MAIO 2003
FCT-UNL
RESUMO
A equilibragem de rotores rígidos utilizando um e dois planos de correcção é dada numa aula
teórica-prática da disciplina. Com este texto os alunos ficam habilitados a compreender os
fundamentos teóricos da equilibragem e a realizar um ensaio de equilibragem experimental no
laboratório.
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................... 1
2. PRINCÍPIOS BÁSICOS DE EQUILIBRAGEM............................................................ 2
2.1. Rotação do Corpo Rígido em Torno de um Eixo Fixo................................................. 2
2.2. Rotação de um Rotor Rígido em Torno de um Eixo Fixo............................................ 5
2.2.1. Rotor Perfeitamente Equilibrado......................................................................... 5
2.2.2. Definição de Desequilíbrio................................................................................. 8
2.2.3. Causas de Desequilíbrio...................................................................................... 9
2.2.4. Benefícios da Equilibragem................................................................................ 9
2.2.5. Tipos de Desequilíbrio........................................................................................ 10
2.2.5.1. Desequilíbrio Estático............................................................................. 10
2.2.5.2. Desequilíbrio de Momento..................................................................... 12
2.2.5.3. Desequilíbrio Quasi-Estático.................................................................. 13
2.2.5.4. Desequilíbrio Dinâmico.......................................................................... 13
2.2.6. Explicação do Efeito do Desequilíbrio nos Apoios............................................ 14
4. MÉTODOS DE EQUILIBRAGEM................................................................................. 24
4.1. Método Teórico............................................................................................................. 24
4.1.1. Equilibragem em Um Plano................................................................................ 24
4.1.2. Equilibragem em Dois Planos............................................................................. 25
Equilibragem Dinâmica de Rotores Rígidos iii
FCT-UNL Índice
5. CONCLUSÕES................................................................................................................ 48
Bibliografia.......................................................................................................................... 49
1. INTRODUÇÃO
Quando o homem inventou a roda apercebeu-se que esta não teria um funcionamento
desejável caso não fosse perfeitamente circular ou se não rodasse em torno do seu eixo
geométrico. Deste modo, a roda poderia vibrar implicando uma diminuição da vida útil desta
bem como da estrutura a ela associada.
Alguns sistemas rotativos onde a equilibragem é crucial são: rotores de turbinas de vapor,
motores eléctricos, cambotas e rodas de veículos automóveis, propulsores de navios,
ventiladores, etc.
Este texto de apoio começa por referir algumas noções básicas sobre o problema físico da
equilibragem (secção 2). Depois, considera-se como o desequilíbrio de um rotor pode ser
identificado e como este se manifesta nos apoios do rotor (secção 3). São apresentados os
métodos teórico e experimental para a equilibragem de rotores rígidos em um e dois planos
(secção 4).
De acordo com o princípio D’Alembert, as forças externas que actuam sobre um corpo rígido
são equivalentes às forças efectivas das várias partículas que formam o mesmo corpo. O
sistema de forças efectivas pode ser substituído por um sistema força-binário equivalente
aplicado no centro de massa do corpo. Por um lado, considera-se aplicado no centro de massa
G do corpo o vector maG que representa o produto da massa do corpo pela aceleração do seu
centro de massa. Por outro lado, considera-se aplicado um binário de intensidade dHG / dt em
que o vector HG representa o momento angular do corpo calculado relativamente a G. Assim,
as equações fundamentais do movimento tridimensional de um corpo rígido de massa m são
duas, uma relativa a forças (2.1) e outra relativa a momento (2.2).
F ma G
(2.1)
dHG (2.2)
M G
dt
De acordo com a fig. 2.1, considere-se o movimento de um corpo rígido, homogéneo e com
uma forma arbitrária, obrigado a rodar com velocidade angular , em torno de um eixo fixo
ii’, que passa pelos apoios A e B e é coincidente com o eixo z de um referencial cartesiano
0xyz .
i’
0
i
z
B
x
A
O referencial 0xyz pode considerar-se solidário com o corpo em rotação e a orientação dos
eixos indicada na fig. 2.1 corresponderá a um determinado instante do movimento. Pode
pensar-se numa localização qualquer da origem do referencial ao longo do eixo ii’. O vector
momento angular do corpo calculado em relação à origem deste referencial, H0, é dado pelo
produto do tensor de inércia T do corpo em relação ao ponto 0 com o vector da velocidade
angular (2.3).
Ix I xy I xz 0 I xz .
H 0 T.ω = I yx Iy I yz 0 I yz . (2.3)
I zx I zy I z I z .
No que diz respeito às propriedades do corpo rígido, torna-se importante para a compreensão
das secções posteriores deste trabalho referir as seguintes noções básicas (Beer & Johnston,
1998a):
A equação (2.2) é relativa ao centro de massa G. No entanto, por vezes, torna-se mais
conveniente determinar o momento angular H0 do corpo em relação a um ponto fixo 0 que
não é coincidente com o centro de massa G. Neste caso, a equação de momento (2.2)
apresenta-se na seguinte forma:
dH 0 (2.4)
M 0
dt
H0 rG mvG HG (2.5)
Desenvolvendo a expressão (2.4) para o movimento de corpo rígido ilustrado na fig. 2.1, o
resultado obtido pode exprimir-se através das três equações escalares seguintes (Beer &
Johnston 1998b):
M z I z (2.8)
Nestas equações é a aceleração angular. Através de (2.1) são consideradas mais três
equações escalares:
F x maGx (2.9)
F y maGy (2.10)
F z maG z (2.11)
Estas seis equações do movimento podem ser utilizadas para determinar a aceleração e
velocidade angulares do corpo e assim também as reacções nos apoios A e B mostrados na
fig. 2.1.
Em geral, entende-se por rotor todo o corpo destinado a rodar em torno de um eixo fixo,
geralmente apoiado em mancais através de rolamentos.
Um rotor é considerado rígido se a sua velocidade de rotação máxima não ultrapassar 70% da
primeira velocidade crítica. Esta última é uma velocidade tal que a resposta predominante do
sistema ocorre à primeira frequência de ressonância.
