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Prefácio
Ideologias são ideias simples, disfarçadas de ciência ou filosofia, que pretendem explicar a
complexidade do mundo e oferecer soluções para aperfeiçoá-lo. Os ideólogos são pessoas
que fingem saber como “fazer um mundo melhor” antes de organizarem o próprio caos
interior. (p. xiii)
[...] Se você ou alguém próximo está sofrendo, isso é triste. Mas, de forma lamentável, não
é particularmente especial. Não sofremos apenas porque “os políticos são idiotas”, “o
sistema é corrupto” ou porque você e eu, assim como a maioria, podemos nos descrever
legitimamente como uma vítima de algo ou alguém, de alguma maneira. É pelo fato de
termos nascido humanos que, com certeza, teremos nossa dose de sofrimento. (p. xv)
[...] os adultos, durante suas vidas, tornaram-se tão ingenuamente superprotetores que
enganaram a si mesmos pensando que não falar sobre sofrimento, de alguma forma,
protegeria magicamente seus filhos. (p. xvi)
[...] “expressão forçada” (pois envolve um governo forçando os cidadãos a darem voz para
visões políticas) [...]. (p. xvi)
[Sobre o politicamente correto]
O estudo da virtude não é exatamente o mesmo que da moral (certo e errado, bem e mal).
Aristóteles definiu as virtudes como simples formas de comportamento mais favoráveis à
felicidade na vida. O vício foi definido como formas de comportamento menos favoráveis
à felicidade. Ele observou as virtudes que sempre almejam o equilíbrio e evitam extemos
dos vícios. Aristóteles estudou virtudes e vícios em seu livro Ética a Nicômaco. Foi um livro
baseado em experiência e observação, não em conjecturas, sobre o tipo de felicidade que
era possível para os seres humanos. Cultivar o julgamento da diferença entre virtude e vício
é o princípio da sabedoria, algo que nunca pode estar desatualizado. (pp. xviii-xix)
Em contraste a isso, nossos relativistas modernos começam por asseverar que fazer
julgamentos sobre o modo de viver é impossível, pois não há um bem real e uma virtude
verdadeira (uma vez que ambos são relativos). Desse modo, o mais próximo da “virtude”
é a “tolerância”. Apenas a tolerância fornecerá a coesão social entre grupos diferentes e
nos prevenirá de causar danos uns aos outros. No Facebook e em outras formas de mídia
social, portanto, você sinaliza sua assim chamada virtude dizendo a todos o quão tolerante,
aberto e compassivo você é, e espera que as curtidas se acumulem. (Deixando de lado o
fato de que dizer às pessoas que você é virtuoso não é uma virtude, é autopromoção.
Sinalizar a virtude não é virtude. Sinalizar a virtude é, muito possivelmente, nosso vício mais
comum.)
Intolerância com o ponto de vista dos outros (não importa quão ignorantes ou incoerentes
eles possam ser) não é simplesmente errado; em um mundo em que não há certo e errado,
é ainda pior: é um sinal de que você é desagradavelmente grosseiro ou, possivelmente,
perigoso.
Mas o que acontece é que muitas pessoas não conseguem tolerar o vácuo o caos-inerente
à vida, mas que ficou pior por esse relativismo moral; elas não conseguem viver sem uma
bússola moral, sem um ideal pelo qual guiar suas vidas. (Para os relativistas, os ideais
também são valores e, como todos os valores, meramente "relativos", e dificilmente vale
a pena se sacrificar por eles.) Então, ao lado do relativismo, encontramos a difusão do
niilismo e do desespero, e o oposto do relativismo moral: a certeza cega oferecida pelas
ideologias que alegam ter uma resposta para tudo.
E, assim, chegamos ao segundo ensinamento com o qual os millenials têm sido
bombardeados. Eles se inscrevem em cursos de humanidades para estudar os maiores
livros já escritos. Mas não recebem os livros; em vez disso, recebem ataques ideológicos
contra os livros baseados em uma simplificação aterrorizante. Onde o relativista está
repleto de incerteza, o ideólogo é o oposto. Ele é superpreconceituoso e crítico, sempre
sabe o que está errado nos outros e como resolver. Às vezes parece que as únicas pessoas
dispostas a dar conselhos em uma sociedade relativista são as que têm menos a oferecer.
(pp. xix-xx)