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Soteriologia

O que é a verdade?

A Bíblia diz que a Trindade é a verdade (o Pai: Dt 32.4; Jr 10.10; o Filho:


Jo 14.6; o Espírito Santo: I Jo 5.7). Jesus é a manifestação da verdade entre os
homens (Jo 1.17) porque “... nele habita corporalmente toda a plenitude da
divindade” (Cl 2.9. Também Jo 12.45; 14.9; Cl 1.15,19; Hb 1.3). Sua promessa,
cumprida, era de enviar o Espírito Santo da verdade para falar dEle (Jo 15.26).
Jesus não é apenas a verdade, mas a vida também; não uma vida comum,
como a que os homens têm, mas vida eterna (Jo 1.4; I Jo 5.20).
De maneira intuitiva, porque foi criado por Deus e tem a imagem de
Deus, o homem percebe que a verdade precisa ser única, não multíplice;
absoluta, não relativa. Sua vida é baseada na busca por viver a verdade, sem
rasgos de mentira intrometidos. Por exemplo: os noivos no altar, durante o
casamento, não pensam, nem de longe, que possa haver alguma mentira
imiscuída na verdade da promessa que é feita pelo outro; esperam a verdade
absoluta.
A vida humana não é uma verdade, se se considerar o seguinte: o ideal
do homem é viver, o que, pela impossibilidade intrínseca, deságua em verdade
nenhuma. Abrindo parênteses, a Organização Mundial de Saúde (OMS) define
saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não
somente ausência de afecções e enfermidades”, o que demonstra que a procura
pela vida se manifesta em várias áreas da vida humana. Fisiologicamente, sabe-
se que o corpo humano é capaz de prejudicar certa parte para manter órgãos
vitais em funcionamento, a fim de que a vida seja preservada.
Sociologicamente, o homem atreve-se ao ponto de mutilar-se (mente, engana,
etc.) para se manter em evidência dentro de um grupo, isto é, para continuar
vivo, ser alguém. Mentalmente, o ser humano luta para que rasgos de morte
(depressão, desânimo, etc.) não o abracem totalmente, a fim de que a vida seja
mantida.
Mesmo assim, o homem morrerá, ou seja, a vida, que é a verdade, não se
manterá. A Bíblia reconhece o fato porque considera, por assim dizer, a vida do
homem como uma mentira, ou seja, o estado da verdade, a vida plena, não
pode ser atingido (Rm 3.4). E não pode ser atingido porque os meios de que o
homem dispõe para fazê-lo vingar (firmeza, constância, honestidade e
coerência, isto é, seu caráter) estão contaminados pelo pecado (Rm 3.23).
Tudo isso deságua numa percepção variável da verdade, o que, lógico,
não pode definir a verdade, pois, para ser verdade, algo precisa ser imutável.
Pelo exposto percebe-se que tratar de salvação, sendo ela uma verdade,
corresponde a dar a Deus todo crédito, e nenhum ao homem (Ap 12.10; 5.13). É
prerrogativa do Senhor salvar quem quiser (Dn 4.35; Rm 9.15,16,18; Fp 2.13). O
texto de Romanos 9, agora mesmo citado, apresenta, no verso 19, uma pergunta
retórica do Apóstolo Paulo, já prevendo a incompreensão por parte daqueles
que ouviram o que dissera nos versículos anteriores. E a resposta que Paulo dá
é no sentido de o homem se recolher à sua insignificância, porque não
conseguirá compreender as coisas que Deus faz (vv.20-26), como se depreende
de Romanos 11.33,34.
Para encerrar este tópico: a verdade é o que é (Ex 3.14), não o que existe
(Tg 1.11; I Pe 1.24).

O que é a salvação?

