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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ

CAMPUS DE CAMPO MOURÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE HISTÓRIA
NÍVEL DE MESTRADO PROFISSIONAL – PROFHISTÓRIA

Disciplina: Usos do biográfico no ensino e na aprendizagem de História


Docentes: Cristina Satiê de Oliveira Pátaro; Frank Antonio Mezzomo
Discentes:Bruno Andrade Gedra, Célio Roberto da Silva, Paulino Augusto Peres de
Souza

PREÂMBULO

Na era da afirmação e institucionalização das ciências, uma forma de


escrever o passado foi relegada à um segundo plano: A biografia. De modo geral,
no século XVIII e XIX as discussões filosóficas se ancoravam em modelos
estruturalistas, que acabavam por esconder ou tomar o sujeito como consequência,
e assim, o estudo biográfico era para muitos impertinente. As análises Kantianas,
Hegelianas e Marxistas possuíam uma concepção Teleológica que submergia o
indivíduo em um oceano cujas marés e movimentos lhe determinavam a direção
(LORIGA, 2011). Mesmo no século XX com a efusão da Ecolle de Annales, houve
uma grande preocupação em se compreender na história as “estruturas sociais, as
representações mentais, os fenômenos de longa duração” (LORIGA, 2011, p.17) e a
biografia acabou por ser associada à uma história tradicional, o que justificava a
repulsa das primeiras gerações dos Annales. (ALMEIDA, 2014, p. 293)
Porém nas últimas décadas do século XX a biografia volta a chamar a
atenção dos historiadores em função da sua potencialidade. Assim várias
discussões a respeito da viabilidade epistemológica do gênero passam a ser feitas,
e a biografia produzida por historiadores passa a obedecer a uma série de
procedimentos metodológicos e teóricos fundamentais: O uso de fontes
documentais, a análise do contexto como campo de possibilidades e a
problematização da narrativa como um recurso que costura e dá sentido e
significado aos fatos. (ALMEIDA, 2014)
Se autores como Francisco Alves de Almeida afirmam que a biografia
histórica está de volta, cabe aos professores de história refletirem também sobre a
potencialidade do uso do biográfico como recurso para o desenvolvimento da
consciência histórica em seus alunos, afinal, é paradigmático hoje que uma aula de
história deve despertar em seus alunos a capacidade de articular sua experiência de
evolução temporal, e se orientar, de forma intencional, a vida prática (RUSEN, 2010)
Experiências como as da professora Verena Alberti demonstram o grande
potencial pedagógico da problematização da biografia como gênero historiográfico.
A biografia, de acordo com a professora, tem a capacidade de aumentar a
possibilidade dos alunos compreenderem as intersecções do tempo histórico com as
trajetórias individuais (ALBERTI, 2006, p. 2).
Desta forma, sendo as trajetórias individuais importantes para a compreensão
do tempo histórico, nossa entrevista pensou na possibilidade de compreender o
contexto político entre 2016 e 2019 através da entrevista ao professor e vereador
Carlos Alberto João, além de refletir sobre a importância da biografia para a história
e também da história recente, além de demonstrar a importância de fontes
alternativas na análise histórica como as redes sociais. Partindo desta fonte, é
perceptível a polarização política no Brasil e como ela aconteceu de forma que o
ódio fora propagado através das redes sociais e, desta forma, se destacaram na
sociedade.
A partir da construção da narrativa da Professor e Vereador Carlos Alberto, é
evidente as situações de propagação da intolerância política e ódio no período
analisado nas redes sociais, tanto na sua função de vereador quando na sua
profissão docente. O professor se identifica no espectro da esquerda política e
atuante na luta pela expansão de direito das minorias como mulheres, negros,
homossexuais, além de erguer, acima de tudo, a bandeira da educação e direito dos
professores.
O professor Carlos Alberto nasceu no dia 18 de agosto de 1979 tendo apenas
um irmão, branco, casado e pai de uma menina. Professor efetivo do estado do
Paraná desde 2009 e vereador do município de Paranavaí na gestão 2017-2010. O
professor, sendo servidor do estado do Paraná está inserido diretamente no debate
público sobre educação, cultura, entre outras questões sociais, inclusive sendo
reconhecido por suas ideias e posições contundentes dentro da sociedade civil do
Noroeste do Paraná.
O professor deixa claro na entrevista como as pessoas, sobretudo durante as
eleições de 2018 se exaltaram diante das duas propostas principais. Tanto a
esquerda quanto a direita entraram em conflito ideológico com bastante
agressividade. Percebe-se na fala do professor que a situação que passou na
cidade de Paranavaí enquanto era candidato à vereador não era uma exclusividade
do município, essa forte polarização se repetia em todo o país.
O entrevistado destacou que por nascer no município de Querência do Norte,
