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ANTROPOLOGIA - CURSO DE ETNODESENVOLVIMENTO

Bepnhõngri Xikrin Silva

1. Introdução

A Terra Indígena Trincheirada - Bacajá tem o tamanho de 1 milhão e 650 mil


hectares de terra e abrange 5 Municípios: São Felix do Xingu, Senador José Porfírio
(Souzel), Pacajá, Anapú e Altamira. Lá vivem os Xikrin do Bacajá desde antes do
contato com o homem branco (kuben). O contato com o homem branco ocorreu em
agosto de 1952. Os Xikrin se dividem em dois grupos: Xikrin do Cateté e Xikrin do
Bacajá. Antes havia apenas uma grande aldeia, mas, devido a uma briga envolvendo
duas crianças, ocorreu a separação das duas famílias, os Xikrin e os Gorotire. Hoje o
grupo Xikrin do Bacajá soma aproximadamente 1286 habitantes. Os Xikrin são
falantes de língua kayapó que faz parte do Tronco Linguístico Jê. Os Xikrin do Bacajá
no presente momento são distribuídos em 16 comunidades (aldeia). Dentre essas, a
aldeia Kenkudjoy fica a aproximadamente quatro quilômetros da aldeia Kabakro, cujo
acesso se dá por via de estrada de terra ou pelo rio bacajá.

2. Infraestrutura

A aldeia Kenkudjoy foi fundada em 2009. As casas eram de tábua e cobertas com
telha de amianto ou cobertura de palha. Em 2016, a Norte Energia começou a
construção das casas novas, que são de alvenaria e telha de amianto. Estas ficaram
prontas apenas em 2017. Na aldeia Kenkudjoy moram 9 família, que através de
projetos desenvolvidos em parceria com a Norte Energia, logo após a entrega das
casas, criam galinhas e pintos de granja. Também foram construídos galinheiros que
foram dados para cada uma das famílias.

Na aldeia as casas são distribuídas em formato de circulo. No centro da aldeia


tem uma casa chamado ngàb, ou seja, casa do guerreiro, também conhecida como
casa do meio, que tem várias função, como: reuniões, festas tradicionais e etc.

3. Costumes

Dentre as festas tradicionais, desta-se o kwýrwkangò que dura de 4 a 5 dias de


festa na comunidade. Antes do início das comemorações, os homens vão para mata e
lá ficam por 5 dias, procurando jabuti, porco do mato, etc. Enquanto isso outra equipe
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vai pescar. As mulheres e as crianças se pintam na casa do guerreiro, e, quando os
homens retornam da mata, chegam cantando para dizer que foi uma boa caça e a
pescaria foi abundante, dando início à festa kwýrwkangò.

Depois da chegada dos homens, chega a vez das mulheres mostrarem sua
culinária típica do povo Xikrin. Preparam o jabuti e o peixe de acordo com a técnica
djãkupu: recheia-se o jabuti ou o peixe com farinha de puba molhada ou de puba seca,
em seguida é enrolado na palha de banana para ser assado no ký que é feito com
pedras pequenas ou medias que são esquentadas encima de um fogo e, depois de
quentes, são colocadas sobre as caças envolvidas em palha de bananeira, que, em
seguida, são enterradas por uma hora. Além da dança, o preparo dos alimentos é
papel das mulheres na festa kwýrwkangò. Nessa ocasião, a casa do meio também
serve para as pessoas convidadas dormirem durante a festa.

4. Educação

A educação escolar indígena se dá nas duas línguas paralelamente, trabalhando


a língua materna, abordando e levando em consideração os saberes tradicionais dos
anciãos no processo de aprendizagem, como festas, costumes, danças e a gramática
da língua menbêngôkre. Além do ensino tradicional, nas escolas existentes nas
aldeias, é ensinado o conhecimento dos não indígenas, ou seja, não tradicional. Do
jardim de infância até o quinto ano as aulas são dadas por professores indígenas, que
abordam o ensino de matemática, geografia, ciências, português e história. Já do
sexto ano até o nono, através do sistema de Educação para Jovens e Adultos - EJA,
as aulas são ministradas por professores não indígenas.

Atualmente, devido à falta de estrutura das escolas nas aldeias, não há


capacidade para lecionar o ensino médio. Isso porque falta espaço nas salas de aula,
pois as carteiras ficam amontoadas, o que dificulta o ensino e o aprendizado. Além
disso faltam professores.

Ainda em relação à estrutura oferecida pelas escolas, contam apenas com uma
merendeira e um zelador, que são indígenas moradores da própria comunidade. Isso
ajuda muito o desenvolvimento da educação, pois o educador tem mais tempos para
focar no ensino dos alunos.

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Os planejamentos da escola são feitos de acordo com o calendário escolar. De
acordo com este, as aulas deveriam iniciar por volta do final do mês de fevereiro, mas
por conta da logística, dificultada pela questão geográfica e o acesso até as
comunidades, há o atraso na compra dos materiais e da merenda. Materiais didáticos
não chegam no período certo, e isso dificulta o aprendizado pois o início das aulas
acaba demorando. Muitas vezes é preciso improvisar materiais como cadernos, que,
quando são entregues, não chegam em quantidade suficiente para todos os alunos e
para o semestre. A merenda que é entregue nas escolas não é suficiente, é de baixo
valor nutricional e, além disso, não leva em consideração a realidade da comunidade.
Seria ideal que o município comprasse os gêneros alimentícios produzidos pela
própria comunidade como banana, açaí, peixe, batata, cará e mamão, que possuem
grande valor nutricional para as crianças.

5. Plantio

É muito utilizado o calendário tradicional baseado nas fases da lua e nas vazantes
dos rios, principalmente quando são ensinados os conhecimentos tradicionais quanto
ao plantio das roças.

