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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) ELEITORAL DA 89ª ZONA

ELEITORAL - PIMENTEIRAS-PI

Processo nº 1-14.2017.6.18.0055
Impugnante: GEAM LUCAS DA SILVA MOURA
Impugnados: ADJACIR RODRIGUES NORONHA E OUTROS

GEAM LUCAS DA SILVA MOURA, já devidamente qualificado nos autos


especificados em epígrafe, por conduto dos advogados ao final subscritos, com fundamento no
art. 20º da Resolução nº 23.547/2017 do TSE, vêm à respeitosa presença de Vossa Excelência
oferecer as inclusas CONTRARRAZÕES ao Recurso Eleitoral inominado interposto por
ADJACIR RODRIGUES NORONHA, AMYSTHANIO RODRIGUES ALVES,
ALCIONE PACHECO DA SILVA, CLEMILTON DE SOUSA DIAS, CONCEIÇÃO DE
MARIA MARTINS, IVONEIDE OLIVEIRA DA SILVA, JANDER MARTINS
NOGUEIRA, MÁRCIO LIMA VIEIRA E PEDRINA TEIXEIRA BARBOSA, contra
sentença que JULGOU procedente a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo-AIME, ajuizada
em face dos Impugnados.

Requer-se, nesta senda, que as alegações anexas sejam juntadas ao processo e,


após as formalidades processuais, encaminhadas ao egrégio Tribunal Regional Eleitoral do
Estado do Piauí, para apreciação.

Termos em que pede deferimento.

Valença do Piauí-PI, 26 de setembro de 2019.

Maria Wilane e Silva


Advogada-OAB/PI 9.479
DAS CONTRARRAZÕES RECURSAIS

Processo nº 1-14.2017.6.18.0055
Recorrentes: ADJACIR RODRIGUES NORONHA, AMYSTHANIO RODRIGUES ALVES, ALCIONE
PACHECO DA SILVA, CLEMILTON DE SOUSA DIAS, CONCEIÇÃO DE MARIA MARTINS, IVONEIDE
OLIVEIRA DA SILVA, JANDER MARTINS NOGUEIRA, MÁRCIO LIMA VIEIRA E PEDRINA TEIXEIRA
BARBOSA
Recorrido: GEAM LUCAS DA SILVA MOURA

Egrégio Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Piauí,


Nobres Julgadores,
Ínclito Relator,
Douto Procurador Regional Eleitoral,

1 – DOS FATOS
Versam os autos sobre Ação de Impugnação de Mandato Eletivo -AIME,
ajuizada em face dos Recorrentes, concorrentes ao pleito eleitoral pela Coligação “Pimenteiras:
Nossa Terra Nossa Gente” por suposta prática de fraude eleitoral consistente no lançamento de
candidaturas femininas fictícias, apresentadas com o único intuito de dar a aparência do
cumprimento da regra insculpida no art. 10, § 3º da Lei nº 9.504/97.
Com efeito, dos 10 (dez) requerimentos de registro de candidaturas ao cargo de
vereadores formulados pelos Recorrentes, 03 (três) requerimentos de candidaturas do sexo
feminino foram feitas simplesmente objetivando preencher a cota de 30% (trinta por cento)
prevista na legislação eleitoral de vigência, eis que referidas candidatas não realizaram atos de
campanha, sendo que uma delas não obteve qualquer voto e as duas outras obtiveram votação
inexpressiva.

Em sede de contestação os Recorrentes alegaram, preliminarmente, decadência,


inépcia da inicial, ilegitimidade passiva dos candidatos não diplomados e inadequação da via
eleita. No mérito, aduziram, em síntese, a inexistência de fraude, tendo em vista que a vontade
de cada um dos candidatos fora respeitada de forma livre e consciente, bem ainda, que a
quantidade inexpressiva de votos não serve como fator determinante para a configuração de
fraude na cota de gênero.