no Noroeste do Paraná, cidade marcada por um forte núcleo no Movimento Sem
Terra (MST) desde cedo esteve ligado a causas sociais e via na educação algo
fundamental na mudança das mentes para perceberem sua própria condição.
Afirmou em diversos momentos que a internet potencializou sua atividade
enquanto educador e, posteriormente enquanto vereador. Antes das redes sociais
possuía um blog em que publicava atividades educativas e notícias da cidade, mas o
substituiu por redes sociais, uma vez que os blogs foram entrando em desuso.
Como a receptividade das redes sociais era muito maior e também era
acompanhado de grande dinamismo privilegiou as redes sociais.
As redes sociais foram para o professor Carlos Alberto uma maneira de
comunicar-se diretamente com alunos e eleitores, sobretudo porque o momento é de
grande euforia na utilização dessas redes sociais. O próprio atual presidente da
república privilegia as redes sociais como forma de comunicação direta com seu
eleitorado.
O professor Carlos, ao defender suas ideias, mesmo que muitos as rebatam
nas redes sociais, sempre prefere manter seus posicionamentos e afirma “nunca ter
apagado um comentário”, prefere deixa-lo porque aquele comentário o representa,
aquele que está é ele mesmo.
No período eleitoral em 2018, em meio a um grande alvoroço político disse
que não teve receio de realizar seus posts, mas afirma sempre ter tomado cuidado
para não ser ofensivo.
Assim como ocorreu com diversos atores políticos no país nos últimos anos, o
professor Carlos passou por situações constrangedoras com o uso do Facebook,
mesmo se comunicando de forma cuidadosa, sobretudo por ser do Partido dos
Trabalhadores (PT). Qualquer post que fizesse havia quem o hostilizasse. Apesar da
hostilidade, nenhum destes momentos foi à justiça. A grande parte destas agressões
verbais sofridas envolviam o elo automático em que alguns eleitores realizavam ao
associar o PT à corrupção. O professor Carlos Alberto se defendia quase que
diariamente da acusação de corrupção lançada a ele, unicamente, por ser membro
do Partido dos Trabalhadores.
Durante todo o período que tramitou o processo de impeachment da
presidenta Dilma Rousseff o professor Carlos Alberto já era militante do PT e ao
acompanhar a conjuntura nacional em debates internos do partido, sindicatos e em
redes sociais. Afirma o professor que “travou brigas homéricas” nas redes sociais
para defender seu candidato, partido e ideologia. Sobre estas brigas, o professor
afirma ser o impeachment um grande circo armado contra a presidente, uma
armadilha, um golpe.
Após o impeachment da presidente, o professor Carlos Alberto percebeu uma
redução das discussões no governo Temer. O presidente Temer assumiu nesse
período um tom conciliador em seu discurso isso refletiu nas discussões políticas,
sobretudo nas redes sociais. Mesmo com a Reforma Trabalhista e com a baixíssima
popularidade do presidente, as discussões políticas eram menos acaloradas.
Já durante as eleições em que o candidato Bolsonaro esteve presente, o tom
era outro bem mais enfático e direto. Segundo o próprio professor Carlos Alberto, “o
Bolsonaro trouxe um debate diferente que tínhamos na época do impeachment da
Dilma”. O debate promovido pelo bolsonarismo seria para o professor, “mais raso”,
mais “senso comum” e cheio de ódio. O candidato Bolsonaro nunca se privou de
expressar sua ideologia com bastante contundência, sem se preocupar se poderia
ou não ofender algum grupo social, portanto, a agressividade desta campanha foi
bastante presente.
Este período foi duro para professores da área de humanas, uma vez que o
bolsonarismo os associou ao marxismo, que por sua vez, havia sido demonizado por
essa extrema-direita. O professor Carlos teve de lidar com situações bem
extremadas, sobretudo de ideólogo por aqueles que apoiam o Movimento Escola
Sem Partido que vê nos professores inimigos da educação, das crianças e famílias
brasileira.
Escola Sem Partido, Bolsonaro, eleições presidenciais, Temer, Dilma,
impeachment, todos esses atores e acontecimentos estão presentes na biografia do
professor Carlos Alberto, que também exerce o cargo de vereador no interior do
Paraná, isso mostra que biografias podem contribuir para a construção da história e
da história recente. Também ficou claro que as fontes utilizadas podem ser muitas,
desde os clássicos documentos oficiais até posts em redes sociais. O uso do
biográfico no ensino de história é um método já utilizado e possível para se
pesquisar história, assim como também para compreensão da história recente do
nosso país, compreendendo, a partir de uma biografia, os acontecimentos
conjunturais de nosso país.
Esta biografia é um esforço para que os docentes do ensino de história
compreendam que a biografia também pode ser utilizada em sala de aula, a partir,
talvez, da história de algum familiar dos alunos, estimulando-os ao exercício da
pesquisa ao refletirem sobre a trajetória de alguém comum.

