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EXCELENTÍSSIMO(A) JUIZ(A) FEDERAL(A) DO JUIZADO ESPECIAL

FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE APARECIDA DE GOIÂNIA –


ESTADO DE GOIÁS

FULANA DE TAL, convivente em união estável, empregada


doméstica, inscrita no CPF sob n.º 000.000.000-00, NIT n° 0000000000, filha de Maria
Rodrigues Bezerra, residente na Rua 000000, CEP 000000, na cidade de Aparecida de
Goiânia, no Estado de Goiás, vem, por intermédio de seus advogados infra-assinados,
mandato incluso, inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional de Goiás, sob
o n.º 32.069 e n.º 24.624, com endereço profissional na Av. Fued José Sebba, n.º 1.184,
Jardim Goiás, Campus V da PUC – GO, à presença de Vossa Excelência para, com
fulcro no artigo 319 e seguintes do Código de Processo Civil Brasileiro, bem como na
Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1.991, propor

AÇÃO DE CONHECIMENTO COM PEDIDO


DECLARATÓRIO DE RECONHECIMENTO DE RELAÇÃO JURÍDICA
SECURITÁRIA E DE TEMPO DE SERVIÇO

em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO


SOCIAL – INSS, autarquia federal criada pela Lei nº 8.029, artigo 14, de 12 de abril de
1.990, e pelo Decreto nº 99.350, de 27 de junho de 1.990, com sede na Capital Federal e
representação judicial na Rua Uberaba esq. com Av. Uru, quadra 115, lote 3/4, Setor
dos Afonsos, na cidade de Aparecida de Goiânia, no estado de Goiás, CEP: 74.915-283,
pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir elencados:

I – FATOS

A Requerente trabalhou como empregada doméstica, com carteira assinada,


no período compreendido entre a data de 04.05.2002 a 21.06.2011.
No dia 21.01.2011, requereu junto ao INSS, Salário Maternidade, ocasião
em que a concessão do referido benefício foi negada, pois as parcelas de contribuição
não haviam sido recolhidas em sua totalidade.
Dessa feita, constatou-se que o empregador, referente ao contrato de
trabalho em questão, recolheu somente as parcelas referentes ao período de 01.05.2002
a 31.08.2002, deixando de recolher, negligentemente, as parcelas do período restante.
Assim sendo, noutra ocasião, a Requerente requereu à autarquia federal que
fosse averbado ao seu CNIS a informação de que não houve recolhimento das parcelas
do INSS, por parte do empregador, durante o período em que trabalhou.
Inobstante a isso, o INSS rejeitou o pedido por ela formulado, sob a
justificativa de que havia a existência de reclamatória trabalhista, ajuizada pela
Requerente, ainda pendente de julgamento na Justiça do.
Por fim, tendo em vista que a requerente não obteve, pela via administrativa,
reconhecimento formal do período por ela laborado como empregada doméstica
(04.05.2002 a 21.06.2011), vem, então, sob a jurisdição do Poder Judiciário, ter
declarado a existência de vínculo empregatício durante o período mencionado.

II – FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Inicialmente, impende-se que a ação declaratória é o meio adequado para o