A salvação é um ato de Deus que visa a dar glória a Si mesmo, através da


obra que fez por meio de Seu Filho (Jo 17.4,5; Fp 2.9), tornando o beneficiário
dela alguém que se empenha para que Deus receba toda a glória (Rm 11.33-36)
e aquele que não é beneficiário dela, participante, por outra via, da glorificação
do Senhor (Fp 2.10,11).
A salvação foi colocada a favor de toda a criação, que ainda não fora
criada (Ef 1.4; II Tm 1.9), mas que seria criada, e com a qual Deus não poderia
ter comunhão, dado o abismo natural entre Deus e qualquer coisa que não seja
Deus (Mt 5.48), embora criada por Deus.
Falar-se-á da salvação como uma série de atos divinos, comportados sob
a designação de “plano”, através do qual Jesus é colocado como Mediador (Cl
1.20; I Tm 2.5), de maneira que tudo que estiver em Cristo pode chegar a Deus.
Assim, em Cristo, toda a criação, homens incluídos, poderá ter
comunhão com Deus porque Jesus comprou tudo – tudo pertence a Ele (Jo 3.35;
Rm 11.36; I Co 6.20; Ef 1.10; Cl 1.16,17,20; Hb 2.8,10). Ele tornou-se maldição (Gl
3.13), absorvendo toda a maldição que Deus lançara sobre a criação (Gn 3.17) e
os homens (Dt 28.15-68), por causa do pecado.
Dito de outra forma: Deus criou aquilo com o qual não poderia ter
comunhão, pois nem Deus pode criar algo que seja igual a Ele mesmo. Portanto,
a criação, não sendo Deus, não tem santidade para estar diante de Deus. Foi
necessário um plano, que tem Jesus como centro, a fim de que toda a criação
esteja no Filho de Deus, com a virtude do Filho de Deus, com a perfeição do
Filho de Deus, e possa, então, ter comunhão com Deus, porque Jesus é Deus.
Em tempo: Adão, embora sem pecado, santo, tão perfeito quanto a
criatura pode ser, não subia; Deus descia. Em Cristo, os salvos subirão para
estar onde Jesus habita – eis a diferença entre a primeira criação, que não
poderia estar na presença de Deus, e a criação a partir da obra de Cristo, que
estará na presença de Deus.

O plano da salvação

1. antes da História

a. eleição (Ef 1.4)

Eleição é o ato de Deus a partir do qual Jesus foi escolhido no seio da


Trindade (Is 42.1) para fazer conhecer à criação o Criador e seu Senhor.
Estendida ao homem, a eleição é o exercício da prerrogativa de Deus de dar ao
Filho os que Ele quer dar (Jo 6.44; Ef 1.4) para que sejam salvos. Não se pode
sondar o critério de Deus na escolha que fez (Rm 11.33,34), partindo-se do
princípio de que todos merecem a morte (Rm 3.23; 6.23.
A eleição é um direito de Deus (I Ts 1.4), que o usa como quer, a exemplo
do que se observa em Romanos 9.13-18,21-23 e II Tessalonicenses 2.13. Para os
eleitos está reservada a vitória final (Ap 17.13,14; 19.11-21).

b. predestinação (Ef 1.5)

A predestinação diz respeito à designação de um lugar onde estarão os


eleitos, um lugar eterno de descanso e paz. São 4 os versículos que falam sobre
predestinação na Bíblia: Rm 8.29,30; Ef 1.5,11. Os textos apontam para uma
verdade maravilhosa: a predestinação, na realidade, não é para a salvação,
como se a entende normalmente, ou seja, o livramento da morte e o acesso à
vida eterna. O propósito (Ef 1.11) é infinitamente mais que isso: segundo
Romanos 8.29, os salvos são predestinados “... para serem conformes à imagem de
seu Filho...”, o que é confirmado por I Coríntios 15.49; II Coríntios 3.18;
Filipenses 3.21; I João 3.2. Efésios 1.5 confirma ao dizer que a predestinação não
é para uma salvação que ainda mantenha o homem distante, longe de Deus,
embora salvo; não, é para os eleitos serem filhos, como Jesus é Filho; Deus salva
os eleitos “... para si mesmo...” Mais que isso, ainda: é para os salvos gozarem do
estado de estarem dentro do Pai e do Filho, gozando de Sua intimidade (Jo
17.24; Ap 21.9-11,22), no colóquio amoroso hoje representado pelo casamento, a
relação entre marido e mulher.