ENTREVISTA COM PROFESSOR E VEREADOR CARLOS ALBERTO JOÃO

01) Quando e por que se interessou em ser professor?


Carlos: minha vontade de ser professor surgiu ainda quando eu era pequeno.
Eu sempre quis ser professor, e de humanas, porque eu era de Querência do
Norte, cidade envolvida com movimentos sociais. Lá tem um assentamento
sem-terra, então, sempre tive essa vontade de estar envolvido com a
educação, e ensinar as pessoas a perceberem o mundo em que vivem.

02) Percebi que na sua trajetória você vem utilizado as redes sociais para
se comunicar, sobretudo o Facebook. Quando e por que se interessou
em usar o Facebook?
Antes de eu ser vereador eu já tinha um blog onde eu mostrava notícias da
cidade, da região e do país, sobretudo referente a educação, mas aos poucos
o blog foi perdendo público e percebi que as pessoas estavam utilizando
muito as redes sociais e foi aí que entrei no Facebook e minha intenção era
continuar o trabalho que eu já desenvolvia no meu blog. Achei muito
interessante e mais dinâmico que o blog. Gostei muito e continuo usando.

03) Utilizando tanto essa rede social, quais utilidades você reconheceu
nela?
Eu percebi que o Facebook, e outras redes sociais também, tem uma
receptividade muito grande e as pessoas trazem um feedback muito mais
rápido, então eu percebi que elas poderiam ser utilizadas para transmitir
informações e ideias, então acho as redes sociais úteis para essas coisas, e
claro, ela também pode ser utilizada para diversas coisas diferentes, mas eu a
uso para transmitir informações e notícias mesmo.

04) Com qual frequência utiliza esta rede social?


Eu uso quase todos os dias, não só o Facebook, mas também o Instagram.
Uso sempre porque é uma forma de comunicação quase que direta com os
meus alunos, com os meus eleitores e o trabalho do vereador exige essa
comunicação rápida. As redes sociais fazem parte da nossa realidade e não
tem nem como fugir delas. Eu uso quase todo o dia e gosto. E nunca apaguei
um comentário. Sempre deixo porque aquele que está ali sou eu, então se
houve um debate mais acalorado eu deixo porque aquele ali sou eu.

05) Falando em debate acalorado a qual as redes sociais o colocam, por


que a utiliza para expressar suas ideias políticas?
Eu a utilizo porque não vejo outras ferramentas que consigam alcançar um
público tão grande de forma tão rápida. Você posta e já alguém comenta,
envia outra notícia no comentário.

06) Em meio a uma realidade de alvoroço político, sobretudo no ano


passado que foi ano de eleição, você teve ou tem algum tipo de receio
no uso desta rede social?
Não tenho. Eu posto tudo o que acho que devo postar. É claro que nunca sou
ofensivo e coisa parecida, mas tudo o que posto reflete a minha forma de
pensar e ver o mundo. Como eu disse antes, nunca apaguei um comentário,
porque tudo que posto reflete o que eu penso e eu nunca penso de forma
desrespeitosa com qualquer um, então, não tenho receios.

