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PALEONTOLOGIA

PALEONTOLOGIA: ORIGEM,
DESENVOLVIMENTO E PERSPECTIVA
Dermeval A. Do Carmo 1
Gerson Fauth 2
Guy Hamelin 3

Introdução
A palavra "paleontologia" é constituída de três raízes gregas:
na). . moc; (palaios), que significa antigo, velho; óv-ra (anta), seres,
organismos; Àóyoc; (logos), estudo, palavra, razão. Então, o sentido
literal de "paleontologia" seria o estudo dos organismos antigos,
ou seja, os fósseis. Esse termo foi introduzido por volta de 1830 e
difundido na França por H. de Blainville 4 ( 1777-1850 ). Sir Charles Lyell
(1797-1875) utiliza a mesma palavra em inglês pouco tempo depois.
A paleontologia é o ramo das ciências naturais que utiliza
fundamentos geológicos e biológicos e que tem os fósseis como objeto
de estudo. Desde a Idade Antiga, os fósseis têm sido encontrados pelo
homem, que os tem interpretado de diversas maneiras. Geralmente,
atribuía-se aos fósseis uma origem sobrenatural, porém alguns gregos
já os interpretavam como sendo relacionados a restos de organismos.
Modernamente, o termo "fóssil" abrange todos os restos e vestígios
de organismos preservados nos sistemas naturais, como rochas,
sedimentos, gelo e âmbar. Por convenção, autores mais clássicos
consideram como fósseis apenas aquelas ocorrências mais antigas do
que 10.000 anos. Fósseis com menos de 10.000 anos são denominados

Professor Adjunto do Departamento de Geologia Geral e Aplicada, Instituto de


Geociências, Universidade de Brasília. Doutor pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.
Professor do Programa de Pós-Graduação em Geologia da Universidade do Vale
do Rio dos Sinos, Unisinos. Doutor em Geologia pela Universidade de Heidelberg,
Alemanha.
Professor Adjunto do Departamento de Filosofia, Instituto de Ciências Humanas,
Universidade de Brasília. Doutor pela Universidade de Quebec, Canadá.
Blainville foi aluno do Barão George Cuvier.

UM SÉCULO DE CONHECIMENTO l 1097


por esses autores como "subfósseis". Porém, na prática, a aplicação
dessa convenção é difícil e imprecisa.
Há numerosas classes de fósseis e, por causa disso, a
paleontologia tem diversas especialidades, de acordo com a natureza
deles. Assim, a paleontologia subdivide-se em dois grupos clássicos, a
saber: a paleozoologia e a paleobotânica. Relacionados a esses temas
e além dos estudos de morfologia e taxonomia, existem diversas
aplicações baseadas no estudo da paleoecologia, bioestratigrafia,
evolução biológica e, mais recentemente, aplicações de técnicas
utilizadas em micropaleontologia, visando monitoramento ambiental.
Antes de iniciar um aprofundamento dessas questões mais práticas da
paleontologia, uma apresentação geral do seu objeto de estudo se faz
necessária.
A palavra "fóssil" deriva do adjetivo latino fossilis, que vem,
por sua vez, do verbo fodio (fodere 5). Fossilis significa escavado
ou extraído da terra, enquanto o verbo fodio quer dizer escavar ou
extrair. O célebre mineralogista Georg Bauer (1494-1555), conhecido
pelo seu pseudônimo latinizado Georgius Agricola, utiliza-se
em 1546, no livro intitulado De natura fossilium, 6 dessa palavra
para abranger todos os materiais provenientes de escavação. É
necessário destacar que o significado original desse termo era
amplo o suficiente para incluir minerais, rochas e tudo o mais
que, porventura, fosse fruto de escavação. Sendo assim, desde a
primeira ilustração apresentada em 1565, no livro intitulado De omni
rervm fossilivm genere, gemmis, Japidibvs, metal/is, et hvivsmodi7, de
autoria de Conrad Gesner (1516-1565), fósseis aparecem junto com
diversos outros materiais, inclusive cristais e objetos arqueológicos
(Figura 1 A-C). Vale salientar que a arqueologia se distingue da
paleontologia, uma vez que aquela se refere ao estudo de objetos
antigos produzidos pelo homem, especialmente monumentos,

Forma infinitiva do verbo .


Traduzido como " Da natureza das coisas escavadas".
Traduzido como " De todo tipo de coisas escavadas, de gemas, de pedras, de metais
e outras coisas semelhantes".

1098 I PALEONTOLOGIA
artes e artefatos preservados nos solos, sedimentos, rochas, gelo
(Figura 1 C), enquanto a paleontologia se interessa pelos restos de
organismos e/ou vestígios de suas atividades biológicas preservados
nos sistemas naturais (Figura 1 B).

A
e
Figura 1-Ilustração de materiais provenientes de escavações, nomeados de coisas
fósseis nas idades antiga e medieval (ilustração adaptada de GESNER, 1565, apud
SIMPSON, 1968). Nessa ilustração, apenas o exemplar B é um fóssil no sentido
contemporâneo. Legenda: A: cristal, B: fóssil de cefalópode e, C: machado de pedra.

Fósseis e seus Significados Através da História das Civilizações

Os fósseis foram interpretados e usados de várias maneiras no


transcorrer da história. Na Idade Antiga, mais especificamente no Egito
antigo (3200-2200 a.C.), fósseis foram utilizados como pavimento de
estrada no deserto. No século VI a.e., etruscos usaram uma rocha
singular em cerimonial fúnebre, a qual apenas no século XIX foi
interpretada com sendo um tronco fóssil de Cycadaceae, família de
plantas gimnospermas.
Entre os gregos antigos, o filósofo Anaximandro ( c.611-c.547
a.e.) observou restos de peixes preservados em rochas encontradas
em montanhas bem acima do nível do mar e considerou que esses
peixes poderiam ter sido os precursores de todas as formas de
vida. No entanto, acredita-se que Anaximandro, a quem tem sido
atribuído o título de primeiro paleontólogo e evolucionista, estivesse
apenas repetindo idéias da escola egípcia antiga. Contemporâneo
de Anaximandro, o filósofo Xenófanes (c.547-480 a.C.), a quem tem
sido atribuído o mérito de ter sido o primeiro paleoecólogo, noticiou
a ocorrência de um grande número de conchas, restos de peixes e

