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A PESCA NO RIO TEJO

OS AVIEIROS: Que padrões de cultura?


Que factores de mudança sócio-cultural? Que futuro?

CARLOS LOPES BENTO, professor da Universidade Internacional

É abundante a informação escrita sobre a importância


geoestratégica do Tejo, que durante séculos constituiu a base de uma
sólida linha de defesa (1) contra diferentes invasores (lembremos, entre
outros, os romanos, árabes, castelhanos e franceses), mas escassa sobre
o papel que a bacia hidrográfica deste rio poderá desempenhar, do
ponto de vista económico, no desenvolvimento do País e no progresso
social e cultural das populações nela fixadas.
A sua grande riqueza hídrica tem sido apontada como susceptível
de aproveitamento em domínios como: a navegação, a produção de
energia, o uso doméstico, a agro-pecuária, a indústria, o turismo e as
pescas, potencialidades que, até ao momento, talvez por falta de
vontade política, capacidade criativa e de projectos integrados e
regionais de desenvolvimento, estão mal utilizadas ou, na maioria dos
casos, totalmente desaproveitadas.
Face à limitação da extensão da presente comunicação, não me é
possível abordar tão grande multiplicidade de domínios, debruçando-
me, apenas, sobre aspectos liga¬dos à produção científica relacionada
com os pescadores avieiros do Tejo, quer a disponível, quer a futura.
Mas quais as razões que me levaram a estar presente neste
Congresso e à escolha da temática «pesca e pescadores avieiros
doTejo»?
Destaco algumas:

—Ser natural e sido enculturado no alto Ribatejo (Mouriscas), na


margem direita do médio Tejo (2) onde, desde a meninice, até cerca
dos 25 anos, tive o privilégio de, no inverno, contemplar, quase
anualmente, a grandeza e a impetuosidade das então indomáveis e
volumosas cheias, por vezes devastadoras, que espalhavam o pânico
entre as populações ribeirinhas e destruíam os seus haveres e, no verão,
de utilizar para banhos e para a pesca as suas límpidas, serenas e
curativas águas.
—Ter, por outro lado, atravessado e cruzado, centenas de vezes
de barco e a pé (a vau) o rio, quer por motivos da minha então profissão
de moleiro e moleiro-estudante, tendo até, no período final da 2ª
Guerra Mundial, participado no comércio clandestino de cereais,
aproveitando os locais mais recônditos do Tejo para fugir à fiscalização,
actividade que se fazia, geralmente, a altas horas da noite, em
condições perigosas.
—A curiosidade de conhecer, mais de perto, estes pescadores,
surgida quando, de 1979 a 1983, como investigador, participei no
Projecto de I&D intitulado «A reconversão da pesca artesanal —
Problemas Humanos —», comparticipado pela J.N.I.CT. e da
responsabilidade da Sociedade de Estudos de Sociologia e de
Antropologia, Ldª (ANTROPOS) e, nesse âmbito, ter realizado, nos
núcleos piscatórios de Alhandra e Vila Franca de Xira, estudos
preliminares de carácter exploratório (3).
—Numa altura em que os recursos aquáticos vivos nacionais
caminham para um rápido esgotamento (4), sem que a maioria dos
portugueses tenha disso consciência e das consequências que,
necessariamente, daí advirão para as gerações vindouras, pretender
lançar algumas bases que permitam, em futuros estudos científicos,
conhecer, de maneira global, sistemática e interdisciplinar:

● Os padrões de interacção entre o ecossistema aquático e o


sistema sócio-cultural e suas múltiplas implicações no modo de vida dos
mesmos pescadores e no meio ambiente.
● Os factores de mudança sócio-cultural responsáveis por
eventuais alterações das e nas funções e estruturas das suas principais
instituições.

