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O mandado de segurança e o direito à nomeação do

candidato aprovado em concurso público


Gabriela Oliveira Freitas

Resumo: O presente estudo pretende analisar o novo posicionamento do Supremo


Tribunal Federal, exarado no Recurso Extraordinário nº 227480, acerca do direito à
nomeação do candidato aprovado em concurso público, tendo em vista as regras sobre o
Mandado de Segurança.

Sumário: 1 Introdução; 2 Do mandado de segurança; 3 Da nomeação do candidato


aprovado em concurso público; 4 Do novo entendimento adotado pelo STF; 5 Crítica ao
novo entendimento do STF; 6 Considerações finais; Referências.

1 INTRODUÇÃO

O Direito, na atualidade, tem se afastado da teoria positivista, pelo que se entende que
este não está vinculado somente ao disposto na legislação, mas também às soluções
encontradas para as demandas judiciais. Em assim sendo, a teoria pós-positivista do
direito permite que a atividade jurisdicional não seja somente uma subsunção do fato à
norma, mas uma busca pela melhor solução, também pautada por uma decisão
principiológica.

Desse modo, os precedentes jurisprudenciais passaram a ter forte influência nas


decisões judiciais, vez que utilizados como fundamentação.

Um exemplo dessa importância da jurisprudência se reflete no impacto causado pela


recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que, no julgamento do Recurso
Extraordinário (RE) 227480, alterou o entendimento acerca do direito à nomeação dos
candidatos aprovados em concurso público.

Segundo o novo entendimento jurisprudencial, a Administração Pública se obriga a


nomear os aprovados em concurso público, dentro do limite de vagas previsto no edital,
no prazo de validade do certame, contrariando o entendimento anterior de que haveria
tão-somente expectativa de direito quanto à nomeação.

Neste sentido, o objeto do presente estudo é possibilitar a análise do mandado de


segurança e do direito à nomeação do candidato aprovado em concurso público, em face
dos princípios constitucionais que regem a Administração Pública e do
supramencionado entendimento jurisprudencial.

2 DO MANDADO DE SEGURANÇA
Inicialmente, destaque para a utilização da via do Mandado de Segurança na
impugnação da questionada omissão da Administração Pública em nomear o candidato
aprovado em concurso público, o que implica em algumas particularidades.

O Mandado de Segurança é ação constitucional, de natureza cível, prevista no art. 5º,


LXIX, da Constituição da República e na Lei 12.016/2009, visando a proteção de
direito líquido e certo lesado ou que sofra ameaça de lesão, em decorrência de ato de
autoridade, praticado com ilegalidade ou abuso de poder.

Entende-se por direito líquido e certo aquele demonstrado de plano, por meio de provas
pré-constituídas, tendo em vista que a estreita via do Mandado de Segurança não
comporta dilação probatória.

Desse modo, pretendendo-se o reconhecimento do direito à nomeação pela aprovação


em concurso público pela via do Mandado de Segurança, necessário que seja o
mencionado direito demonstrado por prova pré-constituída, não se admitindo qualquer
produção de prova durante o procedimento.

Deve, portanto, ser claramente demonstrado que o ato ou omissão que se pretende
impugnar é ilegal ou abusivo, por ser estreita a via desta ação mandamental.

O procedimento se inicia pela distribuição da petição inicial, que deve ser apresentada
em duas vias, ambas acompanhadas dos documentos necessários à impetração. Ao
receber a peça exordial, deverá o magistrado notificar a autoridade coatora, remetendo-
lhe a cópia da petição com os documentos que a instruem, podendo também analisar o
pedido liminar.

Caso verifique a ausência de requisito essencial, de pressupostos processuais ou inépcia


da inicial, bem como o não cabimento do mandado de segurança, deve ser a petição
indeferida, nos termos do art. 10, da Lei 12.016/200, decisão da qual cabe recurso de
apelação.

Não sendo indeferida a petição inicial, prossegue-se o feito com a apresentação de


informações da autoridade coatora, considerada a pessoa que praticou o ato abusivo ou
ilegal, conforme ensinamento de Nilson Reis:

“É a autoridade pública que emite ato como manifestação ou omissão (equipara-se a


ato desde que provoque lesão a direito objetivo) do Poder Público ou de seus delegados
que se encontrem no exercício e competência de suas funções e até mesmo ‘a pretexto
de exercê-la’(...)

