COMPROMISSO EM
FAZER MELHOr
Somos uma empresa brasileira. E, por isso, temos um compromisso com o Brasil.
O compromisso de trabalhar todos os dias pensando em uma coisa:
o que podemos fazer melhor?
Fazer melhor para os consumidores, com base na confiança e no bom atendimento.
Para os revendedores, com inovações e apoio ao negócio. Para os empresários,
com parceria e solução completa. Para os colaboradores, com um ambiente de
trabalho saudável e estimulante. E, principalmente, fazer melhor para o país.
Há mais de 79 anos, é assim que a gente faz.
DO BATOM
À JOIA DA FESTA.
PAGUE COM
CARTÕES CAIXA.
POR QUE NÃO?
68
Ciro Hashimoto; Executivos multiplataforma: Cristiane Paggi, Selma Pina, Milton Luiz Abrantes,
87 Christian Lopes Hamburg, Taly Czeresnia Wakrat; Segmentos – Moda, Beleza e Higiene Pessoal
HELIO GUROVITZ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . l Diretor de negócios multiplataforma: Cesar Bergamo; Executivas multiplataforma: Adriana
Pinesi Martins, Ana Paula Boulos, Eliana Lima Fagundes, Juliana Vieira, Selma Teixeira da Costa, Soraya
O risco adolescente de idealizar o passado Mazerino Sobral; Segmentos – Casa, Construção, Alimentos e Bebidas, Higiene Doméstica e
Saúde l Diretora de negócios multiplataforma: Luciana Menezes; Executivos multipla taforma:
Giovanna Sellan Perez, Rodrigo Girodo Andrade, Valeria Glanzmann; Segmentos – Mobilidade,
Serviços Públicos e Sociais, Agro e Indústria l Diretor de negócios multiplataforma: Renato
Augusto Cassis Siniscalco; Executivos multiplataforma: Andressa Aguiar, Diego Fabiano, Cristiane
VIDA
Soares Nogueira, João Carlos Meyer, Priscila Ferreira da Silva; l Segmentos – Educação, Cultura,
Lazer, Esporte, Turismo, Mídia, Telecom e Outros l Diretora de negócios multiplataforma:
Sandra Regina de Melo Pepe; Executivos multiplataforma: Ana Silvia Costa, Guilherme Iegawa
Sugio, Lilian de Marche Noffs, Dominique Petroni de Freitas; l EGCN – Consultora de marcas
EGCN: Olivia Cipolla Bolonha; l Escritórios Regionais l Gerente multiplataforma: Larissa Ortiz;
MENTE ABERTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 Executiva multiplataforma: Babila Garcia Chagas Arantes; Gerente de Eventos: Daniela Valente;
Coordenador Opec Off-Line: José Soares; l Unidades de Negócio – Rio de Janeiro – Gerente
O filme A chegada mostra como a linguagem multiplataforma: Rogerio Pereira Ponce de Leon; Executivos multiplataforma: Daniela Nunes,
Lopes Chahim, Juliane Ribeiro Silva, Maria Cristina Machado, Pedro Paulo Rios Vieira dos Santos;
influencia a forma como pensamos l Unidades de Negócio – Brasília – Gerente multiplataforma: Barbara Costa Freitas Silva;
Executivos multiplataforma: Camilla Amaral da Silva, Jorge Bicalho Felix Junior; l Estúdio
Globo – Diretor de Arte: Rodolpho Vasconcelos; Editora Executiva: Vera Ligia Rangel Cavalieri
BRUNO ASTUTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 AUDIÊNCIA l Diretor de Marketing: Cristiano Augusto Soares Santos; Diretor de Clientes e
Planejamento: Ednei Zampese; Gerente de Vendas de Assinaturas: Reginaldo Moreira da Silva;
Wanderléa: “Não cheguei nem a fumar maconha” Gerente de Criação: Valter Bicudo Silva Neto; Coordenadores de Marketing: Eduardo Roccato
Almeida, Patricia Aparecida Fachetti
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ÉPOCA é uma publicação semanal da EDITORA GLOBO S.A. – Avenida 9 de Julho, 5229, São Paulo (SP),
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O conjunto da obra ameaça Temer da Editora Globo S .A ., é preciso, confiável e livre de erro ou distorção e é uma representação equitativa dos
dados e informações de GEE sobre o período de referência, para o escopo definido; foi elaborado em conformi-
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PRIMEIRO
PLANO JOSÉ IVO SARTORI
O BOM EXEMPLO
DA HISTÓRIA
O governador do Rio
Grande do Sul, como outros
políticos de sua geração, é
personagem acidental de um
momento que pode mudar
o Brasil para sempre
D
Marcos Coronato
o governador José Ivo Sartori, do Rio Grande
do Sul, não se pode dizer que seja um radical
ou alguém extremamente apegado a uma fór-
mula para governar. Sua trajetória política
cobriu todo um lado do espectro ideológico
no Brasil: militou no movimento estudantil e no antigo
Partido Comunista Brasileiro, entrou no MDB, oposição
autorizada pela ditadura militar, e assim deslizou para este
imenso vácuo de ideias e convicções que se chama PMDB.
Por esse partido se elegeu prefeito de Caxias do Sul, em 2004,
e governador do Rio Grande do Sul, em 2014. Pode-se dizer
que ele tem uma trajetória da esquerda para o centro (na
interpretação generosa de que a falta de posições do PMDB
configure um centro). Surpreende positivamente que ele INSPIRAÇÃO
tenha, na semana passada, ilustrado suas intenções com Ivo Sartori com Michel
uma referência à liberal Margaret Thatcher, primeira-mi- Temer em Brasília,
em 2016, e Margaret
nistra do Reino Unido de 1979 a 1990, uma política das Thatcher no Parlamento
mais convictas e aguerridas que já se viu. britânico, em 1979. Ela se
Sartori anunciava, no Palácio do Piratini, sede do governo tornou referência para
gaúcho, um conjunto de medidas econômicas e financeiras. quem precisa lembrar
que o Estado apenas
Elas criam a possibilidade de as contas públicas do Rio Gran- administra o dinheiro
de do Sul se colocarem numa trajetória saudável, no futuro. em nome do cidadão
“Não causamos essa situação, mas precisamos enfrentá-la
com ações e medidas concretas, inclusive com sacrifício de
todos. Mas não basta um ato ou conjunto de medidas”, dis-
se.“Essas políticas precisam continuar. Não será um homem
só, um governo só, ou uma equipe só que fará isso.” Ao en-
cerrar o discurso, mencionou a governante britânica. “Não
concordo com todas as ideias de Thatcher, mas ela estava
certa quando disse que ‘não existe dinheiro público, mas sim
dinheiro dos pagadores de impostos e das famílias’.”
Pode-se amar ou odiar Thatcher, a depender de onde
cada um se situa no espectro político, mas nunca faltaram
a ela clareza e convicção, materiais tradicionalmente es-
cassos entre os líderes brasileiros e absolutamente neces-
sários para que o país encontre o rumo para fora da crise.
A primeira-ministra assumiu o governo num momento
em que os gastos cresciam mais rapidamente que a eco-
nomia e fez um ajuste radical. A dívida pública e a inflação
caíram como ela previa. O desemprego cresceu num pri-
meiro momento, problema compensado mais tarde com
a criação de novos negócios, e pode-se criticá-la por isso.
Mas, se você é de esquerda, deveria adorar a possibilidade
de ter uma oponente como ela, que fazia o que dizia, dizia
o que pensava e pensava alguma coisa.
Para sermos justos com Sartori, ele já havia apoiado
iniciativas de enxugamento estatal defendidas por gover-
nadores anteriores, como seu correligionário Antônio Brit-
to (que ocupou o cargo de 1995 a 1999) e a tucana Yeda
Crusius (que governou de 2007 a 2011). Nada do que seus
24 I ÉPOCA I 28 de novembro de 2016 Fotos: Beto Barata/PR e Owen Franken/Corbis via Getty Images
José Ivo Sartori
Pode-se odiar PP, e Tarso Genro, do PT. Na reta final do primeiro turno,
conseguiu emplacar a imagem de homem do povo e via
Thatcher, mas
alternativa aos políticos tradicionais. Ganhou o apelido de
“gringo”, dado aos descendentes de italianos da Serra Gaú-
cha. As pesquisas feitas na véspera do pleito mostravam
ela tinha clareza que Sartori havia ganhado mais de 20% das intenções de
voto em apenas dois dias. No segundo turno, com apoio
e convicção,
da maioria dos partidos derrotados no primeiro turno,
manteve-se à frente de Tarso. Foi eleito com 61% dos votos.
O governador faz parte de uma geração muito especial de
enfrentamento
dedicação que os políticos em geral no Brasil. Mas porque
desabou sobre a cabeça deles o resultado de décadas de ir-
responsabilidade com as contas públicas. Caberá a eles ten-
da crise atual tar reagir. Daqui a décadas, historiadores olharão para trás,
para este período em que o país atravessou a recessão mais
severa de todos os tempos, e saberão quais desses políticos
fizeram o que era preciso. Sartori talvez seja incluído nesse
grupo, se tiver brio para continuar a suportar as vaias. u
Garotinho solto
O plenário do Tribunal Superior
Eleitoral revogou na quinta-feira,
dia 24, a prisão do ex-governador do
Rio de Janeiro Anthony Garotinho,
depois do pagamento de uma
fiança de R$ 88 mil. Ele cumpria
prisão domiciliar após decisão da
ministra Luciana Lóssio, na semana
passada. Garotinho é acusado
de comprar votos com dinheiro
público na eleição municipal
em Campos, Rio de Janeiro.
Neonazistas pró-Trump
Em um evento em Washington na semana passada,
supremacistas brancos fizeram saudações nazistas
para celebrar a vitória de Donald Trump nas eleições
presidenciais. Richard Spencer, responsável pela
reunião, iniciou seu discurso com um “Heil Trump!”, EXPURGO BB mais enxuto
expressão usada na Alemanha nas décadas de 1930 O governo da O Banco do Brasil anunciou
e 1940 para saudar Adolf Hitler. Trump repudiou o Turquia anunciou no domingo, dia 20, um plano
ato. Na quarta-feira, dia 23, sua equipe de transição na terça-feira, dia de corte de despesas. Vai fechar
anunciou a republicana Nikki Haley, governadora 22, a exoneração 781 agências, cerca de 14% do
da Carolina do Sul, como nova embaixadora do de mais total. Foi anunciado também
país nas Nações Unidas. Haley é a primeira mulher um plano de incentivo a
indicada por Trump para um cargo do alto escalão. aposentadorias, para reduzir em
10 mil o número de funcionários.
O banco espera economizar R$
Pedala, Neymar 750 milhões com o corte, que
acontecerá ao longo de 2017.
Na quarta-feira, dia 23, o
Ministério Público espanhol
pediu dois anos de prisão para
o atacante Neymar, acusado
de fraude nos impostos
referentes à transferência funcionários
do Santos para o Barcelona, públicos,
em 2013. Além da prisão, a acusados de
ligação com
promotoria ainda pede que a tentativa
o craque pague uma multa frustrada de
de y 10 milhões, mais de golpe militar
R$ 35 milhões. Neymar em julho.
pode recorrer da decisão.
