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UUNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL

ULBRA – CAMPUS TORRES


CURSO DE PSICOLOGIA

ALICE MORAES
NATHÁLIA ROCHA

PSICOTERAPIA INFANTIL

TORRES
2019
INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como foco principal analisar e associar o filme “Onde
vivem os monstros” com o conteúdo visto em aula durante o semestre, o filme
escolhido é uma adaptação do livro de Maurice Sendak publicado em 1963,
adaptado pra o cinema e lançado no ano de 2009 por Spinke Jonze. Uma obra de
arte vista pelos olhos da psicologia, dota-se de características que permitem à
criança não apenas receber sentido, mas também constituí-lo desde suas próprias
experiências.
O filme apresenta o desenvolvimento de um menino que se chama Max de
aproximadamente dez anos. Max vive com sua mãe e sua irmã, sua irmã está na
fase da adolescência e sua mãe vive muito ocupada com o trabalho, Max ama
brincar, e apresenta dificuldade ao lidar com “Não” e regras. Após um
desentendimento com a mãe em questão de ciúmes do namorado da mãe e ao
medo de perde-la, Max mostra um comportamento muito agressivo e desorientado
com isso resolve fugir de casa, fugindo do caos que se encontrava, quando então
entra em conflito sua fantasia e a realidade, sua criatividade ganha forma, cores e
imagens e a aventura começa em uma ilha encontrada por Max com animais
“monstros” inimagináveis.
O desfecho do filme é fantástico, Spike afirma que não é um filme infantil, e
sim um filme sobre a infância, no ano de seu lançamento, o longa arrecadou US$ 32
milhões de dólares em seu primeiro final de semana em cartaz. Cativou o público em
outubro de 2009 e se manteve na liderança durante o mês.
A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, revisando algumas teorias
de Melanie Klei, o complexo de Édipo de Freud, Maria da Graça Kern Castro.
HISTÓRIA DO FILME

Onde Vivem os Monstros é baseado no livro infantil de Maurice Sendak


publicado em 1963 e conta a história de Max. O protagonista – Max – é um garoto
com aproximadamente 10 anos de idade em plena crise, vive com a mãe e a irmã, a
mãe se ocupa com o trabalho e a irmã adolescente não tem paciência.
Max ama brincar, tem uma imaginação fantasiosa e muito fértil. Tem
dificuldade para lidar com o “Não”, e se torna impulsivo, agressivo e inconsequente
quando contrariado.
Max e a irmã ficam em casa durante o dia enquanto a mãe está no trabalho,
em uma tarde ele constrói um iglu com a neve que estava acumulada na calçada,
vai entusiasmado contar para a irmã, Claire, que está ocupada com seus amigos e
suas tramas da adolescência, não se importa com o feito do irmão, nessa mesma
tarde os amigos da irmã chegam à casa, Max inicia uma brincadeira jogando bolas
de neve nos amigos da irmã, eles revidam, parecia que a brincadeira estava
saudável, até um dos garotos destruir o iglu construído por Max, revoltado ele chora,
vai até o quarto da irmã e destrói um presente que havia confeccionado pra ela.
Chateado vai para seu quarto e espera pela chegada da mãe. Max se sente muito
só, sem ter amigos e com quem brincar vê na mãe uma figura de referência e
deposita toda confiança nela.
O namorado da mãe vai até a casa para um jantar e Max se sente ameaçado,
com medo de perder sua mãe ele começa a agir impulsivamente e de maneira
infantil, sobe na mesa lhe dando ordens, "alimenta-me, mulher", "vou devorar você".
Em seguida, morde a mãe e a crise se agrava, motivado por um castigo que
considera injusto, ele decide sair de casa correndo, sozinho. A partir desse momento
os limites entre realidade e fantasia passam a se embaralhar. É quando a
criatividade da criança ganha forma e imagem.
Max chega até um lago na floresta e encontra um barco, inicia então uma
aventura, após alguns dias navegando, encontra uma ilha habitada por animais
inimagináveis, sete monstros enormes: Carol, Douglas, Judite, Ira, Alexander, Touro
e KW.
No primeiro momento Max encontra Carol, derrubando o que está ao seu
redor. A cena é assustadora, e os monstros parecem perigosos. Carol, o monstro
que está destruindo tudo, parece estar frustrado e com raiva. Max junta-se à farra
destrutiva, mas logo é parado pelos outros monstros, que querem saber quem é
esse ser tão pequeno que está destruindo as coisas que são as casas dos monstros.
Assustado com a possibilidade de ser devorado pelos monstros, Max diz que é um
rei, com inúmeros poderes, que explode o cérebro dos inimigos. É importante frisar
que cada um dos monstros tinham características muito humanas, e cada uma muito
próxima com a realidade de Max. Todos os monstros aceitam a autoridade de Max,
e os primeiros momentos de governo são cheios de muita diversão. Ele está feliz em
meio aquele grupo.
Max promete erguer um forte onde acontecerá tudo o que se deseja, tendo os
inimigos suas cabeças explodidas automaticamente se entrarem no local. Mas Max
não tem poderes mágicos: a roupa de lobo vai ficando cada vez mais desgastada,
Max perde a coroa e, então, as criaturas percebem que ele não é um rei. Carol, o
monstro que personaliza a voracidade de Max, ao saber que Max não é um rei, mas
apenas um menino, reage com fúria e corre atrás de Max, ameaçando comê-lo.
Max foge pela mata e encontra KW onde o esconde em seu ventre, esse é o
momento em que mais chama atenção durante o filme, pois simboliza o
renascimento, o amadurecimento de Max, percebendo as consequências de suas
ações e na manhã seguinte, ele decide que é hora de voltar para casa, se desculpa
com os monstros e conta a verdade, inclusive para Carol. Ao retornar para casa ele
percebe que nada mudou ao ser recebido calorosamente e cheio de amor por sua
mãe.
RELAÇÃO FILME COM A TEORIA

