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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE ARQUITETURA

DEPARTAMENTO DE ANÁLISE CRÍTICA E HISTÓRICA DA ARQUITETURA E DO


URBANISMO DISCIPLINA ARQUITETURA BRASILEIRA E REVITALIZAÇÃO DE
EDIFÍCIOS E CIDADES II - ACR029: PROF. DRª VANESSA BRASIELEIRO

A Identidade Cultural como um possível elemento de trabalho


Proposições acerca do manejo de Paisagens Culturais

Aluno: Diego Nonato Reis


2009049785

Belo Horizonte, Outubro de 2019


A Identidade Cultural como um possível elemento de trabalho
Proposições acerca do manejo de Paisagens Culturais

Resumo

A Identidade Cultural é um conjunto vivo, das relações sociais e patrimônios simbólicos,


historicamente compartilhados, por uma sociedade. Trata-se de um conceito de trânsito intenso e grande
complexidade. Elemento de profunda importância na construção da Paisagem Cultural e, possível
ferramenta, nos processos de preparação e proteção frente as mudanças da atualidade.
O Pertencimento desenvolve, através da expressão das identidades dos Atores Sociais, profundas
relações de mutuas influências com a Paisagem Cultural.
Esta trata-se de uma, breve, proposta de possível metodologia, com a finalidade de apresentar
meios de trabalho e apontar caminhos de Desenvolvimento Sustentável e preservação da Paisagem Cultural.

Palavras Chaves: Identidade Cultural, Paisagem Cultural, Globalização, Atores Sociais, Pertencimento
Introdução

A conceituação, de alguns compositores da Paisagem Cultural, e um entendimento, acerca de suas