D y
0
z
B
A x
L
O rotor da fig. 2.2 pode apresentar diferentes relações geométricas entre diâmetro D e
comprimento L. O quociente entre estas dimensões é utilizado para distinguir dois tipos de
rotores: um em que L/D < 0,5 designa-se por disco e outro para valores maiores do que 0,5
designa-se por rolo (Roque, 2002). No entanto, outros autores, por exemplo (MacCamhaoil),
consideram um valor de referência entre 0,1 e 0,14.
Um rotor perfeitamente equilibrado é um rotor cuja distribuição de massa é tal que, quando
posto a rodar em torno de um eixo fixo, não provoca vibrações nos apoios como resultado de
forças centrífugas (Harris & Crede, 1998). Em seguida, procura-se transmitir o sentido físico
da situação de equilíbrio dinâmico recorrendo às noções de eixos principais centrais de inércia
e força centrífuga em sistemas rotativos.
A situação de equilíbrio dinâmico pressupõe que o eixo de rotação coincide com um dos três
eixos principais centrais de inércia do rotor. O centro de massa do corpo localiza-se
necessariamente no eixo de rotação. Nestas condições, a distribuição de massa do corpo em
torno do eixo de rotação é tal que existe equilíbrio das forças de inércia (centrífugas)
associadas a cada partícula do corpo rígido em rotação. Uma vez que as forças centrífugas
estão compensadas entre si não surgem quaisquer reacções dinâmicas nos apoios. Estes
aspectos são clarificados de seguida com base no exemplo do rotor axissimétrico da fig. 2.2
com distribuição de massa uniforme (corpo homogéneo).
Considera-se que o referencial 0xyz da fig. 2.2 tem como origem o centro de massa do corpo e
o eixo z é coincidente com o eixo de revolução do corpo. Este referencial constitui o sistema
de eixos principais centrais de inércia do corpo. Se o rotor roda em torno do eixo z com
velocidade angular constante, então os produtos de inércia Ixy Ixz e Iyz, a aceleração angular
do corpo e a aceleração do centro de massa aG são nulos. As equações do movimento (2.6) a
(2.11) resumem-se a:
F x 0 ; F y 0 ; Fz 0 ; M x 0 ; M y 0 ; M z 0 (2.12)
O equilíbrio dinâmico do rotor que se caracteriza pela coincidência entre os eixos de rotação e
principal central de inércia corresponde ao equilíbrio das forças de inércia. Para entender este
ponto, o corpo rígido do rotor pode ser considerado como um sistema formado por n
partículas de forma que, quando o corpo fica animado de movimento de rotação, cada
partícula fica sujeita a uma aceleração a com duas componentes: aceleração normal an (radial
e centrípeta) e aceleração tangencial at (2.13).
a at an em que: at r e
an r (2.13)
A fig. 2.3 pretende ilustrar, para o caso de uma partícula arbitrária do rotor, estas
componentes da aceleração no referencial n-t (radial e tangencial). Conforme ilustrado nesta
figura e de acordo com o estudo da cinética das partículas, cada partícula do rotor está sujeita
a uma força de inércia radial Fc (centrífuga) e outra tangencial Fit. Se o corpo estiver a rodar a
velocidade constante [rad/s] a componente tangencial da força de inércia é nula e, portanto,
cada partícula estará apenas sujeita a uma força centrífuga calculada por (2.14). Nesta
expressão m é a massa [kg] e r é a distância desta ao eixo de rotação [m].
y' y
Plano de simetria
n
at
α 0
0'
r
an P
z Fc
Fit
x
x'
Considere-se uma massa pontual m onde se supõe concentrada toda a massa que origina o
desequilíbrio e localizada algures no rotor, conforme se pretende ilustrar na fig. 2.4. Esta
massa designa-se por ponto pesado (heavy spot). O surgimento de um ponto pesado no rotor
pode ficar a dever-se a um conjunto de razões que serão apontadas na secção 2.2.3.
A massa m altera a distribuição de massa do rotor em torno do eixo de rotação de modo que
este eixo já não é coincidente com o eixo principal de inércia. A força centrífuga associada a
esta massa rotativa não é compensada por nenhum outro elemento de massa do rotor a não ser
por forças exteriores aplicadas ao corpo, ou seja, as reacções nos apoios. Esta força centrífuga
da massa m em rotação transmitirá vibrações aos apoios conforme abordado em maior detalhe
na secção 2.2.6.
A equilibragem dinâmica de rotores reduz os esforços dinâmicos nos apoios o que se traduz
em benefícios dos quais se destacam os mais importantes:
Minimiza tensões estruturais (a força centrífuga produzida pelo desequilíbrio tem que ser
absorvida pela estrutura envolvente).
Aumenta a vida útil dos rolamentos (a carga dinâmica sobre os rolamentos é aliviada).
Nesta secção são apresentados quatro tipos de desequilíbrio dependendo da posição relativa
entre o eixo principal central de inércia e o eixo de rotação (Roque, 2002). A identificação do
tipo de desequilíbrio presente no rotor é determinante para a escolha do método de
equilibragem e é fundamental quanto ao número de planos de correcção a utilizar – um, dois
ou mais planos.
2.2.5.1.Desequilíbrio Estático
Este tipo de desequilíbrio caracteriza-se pelo eixo principal central de inércia ser paralelo ao
eixo de rotação. O centro de massa do rotor não coincide com o eixo de rotação e encontra-se
a uma distância desse eixo.
Este é o desequilíbrio característico dos rotores tipo disco (por exemplo, ventiladores)
conforme mostrado na fig. 2.5. O ponto pesado, representado pela massa m, encontra-se no
plano transversal ao eixo de rotação que contém o centro de massa do rotor. Esta situação
também é ilustrada na fig. 2.6a para o caso de um rotor tipo rolo. De acordo com a fig. 2.6b,
um rotor tipo rolo pode ter um desequilíbrio estático, apenas devido à existência de dois
pontos pesados de igual massa m com a mesma distância radial e equidistantes do plano que
contém o centro de massa.
i'
i
o'
o
a a a
a
m
m m
i' i'
i o' i o'
o o
A equilibragem deve ser efectuada no plano transversal que passa pelo centro de massa. No
caso de rotores tipo rolo se isto não for possível então, a equilibragem deve ser efectuada em
dois planos.
