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quando não é ouvida nos seus pedidos exagerados e caprichosos, vindo na maioria
das vezes a partir para as vias de fato e as agressões verbais”.
O MM Juiz, em fls. 91, manteve o recebimento da denúncia,
designando Audiência Una de Instrução e Julgamento.
Durante a instrução criminal foram ouvidas, além da vítima e
do denunciado, a testemunha arrolada pela acusação, XXXXX XXXXXXX XXXXXXX.
A vítima XXXXXX XXXXXXX XXXXXX afirma não se lembrar
de detalhes do acontecido devido ao fato ter ocorrido há muito tempo, além de afirmar que
não desejaria que o acusado fosse punido, uma vez que ela já tem sua família, bem como
o Réu. Perguntada se seria verdadeira a declaração prestada anteriormente perante a
autoridade policial, de que o agressor teria lhe desferido chutes nas pernas e na altura do
quadril, que resultou na sua queda em via pública e consequente atropelamento, a vítima
simplesmente permaneceu calada.
A testemunha XXXXX XXXXXXX XXXXXXX, afirma que não
presenciou o ocorrido, pois quando chegou ao local a vítima já se encontrava lesionada.
Conta a testemunha que a vítima afirmava que o Réu seria o autor das lesões, e completa
que acredita que a vítima estaria enciumada “porque o acusado já estava com uma nova
namorada”. Por fim, relata a testemunha que não parece ter sido intenção do acusado
causar tal lesão na vítima, uma vez que a própria queria “retirar a queixa”.
Por fim, o Réu, em seu interrogatório, negou veementemente
as acusações que lhe estão sendo feitas, negando que tenha agredido a vítima com
chutes nas pernas e no quadril, o que teria resultado na queda e consequentemente no
atropelamento da ex-companheira.
Em Termo de Deliberação, esse r. Juízo determinou que as
partes apresentassem suas Alegações Finais na forma escrita.
Vieram os autos com vista ao Ministério Público para o
oferecimento de seu Memorial.
Ressalte-se preliminarmente que, relativamente ao crime de
lesão corporal, a Lei 11.340/06, popularmente conhecida como “Lei Maria da Penha”, em
seu art. 7º, inciso I, determina que se constitui como forma de Violência Doméstica e
Familiar contra a mulher a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda
sua integridade ou saúde corporal.
Nos ressalta a doutrina que “Ainda que a agressão não deixe
marcas aparentes, o uso da força física que ofenda o corpo ou a saúde da mulher constitui
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vis corporalis, expressão que define a violência física” (DIAS, Maria Berenice, A Lei
Mariada Penha na Justiça, 2013).
Nesse diapasão, a violência doméstica, como forma qualificada
do delito de lesões corporais, foi inserida no Código Penal em 2004 pela Lei n.
10.886/2004, que acrescentou o § 9º ao art. 129 do CP: “Se a lesão for praticada contra
ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou quem conviva ou tenha
convivido, ou ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou
de hospitalidade”.
No entanto, perante as provas colhidas durante o processo
judicial, ainda que esteja evidenciada a lesão sofrida pela vítima, comprovadas pelos
laudos periciais acostados nos autos, não se consegue caracterizar perfeitamente o nexo
de causalidade entre a conduta do acusado com o resultado, prejudicando, destarte, a
subsunção do fato concreto ao tipo penal em questão.
Ressalte-se que, mesmo a vítima, perante a Autoridade
Judicial, não confirmou o seu depoimento prestado perante a Autoridade Policial durante a
fase inquisitorial, permanecendo em silêncio quando arguida pelo Membro do Ministério
Público e afirmando para o MM Juiz que não se recordava das agressões sofridas.
Da mesma maneira, a testemunha arrolada pela acusação
afirma não ter presenciado a agressão, e adiante afirma que acredita que a vítima estaria
com ciúmes pelo fato do ex-companheiro já se encontrar com uma nova namorada.
Por fim, ainda que nos casos de Violência Doméstica, a
palavra da vítima deva ter peso decisivo no julgamento, vez que os crimes em questão, em
sua maioria, ocorrem na clandestinidade do lar, distante da presença de testemunhas, o
caso em tela ocorreu na verdade em uma via pública, em meio a um bloco de carnaval,
estando a vítima presente no local juntamente com amigos e, mesmo assim, não foi
apresentado, em momento algum, testemunhas que tenham presenciado a suposta
agressão perpetrada pelo acusado em desfavor da vítima.
Dessa forma, não se subsumindo os fatos descritos na
denúncia ao disposto no artigo 129,§§ 1º,inciso I e 10º do Código Penal c/c art. 5º, inciso III
c/c art. 7º, incisos I da Lei 11.340/2006, incabível a condenação de XXXXXX XXXXXXX
XXXXXXX.
Ante o exposto, o Ministério Público requer a absolvição do
réu XXXXXX XXXXXXX XXXXXXX pela prática do crime tipificado no art. 29,§§ 1º,inciso
I e 10º do Código Penal c/c art. 5º, inciso III c/c art. 7º, incisos I da Lei 11.340/2006.