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Exmo. Sr. Dr.

Juiz de Direito da 35ª Vara Cível da Comarca de Belo


Horizonte/MG.

PROCESSO Nº: 0823186-45.2019.8.12.0001-

AMANDA OLIVEIRA, representada por seu pai, PAULO DE OLIVEIRA, vem,


respeitosamente, perante V. Exa., por seu advogado abaixo assinado,
apresentar IMPUGNAÇÃO À CONTESTAÇÃO nos autos da Ação de Indenização
ajuizada em desfavor da SÃO GERALDO VIAÇÃO, pelos fatos e fundamentos a
seguir expostos:

I - DOS FATOS

A Autora Adquiriu, por intermédio de seu pai, PAULO DE OLIVEIRA,


antecipadamente, os bilhetes de passagem de ônibus nº 01126431, 01126430,
01126422, em 03/12/12, para retornar da cidade de Piúma/ES, onde a família
estava passando as férias, no dia 02/01/13, no horário de 18:35h.

No dia e horário da viagem o ônibus somente chegou à rodoviária de Piúma às


20:30h, portanto, com 02 duas de atraso, saindo com destino a Belo Horizonte e,
após meia hora de viagem, quebrou na estrada, em lugar ermo e sem iluminação,
perto da cidade de Cachoeiro de Itaperimim.

Diante do risco de ficar a noite na beira de estrada, bem como ausência de


solução por parte da Ré, os próprios pais da Autora, juntamente com os demais
passageiros, às 21:40h, pararam dois ônibus que passaram no local e
embarcaram para a cidade mais próxima, Cachoeiro do Itapemirim. Porém, sem as
bagagens, por não caberem nos ônibus, ficando essas no veículo que quebrou
para posterior transferência para o novo ônibus, “que logo chegaria para dar
continuidade à viagem até Belo Horizonte”, segundo informou o motorista da Ré.
Às 22:00h, a Autora e demais passageiros chegaram à rodoviária de Cachoeiro de
Itapemirim, carregando apenas os travesseiros e, apesar de tentarem contato com
a Ré, não lograram êxito, ficando todos até às 03:30h sem alimentação, água ou
banheiro, eis que as instalações sanitárias da rodoviária estavam danificadas,
tendo todos que se acomodar nos bancos, conforme bem demonstram as
fotografias de fls. 19/21.

Diante do descaso da Ré, os pais da Autora ligaram para a ANTT para registrar o
fato, conforme documento de fls. 17/18, registrando-o, também, no boletim de
ocorrências da Polícia Militar de nº 17163795, fls. 15/16.

Somente às 03:30h chegou o ônibus da Ré para dar continuidade à viagem.


Tratava-se de um veículo muito velho, pessimamente conservado, sem cinto de
segurança e muito sujo por dentro (veículo nº 4329), o que tornou a viagem de
volta extremamente desconfortável e sem segurança.

II – DA ALEGAÇÃO DE CASO FORTUITO

A Ré alegou em contestação a existência de caso fortuito, excludente da


responsabilidade civil, alegando ter ocorrido pane no ônibus por falha na injeção
eletrônica do mesmo, sem, contudo, juntar qualquer documento comprobatório
dessa alegação, não cumprindo seu ônus probandi, determinado pelo art. 333, II,
do Código de Processo Civil, registrando que foi requerida a inversão do ônus da
prova, instituto previsto no art. 6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor, como
facilitadora da defesa da Autora em juízo, em face da presumida vulnerabilidade
da mesma como consumidora, além de sua notória hipossuficiência.

O doc. 01, juntado pela Ré às fls. 70, descreve o veículo placa GPN-8096,
fabricado em 1995, que complementou o trajeto contratado pela Autora e demais
passageiros, tinha 18 anos de árduo uso, comprovando as alegações iniciais da
Autora de que o citado veículo era velho e mal conservado, o que colocou em risco
sua vida, além do desconforto na volta para casa.

Quanto ao doc. 03, fls. 71/73, informa a realização de um check-list pela Ré antes
da viagem. Contudo, tal documento não registra em seu corpo qualquer
informação de eventual veículo submetido à citada conferência, muito menos
assinatura do responsável pela tarefa ou registro de data, tratando-se apenas de
um formulário sem qualquer valor probatório, restando a ausência de prova da
revisão do veículo antes da realização da viagem contratada.
Ademais, a responsabilidade por “fato do serviço” é objetiva, segundo o art. 14, do
C.D.C., que somente é elidida se demonstrado a inexistência do defeito, culpa
exclusiva do consumidor ou de terceiro, não sendo o caso dos autos – art. 14, § 3º,
I e II.

Assim, todas essas alegações apresentadas na defesa da Ré somente reforçam a


falha na sua prestação de serviços de transportes de passageiros e seu descaso
com o consumidor, que culminou nos danos reclamados pela Autora.

