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PROJETO O ENSINO DE TEATRO COMO DISCIPLINA INCLUSIVA

O teatro na escola não tem como unico objetivo a formação de atores, mas oferecer
experiências teatrais que podem proporcionar ao aluno a possibilidade de experimentar
situações de cunho ético, do campo do sensível humano, do olhar, do sentir, do
pensar; que pela prática de construção e representação possam confrontar seu mundo
com o mundo que o cerca.

O ensino de teatro tem muitas faces, uma delas a terapêutica, porém, normalmente o
professor treinado para isso não ressalta este aspecto, mas suas aulas, indiretamente,
podem transformar o individuo de maneiras diversas.

O ensino de teatro, como disciplina essencialmente inclusiva, oferece a experiência de


criar e se arriscar, contribuindo para autonomia dos sujeitos. Desta forma, o processo
de inclusão vai depender de como o professor trabalha e das possibilidades que o
estado oferece para essa prática.

O trabalho teatral tem várias faces, que vai desde o ensino até as apresentações de
peças já prontas. Mas no caso que nos convoca o processo criativo é a face mais
importante de inclusão. E lá onde os profissionais (de teatro, da educação e da
psicologia) escolhem a metodologia mais adequada para cada caso a ser observado e
tratado e a metodologia para conseguir criar um grupo que contemple alunos que se
aproximam pelo objetivo de apresentar alguma peça teatral como também daqueles
que são orientados a integrar o grupo por uma necessidade de inclusão

A metodologia sera escolhida em interação entre os profissionais das diversas áreas,


pois de nada serve eleger uma metodologia de ensino de teatro inclusiva para pessoas
com deficiência se o professor não está preparado ou se a escola não está pronta para
receber esses trabalhos.

. Cada metodologia apresenta pontos de adaptação e reorganização, permitindo que


cada indivíduo possa utilizar seus jogos e exercícios de forma diferentes, a depender
de seus limites, permitindo a cada um se expressar de formas diferentes em cada
método apresentado.

Cabe então ao professor de teatro e ao profissional da psicologia verificar e conhecer


seus alunos, a fim de, com seus estudos sobre metodologia do ensino de teatro,
realizar uma verdadeira inclusão e adequá-la para cada realidade que encontrar na
escola.

Esse é o ponto esencial que a gente quer colocar. O teatro nas escolas normalmente
se utiliza como uma atividade a mais daquelas periféricas do ensino. Se trabalha com
o objetivo de criar espetáculos para festas escolares ou com o intuito de levar alguma
mensagem abordada pela escola por ex: ajuda na consciencia ambiental, ajuda em
relação a violencia doméstica, campanhas contra a dengue e tantas outras peças
teatrais educativas que as escolas apresentam.

A nossa proposta é o teatro sendo trabalhado na escola não só como ferramenta para
aprofundar mensagens educativas, mas como um trabalho com a continuidade
necessária para poder se manifestar como um espaço de inclusão tanto dos alunos
com alguma deficiencia diagnosticada como também daqueles alunos que atravessam
situações limites que os colocam em situação de risco.

Não podemos fechar os olhos à realidades atuais que nos preocupam. A quantidade
de adolescentes e pre adolescentes que manifestam alguma fixação em relação ao
suicidio, as brigas de facções que acabam se manifestando em escolas disimuladas
em brigas naturais e normais entre jovens, as práticas de bullying cada vez mais
agressivas, o preconceito se manifestando de uma forma violenta e perigosa em sala
de aula. A agressividad social explodindo contra os pares e os professores

O trabalho na sala de aula não prevé o tempo necessário para que o aluno consiga
desenvolver uma intimidade tal para se transformar num espaço que otorgue voz a
estas problemáticas. Mas a prática de teatro com continuidade abre um ámbito
propicio para estas situações. O uso da ludicidade do jogo e da expressão
dramática e os exercícios corporais conseguem desenvolver o aluno como um todo
transformando a prática do teatro junto com profissionais da psicologia numa rede de
apoio apropriada para responder às necessidades daqueles alunos que de fato se
encontram "excluidos”.

O teatro trabalhado como ação inclusiva promove a autoestima, o desenvolvimento do


autoconceito, facilitando a integração do aluno rumo a uma inclusão efetiva e afetiva.
Através do conhecimento acerca do Mundo e do Outro, pode incitar ao próprio auto-
conhecimento

Através do apelo a diferentes realidades, é capaz de estimular a imaginação do


indivíduo com DM, libertando-o, assim, das limitações inerentes à sua deficiência

É possível também, através do teatro, desenvolver no indivíduo com DM competências


das áreas sócio-afetivas, cognitivas, entre outras.

E capaz de fomentar o sentido de responsabilidade, hábitos de solidariedade e de


entreajuda entre todos os envolvidos, quando se estabelecem grupos de teatro que
possibilitem o encontro entre os supostamente "normais" e aqueles que apresentem
dificuldades ou sintomas visíveis de uma fragilidade nas suas relações sociais e
familiares. O teatro é susceptível de promover nos pares dos indivíduos com DM a
tolerância pela diferença, favorecendo assim enquadramentos de inclusão. Assim, a
possibilidade do encontro que não acontece naturalmente na escola pela dificuldade
desses alunos no ato de se "enturmar" acontece sim e necessáriamente para trabalhar
teatro.