UM SÉCULO DE CONHECIMENTO l 1099


outros organismos marinhos encontrados em rochas provenientes de
áreas muito longe do mar. Com base nessas ocorrências, Xenófanes
inferiu que em tempos pretéritos o mar teria coberto a superfície dos
continentes.
O historiador Heródoto (c.484-c.426 a.e.) considerou ocorrências
de peixes e conchas em calcários como tendo a mesma origem que
aquelas noticiadas por Xenófanes. Empédocles de Agrigento, por volta
de 440 a.e., noticiou restos de vertebrados e conchas em rochas da
Sicília e concluiu que esses materiais haviam pertencido a animais.
Aristóteles (384-322 a.C.) também reconhecia os restos de peixes
encontrados nas rochas, mas admitia que eles haviam se formado
em subsuperfície. Essa consideração faz sentido quando se analisa a
concepção de Teofrasto (c.370-c.288 a.e.), o sucessor de Aristóteles no
Liceu, que considerava esses ossos como tendo sido produzidos por
virtudes plásticas latentes em subsuperfície.
Apesar da grande influência intelectual exercida pelo
posicionamento de Aristóteles nas Idades Antiga e Medieval, houve
autores que se distanciaram do grande pensador. Por exemplo, o
geógrafo grego Estrabão (54 a.C.-24 d.C.) admitia que as conchas
marinhas encontradas em rochas no alto de montanhas eram a prova
de que um dia aquelas áreas tinham estado abaixo do nível do mar e
que, posteriormente, foram soerguidas até altitudes acima do nível
dos mares.
Entre os romanos, houve dois pensadores que se destacaram:
Tito Lucrécio Carus (c.99-c.45 a.e.), que escreveu De natura rerum, 8 e
Caio Plínio Segundo (23-79 d.C.), autor de Historia naturalis.9 O primeiro
deles, mais conhecido como Lucrécio, abordou nessa obra fenômenos
geológicos, como erosão e terremotos, entre outras questões. Esse
autor discutiu a respeito da luta pela vida e sobrevivência das formas
mais adaptadas, idéias que séculos mais tarde seriam aproveitadas
por Charles Darwin e Alfred R. Wallace para desenvolver a teoria da
evolução baseada na seleção natural.

Traduzido como "Da natureza das coisas".


Traduzido como "História natural".

1100 1 PALEONTOLOGIA
Caio Plínio é conhecido na literatura em língua portuguesa como
Plínio, o ancião. Sua obra mencionada anteriormente apareceu por
volta de 77 d.C. e merece destaque, pois contém não menos que 37
volumes, os quais foram traduzidos em diversos idiomas. Além disso,
vale salientar a influência decisiva desse tratado sobre o pensamento
da Idade Média. Os quatro últimos volumes da mesma obra de Plínio
foram dedicados aos minerais, entre os quais estavam inseridos aqueles
materiais que atualmente são reconhecidos como fósseis. No volume
XXXVll, Plínio utilizou o termo glossopetra, do grego yf..wo-cnx (glossa),
o qual quer dizer língua, e TIETpcx (petra), que significa pedra. A palavra
foi amplamente citada na literatura até o século XVIII para se referir
ao que de fato são dentes de tubarão encontrados nas rochas. Além
do termo glossopetra, Plínio também utilizou outros como ostracites
(similar a conchas), spongites (similar a esponjas) e corralite (similar a
coral). Para Plínio, a origem de glossopetra era relacionada a períodos
de eclipses da lua, durante os quais essa pedra caía do céu. Conforme
ele comenta, alguns diziam que era dotada de poderes mágicos, nos
quais não acreditava. Com relação às tais glossopetrae, cabe destacar
que Fabio Colonna (1567-1640), no seu livro intitulado De purpura, 10
publicado em 1616 1 identificou corretamente esses materiais como
sendo dentes de tubarão.
Durante a Idade Média, fósseis foram usualmente referidos como
"pedras figuradas" e sua origem não era relacionada a seres vivos. O
conceito de fóssil admitido nesse período foi influenciado pelas idéias
de Aristóteles e Teofrasto, os quais invocavam, como vimos, uma
força plástica para explicar a sua origem. Porém, o grande filósofo
árabe Avicena (lbn Sínâ) (979-1037) é admitido como tendo idéias mais
claras do que aquelas que perduraram no Ocidente medieval, pois
ele descreve o processo de formação das rochas sedimentares e, por
conseguinte, dos restos de organismos que ficam preservados nessas.
Na Idade Moderna, dois estudiosos foram decisivos para elucidar
e consolidar a verdadeira origem dos fósseis, ou seja, atribuir-lhes uma
origem relacionada a organismos: o famoso Leonardo da Vinci (1452-1519)

10
"Purpura" é um gênero de moluscos gastrópodes marinhos.

UM SÉCULO DE CONHECIMENTO l 1101


e o dinamarquês Nicolau Steno (1638-1686). Segundo Adams (1954),
documentos editados por Calvi (1909) mostram que Da Vinci, antes
mesmo de Fabio de Cologna, atribuiu uma origem orgânica para os
fósseis. Além disso, com base na análise desses mesmos documentos,
pode-se concluir que Da Vinci discutiu os aspectos tafonômicos
relacionados à preservação dos fósseis.
Além de estabelecer os princípios fundamentais da estratigrafia,
Steno também concluiu que os materiais denominados de glossopetrae
eram, na verdade, dentes de tubarão. Nicolau Steno propôs os
seguintes princípios fundamentais da estratigrafia: a) horizontalidade;
b) continuidade e c) superposição das camadas (Tabela 1).

Fundamentos e Aplicações da Paleontologia

Ao final do século XIX, com a consolidação da origem orgânica


dos fósseis, aliada às teorias evolucionistas, havia um grande debate
no meio científico a respeito do registro geológico e, por conseguinte,
dos fósseis. Eram estas as doutrinas fundamentais em discussão:
atualismo, uniformitarismo e catastrofismo (Tabela 1).
Vale salientar que alguns autores consideram o atualismo e o
uniformitarismo como idênticos, enquanto outros os consideram como
sendo distintos. Nesse último caso, a distinção entre as duas doutrinas
baseia-se no fato de que, no atualismo, não existe, necessariamente,
uniformidade de velocidades, de produtos e de intensidades nos
processos geológicos, enquanto no uniformitarismo há.
Em 1785, James Hutton (1726-1797) apresentou, em reunião
da Sociedade Real de Edinburgo, o trabalho intitulado Theory of the
Earth, que seria publicado apenas em 1788. Nesse estudo, Hutton
afirmou que a história da Terra deve ser explicada com base em leis
e forças conhecidas. Para apoiar a sua afirmação, Hutton considerou
os processos erosivos e de sedimentação, bem como as relações de
contato entre corpos geológicos. Ao desenvolver essa nova concepção
a respeito da história da Terra, Hutton encontrou grande resistência
entre os catastrofistas, os quais tinham seus argumentos, na sua
maioria, baseados em causas sobrenaturais. Segundo Gohau (1988),

1102 I PALEONTOLOGIA
Jean-André de Luc, 11 em1790, denominou "princípio das causas atuais"
às idéias de Hutton, as quais ele contestava. Essa denominação ficou
conhecida posteriormente como "atualismo" (Tabela 1).

Tabela 1
Cronologia dos princípios fundamentais das ciências naturais.