SEM PAZ No Iraque, um homem descansa em um acampamento em Khazar depois de conseguir escapar de
Mossul, na quarta-feira, dia 23. A cidade, dominada pelo Estado Islâmico, é o atual palco de uma violenta disputa entre
o Exército iraquiano e o grupo terrorista.
220.267
155.818
83.177
Ligações perigosas 39.921
A Polícia Civil de São Paulo prendeu 31.160
na terça-feira, dia 22, 35 pessoas,
a maioria advogados, suspeitas de
trabalhar para a facção criminosa 1974 1984 1994 2005 2015
que domina os presídios do estado.
% de óbitos de menores de 1 ano ante todos os óbitos do país
Entre os presos está Luiz Carlos dos
Santos, vice-presidente do Conselho
Estadual de Defesa dos Direitos
de Pessoa Humana de São Paulo,
acusado de receber salário para
passar informações aos bandidos. Fonte: IBGE
“Escrevi para
uma advogada
feminista
e para Hillary
Clinton,
então
primeira-
dama”
Meghan Markle,
atriz e namorada do príncipe
Harry da Inglaterra,
sobre como, aos 11 anos,
conseguiu mudar
um comercial
machista na televisão
Marcelo Calero, ministro da Cultura, ao pedir colega Paulão (PT-AL) pediu investigação de Geddel
demissão. Ele acusou o colega Geddel Vieira
Lima de pressioná-lo a liberar a construção do “A possibilidade de
edifício La Vue, de 30 andares, em uma área de “Vocês percebem que não se criminalizar o
valor histórico na Bahia. O Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico (Iphan), subordinado ao não dão destaque caixa dois no passado
Ministério da Cultura, permite 13 andares
ao apartamento do não significa anistia”
Geddel como deram Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente
“Deixar cargo por isso, ao meu tríplex” do Senado, simpático à inclusão, no pacote
anticorrupção, de uma emenda para impedir
pelo amor de Deus” Lula, ex-presidente, em aparente punição a casos anteriores de caixa dois
Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de ato falho. Antes, Lula dizia que
Governo. Cinco dias depois, pediu demissão o tríplex em Guarujá não era dele
“Não há anistia de
“Quero que me “Só faremos o Brasil um crime que não
digam qual foi o crescer substituindo existe. É só um
crime praticado pelo o ilusionismo jogo de palavras
ministro Geddel” pela lucidez” para desmoralizar
André Moura (PSC-SE), líder Michel Temer, presidente, ao comparar o e enfraquecer o
do governo na Câmara governo de Dilma Rousseff com o dele
Parlamento brasileiro”
Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da
Câmara. Pressionado pela opinião pública
DE D O NA CAR A a não anistiar o caixa dois, Maia adiou a
votação do pacote anticorrupção
“O resu
ultado se dá de
forma mais pessoal,
em enccontros de
aconseelhamento”
Sérgio Cabral Filho (PMDB), ex-governador
do Rio de Janeiiro, preso sob suspeita de
corrupção. Ele disse à Polícia Federal que
prestou consulttoria oral a empreiteiras,
sem produzir reelatórios ou outras
provas de que prestou
p um serviço
Mãos à obra
O governo se recusa a informar
quais itens estão sendo utilizados na
pequena reforma feita no Palácio da
Alvorada para receber a família do
presidente Michel Temer. Classifica
como reservados os documentos
com as informações relativas à
segurança do presidente da República,
cônjuge e filhos. Na semana passada,
EXPRESSO revelou que foram gastos
R$ 20.200 nas intervenções.
Em campanha
O procurador da República
Deltan Dallagnol vai continuar
em campanha pela aprovação do
projeto das dez medidas contra a
corrupção. Ele e seus colegas do
Ministério Público acreditam que
as ameaças à Lava Jato são reais
caso o pacote anticorrupção não
vingue. Os investigadores sempre
Próximos capítulos citam que o efeito moralizador da
Fé Migué
Em meio à discussão do pacote Enivaldo Quadrado, ex-sócio
anticorrupção, o presidente da Câmara da corretora Bônus Banval,
dos Deputados, Rodrigo Maia, foi condenado no mensalão, apresentou
pressionado a acelerar a aprovação da comprovante de 1.242 horas de
proposta de emenda constitucional que serviço comunitário numa escola de
isenta templos religiosos de pagar IPTU São Paulo ao juiz Sergio Moro. Tenta
em imóveis alugados. O prefeito eleito comovê-lo para que sua condenação
do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella na Lava Jato seja amena. Ele é
(PRB), esteve no gabinete de Maia. acusado de lavar dinheiro junto com
o doleiro Alberto Youssef.
Conveniência
Os petistas do Senado estão inclinados Malhação
a apoiar a indicação do peemedebista Investigadores da Operação Calicute
Eunício Oliveira (CE) para a presidência avançam em informações sobre João
da Casa em fevereiro. Concordância Pedro Neves Cabral, filho do ex-
ideológica? Nada disso. É a chance governador do Rio de Janeiro Sérgio
de manterem cargos estratégicos Cabral. Descobriram, por exemplo,
na Casa, como a presidência da que o telefone de sua academia,
Comissão de Assuntos Econômicos. registrado na Receita Federal, está
em nome do escritório de advocacia
Pobre Gari Pô, meu de Regis Fitchner, ex-secretário da
Casa Civil de Cabral. O escritório diz
O senador Garibaldi Alves (PMDB-RN)
está macambúzio. Diz que o Planalto
Ponte aérea que prestou assessoria jurídica a João
Pedro na constituição da academia,
foi incapaz de perguntar a ele sobre Pivô do mensalão, Roberto localizada em Jacarepaguá.
o que acha de uma provável reforma Jefferson quer voltar à Câmara
da Previdência. Garibaldi comandou
a Pasta por quatro anos durante o
dos Deputados em 2018. Mas,
em vez de ser pelo Rio de Stand-by
governo da ex-presidente Dilma Janeiro, onde disputaria voto O empresário Fernando Cavendish,
Rousseff. “Não quiseram saber de com sua filha, Cristiane Brasil, da Delta Construções, está em
número, políticas, ideias, visões. Minha deverá ser por São Paulo. A compasso de espera. Investigadores
experiência não serviu. Aqui, agora, sou lógica é puxar votos para o do Ministério Público Federal querem
do baixo clero”, afirma Garibaldi. partido e eleger correligionários. analisar o material e as provas obtidas
na Operação Calicute antes de voltar
a negociar os termos da delação
premiada. Cavendish frequentava a
Sem teto... oficial casa de Cabral e deu até um anel de
R$ 800 mil para a mulher do ex-
O prefeito eleito do Rio de governador, Adriana Ancelmo.
Janeiro, Marcelo Crivella, diz
que ele e sua família não vão se
mudar para a Gávea Pequena, Dá zika?
residência oficial da prefeitura, Dirigentes do Ministério da Saúde
quando tomar posse em janeiro. responsáveis por organizar a
Crivella ainda não sabe qual mobilização nacional contra
destinação dará ao espaço, o Aedes aegypti, marcada para a
erguido no final do século XIX. sexta-feira, dia 2, estão assustados.
O prefeito atual, Eduardo Paes, Observaram que centenas de
fica de olhos marejados todas prefeitos, que não foram reeleitos,
as vezes que fala do local. Diz desmobilizaram equipes que
ter visto seus filhos crescer lá. deveriam combater o mosquito.
Afinal, são oito anos na casa. Temem pelo aumento da incidência
de doenças provocadas pelo inseto.
Leia a coluna Expresso em epoca.com.br
28 de novembro de 2016 I ÉPOCA I 31
EUGÊNIO BUCCI
Facebookracia
É isso mesmo que você leu: “Facebookracia”. Assim como
democracia quer dizer “poder do povo” e plutocracia
quer dizer “poder dos ricos”, a palavra Facebookracia é o
ao mesmo tempo que proporciona carícias virtuais no ego
das multidões. Uma coisa (as inverdades) e a outra (as ca-
rícias virtuais) se apoiam reciprocamente. A dinâmica do
poder controlado pelo Facebook. Não é bem um regime Facebook atropela os fatos exatamente para aplacar as ca-
ou um sistema político, não é uma forma de governo esta- rências afetivas e suas multidões de cativos. Dá o que eles
belecida numa Constituição, como acontece com o parla- desejam, não o que é fato. Cria suas bolhas infladas de sor-
mentarismo ou o presidencialismo. A Facebookracia vai se risos, elogios e juras de amor eterno exatamente para abrir
instalando aos poucos, de maneira mais ou menos informal, as portas por onde entram as inverdades. A economia do
até que, quando a gente olha, já tomou conta dos processos afeto virtual se confunde com a economia da inverdade.
pelos quais os eleitores tomam decisões. A Facebookracia Como consequência, quem está dentro de uma bolha
é a democracia entregue à lógica das redes sociais. Em sua quase não enxerga direito quem está dentro da outra. Mu-
exuberância cibernética até parece democracia, mas é uma ros de desamor se levantam, partindo a sociedade. A pro-
deformação da democracia. pósito, o maior problema de Trump não é o muro que ele
O termo Facebookracia não é original, embora ainda seja quer construir na fronteira do México, mas o muro que já
pouco difundido. Buscando na internet, a gente não o en- corta seu próprio país. Foi esse muro que impediu os insti-
contra em português, mas ele já aparece em outras línguas tutos de pesquisa e boa parte da imprensa americana de
(Facebookcracy, por exemplo). O que nos enxergarem a bolha imensa onde se aglo-
falta é entender e explicar melhor seu sig- meravam, confiantes, os eleitores de Trump.
nificado e suas consequências complexas. Foi patético, mas a imprensa americana se
A Facebookracia gera novas distorções NA DEMOCRACIA, deixou aprisionar por uma das bolhas.
no espaço público, mais ou menos como Por fim, a Facebookracia corrói um
uma força gravitacional deforma o espa-
A VERIFICAÇÃO DOS dos principais denominadores comuns
ço-tempo imaginado por Einstein. A re- FATOS É A BASE DA da democracia: a verdade dos fatos. Na
cente eleição de Donald Trump, nos Esta- TOMADA DE DECISÕES ordem democrática, a política funciona
dos Unidos, tornou o fenômeno um bem quando a verificação dos fatos é a
pouco mais visível a olho nu. Pelo Face- – E NÃO OS LIKES DOS base da tomada de decisões. Quando en-
book, notícias falsas, e mesmo absurdas, CARENTES AFETIVOS tregue aos likes instantâneos dos carentes
como a de que o papa Francisco estaria afetivos, a política se esvazia, perde seu
apoiando o candidato republicano, foram sentido. Mais um pouco e – fique de olho
disseminadas para milhões de pessoas que as tomavam – alguém vai propor a substituição do Congresso Nacio-
como comprovação irrefutável de seus próprios precon- nal por um superalgoritmo (e outro alguém vai dar risa-
ceitos e as replicavam como verdadeiras. Essa e outras da, dizendo que não seria má ideia).
mentiras, turbinadas pelas redes, produziram novas dis- Fora tudo isso, o Facebook é apenas um negócio desleal,
torções no debate público. em que os usuários são os operários, a matéria-prima e a
Isso acontece por obra das chamadas “bolhas” do Face- mercadoria, tudo ao mesmo tempo e tudo de graça. Como
book. Os algoritmos que orientam a distribuição de con- escravos sorridentes, os usuários entregam à grande em-
teúdos de acordo com as preferências dos usuários se es- presa (um monopólio mundial) suas fotos familiares, suas
pecializaram em oferecer mais do mesmo para deleite da memórias sensuais e suas piores indiscrições. Depois, têm
clientela. Dentro das bolhas, as pessoas se agrupam pela seus olhos vendidos para o mercado anunciante e ainda se
identificação emocional, mais ou menos como torcidas de sentem valorizados, amados, desejados e amparados.
futebol, e vão perdendo de vista as que pensam diferente. Por certo, não foi Mark Zuckerberg o inventor da carên-
Os critérios dessa tecnologia são mais afetivos que racionais. cia afetiva e da mentira na política. Ele apenas aprendeu a
O afeto (refletido no número de likes, de “curtidas” etc.) lucrar (mais) com elas. O saldo é claro: ele ficou mais rico
pesa muito mais que a razão. Se uma notícia agrada à po- e a democracia ficou mais pobre. u
pulação daquela bolha, vai “bombar”, mesmo que não seja
rigorosamente fiel aos fatos.