2. no tempo, isto é, na História

a. criação

A Bíblia afirma claramente que a criação é de Deus, toda a criação (Gn


1.1, versículo muito interessante, pois parte do princípio da existência de Deus,
sem se preocupar em explicá-la. Além disso, com uma simplicidade
extraordinária, diz que Deus tudo criou. Um Deus que sempre foi fez tudo –
simples assim; Gn 2.3,4; Is 40.25,26; 42.5; 45.12; 65.17; Mc 13.19; Ef 3.9; Ap 10.6).
b. o pecado

O pecado não foi criado por Deus. É impossível Deus tê-lo criado pelo
simples fato de que Deus não pode criar algo com que Ele não possa conviver
(Hc 1.13). Se Deus o tivesse criado, por um momento teria que o ter
contemplado, mas o versículo de Habacuque descarta tal possibilidade.
Além disso, Sua essência santa O impede de criar algo que não seja como
Ele é, e a Bíblia testifica dizendo: “E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era
muito bom; e foi a tarde e a manhã: o dia sexto” (Gn 1.31).
Mas, uma coisa é a soberania de Deus, e outra, a responsabilidade com
que Ele brindou as criaturas, anjos e homens, fazendo com que respondam por
sua vida e as coisas ligadas a ela, de maneira que, embora Deus não seja, pelos
motivos expostos, o Criador do mal moral, chamado pecado, Ele queria que o
mal estivesse em Sua criação (o que soa óbvio, porque se não quisesse, não
haveria), e o imputa aos que pecam.
Alguns motivos que demonstram a necessidade do pecado para o plano
perfeito de Deus: (1) Jesus Se tornou o Salvador, e o desejo do Pai de exaltar o
Filho pode se cumprir, (2) alguns atributos de Deus, que não seriam conhecidos
sem o pecado, agora o são (exemplo: justiça, graça), (3) fica exposta de maneira
cabal a total dependência do homem em relação a Deus.

c. chamado

No texto de Romanos 8.29,30, com sua exposição didática sobre a


sequência de eventos que culminam com a glorificação, o chamado corresponde
ao primeiro passo na História, depois da predestinação, que teve lugar antes da
História. É a entrada do eleito no caminho da salvação.
O chamado de Deus pode, em certo sentido, ser sinônimo de graça para
os eleitos, pelo motivo a seguir exposto. Tome-se o exemplo de Lázaro, morto
há 4 dias (Jo 11.39); ele foi chamado por Jesus (Jo 11.43). O que é difícil explicar
é como pode um morto ouvir um chamamento.
Jesus chamou Lázaro, que estava morto, Lázaro ouviu e saiu do sepulcro.
Aqui se pode definir graça de maneira talvez pouco ortodoxa, mas certamente
verdadeira: graça é a doação da vida a um morto, através de um chamado
poderoso e eficaz (Ef 2.1).

d. regeneração

Regenerar, gerar, produzir, criar uma vida é o mesmo que nascer de


novo, no contexto bíblico. O termo se refere à criação de uma nova natureza no
dia em que Deus opera a conversão da pessoa. Está muito bem ilustrada em
João 1.13.
A nova natureza é gerada pelo Espírito Santo (Jo 3.6), ou seja, é a mesma
natureza com a qual o Senhor Jesus foi contemplado em Sua carne (Mt 1.20).

e. expiação

A regeneração é possível através de três eventos: expiação, propiciação e


justificação. Começar-se-á pela expiação.
Expiação é o ato através do qual o pecado é vencido (Is 27.9; 53.10; Hb
2.17). A Bíblia diz que só há uma forma de o pecado ser expiado: é com
derramamento de sangue (Hb 9.22); ou morre o pecador (Dt 24.16; Ez 18.4) ou
um seu substituto (Lv 4.27-30; I Co 15.3; Ap 1.5).
Considerando-se as dimensões horizontal e vertical da regeneração,
pode-se dizer que a expiação corresponde à dimensão horizontal porque trata
do pecado do homem; esse é seu objeto. A expiação olha para o pecado.

f. propiciação

Propiciação é o ato através do qual Deus é aplacado em Sua ira justa e


santa, e Se torna favorável ao pecador (Ex 25.22; Lv 4.31; 16.11-14; I Jo 2.2; I Jo
4.10). Pode-se observar que não existe propiciação sem antes ter havido
expiação.
A propiciação corresponde à dimensão vertical da regeneração porque
seu objeto é o próprio Deus. A propiciação olha para Deus.