1669 Estratigrafia: Nicolau Steno (1638-1686). No livro intitulado


De solido intra solidum naturaliter contento dissertationis
prodromus,, a superposição, a horizontalidade e a
continuidade lateral das camadas são apresentadas
(ADAMS, 1g54).
1753 Evolução: George Louis Leclerc Buffon (1707-1788). No
livro intitulado Histoire naturelle, t. 4, o autor considera a
possibilidade do surgimento de espécies novas (PAPAVERO
et ai., 1qq7).
1761 Extinção: George Louis Leclerc Buffon (1707-1788). No
livro intitulado Histoire naturelle, t. 9, o autor discute o
desaparecimento de espécies (PAPAVERO et ai., 1gq7).
Atualismo: James Hutton (1726-1797). No artigo intitulado
Theory of the Earth, ele sugere que os fenômenos que
1788
operam na crosta terrestre em tempos atuais são similares
àqueles que operaram ao longo da história da Terra (BERRY,
1968).
1808 Caracteres adquiridos (evolução): Jean-Baptiste Lamarck
(1744-1829). No livro intitulado Philosophie zoologique,
o autor admite que espécies fósseis deram origem às
atuais, por meio da transmissão de caracteres adquiridos.
Vale salientar que Lamarck, juntamente com Buffon, são
precursores do pensamento evolutivo (IANNUZZI; SOARES,
2000).

11 Também conhecido como Deluc.

UM SÉCULO DE CONHECIMENTO l 1103


1812 Catastrofismo natural: George Cuvier (1769-1832).
"Catástrofes foram responsáveis pela extinção de espécies
fósseis", teoria publicada no livro intitulado Recherches sur
les ossemens fossiles des quadrupedes (RUDWICK, 1985).
1830 Uniformitarismo: Charles Lyell (1797-1875). A concepção de
Lyell, publicada no livro intitulado Principies of geology, é
também chamada de "gradualismo", uma vez que implica a
uniformidade de taxas, o que não é necessariamente aceito
no "atualismo" (RUDWICK, 1985).
1859 Seleção natural (evolução): Charles Darwin (1809-1882) e
Alfred Russel Wallace ( 1823-1913 ). Essa teoria foi apresentada
publicamente pela primeira vez em 1858, durante reunião
da Sociedade Linneana, fruto de um artigo de Darwin &
Wallace intitulado "On the tendency of species to form
varieties and on the perpetuation of varieties and species
by natural means of selection". Esse artigo foi publicado
apenas no ano seguinte, ou seja, em 1859 (RUDWICK, 1985).
Salgado-Labouriau (2001) salienta que em tempos atuais,
sabe-se que a seleção natural é um mecanismo modelador
das novidades evolutivas geradas principalmente pela
mutação, recombinação gênica e isolamento geográfico ou
reprodutivo.
1866 Mecanismos controladores da hereditariedade: Gregor J.
Mendell ( 1822-1884). Religioso e botânico austríaco, realizou
experiências sobre a hibridação de plantas e enunciou em
1866 as leis da transmissão dos caracteres hereditários (Lei
de Mendell).

A partir das idéias de Hutton, Charles Lyell fundamentou o


princípio do uniformitarismo no livro intitulado Principies of geology,
que foi publicado em três volumes em 1830, 1832 e 1833. Para explicar

1104 I PALEONTOLOGIA
a história da Terra, segundo Lyell, deve-se basear nos processos e nas
intensidades vigentes na época atual (Tabela 1).
Apesar da similaridade entre as concepções de Hutton e de Lyell, o
atualismo não considera a invariabilidade de condições entre as épocas
passadas e atual, mas sim das leis naturais. Ou seja, para o atualismo as
causas que operaram no passado podem cessar o seu efeito ou diminuir
de intensidade, enquanto o uniformitarismo se caracteriza pela tese
segundo a qual tais causas se mantêm constantes ao longo do tempo.
O essencial do atualismo está na constância das leis naturais que
regem o planeta e não na uniformidade dos processos atuantes ao longo
da história da Terra, nem nas explicações supernaturais. Sendo assim,
talvez a melhor denominação para a concepção de Hutton, a qual é
denominada "atualismo", seja "princípio das causas naturais", conforme
já proposto por Teixeira et ai. ( 2001 ).
O catastrofismo surgiu antes das concepções de Hutton e de
Lyell e pretendia explicar o registro geológico por meio de uma série
de eventos catastróficos, os quais eram, na sua maioria, conectados
a explicações sobrenaturais. O primeiro pesquisador a abordar de
maneira científica este assunto foi George Cuvier (1769-1832), um
dos paleontólogos mais notáveis do século XIX. Cuvier considerava a
origem de fósseis de vertebrados como sendo produtos de catástrofes
naturais, ocasionando mortalidade (Tabela 1).
Paralelamente a esse debate a respeito dos fundamentos das
ciências naturais, houve a consolidação de uma das principais aplicações
da paleontologia, ou seja, a bioestratigrafia. Esse ramo da palentologia
baseia-se sobretudo no caráter irreversível da extinção das espécies ao
longo do tempo geológico, o que faz das espécies fósseis elementos
importantes para datação relativa e correlação de camadas coevas.
William Smith (1769-1839) empiricamente fundou a
bioestratigrafia a partir dos resultados de suas observações de
campo. Em 1815 1 publicou dois trabalhos, ou seja, o A map of the
strata of England and Wales with a part of Scotland, que constitui o
primeiro mapeamento geológico da Grã-Bretanha, e o Memoir to the
map and delineation of the strata of England and Wales with a part
of Scotland, que é o texto explicativo do mapa. Nesses, utilizou-se
da correlação de camadas de rochas sedimentares com base no

UM SÉCULO DE CONHECIMENTO l 1105


seu conteúdo fossilífero. Para Smith, os fósseis representavam
uma importante ferramenta de correlação estratigráfica a grandes
distâncias, conforme consta na sua publicação de 1816 intitulada
Strata identified by organized fossils, containing prints on colored
paper of the most characteristic specimens in each stratum.

Século XX: Conceitos Fundamentais a Respeito


da História Ecológica da Terra

O século XX iniciou-se em franco debate a respeito da origem


e extinção das espécies. Pela análise dos fósseis, concluía-se que há
inúmeras espécies de animais e vegetais extintas e que essas deviam
ser precursoras das espécies atuais. Consolidaram-se, especialmente,
os estudos da evolução das espécies com as publicações de Mendell a
respeito dos mecanismos controladores da hereditariedade.
Em paleontologia, a taxonomia das espécies é baseada
essencialmente na morfologia dos fósseis. Durante a primeira
metade do século XX, muitas espécies fósseis foram propostas com
base em caracteres essencialmente morfológicos. Porém, com
o desenvolvimento ulterior da fisiologia, pôde-se constatar que
determinados caracteres morfológicos utilizados como diagnósticos
para determinação de espécies fósseis, na verdade eram caracteres
fenotípicos. Assim, muitos nomes de espécies foram colocados em
sinonímia, pois o que deve prevalecer como válido é aquele mais antigo.
Essa regra utilizada segue recomendações para proposição de espécies
do Código Internacional de Nomenclatura Zoológica e Botânica. Cabe
salientar que esse procedimento faz com que as publicações antigas
sejam sempre muito importantes para os estudos taxonômicos.
No decorrer do século XX, com os fundamentos científicos
da paleontologia estabelecidos, pôde-se desenvolver estudos
diversificados a respeito da história geológica da vida. Questões
como, datação relativa e geocronológica, foram sendo agregadas ao
vocabulário geológico e biológico. Com o desenvolvimento da geologia
sedimentar, por meio da descrição de estruturas sedimentares,
estratificação, de facies sedimentares, os quais são aliados às aplicações
em bioestratigrafia e paleoecologia, foi possível perceber uma grande
quantidade de mudanças ambientais ao longo da história do planeta

1106 I PALEONTOLOGIA
Terra. Essas transformações podem ser detectadas pelas sucessões
fossilíferas encontradas no registro sedimentar e constituíram bases
importantes para o estabelecimento das inferências paleogeográficas.

