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AGENTES NUCLEANTES EM POLÍMEROS TERMOPLÁSTICOS SEMI-


CRISTALINOS
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1.0 INTRODUÇÃO

Agentes nucleantes são de grande importância no processamento de


polímeros semicristalinos, pois permitem a modificação da microestrutura do
polímero e, portanto, proporcionam maior controle sobre as propriedades
macroscópicas desses materiais. Além disso, o uso desses aditivos é
economicamente benéfico, uma vez que alteram a temperatura de cristalização
dos polímeros, levando a ciclos de processamento mais curtos e economia da
energia associada (WYPYCH, 2016).
Por aditivos entende-se todos materiais adicionados a polímeros ou
blendas poliméricas visando uma aplicação específica. Apresentam-se como
substâncias dispersas nos materiais poliméricos com a função tanto de modificar
o comportamento durante o processamento, como melhorar as propriedades
finais do material (CANEVAROLO, 2004).
Os aditivos podem ser classificados conforme seu efeito sobre as
propriedades dos materiais poliméricos e segundo sua utilização prática.
Atualmente uma ampla variedade de aditivos é utilizada comercialmente, como:
fibras, cargas inertes, plastificantes, lubrificantes, pigmentos, estabilizantes
térmicos, antioxidantes, antiozonantes, retardantes de chama, agentes de
expansão, modificadores de impacto, agentes nucleantes, etc. Esses aditivos
podem ser divididos em duas categorias principais: aditivos que modificam as
propriedades físicas e mecânicas dos polímeros e aqueles que atuam na
proteção contra a degradação e envelhecimento do polímero (STEPEK et al,
1983).
Enquadram-se na primeira categoria de aditivos os agentes nucleantes.
Esses aditivos atuam na modificação da velocidade de cristalização, alterando a
estrutura cristalina no polímero e, por conseguinte, influenciam na morfologia
final dos polímeros. São frequentemente utilizados na indústria para reduzir
tempo de ciclo durante o processamento ou visando aprimorar propriedades
físico-químicas (DONG et al, 2008)
Na fabricação de materiais poliméricos é a taxa de solidificação do fundido
e a concomitante transformação na peça final que rege o processamento e o
tempo de ciclo. Tanto polímeros amorfos quanto cristalinos estão sujeitos a
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tensões resultantes durante a moldagem da peça. Esse comportamento durante


o processamento é mais crítico para polímeros termoplásticos cristalizáveis que
quando resfriam tendem a cristalizar. A extensão da cristalização e as
características dos cristais formados nesses polímeros são controladas pelo
histórico térmico, taxa de resfriamento e aditivos. Agentes de nucleação
aceleram esse processo de cristalização. (LUTZ; GROSSMAN, 2000).
A cristalização de polímeros apresenta basicamente duas etapas:
nucleação (início da formação de uma nova fase dentro de um polímero fundido)
e o crescimento de cristais (crescimento subsequente da nova fase). A
nucleação pode ser homogênea (iniciada por flutuações no polímero puro; rara
na prática) e heterogênea (iniciada por outros componentes, adicionados
intencionalmente para fins de nucleação ou impurezas ou elementos
adicionados com fim diverso) (WYPYCH, 2016).
Muitas substancias químicas diferentes podem nuclear a cristalização.
São comumente utilizados aditivos inorgânicos: talco, sílica, caulim; compostos
orgânicos: sais de ácidos mono e policarboxílicos, pigmentos; e polímeros:
copolímeros etileno-éster acrílico, PET, nylon 6 (WYPYCH, 2016).
Como a cristalização ocorre durante o processamento de materiais
poliméricos, entender seu mecanismo de atuação é relevante para prever as
propriedades finais do material. Diversas pesquisas têm investigado o efeito de
agentes nucleantes na modificação da cristalinidade dos polímeros e
consequentemente sobre suas propriedades mecânicas. As pesquisas mais
recentes têm foco especial sobre polímeros biodegradáveis oriundos de fontes
renováveis bem como de agentes nucleantes com capacidade de
biodegradação. Nesse contexto esse trabalho teve como objetivo apresentar os
conceitos básicos relacionados com a cristalização de polímeros, o mecanismo
de atuação de agentes nucleantes e resultados de pesquisas recentes
relacionadas a utilização de agentes nucleantes em polímeros biodegradáveis.