Por aí, o Facebook vira uma usina atômica de inverdades, Eugênio Bucci é jornalista e professor da ECA-USP
Manoel Cordeiro Henri Philippe Reichstul Walter Fontana Filho Luiz Fernando Furlan
ALIMENTANDO
ALIMENTANDOOMUNDO
Abilio Diniz José Carlos Reis Aldemir Bendine Vicente Falconi Renato Proença Lopes
de Magalhães Neto
O RIO PEDE SOCORRO AMEAÇA À DEMOCRACIA?
Em “Acerto de contas com o Rio” Em “As mentiras que compartilhamos”
(962/2016), ÉPOCA mostrou a prisão (962/2016), ÉPOCA tratou das informações
de dois ex-governadores, crise na saúde falsas no Facebook e do posicionamento
e na segurança e revolta nas ruas da rede social diante do problema
O Rio está falido como cidade, como O Facebook foi a maior ferramenta
estado, como mentalidade. A situa- de mídia da história brasileira. Ele fez
ção exige mudanças urgentes. o povo entender e ter algum ponto de vis-
Rafael Santana, ta sobre a lama da política nacional.
via Twitter Leo Amancio,
via Facebook
A política no Brasil virou caso de po-
Escreva para: lícia. Todos os partidos estão eivados Qual o espaço mais democrático que
epoca@edglobo.com.br de corruptos. O país está um caos e nin- temos hoje em dia? As redes sociais!
guém está a salvo – exceto eles. Júlio Cesar Lustosa,
Adilson Alves, via Twitter
via Facebook
O Facebook democratizou o uso da
Realidade causada pelo voto. Não informação. Agora, se os usuários
sabemos votar até hoje e, mesmo as- não têm bom-senso e acham que tudo é
sim, insistimos em continuar num sistema verdade, eles é que precisam refletir.
que não funciona. Gabriela Lucena,
Guilherme da Silva, via Facebook
via Twitter
Pessoas que propagam informações
Na verdade o Brasil pede socorro. É sem sequer verificar são a ameaça. A
muito sanguessuga para uma nação. internet tem um poder absurdo!
Eduardo Melo, Camila Sena,
via Facebook via Facebook
A FÓRMULA DO DESASTRE
“Os instantes que levaram ao caos”
(962/2016) expõe o jeitinho de fazer
pedaladas fiscais, que arrastaram o país à
maior recessão da história
COM E N TÁ R IO DA S E M A NA
Tudo isso também se deve a um Con-
gresso que cruzou os braços. Nin-
guém estava pensando no povo brasileiro.
Há um tsunami de lama Agora, está aí o resultado.
Dijalma Alexandre,
e corrupção. O Rio está no via Facebook
buraco. Salve-se quem puder!”
Marcos Rodrigues, Agora que o estrago está feito, sobrou
via Twitter mais uma vez para o povo brasileiro.
Dirceu Brolini,
via Facebook
TRA
RANSPARÊNCIA
A E
RES
SPO
ONS
SABILIDADE
O que a população precisa saber sobre o combustível adulterado
encontrado nos tanques das empresas afiliadas ao Sindicom.
ÜBER DELATOR
O doleiro Alberto
DE VOLTA PARA CASA solto: está em prisão domiciliar, com torno- Youssef sai da
Em “O Uber da propina está livre” zeleira eletrônica e uma série de restrições. cadeia. Ele foi
(962/2016), ÉPOCA mostrou a saída Catarina Garcia Pinho, fundamental
para a Operação
de Alberto Youssef da cadeia via Facebook Lava Jato
Neste país o crime compensa – e mui- Não seria uma delação premiada
to. Isso está escancarado na Lava Jato, demais?
em que todo mundo é preso, faz delação Fabricio Fertis,
premiada e volta para casa como se nada via Twitter
tivesse cometido.
Celia Sartorato, Graças à delação dele foi descoberto
via Facebook esse mar de lama na política brasilei-
ra e grandes empreiteiros foram presos na
Mereceu! Se não fosse por ele, toda Operação Lava Jato.
essa rede intrincada de corrupção não Emanuel Henrique,
teria sido levantada. Além disso, ele não foi via Facebook
I I
DENÚNCIA
Os ex-ministros
Geddel Vieira
Lima e Marcelo
Calero. Confusão
entre público
e privado
De tempos em tempos o
Brasil antigo atropela o Brasil
moderno. O episódio da
demissão do ministro Geddel
Vieira Lima é um desses casos
I I
T E AT R O D A P O L Í T I C A
estava com a
geu os deputados – mais ética na políti-
ca. Ao longo da semana, no entanto,
surgiram ideias de emendas que, na prá-
econômica, e sim
em Nossa Opinião, a partir da página 40).
Os brasileiros reagiram nas redes. Fize-
ram críticas pesadas nos perfis de alguns
melhor, no andar
haviam demonstrado sua posição nas
ruas, meses atrás, ao apoiar a Lava Jato.
Se o pacote for à votação na terça-feira,
A derrota dos
velhos vícios
Geddel se acostumou, desde cedo, a
navegar pelos meandros da capital. Caiu
por um apartamento num prédio cafona
46 I ÉPOCA I 28 de novembro de 2016
Bruno Boghossian
O novato tombou
o Brasil antigo
Ao escolher o lado da lei, o ex-ministro da Cultura
Marcelo Calero derrubou um colega muito mais
poderoso e jogou uma crise no Palácio do Planalto
FORA DO
M arcelo Calero entrou no go-
verno Michel Temer no final
da montagem, meio por falta
de alternativa. O plano inicial era extin-
guir a Pasta para reduzir o número de
Um dia depois foi à Polícia Federal e pres-
tou um depoimento no qual enrolou
Temer e outro ministro, Eliseu Padilha,
da Casa Civil, na situação criada por
Geddel. Calero disse que Padilha reco-
ROTEIRO
Calero em seu ministérios num primeiro sinal de aus- mendou que ele acomodasse a decisão
gabinete no teridade fiscal, mas os protestos da clas- em favor de Geddel. Pior, disse que Temer
ministério. se artística foram crescendo e assustaram entrou no circuito. Em uma reunião no
Ele parece ter o presidente recém-empossado. A grita- Palácio do Planalto, no dia 17, o presiden-
desafiado uma
antiga cultura ria foi tamanha que o presidente voltou te disse, segundo Calero, que o entrevero
do poder atrás. Marcelo Calero, advogado de for- criara “problemas operacionais” em seu
mação, diplomata de carreira, jovem, foi governo, pois Geddel estava bastante ir-
indicado pelo prefeito do Rio de Janeiro, ritado. Na versão de Calero, Temer repetiu
Eduardo Paes. Sem nenhuma experiên- a recomendação de Padilha – que ele des-
cia na política em Brasília, Calero virou se um jeito de encaminhar o caso para a
ministro da Cultura. Agora, se pudesse Advocacia-Geral da União (AGU), onde
voltar atrás, talvez Temer tivesse enfren- seria resolvido. Para responder ao depoi-
tado os protestos de artistas e mantido a mento de Calero, Temer escalou o porta-
decisão de extinguir a Cultura. voz Alexandre Parola. Em uma nota, Pa-
Calero fez história na sexta-feira, dia rola disse que Temer conversou duas vezes
18, quando pediu demissão e saiu atiran- com Calero para “mediar” a divergência
do. Em entrevista ao jornal Folha de S. entre os dois ministros. “O ex-ministro
Paulo, Calero acusou o ministro da Secre- (Calero) sempre teve comportamento
taria de Governo, Geddel Vieira Lima, do irreparável enquanto esteve no cargo.
PMDB, de pressioná-lo para mudar uma Portanto, estranha sua afirmação, ago-
decisão de Estado. O Instituto do Patri- ra, de que o presidente o teria enqua-
mônio Histórico e Artístico Nacional drado ou pedido solução que não fosse
(Iphan), subordinado à Cultura, embar- técnica”, disse Parola. A nota de Parola
gara a construção de um certo edifício La afirma que Temer trata todos os seus
Vue em Salvador, na Bahia. O plano era ministros “como iguais”. Mas uma crise
encravar um prédio de 30 andares perto política estava criada justamente por-
do Farol da Barra. Mas o Iphan permitiria que, segundo Calero, Temer nem sem-
a construção de apenas 13 pavimentos. pre trata seus ministros dessa forma.
Dono de um compromisso de compra de Geddel agiu como mandam os velhos
um apartamento avaliado em R$ 2,6 mi- manuais do poder político brasileiro e
lhões no La Vue, Geddel queria a liberação estabacou-se. Não contava que o “quem
da obra por completo. De acordo com manda mais pode mais” de Brasília não
Calero, Geddel procurou-o várias vezes. seria entendido por um novato que não
No mês passado, protestou que o Iphan tem cargos políticos a preservar. Calero
não liberava o empreendimento. “E aí, estudou no colégio Santo Ignácio do Rio
como é que eu fico nessa história?”, disse de Janeiro, famoso pelo rigor acadêmico
Geddel, segundo Calero. Geddel disse que e ético. Formou-se em Direito na Univer-
o colega deveria intervir no Iphan e amea- sidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)
çou levar o caso ao presidente Michel e atuou na Comissão de Valores Mobiliá-
Temer caso não fosse atendido.A pergun- rios (CVM). Entrou para o Itamaraty em
ta de Geddel foi respondida na sexta-feira, 2007 e ocupou alguns cargos na gestão de
dia 25. Ele teve de pedir demissão, ir em- Paes. No ministério, elogiava a equipe.
bora do governo, para preservar Temer. Tinha seguidores no Instagram que o
Geddel foi obrigado a sair porque Ca- chamavam de“lindo”e“gato”.Ao denun-
lero, sem carreira política ou cargos a ciar o malfeito de Geddel, Calero apenas
preservar, decidiu se livrar do encosto que se indignou com um costume inaceitável
empurraram em seu colo. Manteve a de- – embora geralmente aceito – na política:
cisão técnica do Iphan de defender o pa- a confusão deletéria entre público e pri-
trimônio histórico e entregou o cargo no vado. Pelo menos no momento, sua lista
dia 18, uma sexta-feira. Foi mais longe. de admiradores cresceu. u
Os cavaleiros
da impunidade
Alguns deputados articulam abertamente uma anistia
ampla, capaz de livrá-los das punições da Lava Jato
52 I ÉPOCA I 28 de novembro de 2016
Bruno Boghossian e Alana Rizzo
proposto pelo Ministério Público pode virar uma lei de anistia a corruptos
O VOTO E A LEI
“É uma
O procurador
Rodrigo Janot
num seminário
contra corrupção.