Para que o Tejo volte a constituir um ecossistema vivo e funcional


e os seus recursos aquáticos sirvam, em primeiro lugar, a pessoa
humana e a comunidade, é necessário tomar decisões (5) que, para
além da necessidade de estarem de acordo com a realidade concreta
actual, exijam, igualmente, que se faça o ponto da situação, quanto à
administração das pescas e dos recursos, de modo a conhecer e a
avaliar as lacunas e os erros do passado que, de algum modo, nos
ajudem a compreender os comportamentos e dificuldades do presente e
a lançar as bases correctas do futuro, de modo a permitir uma
exploração responsável, adequada e eficiente das águas e das riquezas
do rio Tejo, seus afluentes, esteiros e estuário, ... .
É deveras importante o conhecimento das situações reais do
passado, para uma mais completa compreensão dos muitos problemas
que afectam a realidade actual do sector das pescas, no caso concreto,
a que diz respeito aos avieiros do Tejo. Contudo, a produção científica
em relação aos avieiros nem sempre tem primado pela qualidade nem
pela quantidade.
De qualquer maneira, as diferentes formas de conhecimento
disponível realçam a riqueza piscosa do rio Tejo até um passado não
muito longínquo e a sua importância na economia alimentar das
populações fixadas nas suas margens e dos seus tributários, com relevo
para grandes aglomerações como Lisboa.
Nos finais do século passado, para além das espécies próprias do
seu estuário, ainda havia certa abundância de barbo, corvina, robalo,
linguado, fataça ou muge ou tainha, boga, sável, lampreia, saboga e
enguia, evidência que é confirmada por estudos realizados por essa
altura, isto é, no último quartel do século XIX.
Surge, então, o relatório mandado elaborar pela Sociedade de
Geografia de Lisboa, em 1888, indicando-nos que, nos rios Douro,
Mondego e Tejo, na época própria, pescavam-se a lampreia e o sável,
com grande valor económico, mas que, então, já escasseavam as
espécies sedentárias de água doce (barbo, robalo, enguia...) que, pela
pequena quantidade capturada, pouco valor tinham nas pescas (6).
Baldaque da Silva na sua memorável obra — Estado actual
das pescas em Portugal — e no relatório que elaborou para a 2ª
Circunscrição do Reino, com base nos dados do Inquérito Industrial de
1890, oferece-nos importantes referências sobre a pesca no Tejo e os
pescadores que, então, exerciam a faina, que, pela forma como
foram recolhidas, classificadas e interpretadas, devem ser consideradas
de confiança e válidas, relativamente, à época em que foi realizada a
observação.
O Inquérito de 1890 referencia os seguintes portos fluviais no
Tejo, Vila Franca de Xira, Alcochete, Aldeia Galega, Muge,
Santarém, Constância e Abrantes (pgs. 283 e 284).
Nos referidos portos, segundo o mesmo Inquérito, «em
determinadas épocas do ano é muito importante a pesca que se faz
no rio Tejo, não só em todo o estuário do rio, desde a embocadura
até Valada, mas também para cima, até muito a montante de
Abrantes» (pg. 287).
Nas temporadas do sável, lampreia e corvina, procuravam os
pescadores para surgidouro os portos fluviais em condições mais
favoráveis para a laboração da sua indústria e escolhiam, geralmente,
os que acima indiquei, nos quais, em maior ou menor escala, sempre
se exercia a pesca fluvial, embarcada ou a pé, durante todo o ano
(pg. 287 e seguintes).
Nesta data, eram os pescadores ílhavos que emigravam para os
rios Tejo e Sado em determinadas épocas, fazendo moradia a bordo,
resguardando-se do vento e da chuva por meio de um pequeno
encerado quadrangular, que atravessavam «da borda avante...» (pg.
294).
É importante notar que o Inquérito não se referia, ainda, aos
pescadores de Vieira ou da Murtosa como frequentando,
temporariamente, o Tejo para a safra do sável, lampreia e corvina, e,
ao mencionar, o porto de pesca da Vieira esclarece-nos que aí os
pescadores se dedicavam à pesca marítima costeira da sardinha,
empregando artes de arrastar para terra, começando os lances de
madrugada, repetindo-se até à noite, segundo a maior ou menor
frequência dos cardumes que transitavam pela costa, acrescentando
que os pescadores da Vieira, nas ocasiões de mau tempo,
costumavam ir deitar alguns lances no rio Liz, mas a pesca fluvial,
pela pouca importância que merecia, era exercida, principalmente,
pelos habitantes das margens, em geral, amadores (pg. 290).
De acordo com este testemunho, os avieiros do Tejo, apenas,
terão vindo pescar para este rio, por volta de 1900, possivelmente
quando diminuiu a frequência dos cardumes de sardinha que passavam
junto a Vieira, facto também confirmado por muitos dos nossos
informadores de Alhandra e Vila Franca de Xira, contrariando os que
defendem terem chegado os avieiros ao Tejo há mais de 200 anos.
A abundância de pesca no Tejo terá assim, há muito, atraído, de
Fevereiro até Junho, muitos pescadores do litoral, que passavam a
seguir os movimentos das espécies migratórias (sável, lampreia e
corvina), calculando sempre a duração da faina, de modo a que o
pescado chegasse de manhã aos cais do mercado e assim pudessem
fazer a sua venda a tempo de ser distribuído pelos vendedores
ambulantes para consumo desse dia.
Esses pescadores, hoje denominados avieiros, com o decorrer do
tempo, começaram, pouco a pouco, a desligar-se das suas terras de
origem e a fixar-se, temporariamente, em diferentes locais das
margens do Tejo, de acordo com as suas necessidades e os seus
interesses, habitando, numa primeira fase, nos barcos ou em
barracas de pano, armadas num abrigado recanto de uma margem,
formando, pouco a pouco, vários núcleos, que chegaram a estender-
se de Olivais a Abrantes: Olivais, Sacavém, Póvoa de Santa Iria,
Alhandra, Vila Franca (com vários), Porto Alto, Alcochete,
Carregado, Azambuja, Porto Reguengo, Salvaterra, Palafita,
Palhota, Escaropim, Vaiada, Muge, Sabugueiro, Caneiras (Benfica
do Ribatejo), Ribeira de Santarém, Santarém, Vale de Figueira,
Patacão de Baixo, Patacão de Cima, Chamusca, Barquinha e Abrantes
(7).
Muitos destes núcleos decresceram de importância ou
desapareceram face à diminuição progressiva das mais importantes
espécies do rio Tejo, especialmente, as migratórias (sável, corvina e
lampreia), devido:

—Ao emprego de aparelhos de pesca danosos e prejudiciais à


procriação e desenvolvimento das espécies (redes de arrastar e de
emalhar com malha inadequada, caneiros no meio do rio, tapa-
esteiros,...), sobrepesca, pesca clandestina e deficiente preparação e
imprevidência dos pescadores.
—Ao uso de matérias venenosas e explosivas (trovisco, cal,
dinamite, granadas de mão,...).
—À instalação de fábricas poluidoras nas margens do Tejo e seus
afluentes (de celulose, curtumes,...) que tornaram as águas impróprias
para a vida animal e vegetal pelas alterações que os seus resíduos
provocaram nas diferentes cadeias tróficas (9).
—As práticas agrícolas e silvícolas deficientes que, para além de
agravarem o processo de erosão, provocaram, através do acréscimo de
sedimentos, o desaparecimento dos nichos ecológicos e consequentes
locais próprios para a fixação, esconderijo e desova de muitas espécies.
—À utilização excessiva, na agro-pecuária, de herbicidas,
pesticidas e outros produtos venenosos que infestaram as águas e
dizimaram as espécies.
—À construção de barragens e outras obras de arte que originaram
profundas alterações no regime de correntes, oxigenação e
temperaturas das águas, na alimentação e circulação das espécies.
—Ao desenvolvimento explosivo e desordenado e, por vezes,
clandestino da urbanização sem o conveniente tratamento dos esgotos,
que puseram em perigo a vida dos recursos vivos aquáticos.
—À má gestão e administração dos recursos aquáticos do País, a
que não fugiu à regra parte da bacia hidrográfica do Tejo.
Para além do conjunto de disposições legais tomadas pelos
poderes públicos, desde a fundação da nacionalidade até ao presente
(9), e de alguns estudos realizados sobre aspectos da vida de alguns
núcleos dos avieiros do Tejo (19), onde se incluem os já atrás
referenciados, publicados no fim do século passado, o problema da
pesca desta classe sócio-profissional ligado ao ambiente, tecnologia e
qualidade de vida, não mereceu, até agora, em toda a sua extensão e
profundidade, uma observação, classificação e interpretação
sistemáticas. Seja uma análise capaz de compreender os padrões
interaccionais entre o ecossistema aquático e o sistema sócio-cultural e
as suas implicações na especialização profissional, nas variedades de
equipamentos e técnicas, nos processos de pesca, nos sistemas de
distribuição e de remuneração e na qualidade de vida dos avieiros
ligados à actividade piscatória.
Por estas razões, em virtude da informação disponível obtida, até
este momento, quer através da observação de pessoas quer através da
observação de documentos, ser manifestamente insuficiente para a
realização daquele tipo de análise, há que incentivar uma produção
científica que permita, em relação ao passado e ao presente:

—Conhecer, através de um minucioso inventário, os vários núcleos


piscatórios avieiros, ainda existentes e os que foram extintos, desde
Sacavém pelo menos até Abrantes, e o número de pessoas, por sexos e
idades, que ainda se dedicam, a tempo inteiro ou parcial, às artes de
pesca e aquelas que, embora resultado de movimentos migratórios de
pescadores (que devem ser identificados no tempo e no espaço) e
vivendo nos referidos núcleos, abandona¬am a actividade piscatória.
—Elaborar cartas de pesca ao longo do rio Tejo, que nos precisem
o contorno das suas margens, os esteiros, a orografia do seu leito, a
natureza dos seus fundos, as correntes, os locais mais piscosos e o
movimento das espécies e os seus itinerários sobre as épocas da desova,
para além de particularidades meteorológicas (ventos, temperaturas,
insolação, chuvas,...), isto é, o conjunto dos factores responsáveis pelos
padrões de interacção homem/rio, pelas migrações das espécies,
devendo ainda ser conhecidas as opiniões dos pescadores sobre o
ambiente físico e a etno-hidrografia do rio.
—Avaliar se, nas dezenas de núcleos piscatórios, por vezes
próximos, existem variantes sócio-económicas e tecnológicas que nos
possam mostrar realidades multifacetadas quanto a portos de abrigo, à
natureza e composição das companhas, à propriedade das artes e da
habitação e formas desta, aos tipos de embarcações e aparelhos, às
espécies capturadas, isto é, se em cada local o pescador teve ou não
necessidade de adaptar-se, culturalmente, ao ambiente, por forma a
dar uma resposta compatível com os problemas pelo mesmo levantados
e a poder satisfazer as suas necessidades de sobrevivência.
—Ter uma ideia precisa dos factores responsáveis pela diminuição
da variedade e riqueza das espécies no Tejo e, igualmente, da
percentagem de pescadores, alguns já atrás apontados, e aos quais
poderíamos acrescentar os pesados custos dos aparelhos que, devido às
exigências do meio aquático e à diversidade de espécies, não podem ser
únicos, exigindo a posse de um grande número, e ainda os muitos
perigos e trabalhos penosos que sofrem.
—Relacionar os tipos de pesca praticados (a pé e embarcada) com
as condições de tempo, época do ano, marés, espécies capturadas,
situação geográfica e os diversos tipos de aparelhos utilizados (de rede,
de linha e de cana) com as características do ambiente aquático,
conhecendo a evolução das tecnologias e, porventura, os conflitos
gerados entre as velhas e novas e a influência destas na exploração e
renovação das espécies e na alteração da estrutura sócio-económica
existente e, finalmente, quem manufactura os diferentes aparelhos, em
que material, seu custo médio e conservação.
—Conhecer os diferentes tipos e dimensões das embarcações
utilizadas pelos avieiros, de que modo estão adaptadas
tecnologicamente às águas do Tejo e a força motriz que utilizam, quem
as constrói e onde, de que material, como se conservam e seu preço
médio.
—Avaliar os problemas espaciais e temporais que se põem ao
pescado, face às condições naturais, as espécies migratórias e
sedentárias e tecnologia que dispõe, procurando saber qual a duração
da actividade piscatória, as artes que utiliza e as espécies que captura,
ao longo do dia e do ano.
—Determinar a exigência de mão-de-obra face às características
do meio aquático do Tejo e à tecnologia utilizada e o papel da mulher
na actividade piscatória, na companha e na família, como dona de casa
e como mãe.
—Relacionar a periodicidade dos recursos aquáticos, as formas de
organização social, a posse dos meios de produção e o sistema de
retribuição do pessoal empregado na actividade piscatória, descrevendo
as modalidades que, porventura, este sistema abranja, as suas variações
ao longo do ano e os seus reflexos no modo de vida dos pescadores
(habitação, alimentação, vestuário, ensino, pobreza e segurança social.
—Relacionar as diferentes formas de habitação utilizadas e a sua
natureza, com o ambiente aquático, migrações das espécies, a
tecnologia utilizada e os mercados abastecedores e venda do pescado e
as posses do pescador.
—Identificar os padrões alimentares em épocas de abundância e
de escassez edurante as estações do ano, relacionando-os com os
recursos aquáticos IS7 existentes e os padrões das populações
ribeirinhas com o desempenho de papéis diferentes dos do pescador,
conhecendo também quem prepara a alimentação, onde e como o faz, a
distribui e a que horas, incluindo, igualmente, as bebidas utilizadas
durante e fora das refeições e o significado da sua utilização.
—Tipificar os padrões relativos ao vestuário e compará-los com os
das populações rurais ribeirinhas, com as disponibilidades económicas,
períodos diurnos e sazonais da actividade, destacando o vestuário
utilizado durante a faina, por ambos os sexos, e fora dela, quer em dias
normais quer em dias especiais (baptizados, casamentos, festas,...),
quem e onde se confecciona e a que preços.
—Conhecer as diferentes instituições sociais em que o avieiro se
integra, desenvolve e relaciona ao longo do ciclo da vida, quais os
principais agentes responsáveis pela enculturação e socialização, a
constituição e estrutura da família, as funções desta, da escola e da
igreja naqueles processos e as condições ecológicas onde exerce a
actividade, realçando-se o analfabetismo generalizado e a sua relação
com a compreensão dos processos de mudança, a aceitação de novas
tecnologias e as novas maneiras de enfrentar e explorar os recursos
aquáticos e, ainda, as manifestações simbólicas relacionadas com o
modo de vida dos avieiros e os perigos que correm durante a faina.
—Avaliar as situações de dependência dos pescadores avieiros em
relação a comerciantes, agricultores, casas de penhor e outros, e as
formas de solidariedade social e inter-ajuda a nível dos poderes
públicos e da sociedade civil que, em momentos de carência, penúria e
doença, serviam de apoio aos ditos pescadores e suas famílias.
—Inventariar as espécies capturadas, o seu tratamento, formas de
distribuição e preços e descrever os processos utilizados com certas
espécies, destinados a manter na produção o nível dos ditos preços.