relações, se fazem necessários, para uma melhor compreensão dos processos transformadores que nossa
sociedade enfrenta.
O entendimento da Paisagem Cultural é a busca pela compreensão dos meios de funcionamento de
um organismo, complexo e mutável.
A Paisagem Cultural é o meio natural ao qual o ser humano
imprimiu as marcas de suas ações e formas de expressão, resultando em
uma soma de todos os testemunhos resultantes da interação do humano com
a natureza e, reciprocamente, da natureza com o humano, passíveis de
leituras espaciais e temporais. (IPHAN et. al., 2007, p. 02).
A consideração da Paisagem Cultural como bem patrimonial, começa a tomar forma a partir da
Convenção do Patrimônio Mundial da UNESCO, em 1972.
A Paisagem Cultural é formada, também, por uma dimensão humana e, porta, em si, Matrizes
Culturais de uma sociedade.
Entendemos as Matrizes Culturais como marcas incrustadas na experiência social dos sujeitos, que
são ativadas nas interações sociais. Mistura-se com as novas experiências e os novos movimentos. São
modos de fazer na vida do sujeito, sejam estes individuais ou coletivos.
Estas Matrizes Culturais atualizam-se no (des)encontro cultural da interação social –
comunicacional e/ou midiatizada – e são também nestes encontros que se modificam, desterritorializam-se
para reterritorializarem-se.
As Matrizes Culturais se constituem por via das mediações sociais, e, ao mesmo tempo, são elas
mesmas mediações para os fazeres sociais e na construção de novas identidades.
Portadoras dos saberes e fazeres tradicionais, as Matrizes Sociais encontram nos conhecimentos
tradicionais, um de seus maiores baluartes através, da transferência de meios e modos não ditos, muitas
vezes.
Estes Conhecimentos referem-se a saberes, inovações e práticas das comunidades constituidoras de
uma Paisagem Cultural, representam um registro, vivo, das formas de interação entre a comunidade social e
o ambiente que a recebeu. Esses Conhecimentos Tradicionais são frutos da luta pela sobrevivência e da
experiência adquirida ao longo dos séculos pelas comunidades. Adaptados às necessidades locais, culturais e
ambientais e transmitidos entre os Atores Sociais, construtores de uma Paisagem Cultural, geração ap ós
geração.
Os Conhecimentos Tradicionais são elementos fundamentais; formadores do tecido identitário, da
Paisagem Cultural, apresentando-se nos modos e interações com a sociedade e a natureza, participando
ativamente no processo construtor da Identidade Cultural da paisagem.
A Identidade Cultural é um sistema de representação das relações entre indivíduos e grupos, que
envolve o compartilhamento de patrimônios comuns como a língua, a religião, as artes, o trabalho, os
esportes, as festas e o ambiente físico, entre outros. É um processo dinâmico, de construção continuada, que
lança mão de várias fontes no tempo e no espaço. Na atual conjuntura, de modernidade liquida, possui
característica moldável e passível de ser trabalhada, podendo ser utilizada como mote de fortalecimento dos
sentimentos de pertencimento e preservação da Paisagem Cultural da qual faz parte.
A diversidade cultural, e as expressões dessa diversidade, devem ser buscadas e garantidas, tendo
como norte o fato de que a cultura é sempre dinâmica. Preservar a diversidade ante o impacto avassalador de
um mundo globalizado, que chega na velocidade das conexões, é um grande desafio que devemos enfrentar.
A busca pela preservação de paisagens e o incentivo a expressões identitárias de cunho artístico e
sociabilizante no meio físico permitem criar um ambiente do qual o individuo se sinta parte e, o qual, queira
preservar.
O território é um conceito teórico, e um objeto empírico, que pode ser analisado a partir de uma
perspectiva interdisciplinar. Tido como um conceito, que existe, porque é, culturalmente, uma representação,
trata-se de uma espacialização social e uma rede de relacionamentos que a sustentam. Política e
economicamente é uma das mais fortes ferramentas conceituais na demarcação de poder e de intercâmbio
social.
O território se abre à concorrência das várias disciplinas e, flexível, adapta-se às novas condições
em que a globalização e as mudanças climáticas colocam o espaço, como uma dimensão que leva a mesma
preponderância da dimensão temporal.
O território torna-se a reconstrução polissêmica do espaço, sujeita a contínua transformação,
resultante das interações entre os seres humanos, a cultura, e os frutos da revolução, que existe no mundo do
conhecimento, em todos os cantos do globo.
As marcas das intervenções feitas, como expressão da Identidade Cultural, nas territorialidades do
meio físico tratam-se de um Patrimônio constituinte daquela Paisagem Cultural. Uma herança a ser deixada,
memória física da história daquele grupo.
O Patrimônio Cultural é o conjunto de todos os bens, manifestações populares, tradições, cultos e
outros elementos, tanto materiais ou imateriais, que, por sua ancestralidade, importância e relevâncias
históricas e culturais, específicas a uma sociedade, adquirem valor único e relativo senso de permanência.
Assim, afirmou o ex-ministro da Cultura do Brasil, Gilberto Gil Moreira:
Pensar em patrimônio agora, é pensar com transcendência, além
das paredes, além dos quintais, além das fronteiras. É incluir as gentes, os
costumes, os sabores, os saberes. Não mais somente as edificações
históricas, os sítios de pedra e cal. Patrimônio também é o suor, o sonho, a
dança, o jeito, a ginga, a energia, vital, e todas as formas de espiritualidade
da nossa gente. (MOREIRA, 2008 in pronunciamento).
O patrimônio cultural configura-se, no processo cultural, composto pela interação entre
sentimentos, pensamentos e anseios provenientes da figura humana. É através das suas manifestações que tal
interação é externalizada. O resultado desse processo cultural ocorre de maneiras material e imaterial: casas,
ruas, objetos, cidades, modo de viver, de se relacionar, manifestações musicais, literárias, conhecimentos
tradicionais, religiosidades e etc.
O Patrimônio é herança histórica, construída e validada pelos indivíduos de uma mesma identidade,
ao compartilharem seu território e se adaptarem às condições da natureza. Através do Patrimônio os
indivíduos tem suas historias conectadas, suas lembranças, validadas por seus semelhantes e pela paisagem.
O Patrimonio é a memoria ativa de historias e ritos sociais de um grupo, inscritos no ambiente e na
identidade daqueles que dela compartilham.
Pertencer e se identificar com um grupo é tão necessário ao ser humano pois somos seres sociais.
Territórios e impérios se esfacelam quando o senso de pertencimento deixa de existir.
O senso de pertencimento nasce no desenrolar da história contada e das marcas, simbólicas
específicas, deixadas, por seus atores, no espaço físico.
O sentimento de pertencimento, segundo Tajfel (1981), pode ser gerado a partir de três
pressupostos:
a) Como um continuum, indo do comportamento interpessoal ao comportamento intergrupal;
b) Como um ato, mas, sobretudo, um processo social e que se operacionaliza no interior do indivíduo,
c) No espaço das relações individuais e no espaço das relações institucionais.
É, portanto, um processo intra-individual, interindividual e intergrupal e, como tal, um processo
que não ocorre no vazio, mas num certo contexto histórico, onde podem ocorrer fusões ou conflitos e,
portanto, pressupõe certa organização social, estrutural e de legitimidade e estabilidade.
Um dos grandes desafios enfrentados na contemporaneidade, além dos efeitos das mudanças
climáticas, é a Globalização e seus efeitos. Muntinta Bauman(2008, p.48), sociólogo polonês estudioso da
globalização e seus efeitos, afirma que ''todos estamos fadados, a contragosto ou não, aos desígnios da
globalização
Nesse mundo globalizado [...] o indivíduo se mutila, se reduz,
fragmenta, apaga, anula. Transforma e em títere, autômato, zumbi. Fica
solitário, no mapa do mundo, membro de uma vasta multidão de solitários;
espectadores, audiência, público, massa. Está disperso nas cartografias,
postulados e mapas com os quais se desenha o atlas mundial
Contudo, é rumo às tradições, que o individuo se volta a fim de encontrar respaldo frente as
incertezas de um mundo tao imediatista e sem bases fixas.
Bauman cunha o “Modernidade Líquida” para referir-se ao clímax de globalização que o humano
vive atualmente, no qual, tudo o que é sólido não se desmancha no ar, mas passa por uma perda da solides e
liquefação.
A velocidade do fluxo de informações e uma diminuição do valor dado às tradições, em nome de
uma cultura descartável e consumista. Os meios de produção, massificados, são características dos processos
normatizadores globalizadores; promovidos, em grande parte, através dos comerciais de publicidade, de
grandes conglomerados empresariais, em nome da acumulação de capital de forma destrutiva dos recursos
naturais.
Uma das possibilidades de trabalhar contra essas ameaças é através do Desenvolvimento
Sustentável
''A definição mais aceita para Desenvolvimento Sustentável é o
desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem
comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras
gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.
Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor
meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a
conservação ambiental’''.1