O filme é rico e podemos perceber que a todo o momento encontramos


relação com a teoria estuda em aula.
Tentaremos aqui seguir uma ordem conforme as cenas do filme.

Primeiro momento em que Max se sente ameaçado com a presença do


namorado da mãe, de maneira bastante simplificada, o complexo de Édipo refere-se
ao estágio do desenvolvimento em que a criança tem impulsos sexuais direcionados
ao genitor do sexo oposto e deseja eliminar aquele do mesmo sexo¹. Para Melanie
Klein, esse sentimento é inerente à situação edipiana². Em "Onde vivem os
monstros" não é só à mãe que está dirigido o ciúme de Max. Como Max é o único
homem da casa ele sente ciúmes também da irmã. A mãe e a irmã representam
esse objeto de amor perdido, pois agora dedicam seu tempo e atenção aos "rivais"
de Max. Os impulsos agressivos mais primitivos estão evidentes em Max, que,
tomado pela raiva de estar perdendo a mãe, ordena, como um bebê faminto, que ela
o alimente. A fome simbólica de Max lembra que na relação fundamental, o bebê
não apenas recebe a gratificação desejada, mas também sente que está sendo
mantido vivo. Pois a fome, que suscita o medo de morrer de inanição, e
possivelmente suscita até mesmo toda a dor psíquica e física, é sentida como
ameaça de morte³ (Klein p. 348-349)
Após a briga, Max morde a mãe, segundo Melanie Klein (p. 201), a mordia é
um meio de lutar contra o inimigo, não possuindo nenhuma outra defesa a criança
usa os dentes de forma primitiva4.
Após fugir de casa Max da inicio a uma jornada imaginária, indo para uma ilha
que se torna rei dos monstros que habitam aquele lugar, a imaginação faz parte do
brincar da criança, explorar o espaço entre fantasia e realidade; experimentação
social e cognitiva; imaginação da vida futura brincar de assumir papéis e tarefas que
elas observam em seus pais e outras pessoas.
Essa capacidade da criança de brincar e criar gera mais tarde, na
adolescência e na vida adulta, a capacidade de pensar, de ser autônoma, de tolerar
frustrações, etc 5 (Maria da Graça Kern Castro, Anie Stürmer & cols.p.60).
Ao chegar à ilha Max encontra com os monstros, Carol, impetuoso, intenso,
dramático; não por ser mau, mas por estar perdido e se sentir abandonado.
Douglas (a ave) era o grande amigo de Carol, e mesmo quando é agredido e
perde uma asa, continua fiel à sua amizade. Alexander (o bode) é carente, inseguro,
e se sente negligenciado, incompreendido. Judite é muito agressiva, inconsequente,
fala o que vem à sua cabeça. Ira é amável e companheiro, sempre está ao lado de
Judite. Touro era sempre calado, e nunca fala nada, mas no final do filme,
demonstra ser melancólico e amigável. KW, dócil, gentil, maternal, e sempre evita
discutir. Max quando chega à ilha, vê Carol destruindo as coisas e o ajuda, porém
quando interrompido pelos demais monstros, com medo de ser devorado ele afirma
ser um poderoso rei, então todos se alegram e aceitam a autoridade do rei, Max fica
aliviado por não ser devorado pelos monstros e inicia uma jornada sua primeira
ordem é a selvageria a liberdade “que a selvageria comece!”. Sensação temporária
de segurança que se obtém ao receber gratificação aumenta em muito a gratificação
em si; desse modo, a sensação de segurança se torna um componente importante
da satisfação obtida quando se recebe amor. Isso se aplica tanto ao bebê quanto ao
adulto, tanto às formas simples de amor quanto às suas manifestações mais
elaboradas³ (Klein p.348).
Com o passar do tempo Max fica cada vez mais íntimo do grupo e começa a
perceber os problemas que surgem ali, e que a maioria é causada por Carol. Ele se
projeta em Carol e consegue ver nele características particulares suas.
Max como rei ordena que seus novos amigos construam um forte para que os
inimigos não entrem, desse modo os monstros constroem o forte, porém a paz dura
pouco, durante uma confusão a face do garoto é desmascarada, Carol ao perceber
que ele não é rei, e que não tem poderes sobrenaturais, Carol começa a perseguir o
garoto pela floresta cheio de fúria, Max encontra KW que o esconde em seu ventre,
e então Max consegue refletir o e até conforta KW dizendo que Carol ama a família.
KW tira-o de dentro de seu ventre, momento esse que é de grande
significado, pois simboliza o amadurecimento de Max, agora mais consciente de
suas escolhas e consequências, Max resolve retornar pra casa, se despedindo de
cada monstro, inclusive de Carol. Ao chegar em casa pode perceber que mesmo
exausta sua mãe aguardava seu retorno.
Conforme Melanie Klein, a essa fase depressiva se torna o desenvolvimento
do bebê.
Quando o bebê alcança a posição depressiva e torna-se mais
capaz de enfrentar sua realidade psíquica, sente também que a
maldade do objeto é devida em grande parte à sua própria
agressividade e à projeção decorrente. Esse insight dá origem a uma
grande dor psíquica e culpa quando a posição depressiva está em
seu ápice. Entretanto, o insight também acarreta sensações de alívio
e esperança, que baseia-se no crescente conhecimento de que o
objeto interno e externo não é tão mau quanto parecia ser em seus
aspectos excindidos. Através da mitigação do ódio pelo amor, o
objeto melhora na mente do bebê. Não é mais tão intensamente
sentido como tendo sido destruído no passado, e diminui o perigo de
que seja destruído no futuro; não havendo sido danificado, é também
sentido como menos vulnerável no presente e no futuro (p. 228)².