2.0 CRISTALIZAÇÃO DE POLÍMEROS SEMICRISTALINOS

2.1 Aspectos gerais


A tendência com que macromoléculas lineares são organizadas em uma
estrutura cristalina é função de múltiplos fatores como: temperatura, taxa de
resfriamento e a condição reológica do polímero (LIEBERWIRTH et al, 2000). A
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cristalização de materiais poliméricos se dá basicamente em duas fases:


nucleação (formação do núcleo cristalino), e seu crescimento.
A taxa de nucleação representa a quantidade de núcleos estáveis por
unidade de tempo e depende da temperatura do fundido. O processo de
nucleação só ocorre entre as temperaturas de transição vítrea (Tg) e de fusão
(Tm), acima de Tm a nucleação não ocorre pois a mobilidade e movimentação
de cadeias é muito elevada, enquanto abaixo da Tg a mobilidade é
extremamente reduzida para possibilitar a nucleação e crescimento. A taxa ou
velocidade global de cristalização encontra-se entre os dois máximos das taxas
de nucleação e crescimento (Figura 01), sendo a temperatura de cristalização
(Tc) a temperatura correspondente a um valor ótimo.

Figura 01 - Variação da taxa de nucleação (Ι*) e de crescimento linear


dos cristais (G) como função da temperatura de cristalização.

Fonte: CANEVAROLO, 2006.

Em polímeros semicristalinos são distinguidas basicamente duas fases:


uma fase amorfa e uma fase cristalina. Nesses polímeros a presenta da fase
cristalina é a principal responsável pelo módulo de elasticidade ou rigidez altos,
enquanto presença da fase amorfa faz com que nesses polímeros se observe os
fenômenos de fluência ou escoamento e características tempo dependentes
(CANEVAROLO, 2006).
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A microestrutura cristalina mais observada nesses polímeros é a


esferulítica. Quando um polímero semicristalino está em estado fundido e é
resfriado, a cristalização se inicia a partir de núcleos individuais e prossegue
radialmente em todas as direções. Os esferulitos são estruturas parcialmente
ordenadas formados por lamelas interligadas entre si por uma fase amorfa
(moléculas atadoras — moléculas que fazem parte de mais de um cristalito
mantendo-os ligados), as quais crescem de forma radial até que ocorra o
encontro com a superfície de outros esferulitos adjacentes.
Existem ainda outras formas de ordenamentos cristalinos menos comuns
como os “shish-kebabs”. Um campo de fluxo de cisalhamento pode facilitar a
formação dessas estruturas, que consiste em “shish” (cadeias estendidas que se
alinham ao longo da direção do fluxo) e kebabs (lamelas que crescem
transversalmente ao “shish”). Comparado à esferulitos isotrópicos, o “shish-
kebab” com orientação anisotrópica gera reforço em direções preferenciais (JIN
et al, 2015).
A Figura 02 apresenta uma ilustração da região lamelar expandida a partir
de um esferulito.

Figura 02 – Ilustração esquemática de esferulito com destaque da região


lamelar (lamela-fase amorfa-lamela).

Fonte: Upadhyay e Reddy, 2017.


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Figura 03 - Micrografias ópticas de interfases transcristalinas para o


polipropileno circundando fibras isotermicamente cristalizado a 125 C º.

Fonte: Zhang et al, 2008.