Encerrada a instrução processual, a MMª. Juíza da 89ª Zona Eleitoral, em bem


fundamentada sentença, julgou PROCEDENTES todos os pedidos formulados na exordial,
refutando todas as preliminares e as alegações de mérito dos Recorrentes/impugnantes,
declarando desconstituídos os mandatos dos candidatos do sexo masculino integrantes do polo
passivo da ação e cassando, via de consequência, os diplomas e respectivos mandatos de todos
os integrantes da coligação “Pimenteiras: Nossa Terra, Nossa Gente”. Além disso, declarou
inelegíveis para as eleições que se realizarem nos 08 (oito) anos subsequentes todos os
candidatos listados no polo passivo da demanda em deslinde.

Em síntese, entendeu a douta Magistrada que o conjunto de fatos trazidos aos


autos demonstraram que o real motivo que ensejou as 03 (três) mulheres que participaram
daquele pleito eleitoral, pela coligação Pimenteiras: Nossa Terra, Nossa Gente”, a lançarem
suas candidaturas foi apenas para manter o preenchimento do percentual mínimo destinado à
cota de gênero, o que leva, também, ao reconhecimento da prática de fraude alegada na inicial.

Da referida sentença os Impugnantes/Recorrentes opuseram embargos de


declaração, alegando, em síntese, que houve omissão da sentença no que concerne a algumas
matérias de defesa apontadas na contestação, mormente a impossibilidade de reconhecimento
de fraude em observância dos princípios constitucionais da razoabilidade, proporcionalidade,
voto secreto, boa-fé, soberania popular, bem como o pela ausência da potencialidade lesiva.

Instado a se manifestar, o Ministério Público Eleitoral, manifestou-se pelo


conhecimento dos embargos opostos, mas pelo não acolhimento dos mesmos, considerando que
a sentença objurgada não tem qualquer omissão.

Ato contínuo, a MM. Juíza a quo, proferiu julgamento no qual conheceu dos
embargos de declaração, mas negou-lhe provimento, tendo em vista inexistir omissão,
obscuridade, contradição ou erro material na decisão embargada. Além disso, condenou os
Embargantes/Recorrentes ao pagamento da multa prevista no art. 275, § 6º, do Código Eleitoral.

Por fim, irresignados com a sentença, os Recorrentes interpuseram recursos


ordinários, repousante às fls. 1.196/1.259 e fls. 1.261/1.299 dos autos, pleiteando no referido
apelo a reforma total da sentença de primeiro grau, diante da inexistência de comprovação de
fraude eleitoral, bem como pela ausência de potencialidade lesiva da conduta das candidatas
que obtiveram baixa votação no pleito eleitoral. Ademais, pugnaram pela exclusão da
condenação de inelegibilidade, em face da inadequação da referida sanção em sede de AIME.

Todavia, em suas razões recursais, osRecorrentes apenas reiteram os argumentos


já lançados na inicial, não trazendo quaisquer elementos novos capazes de demonstrar que as
afirmações apontadas como sabidamente inverídicas tenham atingido a sua honra, atraindo,
portanto, o direito de resposta.

2 – DO MÉRITO
2.1 - DAS RAZÕES PARA MANUTENÇÃO DA SENTENÇA RECORRIDA

Aduzem os Recorrentes que a sentença vergastada não condiz com as provas


constantes dos autos, em que a eminente Juiza a quo se ateve apenas a alguns fatos,
notadamente a votação inexpressiva das candidatas mulheres, pouco gastos na campanha
eleitoral das referidas candidatas e ter sido lançadas candidatas em quantidade exata para
preenchimento da cota de gênero.

Asseveram, também, que a lei não fora descumprida pelos Recorrentes, posto
que no DRAP fora verificado a regularidade de todos os candidatos, tendo sido aferida a cota
de gênero prevista na legislação eleitoral. Além disso, sustentam que não há como se condenar
toda uma coligação por suposta fraude com base no único fato de que algumas candidatas do
sexo feminino teriam obtido votação inexpressiva, principalmente porque, no caso, “a votação
inexpressiva adveio de decisões pessoais e de cunho íntimo das candidatas”.