07) Você acredita que a influência do Facebook pode definir o


posicionamento político, ideológico e cultural de alguém?
OFacebook e as outras redes sociais também, possuem grande influência
política. Como são formas muito dinâmicas, as pessoas podem utilizar essas
redes para se informar e isso pode influenciar sua forma de pensar. Por
exemplo, na minha página no Facebook não tenho tantos seguidores, não
porque não poderia tê-los, mas porque acredito que é melhor ter um grupo
menor e enxuto, mas que pudesse representar os nossos ideais. Então cada
um que começou a seguir a minha página, foi acompanhando aos poucos e
alguns permaneceram porque, provavelmente, tiveram alguma influência
dessas ideias que estavam na página.

08) Já passou por situações constrangedoras ou ameaçadoras com o uso


do Facebook e se passou, como se posicionou diante delas?
Já aconteceram situações, mas nada tão grave. Eu sempre me comuniquei
de forma bem cuidadosa, principalmente porque eu sou do PT e me tornei
vitrine. Então, qualquer coisa que eu dissesse poderiam ficar irritados contra
mim por eu ser do Partido dos Trabalhadores. Então eu sempre me manifestei
nas redes sociais de forma bem cuidadosa.

09) Alguma dessas situações chegou a ir para a justiça ou conseguiu


resolver no diálogo?
Nunca chegou a ir para a justiça. Sempre dialoguei pelas redes sociais de
forma a convencer a pessoa que eu não era corrupto por ser do PT e que
diversos partidos também eram corruptos e que não somente políticos, mas
também os brasileiros também são. Mas, percebi que é difícil convencer
essas pessoas, mas, mesmo assim, nunca chegou a uma situação tão séria
que fosse para a justiça.
10) Já houve situações em que alguma publicação sobre política que você
fez no Facebook tenha tido alguma repercussão negativa na escola ou
com pais de alunos?
Como eu sempre fui cuidadoso nunca tive grandes problemas. E como eu
havia dito, por ser do PT parece que todos estão de olhos para mim. Por
exemplo, aqui na Câmara temos dez vereadores, e se acontece qualquer
problema já lembram de mim porque sou do PT. As pessoas nunca lembram
os partidos dos outros vereadores, mas sempre se lembram que tem um
vereador petista na cidade. E nas escolas no ano passado foi uma situação
bem tensa. Como as críticas ao meu partido eram muito grandes e eu
envolvido na campanha para governador e presidência, tive situações tensas
na escola, mas nada que se tornasse um problema. Tive cuidado redobrado
no ano eleitoral.

11) Diante do cenário atual de denuncismos contra professores, ou de


ameaçasdecorrentesoriundos dos que defendem o “Escola
SemPartido”, vocênãoteme que suaspublicações no Facebook
possamgeraracusações de doutrinaçãoideológica?
Olha, como eu sou do PT e vereador, tenho o medo de virem acusações,
porque sempre tem alguma situação que nos acusam, porque houve, e ainda
há uma perseguição aos Partido dos Trabalhadores no país, então, todo
cuidado é pouco, e então eu me policio em sala de aula. Não sou neutro,
porque não acredito que seja possível ao ser humano ser neutro. Sou isento,
mas não neutro. Mas, essas acusações sempre acabam acontecendo,
inclusive no meio da família. Alguns familiares no grupo de whatsapp
brigavam, pois é estranho saber que um familiar seu, que conhece a anos e
gosta, de repente apoia a tortura. É estranho. Ou um amigo de longa data.
Então, na minha home page, no whatsapp ou na sala de aula, sempre tomo
cuidado.

