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Introdução
América portuguesa e fazer uma comparação com algumas colônias lusitanas no continente
historiografia em geral será feita logo adiante, para demonstrar ao leitor a corrente
historiográfica seguida por esse texto. Uma definição conceitual das câmaras municipais irá
jogar luz sobre esse Ensaio, tal como uma apresentação de alguns aspectos característicos das
câmaras do Rio de Janeiro, Olinda e de algumas municipalidades de Minas Gerais. E, por fim,
a apresentação dos aspectos principais das colônias na África e Ásia, buscando uma breve
comparação.
Longe de querer propor uma revisão minuciosa sobre a historiografia do Brasil Colonial, é
proposto apenas pontuar o discurso replicado nesse texto. Podemos então, dividir a
historiografia em duas vertentes mais amplas: os estudiosos que não veem as câmaras como
de Abreu e autores clássicos da primeira metade do século XX; em segundo lugar, autores que
dialogam com a História Social e que analisam documentações produzidas em âmbito local,
Holanda2, Maria Fernanda Bicalho3, entre outros. Charles Boxer4 faz uma bela comparação
entre as colônias do Império luso e é um dos primeiros a considerar uma autonomia camarária.
inserem.
administrativos portugueses às sociedades sob seu domínio. Uma das formas de manter ligadas
às sociedades em todo o Império Luso, era a linguagem comum da disciplina católica e seus
como súditos do Rei. Essa disciplina possibilita a subordinação das autoridades e especialmente
à sua majestade se confundisse com o amor a Deus (FRAGOSO, GUEDES E KRAUSE, 2013,
P.35-39).
As câmaras municipais nada mais eram que instituições sob domínio local que aproximavam
variadas pela diversidade cultural dos povos súditos do Rei. O poder local dominava os cargos
das Câmaras, como será apresentado neste texto, havia um constante conflito de interesses por
fidalguia de nascimento com domínio sobre o mando local). Pertencer as câmaras era um atalho
1
PRADO Jr. Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. – 23ª ed. – 7ª reimpressão, São Paulo: Brasiliense, 1942.
2
HOLANDA, Sérgio Buarque (Dir.). História Geral da civilização brasileira: 1 – O processo de emancipação. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 1993.
3
BICALHO, Maria Fernanda. A cidade e o império: O rio de Janeiro no século XVIII. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2003.
4
BOXER, Charles R. O Império colonial português (1415-1825). Lisboa: Edições 70, 1981
para a conquista de prestígio social e de possíveis concessões de mercês e títulos dados pela
Coroa, além de ser ferramenta para obter vantagem política diante de outros concorrentes ao
Todos esses conceitos são baseados numa visão corporativista da sociedade, pois o rei era tido
como cabeça do corpo social e concedia uma certa autonomia para as sociedades periféricas ao
seu domínio. O conceito de autogoverno, quando falamos da atuação das câmaras, também é
usado em algumas ocasiões, ainda mais quando é pretendido valorizar a autonomia das
municipalidades.
Portanto, podemos afirmar que as Câmaras municipais em todo o Império Lusitano possuíam o
poder prático de gerenciamento dos munícipios e recolhimento de impostos para a Coroa, com
diferenças estruturais e administrativas, pois antes de tudo, era reflexo da sociedade local com
Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro é um exemplo ímpar da participação das câmaras como mediadora dos
interesses locais e monárquicos, tal como foi cenário de conflitos constantes na ocupação de
determinados grupos sociais nos cargos de poder nas câmaras, pois ao longo dos séculos XVII
importantíssimas as suas ações para o restante do Império Luso (BICALHO, 1998, p.1).