Argumentam que “o ato de candidatar-se não faz direito adquirido a receber


votos, pois cada cidadão é livre para buscar e votar naquele que entender melhor para a
cidade. Demais disso, o fato de se apresentar como candidato não o obriga a ser eleito ou ter
uma votação expressiva ou que alcancem um percentual mínimo de votos.”

Por fim, reclamam que a sentença de piso não levou em conta as questões
pessoais e financeiras das candidatas, nem, tampouco, se ateve aos testemunhos acostados aos
autos, tendo a MM. Juiz a quo tomado sua decisão baseada única e exclusivamente na baixa
votação das candidatas, nos gastos ínfimos nas campanhas e pouco envolvimento das
candidatas na campanha eleitoral.
Nobre Julgadores, as justificativas apresentadas pelos recorrentes não merecem
prosperar, devendo a sentença a quo ser mantida incólume, senão vejamos:

Em primeiro lugar o argumento segundo o qual “o fato de se apresentar como


candidata não obriga a mulher a ser eleita ou a ter uma votação expressiva” é bastante pífio e
vem sendo repetidamente utilizado para justificar as históricas práticas de candidaturas laranjas
de mulheres. Todavia, os Recorrentes não juntaram aos autos qualquer prova demonstrando que
as candidatas do sexo feminino fizeram campanha eleitoral. Durante toda a instrução processual
os Recorrentes não apresentaram qualquer material de campanha utilizado pela referidas
candidatas.

Ao contrário do aduzido pelos Recorrentes, a sentença de primeiro grau abordou


todos os pontos levantados pela defesa e foi enfática na constatação fática das candidaturas
fictícias, analisando todo um contexto probatório como não realização de atos de campanha,
ausência de material publicitário de campanha, ausência de atos em comícios, votação irrisória,
prestação de contas maquiada, com números semelhantes, sem qualquer registro de gastos com
veículos, combustíveis, publicidade e comícios, tendo sido registrado, apenas, gastos referentes
a assessoria jurídica e contábil.

Na sentença vergastada a eminente Juíza a quo demonstrou ter sido constatado


que a candidata Alcione Pacheco da Silva, não alcançou nenhum voto nas eleições, apesar de
ter comparecido às urnas, o que demonstra que nem a própria candidata votou em sua pessoa.
Por outro lado, a candidata Conceição de Maria Martins obteve apenas 01 (um) voto e a
candidata Pedrina Teixeira Barbosa, obteve apenas 03 (três) votos, o que denota que as mesmas
não desejavam, efetivamente, ser candidatas, posto que não fizeram qualquer esforço para obter
votação nem dos seus próprios familiares.

Outro indício insofismável da fraude perpetrada é a semelhança das


justificativas/defesas utilizadas por todas para o absurdo desempenho no pleito: “que suas
candidaturas foram fruto da vontade de pleitear uma vaga na câmara, que cada candidato faz
sua estratégia, que fizeram uma campanha com poucos recursos financeiros, sem material de
publicidade, gráfico ou sonoro, em razão da crise econômica etc”.

Eminentes Julgadores, indubitável que as eleições municipais de 2016 no


município de Pimenteiras foram marcadas pela apresentação de candidaturas femininas
fictícias, cujo ardil foi meticulosamente planejado pelos presidentes dos partidos integrantes da
“Coligação Pimenteiras: Nossa Terra Nossa Gente”, os ora Recorrentes Jander Martins
Nogueira (Presidente do PMDB), Amysthanio Rodrigues Alves (Presidentge do PSB) e
Antonio Alves Gugia Filho (Presidente do PTC).

Registre-se que a fraude teve o claro objetivo de favorecer a candidatura dos


próprios Recorrentes e presidentes dos partidos integrantes da coligação, os quais foram todos
eleitos vereadores, o que demonstra a clara opção dos mesmos pelas candidaturas femininas
fictícias, que não fossem capazes de ameaçar os seus objetivos eleitorais, o que de fato se
confirmou.