12) Como você percebe a sua atuação no Facebook no período do


impeachment da presidenta Dilma? Você era mais ativo que agora nas
redes sociais? Teve discussões acaloradas? Saiu em defesa da
presidenta?
Durante todo o período que tramitou o processo de impeachment da
presidenta Dilma no Congresso Nacional no ano de 2016, desde o início
daquele ano nós estávamos acompanhando toda a conjuntura nacional.
Acompanhando nas redes sociais. Acompanhando nos debates internos. Nos
debates no partido. Nas reuniões partidárias. Nos movimentos dos sindicatos.
E eu travei brigas homéricas nas redes sociais. E utilizei bastante. Foi um
período em que a gente tentava mostrar para parte da população, para a
nossa sociedade de que tudo aquilo estava sendo montado, que de fato era
golpe e as pessoas não estavam entendendo. Então foi assim, um momento
bastante difícil para nós militantes que tinham clareza daquele momento,
daquela conjuntura, então, por isso, as redes sociais foram primordiais,
porque tínhamos mais tempo para poder argumentar e trazer elementos para
que pudessem fazer com que as pessoas pensassem, parassem para pensar
e que era um momento extremamente importante que o país estava
passando, que era todo aquele circo que armaram, uma armadilha que
armaram, que foi um golpe e que hoje se concretizou. Então foi um período
muito difícil e triste para nós, porque sabíamos que já a presidenta Dilma não
conseguiria. A gente sabia disso, mas a gente fez e utilizamos e eu utilizei
bastante as redes sociais.

13) E nos governos Temer e Bolsonaro? Os dois são oposição ao seu


partido. Você percebeu em você alguma diferença na sua atuação nas
redes sociais em relação ao Temer e ao Bolsonaro? Foi mais agressivo
com um do que com outro?
Então, professor Paulino, no governo Temer eu percebi uma diminuição nos
debates nas mídias sociais. Eu mesmo debati muito pouco, parecia que
conforme foi avançando o governo Temer e sua política neoliberal, seu plano
de governo muito perverso na economia, eu vi que ouve um silêncio. Pelo
menos da minha parte. E aí vem a campanha. Aí vem Bolsonaro. O
Bolsonaro traz um debate diferente do que tínhamos na época do
impecheament da Dilma. Traz um debate muito mais raso, um debate mais
senso comum e temperado com aquilo que a gente mais rejeita e mais
combate, que é o discurso do ódio. Aí, a gente se deparou também com
alguns problemas nas redes sociais, mas eu, particularmente, travei muito
pouco este tipo de debate. Eu tenho muita dificuldade, confesso que eu tenho
muita dificuldade de argumenta, de debater com esse senso comum, com
esse discurso de ódio. Aí, a gente foi tentando driblar as redes sociais, pelo
menos no meu caso, eu me reservei um pouco mais, mas ela foi muito
importante e continua sendo muito importante para o nosso mandato. Então,
para dizer assim que de fato, sem dúvida, o discurso veio muito mais
agressivo com a campanha de Bolsonaro. Muito mais agressiva. Discurso
raso, discurso superficial, senso comum, muito preconceito e muito discurso
de ódio. Isso o que eu senti.

14) Estive olhando o seu Facebook e você postou uma participação sua com
um grupo religioso católico, e no dia exatamente anterior, você postou
uma foto sua em sala de aula com uma militante trans LGBT de
Paranavaí, onde a militante foi convidada para falar da importância do
combate à homofobia. Então, em um dia você se aproxima de um grupo
religioso e em outro com um grupo que luta contra a homofobia. Estes
dois grupos estão em cenários políticos diferentes, então esta sua
atitude faz parte de uma estratégia para o momento polarizado ou faz
parte de sua construção como ser humano?
Olha, eu goste dessa pergunta. Eu tenho uma formação cristã. No fim dos
anos 1980 e início dos anos 1990 eu me aproximei muito da teologia da
libertação. Eu sou católico, mas não sou tão atuante, mas eu tenho uma
formação na teologia da libertação e eu acredito nesse sentimento cristão de
inclusão social, eu acredito muito nessa aproximação das minorias, do
movimento LGBT, então isso para mim é muito tranquilo, porque eu acho que
o movimento religioso ele precisa incluir e não excluir. Nós como agentes
políticos quando realizamos essa ponte com a religião precisamos partir
desse ponto que é a inclusão e aceitação. Esse é o verdadeiro evangelho
para mim e por isso eu trafego tranquilamente entre estes grupos, do
movimento LGBT, mulheres negras, mulheres trans, então na minha
concepção de cristão é desta forma que deve ser feito e não partir para o
fundamentalismo, inclusão e intolerância. Tudo bem? Muito obrigado mais
uma vez.

REFERÊNCIAS

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