Paleoecologia: Paleoambiente e Paleoclima

A paleoecologia é uma área muito importante da paleontologia


e pode ser definida como o estudo das interações que determinaram a
distribuição e abundância dos fósseis. Essas interações abrangem aquelas
entre o paleoambiente e os fósseis, bem como as dos fósseis entre si.
Os princípios lançados por Nicolau Steno e James Hutton, assim
como o desenvolvimento do pensamento evolutivo, foram também
fundamentais para a paleoecologia, no que diz respeito à noção de
ecossistema dinâmico. Salgado-Labouriau (2001, p.11) esclarece que:
"[ ... ]a paleoecologia estuda o desenvolvimento e as modificações dos
ecossistemas naturais no tempo, as sucessões, os efeitos do homem
sobre estes sistemas, a natureza e a causa das mudanças ambientais,
sejam elas naturais ou causadas pela ação antrópica".
A paleoecologia fornece subsídios para o estudo do paleoambiente
e do paleoclima. Sua consolidação como ciência ocorreu na segunda
metade do século XX, impulsionada pelos resultados da paleontologia
do Período Quaternário, ou seja, os fósseis, além de serem utilizados
para a datação e correlação de camadas, passaram a constituir um
dos elementos mais importantes para a determinação da evolução
paleoambiental das bacias sedimentares (Tabela li).
Dentre os diversos grupos de fósseis e de microfósseis 12 úteis
para essas análises, citam-se aqueles provenientes de vegetais, de
animais e de outras categorias de organismos (protista, monera,
fungi). Os microfósseis são aqueles que melhor fornecem respostas
aos problemas bioestratigráficos relacionados à exploração das
bacias sedimentares visando à localização de jazidas petrolíferas. Isso
se deve à alta freqüência e abundância dos microfósseis nas rochas
sedimentares e sedimentos. Além disso, eles são dotados de estruturas
mineralizadas ou orgânicas resistentes, o que favorece sua preservação
e permite uma fácil recuperação de material.

12
A micropaleontologia abrange o estudo dos microfósseis , ou seja, fósseis com
dimensões diminutas que necessitam do uso de microscópio para seu estudo.

UM SÉCULO DE CONHECIMENTO l 1107


Tabela II
Contribuição teórica do século XX

1907 Datação absoluta: Bertram B. Bolwood ( 1870-1927) utiliza


pela primeira vez a radioatividade para datar rochas e publica
artigo intitulado "On the ultimate disintegration products of
the radio-active elements; Part li, The disintegration products
of uranium", reimpresso em 1973.

1915 Deriva dos continentes: Alfred L. Wegener ( 1880-1930 ), em


1915, publica artigo que muitos anos depois seria considerado
um marco na história da geologia, ou seja, "Die Entstehung
der Kontinente und Ozeane".

Tectônica de placas: Modelo que considera a crosta terrestre


como sendo constituída por placas, relativamente finas e
rígidas, que estão em constante movimento.

Robert S. Dietz (1914-1995) publica o artigo intitulado


"Continent and ocean basin evolution by spreading of the sea
floor", no qual sugere o espalhamento do assoalho oceânico
como resultado do movimento de uma litosfera rígida sobre
uma astenosfera mais dúctil.

Harry H. Hess ( 1906-1969) publica ensaio intitulado History of


ocean basins, no qual especula a respeito do que mais tarde
seria denominado de tectônica de placas.

1980 Impacto de meteorito como responsável por extinção de


espécies: Luís W. Alvarez (1911-1988), em 1980, publica artigo
que insere a questão da extinção de espécies provocada por
choque de meteorito.

1108 I PALEONTOLOGIA
Paleoecologia: Trabalhos de síntese aparecem inicialmente
em 1924 e avolumam-se sobretudo a partir da década de
1957
1950.
Methods and principies in paleoecology, F. E. Clements & R.W.
Chaney.
Treatise on marine ecology and paleoecology, J. W. Hedgpeth,
v. 11 e 1 v. 2, por Ladd H.S., em inglês.
lntroductíon to paleocology, por R.F. Gekker, em russo.
1997 Paleontologia nasciênciasambientais: 11 nternationalConference
-Application of Micropaleontology in Environmental Sciences.
Essa conferência pode ser considerada um marco das
aplicações da paleontologia nas ciências ambientais.

Fósseis de vertebrados e vegetais continentais são importantes


para a paleogeografia. 13 Além disso, foi por meio desses tipos de
fósseis que se iniciaram os estudos em tafonomia, palavra derivada do
grego nxcpoç (tafos), que quer dizer sepulcro e sepultamento, e vóµoç
(nomos), que significa uso, costume e lei, ou seja, as leis que regem o
soterramento dos organismos ou de seus restos. Essa área surgiu do
interesse em dar sustentação às análises tanto bioestratigráficas como
paleoecológicas. De fato, a tafonomia trata das condições e fatores
que propiciam a preservação dos restos ou vestígios de organismos,
principalmente nas rochas e nos sedimentos. Também pode ser
incluída a preservação em geleiras e mesmo no âmbar. Esse ramo da
paleontologia abrange todas as vicissitudes a partir da morte, incluindo
os motivos da morte, bem como transporte, deposição, fossildiagenese,
etc. Por fim, todas essas questões servem para dar consistência às
análises paleontológicas.
Em suma, o desenvolvimento da micropaleontologia foi
impulsionado inicialmente pela sua aplicação em bioestratigrafia e,
posteriormente, pelo seu uso no estudo do paleoambiente. Como

u Estudo da configuração da superfície terrestre em épocas geológicas passadas.

UM SÉCULO DE CONHECIMENTO l 1109


resultado dessas pesquisas paleoambientais, foi possível iniciar
análises sistemáticas a respeito da evolução do paleoclima e da
paleoceanografia. Ao final do século XX, essas informações e técnicas
desenvolvidas pela paleontologia começaram a ser utilizadas para
estudos da mudança climática global e monitoramento ambiental.
Para melhor compreensão dessas questões relacionadas à história
ecológica da Terra, é necessário contextualizar a paleontologia com
a deriva dos continentes e evolução dos oceanos. Uma contribuição
importante no sentido de preservar o patrimônio fossilífero do planeta
Terra foi dada pela Unesco, por intermédio de convenção internacional
para a proteção de sítios culturais e naturais. Por meio de visita ao
endereço <http://www.unb.br/ig/sigep/index.html>, é possível saber
mais a respeito desse programa, bem como obter uma lista dos sítios
paleontológicos do Brasil.