Acrescenta-se que o termo estático para a designação deste tipo de desequilíbrio tem origem
na tradição de equilibrar rotores como se mostra na fig. 2.7 – equilibragem estática. Neste
caso, a correcção do desequilíbrio no rotor consegue-se quando este estiver estaticamente
equilibrado. Isto quer dizer que o rotor, se está em rotação, pára numa posição arbitrária ou, se
estiver em repouso, não procura uma posição preferencial para o equilíbrio estático.
Esta equilibragem tradicional consiste em fazer rolar livremente o rotor entre dois cavaletes.
Devido ao efeito da gravidade o rotor terá tendência a encontrar o equilíbrio estático quando a
massa desequilibradora m ou ponto pesado se posicionar na extremidade inferior conforme
mostrado na fig. 2.7. A correcção do desequilíbrio é um processo de tentativa e erro. Consiste
na adição de massa em contraposição ao ponto pesado até que o rotor deixe de apresentar uma
posição preferencial de equilíbrio estático, ou seja, pára numa posição arbitrária. Os
resultados obtidos por este processo só são satisfatórios quando o rotor é do tipo disco ou
quando a velocidade de rotação é baixa.
rotor
cavaletes
2.2.5.2.Desequilíbrio de Momento
Este tipo de desequilíbrio caracteriza-se pelo eixo principal central de inércia intersectar o
eixo de rotação no centro de massa do rotor.
Conforme mostra a fig. 2.8, o desequilíbrio de momento é gerado por duas massas iguais
equidistantes do plano que contém o centro de massa e diametralmente opostas. Só nesta
situação um rotor se encontra estaticamente equilibrado e ao mesmo tempo dinamicamente
desequilibrado. Em todos os outros tipos de desequilíbrio, o rotor só está estaticamente
equilibrado se estiver dinamicamente equilibrado. Por este motivo, o sistema de equilibragem
tradicional da fig. 2.7 nunca poderá servir para corrigir o desequilíbrio de momento ou,
generalizando, qualquer desequilíbrio que tenha uma componente de momento.
a
m
i'
o'
o
i
m a
O desequilíbrio de momento não pode ser corrigido num só plano, uma vez que é gerado um
momento no rotor o qual, para ser anulado, necessita de pelo menos duas massas de
Equilibragem Dinâmica de Rotores Rígidos 12
FCT-UNL Princípios Básicos de Equilibragem
2.2.5.3.Desequilíbrio Quasi-Estático
Este tipo de desequilíbrio caracteriza-se pelo eixo principal central de inércia intersectar o
eixo de rotação num ponto diferente do centro de massa do rotor.
A fig. 2.9b mostra ainda que este tipo de desequilíbrio pode ser resultante da combinação de
um desequilíbrio estático com um desequilíbrio de momento.
m m m i'
i'
o' o'
o o
i i
m
(a) Uma massa fora do plano médio (b) Combinação de desequilíbrios:
estático + momento
Fig. 2.9- Rotor com desequilíbrio Quasi-Estático.
2.2.5.4.Desequilíbrio Dinâmico
Este tipo de desequilíbrio caracteriza-se pelo eixo principal central de inércia nunca
intersectar o eixo de rotação.
A fig. 2.10 pretende ilustrar este tipo de desequilíbrio como resultado da combinação dos
desequilíbrios estático e de momento.
Na prática este é o tipo de desequilíbrio que ocorre mais vezes e a sua correcção deve ser
efectuada em dois planos (secção 4.2.5).
m i'
m
o'
o
i m
Visto que existe uma distância e entre o centro de massa G e o eixo de rotação 0 (ver fig.
2.11), a aceleração do centro de massa aG tem componentes não nulas em (2.9) a (2.11).
y
m r
e G
0 x
Mais especificamente, considerando que o centro de massa tem movimento circular uniforme,
a aceleração aG será normal e centrípeta. Esta componente da aceleração é responsável por
uma força de inércia centrífuga Fc conforme mostra a fig. 2.12.
y
y
Fc
Fc m
e Mt r
x x
No caso da fig. 2.12a, a força centrífuga é calculada por (2.15) considerando a rotação do
centro de massa G onde se concentra a massa total Mt (massa do rotor M e massa
desequilibradora m).
Fc M t e 2 [N] (2.15)
De acordo com a fig.12b, a mesma força centrífuga é calculada por (2.16) considerando agora
a rotação da massa desequilibradora m posicionada a uma distância r do centro de rotação, ou
seja:
mr U (2.18)
e em unidades de [g.mm/kg ou m]
Mt Mt
No exemplo da fig. 2.12, a força centrífuga manifesta-se porque o rotor é obrigado a rodar em
torno de um eixo que não passa pelo centro de massa G. Se não existissem os
constrangimentos introduzidos pelos apoios o rotor rodaria livremente em torno de G
conforme se pretende ilustrar através da fig. 2.13.
Devido à existência de uma força centrífuga, as reacções nos apoios do rotor, contabilizadas
nos primeiros membros das equações do movimento, apresentam uma componente dinâmica
para além de uma componente estática associada ao peso próprio do rotor. Em geral, quando
se pretende determinar a intensidade das reacções dinâmicas através das equações do
movimento ignora-se o efeito das cargas estáticas, uma vez que o efeito destas é constante,
não dependendo da rotação do rotor.
y Fc mr 2
RBx
a1
B FB mr 2
L
a2
RAy
A L RBy
a1
z
a2 RAx x
FA mr 2
L
como forças excitadoras nos apoios provocando uma vibração periódica destes. Sendo a1 = a2,
a forma como a vibração se manifesta em A e em B é igual.