Os esferulitos (Figura 03) possui diferentes níveis de perfeição, sendo tão


relevantes quanto os grãos em materiais policristalinos, pois sua morfologia
interfere diretamente nas propriedades do material. O tamanho e o número dos
esferulitos formados dependem da taxa de nucleação; quanto esta for maior,
maior será número de núcleos formados e menor será o tamanho médio dos
esferulitos (CANEVAROLO, 2006).
Na Figura 04 pode ser observado o desenho esquemático de possíveis
modelos de microestruturas em polímeros semicristalinos (DE ROSA;
AURIEMMA, 2014).
A cristalização em polímeros semicristalinos é um processo exotérmico e
o crescimento dos esferulitos tem um desenvolvimento complexo, e ocorre
basicamente por meio de uma nucleação homogênea ou natural ou
heterogênea, quando na presença de um agente de nucleação, normalmente a
partir do resfriamento do polímero a taxas constantes ou variáveis. (WYPYCH,
2016).
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Figura 04 - Desenho esquemático de possíveis microestruturas em polímeros


semicristalinos. (A) regiões amorfas e cristalinas, onde as cadeias participam de
mais de um cristalito; (B) modelo lamelar com cadeias compactamente dobradas;
(C) modelo da micela com franjas

Fonte: De Rosa e Auriemma, 2014.

Na nucleação homogênea ocorre o alinhamento acidental de um número


suficiente de cadeias de massa do polímero fundido sendo resultado de um
processo completamente aleatório. Essa nucleação é desfavorável
termodinamicamente, pois precisa de grandes rebaixamentos de temperatura
(super resfriamento) para ser possível atingir a energia de ativação necessária.
Já na nucleação heterogênea o alinhamento das cadeias é favorecido pela
presença de heterogeneidades ou impurezas. Nesse processo, parte da energia
requerida é fornecida pelo agente nucleante (composto que pode ser sólido ou
de menor entropia) demandando um menor nível de super-resfriamento,
resultando em um maior número de núcleos formados e maior velocidade de
cristalização (RABELLO, 2000; WYPYCH, 2016; COWIE; ARRIGHI, 2007).

2.2 Mecanismo de formação


O tempo de cristalização e a temperatura são essenciais na formação da
fase cristalina. O processo de cristalização pode ser analisado tanto por meio da
termodinâmica como por meio da cinética (OKTAY; GÜRSES, 2015),
respectivamente, a partir da equação da Energia Livre de Gibbs (ΔG = (ΔU +
PV) – TΔS; em que G é a energia Livre; U é a energia interna do sistema, P a
pressão, V o volume, T a temperatura e S é a entropia), e a partir da energia
térmica do sistema (CANEVAROLO, 2006).
No polímero fundido, a orientação das macromoléculas é determinada
pela proximidade e força de interação entre elas e pelo balanço entre energia e
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entropia. No fundido, a entropia tem um valor máximo e a energia livre é mínima.


Para que ocorra a cristalização do polímero deverá existir uma grande
contribuição de U de forma a extrapolar a variação da entropia logo que ΔS (Sf
– Si) será negativo. Interação fortes entre macromoléculas favorecem o fator U
e tornam o processo de cristalização mais propício. Para que a nucleação ocorra
de forma espontanea, a variação da energia livre deverá ser menor que zero (ΔG
< 0), isto é, no caso da formação de um cristal tem-se que (CANEVAROLO,
2006):

ΔG Cristalização= G Cristal - G Fundido = ΔH - T ΔS < 0 (Equação 1)

A variação no sistema da energia livre total para a formação de núcleos é


dada por:

ΔG Formação dos núcleos = ΔGV + ΔGS + ΔGd (Equação 2)

Onde:
ΔGV = energia livre para a formação do volume cristalino;
ΔGS = energia livre para permitir a criação da superfície de contato cristal
/ fundido;
ΔGd = energia livre para a deformação elástica das moléculas (≈ zero).

Para temperaturas próximas a da fusão do polímero (Tm), a elevada


energia térmica do sistema ou alta mobilidade inibe a formação de núcleos
estáveis e beneficia o crescimento do cristalito. Já para temperaturas menores,
a mobilidade das cadeias é condideravelmente reduzida favorecendo a formação
de núcleos e desfavorecendo o crescimento do cristalito (WYPYCH, 2016).
A Figura 05 apresenta a variação da velocidade de cristalização em
função da temperatura para o poliestireno isotático, cuja velocidade de
cristalização ótima situa-se em torno de 180 °C. Na nucleação heterogênea, a
presença de um agente nucleante favorece a cristalização do polímero em
temperaturas mais altas com deslocamento da curva de velocidade para
temperaturas mais elevadas.
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Figura 05 - Velocidade de crescimento radial “r” de esferulitos de PS


isotático em função da temperatura de cristalização.