Tradicionalmente, os Xikrin plantavam milho raiz (verdadeiro) Xikrin (bãymrèn),


mandioca (kwýrw), batata doce (ynhã), cará (mõ), abóbora (katèn), mamão
(katènbyrè) e banana (týruti). Primeiramente, roçavam no meio da mata fechada e, em
seguida, plantavam ynhã. Depois de um tempo, as árvores eram derrubadas e, após
um mês, eram queimadas (pyrukam è), formando assim a área da roça (pyru). Antes
as roças eram coletivas, ou seja, havia apenas uma roça por aldeia em que todas as
famílias plantavam. O plantio da batata doce, cará, abóbora e mamão era exclusivo às
mulheres, ao passo que o plantio da banana e da mandioca era trabalho dos homens.
Além das roças, os homens praticavam a coleta da castanha do Pará (piý) e as
mulheres do coco do babaçu (ròum).

Atualmente, com os projetos trazidos pelo Plano Básico Ambiental - Componente


Indígena (PBA-CI), passaram a plantar o cacau e a pimenta do reino, ambos para fins
comerciais. As roças agora são menores e familiares (individuais). A abertura das
roças, atualmente, é feita por não indígenas (kuben), que, por meio de motoserras,
derrubam as árvores que, em seguida, são queimadas pelos indígenas. Estes, devido
aos projetos feitos pelas executoras, têm acesso a ferramentas, como facão, enxada,
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motoserra, plantadeira, cavadeira, luvas e botas de borracha. Há também o projeto
para extração do óleo da castanha do babaçu, que é engarrafado e vendido.

6. Economia

Os Xikrin têm poucos meios de geração de renda. Alguns homens pescam


pintado (surubim), barbado, pacu e pescada, os quais são vendidos nas cidades
próximas (Anapú) e para os colonos que vivem nos arredores da Terra Indígena. Já a
piranha, curimatã e mandi são levados às aldeias para o consumo interno. Porém, os
Xikrin ainda desejam um projeto para a criação de peixes (tambaqui, tilápia e
tucunaré), para complementação da alimentação e, se houver excedente, para venda
comercial.

Depois da chegada da Hidrelétrica de Belo Monte, foram feitos alguns projetos


nas aldeias com o objetivo de geração renda. Foram dadas ferramentas para
incentivar a coleta da castanha do Pará, mas a produção já não é a mesma de antes.
Devido à mudança no clima, a produção da castanha diminuiu muito nos últimos anos.

Houve também um projeto para a construção de casa de farinha, com prensa e


forno. Mas a produção é pequena ( entre cinco e quatro sacos ao mês) e a venda é
feita apenas para os próprios Xikrin.

Também foi feito um projeto para a produção de óleo de babaçu. Receberam uma
máquina para extração do óleo, mas as mulheres ainda tinham o trabalho de coletar
os cocos e abri-los. Mas, no final, não conseguiram encontrar compradores para o
óleo e, por isso, a produção era, em maior parte, usada para o consumo interno.

As mulheres também produzem artesanato de miçangas e os homens bordunas,


cocares e paneiros, com o objetivo de gerar renda. Foram feitos projetos com o
objetivo de estimular a produção do artesanato, mas os Xikrin tiveram dificuldade em
vender os produtos, principalmente por conta da dificuldade do transporte para a
cidade, locais onde os produtos são vendidos.

Além disso, muitas famílias vivem apenas com o dinheiro recebido por meio de
aposentadoria rural e programas sociais, como o bolsa família. Outros, ainda, são
assalariados, como: professores, merendeiras, zelador, agentes indígena de saúde e
agentes indígena de saneamento.

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7. Saúde

As comunidades dispõem de postos de saúde que proporcionam a atenção


básica, com atendimento primário feito por técnicos de enfermagem,
permanentemente, e uma vez por ano por médico. Estes postos são geridos pelos
Distritos Sanitários Especiais Indígenas - DSEIs. Em caso mais graves, os Xikrin são
atendidos pelo Sistema Único de Saúde - SUS. Porém, nos postos instalados nas
aldeias faltam remédios e, muitas vezes, os técnicos de enfermagem não dão os
remédios certos. Quando conduzidos à cidade, os doentes ficam na Casa de Saúde
do Índio - CASAI, e lá ocorre muita demora para fazer exames e receber os
resultados.

E também são utilizados saberes tradicionais para tratar algumas doenças.


Alguns homens mais velhos fazem remédios (býkampidjà) a partir de plantas
medicinais. Outros, os pajés (mekamõndjoý), curam doenças com certos tipos de
remédios, rezas e fumaça.

8. Conclusão

Após a construção da Hidrelétrica de Belo Monte, que trouxe muitos projetos para
as aldeias como medidas de mitigação em decorrência dos danos causados pelo
represamento do rio, foi necessário que os Xikrin criassem as associações. A função
das associações é a de gerir recursos transferidos pela Norte Energia e, a partir
desse, executar alguns projetos. Alguns bens são transferidos diretamente às
associações, como: carros, motos, dinheiro para CNH (Carteira Nacional de
Habilitação), etc.

Com isso, os próprios indígenas estão conseguindo executar seus projetos. Como
no caso da aldeia Pykajakà, que executou o projeto da casa de farinha (farinheiro
elétrico). A partir de recursos transferidos para a associação, conseguiram comprar
um forno completo e motor. Também compraram um caminhão para que possam
buscar banana nas roças. Assim, os Xikrin puderam, finalmente, tornarem-se
protagonistas nos projetos, atingindo, com isso, maior autonomia.

Bibliografia

5
GIANNINI, Isabelle Vidal. Kayapó Xikrin. Disponível em:
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kayap%C3%B3_Xikrin. Acesso em: 31 out.
2019.

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