Importante destacar que todas as mulheres que concorreram pela “Coligação


Pimenteiras: Nossa Terra Nossa Gente” são filiadas ao PMDB e não foram escolhidas na
convenção partidária ocorrida em 31/07/2016, pois na aludida convenção apenas candidatos
homens foram homologados como candidatos a vereadores. Apenas posteriormente, em reunião
fechada das comissões executivas municipais dos partidos integrantes da coligação, ocorrida
em 02/08/2019, é que as candidatas mulheres foram indicadas, o que deixa claro que as
candidaturas das mulheres da aludida coligação foram registradas com o único propósito de
atingir o percentual mínimo reservado à cota de gênero e possibilitar a candidatura dos homens
que compunham o restante da coligação.

Em outras palavras, a “Coligação Pimenteiras: Nossa Terra Nossa Gente” atua


deliberadamente visando ludibriar a Justiça Eleitoral, visto que registrou 03 (três) candidatas
mulheres que serviram apenas e tão somente para garantir que os 07 (sete) candidatos homens
fossem registrados, cumprindo fraudulentamente o percentual mínimo de gênero exigido pela
legislação eleitoral.

Nobres Julgadores, causa perplexidade e está sobejamente demonstrado no autos


a pitoresca situação verificada nas IDÊNTICAS prestação de contas apresentadas pelas 03 (três)
candidatas mulheres: Todas receberam a mesma quantia em doações financeiras, ou seja, R$
795 (setecentos e noventa e cinco reais), proveniente dos mesmos doadores (Cristiany
Bezerra Teixeira e Francisco Antão Arraes de Carvalho). Todas também realizaram
RIGOROSAMENTE as mesmas despesas, feitas junto aos credores Kardoso & Vilarinda ME
e Jander Martins Nogueira, respectivamente, assessoria contábil e jurídica.

Cumpre assinalar, uma vez mais, que a soma dos votos de todas as mulheres
integrantes da “Coligação Pimenteiras: Nossa Terra Nossa Gente” limitou-se a irrisórios 04
(quatro) votos, isto num universo de 9.561 (nove mil quinhentos e sessenta e um) eleitores,
o que reforça a conclusão de que as candidaturas lançadas pelos Recorrentes foram eivadas de
ilegalidades, desde o seu nascedouro. Assim, os candidatos masculinos eleitos pela indigitada
coligação não possuem legitimidade para assumir o cargo para o qual foram eleitos, devendo
os votos a eles conferidos serem declarados nulos, posto que frutos de insofismável ilegalidade.

A situação em apreço amolda-se com perfeição ao importantíssimo precedente


inaugurado por esse egrégio TRE-PI, cujo entendimento acaba de ser confirmado pelo colendo
TSE, em julgamento ocorrido no último dia 17/09/2019. Em ambos os julgados prevaleceu o
entendimento que a existência de vício ou fraude na cota de gênero contamina toda a chapa,
porquanto o vício está na origem, vejamos:

RECURSOS. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL


ELEITORAL. ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2016.
PRELIMINAR. AUSÊNCIA DE LITISCONSÓRCIO
PASSIVO NECESSÁRIO. NÃO ACOLHIMENTO. MÉRITO.
FRAUDE. ABUSO DO PODER POLITICO. BURLA AO
INSTITUTO DAS COTAS DE GÊNERO. VIOLAÇÃO AO
ART. 10, § 3º, LEI Nº. 9.504/97 E AO ART. 5º, I, DA CF/88.
COMPROVAÇÃO. A CONSTATAÇÃO DE FRAUDE NA
COTA DE GÊNERO MACULA TODA A CHAPA,
PORQUANTO O VÍCIO ESTÁ NA ORIGEM. CASSAÇÃO
DOS DIPLOMAS E REGISTROS DOS CANDIDATOS
ELEITOS, SUPLENTES E NÃO ELEITOS,
RESPECTIVAMENTE, OS QUAIS CONCORRERAM AO
PLEITO PELAS CHAPAS PROPORCIONAIS
CONTAMINADAS PELA FRAUDE. NULIDADE DOS
VOTOS ATRIBUÍDOS AOS CITADOS CANDIDATOS,
RECONTAGEM TOTAL DOS VOTOS E NOVO CÁLCULO
DO QUOCIENTE ELEITORAL. INELEGIBILIDADE.
SANÇÃO DE CARÁTER PERSONALÍSSIMA. ALCANÇA
OS CANDIDATOS QUE DERAM CAUSA AO ILÍCITO.
RECURSOS PARCIALMENTE PROVIDOS. 1. Os fatos
narrados na inicial não foram atribuídos aos Presidentes das
Agremiações. Preliminar de ausência de litisconsórcio
rejeitada. 2. Candidaturas registradas com único propósito de
preencher o regramento do art. 10, § 3º, da Lei 9.504/97.
Manifesto desvio de finalidade, comprometendo a lisura, a
normalidade e a legitimidade das eleições proporcionais,
circunstâncias que se amoldam às condutas previstas no art. 22,
incisos XIV e XVI, da Lei Complementar 64/90. 3. A
existência de vício ou fraude na cota de gênero contamina
toda a chapa, porquanto o vício está na origem, ou seja, o
seu efeito é ex tunc e, assim, impede a disputa por todos os
envolvidos. 4. Reconhecida a fraude, devem ser cassados os
diplomas e registros dos candidatos eleitos, suplentes e não
eleitos, respectivamente, declarando nulos os votos a eles
atribuídos, com a imperiosa recontagem total dos votos e novo
cálculo do quociente eleitoral. 5. Em não havendo prova da
participação efetiva dos demais candidatos, e diante do caráter
personalíssimo da inelegibilidade prevista no art. 22, XIV, LC
64/90, seu alcance restringe-se às candidatas fictícias, pois
concorreram para efetivação da fraude às cotas de gênero,
porquanto conscientemente disponibilizaram seus nomes para
fins de registro de candidatura, sem a intenção de disputar o
pleito eleitoral de 2016. 6. Não existindo comprovação da
participação dos candidatos majoritários, deve ser mantida a
sentença que julgou improcedente o pedido nessa parte. 7.
Recursos parcialmente providos.

(TRE-PI - AIJE: 19392 VALENÇA DO PIAUÍ - PI, Relator:


ASTROGILDO MENDES DE ASSUNÇÃO FILHO, Data de
Julgamento: 12/09/2017, Data de Publicação: DJE - Diário da
Justiça Eletrônico, Tomo 176', Data 27/09/2017, Página 17-18)
(G.N).

Se por um lado é correto afirmar que nenhum candidato pode ser obrigado a
fazer campanha, por outro lado não se pode tolerar que candidatas sejam usadas somente para
cumprir a cota de gênero, sobretudo quando as candidaturas femininas são apresentadas com o
único objetivo de privilegiar candidaturas masculinas, o que compromete o pleito eleitoral e o
desequilibra com relação às coligações que cumpriram a lei. Devendo o Judiciário, pois, tomar
atitudes enérgicas quando verificadas fraudes que atentem contra a normalidade e legalidade
do pleito eleitoral.

2.2 - NEXO DE CAUSALIDADE – POTENCIALIDADE - GRAVIDADE

Nos termos da jurisprudência do colendo TSE, para aprovação da cassação


prevista no art. 22 da LC nº64/90, não há necessidade de provar o envolvimento ou a
responsabilidade do candidato beneficiado. Basta a comprovação de que o ato praticado tenha,
efetivamente, influenciado os resultados da eleição. Coma edição da LC nº 64/90, houve
quem defendesse a necessidade do nexo de causalidade para configurar a conduta ilegal.
Segundo esse entendimento, seria preciso que a eleição do candidato beneficiado tivesse
decorrido de ato ilícito praticado, porém tal percepção foi logo ultrapassada, já que é impossível
saber se um candidato foi vitorioso devido à prática de ato abusivo.