Assim, o coator segue sempre o representante da pessoa do pólo passivo, mas jamais
será ele parte da relação jurídico-processual. É mero informante. É agente
administrativo.” (REIS, 2000, p. 61)

Posteriormente, ouve-se o Ministério Público e os autos são conclusos para o


magistrado, que deve proferir a sentença em trinta dias, tendo em vista que os processos
de mandado de segurança possuem prioridade sobre os demais, exceto habeas corpus.

É ensinamento de José da Silva Pacheco:


“O juiz deve sentenciar com as informações, se houver, ou sem elas, sendo
imprescindível o pronunciamento do Ministério Público. Descomportando diligência de
índole probatória, a não ser a requerida pelo impetrante para pedir a exibição de atos,
na forma do art. 7º, I, da Lei 1.533/51, não se há de designar audiência para instrução,
nem de abrir dilação nesse sentido”. (PACHECO, 2008, p. 221)

Outra peculiaridade que merece destaque refere-se ao prazo para impetração da ação
mandamental. Nos termos do art. 23, da Lei 12.016/2009, o Mandado de Segurança
deve ser impetrado no prazo decadencial de 120 dias, contados da ciência do ato
impugnado.

Entretanto, em se tratando de omissão da Administração Pública, o referido prazo inicia


seu decurso ao fim do prazo que possui a Administração para praticar o ato ou, caso não
haja previsão de prazo legal para a prática do ato, “não se cogita decadência para o
mandado de segurança, por inexistência de um termo a quo; enquanto persistir a
omissão, é cabível o mandado” (DI PIETRO, 2005, p. 689).

Desse modo, no caso em questão, o prazo para impetração do mandamus inicia-se ao


término do prazo de validade do concurso, previsto no art. 37, III, da Constituição da
República, oportunidade em que se encerra o questionado dever da Administração
Pública em nomear os candidatos aprovados.

Pretende-se, portanto, diante da perspectiva da estreita via do Mandado de Segurança,


apreciar a questão da aprovação em concurso e o suposto direito à nomeação.

3 DA NOMEAÇÃO DO CANDIDATO APROVADO EM CONCURSO PÚBLICO

A Administração Pública rege-se pelos princípios da legalidade, moralidade,


impessoalidade, publicidade e eficiência, conforme disposto no caput do art. 37, da
Constituição de 1988.

Em consonância com os mencionados princípios, prevê a Constituição da República, em


seu art. 37, incisos I e II, a necessidade de prévia aprovação em concurso público de
provas ou prova e títulos para acesso à cargo ou emprego público:

“Art. 37 (...)

I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que


preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma
da lei;

II -a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em


concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a
complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as
nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e
exoneração;”

No que tange ao prazo de validade do concurso público, dispõe ainda que:

“Art. 37 (...)
III – o prazo de validade do concurso público será de até dois anos, prorrogável uma
vez, por igual período;

IV -durante o prazo improrrogável previsto no edital de convocação, aquele aprovado


em concurso público de provas ou de provas e títulos será convocado com prioridade
sobre novos concursados para assumir cargo ou emprego, na carreira”;

A solução da controvérsia na abordagem do presente estudo depende, inicialmente, da


diferenciação entre Poder Vinculado e Poder Discricionário. Assim é que o novo
entendimento adotado pelo STF afasta a tese de ser discricionário o ato de convocação
de candidato aprovado, considerando que o ente público encontra-se vinculado pela
publicação da necessidade de provimento das vagas previstas no instrumento
convocatório.

O ato administrativo sujeito ao Poder Vinculado é aquele que se submete integralmente


às exigências legais, não sendo permitido à autoridade competente liberdade em sua
prática. Quanto ao ato discricionário, este se caracteriza por permitir ao administrador
liberdade na escolha da prática do ato, observando a conveniência e oportunidade.

