ouvir. Após o ataque, Macek começou o plano
para causar uma série de incidentes que causasse a declaração de guerra dos três reinos contra o seu, o que
nos seria de grande ajuda. O plano ia indo bem, quando ele foi surpreendido por uma esquadra sua. Não
havíamos tido conhecimento de sua viagem a tempo de avisar o capitão Macek, que foi combatido e afundou
muito próximo daqui.
__ Como ficaram sabendo dos passos de nossa esquadra, a localização do Vingador dos Mares? Como
abordaram o navio? O capitão Átila era muito esperto. Não deixaria jamais que outro navio se aproximasse do
seu sem ser identificado. A menos que uma pessoa o traísse.
__ Uma não, duas. A primeira era o seu primeiro imediato que o traiu e contou aquela história de que
Átila havia ficado louco. Foi morto por nossos agentes após ter cumprido sua missão.
__ Um fim digno de um traidor. – falou o Capitão Kurchov.
__ A Segunda ficarão conhecendo mais tarde. Mas, continuando nossa história, o plano era que o
capitão Macek atacasse outros navios para causar um incidente de proporções que fizesse eclodir uma guerra,
Ficamos três dias na mesma situação. A comida era trazida até nós duas vezes ao dia, como também a
água. A ração era pouca e divida de maneira igual para todos. Comíamos sentados no chão e encostados na
parede. Nenhum de nós havia saído daquela prisão. Não sabíamos o que se passava lá fora.
Certa noite começou a acontecer uma grande movimentação no centro da fortaleza. Oouvimos cantos de
alegria e gritos eufóricos entre os homens.
__ O que diabos está havendo? – disse um dos marinheiros.
__ Parece uma festa. – respondeu outro.
Havia algumas frestas na madeira e podíamos observar o clarão das fogueiras.
__ Acho que é alguma comemoração. Ou algum tipo de cerimônia festiva. – Falou o professor. Espere.
Um grupo de soldados vem para cá.
Realmente era verdade. Logo a porta se abriu e irrompeu por ela um grupo de soldados de pistolas em
punho. Um deles começou a falar.
__ Façam uma fila. O Almirante deseja vê-los.
Fomos levados para a praça, também conhecida como arena. Acho que todos os marinheiros da
fortaleza estavam lá. Abriram um corredor e fomos colocados na beira da arena. Na arquibancada, estavam o
Almirante Haloram, os dois capitães dos navios e o conselheiro Magnus. Estavam cercados pelos oficiais dos
seus navios. Não vi o Capitão Random entre eles.
__ Professor, perguntei, conhece os outros Capitães.
__ Sim. Mas um deles posso lhe assegurar que é um homem de boa índole, que não faz parte deste grupo
de mercenários assassinos. É aquele que está com uma feição séria.
De fato, entre todos os homens que estavam na arquibancada, havia um que parecia não gostar do que
estava acontecendo ou ia acontecer ali. Não estava sorrindo como os demais. Sua feição era séria. Nos olhava
com atenção.
__ Seu nome, continuou o professor, é Dubolski, Capitão Dubolski. Conversei com ele algumas vezes, e
...
__ Homens ... era o almirante Haloram que havia se levantado. Houve um silêncio total. Somente
o crepitar das fogueiras podia-se ouvir.
__ Estamos aqui em missão especial, buscando a glória de nossa pátria.
Os homens gritaram de alegria.
__ Mas, em nossa missão, capturamos inimigos. Inimigos valentes e que quase colocaram o nosso
objetivo em risco. Olhem para eles. O ódio está em seus olhos.
Os homens gritaram novamente. E falavam ofensas. Confesso que a princípio eu não entendia o que iria
acontecer.
__ Professor, perguntou Kurchov, o que está acontecendo?
__ Chame Sebastian, disse o professor.
__ Por que?
__ Por favor capitão, chame Sebastian.
O jovem aproximou-se do professor.
__ Olhe para mim marinheiro. Vou lhe dar uma ordem.
__ Sim, senhor.
__ Aconteça o que acontecer, não lute.
__ Como?
__ O que eu acabei de dizer. Não lute.
O almirante Haloram que fazia um discurso inflamado, notou a movimentação entre nossos homens.
__ Então, como é costume de nossa marinha testar nossos homens contra outros marinheiros, vamos
testá-los. Como eles precisam de seu Capitão, seu representante hoje será seu imediato. Homens tragam-no
para a o meio da arena. Alguns homens foram até Sebastian e o empurraram até o meio da arena.