Em relação aos segundos membros das equações (2.19), os produtos de inércia, Ixz e Iyz, não
são nulos. Esta situação é característica dos desequilíbrios quasi-estático, de momento e
dinâmico. Estes tipos de desequilíbrio geram um binário que se manifesta também nos apoios
através das reacções.
No caso de existirem binários provocados pelo desequilíbrio, as duas reacções nos apoios, RA
e RB, são igualmente vectores rotativos de intensidade constante, mas podem apresentar entre
si intensidades e orientações () diferentes. Deste modo, as vibrações em cada apoio
manifestam-se de maneira diferente, isto é, o valor de pico da amplitude de vibração e/ou o
ponto do apoio onde ocorre pode ser diferente em A e B.
A eliminação dos efeitos indesejáveis das vibrações nos apoios constitui o ponto fulcral da
equilibragem de veios rotativos. Tendo em mente o exemplo apresentado através da fig. 2.14,
a equilibragem consistirá no fundo em influir na distribuição de massa do rotor de modo a que
Equilibragem Dinâmica de Rotores Rígidos 17
FCT-UNL Princípios Básicos de Equilibragem
os produtos de inércia sejam nulos e o centro de massa seja coincidente com o eixo de
rotação. Por outras palavras, a equilibragem consiste em fazer coincidir o eixo de rotação com
o eixo principal central de inércia do corpo. Nestas condições, o veio estará dinâmica e
estaticamente equilibrado.
O desequilíbrio de um rotor pode ser identificado de duas formas. Numa das formas localiza-
-se a causa ou a fonte, isto é, o ponto pesado (secção 3.1). Na outra mede-se o seu efeito, isto
é, a vibração nos apoios (secção 3.2). Através da medição da amplitude de vibração nos
apoios, o desequilíbrio pode ser caracterizado no domínio do tempo (secção 3.3.1) e no
espectro de frequências (secção 3.3.2). Também é caracterizado pelo ângulo de fase (secção
3.3.3).
Na prática, a identificação do ponto pesado pode ser algo muito complexo. Na maior parte dos
casos, o problema do desequilíbrio é resolvido sem o conhecimento da fonte através da
medição do efeito da vibração periódica nos apoios.
No caso de rotores rígidos a equilibragem pode-se efectuar a qualquer velocidade, uma vez
que o desequilíbrio U (2.17) é independente da velocidade de rotação do rotor. Por esta razão
não é obrigatório equilibrar o rotor à sua velocidade de serviço. No entanto, a velocidade do
rotor à qual se processa a equilibragem deverá ser tal que a amplitude de vibração medida nos
apoios tenha uma componente suficiente para uma boa identificação do desequilíbrio.
É contínuo.
A fig. 3.1 mostra a resposta dinâmica (por exemplo, aceleração) medida no apoio ao longo do
tempo através de um acelerómetro.
aceleração
(m/s2)
tempo (s)
A fig. 3.2 mostra o espectro de frequência típico de um desequilíbrio onde se deve tornar
evidente uma componente elevada da amplitude de vibração à frequência de rotação do rotor.
Amplitude
1
r.p.m.
Idealmente, o valor máximo da amplitude de vibração no apoio devia ser captado pelo
acelerómetro no instante em que o ponto pesado passa exactamente pela posição onde este se
encontra montado no apoio. Na prática, quando o acelerómetro detecta a maior amplitude de
vibração no apoio, o ponto pesado encontra-se numa posição angular avançada em relação à
posição do acelerómetro (direcção vertical no exemplo dado na fig. 3.3). A quantificação
deste atraso entre a passagem da força e a sua detecção por parte do acelerómetro (atraso
mecânico) depende das características dinâmicas (massa, rigidez e amortecimento) do sistema
em análise (rotor e estrutura dos apoios).
y
Atraso na resposta
acelerómetro
Fc
m
Analisador de vibrações – x
resposta do sistema Apoios do rotor
Em termos temporais, para além do atraso mecânico (tm), deve considerar-se também o atraso
electrónico. Este último atraso apresenta duas parcelas, uma referente ao atraso por
processamento do sinal no acelerómetro e cabo (tc), e outra referente ao atraso por
processamento do sinal no analisador (ta). Deste modo, o atraso total (tt) da resposta do
sistema à passagem da força centrífuga pelo acelerómetro é quantificado no tempo pela soma
das três parcelas, tt = tm + tc + ta. Se T for o período do sinal vibratório (fig. 3.1), o atraso tt
pode ser quantificado como um atraso angular de acordo com (3.1).
tt
360º (3.1)
T
Ao ângulo designa-se por ângulo de fase entre a força e a resposta do sistema dada no
analisador de vibrações. Ao contrário dos atrasos electrónicos, o atraso mecânico é
normalmente desconhecido nas operações de equilibragem e é difícil de quantificar pois
depende das características dinâmicas do sistema em análise. Por este motivo, o ângulo de
fase é calculado em relação a um referencial fixo. Normalmente, este referencial é constituído
por uma fita reflectora solidária com o rotor. A medição do ângulo de fase pode ser então
efectuada recorrendo à utilização de uma lâmpada estroboscópica ou de uma célula
fotoeléctrica. Estes dois processos serão descritos na secção 4.2.1.
O ângulo de fase deve ser estável (pode variar até +/- 10º).
A diferença de fase, entre as direcções horizontais, medida nos dois apoios deve ser
idêntica à diferença de fase, entre as direcções verticais, medida também nos dois apoios
(com um desvio de +/-30º).
4. MÉTODOS DE EQUILIBRAGEM
Considere-se o modelo de rotor desequilibrado devido a uma massa m (fig. 2.4) ou devido a
várias massas mi (i = 1,..., n) distribuídas pelo rotor. As forças de inércia (centrífugas)
associadas a estas massas em rotação são responsáveis pelo aparecimento de reacções
dinâmicas nos apoios (secção 2.2.6). Se tais forças forem compensadas intervindo na
distribuição de massa do corpo, então os seus efeitos nos apoios serão nulos. No método
teórico descrito em seguida esta compensação é feita pela colocação de massas pontuais
correctivas. Quando o rotor se encontra em rotação, a soma das forças de inércia destas
massas com as forças de inércia das massas desequilibradoras terá resultante nula. A solução
do sistema de equações que traduz o equilíbrio das forças de inércia permitirá determinar os
valores e as posições das massas correctivas.