Sobre tal questão, leciona Maria Sylvia Zanella Di Pietro:

“Pode-se, pois, concluir que a atuação da Administração Pública no exercício da


função administrativa é vinculada quando a lei estabelece a única solução possível
diante de determinada situação de fato; ela fixa todos os requisitos, cuja existência a
Administração deve limitar-se a constatar, sem qualquer margem de apreciação
subjetiva.

E a atuação é discricionária quando a Administração, diante do caso concreto, tem a


possibilidade de apreciá-lo segundo critérios de oportunidade e conveniência e
escolher uma dentre duas ou mais soluções, todas válidas para o direito”. (DI PIETRO,
2005, p. 205

Ao considerar o ato de nomeação como discricionário, permite-se que a Administração


Pública o faça em conformidade com sua conveniência e oportunidade, podendo,
inclusive, deixar de nomear o candidato aprovado no certame.

Considerando o ato como vinculado, como correu o julgamento do Recurso


Extraordinário 227480, pelo STF, a Administração se obriga à nomeação do candidato
aprovado no concurso dentro do limite de vagas previsto no edital, tendo em vista o
princípio da vinculação ao instrumento convocatório.

4 DO NOVO ENTENDIMENTO ADOTADO PELO STF

O entendimento jurisprudencial ora questionado foi proferido pela Primeira Turma do


Supremo Tribunal Federal no julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 227480.

“DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. NOMEAÇÃO DE


APROVADOS EM CONCURSO PÚBLICO. EXISTÊNCIA DE VAGAS PARA O
CARGO PÚBLICO COM LISTA DE APROVADOS EM CONCURSO VIGENTE:
DIREITO ADQUIRIDO E EXPECTATIVA DE DIREITO. DIREITO SUBJETIVO À
NOMEAÇÃO. RECUSA DA ADMINISTRAÇÃO EM PROVER CARGOS VAGOS:
NECESSIDADE DE MOTIVAÇÃO. ARTIGOS 37, INCISOS II E IV, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. RECURSO EXTRAORDINÁRIO AO QUAL SE
NEGA PROVIMENTO. 1. Os candidatos aprovados em concurso público têm direito
subjetivo à nomeação para a posse que vier a se dada nos cargos vagos existentes ou nos
que vierem a vagar no prazo de validade do concurso. 2. A recusa da Administração em
prover cargos vagos quando existentes candidatos aprovados em concurso público deve
ser motivada, e esta motivação não é suscetível de apreciação pelo Poder Judiciário. 3.
Recurso extraordinário ao qual se nega provimento.

A controvérsia da demanda versou acerca da existência de direito adquirido à nomeação


ou mera expectativa de direito, por parte dos candidatos aprovados dentro do número de
vagas.

No início do julgamento, em junho de 2008, votaram contra o direito dos candidatos os


ministros Carlos Alberto Menezes Direito (relator) e Ricardo Lewandowski, dando
provimento ao recurso do MPF, sob o argumento de que podem existir casos em que
não haja condição de nomeação dos aprovados, seja por outras formas de provimento
determinadas por atos normativos, seja mesmo por falta de condição orçamentária.

A ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha, contudo divergiu da posição do relator, sendo
acompanhada pelo ministro Marco Aurélio, que afirmou que há direito subjetivo há
nomeação “no prazo de validade do concurso, se ele é feito para preenchimento dos
cargos já existentes, criados por lei, entendendo-se, portanto, que são necessários ao
funcionamento da Administração Pública.”

O julgamento foi desempatado pelo ministro Carlos Ayres Britto, que negou
provimento ao recurso, por acredita haver direito à nomeação, mas que pode o Estado
deixar de nomear os aprovados, desde mediante ato devidamente justificado. Afirmou
ainda que “a Administração não poderá, sem burlar o dispositivo e sem incorrer em
desvio de poder, deixar escoar deliberadamente o período de validade do concurso
anterior para nomear os aprovados em certames subseqüentes”.

Assim, o ministro Carlos Ayres Britto seguiu os votos dos ministros Marco Aurélio e
Cármen Lúcia Antunes Rocha, no sentido de que quando o estado anuncia a existência
de vagas, gera para o candidato aprovado o direito à nomeação, com a ressalva de que
admissível a inocorrência da nomeação diante de justificativa plausível apresentada pela
Administração Pública.