Fonte: Adaptado de Cowie e Arrighi, 2007.

Usualmente na análise do processo de cristalização fixa-se uma


temperatura de forma a retirar a variação da temperatura no tempo e simplificar
a análise do comportamento do polímero semicristalino estudado. O modelo
matemático mais utilizado para retratar o comportamento de cristalização dos
polímeros quando condições isotérmicas são aplicadas a equação de Avrami
(Eq.1) (AVRAMI,1939; LORENZO et al, 2007; DARTORA, 2018).

𝑿(𝒕) = 𝟏− 𝒆−𝒌𝒕𝒏 (Equação 1)


Onde:
X(t) = fração cristalizada no tempo t;
k = constante cinética de cristalização;
n = expoente de Avrami.

A constante k retrata as contribuições da nucleação e do crescimento dos


cristalitos e o parâmetro n relaciona-se a estrutura cristalina desenvolvida. O
índice n é formado pela soma de dois termos: nd e nn, em que nd exprime a
geometria do cristal em crescimento, podendo apresentar somente três valores:
1, 2 ou 3, que correspondem a elementos formados em uma, duas ou três
dimensões, respectivamente. Para polímeros, costuma-se observar os valores
de 2 ou 3, que seriam estruturas axiais (duas dimensões) ou esferulitos (três
dimensões). A dependência da nucleação com o tempo é representada por nn,
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onde pode-se observar os valores de 0 (nucleação instantânea) ou 1 (nucleação


esporádica) (DARTORA, 2018).
O fenômeno da nucleação normalmente está compreendido entre um
evento totalmente espontâneo e totalmente esporádico, em que se espera
valores não-inteiros para o índice de Avrami. A nucleação esporádica ou
aleatória sucede quando a temperatura de cristalização e de fusão são muito
próximas, de forma a instabilidade dos núcleos formados ser muito grande.
(LORENZO et al, 2007; DARTORA, 2018).
A partir da Equação 1, chega-se à Equação 2, a qual é utilizada para traçar
a curva de Avrami. Utiliza-se a integração da curva de cristalização isotérmica,
gerada por a partir de uma análise de calorimetria exploratória diferencial (DSC)
para obtenção dos dados.

log { −ln [1−𝑥(𝑡)] } = 𝑛.log𝑡 + log𝑘 (Equação 2)

Os valores de k e n são obtidos da reta traçada com a Equação 02,


conforme exemplo na Figura 06. A não linearidade no princípio do gráfico na
etapa inicial da cristalização deve-se à dificuldade de estabilização do
equipamento e da reduzida quantidade de calor implicada.
A distorção no final da cristalização pode ser imputada a erros em função
do comportamento não-linear da cristalização secundária. Desse modo, são
excluídos os extremos das curvas, de forma que os dados se adequem à reta do
gráfico (LORENZO et al, 2007; DARTORA, 2018).

Figura 06 - Gráfico da equação de Avrami para obtenção dos valores de


k e n.

Fonte: Lorenzo et al, 2007.


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Além dos parâmetros k e do n outro relevante parâmetro é o tempo de


meia-vida (t1/2), exposto pela Eq. 3. O tempo de meia-vida descreve o tempo
em que 50% dos cristalitos demoram para serem formados e está relacionado
com a velocidade de cristalização do material (WANG, 2010).