A equilibragem em um plano é típica no caso de rotores rígidos tipo disco. Conforme mostra
a fig. 4.1, uma massa ou várias massas desequilibradoras mi (i = 1, ..., n), estão posicionadas
no mesmo plano transversal do rotor.
Para a equilibragem do rotor em um plano é necessária apenas uma massa correctiva de valor
me e posição (re, e) determinados pela resolução do sistema de equações (4.1) e (4.2), que
traduz o equilíbrio das forças centrífugas conforme se pretende ilustrar na fig. 4.1.
n
Segundo x: m r cos
i 1
i i i me re cos e 0 (4.1)
n
Segundo y: m r sen
i 1
i i i me re sen e 0 (4.2)
y Fc, 2
m2 m2
Fc ,3 r2
m3 2
m3 3 m1 Fc ,1
r3 r1
m1 1
x
e
re
me
me
Fc,e
De notar que, o equilíbrio dinâmico ou o equilíbrio das forças centrífugas expresso por (4.1),
representa também o equilíbrio dos momentos das forças gravíticas relativamente ao eixo de
rotação, ou seja, traduz o equilíbrio estático do rotor. Portanto, se um rotor estiver
dinamicamente equilibrado também está estaticamente equilibrado. Um rotor que não esteja
estaticamente equilibrado nunca estará dinamicamente equilibrado.
Neste caso são necessárias duas massas correctivas (mA e mB), uma em cada plano, L e R,
conforme mostra a fig. 4.2.
O sistema de equações que traduz o equilíbrio das forças de inércia é dado por:
n
Segundo x: m r cos
i 1
i i i m A rA cos A mB rB cos B 0 (4.3)
n
Segundo y: m r sen
i 1
i i i m A rAsen A mB rB sen B 0 (4.4)
L R
y Fc, 2
Fc, B
mB
m2 mB
B m2
Fc ,3 rB
r2
m3 2
m3 Fc ,1
3 m1
m1 r3
r1
1
x
A rA
mA
mA
d3 Fc , A
d2
d1
dB
n
i 1
MA 0 (4.5)
As componentes das forças de inércia segundo o eixo x geram momentos segundo y e vice-
versa. Assim, a equação (4.5) pode ser expressa através da soma das componentes dos
momentos segundo x e y, equações (4.6) e (4.7), respectivamente.
n
Segundo x: m r d sen
i 1
i i i i m B rB d B sen B 0 (4.6)
n
Segundo y: m r d cos
i 1
i i i i mB rB d B cos B 0 (4.7)
A posição axial dos dois planos de equilibragem é irrelevante desde que o momento
gerado pelas massas correctivas do rotor seja igual e oposto ao provocado pelas massas
desequilibradoras, isto é, deve ser satisfeita a equação (4.5). Normalmente, por
conveniência, escolhem-se os planos L e R da fig. 4.2 associados às extremidades do rotor
cada plano de equilibragem será necessária e suficiente para compensar uma massa
desequilibradora equivalente existente nesse plano.
A equilibragem por adição das massas correctivas mA e mB, de acordo com as soluções do
sistema de equações do equilíbrio das forças de inércia, é equivalente à remoção de iguais
quantidades de massa em posições diametralmente opostas nos planos de equilibragem.
Em relação a este último ponto, os resultados da equilibragem podem ser comparados também
com o histórico sobre o comportamento dinâmico do equipamento rotativo em causa, caso
exista. Não existindo este histórico, a comparação de resultados é possível com recurso a
normas como a carta de severidade de IRD, o gráfico de Rathbone ou outras normas
publicadas por entidades de normalização internacionais – normas ISO 1940, etc. (Roque,
2002)
4.2.1. Instrumentação
Fita reflectora.
Deve ser colocada no mesmo raio onde se irá adicionar ou remover a massa, durante a
operação de equilibragem.
Deve ser colocada numa posição angular que facilite a divisão do rotor em sectores
circulares, isto é, a fita deve ser colocada numa pá, no enfiamento da furação existente,
etc.
1
Pode-se usar um medidor de Nível Global de Vibrações desde que a vibração predominante ocorra à frequência
da velocidade de rotação do rotor.
Deve ser protegida da incidência directa de raios de luz artificial ou solar de modo a evitar
instabilidade na leitura do ângulo de fase.
Neste caso, os sinais recolhidos pelo acelerómetro e célula fotoeléctrica são enviados para o
analisador de vibrações (ver fig. 4.3). Estes sinais no domínio do tempo são do tipo mostrado
na fig. 4.4.
ACELERÓMETRO
APOIO
VEIO
ROTOR
APOIO
FITA REFLECTORA
ANALISADOR DE
VIBRAÇÕES
CÉLULA
FOTOELÉCTRICA
O sinal da célula é um impulso emitido quando é detectada a passagem de uma fita reflectora
(fixa ao rotor) pelo feixe laser incidente sobre o rotor segundo uma direcção fixa no espaço. O
sinal do acelerómetro deve ser do tipo sinusoidal cuja amplitude, medida pico a pico ou só de
pico, pode ser lida no analisador. Ambos os sinais têm o mesmo período T, mas podem estar
desfasados no tempo pois o valor de pico dado pelo acelerómetro (valor máximo positivo da
amplitude) pode ocorrer num instante t1, diferente do instante t0, no qual é dado o impulso
pela célula. Esta diferença temporal permite calcular o ângulo de fase entre o sinal da célula e
o sinal do acelerómetro através da expressão:
360º
t1 t0
T (4.8)
Sinal do acelerómetro
tempo (s)
t0 t1
tempo (s)
T
O ângulo de fase calculado por (4.8) está relacionado com o ângulo de fase entre a força e a
resposta do sistema apresentado na secção 3.3.3 não em termos absolutos, mas em termos
relativos pois é medido relativamente a um referencial fixo (fita reflectora). Pode-se adiantar
que o valor absoluto do ângulo de fase, para além de ser difícil de calcular na prática, não é
relevante para a equilibragem bastando apenas o seu valor relativo. Este aspecto será melhor
compreendido na secção 4.2.4.1.