Eu nunca havia visto nada parecido com aquilo. E creio que todos os homens que faziam parte de nossa
tripulação também não. Exceto pelo professor, que pelo ar de preocupação sabia exatamente o que iria
acontecer. Os homens gritavam como loucos. Alguns pareciam embriagados. De repente, do meio dos
homens surgiu o Capitão Random. Estava sem camisa, trajando somente uma calça de bucaneiro e botas
compridas. Era um homem forte com uma musculatura bem definida. O corpo era bronzeado pelo sol. Tinha
uma espada em cada mão. Atirou uma nos pés de Sebastian.
O capitão passou a informação para os homens, e como o professor havia pedido, não questionaram nem
ficaram fazendo comentários. Em poucos instantes, como de costume, o silêncio tomou conta da sala. O
professor sentou-se ao meu lado. Sua fisionomia era de nervosismo.
__ Professor, o que nos aguarda?
__ Eu conheci o Capitão Dubolski pessoalmente depois da guerra. Estive em seu Reino para um acordo
de paz. Discutimos muito acerca dos combates. Ele pensa como eu sobre a guerra, mas um fato me chamou a
atenção. Ele havia se voltado contra seu Almirante na guerra, que ordenara o fuzilamento de dez marinheiros
nossos, aprisionados em seu barco, após violento combate. Para ele, o fuzilamento é um ato covarde de força.
Como a seu pedido, seremos fuzilados de manhã, creio que podemos esperar que algo aconteça ainda esta
noite.
Fiquei ansioso com as palavras do professor. Será que tínhamos um chance? Será que o Capitão
Dubolski estaria tramando algo para nos ajudar? Ou será que havia pedido nosso fuzilamento para evitar estas
lutas sem sentido que eu mesmo participara acabassem de uma vez por toda. Fiquei quieto em meus
pensamentos. Os barulhos lá fora já haviam parado há bastante tempo. Os homens deviam estar em seus
alojamentos dormindo.
Passaram-se algumas horas intermináveis até que finalmente ouviu-se alguns murmúrios à porta. Uma
espécie de gemido. Então a porta se abriu e cinco homens entraram por ela. Não traziam lampiões como os
guardas que para nos abordavam a noite. Os homens, como o professor havia pedido, limitaram a se levantar
sem nenhum tipo de reação.
Era o Capitão Duboslki. Falava baixo.
__ Július.
__Estou aqui, Dubolski.
Ele se aproximou do Capitão. Conversaram por alguns instantes. Juro que estes instantes foram
intermináveis. Observei, por uma tênue claridade, que os outros homens estavam de pistolas e espadas. Até
que o professor aproximou-se de nós.
__ Devemos seguí-los em silêncio. Kurchov, diga para seus homens formarem um fila. Seguiremos o
Capitão Dubolski e seus homens até um ponto afastado da praia.
__ Sim, professor.
Alguns instantes depois, deixamos a casa-prisão e começamos a caminhar em direção à encosta. Dois
homens carregaram os guardas para dentro da casa. Haviam sido mortos pelos homens do Capitão Dubolski.
Depois, trancafiaram a porta e ficaram de guarda, aparentando um situação de tranqüilidade. Chegando à
encosta, seguimos por um caminho de pedras, que na escuridão, era muito difícil de percorrer. Os homens de
Dubolski, e ele próprio, iam na frente, seguidos por Kurchov, pelo professor, por mim e por todos os demais.
Ao final do caminho, saímos num canto da praia bastante afastado da fortaleza. Havia dois botes grandes com
mais quatros homens na praia. Corremos para eles.
__ Devem seguir para o Tufão. É o navio que comando. Trata-se daquelas duas luzes lá. Aquele do
meio, mais iluminado, é o Vingador dos Mares. O outro, ancorado mais ao longe, é o Gaivota. Não
encontrarão nenhum homem a bordo, mas está com todos os canhões carregados e também tem espadas,
pistolas e mosquetes. Július, veja uma coisa.
O Capitão Dubolski se abaixou, pegou um pedaço de madeira e começou a riscar o chão.
__ A baía está aqui, e os navios aqui, aqui e aqui. O Tufão está entre o Gaivota e o Vingador dos Mares.
Recolha a âncora e passe rente ao Gaivota, que está sobre o canal que leva para fora da ilha. Os homens que
estarão no navio não entenderão muito bem a sua manobra. Faça fogo com os canhões para afundar, pois se
conseguirem que o navio vá a pique, o Vingador dos Mares, talvez não consiga sair em sua perseguição.
Olhamos atônitos para o que acontecia. Dubolski já havia arquitetado todo um plano para nossa fuga.
__ Quando derem o primeiro disparo, ouvirão uma série de explosões aqui na fortaleza. Devem
continuar, deixando que a corrente os leve a uma distância segura da ilha. Agora os senhores devem partir
imediatamente. É provável que encontrem um bote vindo para cá. São os meus homens que estavam a bordo
do Tufão e que estão vindo para esta direção.