Visando ainda garantir o direito de nomeação dos candidatos aprovados,


acompanhando o novo entendimento adotado pelo STF, foi proposto o projeto de
lei PLS 122/08, que prevê que os editais de concurso público devem trazer a
quantidade de vagas a serem preenchidas no prazo de validade do concurso e o
cronograma das nomeações.[1]

5 CRÍTICA AO NOVO ENTENDIMENTO DO STF

O entendimento anterior do Supremo Tribunal Federal garantia ao candidato aprovado


em concurso público somente expectativa de direito, que se tornava subjetivo somente
diante da preterição da ordem de classificação. Confirmando este posicionamento, prevê
a Súmula 15, do STF, que “dentro do prazo de validade do concurso, o candidato
aprovado tem o direito de nomeação, quando o cargo for preenchido sem observância da
classificação.”

Nesse sentido, também é ensinamento de Hely Lopes Meirelles:

“Os candidatos, mesmo que inscritos, não adquirem direito à realização do concurso
na época e condições inicialmente estabelecidas pela Administração; esses elementos
podem ser modificados pelo Poder Público, como pode ser cancelado ou invalidado o
concurso, antes, durante ou após sua realização. E assim é porque os concorrentes tem
apenas uma expectativa de direito, que não obriga a Administração a realizar as
provas prometidas. Ainda mesmo a aprovação no concurso não gera direito absoluto à
nomeação, pois que continua o aprovado com simples expectativa de direito à
investidura no cargo ou emprego disputado.

Vencido o concurso, o primeiro colocado adquire direito subjetivo à nomeação com


preferência sobre qualquer outro, desde que a Administração se disponha a prover o
cargo, mas a conveniência e oportunidade do provimento ficam à inteira discrição do
Poder Público. O que não se admite é a nomeação de outro candidato que não o
vencedor do concurso, pois, nesse caso, haverá preterição do seu direito, salvo a
exceção do art. 37, IV.” (MEIRELLES, 2005, p. 415/416).

Vale ressaltar que se configura a expectativa de direito “quando ainda não se perfizerem
os requisitos adequados ao seu advento, sendo possível sua futura aquisição” (MATA,
2009, p. 456).

Contrariando o entendimento anterior, assim como o posicionamento já pacificado pela


doutrina, o STF pronunciou no Recurso Extraordinário nº 227480, que o direito do
candidato aprovado dentro do limite de vagas é líquido e certo, em razão da vinculação
ao instrumento convocatório.

No mesmo sentido, já se manifestou o STJ, afirmando que

“a partir da veiculação, pelo instrumento convocatório, da necessidade de a


Administração prover determinado número de vagas, a nomeação e a posse, que
seriam, a princípio, atos discricionários, de acordo com a necessidade do serviço
público, tornam-se vinculados, gerando, em contrapartida, direito subjetivo para o
candidato aprovado dentro do número de vagas previstas em edital” (STJ – RMS
22597/MG – Relatora Ministra Jane Silva, julgado em 12 de junho de 2008),

e reconhecendo a existência de direito líquido e certo, como nos seguintes julgados:

“Servidor público. Concurso para o cargo de fonoaudiológo da Universidade Federal