BASTA DE FRAUDES
NOS COMBUSTÍVEIS!
Quem não paga os impostos corretamente prejudica toda a sociedade.
COMBUSTÍVEL LEGAL:
TODO MUNDO SAI GANHANDO
O consumidor compra um produto de qualidade e na quantidade exata.
Os Estados recebem recursos para áreas essenciais, como saúde e educação.
criminalizando a política. Estou criminalizando o crimino- Nesse caso (se a lei nova vingar), eu poderia ser acusado de
so, seja ele político, empresário, integrante do Ministério crime de responsabilidade ou abuso de autoridade.
Público, magistrado, jornalista...
ÉPOCA – O receio é que o Ministério Público fique acuado?
ÉPOCA – Este Congresso com deputados investigados Janot – É. Como é que seria hoje se essa lei valesse? O Tribu-
pela Operação Lava Jato tem legitimidade e indepen- nal Regional Federal da 4a Região (com sede em Porto Alegre e
dência para analisar as medidas? jurisdição nos estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e
Janot – Confio no Parlamento brasileiro. O parlamentar Paraná) absolveu duas pessoas que tinham sido condenadas
vive de voto e a base vai perguntar como ele se comporta. pelo juiz Sergio Moro? Seria crime. É um crime de hermenêu-
O parlamentar exerce um mandato. Então, acredito que tica. Ele entendeu de uma maneira e o Tribunal de outra. Isso é
o Parlamento será sensível aos milhares que votaram e absurdo. Não é possível. É uma castração química dos órgãos
apoiam essas medidas, reconhecidas internacionalmente de controle. Quem é que vai se meter nisso? Na dúvida, não
no auxílio ao combate à corrupção e ao crime organizado. faço nada. Todo mundo quer uma lei de abuso de autoridade
eficiente e moderna. Então, vamos discutir. Essa lei é antiga,
ÉPOCA – Qual o impacto da proposta de anistia do caixa não serve. Agora, o que é esse projeto que está no Senado e
dois apresentada pelos parlamentares? essa proposta que vem e vai da Câmara e ninguém vê o texto?
Janot – Isso é uma impropriedade. Uma lei penal, que ins- Qual a razão da pressa de decidir isso? Vamos então fixar um
titui um tipo penal novo, nunca retroage. Ela só retroage prazo? Vamos discutir e formar um texto. Vamos apontar o
para beneficiar réus e acusados. Portanto, a instituição de que é e o que não é abuso de autoridade.
crime não pode retroagir. Os crimes serão aqueles prati-
cados de hoje – ou do dia da aprovação, da sanção da lei ÉPOCA – Outra crítica recorrente ao pacote é que ataca
– em diante. Se a dita anistia se refere aos liberdades e garantias individuais, além
crimes de lavagem de dinheiro, corrupção de ignorar medidas na área de educação
ativa, corrupção passiva, peculato e evasão para o combate à corrupção.
de divisas, isso pode ter reflexo, sim, em Janot – Qual é a restrição de liberdade?
processos em curso e em processos já en- O Parlamento Não tem restrição do direito de defesa.
cerrados, porque a lei penal retroage para será sensível aos Para combater crime, você tem três ver-
beneficiar, e nunca para prejudicar. tentes: educação, prevenção e repressão.
milhares que A gente está tratando de duas (prevenção
ÉPOCA – Como a inclusão do crime de votaram e apoiam e repressão). É um investimento que tem
responsabilidade para juízes e mem- medidas contra de ter sim. Sem mudança de mentalidade
bros do Ministério Público pode afetar e sem educação, a gente não reduz o ín-
as investigações? corrupção” dice de criminalidade. Não reduz mesmo.
Janot – Muda tudo porque muda o Tribu- Agora esse é um investimento que tem de
nal. É uma atuação técnica que terá jul- acontecer de médio para longo prazo. E até
gamento político caso a proposta seja levada adiante. Isso lá a gente não vai ter nada para reprimir e prevenir o que
não é bom. Soa estranho receber um julgamento político está acontecendo hoje? Vamos começar a educar nossas
por um delito técnico. O Judiciário existe para isso e o Par- crianças de hoje para o Brasil ser melhor daqui a 50 ou 60
lamento faz julgamentos políticos. Vai ter um recuo, com anos e até lá salve geral? Tem de ter educação, tem de ter
certeza, nas investigações. Qual a segurança que alguém repressão e tem de ter prevenção. Não existe um país no
vai ter para pedir uma prisão, uma busca e apreensão, de mundo que não tenha repressão. Todos esses instrumentos
oferecer uma denúncia? Alguém pensou diferente de mim das dez medidas existem nos países que são modelos e os
e vou ser julgado. Agora, toda a estrutura judiciária é exata- quais miramos, países desenvolvidos, democráticos e que
mente isso: ponto, contraponto e o resultado final. Defesa, respeitam os direitos humanos. São baseados em tratados
acusação e o resultado de um órgão imparcial. internacionais. Não estamos inventando nada.
ÉPOCA – Teria o mesmo impacto da lei de abuso de au- ÉPOCA – Qual a expectativa para a próxima semana?
toridade, proposta defendida pelo presidente do Senado, Janot – Estamos conversando. O relatório como foi apresen-
Renan Calheiros? tado é um avanço enorme. São instrumentos novos que são
Janot – Hoje já existe uma lei de abuso de autoridade, que é de postos para o combate à corrupção e ao crime organizado. Não
1965. É muito antiga. É ruim. Todo mundo em sã consciên- é só corrupção. Não há jabuticaba. Não existe coisa inventa-
cia quer uma lei nova. A nova lei tem de ser atual e eficaz, da. A grande maioria desses instrumentos consta de tratados
e não uma que cria o chamado crime de hermenêutica (de internacionais que o Brasil subscreve. E eles têm um coman-
interpretação). Vou dar um exemplo: se ofereço uma denún- do normativo para que isso seja incorporado às legislações
cia e o juiz a rejeita, o que aconteceu foi uma divergência internas. Ganhamos um tempo para que todos os envolvidos
sobre a qualificação do fato hipoteticamente criminoso. reflitam e decidam... Não com o fígado e nem com pressa. u
Viver em
meio ao
colapso
do Rio
Na favela, na política e
no governo o peso da
crise financeira do estado
esfacela as esperanças
Hudson Corrêa, Sérgio Garcia e Samantha Lima
Rua Jericó trepidando o fuzil na janela. a entrada em três ônibus adernados de movimento de bandidos. Até a semana
O carro da UPP chega ao ponto de tão cheios. São moradores a caminho passada, um problema mecânico era a
maior tensão, a Avenida Cidade de do enterro dos sete mortos no dia 19, causa mais provável.
Deus. Cortada por um rio tomado por durante o confronto de oito horas en- Os policiais na viatura da UPP igno-
esgoto e lixo, ela define os limites do tre traficantes e policiais. Os que se- ram a choradeira. O motorista atraves-
território de cada quadrilha. Os chefes guem de ônibus para o velório acredi- sa a ponte, vira à esquerda e chega à
do tráfico fatiaram a comunidade, po- tam que os policiais executaram as base da UPP no Caratê. Em frente ao
rém não brigam mais entre eles, como vítimas, suspeitas de ligação com o contêiner, um soldado com o fuzil ata-
no passado retratado pelo filme Cida- tráfico. A PM também sofreu uma ter- do ao peito observa o movimento. Ele
de de Deus, de 2002. O inimigo é a UPP. rível baixa. Quatro policiais morreram aponta para direita. “Se passar daquela
Há uma gritaria de pessoas que forçam na queda do helicóptero que filmava o curva, onde está aquele caminhão, s
PEZÃO NA ESTRADA
Na noite da terça-feira, a 1.200 qui-
lômetros da tensão que se elevava na
Cidade de Deus e na Alerj, o governador
Luiz Fernando Pezão reunia-se com o
presidente Michel Temer e o ministro
da Fazenda, Henrique Meirelles, em
Brasília. Entre 21 e 23 horas, Pezão des-
trinchou os números da penúria flumi-
nense, sintetizados no astronômico
déficit de R$ 17,5 bilhões neste ano, no
gabinete da Presidência no Palácio do Pezão saiu da reunião com a promes-
Planalto. Enquanto a Polícia Civil se sa de ajuda. “Estou sempre pedindo”,
articulava para fazer uma operação nas diz Pezão. “Fui pedir ao governo ajuda
ruas e casas da Cidade de Deus, Pezão para fazer essa travessia.” Também pe-
dizia que as equipes de inteligência das diu ajuda à secretária do Tesouro, Ana
polícias detectaram que o número de Paula Vescovi, e à presidente do Supre-
fuzis nas mãos de bandidos, já elevado, COM MEDO DOS mo Tribunal Federal, ministra Cármen
pode aumentar exponencialmente com SERVIDORES, Lúcia. Queria sensibilizar Cármen so-
o fim do conflito na Colômbia entre o bre o julgamento de ações que podem
Exército e as Farc. “O Rio não fabrica DEPUTADOS NÃO assegurar recursos para o estado.