Deriva dos Continentes e Evolução dos Oceanos

A idéia de que os continentes estiveram um dia unidos vem sendo


levantada por naturalistas há mais de trezentos anos. No seu livro
intitulado Histoire naturelle, publicado em 1766, Buffon comenta que
essa possibilidade já havia sido aventada pelo filósofo inglês Francis
Bacon ( 1561-1626 ). Esses pensadores ficavam extremamente intrigados
com a grande similaridade entre o contorno da África ocidental e o
da costa oriental da América do Sul. Porém, a aceitação dessas idéias
só evoluiu à medida que dogmas científicos e religiosos foram sendo
questionados e enfraquecidos.
Alfred Lothar Wegener ( 1880-1930) foi o primeiro cientista a
apresentar argumentos que indicavam que os continentes possuem
uma certa dinâmica. Essa teoria foi revolucionária e encontrou
grandes opositores. No inverno europeu de 1912, o então doutor em
meteorologia apresentou, em conferências ministradas para Sociedade
Geológica Alemã nas cidades de Frankfurt e Magdeburg, evidências de
que os continentes estiveram unidos em passado geológico remoto.
Em 1915, Wegener publicou o livro Die Entstehung der Kontinente
und Ozeane, 14 que foi traduzido em 1924 para diversos idiomas e

14 Traduzido como "A gênese dos continentes e oceanos".

1110 1 PALEONTOLOGIA
contribuiu para a difusão de sua teoria. Basicamente, Wegener propôs
que os continentes atuais estavam unidos durante o Neopaleozóico,
compondo um único e grande supercontinente, o qual ele denominou
de Pangea, do grego mxv (pan), que significa todo, e y~ (gê), que quer
dizer terra, termo criado para designar a coalescência dos continentes.
Posteriormente, esses continentes teriam se separado, deslocando-se
através dos oceanos, fenômeno que Wegener denominou de deriva
continental.
Para dar suporte a essa teoria, Wegener citou as similaridades
litológicas e conteúdos fossilíferos entre o Brasil e a África, a América
do Norte e a Europa, assim como a Austrália e a Índia. As evidências
paleontológicas levantadas por ele provêm principalmente da
conhecida distribuição da flora G/ossopteris, que compõe o carvão
dos estados do sul do Brasil, da Argentina, do Uruguai e também está
presente no sul da África (África do Sul, Namíbia e Moçambique), em
Madagascar, na Antártica, na Austrália e na Índia. Além de ter em
comum os fósseis, a África do Sul (bacia do Karoo) e a América do Sul
(bacia do Paraná) apresentam seções litoestratigráficas semelhantes
nos dois lados do oceano Atlântico Sul.
Como essa teoria mudava os modelos vigentes no início do século
XX, grande parte da comunidade científica rechaçou com veemência a
teoria de Wegener. Os geocientistas da época não poderiam admitir
que grandes e sólidos continentes pudessem migrar através da crosta
terrestre. Segundo seus opositores, as similaridades de rochas e de
fósseis eram questionáveis. No caso dos fósseis, podia-se supor a
existência de "pontes" que ligavam os continentes e permitiam as
trocas faunísticas e florísticas.
Em 1937, Du Toit encontrou novos argumentos que contribuíram
para a consolidação e a sustentação da teoria de Wegener. Du
Toit observou a ocorrência de um pequeno réptil então tido como
não-marinho, o Mesossaurus, em rochas estimadas então como
do Carbonífero-Permiano (aproximadamente 220 milhões de anos
atrás), tanto em rochas sedimentares no Brasil quanto na África do
Sul. Segundo Du Toit, seria pouco provável que esse pequeno animal
aquático não-marinho pudesse atravessar nadando um grande oceano
como o Atlântico. Porém, para que a deriva continental fosse aceita,
era necessário ainda a descoberta dos mecanismos que provocavam o

UM SÉCULO DE CONHECIMENTO l 1111


deslocamento dos continentes. Wegener já supunha que as respostas
seriam encontradas nos inexplorados substratos oceânicos.
A pesquisa que contribuiu para que, finalmente, fossem
dados créditos à teoria da deriva de Wegener estava relacionada ao
vulcanismo submarino. Cientistas descobriram na década de 1960
que os pólos magnéticos mudavam de posição ao longo do tempo
geológico. Essas evidências foram obtidas em rochas vulcânicas, as
quais, por possuir minerais ferrosos, registram a orientação magnética.
Ou seja, quando os minerais magnéticos ainda estão sob resfriamento,
esses se orientam de acordo com campo magnético vigente.
Além disso, os pesquisadores também observaram que no perfil
leste-oeste, em ambos os lados da cadeia mesoceânica do Atlântico, há
faixas paralelas com alternância entre magnetismo normal e reverso.
Isso indica que, à medida que o assoalho oceânico se expande, as
inversões magnéticas ficam registradas nas rochas da crosta_oceânica
nos dois lados da cadeia mesoceância, permitindo assim determinar a
expansão do assoalho oceânico.
Outra evidência que posteriormente contribuiu para comprovar
a deriva dos continentes veio da geocronologia. Por meio da datação
das rochas vulcânicas da crosta oceânica do Atlântico, observou-se que
as rochas mais antigas eram do Período Cretáceo e estavam localizadas
próximo à margem dos continentes. As rochas mais jovens estavam
próximas à cadeia mesoceânica, localizada na porção central do
Oceano Atlântico. Outra constatação interessante é que as rochas com
mesma idade estão posicionadas simetricamente em ambos os lados
da cadeia mesoceânica. Com isso, pode-se verificar que a expansão
oceânica se dá a partir dessa cadeia, onde o vulcanismo é intenso,
existem derrames de lavas e há intrusões que provocam a expansão
do assoalho oceânico, afastando os continentes.
Vale salientar que atualmente a deriva dos continentes é aceita
na comunidade científica e está relacionada à evolução dos oceanos.
Como já foi explicado, o fundo oceânico está em constante mudança,
gerando ou consumindo crosta oceânica. Quando se inicia a separação
dos continentes, forma-se uma depressão onde se instalam grandes
lagos. Com o desenvolvimento desse processo de rifteamento, inicia-se

1112 I PALEONTOLOGIA
a formação de crosta ocearnca onde se forma um prato-oceano,
como é o caso do Mar Vermelho. Por fim, com a constante produção
de crosta oceânica na zona de acreção, forma-se um oceano maduro,
como o Oceano Atlântico. Há um fechamento do ciclo, quando se inicia
o consumo de sua crosta oceânica junto da zona de subducção, por
exemplo, o Oceano Pacífico, caracterizando o estágio terminal ou senil
dos oceanos (Figura 2). Esse ciclo de produção e consumo de crosta
oceânica relacionado à origem e evolução dos oceanos tem exercido
uma influência fundamental na variabilidade, dispersão, abundância e
extinção das espécies fósseis. Ou seja, quando os continentes adquirem
uma configuração de Pangea, nota-se uma tendência ao endemismo
da fauna e flora continental e das regiões oceânicas adjacentes. Por
fim, a dispersão das massas continentais provoca um aumento na
diversidade de espécies devido ao isolamento geográfico, entre outros
fatores.

Figura 2 - eção transversal em região meridional mostrando áreas de produção e de


consumo de crosta oceânica (adaptado de HAMBLIN; CHRISTIANSEN, 1998).