4.2.1.2.Utilização de Estroboscópio
O estroboscópio é um aparelho que emite uma luz muito intensa durante um intervalo de
tempo muito curto com uma determinada frequência. Uma fonte de luz com estas
características é útil, por exemplo, para uma análise visual de objectos em movimento
periódico como é o caso do movimento de rotação de um rotor.
Em seguida, explica-se como o estroboscópio pode ser utilizado para a medição da frequência
de rotação de um rotor e para a medição do ângulo de fase.
Para que o observador não seja induzido em erro deve-se proceder do seguinte modo. Se a
frequência de rotação do rotor se encontrar dentro da gama de frequências do estroboscópio
(por exemplo, entre 100 e 12000 flashes por minuto), deve começar-se com o estroboscópio a
emitir o flash à frequência máxima. Daí reduz-se gradualmente este valor e a fita aparecerá de
forma intermitente entre duas posições fixas diametralmente opostas quando a frequência da
luz é duas vezes a frequência de rotação do rotor. Quando se verifica pela primeira vez a fita
estacionária numa determinada posição então, a frequência do flash é igual à frequência de
rotação do rotor. Continuando a reduzir a frequência do flash pode-se observar a fita
estacionária, mas isso corresponde a valores de frequência do flash submúltiplos da
frequência de rotação do rotor.
ACELERÓMETRO
TRANSFERIDOR APOIO
FIXO AO ESTATOR
VEIO
0º0º
ROTOR
APOIO
270º
FITA REFLECTORA
ESTABILIZADA 90º
ANALISADOR DE
VIBRAÇÕES
ESTROBOSCÓPIO
180º
O sinal recolhido pelo acelerómetro é enviado para o analisador de vibrações. Cada vez que o
acelerómetro detecta o pico da amplitude de vibração medida no apoio é enviado um sinal
para o estroboscópio que dispara o flash nesse instante. Portanto, o sinal de pico e a emissão
do flash estão sincronizados. Uma vez que as frequências do flash e de rotação do rotor são
iguais, uma fita reflectora no rotor aparecerá estacionária numa determinada posição
conforme mostra a fig. 4.5. Existem duas formas possíveis de fazer a leitura do ângulo de
fase:
fita até uma outra tomada como referência (ver fig. 4.6). Neste caso, o ângulo de fase é
igual à variação da fase do sinal, que é igual à referida variação angular da posição da fita.
Variação da posição
angular da fita
Ponto de
Sinal associado à posição estacionária inicial da fita referência
fixo
Sinal associado à nova posição estacionária da fita
tempo
Variação de fase no sinal de entrada
É possível que o ângulo de fase medido seguindo cada um destes procedimentos dê um valor
diferente pois o ponto de referência escolhido para medição do ângulo não é o mesmo. No
entanto, não é importante para a equilibragem o conhecimento do valor absoluto deste ângulo
bastando apenas o seu valor relativo conforme será percebido na secção 4.2.4.1. Portanto, um
ponto de referência para medição do ângulo pode ser escolhido arbitrariamente embora, tenha
que ser sempre o mesmo quando utilizado em leituras consecutivas durante a operação de
equilibragem de um rotor.
A fixação ao rotor de uma massa de teste, mt, desempenha um papel fundamental no método
de equilibragem experimental. Visto que não é conhecido o desequilíbrio inicial instalado no
rotor U0, a colocação da massa mt, com valor e posição conhecidos, introduz um desequilíbrio
U1 conhecido. Deste modo, conforme será visto na secção 4.2.4.1, a equilibragem é possível
pois as sucessivas medições de amplitude e do ângulo de fase, efectuadas para o sistema com
U0 e para o sistema com U0 + U1, permitem isolar a componente da amplitude e ângulo de
fase de U0 e proceder à sua eliminação.
Para que a massa de teste cumpra o seu propósito no processo de equilibragem tem que alterar
significativamente a resposta do sistema. Por um lado, se esta massa for muito pequena não
haverá alteração significativa na resposta. Por outro lado, se esta massa for muito grande a
vibração por ela produzida pode danificar o equipamento. Assim, como regra geral a massa mt
deve ser tal que o seu efeito produza uma variação de 30% nos valores da amplitude e do
ângulo de fase medidos para o sistema com U0. Esta regra é conhecida pela regra dos trinta.
Equilibragem Dinâmica de Rotores Rígidos 34
FCT-UNL Métodos de Equilibragem
Também é comum calcular a massa de teste de tal forma que produza uma força de
desequilíbrio igual a 10% do peso do rotor.
Para colocação da massa de teste é aconselhável escolher um raio tanto maior quanto
possível porque assim menor será o seu valor. Recordando a expressão (2.16)
compreende-se que, para a mesma força centrífuga e velocidade angular, a massa varia de
forma inversamente proporcional com o raio, e vice-versa.
O local do rotor onde a massa mt será adicionada deve ser de fácil acesso pois esta será
retirada aquando da fixação da massa correctiva.
A fixação da massa mt no rotor deve ser bastante cuidada pois um desprendimento desta
quando o rotor é posto a rodar podia pôr em risco a segurança das pessoas no espaço
envolvente.
Normalmente a massa de teste é fixa ao rotor na direcção radial segundo a qual é colocada
a fita reflectora para medição do ângulo de fase
N p = Nc + 2 (4.9)
< 0.5 Até 1000 r.pm. > 1000 r.pm. Não aplicável
Dado que a equilibragem se efectua num só plano este processo visa corrigir essencialmente
um desequilíbrio de tipo estático (secção 2.2.5.1). O objectivo é fazer coincidir o centro de
massa com o centro de rotação. O plano de equilibragem onde será adicionada uma massa
correctiva deve ser o mais próximo do centro de massa do conjunto rotativo. Só será
necessário um sensor (acelerómetro) que preferencialmente será colocado no apoio mais
próximo do plano de equilibragem. Quanto aos métodos de equilibragem considera-se que
podem ser com medição do ângulo de fase (secção 4.2.4.1) e sem medição do ângulo de fase
(secção 4.2.4.2).
