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Tem a presente ação civil pública a seguinte pretensão:
I – Demonstrar que o réu oferta os produtos aos consumidores
sem preço fixado na gôndola;
II – Demonstrar que o réu oferta produtos sem etiqueta de
preço fixados no mesmo;
III – Demonstrar que nos produtos ofertados pelo réu há
variação entre os preços da gôndola, da etiqueta e da barra de leitura de forma
contumaz;
IV – Demonstrar que a conduta do réu é prática abusiva;
V – Demonstrar que as práticas abusivas causam dano moral
coletivo (difuso);
VI – Demonstrar que houveram Termos de Ajuste de Conduta
firmado com outros grandes supermercados (ICP: 55 usque 68);
VII – Demonstrar que outras ações com o mesmo objeto e causa
de pedir já foram apresentadas contra outros grandes supermercados com
liminares deferidas, sentenças julgadas procedentes e decisões do Tribunal de
Justiça de Goiás que mantiveram sentença de primeiro grau (ICP: 69 usque 87) .
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Para melhor compreensão, apresentamos o índice:
* Intróito..........................................................................................01
1 – Dos fatos ...................................................................................04
2 – Da legitimidade do Ministério Público na defesa dos direitos e interesses
difusos. ..........................................................................06
2.1 – Da necessidade da ação coletiva .............................................11
2.2 – Da competência da Justiça Estadual e da Comarca de Goiânia, Estado de
Goiás...............................................................................12
3 – Da Configuração da relação de consumo e incidência do Código de Defesa do
Consumidor ....................................................................13
3.1 – Da prática abusiva. ................................................................17
3.2 – Dos preços que na barra de leitura são menores do que os fixados na etiqueta e
na gôndola .....................................................22
4 – Do vício de qualidade por falha na informação e a responsabilidade objetiva do
réu .....................................................23
5 – Do dano moral coletivo (difuso) ..................................................25
5.1 – Do quantum da condenação em dano moral coletivo ...............30
6 – Da inversão do ônus da prova ...................................................32
7 – Do pedido de liminar .................................................................34
7.1 – Da multa no caso de descumprimento da liminar ...................36
8 – Do pedido .................................................................................37
8.1 – Dos pedidos em sede de liminar .............................................37
8.2 – Dos pedidos em sede de mérito ...............................................38
1 – DOS FATOS.
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Apurou-se no Inquérito Civil que o réu oferta produtos aos
consumidores sem fixação de preço na gôndola1 em muitos dos produtos
pesquisados. Em pesquisa realizada pelo PROCON-GOIÁS às folhas 06 usque 10 do
Inquérito Civil Público, dos 270 produtos pesquisados foram constatados 55 produtos
sem o preço fixado na gôndola, conforme relatório às folhas 06 do inquérito civil
público.
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“Gôndola: 3 Market, Estante ou conjunto de prateleiras em supermercados”
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2 – DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA
DEFESA DOS DIREITOS E INTERESSES DIFUSOS.
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Código de Processo Civil: Art. 3 º. Para propor ou contestar uma ação é necessário ter interesse e
legitimidade.
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Lei 7.347/85: Art. 1º. Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações
de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
II – ao consumidor;
V – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo;
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Consumidor ao definir o que são as subespécies de interesse coletivo em sentido
amplo, in verbis:
4
Lei 7.347/85: Art. 5 º. A ação principal e a cautelar poderão ser propostas pelo Ministério Público,
pela União, pelos Estados e Municípios. Poderão também ser propostas por autarquia, empresa
pública, fundação, sociedade de economia mista ou por associação que:
5
Lei 8.625/93: Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei
Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público:
IV – promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei:
a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos
bens e direitos de valor artísticos, estético, turístico e paisagístico, e a outros interesses difusos,
coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;
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I – o Ministério Público;”
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Diante do exposto, indagamos: Em uma mesma ação civil pública
pode ser discutido duas ou as três espécies de interesses coletivos em sentido amplo?