Extinções

Nas últimas décadas, o tema sobre a extinção de espécies tem


sido muito debatido na literatura científica e na mídia mundial. Cinema,
jornal e televisão têm alertado e alimentado discussões sobre as

UM SÉCULO DE CONHECIMENTO l 1113


profundas modificações ambientais em curso atualmente. A vida dos
dinossauros que é trazida às telas, utilizando-se de sofisticados efeitos
visuais, despertou o interesse de um grande público, ávido em saber
como viveram e morreram esses animais extintos.
Antes de mais nada, vale a pena apresentar uma definição geral
do termo "extinção". Este último refere-se à eliminação de espécies da
face da Terra em determinado intervalo do tempo geológico. Existem
dois tipos fundamentais de extinção, a saber: em massa e normal.
Porém, a extinção em massa requer necessariamente uma alta taxa de
eliminação de espécies, enquanto a extinção normal se refere à baixa
taxa de eliminação em dado intervalo do tempo geológico.
Embora os paleontólogos auxiliem a desvendar os mistérios dos
períodos de grandes extinções que ocorreram na Terra em um passado
longínquo, cientistas de diversas áreas ligadas ao meio ambiente têm
percebido que as atuais mudanças nos ecossistemas estão provocando
danos irreversíveis à flora e à fauna. Devido a essas mudanças nos
ecossistemas pela ação antrópica, acredita-se que está em curso um
dos maiores e mais devastadores períodos de extinções em massa já
experimentado pela Terra.
O conhecimento atual sobre a evolução das espécies indica que
elas surgem em um passado próximo ou longínquo, evoluem ao longo
de milhares ou milhões de anos e tendem a ser extintas por alguma causa
natural. Uma espécie é considerada extinta quando sua população for
totalmente eliminada, não sendo encontrado mais nenhum espécimen
vivo. Várias causas podem contribuir à eliminação completa de uma
espécie, dentre as quais se destacam as mudanças paleoclimáticas ou
paleoambientais, mudanças na cadeia trófica, patologias, etc. Esses
eventos podem ter amplitude global ou regional, erradicando assim um
número relativamente importante de espécies. Por exemplo, eventos
globais, implementados em curto intervalo de tempo, podem extinguir
espécies, enquanto eventos regionais, ou implementados de maneira
gradual, podem produzir a eliminação mais lenta de uma população
local.

Extinções em massa

A referência mais antiga a eventos de extinção em massa foi feita


por John Phillips em 1860, ao formalizar as eras do tempo geológico:

1114 I PALEONTOLOGIA
Paleozóica, Mesozóica e Cenozóica. Phillips observou que o início e o
final dessas eras estariam intimamente relacionados a episódios de
extinções em massa.
Há cerca de quinze períodos de extinções em massa no registro
geológico (WARD, 1994), sendo que grande parte deles tiveram
efeitos avassaladores sobre a vida na Terra e proporcionaram
subseqüentemente uma renovação parcial e, às vezes, quase total
da vida. Desses, se destacam cinco mais importantes: Ordoviciano-
Siluriano, Devoniano-Carbonífero, Permiano-Triássico, Triássico-
Jurássico e Cretáceo-Terciário (Figura 3).
O período de extinção em massa mais conhecido e estudado
hoje em dia, o Cretáceo-Terciário, conhecido pelos especialistas como
limite K-T, tem sido tema de discussões profundas e conturbadas entre
os pesquisadores, principalmente com relação à sua gênese e às suas
conseqüências para a Terra. Estudos mostram dias sombrios para a
vida nessa época da história da Terra, na qual provavelmente nenhum
animal de grande porte teria sobrevivido. As duas teorias mais aceitas
para explicar as extinções nesse período são de natureza catastrófica,
a saber, uma relacionada a queda de meteorito e outra a intensos
tectonismo e vulcanismo.

Choque de meteorito e vulcanismo: explicações para as extinções em


massa

A teoria propondo queda de um meteorito como causa principal


para as extinções em massa do limite K-T, formulada em 1980 por
pesquisadores da Universidade de Berkeley, acelerou as discussões
para tentar desvendar esses eventos críticos para a vida. A hipótese
proposta podia responder a várias questões que até então estavam
sem resposta, mas também gerou profundas desavenças científicas
e pessoais. Luiz W. Alvarez (1911-1988), chefe dessa equipe, tinha em
seu currículo participações em importantes projetos de pesquisas.
Dentre eles, merece destacar o projeto Manhattan, relacionado ao
desenvolvimento da bomba atômica na década de 1940, que lhe rendeu
o prêmio Nobel da Física em 1968. Entretanto, L. W. Alvarez não tinha
nenhuma formação em geologia, o que limitava seu embasamento
paleontológico para rebater determinados questionamentos acerca
de queda de meteoritos e extinção de espécies.

UM SÉCULO DE CONHECIMENTO l 1115


Milhoes
de anos
Neogeneo
23

Paleoceno
65
. . . .1.
Cretáceo

Milhoos
de anos
65

245

540
Jurássico

Triássico

Permiano
146

205

245

290
.. ..
,. ,,tt'M

Carbonífero

362
Devoniano Wt!l!"t"'
408
Siluriano
439
o
e:
Wtttl!11'
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E 510

.a,"'
ü
Cambriano
à:
540

o
e:
"'
Q)
'.:>
Tabela do tempo geológico com o registro
2" das cinco maiores extinções em massa.
<( Lembrem que o homo-sapiens surgiu
apenas ao final do Neogeneo, a menos de
um milhão de anos atrás.

4500

Figura 3 - Cronologia dos principais eventos de extinção (adaptado de AUSICH; LAN E,


1999; BRENCHLEY; HARPER, 1998).

Walter Alvarez, filho de Luiz e geólogo atuante na área de


geoquímica, havia estudado as rochas do limite K-Tem Gubbio na Itália
e encontrado anomalias químicas do irídio, um elemento do grupo da
platina não muito comum na crosta terrestre. A partir de 1976, pai
e filho juntaram esforços para tentar desvendar qual seria a relação
entre essas anomalias químicas e as extinções do K-T.
Walter levou esses resultados ao congresso sobre o limite K-T,
realizado na cidade de Copenhague em 1979. Paralelamente às sessões
oficiais, Walter apresentou sua descoberta a pesquisadores, os quais
imediatamente comunicaram que também já haviam observado