A percepção da própria vulnerabilidade e impotência também são


características da posição depressiva, Max já não se encaixa mais com a roupa de
lobo e nem a coroa, é como se ele compreendesse que suas atitudes anteriores não
eram adequadas, na medida em que aumenta sua adaptação à realidade externa,
Max adquire uma imagem menos fantasiosa do mundo ao seu redor.
A medida eu a criança cresce, um das suas mais importantes tarefas é
superar o desapontamento com os pais e gradualmente passar a obter satisfação a
partir de outras fontes.
A capacidade de desenvolver fantasias conscientes torna suportáveis as
frustrações experimentadas na realidade. Na infância, a frustração, decepção e
desespero podem ser enormes em determinados momentos, e as explosões de fúria
(como a de Max, mordendo a mãe) podem ser a expressão da convicção de que não
há nada que possa ser feito.
REFERENCIAS

1. FREUD S. A Dissolução do Complexo de Édipo. Obras


Psicológicas Completas de Sigmund Freud - Edição Standard. XIX (1924).
Rio De Janeiro: Imago; 1996.

2. KLEIN M. Inveja e Gratidão. Obras Completas de Melanie


Klein. III Inveja e gratidão e outros trabalhos (1957). Rio de Janeiro: Imago;
1991..

3. KLEIN M. Amor, Culpa e Reparação. Obras Completas de


Melanie Klein. I Amor, culpa e reparação e outros trabalhos (1937). Rio de
Janeiro: Imago; 1996.

4. KLEIN M. Tendências Criminosas em Crianças Normais.


Obras Completas de Melanie Klein. I Amor, culpa e reparação e outros
trabalhos (1927). Rio de Janeiro: Imago; 1996.

5. CASTRO M. G. K. et al. Crianças e adolescentes em


psicoterapia: a abordagem psicanalítica. Porto Alegre : Artmed, 2009.

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