Nome, nacionalidade, profissão, estado civil, portador da
Cédula de Identidade RG nº ................, inscrito no CPF/MF sob n.º ......................., com a CNH registrada sob n.º ....................., residente e domiciliado na Rua ...................., nº ............., Bairro, Município, Estado, vem tempestivamente apresentar:
DEFESA PRÉVIA
Em face da decisão que instaurou o processo administrativo n.º
.................. de suspensão do direito de dirigir (cópia em anexo) pelos fatos e fundamentos abaixo aduzidos.
I – DOS FATOS
Em ..... de ................. de 2019 o DETRAN.... postou notificação
para informar que foi instaurado o processo administrativo supracitado para suspensão do direito de dirigir, pelo prazo de ..... (......) meses, em decorrência de suposta infração por transitar em velocidade superior a máxima permitida em mais de 50% (cinquenta por cento).
Todavia, conforme se demonstrará, o processo em análise
deverá ser arquivado por vício insanável, tornando o procedimento administrativo nulo, de acordo com o princípio da legalidade, conforme exposto a seguir.
II – DA SUPOSTA INFRAÇÃO E O VÍCIO DE PROCEDIMENTO
Conforme descrito na notificação de suspensão do direito de
dirigir, a origem da instauração do processo administrativo se deu em decorrência de suposta infração tipificada pelo artigo 261, II do Código de Trânsito Brasileiro.
Ocorre que, mesmo na eventualidade de ter ocorrido a conduta
descrita, jamais ocorreu qualquer tipo de publicidade do Auto de Infração (AIT), tão pouco ocorreu qualquer notificação, seja da infração ou da penalidade. Não alheio ao fato de que, diante da impossibilidade ou da excessiva dificuldade de se cumprir o ônus da prova pelo autor, o parágrafo único do artigo 373 do Código de Processo Civil determina sua inversão, sendo esta de responsabilidade da autoridade de trânsito, resta comprovado a inexistência da referia penalidade, uma vez que a mesma jamais constou nos extratos de débitos do veículo, como faz prova o extrato do comprovante de pagamento do licenciamento do veículo em anexo. O processo administrativo de trânsito, assim como todos os demais, é destinado a garantir a observância dos direitos constitucionais do contraditório e da ampla defesa.
É certo que a justa aplicação das penalidades previstas no
Código de Trânsito Brasileiro deve respeitar a formalidade prevista no inciso LV do artigo 5º da Constituição Federal.
Art.5º, LV, CF - aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; (grifo nosso)
No presente caso existe CLARO e INEQUIVOCO cerceamento
de defesa, gerando nulidade que, por si só, enseja o arquivamento deste processo.
Ocorre que jamais ocorreu qualquer Notificação de Autuação
ou de Penalidade que, ao que se nota, pode jamais ter acontecido. Isto posto, resta claro o prejuízo aos direitos fundamentais da ampla defesa e do contraditório.
Ademais, a expedição de notificação deve obedecer a
requisitos legais. Não sendo expedida notificação dentro do prazo de 30 dias o processo deve ser arquivado por inconsistência, conforme prescrito no artigo 4º e §3º do artigo 281 do Código de Trânsito Brasileiro e na Resolução 619 do Contran. Neste sentido se posicionou o STJ:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AUTO DE
INFRAÇÃO. NOTIFICAÇÃO. PRAZO. ART. 281, PARÁGRAFO ÚNICO, II, DO CTB. NULIDADE. RENOVAÇÃO DE PRAZO DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO. DECADÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE. HONORÁRIOS. SÚMULA 7/STJ. RESTITUIÇÃO DE VALORES INDEVIDAMENTE PAGOS. POSSIBILIDADE. 1. O Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/97) prevê uma primeira notificação de autuação, para apresentação de defesa (art. 280), e uma segunda notificação, posteriormente, informando do prosseguimento do processo, para que se defenda o apenado da sanção aplicada (art. 281). 2. A sanção é ilegal, por cerceamento de defesa, quando inobservados os prazos estabelecidos. 3. O art. 281, parágrafo único, II, do CTB prevê que será arquivado o auto de infração e julgado insubsistente o respectivo registro se não for expedida a notificação da autuação dentro de 30 dias. Por isso, não havendo a notificação do infrator para defesa no prazo de trinta dias, opera-se a decadência do direito de punir do Estado, não havendo que se falar em reinício do procedimento administrativo. 4. (…). 5. A presente controvérsia teve solução quando do julgamento do Recurso Especial 1.092.154/RS, de relatoria do Ministro Castro Meira, submetido ao regime dos recurso repetitivos. 6. (…) 7. Esta Corte tem decidido que, uma vez declarada a ilegalidade do procedimento de aplicação da penalidade, devem ser devolvidos os valores pagos, relativamente aos autos de infração emitidos em desacordo com a legislação de regência. Precedentes. 8. (…). 9. Recurso especial provido. (RESP 200700680243, MAURO CAMPBELL MARQUES, STJ – SEGUNDA TURMA, DJE DATA:08/02/2011.) (Sem grifo no original).