1116 I PALEONTOLOGIA
algumas anomalias químicas em intervalos de rochas depositadas
na passagem dos períodos Cretáceo e Terciário em suas respectivas
áreas de estudo. Essas descobertas tiveram grande repercussão na
comunidade científica que, prontamente, intensificou suas investigações
geoquímicas sobre o limite K-T. Ao retornar à Universidade de Berkeley,
a equipe de Walter, acrescida de dois pesquisadores renomados
na área da química, redigiu um artigo para Science, o qual viria a ser
bombástico no meio acadêmico. Nesse, foi sugerido que as extinções
que ocorreram há 65 milhões de anos estariam intimamente ligadas
à queda de um meteorito. Os argumentos utilizados para sustentar
essa teoria estariam relacionados às anomalias do elemento químico
irídio, identificado em finas camadas argilosas do limite K-T na região
de Gubbio, Itália.
O irídio é raro na Terra, porém é abundante em meteoritos
encontrados na superfície da Terra. Segundo a idéia proposta no
mesmo artigo pelo grupo reunido em Berkeley, um grande corpo
extraterrestre teria chocado com a Terra. Esse impacto teria sido
suficientemente forte para levantar uma grande quantidade de poeira,
contaminando a atmosfera. Posteriormente, o irídio seria lentamente
depositado na superfície da Terra. O choque do meteorito teria
provocado drásticas mudanças climáticas e a morte de organismos da
base da cadeia alimentar, devido à perda de luminosidade. A extinção
de vários e distintos grupos de organismos registrados no limite K-T
estaria relacionado a esse fenômeno.
Com os avanços das pesquisas, foram descobertos outros
indícios que corroboraram essa teoria, dentre os quais se destacam:
a descoberta de minerais de quartzo metamorfisado (cristais de
quartzo alterados, por causa de altíssimas pressões e temperaturas)
e ocorrência de microtectitos (microestilhaços de vidro mineral em
forma de gotas produzidos pelo provável choque do meteorito). Mais
recentemente, pesquisadores encontraram micropepitas de diamante
em sedimentos do limite K-T do México, produto do choque do corpo
extraterrestre com a Terra, o qual teria liberado a energia necessária
para transformar grafite em diamante.
A comunidade paleontológica não aceitou prontamente a idéia
de que a principal causa para a extinção parcial da vida na Terra, que

UM SÉCULO DE CONHECIMENTO \ 1117


aconteceu há 65 milhões de anos, estaria relacionada exclusivamente
à queda de meteorito. Para alguns pesquisadores, não existem
evidências suficientes para afirmar tal fato. Segundo esses, os
autores da publicação no Science estariam se baseando apenas em
valores geoquímicos para confirmar sua hipótese, ignorando dados
paleontológicos. Ambos os grupos só concordavam que, no início do
Terciário, existiam registros de uma profunda mudança na fauna e flora
da Terra, onde os animais de grande porte estariam ausentes.
Algumas décadas após a publicação dos Alvarez, há paleontólogos
que permanecem céticos em relação a essa teoria, pois ainda não
observaram a existência de registros abruptos de extinções nas argilas
do limite K-T, mas um declínio gradual anterior a esse evento. Para
ilustrar a sua posição, eles citaram o caso dos dinossauros. As pesquisas
apontam que esses répteis já estavam em declínio há quase 10 milhões
de anos antes da provável queda do meteorito e se extinguiram entre 80
e 20 mil anos antes do choque. Resultados similares foram encontrados
para os inoceramídeos, quando um estudo detalhado apontou que o
desaparecimento global desse grupo se deu em um intervalo de 50 a
100 mil anos, provavelmente 1 milhão de anos antes do impacto. Outras
classes, como os amonóideos e algumas modalidades de microfósseis
marinhos, também se extinguiram antes desse evento catastrófico,
possivelmente em decorrência de rápidas mudanças climáticas que
afetaram a vida no mar entre 1 e 2 milhões de anos antes do limite K-T.
Em 1991, um grupo de pesquisadores liderados por A. R.
Hildelbrand encontrou um provável local de impacto de meteorito.
Até então, as crateras pesquisadas eram demasiadamente pequenas
ou não coincidiam com a idade de 65 milhões de anos. Os autores
reestudaram as linhas geofísicas realizadas pela empresa petrolífera
do México (Pemex), quando fora detectada na década de 1950
uma enorme estrutura gravitacional, imprópria para a acumulação
de petróleo. Segundo eles, a suposta cratera de Chicxulub estaria
posicionada nas profundezas das águas, na Península de Yucatán, no
Golfo do México, e teria um diâmetro de 170 km. Para criar tal estrutura,
os pesquisadores sugeriram que um meteorito de aproximadamente
10 km de diâmetro teria se chocado com a Terra a uma velocidade
de 40.000 km/h, liberando uma energia 10.000 vezes maior do que a
explosão de todo o arsenal nuclear da Terra.

1118 I PALEONTOLOGIA
Em decorrência dessa catástrofe, todos os animais localizados
em um raio de centenas de quilômetros desse local teriam sido
instantaneamente dizimados; o restante teria morrido nos próximos
dias ou meses. A atmosfera da Terra teria sido envolvida por uma
camada de partículas finas que impediria a penetração de raios solares.
Isso teria dificultado a realização da fotossíntese pelas plantas e algas,
além de provocar uma diminuição drástica da temperatura, criando um
fortíssimo inverno e, enfim, precipitação de chuvas ácidas em todo o
planeta. Um fenômeno similar de dispersão de toneladas de sedimento
ocorreu com a erupção do vulcão Pinatubo (Filipinas) em 1991, quando
o material vulcânico foi jogado na estratosfera, espalhando-se pelos
dois hemisférios e diminuindo a temperatura média anual global em
o,5°C (PRESS; SIEVER, 1998).
Outra teoria mais aceita para explicar as extinções em massa
durante a passagem K-T está relacionada à intensa atividade vulcânica.
Erupções vulcânicas lançaram grandes volumes de lavas, cinzas e gases
sulfurosos na atmosfera. Essa idéia, defendida por Officer & Drake
(1983), também pode explicar as anomalias de irídio, grãos de quartzo
metamorfizados e tectitos encontrados em rochas próximo ao limite
K-T como sendo de origem vulcânica.
Os defensores da teoria do vulcanismo destacam que certas
lavas podem ser ricas em irídio, assim como o quartzo metamorfizado
e os tectitos resultantes de explosões vulcânicas. Como suporte a essa
teoria, há estudos geológicos que apontam grandes derramamentos
de lavas basálticas na Índia no final do Cretáceo. Apesar de tudo,
existem questões ainda não resolvidas. Os oponentes enfatizam que
os eventos vulcânicos não teriam ocorrido no exato instante das
extinções e das trocas faunísticas observadas em sedimentos de 65
milhões de anos atrás, mas sim anterior a esse período. Outra dúvida
colocada refere-se ao irídio, o qual é mais abundante em meteoritos
do que em lavas basálticas, ou seja, essas últimas raramente possuem
valores suficientes para proporcionar as concentrações altas de irídio
como aquelas encontradas nos sedimentos no final do Cretáceo.
Como já foi salientado, o impacto de meteorito e o vulcanismo
são as duas teorias mais aceitas para explicar as extinções em massa
no K-T. Entretanto, têm sido propostas novas hipóteses dignas de