(Continua)
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Arquivo: Edição de 10-08-2005


Sociedade
Privados cedem terreno na expectativa do PDM permitir urbanização
de luxo na Póvoa de Santa Iria

Negócio imobiliário afasta


avieiros do rio
O bairro dos avieiros da Póvoa
de Santa Iria será afastado do
rio. Entre as casas dos
pecadores e o Tejo podem
aparecer habitações de luxo. O
protocolo que envolve a câmara,
a TDVia e um Fundo de
Investimento Imobiliário está a
gerar apreensão e polémica na
comunidade avieira

Os Avieiros da Póvoa de Santa Iria vão ser afastados da margem do


rio Tejo onde algumas famílias vivem há mais de 50 anos. No terreno
ribeirinho as casas e barracas devem dar lugar a habitações de luxo,
comércio e serviços. A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira
aprovou por unanimidade um protocolo a assinar com a construtora
TDVia, do grupo Teixeira Duarte, e um Fundo de Investimento
Imobiliário.

Segundo a presidente da câmara, o promotor antecipa a cedência do


terreno do actual parque de estacionamento junto do terminal
rodoviário para a autarquia construir 38 fogos em vivendas de dois
pisos. O terreno será área de cedência da futura urbanização
ribeirinha. O promotor fica dependente da revisão do Plano Director
Municipal (PDM) em curso para concretizar o loteamento. Se a
situação não for desbloqueada no prazo de três anos, a câmara terá
de pagar 1,3 milhões de euros (260 mil contos) pelo terreno cedido.