fuzis: recebe-os de fora, pelas rodovias”, QUEREM VOTAR O Pezão rodou dois dias em Brasília em
diz Pezão. “Apreendemos só até aqui PACOTE PARA SALVAR busca de dinheiro, a única solução para
280 fuzis. Imagina o que vai acontecer seus problemas. Com seus colegas go-
com a desmobilização das Farc?”. AS CONTAS DO ESTADO vernadores, passou mais de quatro ho-
2
pas e cadarços. Com a boca vedada, mal dos em locais distintos. No edredom em
conseguiu dizer ao assaltante a senha de que o corpo estava enrolado havia um HIGIENÓPOLIS
25 de agosto
seu smartphone. Nos 40 minutos seguin- recado de uma facção criminisa. Ao buscar o filho em um colégio
tes, precisou responder de sua cama sete ÉPOCA acompanhou uma madru- particular, uma mãe foi assassinada
vezes à pergunta feita aos berros: “Tu gada de trabalho da Polícia Civil em na frente da filha adolescente
é veado? Tu é veado?”. Apesar da imi- Porto Alegre. Nas primeiras horas de
nência de violência sábado, dia 19, os
física, Felipe chegou profissionais da Perí-
ao fim do episódio cia chegavam às pro-
apenas com a perda O ESTADO É DOS ximidades da Praça
de duas mochilas, POUCOS EM QUE Professor Jorge dos
roupas e eletrônicos, Santos Rosa. Os mo-
além de uma dificul- O INVESTIMENTO NA radores do entorno
dade para dormir ain- POLÍCIA CAIU DESDE se aproximaram. Em
da não resolvida. volta de dois corpos,
Um mês antes da
2014. O SALÁRIO os transeuntes pas-
invasão, ele estava
numa lanchonete da
Silva Só, ponto de en-
contro tradicional de
DOS POLICIAIS
PARCELADO
É savam curiosos, mas
conformados. De
acordo com depoi-
mentos dos locais,
3 BOM FIM
14 de novembro
Porto Alegre registrou o 31o latrocínio
do ano. Um vendedor de 29 anos foi
esfaqueado no Parque da Redenção
jovens famintos pós- um homem “hones-
4
balada, e precisou deitar no chão para to e trabalhador” com o apelido de
evitar balas de um tiroteio que começara Alemão fora morto por um foragido, MENINO DEUS
27 de setembro
na calçada próxima à Avenida Ipiranga, que havia retornado à área dias antes. Uma adolescente de 17 anos foi
uma via movimentada que liga leste a Depois de matar a vítima, o criminoso executada e arrastada pela rua em
oeste da cidade. Dias depois, encontrava- tentou roubar uma caminhonete para uma região boêmia da capital
se próximo ao local onde uma jovem de fugir, mas o motorista estava armado.
17 anos foi alvo de dez tiros no rosto. Crivou o atacante com quatro balas e
A moça foi assassinada no bairro Me- fugiu – foram dois homicídios sepa-
nino Deus, encostado na Cidade Baixa, rados por questão de instantes. “Ouvi
área com a maior concentração de bares os disparos e tive quase certeza do que
da capital gaúcha. Os locais de ocorrên- era”, contou a cunhada do foragido, de
cia de uma série de crimes assustado- pijama, roupão, meias e chinelo, cigarro
res fizeram a população perceber que em punho, perto do cadáver. Em fren- todos os meus colegas já foram rouba-
o padrão da violência havia mudado. te ao corpo, uma mulher que mora na dos no caminho para o colégio”, disse
Bairros outrora tranquilos ou que de- rua há 29 anos se lembrava de quando um menino de 13 anos. O trabalho da
mandavam apenas cautela com furtos era comum tomar chimarrão na pra- polícia naquela madrugada foi obser-
viraram zona de risco de morte. Em me- ça e comer churrasco na rua. “Hoje, a vado por dezenas de pessoas, incluindo
nos de três meses, um jovem de 18 anos gente não põe o nariz para fora se não crianças de colo, que não foram poupa-
foi executado no interior do Aeroporto houver necessidade.” O bairro é pobre, das de ver os corpos no chão.“A polícia
Internacional Salgado Filho e outro de mas os assaltos não dão trégua. “Quase costumava rodar por aqui, o que dava
351
homicídios dolosos foram
registrados em Porto Alegre
2.250
1.992
2.250 70.000
2
63.832
70.000 120 120
44.390
2006 09 12 2015 2006 09 12 2015 2006 09 12 2015
Taxa por 100 mil habitantes Taxa por 100 mil habitantes Taxa por 100 mil habitantes
roubos foram registrados
no Rio Grande do Sul só no 2006 13,1 2006 592,2 2006 1,32
primeiro semestre de 2016. É
um número próximo do total 2009 15,0 2009 518,8 2009 0,58
do ano de 2011 inteiro 2012 17,9 2012 415,6 2012 0,81
2015 21,3 2015 703,0 2015 1,24
14.111 12
28
83 BRASIL Rio Porto
Grande Alegre
2006 09 12 2015 2006 09 12 2015 2006 09 12 2015 do Sul
Variação em relação ao ano
anterior
Taxa por 100 mil habitantes Taxa por 100 mil habitantes Taxa por 100 mil habitantes
-3,4% 3,9% 2,7%
2006 19,7 2006 1.708,8 2006 2,23
2009 24,9 2009 1.398,0 2009 1,17 Fontes: Secretaria de Segurança
Pública do Rio Grande do Sul e Fórum
2012 31,0 2012 1.074,8 2012 1,02 Brasileiro de Segurança Pública
2015 39,5 2015 2.098,0 2015 2,40
NA MULTIDÃO
Detentos no
que era para ser paliativa, já dura 11 anos. Presídio Central do). A quantidade de apenados mais que
A superlotação gera problemas em de Porto Alegre. dobrou no estado na última década, e,
série. No último dia 9, uma fotografia As grades foram mesmo assim, os índices de criminalidade
derrubadas
de presos algemados a uma lixeira no sobem.“Desde o início da gestão Sartori,
chão em Porto Alegre rodou o país. A entraram 6 mil detentos nas cadeias. Seria
alternativa no momento era eles fica- necessário criar dez penitenciárias para
rem dentro de uma viatura, com calor essa demanda”, diz o juiz Brzuska.
insuportável. Tem sido comum deixar Para conter a onda de violência,
os detentos em carros e micro-ônibus Schirmer, o secretário de Segurança,
antes de encaminhá-los ao Central. O que o sistema prisional gaúcho era bom diz ter um projeto de reforma do siste-
novo secretário de Segurança Pública para os padrões brasileiros nos anos ma prisional. Como medida paliativa e
do Rio Grande do Sul, Cézar Schirmer, 1970. Havia pequenos presídios distri- de curto prazo, quer implementar um
concorda que as prisões deixaram de buídos por áreas estratégicas do estado. centro de triagem onde os detentos fi-
cumprir qualquer função. “O sistema é Os novos investimentos se concentra- carão em contêineres. “Há preconceito
um depósito de seres humanos e uma ram em presídios grandes, mas o gas- contra o contêiner. Hoje tem escola,
escola de criminalidade”, afirma. to com as obras não foi acompanhado centro odontológico e hotel de contêi-
O único consenso entre autoridades pelo necessário investimento contínuo ner. Quem conhece sabe que é melhor
de segurança pública, policiais, presos em manutenção, segurança, treinamento que a prisão. É melhor do que ficar em
e especialistas é que o sistema prisional de funcionários e programas de ressocia- viatura também”, diz. A história recente
gaúcho, com déficit de 10 mil vagas, lização.“Nessa lógica de bandido bom é mostra que construir celas, apenas, não
entrou em colapso. Há quem defenda a bandido morto, as prisões sempre foram basta. As soluções – no plural, porque
construção de novos presídios por meio o primeiro alvo de corte de gasto dos go- nenhuma isolada resolverá o proble-
de parcerias público-privadas. Outros vernos”, afirma Brzuska. ma – vão requerer propostas arejadas.
pedem que o governo se concentre em Para piorar, prende-se muito no esta- E, como alicerce para elas, requer-se a
reprimir homicídios e aplique penas al- do. O Rio Grande do Sul tem 370 presos reorganização das contas públicas.
ternativas a infrações menores. por 100 mil habitantes, taxa superior aos Só assim um Estado consegue cumprir
A situação já foi bem melhor. O juiz 306 presos por 100 mil habitantes no Bra- suas obrigações básicas, como ofere-
Sidinei José Brzuska, que trabalha há 17 sil, que já é bem alta (o país tem a sexta cer condições humanas a detentos e
anos com execução de penas, considera maior taxa de encarceramento do mun- segurança a todos os cidadãos. u
Luís Lima
or mais de quatro décadas, gastar
mais do que se arrecadava pare-
cia não assustar os políticos elei-
tos e os gestores públicos do Rio Gran-
de do Sul. A expansão contínua dos
gastos era camuflada pelo recurso dis-
ponível no momento – aumento da
dívida, venda de ativos (quando possí-
Após muito tempo no vermelho, o Rio vel), aumento de arrecadação (quando
Grande do Sul atinge o fundo do poço – havia crescimento econômico). Medi-
das assim encobriam a criação de um
e precisa acertar as contas com o monstro: o crescimento da folha de
histórico de irresponsabilidade pagamentos, que hoje representa mais
+
O GASTO EM 2015 Despesas correntes: 52,2
servidores públicos estaduais. A partir da O pagamento de pessoal e encargos
medida, os funcionários se aposentam sociais somam 60% da despesa Pessoal e encargos sociais 33,,5
com o teto-limite do INSS, de R$ 5.200. Juros e encargos da dívida 1,7
Em R$ bilhões
Sem a aprovação da reforma, as contas Outras 17
se deteriorarão mais. O rombo deste ano,
estimado em R$ 2,4 bilhões, deverá ul-
trapassar R$ 5 bilhões em 2017 e alcançar
R$ 8,8 bilhões em 2018. “Em dois anos,
ROMBO NA PREVIDÊNCIA DÍVIDA GALOPANTE
o buraco poderia ser de R$ 20 bilhões, Em proporção à receita, o estado tem Só a dívida com o governo federal
sem as medidas implementadas”, disse o maior déficit previdenciário entre corresponde a R$ 50 bilhões e
Sartori. Mesmo assim, no melhor cená- todas as unidades da Federação consome 13% do orçamento por mês
rio, o estado demorará quatro anos para
Déficit previdenciário em R$ bilhões Em R$ bilhões
atingir o equilíbrio fiscal.“Recuperar em
2020 é uma projeção otimista. Depende
5,2 6,2 6,5 7,2 8,5 9,0 43,2 47,2 50,4 54,4 61,8 68,4
do ajuste e da ajuda da União”, diz Feltes.
10 70
Um alívio pontual foi anunciado na
9
semana passada, quando o governo fe- 60
8
deral anunciou que repartirá entre os 7 50
estados cerca de R$ 5 bilhões referentes 6 40
à multa do programa de repatriação de 5
recursos no exterior. Para o Rio Grande 4 30
do Sul, o repasse deve ser de meros R$ 80 3 20
milhões, montante que cobre apenas um 2
10
dia e meio da folha de pagamentos do 1
0 0
estado, orçada em R$ 1,8 bilhão. Em uma
reunião a portas fechadas, o ministro da 2011 12 13 14 15 2016(1) 2011 12 13 14 15 2016(1)
4,9
o aumento da contribuição previdenciá-
ria de servidores públicos, inclusão dos
estados na reforma previdenciária a ser
encaminhada ao Congresso neste ano,
apoio dos governadores ao projeto do
teto de gastos federal, preparação de uma
proposta nacional de teto de gastos para
os estados e a proibição de aumentos sa-
lariais no funcionalismo estadual por
dois anos. Parte dessas exigências já havia
sido feita na renegociação da dívida dos
G I O VA N I F E LT E S
ÉPOCA – Em meio a tanta dificuldade, é possível ser oti- ÉPOCA – Quando o Rio Grande do Sul deve alcançar o
mista em relação ao futuro do estado? equilíbrio nas contas?