g. justificação

A justificação é um ato de Deus que tem efeito legal. Existe uma acusação
contra o pecador, acusação que o levará fatalmente à condenação por um Juiz,
caso nada seja feito. A morte de Jesus na cruz é o momento em que a ira de
Deus, que iria condenar o homem à perdição eterna, é despejada integralmente
sobre o Salvador, de maneira que a acusação prévia contra os pecadores eleitos
cai por terra, tornando possível haver paz do homem com Deus (Rm 5.1), sendo
imputada, a acusação, ao Cordeiro imolado.
Gálatas 3.13: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por
nós, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro”. O peso,
insuportável de carregar, esteve sobre Cristo, na cruz.
Justificação é o ato através do qual Deus declara o homem justo. Não
havendo mais pecado pelo qual pagar, por causa da expiação, e estando Deus
satisfeito, por causa da propiciação, Ele, então, declara o homem justo diante
dEle. A vida que se segue à justificação é uma vida justa (I Pe 2.24) A sequência
é a seguinte: expiação, propiciação e justificação.
Romanos 3.24, importantíssimo, é digno de nota porque diz: “sendo
justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus”, de
onde se aufere o próximo raciocínio: em que pese Romanos 3.28 dizer que “... o
homem é justificado pela fé...”, existe uma realidade preliminar a essa: o homem é
justificado “... pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus” (v. 24; Rm 5.9; Tt
3.7).
Quer dizer, a justificação é, primeiramente, uma obra entre Pai e Filho,
que decidiram justificar o homem por Sua inteira iniciativa, o que se chama
graça. Tendo-o justificado, repita-se, sem a interferência de ninguém, nem do
homem, Deus, então, chama o homem para que creia, a fim de que seja
justificado.
É muito importante essa distinção porque se precisa chegar à conclusão
de que a justificação não é, como todos os outros pontos envolvidos no processo
da salvação não são, de iniciativa humana. É preciso que Deus tenha feito para
que o homem responda. As ações humanas são respostas a ações divinas; as
ações humanas não são primárias, mas secundárias. Dito de outra forma, e
muito claramente: o homem não é justificado por sua fé, o que tornaria o
homem digno de algum mérito; ele é justificado pela graça, e todo mérito é do
Senhor. Sendo todo mérito do Senhor, então o Senhor chama o homem para que
este seja responsável por suas decisões, e se alegre na sua salvação.
Com a justificação, como explicada acima, pode-se absorver o correto
entendimento de Romanos 3.26, onde se lê que Deus é justo e justificador do
pecador ao mesmo tempo, o que parece uma contradição porque, se ele não
punisse o pecador, seria injusto, e, por outro lado, se ele o punisse com o que
merece, a morte, não poderia justificá-lo porque o pecador estaria morto. Ele é
justo porque puniu o que carregava o pecado (morte vicária, substitutiva de
Jesus) e o pecador está vivo para poder ser justificado, já que não carrega mais o
peso da condenação do pecado nem a vida que o originava, mas vive a vida
dAquele que por ele morreu e ressuscitou (II Co 5.15; Gl 2.20).