reconhecimento da relação de fato que objetive estabelecer vínculo jurídico entre a
Requerente e o INSS.
De acordo com o art. 11 da Lei 8.213/91, é segurado obrigatório empregado
doméstico aquele que presta serviço de natureza contínua a pessoa ou família, no âmbito
residencial desta, em atividades sem fins lucrativos.
Na hipótese desta exordial, a Requerente pretende ter reconhecido e
declarado seu vínculo com a previdência, na condição de segurada obrigatória
empregada doméstica, durante o período em que trabalhou como empregada doméstica.
Em que pese o empregador não ter recolhido as parcelas de contribuição
previdenciária em sua totalidade, a relação empregatícia da Requerente de fato existiu
no período compreendido entre a data de 04.05.2002 a 21.06.2011, conforme se pode
averiguar em sua CTPS (doc _ ).
Ademais, em julgado do e. Tribunal Regional Federal da 1ª Região, é
possível verificar a possibilidade de reconhecimento de vínculo securitário de
empregada doméstica:
PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL.
RECONHECIMENTO DE TEMPO DE SERVIÇO
DOMESTÍCO. INÍCIO DE PROVA MATERIAL.
JUSTIFICAÇÃO JUDICIAL. DOCUMENTOS JUNTADOS
COM A APELAÇÃO. POSSIBILIDADE NO CASO
CONCRETO. PREVALÊNCIA DA VERDADE REAL DOS
FATOS SOBRE A VERDADE MERAMENTE FORMAL. 1.
Não merece prosperar o pedido de desentranhamento dos
documentos juntados pelo apelante com as razões recursais, pois
não se mostra razoável retirar dos autos a verdade real dos fatos,
para deixar prevalecer a verdade meramente formal. 2. Não há
que se falar em violação ao art. 515, CPC/73 ou
1013/CPC/2015, tampouco dos arts. 396 e seguintes, CPC/73 ou
art. 434 e seguintes, CPC/2015, porquanto o INSS teve
conhecimento e oportunidade de se manifestar nos autos após a
juntada dos documentos pelo apelante, embora fora do tempo
processualmente adequado. 3. Ao contrário do que entendeu o
nobre magistrado prolator da sentença, há nos autos início
razoável de prova material da alegada prestação dos serviços
domésticos no período mencionado na inicial. E, a prova
testemunhal produzida em duas oportunidades (na justificação e
nestes autos) apresenta-se firme e coerente, não deixando dúvida
sobre os fatos que se busca comprovar. 4. É válida a declaração
feita por ex-empregador, ainda que não contemporânea ao
período a ser reconhecido, para a averbação de tempo de serviço
em atividadeexercida por empregada domestica, uma vez que
não existia previsão legal que obrigasse o empregador o
preenchimento do registro em carteira de trabalho, o qual passou
a ser obrigatório somente a partir da publicação do Decreto n.
71.885/73, que regulamentou a Lei n. 5.859/72. 5. Nestes
termos, merece reforma a sentença recorrida para julgar
procedente o pedido e determinar ao INSS que reconheça e
averbe o tempo de serviço prestado pelo apelante no período
de 01/01/1967 a 31/12/174 para o fim de concessão de futura
aposentadoria. 6. Invertendo os ônus da sucumbência, condeno
nos honorários advocatícios arbitrados em 10% (dez por cento)
sobre o valor atribuído à causa. 7. Apelação da parte autora
provida. (TRF-1 - AC: 00004755420074013812 0000475-
54.2007.4.01.3812, Relator: JUIZ FEDERAL MURILO
FERNANDES DE ALMEIDA, Data de Julgamento:
18/07/2016, 1ª TURMA SUPLEMENTAR, Data de Publicação:
30/08/2016 e-DJF1).

Também é sabido que a atual jurisprudência do Supremo Tribunal


Federal considera que as contribuições previdenciárias possuem o caráter de tributo,
sendo que estas submetem-se ao regime do auto lançamento, ou seja, depende da
declaração e recolhimento do contribuinte, como prelecionam os seguintes dispositivos
da legislação pertinente, in verbis:

Art. 30. A arrecadação e o recolhimento das contribuições ou de


outras importâncias devidas à Seguridade Social obedecem às
seguintes normas:
I - a empresa é obrigada a:[...]
c) Arrecadar as contribuições dos segurados empregados e
trabalhadores avulsos a seu serviço, descontando-as da
respectiva remuneração;
d) Recolher os valores arrecadados na forma da alínea a deste
inciso, a contribuição a que se refere o inciso IV do art. 22 desta
Lei, assim como as contribuições a seu cargo incidentes sobre as
remunerações pagas, devidas ou creditadas, a qualquer título,
aos segurados empregados, trabalhadores avulsos e contribuintes
individuais a seu serviço até o dia 20 (vinte) do mês subsequente
ao da competência;

Em contrapartida foi dado ao INSS o dever de normatizar, fiscalizar,


arrecadar e lançar e o recolhimento das contribuições previdenciárias, incidentes sobre
seu salário de contribuição dos trabalhadores, nos termos do art. 33, daquela mesma Lei,
senão vejamos:

Art. 33. À Secretaria da Receita Federal do Brasil compete


planejar, executar, acompanhar e avaliar as atividades relativas à
tributação, à fiscalização, à arrecadação, à cobrança e ao
recolhimento das contribuições sociais previstas no parágrafo
único do art. 11 desta Lei, das contribuições incidentes a título
de substituição e das devidas a outras entidades e fundos.
§ 1º É prerrogativa da Secretaria da Receita Federal do Brasil,
por intermédio dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do
Brasil, o exame da contabilidade das empresas, ficando
obrigados a prestar todos os esclarecimentos e informações
solicitados o segurado e os terceiros responsáveis pelo
recolhimento das contribuições previdenciárias e das
contribuições devidas a outras entidades e fundos.
§ 5º O desconto de contribuição e de consignação legalmente
autorizadas sempre se presume feito oportuna e regularmente
pela empresa a isso obrigada, não lhe sendo lícito alegar
omissão para se eximir do recolhimento, ficando diretamente
responsável pela importância que deixou de receber ou
arrecadou em desacordo com o disposto nesta Lei.