da Paraíba. Edital com previsão de apenas uma vaga. Candidata aprovada em
primeiro lugar. Direito líquido e certo à nomeação e à posse. 1. O concurso representa
uma promessa do Estado, mas promessa que o obriga – o Estado se obriga ao
aproveitamento de acordo com o número de vagas. 2. O candidato aprovado em
concurso público, dentro do número de vagas previstas em edital, como na hipótese,
possui não simples expectativa, e sim direito mesmo e completo, a saber, direito à
nomeação e à posse. Precedentes. 3. Segurança concedida.” (STJ – MS 10381DF –
Rel. Ministro Nilson Naves, Terceira seção, DJ 24/0409).“ADMINISTRATIVO.
RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO.
VAGA ANUNCIADA NO EDITAL E NÃO PREENCHIDA. ATO VINCULADO.
TRIBUNAL PLENO. SESSÃO ADMINISTRATIVA. INTERESSE NO
PREENCHIMENTO DAS VAGAS EXISTENTES. NOMEAÇÃO DA RECORRENTE,
PRÓXIMA DA LISTA CLASSIFICATÓRIA A SER CONVOCADA. DIREITO LÍQUIDO
E CERTO. ORDEM CONCEDIDA.1. Em tema de concurso público, é cediço que o
Edital é lei entre as partes, estabelecendo regras às quais estão vinculados tanto a
Administração quanto os candidatos.2. Veiculado no instrumento convocatório o
quantitativo de cargos vagos a serem disputados no certame, bem como restando
evidenciado, posteriormente, o interesse no preenchimento das vagas existentes, ante
manifestação do Tribunal Pleno da Corte de origem, em sessão administrativa, importa
em lesão a direito líquido e certo a omissão em se nomear candidato aprovado,
próximo na lista classificatória. 3. É o que ocorre no caso dos autos, em que a
Recorrente restou enquadrada dentro das vagas originalmente ofertadas em face de
uma renúncia à nomeação e de uma exoneração. Contudo, expirou-se o prazo de
validade do concurso, tendo sido preenchidas apenas 3 (três), das 4 (quatro) vagas
anunciadas no edital. Resta, evidenciado, portanto, a violação ao direito subjetivo da
Impetrante à nomeação. 4. Recurso conhecido e provido.” (STJ – RMS 26426/AL –
Relatora Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, DJ 19/12/2009).

Verifica-se, que, no entanto, nenhum dos supracitados julgados cuidou de analisar a


ocorrência ou não de motivo apresentado pela Administração Pública que justificasse a
ausência de nomeação dos candidatos aprovados.

Desse modo, temerária a conclusão de que a aprovação dentro do limite de vagas gera
sempre direito líquido e certo.

Neste sentido, revela-se mais sensato o posicionamento esposado pelo Ministro do STF
Carlos Ayres Brito, que defende a possibilidade de a Administração se escusar da
nomeação do candidato, desde que apresente, formalmente, motivação que justifique
devidamente a omissão, tendo em vista a possibilidade de alterações orçamentárias ou
outros motivos que obstem à posse do candidato.

Deve, portanto, ser observado o Princípio da Motivação, exigindo da Administração


Pública o “dever de justificar seus atos, apontando-lhes os fundamentos de direito e de
fato, assim como a correlação lógica entre os eventos e situações que deu por existentes
e a providência tomada” (BANDEIRA DE MELLO, 2005, p. 100).

Ademais, não pode a Administração Pública quedar-se silente sobre questão que deveria
se manifestar, de modo a garantir a publicidade de suas decisões, conforme prevê o art.
37, caput, da Constituição Federal.

Quanto à ocorrência de silêncio da Administração Pública, leciona Hely Lopes


Meirelles:

“Quando não houver prazo legal, regulamentar ou regimental, para a decisão, deve-se
aguardar por um tempo razoável a manifestação da autoridade ou do órgão
competente, ultrapassado o qual o silêncio da Administração converte-se em abuso de
poder, corrigível pela via judicial adequada, que, tanto pode ser ação ordinária,
medida cautelar, mandado de injunção ou mandado de segurança. Em tal hipótese, não
cabe ao Judiciário praticar o ato omitido pela Administração, mas, sim, impor sua
prática, ou desde logo suprir seus efeitos, para restaurar ou amparar o direito do
postulante, violado pelo silêncio administrativo.

O silêncio não é ato administrativo; é conduta da Administração que, quando ofende


direito individual ou coletivo dos administrados ou de seus servidores, sujeita-se a
correção judicial e a reparação decorrente de sua inércia.”(MEIRELLES 2005, p. 114)

Desse modo, correto que, antes de avaliar a existência do direito subjetivo à nomeação
para exercício de função pública, haja manifestação da Administração Pública, visando
permitir a busca pelo interesse público, vez que a nomeação determinada indevidamente
pelo Judiciário pode acarretar danos ao erário, assim como pode ocasionar usurpação de
competência, vez que possivelmente criaria cargo ainda inexistente, o que só é
permitido por lei.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do presente estudo, induvidoso que a Administração Pública encontra-se


vinculada aos termos do Edital de convocação do concurso público.