Diante da inexistência de qualquer prova de existência da
infração ou, mesmo na eventualidade de existir, resta claro que não
havendo a notificação do infrator para defesa, opera-se a decadência do direito de punir do Estado, por tais motivos o presente processo não possui ato de origem válido e deve ser SUMARIAMENTE ARQUIVADO. Nesta seara, o STJ editou a súmula n.º 312 que determina que “no processo administrativo para imposição de multa de trânsito, são necessárias as notificações da autuação e da aplicação da pena decorrente da infração.”
Uma vez que a infração de origem não ocorreu ou, na
eventualidade de ter ocorrido, jamais foi notificada, os efeitos que decorrem dela não podem existir. Sem produção de efeitos não há de se falar em validade do presente processo administrativo. Neste exato sentido se manifestou o Tribunal de Justiça da Paraíba:
194. A ausência de notificação das infrações impede a
produção de efeitos da multa. TJ/PB Ementa: REMESSA NECESSÁRIA. MANDADO DE SEGURANÇA. VENDA DE VEÍCULO A TERCEIRO. APLICAÇÃO DE MULTAS EM OUTRO ESTADO. NÃO REALIZAÇÃO DA TRANSFERÊNCIA. AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO DAS INFRAÇÕES AO IMPETRADO. INTELIGÊNCIA DO ART. 281, PARÁGRAFO ÚNICO, INC. II, C/C ART. 282, CAPUT, DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO. POSSIBILIDADE DE RENOVAÇÃO DE CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. DESPROVIMENTO. (TJPB - ACÓRDÃO/DECISÃO do Processo Nº 01013919820128152001, 3ª Câmara Especializada Cível, Relator DES. MARCOS CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE , j. em 12-03-2019)
Diante o exposto, como medida de justiça, requer o
arquivamento do presente processo administrativo.
III – DA NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO E A CONSEQUENTE
NULIDADE DO ATUAL PROCESSO ADMINISTRATIVO
Subsidiariamente, na hipótese da preliminar acima arguida ser
superada, o que não se espera, o auto de infração DEVE ser considerado NULO de pleno direito por evidente desrespeito à legislação regulamentadora e, por consequência o presente processo administrativo deve ser ANULADO, O processo administrativo é um conjunto de atos administrativos que se convalidam pelo princípio da legalidade. Uma vez que um ato é considerado nulo o processo se torna viciado e, por consequência, na impossibilidade de saneamento do vício, também se torna nulo.
O Código Brasileiro de Trânsito, em seu artigo 280, inciso III,
regulamenta que deverá constar no auto de infração “caracteres da placa de identificação do veículo, sua marca e espécie, e outros elementos julgados necessários à sua identificação.”
Como depreende-se da própria notificação do presente
processo o campo de Marca/Modelo do veículo encontra-se em branco, impossibilitando a real identificação do veículo e, por sua vez, resultando em novo cerceamento de defesa, ensejando assim o arquivamento do presento processo.
IV – DOS PEDIDOS
Isto posto, requer:
a) A anulação do processo e o arquivamento do auto de infração
por violação aos princípios constitucionais acima listados;
b) O arquivamento do processo administrativo por vício insanável
em sua origem, dada a inexistência ou nulidade da infração de origem; c) Subsidiariamente, a anulação do processo e o seu arquivamento em virtude da nulidade na constituição do ato originário de instauração, vício insanável do processo administrativo.
Nestes termos,
Pede deferimento,
Cidade, .... de .................... de 2019
_____________________________________ Nome / RG ou Advogado / OAB