Ainda neste sentido, prevalece o entendimento de que quando se trata


de segurado empregado, a obrigação pelo recolhimento das contribuições é do
empregador, a teor do que dispõem a Lei 3.087/60 (art. 79, I) e a vigente Lei 8.212/91
(art. 30, I, "a"), jamais podendo imputá-la ao empregado.
Porém, ainda que no caso em comento tenha faltado o efetivo
recolhimento por parte do empregador, e ainda pela inércia por parte do INSS
concomitantemente, o qual falhou em seu dever de fiscalizar, a Requerente, não pode ter
o seu imediato direito prejudicado ao requerer o benefício junto a autarquia por clara
violação de seus direitos.
Cumpre salientar que a Requerente tentou averbar o tempo trabalhado
(e não recolhido) em seu CNIS, porém foi negado pelo INSS, sob alegação de que o
processo trabalhista ainda estava em curso. Ora, no mínimo uma fundamentação
desarrazoada, já que o processo foi transitado em julgado, não podendo ser prejudicado
o direito da concessão do benefício da Requerente. Portanto, faz-se necessário que este
prejuízo seja sanado, pelos meios aqui apresentados de prova da qualidade de segurado
perante o INSS.
Ora, tratando-se de prova material do tempo de contribuição a
legislação previdenciária é extremamente ampla, vale mencionar, a Instrução Normativa
do INSS de nº 45/2010, que dispõe em seu artigo 80, um rol meramente exemplificativo
de documentos que podem vir a servir de prova do tempo da atividade de empregado,
quais sejam:

Art. 80. Observado o disposto no art. 47, a comprovação do


exercício da atividade do segurado empregado urbano ou rural,
far-se-á por um dos seguintes documentos:
I – CP ou CTPS;
II - declaração fornecida pela empresa, devidamente assinada e
identificada por seu responsável, acompanhada do original ou
cópia autenticada da Ficha de Registro de Empregados ou do
Livro de Registro de Empregados, onde conste o referido
registro do trabalhador;
III - contrato individual de trabalho;
IV - acordo coletivo de trabalho, desde que caracterize o
trabalhador como signatário e comprove seu registro na
respectiva Delegacia Regional do Trabalho - DRT;
V - termo de rescisão contratual ou comprovante de recebimento
do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço - FGTS;
VI - recibos de pagamento contemporâneos ao fato alegado,
com a necessária identificação do empregador e do empregado;
ou
VII - cópia autenticada do cartão, livro ou folha de ponto ou
ainda outros documentos que poderão vir a comprovar o
exercício de atividade junto à empresa.
Os documentos comprobatórios estão devidamente juntados neste
processo, vejamos o entendimento dos tribunais:

PREVIDENCIÁRIO. AÇÃO DECLARATÓRIA.


AVERBAÇÃO DE TEMPO DE SERVIÇO. PROVA
MATERIAL CORROBORADA POR PROVA
TESTEMUNHAL. 1. Comprovada a existência de vínculo
empregatício no período de 01/5/1954 e 30/1/1964
vindicado por início de prova material devidamente
corroborada pela prova testemunhal, deve ser reconhecido
o tempo de serviço, com a consequente averbação. 2.
Apelação do INSS desprovida. (TRF-1 - AC:
44254020034013803, Relator: JUIZ FEDERAL CARLOS
AUGUSTO PIRES BRANDÃO (CONV.), Data de
Julgamento: 20/08/2014, PRIMEIRA TURMA, Data de
Publicação: 17/09/2014)

Destarte, a Requerente não pode ter seu direito frustrado por esta
autarquia, por omissão do empregador em declarar o vínculo trabalhista, através do
devido recolhimento dos tributos revertidos a previdência, não podendo, portanto, a
Requerente ser prejudicada pelo erro de seu empregador ou da autarquia que falhou com
o seu dever legal de fiscalizar.
Desta forma podemos concluir que mesmo ausentes às indicações dos
recolhimentos cadastrados no CNIS, resta provada a relação de trabalho e a qualidade
de segurada, fazendo jus ao recebimento de seu benefício, devendo ser concedido pela
autarquia competente, INSS, como medida de justiça.

Assim, diante das considerações esposadas, há de ser reconhecido, para fins


previdenciários, como efetivo tempo de serviço, o período laborado pela Requerente na
qualidade de empregada doméstica.

IV - PEDIDO

Diante do exposto, requer seja o pedido julgado procedente para declarar a


condição de segurada obrigatória empregada doméstica da Requerente, no período
compreendido entre a data de 04.05.2002 a 21.06.2011, a fim de que seja averbado o
tempo de serviço no seu CNIS, para todos os efeitos previdenciários.
Requer provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos,
especialmente por meio de testemunhas e juntada de novos documentos.
Em observância ao art. 334, § 4º, inciso I, incabível composição consensual
na espécie.
Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais) para efeitos ficais.

Termos em que,
pede e espera deferimento.

Aparecida de Goiânia, 09 de março de 2017.

Christian Abrão de Oliveira Kátia Costa Gomes


OAB/GO nº 32.069 OAB/GO nº 24.624

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