O Capitão Kurchov ordenou e rapidamente metade dos homens subiu em um bote e instantes depois
estavam a vencer as ondas em direção às pequenas luzes. Eu estava perto do professor quando ele conversou
pela última vez com o Capitão Dubolski.
Ninguém conseguiu dormir até amanhecer. Assim que o navio ultrapassou os recifes, as velas foram
içadas e os navio seguiu firme para o mar aberto. O vento soprava não com muita intensidade, mas nos
afastávamos com certa rapidez da ilha. A névoa não estava tão densa, o que permitia ver por uns dois, às
vezes três quilômetros de distância, mas também às vezes ficava limitada apenas a uns quinhentos metros.
Um marinheiro foi para o ninho da gaivotas. Uma refeição rápida for servida aos homens. Podia-se ver o ar de
alegria e de felicidade que havia tomado conta da tripulação. Estávamos rumando para casa. Meus
pensamentos voltavam-se para minha amada.
Observei o navio, o mar, as velas. Me sentia leve. Os ferimentos doíam um pouco, mas não estavam
infeccionados. Procurei pelo professor e o encontrei junto a amurada. Estava observando o mar. Tinha as
mãos para trás, unidas. Que pensamentos se passavam na mente daquele homem? Aproximei-me dele.
__ Acabou professor.
Ele me olhou por um instante e voltou a fitar o mar.
__ Sim doutor. Acabou. Nossa missão foi cumprida com êxito. Resta-nos agora seguir para nosso Reino.
Mas, observando a história toda, possolhe assegurar, em todos os meus anos como capitão que jamais
participei de tal aventura. Já participei de combates ferrenhos, de mais de uma guerra, mas uma história da
qual fomos protagonistas, nunca.
__ Se o senhor diz, o que posso dizer? Jamais passou pela minha mente que tal aventura pudesse ocorrer
comigo.
__ As coisas são assim, meu jovem. Como o mar. Quando achamos que está tudo calmo, uma
tempestade surge no horizonte. Quando estamos no meio da tempestade, e achamos que ela não irá mais
passar, tudo se acalma de forma tão imprevisível como começou. Isto é a vida.
__ O que o senhor pretende fazer agora?
__ Não sei ainda. Primeiro vou voltar para minha fazenda. Pretendo descansar um pouco. Depois, quem
sabe? Não quero planejar o futuro, para não ser ...
__ Navio a vista! - gritou o marinheiro que estava no ninho das Gaivotas.
O capitão Kurchov pegou uma luneta.
__ Onde? – gritou.
__ Vem pela popa capitão. As velas estão todas içadas.
Kurchov observou por uns instantes. Eu e o professor nos aproximamos.
__ Olhe, professor. – disse ele.
Július pegou a luneta e olhou por alguns instantes. Sua fisionomia mudou de serena para preocupada.
__ Conseguem identificar o navio?
__ Sim, respondeu o professor sem tirar o aparelho dos olhos. Veja com seus próprios olhos.
Peguei a luneta e observei por alguns instantes. A princípio só obervei uma névoa esbranquiçada. Depois
surgiu um grande navio com todas a velas içada. Vinha em nossa direção. Pude ver um movimento intenso no
convés. Havia um homem que também nos observava na proa.
__ Não, não consigo identificá-lo. Que navio será? – perguntei.
__ É o Vingador dos Mares. – respondeu.
Meu coração gelou com a declaração do professor. Olhei novamente e não tive dúvidas. Era ele mesmo.
Não pude confirmar visualmente, mas o homem que nos observava só poderia ser o Almirante Haloram.
__ Quanto tempo acha capitão ... – perguntou o professor - eu estimo entre meia hora, quarenta minutos.
__ Também penso isso, professor.
__ O que é esse tempo?
__ Esse tempo doutor, falou o Capitão, será o tempo que o navio nos alcançará. Não conseguiremos
fugir deles. São mais velozes. E do jeito que avançam, acho que não querem mais nos abordar como
fantasmas.
__ E o que faremos? – perguntei.
__ Reuniremos os homens. – afirmou.
O Capitão ordenou que todos se juntassem no convés. Depois, disse as seguintes palavras:
__ Homens, é chegada a hora da verdade. Daqui a meia hora, seremos abordados pelo maior e melhor
navio de guerra jamais construído. Os homens que compõem sua tripulação, estão bem treinados, alimentados
e estão muito bem armados. Podemos alterar o nosso rumo e tentar por entre este nevoeiro, despistá-los. Ou,
podemos continuar em nosso curso, e, esperar que nos alcancem, para então combatê-los. De nossa decisão
Assim que chegamos ao forte, o professor separou-se de mim. Não sem antes termos esta conversa.