Com isso, passou-se a exigir o “requisito da potencialidade do ato lesivo”, ou seja,


aquilo que envolve práticas significativamente capazes de causar influência da ação ilícita
no resultado das eleições.

Considerando as dificuldades para avaliação do requisito da potencialidade, o


legislador alterou o quesito exigido para caracterização da infração, conforme inciso XVI, do
artigo 22 da LC nº 64/90:
“(...)

XVI – para a configuração do ato abusivo, não será considerada


a potencialidade de o fato alterar o resultado da eleição, mas
apenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizam. “

Assim, o julgador deverá analisar o caso diante da gravidade dos fatos. A esse
respeito, merece destaque a lição da ministra Lautira Vaz, in verbis:

"Representação. Prefeito e vice-prefeito. Pretensa ocorrência de


conduta vedada a agente público. [...]. Educação. Não
caracterizada, para fins eleitorais, como serviço público
essencial. [...]. Art. 73, inciso V, da Lei nº 9.504/97. Contratação
de servidores no período de três meses que antecede o pleito
eleitoral. Configuração. Mera prática da conduta. Desnecessário
indagar a potencialidade lesiva. Fixação da reprimenda.
Observância dos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade. [...] 6. A configuração das condutas vedadas
prescritas no art. 73 da Lei nº 9.504/97 se dá com a mera prática
de atos, desde que esses se subsumam às hipóteses ali elencadas,
porque tais condutas, por presunção legal, são tendentes a afetar
a igualdade de oportunidades entre os candidatos no pleito
eleitoral, sendo desnecessário comprovar-lhes a potencialidade
lesiva. [...]"
(Ac. de 26.9.2013 no REspe nº 45060, rel. Min. Laurita Vaz.)

Atualmente, no direito eleitoral, portanto, não se exige a potencialidade lesiva


do ato, bastando a gravidade da conduta e das circunstancias que a circundam, como a fraude
perpetrada pelas coligações com vistas à beneficiar diretamente à candidatura majoritária.

No caso em apreço, a gravidade dos fatos é incontroversa, diante da existência


das candidaturas fictícias, sem compromisso sequer de fazer campanha, registradas apenas para
permitir o registro dos candidatos do sexo masculino.

Necessário, ainda, apontar que a fraude é o ilícito por excelência, o mais grave
de todos, pois atenta contra o próprio sistema e contra o processo eleitoral propriamente dito.
Nesse sentido, é o v. acórdão paradigma proferido no Recurso Contra Expedição de Diploma
nº 698, de relatoria do Ministro Cezar Peluso do c. TSE1, ao consignar que “há casos, porém,
em que a violação não é direta. É o caso típico da chamada fraude à lei, em que a palavra
fraude, evidentemente, não tem nenhum sentido pejorativo de intencionalidade, mas significa,

1
TSE, Recurso contra Expedição de Diploma nº 698, Relator Ministro José Delgado
pura e simplesmente, a frustração do objetivo normativo. Nela há comportamento que frustra,
frauda o alcance da norma”.

É exatamente o que ocorreu no caso dos autos, tendo em vista que os Recorrentes
impossibilitaram que o artigo 10, § 3º, da Lei nº 9.504/97 fosse rigorosamente respeitado,
burlando-o para obter benefício eleitoral.

Isto posto, fraude eleitoral, dada a sua gravidade, deve ser combatida por todas
as formas, pois atenta contra os princípios básicos do sistema eleitoral, quais sejam, a liberdade
de voto, a soberania popular e a igualdade entre os candidatos.

3 – DOS PEDIDOS

Em razão dos argumentos apresentados, REQUER-SE de Vossas Excelências o


DESPROVIMENTO do recurso eleitoral, mantendo incólume a sentença proferida pela MMª.
Juiza da 89ª Zona Eleitoral, por seus próprios fundamentos.

Nesses termos, pede deferimento.

Valença do Piauí-PI, 26 de setembro de 2019.

Maria Wilane e Silva


Advogada-OAB/PI 9.479

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