Giovani Feltes – Sim. Estamos frustrados pelo serviço que Feltes – No cenário ideal, considerando tudo o que já s
foi feito e que ainda está por fazer, só teremos equilíbrio de custeio no Rio Grande do Sul caiu de R$ 5,3 bilhões em
em 2020. Nos últimos 45 anos, em 38 deles gastou-se mais 2015 para R$ 4 bilhões neste ano, uma redução de 20%.
do que se arrecadou. Como se diz aqui, “estourou o fole Mais que isso não dá para cortar, pois dentro do custeio
da gaita”. Recuperar em 2020 é uma projeção otimista e temos itens como merenda escolar e gasolina da polícia.
depende do ajuste no estado e da ajuda da União. Nessa
perspectiva, em quatro anos o tamanho do estado caberá ÉPOCA – A estratégia para aumentar a receita inclui pri-
no bolso do cidadão gaúcho. Com todas as ações propostas vatização de estatais. Quais seriam? Isso inclui o Banrisul?
esperamos ter um acréscimo de receita de R$ 6,7 bilhões. Feltes – Mandamos projeto para tirar da Constituição
estadual algumas empresas públicas cuja venda está con-
ÉPOCA – Quais medidas o estado já implementou? dicionada à exigência de aprovação em plebiscito. Esta-
Feltes – O aumento da contribuição previdenciária por mos falando da Companhia Estadual de Energia Elétrica
parte de servidores públicos faz parte do último pacote de (CEEE), da Companhia Rio-Grandense de Mineração,
ajuste (enviado à Assembleia Legislativa no dia 21). Ele prevê da Sulgás e da Companhia Estadual de Silos e Armazéns
o envio de um projeto de lei complementar para elevar de (Cesa). O Banrisul está de fora.
13,25% para 14% o desconto no cheque do funcionalismo.
Também aprovamos no ano passado o projeto que prevê ÉPOCA – Em março, a Secretaria da Fazenda previa défi-
uma previdência complementar para servidores públicos cit de R$ 6,8 bilhões neste ano. Por que o número era tão
estaduais. A partir dessa medida, os funcionários se apo- maior que a previsão atual, de R$ 2,4 bilhões?
sentam com o teto-limite do INSS, de R$ 5.190. Feltes – Por uma série de medidas e acontecimentos. Os
principais foram a renegociação da dívida com a União
ÉPOCA – E quais são as iniciativas na área do controle de (que postergou R$ 2,2 bilhões a ser pagos neste ano) e o pa-
gastos, na linha da proposta de emenda gamento de R$ 1,2 bilhão pelo Banrisul
à Constituição que cria um teto para o para renovar o direito de operar a folha de
gasto federal? pagamentos do estado pelos próximos dez
Feltes – Fomos o primeiro estado a apro- anos. Também tivemos aumento da car-
var, em 2015, uma lei de responsabilidade Nos últimos 45 anos, ga tributária (como as alíquotas do ICMS,
fiscal estadual mais rigorosa que a federal. em 38 deles gastou- elevadas até 2018) e os cortes de custeio.
Ela proíbe reajustes parcelados de salários
sem que se estudem o impacto financeiro se mais do que se ÉPOCA – O governo federal concordou
e a fonte do recurso. Também impede rea- arrecadou. Como se em repartir com os estados R$ 5 bilhões
justes para que governos futuros paguem. diz aqui, estourou da multa da repatriação de capital que
estava no exterior. Quanto essa verba
ÉPOCA – Qual é o peso da Previdência? o fole da gaita ” ajuda o governo gaúcho?
Feltes – Neste ano, o déficit da Previdência Feltes – É pouco, mas é importante. Jun-
deverá alcançar R$ 9 bilhões, consideran- tamos os tostões para dar um mínimo de
do os inativos, que são aposentados e pensionistas, e os recursos para os servidores nos últimos meses. Os cerca de
ativos. Há 350 mil servidores inscritos na Previdência, 55% R$ 80 milhões vindos da multa da repatriação dão para pa-
inativos e 45% ativos. O estado compromete 28% da receita gar um dia e meio de nossa folha de pagamentos. A despesa
corrente líquida só com os inativos – quase o dobro do Rio de pessoal de todo o estado é de R$ 1,8 bilhão. Toda ajuda
de Janeiro (15%). é relevante, mas ainda é pequena para cobrir o rombo de
R$ 2,4 bilhões deste ano.
ÉPOCA – Os números não mostram a urgência de uma
reforma do sistema previdenciário estadual? ÉPOCA – Em contrapartida ao dinheiro recebido com a
Feltes – Muitas medidas nessa área estão incluídas no pacote repatriação, os governadores se comprometeram a ajus-
recente de ajuste. Há uma proposta de emenda à Constitui- tar suas contas, o que inclui proibição de aumentos sala-
ção estadual para retirar o adicional por tempo de serviço riais por dois anos. O senhor considera o acordo razoável?
para novos servidores, como o adicional de 15% para 15 Feltes – Sim, tanto que as medidas já são aplicadas no es-
anos e de 10% para 25 anos de serviço. Os efeitos serão tado. Estamos além do ponto de discutir mérito (das pro-
sentidos em até 20 anos. O pacote inclui 40 medidas que postas). O quadro atual é de necessidade. Tanto que o go-
batem em Chico e em Francisco. O governo atual não está vernador reconhece que estamos em calamidade financeira.
pensando nas eleições. Está pensando nas gerações futuras.
ÉPOCA – É certo que os estados cumprirão o acordo?
ÉPOCA – Quais foram os principais cortes de custeio? Feltes – Estaria fazendo um juízo de valor de outros estados.
Feltes – O governo diminuiu de 29 para 20 o número de O que posso dizer é que, no Rio Grande do Sul, estamos
secretarias. Foram alvos de cortes diárias, viagens, cursos, fazendo a lição de casa. Fizemos e propomos novas medidas,
consultorias e horas extras, entre outros. O peso dos gastos de forma inédita. u
O risco adolescente
de idealizar o passado
V ivemos tempos passadistas. Os mais materialistas po-
rão a culpa na crise de 2008. Dirão que, além de US$
14 trilhões de riqueza, sumiram também as ilusões de um
estrutura. Meaulnes é colocado na mesma categoria do po-
pular O apanhador no campo de centeio, do americano J.D.
Salinger. Na França, é leitura obrigatória nas escolas e faz
mundo sem fronteiras, em que o futuro seria ditado pela enorme sucesso. Como Salinger, Fournier narra os conflitos
ciência, pelo progresso tecnológico e pela marcha inexorável da adolescência, as dores do crescimento, a recusa em ama-
do livre-comércio e da democracia liberal. Os mais afei- durecer. Mas adiciona ao enredo um ingrediente trágico e
tos à cultura apontarão para a onda retrô anterior à crise. moderno, que demonstra os limites dessa atitude.
Dirão que, nas últimas décadas, nada de novo foi criado O personagem central é o adolescente Augustin Meaul-
neste planeta; que os países da Ásia, da América Latina nes, em plena passagem para a vida adulta. Ele surge como
ou do Leste Europeu jamais acreditaram em democracia, um herói romântico, em busca de um amor inatingível – a
capitalismo ou liberdade para valer; que o futurismo do bela mulher que conheceu na festa de casamento em um
Vale do Silício jamais convenceu os caipiras do Meio o-Oeste.
O t castelo
t l mis isterioso, onde fora parar por acaso, depois de
Escolha a explicação que preferir, o passado está desviar de seu caminho. Não consegue voltar ao
de volta. Um passado longínquo, idealizado, em loccal. A procura pelo castelo e pela mulher idealiza-
que a vida era mais simples, o campo tinha mais daa se transforma numa montanha-russa de planos
valor que a cidade, a comunicação era monoglo- delirantes, decepções tornadas esperança, depois
ta, os estrangeiros traziam apenas um tempero traansformadas novamente em frustração. As re-
exótico, a religião tinha mais autoridade que a virravoltas inverossímeis quase fazem da narrativa
técnica, havia certezas morais, pureza de propó- umma parábola. Graças à intervenção do narrador,
sito, heróis e grandeza – em vez de vítimas que Fraançois, Meaulnes acaba por se reunir à amada.
reivindicam todo tipo de reparação. Maas àquela altura, em nome de seus sentimentos
O passadismo está na eleição de Donald LIVRO DA SEMANA
puuros e de seu dever moral em relação a eventos
Trump e na invasão do Congresso Nacional para preetéritos, já tomara uma decisão que acaba por
pedir a volta dos militares. Nas revoltas contra a O bosque das ilusões ttornar impossível sua felicidade ao lado dela.
perdidas
globalização e na idolatria a policiais, procurado- Alain-Fournier O que torna Meaulnes um livro atual não é a
res e juízes, tidos como heróis da cruzada moral descrição das dores da adolescência, nem o caráter
Nova Fronteira
para acabar com a corrupção. Na “pós-verdade” 1987 rocambolesco do enredo. É o retrato trágico do
que contesta cientistas, especialistas e a“mídia”. Na 212 páginas heroísmo moral, da tentativa de idealizar um amor
tentativa de desmantelar acordos comerciais, am- (esgotado) e de viver com base nas ilusões do passado. O futuro
bientais, nucleares e as estruturas criadas depois é sempre nublado. Qualquer tentativa de antevê-lo,
das duas grandes guerras, do genocídio e da bomba atômi- de construí-lo tentando consertar o que parece errado ou
ca. Parece que estamos de volta ao século XIX, no auge do de tentar moldar a realidade para corresponder a ideais de
Romantismo, quando a vida áspera trazida pela Revolução transformação ou revolução estará fadada a esbarrar na
Industrial levou à idealização da Idade Média, dos princí- diversidade de reações e visões de mundo, inerentes à espé-
pios cavalheirescos, dos sacrifícios heroicos. O passado era cie humana e mais plurais que simplificações ideológicas,
melhor. Era bom. Era puro. Mas era também uma ilusão. como “comunismo”, “nacionalismo” ou “liberalismo”. Mas
Tal ilusão foi pelos ares em definitivo na Primeira Guerra idealizar o passado pode ser ainda pior. Olhar para trás, em
Mundial. Uma das primeiras vítimas, morto em combate busca do castelo perdido na infância, de um amor ideal, ou
aos 27 anos, em setembro de 1914, foi o escritor francês de um mundo de fantasia, mais puro e moralmente simples,
Alain-Fournier, autor de uma das mais belas obras literárias apenas torna o futuro ainda mais doloroso – sem amor nem
do século passado: Le grand Meaulnes, traduzido em portu- castelo. O sentido que resta a Meaulnes ao final de suas
guês como O bosque das ilusões perdidas. Lançado no ano aventuras não vem do heroísmo adolescente, mas do único
anterior à morte trágica do autor, foi o único romance dele. momento em que deixou de lado o passadismo para, por
Teve influência decisiva em obras mais conhecidas, como O um dia, viver o presente como gente grande. u
estrangeiro, de Albert Camus, ou O grande Gatsby, de F. Scott
Fitzgerald – este, ao que tudo indica, emprestou de Fournier Helio Gurovitz é jornalista hgurovitz@edglobo.com.br (e-mail)
não apenas o título, mas também o olhar do narrador e a @gurovitz (Twitter) http://g1.globo.com/mundo/blog/helio-gurovitz/ (web)
zunhi (língua de tribos indígenas do páginas aumentou. Anos depois, ele fez poupança em favor dos gastos imediatos.