A resposta é afirmativa. Pela leitura da causa de pedir deduzimos que é necessário,
em uma única ação civil pública, fazer pedido mediato na defesa de direitos e
interesses difusos e na defesa de direitos e interesses individuais homogêneos com
relevância social. Mas no caso em questão discute-se apenas a defesa de direitos e
interesse difusos.
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A ação coletiva tem por finalidade discutir em juízo questões de
interesse de um número indeterminado de pessoas ou de um grupo, classe ou
categoria de pessoas, assim evitando que os cidadãos lesados abarrotem o judiciário
com ações individuais. Imaginemos que cada consumidor lesado em seu patrimônio e
na sua moral procurasse o Poder Judiciário para se ver ressarcido e indenizado a sua
moral lesada. O Poder Judiciário ficaria assoberbado de trabalho dificultando a
prestação jurisdicional de outras lides com grande desprestígio para a administração
da justiça.
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In casu, a causa remota (fato gerador) deste direito refere-se a
defesa de interesses difusos. O interesse difuso resta configurado, pois o pedido
mediato tem por fim a proteção de pessoas indeterminadas que são potencialmente
consumidoras dos produtos ofertados pelo réu, mas o local do dano e a sua
abrangência tem repercussão mais intensa na comarca de Goiânia, assim, este é o foro
competente para apresentar a ação civil pública, nos termos do artigo 93, inciso II do
Código de Defesa do Consumidor:
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O réu são os fornecedores, pois são eles as pessoas jurídicas
privadas que desenvolvem atividades de comercialização de produtos, ofertando aos
consumidores, sendo que sua atividade tem subsunção ao artigo 3 º do Código de
Defesa do Consumidor , in verbis:
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O princípio da igualdade (CF: art. 3, inciso I e 5 º, inciso I e outros)9
insculpido explicitamente e implicitamente em diversas partes da Constituição
Federal é um princípio nuclear a iluminar o operador do direito na busca de solução
de conflitos de interesses intersubjetivos surgidos na complexidade da vida moderna e
na realização da justiça. Portanto, este princípio aplica-se nas relações contratuais,
buscando um equilíbrio de forças entre o sujeito ativo e sujeito passivo da relação
jurídica. Porém, a vida moderna nos mostra que é impossível um equilíbrio de forças
entre aqueles que exercem atividade mercantil (fornecedores) e aqueles que adquirem
um produto como destinatário final (consumidor) e, por tal razão, o Constituinte
concedeu uma proteção especial aos consumidores (Constituição Federal: art. 5 º
XXXII e art. 170, inciso V e ADCT art. 48) 10 por serem eles hipossuficientes e a parte
vulnerável da relação jurídica.
12
parte. Esta é a interpretação teleológica do artigo 4 º do Código de Defesa do
Consumidor, in verbis:
11
Código de Proteção e Defesa do Consumidor.
13
Assim, conforme acima exposto, estamos diante, no caso em
testilha, de dois conceitos de consumidor por equiparação 12, o que torna mais nítida a
relação de consumo.
12
Ou consumidor by standart, como prefere Nelson Nery Junior.
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Assim ensina Claudia Lima Marques, Contrato no Código de Defesa do Consumidor, editora Revista
dos Tribunais, 4 º edição,p. 591: “Como mencioamos anteriormente (Parte I, item 3.2), a expressão de
Nicole Chardim (autonomia racional” é feliz, pois indica a importância dos novos direitos dos
consumidores e dos novos deveres dos fornecedores, em especial, dos deveres anexos de informar, de
cooperar, de tratar com lealdade e com cuidado o consumidor no momento de formação dos
contratos, pois somente se asseguramos este novo patamar de conduta no mercado poderemos
alcançar uma vontade realmente refletida, autônoma e “racional” dos consumidores.”
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Código de Defesa do Consumidor: Art. 1 º . O presente Código estabelece normas de proteção e
defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5 º, inciso XXXII, 170,
inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas disposições Transitórias.