(Equação 2)

2.3 Avaliação e monitoramento


As propriedades dos materiais poliméricas são fortemente dependentes
de seu grau de cristalinidade. Conhecer os mecanismos e a velocidade de
cristalização do material durante seu processamento é fundamental para
controlar suas propriedades e aplicações (OKTAY; GÜRSES, 2015).
A cristalização pode ser avaliada e monitorada por diversas técnicas de
caracterização, sendo as mais empregadas a Calorimetria Diferencial
Exploratória (DSC) e a Microscopia de Luz Polarizada. Durante a cristalização
sucede a variação de calor latente, tornando possível avaliar o processo por meio
de métodos calorimétricos, como o DSC. Nesse método, utiliza-se diferentes
taxas de resfriamento para resfriar o material fundido (cristalização não
isotérmica) ou esse é resfriado de forma rápida até uma temperatura escolhida
com base em análise prévia da amostra (cristalização isotérmica). Na
Microscopia Óptica de Luz Polarizada (MOLP), pode-se observar a distribuição,
morfologia e a da taxa de crescimento dos esferulitos. As etapas de resfriamento
e aquecimento são utilizadas para estudar o crescimento isotérmico por medida
direta ou fotomicrografia (CANEVAROLO, 2006).

3.0 AGENTES NUCLEANTES


3.1 Aspectos gerais
Agentes nucleantes são empregados com intuito de nuclear a
cristalização da massa polimérica e de refinar a morfologia cristalina. Esses
promovem nucleação mais densa, redução do tamanho dos cristalitos, elevação
da velocidade de cristalização e da rigidez do material (SALOMONE, 1996).
Tais ações dos agentes nucleantes podem ser correlacionadas com a
redução do tamanho dos esferulitos e o acréscimo do grau de cristalinidade.
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Esferulitos menores proporcionam propriedades ópticas mais aprimoradas, a


exemplo maior translucidez e transparência. Por outro lado, graus de
cristalinidade maiores resultam em polímeros mais duros e quebráveis, o que
provoca aumento do módulo de elasticidade, resistência à tensão de
escoamento e à tração comparando-se com o material sem nucleação
(RABELLO, 2000).
Ademais, os polímeros com adição de agentes nucleantes exibem
maiores temperaturas de cristalização, resultando em ciclos produtivos menores.
Em decorrência disso, ocorre: redução do tempo de resfriamento, elevação da
estabilidade dimensional e do brilho e diminuição de defeitos de chupagem.
Desse modo, produtos moldados através de injeção, por exemplo, por sofrerem
solidificação em temperaturas maiores, podem ser retirados dos moldes em
maiores temperaturas, sem causar defeitos por empenamento (RABELLO,
2000).
A morfologia de polímeros semicristalinos é decisiva para a sua aplicação.
Comumente, nucleações homogêneas, em virtude da ampla distribuição de
tamanhos de cristais, não provocam propriedades mecânicas consistentes,
sendo a cristalização regulada pelas condições de processamento. Por outro
lado, nucleações heterogêneas, promovem cristais de tamanhos consistentes
com as dimensões. E, uma vez que no início da cristalização todos os núcleos
estão presentes, o crescimento é uniforme e o controle da cristalização pode ser
realizado através de agentes nucleantes.
A adição de um agente de nucleação é o método com mais recomendado
para o controle da cristalização. Tais agentes devem produzir partículas muito
pequenas no interior massa fundida de polímero e tendem a ter estruturas rígidas
planares que serão os locais nos quais os primeiros segmentos do polímero irão
ancorar e formar os núcleos de embriões estáveis (GALESKI, 1995).
A nucleação sofre redução com o aumento da temperatura, que provoca
fusão dos cristalitos menores, resultando em menor número de núcleos. Em
contrapartida, esse aumento da temperatura promove maior difusão das
estruturas decorrentes da maior mobilidade dos cristalitos formados.
Caso o polímero fundido for submetido à resfriamento lento, ocorrerá
formação de poucos núcleos e cristais maiores, contudo se for rápido, haverá
formação simultânea de muitos núcleos. Polímeros submetidos às mesmas
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condições de resfriamento após fusão, com e sem adição de agente nucleante,


