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As Naus de Verde Pinho De Manuel Alegre Eu vi a India, sem a ver. Distal de 8, Barton, ete De um lado 0 chio ¢ a raiz do outro o mar e seu cintico, Era uma vez um pats ‘encre 2 Espana ¢ 0 Atlintico, Tihs por rei D. Dinis que gostava de cantar. ‘Mas o reino era tio pouco que ee ps a perguntar — Ese o mar fosse um eaminho deste lado para o outro? E da flor de verde pinhe as erovas do seu trovar Viu-se entdo um grande monte Ti nto era 0 doce rio ‘com seu canto de encastar, ue entrava pelo mar dentro. Era 0 mar desconhecide i Jiinio havia horizonte com seus medos e gigantes nem eéu nem terra nem nada, onde ninguém tinha ido S6 se ouvia uivar o vento rnunce dantes nunca dantes que vinka com sua espada cepadeirar as brancas velas 86-0 vento € 0 nevacico até onde 0 olhar se perde ! © ume grande nuvem preta cera um pais & procura sobre as naus ¢ as caravelas. de caminhos por achar era um arco verde verde | cera um barco sobre o mar. fein i pau eamacta exguew a vor ¢ gritou ~ Eu sou da Nau Catrinets entre a noite e o céu azul : a eee Era o longe e a aventura De repente um marinheiro Entre a lua ¢ as estrelas naus como carcas de noz a baloigar sobre 0 medo. caravelas caravelas que partiam para o sul “ Sete noites sete dias E 6 se vin o penedo 86 se ouvia aquela vox do velho sempre a gritar: — Vereis a Agua a ferver. Quem quiser aqui passar no inferno vai arder. Ej nem lua nem estrelas 96 noite noite fechada caravelas caravelas cercadas de tudo ¢ nada. E de repente um trovio. HA aio era o vento a vivar fers a vor do Capitio aque se pos a comandar: — Seja a bem ou seja a mal eu juro que hei-de passar porque as naus de Portugal nfo sao naus de recuar. Eu sou Bartolomeu Dias nada me pode parar. Calaram-se as ventanias e218 a5 fllras do maz, S6 se ouvia resemungar fo vetho Perna de Pau, — Vais perder-te ¢ naufragar ninguém dobra 0 Cabo Mau. i ' { Mas 0 velho nfo cedia E enquanto o velho falava i pbs-se de nove a gritar: Ja Armada para dentro (onde o mar nio € 140 bravo) 4 pouco e pouco avangava. Levada por brando vento navegava além do Cabo. — Se navegares mais um dia -de achar outros cabos outros perigos 1 outros monstros hi — Ouve la Perna de Pau que esto na volta do mar. (disse 0 grande Capitéo) jf se foi o Cabo Mau ja se foi a nuvem preta ¢ nao vi nenhum papao nem me deitei a afogar. A tua Nau Catrineta Venci ventos ventanias também tu te vais calar. Ou seré que és 0 Diabo E naufragios ¢ castigos que vos hio-de castigar. — Sete noites sete dias que nfo paras de falar. é uma histéria de inventar. que me vem aqui tentar? | Perna de Pau dew um salto ce transformou-se em gigante, — Aqui tens um nove Cabo, Eu sou dono do mar alto fe no vais passar adiante — E ev sou marinheizo ¢ abro ccaminhos de par em par. Jédobrei o Cabo Mas ‘you passar este papi. ‘Ouve li Perna de Pau ex trago no coragio tum pais « navegar € nfo hd nenhum gigante © meu destina & chegar que me faca recuse cada ver mais adiante Nem que fosses Rubicto mesmo assim eu passacia Tu és 26 uma visto uum cabo de fantasia Nao meres medo nenbum. Entio o monstro sumiu inchou inchou e fez PUM como se fosse um balio. E munca mais ninguém vin aguele Perna de Pau. Loge o Capitio subiu A gives da sua nau: = Veaham monstros bruxarias ao me deixo enfeitisar Eu sou Bartolomen Dias fe juro que hei-de passar. E as naus seguiram em freate “sempre sempre a navegar para além da linha azul que é no muito imaginar. ‘Assim fore ao outro lado oe 40 ali ao longe a0 lt to cabo nunca dabrado pedgahes nomen ainguém aCe “ ea ub pais que a6 hi as ag Gps de nov mas ale. De ita em ilha ¢ onda em onda viram que a terra é redonds € que 0 mar no é medonho, Caravelas earavelae feitas de trova e de sono cascas de nox pequeninas levavam nas brances velas ‘ pendio das cinco quinas, Umas foram para 0 Oriente ‘outeas foram para o Sul tumas ao Brasil chegaram outrs 8 nda exo Jato. Todas ao mundo mostraram gue 0 mar no € um papio. ‘Mas o primeico 2 passer foi o grande Capitio [Nao mais as falsas verdades aque velhos dovtores diziam, Contra o medo eas tempestades guiadas pelas estrelas navegavam ¢ aprendiam tum saber de experiéncia. Caravelas caravelas do outro lado da auséncia Para além do nunca dantes onde nascem sol e vento porque monstros e gigantes 56 08 hé no pensamento, © Cabo da Boa Esperanga envreo sunca vitor ox. E sempre que mais adiante nfo howver porto de abrigo tens 0 astrolabio ¢ o quadrante passards além do perigo. Lé onde a noite apresenta forma e corpo de diabo veneers mar ¢ tormenta passards além do Cabo. Veras entao 0 caminho do outro lado de aqui e uma nau de verde pinho gue te leva além de ti. Dezembro 93 / Margo 94 Acurpa, Lisson, Tenenine

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