O assunto relacionado a drogas e crimes gera varias controvérsias. Desta forma,
abordar o citado tema enfatizando a relação entre as drogas e a violência se torna tarefa difícil, sendo evidente que os pontos abordados estarão sujeitos a severas críticas. A utilização de substâncias psicoativas está presente em todo percalço da civilização, com advento da tecnologia, essas substâncias passaram por um processo de aprimoramento e alcançaram proliferação global. Com efeito, a questão das drogas acaba contrapondo simpatizantes de ações preventivas e partidários de ações repressivas, sem contar todo o movimento que circunda a redução de danos. A violência, por outro lado, traz em seu bojo acaloradas discursões entre os adaptos da criminologia critica e aqueles mais dogmáticos, que lidam com o crime como um mero movimento de ação e reação. Este fomentado comércio ilegal de drogas, gera um sem fim de questões sociais, políticas e econômicas e seus desdobramentos acabam e começam em violência, especialmente nas camadas mais baixas. O usuário de drogas caracteriza-se pelo uso eventual, de caráter recreativo ou em casos mais graves, já em dependência química, fator este que tem motivado diversos crimes correlacionados a seu uso, tendo em vista a alteração do estado de sobriedade, muitos usuários cometem violência doméstica e até mesmo furtos, roubos e assassinatos para sustentar seu vício. Este controverso tema, consubstancia-se nas correntes de quem responsabiliza os usuários de drogas pela violência disseminada pelos traficantes e quem os isente de culpa, atribuindo a violência ao tráfico, à proibição e à ilegalidade, que, se fossem abolidos, eliminariam a criminalidade. Neste diapasão, o que provoca essa situação é o interesse de mercado, não há como negar que a compra e utilização de substâncias ilícitas estejam financiando o narcotráfico, contudo, culpar apenas o usuário é uma tentativa de simplificar uma situação muito mais complexa. 2 Estudos recentes do Centro de tratamento de dependência de San Diego, mostram que políticas públicas dirigidas ao tratamento da dependência química em criminosos ajudam na prevenção da violência, inclusive no que tange à reincidência. Sucede que, a saúde pública não possui estrutura para lidar com a questão dos dependentes químicos e a qualidade de algumas instituições públicas são questionáveis, culminando no alto custo pelo tratamento em clínicas particulares que a grande maioria não possui acesso. O Estado tem o dever de zelar pela saúde das pessoas que estão sob sua custódia. Afinal, o consumo de drogas é uma doença que, por todas as razões expostas, tem consequências diretas na praticas de crimes, sobretudo na reincidência, assim todos ganham com tal tratamento. Este vazio Estadual tenta ser suprido através de Entidades civis ou religiosas que prestam este serviço gratuito e de forma adequada, mas precisam de doações e voluntariado para manter suas atividades. É importante ressaltar que a iniciativa de tratar a dependência química em presos não guarda qualquer relação com as ultrapassadas teorias que sustentam que o fim da pena não é unir, e no limite, advogam penas indeterminadas, condicionadas a recuperação do apenado, a exemplo de Dourado Monteiro e seu correcionalismo. Em nenhuma hipótese, esse tratamento acarretará quaisquer consequências penais, ou alargamento da pena aplicada, nem será possível dizer que enquanto o preso não estiver livre das drogas não poderá deixar a prisão. Na verdade trata-se apenas de aproveitar a oportunidade de essas pessoas estarem sob a custódia do estado e oferecer a elas um atendimento de saúde que tem consequências também para a segurança pública. Sendo assim, a devastadora realidade criminosa intimamente ligada às drogas, tornou-se também uma questão de saúde pública, sendo necessárias ações do Estado concernentes tanto ao controle e repressão do tráfico, como ao cuidado adequado ao usuário como medida de diminuição de riscos à população. A pena privativa de liberdade é sim um castigo, mas o presídio não precisa ser depósito. Olhar para o preso e para seu problema com as drogas pode ser um caminho para diminuir a reincidência e a criminalidade.