João IV concedeu o título de Leal a cidade do Rio de Janeiro, ampliando o poder da Câmara e
dando o direito à cidade de “em ausência do governador e do Alcaide-Mor daquela praça, faça
a Câmara da dia cidade o ofício de Capitão-Mor e tenha as chaves dela” (BICALHO, 1998,
p.3). Essa ação da Coroa mostra o quanto a Câmara do Rio de Janeiro foi adquirindo autonomia
administrativa com o passar dos anos e sua relevância no cenário mais amplo para Portugal. Tal
como a cidade do Rio se tornou a principal receptora de escravos e mercadorias europeias e
asiáticas, além de ser o maior escoador de riquezas para a Monarquia, se tornando a “pedra
das câmaras pelo Brasil no século XVIII, tentando a todo custo manter sua posição política na
elite nos cargos das câmaras e da sua autonomia na tomada de poder, tendo como justificativa
Perdurou por vários anos essa disputa de poderes de grupos sociais no âmbito municipal, tendo
também a formação do conceito de nobreza civil ou política, abarcando aqueles que embora de
mercês e cargos municipais, pois na constante falta de recursos dos cofres régios, estes
Essa ascensão gerou mais alguns conflitos com a nobreza da terra, acarretando em uma
Olinda
A Câmara de Olinda tinha como principal renda a administração de contratos, que por sua vez,
com a venda dos mesmos, eram pagas as despesas mais volumosas. Mas com suspeitas de má
administração do dinheiro e seu possível desvio para fins privados, a Coroa portuguesa decide
em 1727 retirar essa função de arrecadar impostos, passando para a provedoria que estava sob
5
Termo usado para designar como é dito no texto “pessoas hebreias”
controle da Fazenda Real (LISBOA, 2014, p.39). Essa atitude foi fruto de um longo processo
de perda da autonomia jurídica da instituição, tendo em seu processo a criação do cargo de juiz
de fora (ofício de atuação régia e que atuava como presidente das câmaras) e uma maior
Um dos fatores que favoreceu a retirada dessa arrecadação das câmaras municipais foi a falta
de pagamento da infantaria que protegia a cidade, tendo ficado sem receber salários, segundo o
governador, de oito a dez meses, utilizando-se do dinheiro para despesas inúteis (LISBOA,
2014, p.28 -30). Essa desorganização na utilização da renda arrecadada, teve vários episódios
que levavam à uma briga de poderes entre a câmara municipal, os ouvidores, o Governador e a
Monarquia Portuguesa.
Essa falta de pulso firme da Coroa permitia que a câmara administrasse suas contas de forma
praticamente independente, não fazendo uma prestação minuciosa dos rendimentos e gastos
que a instituição tinha. Câmara Coutinho foi o primeiro governador a ordenar uma prestação de
contas da Câmara de Olinda, apesar de haver um ordenamento para os governantes fazer essa
fiscalização dos rendimentos camarários (LISBOA, 2014, p.23). Houve muitos episódios de
desobediência de ordens régias no que resultava na prisão de oficiais das câmaras e seu
afastamento do cargo.
Concluindo, pode-se entender que o fato de não possuir mais o controle de alguns importantes
tributos coletados, foi uma relevante perda do poder econômico da Câmara de Olinda, pois
perdia a autonomia na escolha de onde investiria esse dinheiro na cidade, e, com isso, deixava
Monarquia Lusitana.
Minas Gerais
A extração aurífera em Minas Gerais durante o século XVII demandava uma administração
rigorosa para o recolhimento dos quintos do ouro e a fiscalização dessa atividade tão
migrando para Minas em busca de riquezas, a Coroa teve que ir moldando e construindo a
presentes. Essas tensões podem ser exemplificadas com a Guerra dos Emboabas, conflito
armado por cargos municipais envolvendo paulistas e forasteiros, do qual os paulistas saíram
Com funções variadas conforme as demandas das comunidades locais, as câmaras municipais,
como já foi exposto, tinham como principal função a tributação de produtos e provisões e a
manutenção dos locais públicos. Em geral, era composta por dois a seis vereadores, Juiz
ordinário, procurador, e demais oficias, como o alcaide e o almotacé (OLIVEIRA, 2014, p.104).
Com a diminuição da rentabilidade das minas no decorrer do tempo, a comunidade por meio
das câmaras municipais, solicitavam à Coroa uma revisão na cobrança dos quintos e no fim da
Capitação (imposto per capita sobre todos os proprietários de escravos). A Capitação recaía
sobre todos os povos, estimulando a prostituição como forma de obter dinheiro para pagar o
Erário. Depois de muito debate, em 1749 uma junta se reuniu em Minas para a discussão dessa
questão e no ano seguinte foi encerrado a Capitação, com o restabelecimento dos quintos.
Mesmo com o fim da Capitação os moradores sofriam com os quintos e pediam uma outra
forma de cobrança, com o argumento que as minas estavam praticamente esgotadas. Essas
questões ficaram em pauta até o fim do século, uma constante disputa envolvendo câmaras
Várias câmaras municipais como a de Mariana e a de Vila Rica escreveram à Coroa relatando
a decadência progressiva da Capitania no século XVIII, contando que pelo desgaste da extração
aurífera (comprometendo rios e as próprias minas) e a falta de núcleos familiares sólidos (a vida
errante dos moradores predominava nessas regiões), a comunidade não dava mais lucros como
Contudo, foi mostrado aqui como as câmaras tinham demandas nas questões tributárias
impostas pela Monarquia e que muitas vezes conseguiam uma negociação proveitosa para o
âmbito municipal, fazendo uma grande contraposição ao discurso historiográfico que não visa
Goa