O teatro como grupo, desenvolve o conceito básico da necessidade do outro. No


palco para eu desenvolver o melhor possível o meu trabalho preciso que os outros
também consigam mellhorar. O teatro não acontece como um triunfo individual e sim
como trabalho de cada um dos envolvidos em cada uma das possibilidades de trabalho
teatral, desde o trabalho no palco até o trabalho de escolher as musicas, planejar a
iluminação, os figurinos, possíveis cenários, os roteiros, as práticas corporais
necessárias.

Assim é um palco privilegiado para a promoção do desenvolvimento integral, que


poderá promover áreas tão diversas como o desenvolvimento cognitivo, o
relacionamento interpessoal e especial e necessáriamente o emocional, tão esquecido
nos dias de hoje no tratamento da diferencia.

O teatro proporciona estas aprendizagens de uma forma quase que camuflada na


medida que são exigências implícitas percebidas como menos ameaçadoras do que
quando apresentadas como exigências comportamentais e regras a cumprir na sala de
aula. O objetivo final motiva os alunos e proporciona um maior investimento
e empenho em incluir aos outros o que supõe abrir o lugar de fala para os mais
fragilizados e também para aqueles que se apresentam como fortes e resolvidos mas
que escondem suas frustrações e conflitos atrás daquela máscara de agressividade e
violencia.

Quando se sonha com um mundo melhor para os nossos jovens, todos eles, o que
permeia o trabalho não são sentimentos de depressão, de comiseração ou de
estranheza, mas antes a vontade e a certeza de que é possível construir algo maior e
mais digno para eles e para nós trabalhadores da educação.

Caberá aos dinamizadores construir e assegurar com cada grupo esse ambiente de
segurança, pela aceitação incondicional, pela definição de regras, pela atenção
constante e pelo trabalho em termos de dinâmicas de grupo que promovam o respeito,
a empatia, a troca de afectos positivos, o sentido de grupo e de pertença, etc. Só com
um contexto percebido como seguro por todos os elementos se poderá conseguir
trabalhar as dimensões intra e inter-pessoais acima descritas.

Mas para isso se faz necessário um trabalho que tenha uma continuidade e não
abandone os alunos mais problemáticos em prol de um outro objetivo. Muitas vezes o
objetivo do professor de teatro é que o grupo brilhe nas apresentações de final do ano,
situação que sempre deixa fora aqueles que não conseguem acompanhar o processo
com a celeridade necessária dos tempos da contratação. Assim, o objetivo é o
resultado cênico e não a inclussão ou o trabalho de conscientização que estamos
colocando neste projeto.

Isso não significa a exclusão do resultado final da apresentação pública. Só que ela
não se considera como o objetivo principal e sim como um dos objetivos secundários.
Objetivo que só será possível se aquele outro, o objetivo da inclussão e da criação do
grupo é cumplido anteriormente.

O teatro permite ao aluno descobrir em si qualidades e habilidades até então


desconhecidas ou desvalorizadas, dando-lhe uma projeção especial. Também
proporciona ao aluno o desenvolvimento de outras competências que farão com que se
sinta capaz de novas proezas, mas também perceber que é capaz de aprender e
evoluir, que basta que para isso se envolva e invista no processo. Permite obter o
reconhecimento e validação dos pares e dos adultos, quer no grupo mais restrito do
teatro e, depois, num contexto mais amplo com a apresentação pública. Todas
estas experiências se revelam muito importantes na promoção de uma autoestima e
autoconceito positivo, bem como um auto-conhecimento mais aprofundado.

Emocionalmente, pode funcionar como mais um pilar positivo, na estrutura do


indivíduo, não só no seu passo pela escola como também em termos de vida futura.

A construção de personagens permite uma experimentação de narrativas diversas e


alternativas que poderá enriquecer de forma cabal as experiências idiossincráticas dos
alunos e proporcionar-lhes a compreensão de que a partir de uma mesma situação
poderá fazer diferentes leituras da realidade. Poderá fazer diferentes leituras da sua
propria realidade o que lhe otorga múltiples caminhos para a resolução dos seus
conflitos.

é na interação entre pares que o indivíduo percebe seus próprios pensamentos e os


compara aos pensamentos dos outros, coloca-se no lugar do outro. Contribuindo para
reflexão sobre o outro e sobre si e auxilia o processo de inclusão.

Na compreensão da diversidade, as diferenças e semelhanças entre cada sujeito se


abre a percepção e o autoconhecimento. Assim o teatro surge como uma disciplina
“por natureza interdisciplinar e inclusiva, porque nela não há limites e nem regras a
serem seguidas com rigor científico e, nisso, há uma possibilidade de expressão que
extrapola os padrões convencionais de aprendizagem.” é uma linguagem artística
carregada de potencialidade autotransformadora que permite a transformação social,
tendo em vista a amplitude das questões por ela contempladas. As atividades das
aulas de teatro para sujeitos com deficiência exigem a mobilização da atenção,
memória, percepção espacial e corporal, expressividade, criatividade e imaginação,
dentro dos seus limites. Todos esses aspectos são essenciais, pois colaboram para
uma experiência prática de cada um, e de acordo com Vygotsky (2005), a “educação
se faz através da própria experiência do aluno, a qual é inteiramente determinada pelo
meio”

O Jogo Dramático é instrumento de análise do mundo, no qual situações são vistas e


revistas, moldadas e modificadas no jogo, e um indivíduo pode sempre parar, voltar e
tentar novamente um novo caminho, um novo final para a mesma situação cênica

O aluno transforma-se a partir das ações que foram aprendidas em cena e leva esse
aprendizado e essas transformações para sua vida cotidiana (BOAL, 2013).

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