sul dos Estados Unidos) tinham dificul- uma nova tradução, do russo para o in- Em A chegada, a análise da linguista
dade de distinguir a cor laranja da ama- glês, intitulada Fala, memória.“Nabokov Louise conclui que o idioma dos aliení-
rela, pois contavam com apenas uma passou toda a sua infância na Rússia e tal- genas não se apoia em definições claras
palavra para as duas tonalidades. Outro vez ele se sentisse mais confortável para de presente, passado e futuro. Por isso, a
estudo, de 2007, mostrou que os russos, escrever sobre aquela experiência em sua escrita extraterrestre não é linear como as
que têm vocábulos diferentes para azul- língua materna”, afirma a linguista Jessica línguas humanas, escritas da direita para
claro (goluboy) e azul-escuro (siniy), Coon, consultora do filme. “As pessoas a esquerda ou da esquerda para a direita.
eram melhores que os anglófonos para podem associar determinada língua a um Todas as palavras se juntam em símbolos
perceber as gradações do azul. determinado tempo ou cenário.” circulares nos quais os verbos não têm
A língua materna também está ligada O economista comportamental Keith conjugação. Tampouco há correspondên-
à construção das memórias. Durante seu Chen vai além e argumenta que a língua cia entre a língua falada e a língua escrita.
exílio americano, o escritor russo Vladi- pode até mesmo influenciar a capacida- Os alienígenas falam por meio de sons
mir Nabokov escreveu uma autobiografia de de poupar dinheiro. Suas pesquisas que a garganta humana é incapaz de imi-
em inglês, Conclusive evidence (Evidên- concluíram que falantes de línguas que tar, mas os círculos que eles escrevem não
cia conclusiva). Quando se ofereceu para não diferenciam a conjugação de verbos são a representação gráfica desse discurso.
traduzi-la para o russo, atendendo a um no presente e no futuro, como o japonês É nesse aspecto que A chegada se torna
pedido de uma pequena editora nova- e o chinês, são mais econômicos. Entre um filme mais ficcional que científico. Se-
iorquina, Nabokov teve uma experiência eles, o hábito da poupança é 30% maior gundo a linguista Jessica, há sempre uma
proustiana: o contato com a língua de do que entre anglófonos. As gramáticas correspondência entre o escrito e o falado
sua infância trouxe de volta lembranças de línguas como o inglês (e o português) nas línguas humanas. Mas esse é o tipo de
que permaneceram encobertas quando constroem uma ideia de futuro distan- licença poética (ou, no caso, científica)
escreveu a obra em inglês. O número de te do presente, o que desestimularia a que cabe bem nos filmes de ETs. u
Boa de briga
À flor da pele, próxima novela
das 9 de Gloria Perez, só
estreará em abril, mas o corpo
da atriz Paolla Oliveira já está
apanhando – literalmente.
Para viver a policial Geisa, uma
das protagonistas da trama, a
atriz tem visitado batalhões da
Polícia Militar no Rio de Janeiro
e frequentado aulas de MMA.
“Treino com uma lutadora faixa
preta. É tudo muito técnico.
Estou cheia de roxos. Mas tenho
me divertido muito”, conta ela,
mostrando alguns hematomas
nas pernas. Embora boa de
briga, a personagem será mais
uma mocinha em sua galeria
de personagens da TV. “As
pessoas me perguntam sobre a
sexualidade dela. Tenho ouvido
muito: ‘Ela é gay?’. Digo que é
uma mulher fora dos registros
tradicionais, uma chance de
sair do estereótipo. É feminina
e tem humor, ocupa um cargo
importante num meio em que
os homens predominam.”
Lá vêm os noivos
Juntos desde 2010 e pais de Dora, de 4 anos, o artista
plástico Vik Muniz e a produtora cultural Malu
Barreto vão oficializar a união no dia 10 de dezembro,
com uma bênção na capela Santa Ignez, no Rio, e
festa para 300 convidados na casa deles. “Já fomos
casados, então tínhamos uma superstição sobre a
possibilidade de assinar um papel de novo. Mas está
tudo tão bom que a felicidade quebrou a superstição”,
diz Vik. A lua de mel será no Sri Lanka e nas Ilhas
Maldivas. A noiva embarca nesta semana para Nova
York para pegar o vestido, assinado pelo brasileiro
Francisco Costa. “Confio tanto no trabalho dele que
só vou ver o modelo agora”, conta Malu, calmíssima.
Noite de princesa
O baile de debutantes mais famoso
do mundo, que acontece no dia 26
no Hotel Peninsula de Paris, terá uma
brasileira entre as 18 garotas de 16 a 22
anos. Radicada em Londres, Alexina
Fontes Williams, de 17 anos, filha do
empresário carioca Luiz Williams e da
princesa italiana Valentina Moncada,
terá a companhia de nomes como
a princesa Zita de Bourbon Parma,
Daniela Figo, filha do craque português
Luis Figo, e a bailarina chinesa Yu
Hang. Todas usarão vestidos de alta-
costura feitos especialmente pelas
maisons que desfilam na capital
francesa – Alexina valsará com um
modelo da russa Yanina Couture.
“Já tivemos algumas debutantes
Malhação espiritual brasileiras, que são sempre gentis e
solares”, afirma a produtora Ophélie
Quatro anos depois de lançar um livro com dicas de treinos e alimentação, Renouard, que, há 24 anos, organiza
Gabriela Pugliese volta à escrita com A vida é mara, uma obra de autoajuda. a festa. “Elas não precisam ser garotas
“A gente amadurece. Hoje cuido tanto do meu lado espiritual quanto do de sociedade. No ano passado, tivemos,
estético. Dou mais valor a essa coisa de alma. Passei a ler livros sobre o por exemplo, a filha de um motorista
poder da mente. Daí surgiu a ideia do livro”, diz ela. Ao contrário do que de táxi de Londres. Elas devem ter um
seus milhões de seguidores pensam, Gabriela avisa que dá suas derrapadas. carisma especial, bom desempenho
“Acham que sou mais regrada do que realmente sou. Me alimento bem 80% escolar e querer uma experiência
do tempo. Mas, às vezes, entro numa fase desencanada. Minha perdição mágica de encontro de cultura e moda
são os doces.” A blogueira sobe ao altar no dia 22 de abril com Erasmo que vai muito além do Facebook.”
Viana, outro muso fitness. “Vamos casar em Trancoso, na Bahia, numa
celebração pé na areia para 400 pessoas. A festa terá show de Alinne Rosa.”
As fileiras de Gerald
Conhecido pela ousadia e pela
irreverência, o diretor teatral Gerald
Thomas dá sua visão dos fatos na
autobiografia Entre duas fileiras, em que
narra histórias envolvendo bacanais,
suicídio e depressão. Mas avisa que não
é tão desanimado assim. “Felicidade é o
quê? A Xuxa? Não teríamos Baudelaire
nem Kafka se não fossem a melancolia e
a tristeza. Qualquer existencialista tem
um vazio a preencher”, diz ele. “Não é
todo mundo que foi prostituto, marchou
contra o Vietnã e tomou porrada, que
foi ao Woodstock, que estudou pintura
e teve o apoio dos pais em tudo.” Aos
62 anos, ele se prepara para uma nova
imersão teatral. “Acharam em meus
arquivos o texto de Articulose, que quero
fazer com a Ana Carolina Lima.”
Fotos: Roberto Filho, Luiza Ferraz, Igor Dewe, 28 de novembro de 2016 I ÉPOCA I 91
Camila Marchon/ÉPOCA, Bruno Ryfer
BRUNO ASTUTO Leia a coluna diária de Bruno Astuto em epoca.com.br
E N T R E V I S TA
Em paz
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WA N D E R L É A Doce e tímida no início da
C A N TOR A
novela das 6, a recente rebeldia
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Ganhei o Emmy!
Q uando minha novela Verdades secretas se tornou uma
das finalistas do Emmy, maior prêmio da televisão
no mundo, já comemorei. Ser finalista já é muito. Tenho
interessou por minha pessoa. Entramos, houve um longo co-
quetel. Depois, o jantar, que eu achei mais demorado ainda.
Já estava certo de ter perdido. Melhor acabar logo com tudo.
expectativas sobre meu trabalho, mas sou muito ligado Os prêmios foram sendo anunciados sucessivamente. A
às minhas origens de garoto de classe média baixa de São certeza de que eu não ganharia cresceu. Sinceramente, não
Paulo. Acho importante homenagear as próprias raízes. acertava um! Telenovela foi um dos últimos. Passaram os trai-
Não venho de uma família letrada, mas meus pais acre- lers mais uma vez, e novamente achei todas ótimas.Aí, falaram:
ditaram em meu desejo de ser escritor. Para o garoto do – Hidden truths.
interior de São Paulo, apenas ser indicado para o Emmy Que é o nome de Verdades secretas em inglês. Levantei pas-
já estava mais que bom! mado, com um misto de sensações.“Eu ganhei? Eu ganhei?”,
Parti, com um grupo da Rede Globo, para Nova York. A pensava, sem acreditar. É estranho. Até então eu estava con-
decisão do Emmy passa por etapas. Tanto no Oscar como trolado, até blasé. De repente, havia ganhado o maior prêmio
no Emmy, seu equivalente na TV, a decisão é revelada na de TV do mundo. O EMMY! Fui para o palco. Minha sorte
hora. Os candidatos roem até as cutículas. foi que os diretores Felipe Binder, Alan Fiterman e Natália
No primeiro dia tivemos a cerimônia de entrega de Grimber me acompanharam. E as atrizes Grazi Massafe-
medalhas aos finalistas. Recebi a minha, já orgulhoso. Nos ra, Camila Queiroz, Agatha Moreira e Guilhermina Guinle.
dois seguintes, painéis. Todas lindas. O teatro só aplaudia. É uma
Painéis? Cada uma das categorias par- sensação incrível receber um troféu desses
ticipa de um debate, com um mediador, nas mãos! Pedi ao Lipe para agradecer em
em que fala de seu processo de criação e LEMBREI DA meu nome. E, depois, só consegui dizer:
produção. Assim, de repente vi-me sen- – I am very happy. Thank you! Thank
tado do lado de uma produtora filipina.
PRIMEIRA MÁQUINA you.