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Os deveres anexos dos fornecedores determinam que eles devem
pautar a sua conduta com os consumidores na venda de seus produtos e serviços com
cooperação, lealdade, transparência, boa-fé, gerando confiança e informando o
consumidor sobre os seus produtos. De outro lado, um dos requisitos do Código
Comercial para caracterizar o empresário é o monopólio da informação, pois é o
empresário/fornecedor que orquestra sua atividade comercial e avalia os seus risco,
assim, tem ele noção dos riscos quando oferta seus produtos e serviços e ficará numa
situação privilegiada em relação ao consumidor. É justamente por conhecer seu
produto ou serviço é que tem ele o dever de informar o seu parceiro contratual
vulnerável, qual seja, o consumidor. O dever de informar do fornecedor tem
subsunção ao artigo 31 do Código de Defesa do Consumidor. in verbis:
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comando do artigo 31, pois não fixam o valor dos produtos nas gôndolas e
etiquetas dos preços nos produtos. Ademais, não cumprem o princípio da
vinculação da oferta, conforme o comando do artigo 30 do Código de Defesa do
Consumidor, pois em muitos produtos o preço ofertado na gôndola ou na etiqueta
de preço do produto, quando estes existem, não corresponde ao preço da barra
de leitura, pagando o consumidor pelo produto um preço maior em muitas das
vezes.
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XV – estejam em desacordo com o sistema de proteção
ao consumidor;
...,...,...
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A fornecedora poderia vir a alegar na sua defesa que é
impossível informar precisamente o consumidor sobre o preço, pois são
inúmeros os produtos e, ademais, sofre a fornecedora prejuízo, pois alguns
produtos tem o preço na barra de leitura menor do que o contido na gôndula ou
na etiqueta de preço fixada no produto. Tal argumento seria um absurdo e ofensivo
ao bom senso de um homem médio. QUANDO O CONSUMIDOR VAI COMPRAR
MANTIMENTOS ELE VAI AO SUPERMERCADO E SE QUISESSE TESTAR
SUA SORTE IRIA A LOTERIA. SE O CONSUMIDOR ADQUIRE PRODUTOS
EM QUE O PREÇO DA BARRA DE LEITURA FOI MENOR DO QUE O
FIXADO NA ETIQUETA OU NA GÔNDOLA, NÃO FOI SORTE DO
CONSUMIDOR E SIM INCOMPETÊNCIA DO FORNECEDOR EM
ORGANIZAR A SUA ATIVIDADE COMERCIAL. A relação jurídica de compra e
venda regida pelo Código de Defesa do Consumidor tem natureza paritária onde o
preço é certo e determinado e não aleatório.
Caso seja verdade que o réu não conseguem organizar sua atividade
comercial e acabem vendendo alguns produtos por preço menor do que o contido na
etiqueta e na gôndola, concluímos que esta ação civil pública tem dupla finalidade,
quais sejam, a proteção do consumidor e a proteção do réu, pois com a imposição de
multa por unidade de produtos sem informação correta ou com diferenças de preço
para menor, o réu ficariam incentivados a organizar sua atividade comercial e,
consequentemente, não sofreriam prejuízo. Esta ação civil pública promoveria por
vias obliquas a harmonização dos interesses dos fornecedores e consumidores
prescrito no artigo 4 º, inciso III do Código de Defesa do Consumidor.
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firmar a avença e o pactuado era lei entre as partes. Porém esta concepção
desconsiderava a vulnerabilidade econômica e social dos contraentes e por tal razão
não atende as necessidades do homem deste século. A nova concepção de contrato
limita a autonomia da vontade e impõe deveres aos contratantes mais fortes que oferta
produtos a um número indeterminado de pessoas.
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“Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo
duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de
qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao
consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por
aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do
recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas
as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a
substituição das partes viciadas.