Este método leva em conta a medição do ângulo de fase para além da amplitude de vibração
medida no apoio. Tipicamente, o procedimento de equilibragem tem as seguintes etapas:
1. Arranque do sistema rotativo com desequilíbrio original até à velocidade de rotação a que
se procederá a equilibragem.
3. Parar o sistema rotativo e adicionar uma massa de teste conhecida, mt, numa posição bem
definida do rotor (normalmente coincidente com fita reflectora, ver secção 4.2.2).
1
Extraído de Roque (2002).
6. Parar o sistema, tirar a massa de teste do rotor e adicionar uma massa de correcção. Os
dados relativos à massa correctiva, valor e posição, são apresentados no analisador de
vibrações mediante a utilização de um software específico.
Em seguida, procura-se explicar os cálculos que são efectuados para determinar o valor e a
posição da massa de correcção.
mt
180º 180º 180º
rotor
270º 90º 270º 90º 270º 90º
i t
estator 0º i 0º
0º
Fig. 4.7- Equilibragem em um plano com medição do ângulo de fase utilizando estroboscópio.
Com base nos valores medidos da amplitude e do ângulo de fase é possível construir um
diagrama vectorial sabendo que:
Ai t Ai At (4.10)
onde At é a componente da amplitude associada à massa de teste e que pode ser determinada
por aplicação da lei dos cosenos (4.11).
Ai t
At Ai t Ai At
'
i t i
Sentido de colocação da
massa de correcção
Ai 0
Direcção de desequilíbrio
inicialmente desconhecida
Ai 2 At 2 Ai t 2
arccos (4.12)
2 Ai At
Se a massa de teste é colocada num ponto do rotor tal que a posição estacionária da fita
reflectora é deslocada no sentido anti-horário (passagem da posição angular i para i+t
percorrendo a menor distância angular entre as duas posições, sempre inferior a 180º),
ocorre uma variação angular de igual valor, mas no sentido horário da direcção do
Este efeito deve ser reflectido pelo triângulo da fig. 4.8 quando se procede à sua interpretação
no plano físico do rotor. Sabe-se que a componente At deverá ficar alinhada com o raio de
colocação da massa de teste. Isto está demonstrado na fig. 4.9 para o exemplo apresentado na
fig. 4.7.
Neste exemplo, a fita é deslocada no sentido anti-horário como resultado da adição da massa
de teste (fig. 4.7b e 4.7c). Logo, a componente do desequilíbrio Ai é deslocada para Ai t no
sentido horário conforme indicado pelo triângulo mostrado na fig. 4.9.
Ai t
Ai
' At
m mt
mc
Existe uma relação linear entre a amplitude de vibração medida nos apoios e a força
centrífuga gerada pelo desequilíbrio.
Ai A r Ai
t m mt t (4.13)
mr mt rt r At
A massa correctiva mc deverá ter um valor igual à massa desequilibradora m, mas deverá ser
colocada numa posição diametralmente oposta a esta conforme mostrado na fig. 4.9.
Os ângulos de fase devem ser sempre marcados para o mesmo lado (sentido horário ou
anti-horário) do referencial considerado fixo (fita reflectora).
É conveniente, não obrigatório, que a massa de teste seja colocada segundo a mesma
direcção radial da fita reflectora. Caso a massa de teste não esteja na mesma posição da
fita deve-se tomar em atenção que o ângulo de correcção é sempre marcado a partir da
posição da massa de teste e não da fita.
A massa de teste deve ser sempre retirada aquando da colocação da massa de correcção.
Essencialmente, a utilidade da massa de teste reside numa perturbação da resposta do
sistema de modo a determinar a direcção de desequilíbrio inicial do rotor.
menor distância angular entre as duas posições, sempre inferior a 180º), então isso
A marcação do ângulo pode ser efectuada na prática de uma forma expedita sem
implicar a interpretação do triângulo de amplitudes no plano físico do rotor conforme
mostrado na fig. 4.9. Assim, independentemente do processo utilizado para a medição do
ângulo de fase, o sentido de marcação de deverá ser contrário ao sentido de rotação
quando se passa do ângulo i para i+t percorrendo a menor distância angular, como se
ilustra na fig. 4.10.
Sentido de
marcação de
mt
mc
i t
Sentido de rotação
de i para i+t
i
A marcação do ângulo indicada na fig. 4.10 realiza-se deste modo porque, de acordo com a
fig. 4.8, o ângulo é marcado no sentido de rotação do vector Ai para Ai t , mas este sentido
O método de equilibragem num plano sem fase é também conhecido como método das quatro
leituras, pois são necessárias 4 leituras para a sua execução (Roque, 2002). Todas as leituras
são efectuadas à mesma frequência de rotação do rotor escolhida para a equilibragem. Este
método tem a vantagem de só necessitar de um simples vibrómetro para medição dos valores
da amplitude de vibração nos apoios do rotor. Não é necessário o aparato experimental para
medição do ângulo de fase conforme apresentado na secção anterior.
A aplicação deste método permite uma solução gráfica da equilibragem conforme ilustrada na
fig. 4.11.
y A0
Ai
x
At
2 A120
A240 3
Ponto de intersecção
Fig. 4.11- Solução gráfica do método de equilibragem num plano sem fase.
2. Utilizando uma escala conveniente, desenhar a circunferência com raio Ai e marcar sobre
esta três pontos. O ponto 1 servirá de referência a 0º. Os pontos 2 e 3 são marcados a 120º
e 240º do ponto 1, respectivamente. Estes pontos são marcados no rotor para colocação
de uma mesma massa de teste.
3. Fazer a leitura da amplitude A0 com a massa de teste fixada no ponto 1 (0º)- 2ª leitura.
Retirar a massa de teste. Desenhar a circunferência com centro em 1 e com raio igual a
A0 .