UM SÉCULO DE CONHECIMENTO j 1119


interesse. Existem cientistas defendendo que o número de extinções,
ao final do Cretáceo, aumentou gradualmente, implicando que não
haveria nenhuma relação com o choque de meteorito ou a teoria do
vulcanismo. Outros argumentam que as extinções foram provocadas
pelo somatório de várias causas, incluindo impactos de meteoritos,
vulcanismo, etc. Existe ainda a hipótese segundo a qual há uma
periodicidade de 26 milhões de anos para queda de meteoritos na
Terra, provocando grandes catástrofes.
Apesar da ênfase dada ao limite K-T, o maior período de extinção
em massa já registrado na Terra é atribuído ao limite Permiano-Triássico,
conhecido como P-Tr. Houve então o extermínio de aproximadamente
90% de todas as espécies marinhas, 70% dos gêneros de vertebrados
terrestres e a maioria das plantas. Esse evento abrupto na escala
geológica ocorreu em um intervalo de tempo de 500 mil a 8 mil anos.
As causas para esse extermínio global estão relacionadas às grandes
modificações ambientais produzidas pelas regressões marinhas,
isto é, pela grande diminuição do volume de água dos oceanos,
expondo vastas áreas da plataforma continental. Além disso, houve
intenso vulcanismo registrado na Sibéria, o qual teria emitido grande
quantidade de gases tóxicos para a atmosfera, causando mudanças na
quantidade de oxigênio disponível nos oceanos. Descobertas recentes
apontam o choque de um meteorito como a principal causa das
mudanças na passagem P-Tr. Em 2001, Becker relacionou a queda de
meteorito ocorrida no P-Tr com aquela no limite K-T. Segundo o autor,
os meteoritos que atingiram a Terra no K-T teriam aproximadamente
as mesmas dimensões e a mesma velocidade de choque. O impacto não
seria o responsável direto pelas extinções, mas teria desencadeado as
mudanças que causaram essas extinções.

Perspectiva da Paleontologia para o Século XXI

No breve histórico da paleontologia, pode-se constatar que o


tempo geológico está subdividido em uma série de eras e períodos que
se distinguem pela diversidade de espécies fósseis. Houve extinções
em massa maiores e menores que marcaram os limites dessas eras e
períodos.

1120 1 PALEONTOLOGIA
A paleontologia é um ramo das ciências que se preocupa sobretudo
com a história da biosfera do planeta Terra. Por isso é necessário
estabelecer um sistema coerente de identificação das espécies, ou
seja, é preciso selecionar os caracteres morfológicos diagnósticos
essencialmente genotípicos, excluindo aqueles fenotípicos. Para
cumprir essa tarefa, a paleontologia cada vez mais utiliza-se de estudos
da fisiologia de organismos atuais aparentados com os fósseis.
Por outro lado, atualmente entende-se melhor a biosfera como
parte de um sistema global que resulta e interfere na atmosfera,
hidrosfera e litosfera por meio do tempo geológico. Essa tendência no
entendimento da evolução da biosfera aponta para uma integração
com a paleoclimatologia, a paleoceanografia e a biogeoquímica.
Nessa modalidade de estudo, deverá ser fundamental a determinação
dos aspectos tafonômicos, além dos outros já mencionados, e assim
determinar com clareza as interpretações paleontológicas.
As mudanças climáticas globais em curso são muito discutidas
no meio científico, bem como pela mídia. A paleontologia e a geologia
sedimentar desenvolveram detalhados procedimentos analíticos,
impulsionados pelas áreas mais aplicadas das ciências da Terra durante
o século XX, os quais servem atualmente como indicadores para o
monitoramento ambiental. Uma indicação desse direcionamento
refere-se à realização da conferência internacional intitulada /5t
lnternational Conference - Application of Micropaleontology in
Environmenta/ Sciences, realizada em 1997 na cidade de Tel-Aviv em
Israel.
O estudo do paleoclima do Período Holoceno é uma questão
crucial para chegar a uma apropriada interpretação das mudanças
climáticas em curso. Nos sedimentos dessa idade, há grande quantidade
de elementos biogênicos que, na maioria das vezes, estão bem
preservados e permitem uma analogia com espécimens vivos, sendo
assim úteis para análise do paleoclima. Questões como o efeito estufa
e a variação do nível do mar devem ser abordadas e, para apreciar
esses problemas, será preciso ter a avaliação dos seguintes fatores: as
variações dos ciclos orbitais do planeta, o aumento da emissão de C0 2
na atmosfera pela queima de combustíveis fósseis e a diminuição de
áreas florestais.

UM SÉCULO DE CONHECIMENTO j 1121


Enfim, durante mais de duzentos anos, o atualismo de James
Hutton, sintetizado pela frase "o presente é a chave do passado",
serviu como referência para a geologia e a paleontologia avaliarem as
eras passadas da Terra. Se isso é aceito, pode-se considerar, conforme
sugere Hay et ai. (1997), "o passado é a chave para o futuro". Esse
autor ressalta, porém, que o clima do passado não é um guia direto
para entendimento das mudanças climáticas em curso, mas pode-se
aprender a partir do estudo do paleoclima os fatores que controlam as
mudanças atuais em curso.

Agradecimentos

Os autores agradecem aos professores Maria Léa Salgado-


Labouriau (Instituto de Geociências-UnB), Renato Rodolfo Andreis
(Museu Paleontológico Egídio Feruglio, Argentina) e Rualdo Menegat
(Departamento de Paleontologia e Estratigrafia-UFRGS) pelas
discussões e cessão de preciosidades da literatura de ciências naturais.
Ao estudante de geologia, Simão Bolivar Sampaio Gomes de Oliveira,
pelo desenho do corte transversal no globo terrestre.
A

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Cadeia trófica - Refere-se à cadeia alimentar.

Estratificação - Característica das rochas sedimentares de formarem -


camadas ou estratos, lâminas ou lentes, com estruturação interna.

1124 I PALEONTOLOGIA
Origina-se de modificações periódicas ou não no sistema deposicional
ou paleoambiente, que podem alterar a quantidade de sedimentos
- depositados ou sua composição. Evidencia-se a estratificação pela
diferença de granulometria, textura, cor, etc.
Facies - Conjunto de características litológicas e paleontológicas
úteis para distinguir unidades estratigráficas. Estas,- no caso d~
facies sedimentares, são geralmente utilizadas para identificar
sistemas deposicionais coevos dentro de um dado paleoambiente.
Embora esse termo tenha sido utilizado originalmente para rochas
sedimentares, ele é atualmente empregado também para rochas
ígneas ou metamórficas.
Fossildiagenese - Ramo da tafonomia que se ocupa de todos os
eventos pós-deposicionais ligados à preservação de restos e vestígios
de organismos. No caso de restos biogênicos, a fossildiagenese ocupa-
se de todas as alterações físicas e químicas após a chegada deles ao
sítio final de deposição e que podem ocorrer durante o soterramento
e a diagênese.
lnoceramídeos - Referente a moluscos bivalvados da família
lnoceramidae.

Sucessão fossilífera - Mudança na composição de espécies fósseis


registrada em camadas superpostas.
Virtudes plásticas - Virtude plástica (vis plastica) - Na tradição
aristotélica, expressão usada para se referir à força latente na natureza
capaz de produzir formas a partir da matéria (forma/matéria). Os fósseis
eram considerados como sendo o resultado desse poder natural em
ação na terra.

Zona de acreção- Diz-se da zona da crosta oceânica em que há produção


de crosta nova, resultante da consolidação do magma.
Zona de subducção - Diz-se da zona da crosta oceânica em que há
consumo de crosta resultante do choque de ptacas, onde a mais densa
é deslocada para o interior da crosta.

UM SÉCULO DE CONHECIMENTO l 1125

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