apresentam características distintas. Polímeros submetidos às mesmas
condições de resfriamento após fusão, com e sem adição de agente nucleante,
apresentam características distintas. Em polímeros nucleados, observa-se maior
concentração de núcleos e formação concomitante de cristalitos. Nessa
situação, um cristalito em desenvolvimento encontrará as fronteiras de outros
cristalitos mais velozmente, derivando em esferulitos menores (IPIRANGA
PETROQUÍMICA, 2003).
Em processos de caracterização têm-se empregado a interação da luz
com os cristalitos formados. Os índices de refração da luz na direção radial e
tangencial de esferulitos são distintos, implicando na birrefringência
característica quando são analisados sob luz polarizada. A transmissão da luz
polarizada varia conforme as regiões do esferulito, o que produz aparência de
regiões com maior clareza interceptadas por regiões mais escuras (MAATY et
al, 1998). A diferença entre imagens geradas por Microscopia óptica (MO) e
Microscopia óptica polarizada (MOP) pode ser visto na Figura 07.

Figura 07 - Imagens MOP (a, b) e MO (c, d) de esferulitas de PHB em


camadas. A barra de escala representa 100 µm.

Fonte: Zhang et al, 2016.

No que diz respeito à ação de agentes nucleantes, essa varia conforme


sua concentração, forma de incorporação, tipo e das condições de
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processamento da resina. E quanto à classificação, os nucleantes podem ser


classificados em substâncias sensíveis à fusão (melt sensitive) e substâncias
não sensíveis à fusão (melt insensitive).
As substâncias sensíveis à fusão apresentam temperatura de fusão
menor que a temperatura de processamento polimérico (no caso o PP), assim,
tais substâncias se dissipam no polímero como uma rede gelatinosa, conferindo
uma boa dispersão. Em contrapartida, as substâncias não sensíveis à fusão
apresentam temperatura de fusão maior que a temperatura de processamento
do polímero, sendo que a dispersão varia mediante o nível de homogeneização
da mistura polímero / agente nucleante (DONG et al, 2008 e IPIRANGA
PETROQUÍMICA, 2003).
Aditivos devem possuir características específicas para que possam agir
como agentes nucleantes, dentre elas, destacam-se: ser insolúvel no polímero
(em geral), ser umedecido ou adsorvido pelo polímero, apresentar ponto de
fusão superior ao do polímero, exibir fácil e homogênea dispersão no polímero
(MERCIER, 1990).
Quanto à concentração dos agentes nucleantes, em termos práticos, tem-
se adotado teores menores que 0,50% (5.000 ppm), sendo que para nucleantes
menos eficazes, como o talco, podem ser empregados valores mais altos (até
1,0% (10.000 ppm).
Elevados graus de cristalinidade são promovidos por grande parte dos
agentes nucleantes, ocasionando elevação do módulo de elasticidade (rigidez),
da dureza, da tensão no escoamento e do alongamento no escoamento,
comparando-se com o polímero sem nucleação. Em decorrência do reduzido
tamanho dos esferulitos, o material nucleado exibe melhores propriedades
óticas, maiores resistências ao impacto e alongamento na ruptura, uma vez que
as tensões exercidas no esforço mecânico são difundidas mais uniformemente.
Esses agentes nucleantes também proporcionam resultados econômicos mais
satisfatórios na transformação da resina, especialmente no processo de injeção,
posto que promove diminuição do tempo de resfriamento do molde (BOTKIN et
al, 2002).
Aditivos como sais de ácidos carboxílicos, sorbitóis e benzoatos de
alumínio, sódio ou potássio apresentam elevada ação nucleante para o PP por
exemplo. Já sais de ácidos alifáticos (mono ou dibásicos) e arilalquil ácidos (tal
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como fenilacetato de alumínio, succinato de sódio e glutamato de sódio) exibem


ação mediana. Em contrapartida, aditivos inorgânicos como sílica, negro de fumo
ou caulim apresentam baixa ação nucleante (KURJA; MEHL, 2001).
A Figura 08 exibe um esquema resumido de um processo de cristalização
de um polímero nucleado e um não nucleado. Observa-se na Figura 08 que o
agente nucleante afeta a morfologia do final do material e, em consequencia,
suas propriedades.

Figura 08 - Representação do processo de cristalização de um polímero


não nucleado e de um nucleado.

Fonte: Dotson, 2008.

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