4. Fazer a leitura da amplitude A120 com a massa de teste fixada no ponto 2 (120º) -
3ª leitura. Retirar a massa de teste. Desenhar a circunferência com centro em 2 e com
raio igual a A120 .
5. Fazer a leitura da amplitude A240 com a massa de teste fixada no ponto 3 (240º) -
4ª leitura. Retirar a massa de teste. Desenhar a circunferência com centro em 3 e com
raio igual a A240 .
posição 1 e o vector At .
A solução gráfica representa a imagem à escala do rotor que se pretende equilibrar pelo que
não é necessário ter em atenção o sentido de rotação que é exigido no método descrito
anteriormente na secção 4.2.4.1.
A solução gráfica tem algum interesse, eventualmente didáctico, mas não é prática. O
ambiente fabril onde decorrem normalmente as operações de equilibragem não é
propriamente o local ideal para desenhar e traçar a solução. O potencial deste método pode e
deve ser explorado através da sua versão analítica apresentada em seguida.
Tendo em atenção o referencial cartesiano na fig. 4.11 e o sentido da marcação dos ângulos,
as coordenadas cartesianas do vector At podem ser determinadas pelas seguintes expressões:
A A120
2 2
x 240 (4.14)
4 Ai sen 120º
A 2 A0 A120
2 2 2
y 240 (4.15)
4 Ai 1 cos 120º
A solução do problema de equilibragem através de (4.14) e (4.15) pode então ser calculada
rapidamente com recurso a uma simples máquina calculadora.
A equilibragem em dois planos é típica de rotores tipo rolo. Nestes rotores a massa ou massas
desequilibradoras podem estar localizadas ao longo do comprimento do rotor provocando no
caso mais geral, desequilíbrio tipo dinâmico (secção 2.2.5.4). Conforme já tratado na secção
4.1.2, a equilibragem do rotor é conseguida adicionando massas correctivas em quaisquer dois
planos. Por conveniência, os dois planos são usualmente escolhidos como os planos extremos
do rotor, planos L e R na fig. 4.12.
A B
L R
Eixo
imaginário
VA
Eixo
real
3. Paragem do rotor e fixação de uma massa de teste no plano L. A introdução desta massa
de teste é caracterizada por um vector WL que regista, de acordo com (4.16), o valor da
massa e a posição angular desta relativamente à marca de referência escolhida para o
procedimento de equilibragem.
5. Paragem do rotor, remoção da massa de teste no plano L e fixação de outra massa de teste
agora no plano R. À semelhança do ponto (3), a introdução desta massa de teste é
caracterizada por um vector WR .
7. Paragem do rotor e remoção da massa de teste no plano R. Nesta fase estão recolhidos e
definidos os seguintes dados: 6 amplitudes de vibração, 6 ângulos de fase e duas massas
de teste. Estes dados podem ser introduzidos em programas informáticos específicos e
como resultado obtêm-se: duas massas de correcção e dois ângulos de correcção. No
Equilibragem Dinâmica de Rotores Rígidos 45
FCT-UNL Métodos de Equilibragem
V ''B , WL , WR .
Conforme entendido na secção 4.1.2, o desequilíbrio total presente num rotor pode ser
substituído por duas massas desequilibradoras. Designem-se essas massas por UL e UR,
situadas nos planos L e R da fig. 4.12, respectivamente. Em Rao (1995), o valor e a posição
destas massas é dado pelos seguintes vectores na forma complexa1:
ABR VA AAR VB
UL (4.17)
ABR AAL AAR ABL
ABL VA AAL VB
UR (4.18)
ABL AAR AAL ABR
em que:
V ' A VA
AAL (4.19)
WL
V 'B VB
ABL (4.20)
WL
V '' A VA
AAR (4.21)
WR
V ''B VB
ABR (4.22)
WR
Os vectores Aij podem ser considerados como vectores que reflectem o efeito do
1
Considerando dois vectores genéricos A a1 ia2 e B b1 ib2 , as formulas para a subtracção, divisão e
multiplicação complexas são:
A B a1 b1 ia 2 b2
A a1b1 a 2 b2 ia 2 b1 a1b2
B
b12 b2 2
AB a1b1 a 2 b2 ia 2 b1 a1b2
BL U L (4.23)
BR U R (4.24)
5. CONCLUSÕES
Neste texto de apoio foram apresentadas algumas noções teóricas básicas necessárias à
compreensão do problema da equilibragem, mas fundamentalmente foram apresentados os
métodos para proceder à equilibragem experimental de rotores rígidos utilizando um e dois
planos de correcção.
Apresentaram-se basicamente duas razões que fazem a conciliação entre os dois processos de
leitura da fase de modo a justificar os mesmos resultados finais obtidos. Por um lado, explica-
se que a equilibragem não depende do valor absoluto da fase, mas sim da diferença entre os
dois valores da fase medidos com e sem massa de teste. O valor desta diferença é igual em
ambos os processos de leitura. Por outro lado, explica-se que em ambos os processos ocorre o
mesmo fenómeno físico relacionado com o sentido da marcação do ângulo de correcção que
define a posição da massa de correcção.
BIBLIOGRAFIA
BEER, F.P. & JOHNSTON, E.R. (1998a), Mecânica Vectorial para Engenheiros – Estática,
McGraw-Hill.
BEER, F.P. & JOHNSTON, E.R. (1998b), Mecânica Vectorial para Engenheiros –
Dinâmica, McGraw-Hill.
HARRIS, C.M. & CREDE, C.E. (1988), Shock and Vibration Handbook, Third Edition,
McGraw-Hill.
MACCAMHAOIL, M., Static and Dynamic Balancing of Rigid Rotors, Bruel & Kjaer –
Application notes.
RAO, S.S. (1995), Mechanical Vibrations, Third Edition, Addison-Wesley Publishing
Company
ROQUE, A.A. (2002), Equilibragem Dinâmica no Local – Dos Conceitos à Prática, Dept.
Eng.ª Mecânica – I.S.E.L.