h. arrependimento

Arrependimento é algo violento. É uma convicção definitiva, não


mutável, não negociável, não mitigadora de dores, pelo contrário,
acrescentadora de dores (ao contrário da bênção do Senhor, Pv 10.22), como se
observa a partir da experiência do Apóstolo Paulo (Rm 7.24).
A palavra grega, a partir da qual o Português usa “arrependimento” é
metanoia, composta pelo prefixo “meta”, que quer dizer transformação, estar
além de, e o radical “noia”, que vem de “nous”, cujo significado é mente.
Metanoia é, portanto, ter uma mente além da que já se teve, uma mente
transformada, que não pensa como a mente antiga, própria do homem do
pecado.
No arrependimento, o pecador sente o peso de seu pecado por ter a
percepção da santidade de Deus, que foi ofendida pelo pecado, e o fardo o
oprime. Constrói-se a imagem correta da diferença entre a santidade de Deus e
a natureza pecadora humana, ou seja, o arrependimento é possível quando o
homem para de olhar para si e para outros pecadores, e olha para o parâmetro
correto, Jesus, o Santo (Mc 1.24; Lc 1.35; Ap 4.8).
Existe um certo senso de horror nisso (Is 6.1,5), pois brota clara a certeza
de que o propósito para o qual a pessoa vive foi perdido, ao abdicar da
proclamação da glória de Deus em favor da desobediência, idolatria e
egocentrismo, visíveis no pecado de Adão.
A consequência do verdadeiro arrependimento é, primeiro, nojo do
pecado (Ez 6.9; 36.31), segundo, clamor por misericórdia (Sl 51; 86.3; 130.1-4), e,
terceiro, aniquilamento da chance de cometê-lo outra vez (Pv 28.13). Vê-se que a
mudança de atitude é o efeito da mudança da mente. A transformação da
mente acarreta a transformação do estilo de vida, de maneira que a glória pela
mudança é dAquele que deu o arrependimento (II Tm 2.25), e não daquele que
manifesta a mudança.

i. fé

A definição de fé está em Hebreus 11.1: “Ora, a fé é o firme fundamento das


coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem”. A fé não tem a semente
no homem, mas em Jesus (Hb 12.2), como o raciocínio a seguir demonstrará.
Jesus, como Homem, desenvolveu a fé ao longo de Sua vida (Lc 2.52), o
que pode ser visto claramente em Hebreus 5.7: “O qual, nos dias da sua carne,
oferecendo, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas ao que o podia livrar da
morte, foi ouvido quanto ao que temia”. O texto de Hebreus desnuda o fato de que
Jesus esteve diante de uma situação futura, Sua morte, terrível para Ele, como
Homem, e que, sendo confrontado por ela, confiou em Alguém que poderia
ajudá-lO (Lc 22.42,44) – isso é fé. E Jesus o fez de maneira perfeita, como atesta
Filipenses 2.8. Por isso, é lícito pensar que Hebreus 11.1 está se referindo à fé de
Jesus como fundamento firme sobre o qual o crente pode se apoiar para crer
também.
Esse raciocínio é exposto por Romanos 3.22, onde se lê: “isto é, a justiça de
Deus pela fé em Jesus para todos e sobre todos os que creem; porque não há diferença”.
Uma melhor tradução diria “... fé de Jesus...”, pois, logo a seguir, é usada a
preposição “para”, com sentido de “para dentro de”. O entendimento seria: a fé
de Jesus é dada aos crentes, entra neles, para que estes creiam e, então,
confirmem, tornem operacional o recebimento da justiça, que foi alcançada pela
graça (Rm 3.24).
A Bíblia chama essa fé de fé dos eleitos (Tt 1.1), fé que foi dada aos santos
(Jd 3) e santíssima fé (Jd 20).
A fé é o caminho pelo qual a graça se torna efetiva (Ef 2.8).
Se se considerar que a salvação tem, por assim dizer, três estágios (o
crente é salvo, está sendo salvo e será salvo), a fé em Jesus Cristo como Senhor e
Salvador corresponde à consecução do primeiro estágio, conforme ensina Atos
16.31.

j. adoção

A adoção é o ato através do qual alguém que era inimigo de Deus (Rm
5.10) se torna Seu filho. Ela tem um entendimento que se mostra dual (dual:
“que tem 2 aspectos ou características” – Dicionário Michaelis UOL): primeiro,
a adoção ocorre na hora do novo nascimento, pois a criança nascida precisa ter
um Pai (Jo 1.12); segundo, a adoção ocorrerá no momento em que houver a
redenção do corpo, isto é, a glorificação (Rm 8.23).

k. santificação

A santidade é o estado da nova criação de Deus (Ef 4.24) porque foi


criada em Jesus (Cl 1.16). A santificação é, portanto, o caminho a seguir,
diferente do trilhado por Adão, também criado em santidade (Gn 1.26). Não há
outra vereda além dessa, o da manutenção da pureza imputada por Deus,
através de Cristo.
Sendo algo a se desenvolver entre a conversão (onde é recebida, como
lido em Ef 4.24) e a glorificação, a santificação entrelaça seu conceito com a
noção de aperfeiçoamento e edificação (Ef 4.12).