__ Doutor, rogo-lhe que não comente estes acontecimentos com ninguém. Para todos os fins, lutamos
contra um grande navio pirata que se fazia passar pelo Vingador dos Mares. Qualquer outra história não
poderá ser mencionada. E o senhor nunca esteve a bordo do Tempestade.
__ Jamais me passou a idéia de revelar tais fatos professor.
__ Sei disso. Agora devo partir meu amigo. Quero dizer-lhe que o estimo muito. Como a um filho.
__ E o senhor, eu prezo como a um pai.
Apertei forte sua mão e dei um grande abraço aquele homem. Vi-o entrando em uma carruagem que saiu
a todo galope para fora do forte. Achei que seria a última vez que veria aquele homem.
Retomei minhas atividades, não sem antes marcar a data de casamento com Caroline. Casamos
exatamente um mês depois de meu retorno e fomos morar em cima de meu consultório médico.
Acompanhei pelos jornais todos os esclarecimentos do professor. Recebera uma grande homenagem do
rei, o título de nobreza mais elevado concedido a um homem. Aos poucos, o comércio de navios foi
retornando ao normal e a vida voltou a seguir um rumo tranqüilo.
Eu trabalhava em meu consultório e Caroline trabalhava na escola das freiras, cuidando de crianças.
Levávamos uma vida calma e serena.
Seis meses depois de meu casamento, estava trabalhando em meu consultório quando uma carruagem
parou a minha porta e dois homens desceram. Vestiam-se muito bem.
__ Doutor David?
__ Sim, respondi.
__ Gostaríamos que o senhor nos acompanhasse. Uma pessoa quer vê-lo.
__ E quem seria esta pessoa?
__ Ela pediu somente que o senhor nos acompanhasse.
Achei um tanto estranho aquele convite, mas tive um palpite sobre quem era esta pessoa. Deixei meu
assistente tomando conta e segui com eles. A carruagem seguiu por toda a orla e subiu para o mirante, um
lugar bonito, que permite uma belíssima visão do mar e da cidade. Já havia feito alguns piqueniques com
minha esposa ali. Era coberto de uma grama verde, com algumas árvores frondosas. Acabava dando em um
penhasco, sob o qual o mar batia suas ondas ruidosamente. Havia uma outra carruagem parada lá.
Desci e vi um homem observando o mar. Tinha as mãos para trás. Era o professor Július. Meu palpite
estava correto. Aproximei-me dele.
__ Professor.
__ Doutor David.
Apertamos firmemente as mãos.
__ Vejo que estás muito bem de saúde. E quero parabenizá-lo por teu casamento com Caroline.
__ O senhor soube?
__ Soube? Eu estive lá. Só que preferi não me identificar. Mas foi uma cerimônia muito bonita.
__ Por que o senhor diz isto?
O professor colocou a mão em meus ombros. Começamos a caminhar lado a lado.
__ Porque, depois que deixei o forte. Fui ter com o rei e relatei os verdadeiros fatos de nossa missão.
Contei a ele toda a verdade, todos os acontecimentos. Descobrimos nos pertences do conselheiro Magnus
documentos comprovando o seu envolvimento e o de várias pessoas, que, felizmente estão todas presas.
Mas o rei, desejando minha segurança, preferiu que eu me mantivesse em segredo. Ninguém, além do rei
conhece meu paradeiro. Apenas algumas pessoas de confiança sabem onde estou. Como aqueles dois ali.
Olhei para o lado e vi Ezra e Li. Estavam junto a carroça. Acenaram para mim e retribui o aceno.
__ Eles preferiram voltar e estão como meus guarda costas. Os outros homens são de extrema confiança
do rei.
__ Fico contente, senhor.
__ Eu também, mas manter-se no anonimato tem seus inconvenientes. Mas, isto não vem ao caso agora.
Gostaria que soubesse o desfecho desta aventura, tendo em vista que também a protagonizou.
__ Sim, gostaria de saber.
Como o professor havia dito, nunca mais ouvi falar dele ou de Li ou mesmo Ezra. A minha vida foi
tranqüila. Tive três filhos. E hoje, somos uma família muito feliz. Quanto ao estojo de madeira, o tenho
guardado em um lugar seguro.
Às vezes, chega até o porto a história de um navio grande, com as velas infladas, mesmo sem ter um
única brisa, que aparece e desaparece no meio de um nevoeiro no arquipélago de Luger. Um navio silencioso,
grande e imponente, que navega sem deixar rastros na água. Quando me perguntam o que acho desta história,
respondo sempre a mesma frase:
__ Estas coisas não existem.
Fim