Falar que “o horário descrito no bilhete de passagem se trata de uma


estimativa”, demonstra o descaso recorrente da Ré para com seus consumidores,
pois, não é crível que se determine o horário no bilhete passagem e, atendido este
pelo consumidor, tenha o mesmo de aguardar a boa vontade da Ré para
apresentar o veículo que executará a viagem. Quanta irresponsabilidade !

O Decreto nº 2591/98, que dispõe sobre a exploração, mediante permissão e


autorização, de serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de
passageiros e dá outras providências, no art. 29, dita ser direitos dos usuários, ser
transportado com pontualidade, segurança, higiene e conforto, devendo ser
indenizado pelo extravio de bagagem e, no caso de atraso, providenciar
acomodações, alimentação e assistência, o que foi ignorado pela Ré.

Art. 29 (...)

(...)

VI - ser transportado com pontualidade, segurança, higiene e conforto, do


início ao término da viagem;

(...)

XIII - ser indenizado por extravio ou dano da bagagem transportada no


bagageiro;

(...)

XV - receber, às expensas da transportadora, enquanto perdurar a situação,


alimentação e pousada, nos casos de venda de mais de um bilhete de
passagem para a mesma poltrona, ou interrupção ou retardamento da
viagem, quando tais fatos forem imputados à transportadora;
XVI - receber da transportadora, em caso de acidente, imediata e adequada
assistência;

III – DO DANO MORAL

Quanto ao dano moral denunciado, o Mestre SÉRGIO CAVALIERI FILHO ensina


que:

"Dano moral é a lesão de um bem integrante da personalidade; violação de bem


personalíssimo, tal como a honra, a liberdade, a saúde, a integridade psicológica,
causando dor, vexame, sofrimento, desconforto e humilhação à vítima, não
bastando para configurá-lo qualquer contrariedade. Nessa linha de princípio só
deve ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação que,
fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento psicológico do
indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem estar."
(FILHO, Sérgio Cavalieri. Programa de Responsabilidade Civil. 5ª edição, São
Paulo: Malheiros, 2004, p. 93/98).

Segundo ANTUNES VARELA:

"A gravidade do dano há de medir-se por um padrão objetivo (conquanto a


apreciação deva ter em linha de conta as circunstâncias de cada caso, e não à luz
de fatores subjetivos de uma sensibilidade particularmente embotada ou
especialmente requintada). Por outro lado, a gravidade apreciar-se-á em função da
tutela do direito: o dano deve ser de tal modo grave que justifique a concessão de
uma satisfação de ordem pecuniária ao lesado" (VARELA, Antunes. Das
Obrigações em Geral. 8ª, ed. Coimbra: Editora Almedina, 2000, p. 617).

Nem sempre se afigura possível adentrar no universo psíquico de uma pessoa


para dela exigir a comprovação de que certo ato lhe causou ou não um dano
dessa natureza. Assim, para a caracterização do dano moral, basta a
demonstração de uma situação que conduza à presunção da existência de uma
lesão a causar repercussão no universo psíquico do ofendido.

É o que preleciona HUMBERTO THEODORO JÚNIOR:

"Quanto à prova, a lesão ou dor moral é fenômeno que se passa no psiquismo da


pessoa e, como tal, não pode ser concretamente pesquisado. Daí porque não se
exige do autor da pretensão indenizatória que prove o dano extrapatrimonial.
Cabe-lhe apenas comprovar a ocorrência do fato lesivo, de cujo contexto o juiz
extrairá a idoneidade, ou não, para gerar dano grave e relevante, segundo a
sensibilidade do homem médio e a experiência da vida" (THEODORO JÚNIOR,
Humberto. Dano Moral. 4ª ed. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2001, p.09).

In casu, é inegável ter a conduta antijurídica da Ré provocando grande sofrimento


e dor à Autora, visto evidenciado o constrangimento que passou quando foi
deixada na beira da estrada, em lugar ermo, tendo ela e demais passageiros que
pedir socorro a outro ônibus que passava na rodovia, ficando, ainda, várias horas
na rodoviária, sem qualquer assistência, no relento, passando frio e fome, além do
risco de morte e assalto, completando a viagem num ônibus fabricado em 1995,
em péssimo estado de conservação, reiterando a falha na prestação do serviço,
inclusive com exposição dos passageiros a risco.

Portanto, demonstrado a conduta da Ré, o dano sofrido pela Autora e o nexo de


causalidade entre a conduta e o dano, deve ser imputada a responsabilidade civil
objetiva à Ré, culminando em sua condenação.

IV - DOS PEDIDOS

Diante do exposto, a Autora requer seja rejeitada a frágil argumentação


apresentada na defesa da Ré, julgando procedente o pedido inicial, condenando a
Ré também no pagamento das custas e honorários advocatícios.

Nestes termos, pede deferimento.


Belo Horizonte, 29 de janeiro de 2016.

ADVOGADO

OAB/MG

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