Passaram o trailer da novela filipina e era DE ESCREVER QUE Saímos pela parte de trás do palco. Des-
ótima! Em dois segundos dava o panora- MEUS PAIS ME cemos uma escadinha e estávamos... numa
ma da história inteira! O canadense nem se enorme cozinha industrial. Fizemos fotos,
fala: um menino de classe média encontra DERAM, QUANDO pulamos. Atravessei a cozinha e havia um
o avô, que se tornou sem-teto. Demais. EU TINHA 13 ANOS pequeno teatro, onde fui anunciado. Nun-
Botei minha emoção para fora. ca vi tanto fotógrafo na minha vida, tan-
– Escrevi Verdades secretas com meu co- tas televisões do mundo inteiro. Era uma
ração. Foi uma entrega total não só minha, mas também loucura! Essa parte durou muito tempo. Depois, ainda teve
do diretor Mauro Mendonça Filho e sua equipe, de todo uma festa do Emmy. Só quando cheguei a meu apartamento
elenco. Eu sentia que era importante contar essa história. no hotel pude parar. E caiu a ficha. Eu havia, sim, ganhado
Isso foi no domingo. A festa, só na segunda-feira. Tentei o Emmy! Olhava para o troféu sem parar.
levantar informações de bastidores. Não consegui. Nin- Sempre tive muitos sonhos na vida, mas não tão gran-
guém tem acesso ao nome dos vencedores. Honestidade des. Sabem, sinceramente, no que pensei? Ah, a memó-
absoluta. ria! Na primeira máquina de escrever que meus pais me
Depois desse processo de acúmulo de tensão, chegou a deram, quando eu tinha 13 anos. E no desejo que ainda
hora da festa. Black tie. Minha camisa não fechava. A em- estivessem neste planeta para compartilhar o prêmio. Des-
presária Marcia Marbá, que acompanhava a atriz Grazi de os 13 anos nunca mais parei de escrever. É o que amo
Massafera, estava no apartamento ao lado. No instante de fazer na vida. Eu queria poder falar:
sair, corri para pedir socorro. Como salvar meu colarinho? – É graças a vocês!
Ela prendeu com linha no lugar do botão e pronto! Depois, Mas, de algum forma que nenhum de nós consegue en-
botou a borboleta. Perfeito. Meu problema era como sair da tender exatamente, talvez eles saibam disso, onde estiverem.
camisa depois. Melhor pensar após a premiação. Na festa, Pai, mãe. Gratidão! A vocês, eu devo este Emmy. u
entramos numa fila. Os nomes eram chamados um a um e
percorríamos o tapete vermelho. Fiz algumas fotos. Franca- Walcyr Carrasco é jornalista, autor de livros,
mente, a maior parte dos repórteres internacionais não se peças teatrais e novelas de televisão
LIVRO
2 horas
O renovador da
coluna social
Entre as décadas
de 1960 e 1990,
Zózimo Barrozo do
Amaral informou os
brasileiros, por meio
de suas colunas no
Jornal do Brasil e em
O Globo, sobre as
novidades na vida da
elite carioca – que,
aos poucos, fechou
as portas de seus
palacetes para as
festas de arromba e
ganhou intimidade
com as pistas de
dança das casas
noturnas. A biografia
Enquanto houver
champanhe, há
esperança, escrita
por Joaquim
Ferreira dos Santos,
discípulo de Zózimo,
conta como ele
revolucionou o
colunismo social
CINEMA
com seus sapatos
2 horas EXPOSIÇÃO elegantes, francês
1 hora impecável e jeito
Novas mágicas de J.K. Rowling com as palavras.
Cinco anos depois do lançamento do último Primeira-escultora O título era um
filme da saga Harry Potter, uma nova história do A artista plástica Bia Doria bordão de Zózimo.
mundo mágico criado pela escritora J.K. Rowling ainda não tomou posse como Intrínseca, 672
chega aos cinemas. Animais fantásticos e primeira-dama de São Paulo, páginas, R$ 34,90.
onde habitam conta a história do bruxo Newt mas já começou a imprimir
Scamander, um estudioso das criaturas mágicas. sua marca no cenário urbano.
Na década de 1920 (cerca de 70 anos antes dos Na Exposição de arte
acontecimentos dos antigos filmes de Harry brasileira sustentável, ela
Potter), ele viaja para Nova York com uma maleta apresenta as esculturas da
repleta de animais. Alguns deles escapam, série Bailarinas da natureza,
colocando Scamander e seu novo amigo “trouxa” modeladas com madeira
(aqueles que não são bruxos) Jacob em apuros. nativa recuperada de
Enquanto isso, discursos de ódio surgidos tanto desmatamentos e queimadas.
do lado dos bruxos quanto do lado dos humanos Memorial da América
comuns colocam o mundo em tensão. Em cartaz. Latina, de 29/11 a 18/12.
MOSTRA
2 horas
DVD
2 horas
Reprisa, Valença!
A pedido de fãs, Alceu Valença preparou uma
nova turnê para o disco Vivo!, de 1976. Um
dos shows, gravado no Recife, pode ser visto
no DVD Vivo! Revivo!. Na (re)apresentação,
o repertório do emblemático álbum é
complementado com canções marcantes dos
discos Molhado de suor, de 1974, e Espelho
cristalino, de 1977. Deckdisc, R$ 37,90.
QUADRINHOS
1 hora
É a economia, estúpido!
Sim, dinheiro traz felicidade. Embora nem todo mundo possa se
dar ao luxo de ser feliz, ricos e pobres podem cair na gargalhada
ou esboçar sorrisos nervosos ao ler as quase 400 tirinhas de A
graça do dinheiro: as melhores charges da New Yorker sobre
economia em 90 anos. Organizado pelo cartunista Robert Mankoff,
o livro reúne charges de desenhistas tarimbados sobre crises
econômicas, rentistas malandros, bancos gulosos e contribuintes
desconfiados. É impagável. Zahar, 272 páginas, R$ 69,90.
O conjunto da
obra ameaça Temer
N ão é um tríplex, mas o apartamento embargado de
Geddel Vieira Lima (que pediu demissão na sexta-
feira, dia 25) já desabou em cima do presidente Michel Temer.
Geddel ali, gente! Ele ganha R$ 51.288 por mês, acumulando
dois vencimentos. Fora privilégios e benefícios.
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, decidiu abrir
A política tem dessas coisas, Temer, esse tipo de pressão po- mão de parte do salário para se adequar ao teto. Geddel nem
pular. Não basta saber ajeitar o nó da gravata e falar bem o pensou: “Os meus vencimentos estão dentro da lei. A lei é
português. Num país traumatizado pela corrupção, apostar para todos”. Geddel, o grande articulador, não convenceria
todas as suas fichas numa figura pretérita como Geddel é servidores a abrir mão de vencimentos para ajudar estados
pedir para ser crucificado neste Black December. falidos. Onde vive Geddel? Nas nuvens, e faz tempo. Você
O presidente não podia blindar Geddel antes mesmo de a lembra o vídeo Geddel vai às compras, que mostrava, a partir
Comissão de Ética abrir processo. As “ponderações” do mi- de um helicóptero, as fazendas adquiridas por ele de manei-
nistro da Secretaria de Governo para o então ministro da ra antiética? As imagens são do ano 2001. Quem divulgou
Cultura Marcelo Calero tinham um peso imoral. O talento de foi o então presidente do Senado, o também baiano Antônio
“articulador” do baiano Geddel virou poeira, aquele pó de Carlos Magalhães. O que mudou foi só a tecnologia. Naque-
obra que suja até a alma. Os aliados correram para dar apoio le tempo, o vídeo era distribuído em fita.
irrestrito a um ministro acusado de tráfico de influência em “Vamos trabalhar! O Congresso nos espera”, disse um co-
benefício pessoal. O condenado arranha-céu La Vue, em Sal- movido Geddel com o apoio de seus pares. Rodrigo Maia,
vador, tem as digitais de amigos e parentes presidente da Câmara, foi impiedoso com o
de Geddel desde sua concepção. Um espigão ex-ministro Calero:“Ele enlouqueceu (...) O
em área tombada arranhou Congresso e ministro sai atirando para desestabilizar o
Planalto – por tibieza do presidente. OS POLÍTICOS NÃO Brasil”. O presidente do Senado, Renan Ca-
Parece que os políticos não entenderam lheiros, também saudou a blindagem de
que o país mudou. Eles se matam por um
ENTENDERAM QUE Geddel por Temer: “O bom é que isso fique
apartamento de luxo com “la vue” total da O PAÍS MUDOU. para trás”. Essa dobradinha Rodrigo-Renan
Baía de Todos-os-Santos? Ao dar o caso por ELES SE MATAM POR é o retrato do Brasil reciclável na política.
“encerrado”, todos que apoiaram Geddel Maia quer logo votar na Câmara o pro-
colocaram seus dedos na tomada. Foi falta UM APARTAMENTO jeto de medidas anticorrupção, no qual foi
de visão, uma irresponsabilidade com um DE LUXO? infiltrada uma anistia ao caixa dois eleitoral,
momento em que o Brasil deveria focar na que coloca em risco inquéritos passados,
estabilidade econômica e na recuperação do presentes e futuros da Lava Jato contra po-
emprego. Com amigos como Geddel, Renan Calheiros e Ro- líticos. E o açodado Renan quer logo votar no Senado o pro-
drigo Maia, nenhum presidente precisa de inimigos. jeto contra abuso de autoridade, porque está prestes a virar
Ao assumir a Presidência há seis meses, após longo e réu no Supremo por crimes de corrupção e lavagem de di-
doloroso impeachment de Dilma Rousseff, Temer disse que nheiro. O projeto de Renan tem o apoio do PT e de petistas,
era “hora de tentar pacificar o país”. Agora, ao nomear Ro- amedrontados com o que está por vir.
berto Freire para a Cultura, Temer nem se referiu ao ante- Mesmo com as urgências, e já prevendo os estragos do
cessor Calero. Estava amuado. O próprio Temer havia inter- Furacão Odebrecht, os parlamentares se recusam a trabalhar
cedido com Calero em favor de Geddel, que andava “muito nas segundas e sextas-feiras. Eta, país. Juntando a isso o fato
irritado” com o embargo de seu apartamento. Na posse de de que os deputados tentam evitar votação nominal em as-
Freire, Temer disse que vai “salvar o Brasil”,“ganhar céu azul suntos explosivos, para se esconder da sociedade... Temos um
e velocidade de cruzeiro”. Não, presidente. O céu está enfar- Congresso dissociado da sociedade.
ruscado, e sua forma de menosprezar o caso Geddel é mais Calero foi o quinto ministro a deixar o governo Temer.
do mesmo. Só ajuda a inflamar as ruas. Geddel, o sexto. Dilma chegou a trocar um ministro a cada
Em setembro, Geddel havia constrangido o governo, ao 22 dias. Agora Temer se aproxima da média de sua anteces-
declarar: “Caixa dois não é crime. Quem se beneficiou deste sora. O caso Geddel pode ajudá-lo a pensar melhor antes
mecanismo no passado não pode ser punido”. Será que Temer de blindar o próximo. u
ponderou com Geddel? Depois, a imprensa deu a lista dos
salários acima do teto constitucional de R$ 33.763. Olha o Ruth de Aquino é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br