l. perseverança

A perseverança, ao contrário do que muitos pensam, ao atribuírem ao


homem a virtude de tê-la (certamente porque leem versos como Marcos 13.13;
Lucas 8.15; Romanos 2.7; Efésios 6.18; Hebreus 3.13,14, que dão a impressão de
ser o homem o agente primeiro dela), pertence também ao Senhor.
Alguns versículos fazem bem o trabalho de elucidar como, de fato, a
coisa se processa (Sl 124; Jr 32.40; Lc 22.31,32; Jo 6.39,40; 10.26-30; I Co 1.8,9;
15.10; Ef 1.13,14; Fp 1.6; I Ts 5.23,24; II Tm 4.18; Hb 13.20,21; I Pe 1.3-7; I Jo 2.19;
Jd 1.24,25.
O texto de Romanos 8.28-30 apresenta uma assertiva e a explicação para
ela, em seguida. A afirmação: todas as coisas contribuem para o bem daqueles
que amam a Deus. A explicação é sobre o que o Apóstolo chama de bem, e ele o
faz expondo os passos pelos quais Deus levará a cabo toda Sua obra – glorificar
os eleitos. O verso 31 é terminal: “... Se Deus é por nós, quem será contra nós?”
Ninguém, nem nós mesmos, porque o Senhor fará o que quer fazer.
A santificação e a perseverança, dois processos cujos conceitos estão
intimamente ligados, correspondem ao segundo estágio da salvação: o crente
está sendo salvo, está operando a sua salvação (Fp 2.12).

3. no fim dos tempos, no novo tempo, na nova Terra

a. glorificação

A glorificação é a transformação do corpo corruptível em um corpo


semelhante ao de Jesus (I Jo 3.2). Isso se dará no momento em que Jesus vier
buscar Sua Igreja. Nesse momento haverá a ressurreição dos mortos que
morreram no Senhor (I Ts 4.16), e a união desses novos corpos com a sua alma,
que voltará com o Senhor (I Ts 4.14). Em seguida, haverá o arrebatamento dos
crentes que estiverem vivos, com a transformação imediata de seu corpo e a
purificação de sua alma (I Ts 4.17). Os que estiverem vivos não precederão os
que estiverem dormindo na ocasião (I Ts 4.15). O processo referido pode ser
visto em I Coríntios 15.22,23,35-37,42-49.
Na glorificação seremos salvos, o terceiro estágio da salvação, por assim
dizer. Os crentes estarão prontos para receberem a sua herança (Rm 8.17), a
contemplação do seu Salvador (Is 33.17; Jo 14.3; 17.24; Cl 1.22; II Ts 1.10), com o
consequente desfrute da vida eterna, a ser passada em novos céus e nova terra
(Is 65.17; 66.22; II Pe 3.13; Ap 21.1-7).
A glorificação é o fim do processo exposto em Romanos 8.29,30, repetido
por Paulo em I Coríntios 1.30. Tem por propósito fazer o crente chegar diante
do Cordeiro para ver a Sua glória (Jo 17.24).

O problema da perda da salvação

A salvação não pode ser perdida porque é um ato do Deus Todo-


Poderoso, que decidiu salvar os que Ele quis (Dn 4.35; Jo 6.44; Ef 1.9; Tg 1.18).
Além disso, Romanos 8.30 diz que o fim da salvação, a glorificação, que ainda
não vemos, já são favas contadas diante de Deus (favas contadas: algo que não
se pode impedir, que não corre o menor risco de ser impedido por ser inevitável
– Dicionário Michaelis UOL). Romanos 4.17 diz que Deus “... chama as coisas que
não são como se já fossem”, querendo significar que o tempo e o pecado que existe
na vigência do tempo não são empecilhos para que Sua obra eterna chegue
onde Ele quer.
Os salvos já estão glorificados, e não haverá como “desglorificá-los”,
segundo o poder que Deus tem de fazer cumprir tudo o que determinou (Nm
23.19; Is 43.13; Ef 1.23).

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