No entanto, não pode o Judiciário adotar a jurisprudência firmada pelo STF como regra,
devendo analisar sempre a questão diante do caso concreto, tendo em vista que nem
sempre existirá direito líquido e certo do candidato aprovado à nomeação em concurso
público.

Ademais, não é razoável impor a nomeação de candidato aprovado em concurso


público, sem oportunizar à Administração Pública manifestação sobre a possível
impossibilidade de nomeação, seja por questões orçamentárias ou por desnecessidade
decorrente de motivo superveniente à publicação do edital convocatório.

Não pode o Judiciário consentir que a Administração Pública fundamente suas ações em
meras promessas, devendo determinar que sejam supridas suas omissões.

No entanto, deve ser analisado o direito do candidato à nomeação à luz do devido


processo legal, permitindo que a Administração justifique devidamente sua omissão,
fato que afastaria a existência de direito líquido e certo.

Desse modo, revela-se mais razoável o entendimento adotado pelo Ministro Carlos
Ayres Brito, no julgamento do Recurso Extraordinário nº 227480, vez que não retira
toda a discricionariedade do ato de nomeação do candidato, permitindo à Administração
Pública não fazê-lo, desde que apresente motivo justificado, caso em que seria afastada
a existência do direito líquido e certo à nomeação.

Referências bibliográficas
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 05 de Out. de 1988.
Brasília: Senado, 2009.
BRASÍLIA. Superior Tribunal de Justiça. Jurisprudência. Disponível em
<www.stj.jus.br> Acesso em 20 de maio de 2009.
BRASÍLIA. Supremo Tribunal Federal. Informativo. Disponível em
<www.stf.jus.br> Acesso em 20 de maio de 2009.
DI PIETRO, Maria Silvya Zanella. Direito Administrativo. 18. ed. São Paulo: Atlas,
2005.
MATA, Glauciane França da. Concurso Público: Direito à nomeação. In CASTRO,
Dayse Starling Lima (Organizadora). Direito Público: constitucional, eleitoral,
processo e jurisdição constitucionais, administrativo, previdenciário, tributário.
Belo Horizonte: Instituto de Educação Continuada da Puc Minas, 2009.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 30. ed. São Paulo:
Malheiros, 2005.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 19. ed. São
Paulo: Malheiros, 2005.
PACHECO, José da Silva. Mandado de segurança e outras ações constitucionais
típicas. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
REIS, Nilson. Mandado de Segurança. Belo Horizonte: Del Rey, 2000.

ota:
[1] “Projeto de Marconi Perillo prevê cronograma de nomeação. Relator, Adelmir
Santana entende que aprovado tem direito de ser nomeado. A Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) aprovou projeto do senador Marconi Perillo
(PSDB-GO) que busca assegurar a nomeação de aprovados em concursos públicos.
De acordo com o projeto (PLS 122/08), os editais de concurso público devem trazer a
quantidade de vagas a serem preenchidas no prazo de validade do concurso e o
cronograma das nomeações.
Pelo texto do relator, Adelmir Santana (DEM-DF), os candidatos aprovados no limite
de vagas previsto no edital têm direito à nomeação durante a validade do concurso,
desde que existam cargos e respeitados o Orçamento e a Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF).
Marconi argumenta que os órgãos públicos não fazem um planejamento sério da gestão
de pessoal e não preenchem as vagas anunciadas em concurso. Dessa forma, disse, os
concursos "estão brincando com a vida daqueles que se dispuserem a se preparar" para
eles.
O relator observa que o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça já
reconhecem que a aprovação nesses certames gera direito à nomeação. Antes, apenas
geraria a expectativa de direito a ela.
‘Em épocas outras, de viés autoritário, era comum pensar em poderes da administração.
Os doutrinadores mais modernos preferem falar em poderes-deveres, bem mais
adequados ao Estado democrático de direito’, argumenta Adelmir. Disponível em:
http://www.senado.gov.br/jornal/noticia.asp?codEditoria=809&dataEdicaoVer=200911
0 9&dataEdicaoAtual=20091116&nomeEditoria=Decis%C3%B5es&codNoticia=90821
- Jornal semana do dia 09/11/2009 a 15/11/2009- Consulta16/11/2009

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