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como já diz o ditado, “uma andorinha só, não faz verão”, para impedir esta conduta
lesiva do réu é necessário que milhares de consumidores abarrotem o Poder Judiciário
de ações.
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princípio da confiança coletivo, o princípio da transparência coletivo, o principio
da boa-fé obejtiva coletiva, o principio da lealdade coletivo. Assim, o fornecedor
que lese a moral coletiva (difusa) deve ser condenado a ressarcir a um fundo uma
quantia em dinheiro com a finalidade de evitar que outros venham a querer lesar a
moral coletiva.
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Os réus são incentivados a manterem sua prática abusiva por
uma questão de estatística, pois é rentável lesar o consumidor. De cada cem
consumidores lesados, poucos percebem que foram lesados, os mais atentos
teram o dissabor de ter de reclamar e ainda seram taxados como increnqueiros
por brigarem por centavos de real. Se algum consumidor inconformado
apresentar sua pretensão ao Poder Judiciário visando o ressarcimento de danos
patrimoniais e morais receberá uma indenização muito pequena. Enfim, é
rentável lesar o consumidor.
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Art. 5 º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito
a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
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Estadual, entre outros) de defesa do consumidor. As indenizações por dano moral
coletivo deverão ser carreadas para o FUNDO ESTADUAL DE DEFESA DO
CONSUMIDOR, pois somente as a aplicação destes recursos na defesa da própria
sociedade de consumo será capaz de minimizar os danos morais sofridos pela
comunidade de consumidores goianos.
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O princípio da razoabilidade e da proporcionalidade são vetores
para a fixação do quantum deve ser condenado o réu em dano moral coletivo.
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Tal valor, no que pese ser uma quantia inferior à estimativa dos
ganhos pelo réu, pensamos ser uma valor justo para incentivar o réu a cumprirem os
seu deveres anexos com os seus consumidores.
6– DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA.
(...);
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Na relação contratual entre o réu e seus consumidores
(determinados e indeterminados), estes se encontram em estado de hipossuficiência
jurídica e fática, visto que estão em situação de extrema desvantagem.
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“Art. 84 Na ação que tenha por objeto o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da
obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático
equivalente ao do adimplemento.
(...)
O fumus boni iuris está presente, pois a conduta do réu é lesiva aos
princípios da transparência, da lealdade, da confiança, da boa-fé objetiva e da
informação que são princípios norteadores do Código de Defesa do Consumidor e
lesivas as normas jurídicas prescritas nos artigos 4 º, 6 º, inciso III, 30, 31, 39, inciso
V e 51, inciso IV, XV, §1º e inciso I, II e III todos do Código de Defesa do
Consumidor. O consumidor tem o direito inafastável de ser informado corretamente e
precisamente sobre o produto, especificamente, seu preço.
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Os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora estão
presentes e justificam a concessão da liminar por parte do Poder Judiciário para coibir
esta prática abusiva perpetradas pelos réu.
(...)
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Assim, para que o Estado-Juiz não fique desmoralizado em razão de
eventual não cumprimento da liminar, faz-se necessária a fixação de multa pecuniária
para o efetivo cumprimento das decisões judiciais e realizando o poder-dever do
Estado no exercício preponderante da jurisdição.
8 – DO PEDIDO.
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Ante o exposto, o Ministério Público requer em sede de mérito:
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etiqueta/preço da barra de leitura, sob pena de multa
de R$1.000,00 (mil reais) por unidade de produto
exposto na prateleira, a ser destinada ao Fundo
Estadual de Defesa do Consumidor, Criado pela Lei
12.207, de 20 de dezembro de 1.993 e ao Fundo
Municipal de Defesa do Consumidor criado pela lei
municipal 7.170, de 29 de dezembro de 1.997, sendo 50%
para cada fundo, conforme fundamentado no item 7;”
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Dá-se a causa, para todos os fins, o valor de R$ 1.000.000,00 (Um
milhão de reais).
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