O actual PDM apenas permite para a zona ribeirinha da Póvoa de


Santa Iria, a construção de espaços industriais, serviços e armazéns.
Segundo a presidente da câmara, as condicionantes impostas pelos
vários instrumentos de gestão do território impediram o avanço do
bairro dos pescadores no local onde foi inicialmente projectado e com
ligação directa ao rio. Dada a urgência da situação, porque os avieiros
vivem com más condições de habitabilidade e debaixo de um risco
considerável, a câmara procurou alternativa. Maria da Luz Rosinha
entende que o espaço ribeirinho será valorizado se o novo PDM
permitir a construção de habitação de qualidade e espaços para
comércio e serviços. “No âmbito da requalificação das frentes de
água queremos avançar para outro tipo de construções que valorizem
as zonas ribeirinhas”, disse a autarca

Este processo vai ser debatido esta tarde (quarta-feira) na assembleia


municipal que se realiza na Póvoa de Santa Iria. A sessão deve ser
polémica, apesar da presidente garantir que o processo tem o acordo
de mais de uma centena de avieiros que participaram numa sessão
de esclarecimento.

Mais de uma dezena de moradores do bairro dos Pecadores foram à


última reunião de câmara acompanhados dos presidentes da junta e
da assembleia de freguesia, para dizerem que estão de acordo com a
mudança. Mas, a maioria dos moradores ficou no bairro e alguns
confessaram a O MIRANTE não aceitam a mudança. “Não sai daqui de
qualquer maneira”, refere Rosa Lobo.

“Quem não quiser

não terá casa no bairro”

Maria da Luz Rosinha diz que quem não aceitar as regras terá de
procurar alojamento noutro local “Não há alternativa. Quem não
quiser não terá casa no bairro”, refere.

Rosa Lobo habita uma das primeiras casas de alvenaria do bairro.


Tem habitação própria e não está disposta a pagar uma renda pela
nova casa. A mulher preferia “amanhar” a sua casa e continuar onde
está. Lamenta estar impedida de fazer obras na sua habitação há
mais de 15 anos. Os sinais de degradação acentuam-se. “Se houver
um Inverno mau, isto inunda tudo e vai tudo à vida”, explica. O
marido António Lobo refere que o risco de cheia está agravado pelos
aterros que fizeram no antigo campo da bola e nos terrenos em redor
do bairro. “Estamos aqui enterrados”, frisa.

“Estamos deitados aos bichos”, acrescenta Emília Pedrosa que aponta


para os esgotos que correm a céu aberto para o rio. A uns escassos
metros do local onde um grupo de crianças se delicia a chapinhar na
água poluída e com mau cheiro. “Já estão habituados”, diz a mulher
que também cresceu à beira do rio.

Daniel Letra, porta-voz da comunidade, explica a O MIRANTE que a


câmara fez várias dragagens naquele local onde os esgotos correm
para o rio. ”Mas o trabalho não foi bem feito”, diz. As cargas de vários
batelões foram colocadas mais à frente. Não afastou o mau cheiro e
ajudou a assorear ainda mais o rio. “Há sítios onde os barcos não
passam”, explica a mulher de um pescador.

Os avieiros não estão apenas preocupados com o realojamento e


manifestam-se apreensivos quanto ao ordenamento do espaço
ribeirinho. Os pescadores ganham a vida no mar e no rio. Exigem
condições para ancorar os barcos e para guardar os artefactos que
utilizam na faina. “Não nos preocupamos só com a casa para viver,
teremos que nos preocupar com o nosso pão”, explicam.

A presidente da câmara, Maria da Luz Rosinha garantiu a O MIRANTE


que as preocupações dos pescadores estão acauteladas. A edil
assegura que haverá um cais onde os barcos serão colocados em
segurança e serão construídas casas de madeira para os pescadores
guardarem os seus artefactos.

O Mirante

Nelson Silva Lopes

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