Uma nova forma de desenvolvimento econômico se apresenta; uma maneira que leva em conta o
meio ambiente e pensa nos futuros Atores Sociais que continuarão a desenvolver os enredos típicos de sua
Paisagem Cultural.
O Desenvolvimento Sustentável apresenta a possibilidade de valorizar, de fato, qualidade em vez
de quantidade, com a diminuição do uso de matérias-primas e produtos, investindo em processos de
expressão advindos de técnicas tradicionais, inerentes a uma sociedade, compositora da Paisagem Cultural,
com o aumento da reutilização e da reciclagem.
O desenvolvimento econômico é vital para todas as paisagens culturais, contudo, o caminho a
seguir, não pode ser um distanciado das relações entre humanidade e meio natural. Mesmo porque não seria
possível a manutenção de um modelo como este, adotado pela globalização, diante de um mundo que tanto
cresce, com fortes mudanças climáticas e no qual o número de indivíduos e sua expectativa de vida
aumentam a cada dia mais.
''Atender às necessidades da atual geração, sem comprometer a capacidade das futuras gerações
em prover suas próprias demandas.''2

Interações e intervenções – Alguns desafios da atualidade

Os processos fluidos da modernidade, cada dia mais, tocados pelos avanços da globalização
capitalista. Comerciais de Publicidade e as ideias de consumismo introduzidos nas vidas de todos os
indivíduos que fazem parte do mundo, esta grande aldeia global.
Tais elementos provocam drásticas mudanças no campo da identidade de uma Paisagem Cultural.
Uma fuga do humano de si mesmo, em busca de respostas e umas felicidades inexistentes; frutos
da insatisfação advinda de seu insucesso de atingir as expectativas, construídas sobre a vida irreal mostrada
pela mídia. Neste mundo, globalizado, alcançar o topo da “cadeia capitalista” é um sonho impossível para a
1
Definição surgida na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas
para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação
ambiental. disponivel in
"http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel/"
2
IDEN 2.
maioria esmagadora dos indivíduos, parte deste sistema socioeconômico, que se apoia em uma massificação
dos meios de produção e planificação das formas de viver.
Tal processo, de achatamento cultural e aumento das diferenças sociais, apresenta problemas à
conservação das paisagens culturais; tão diversas compositoras do manto que é a sociedade humana.

A Identidade Cultural diante destes desafios

O sentimento de pertencimento só pode ser gerado quando o individuo se sente participante,


necessário em certo sentido e interventor construtor da paisagem que o cerca. Tal movimento gera um
encontro dos elementos intra-individual e extraindividual, necessários para gerar o sentimento de
pertencimento.
O ato de transformar a paisagem, seja ele por meios físicos ou de ressignificação, é sempre uma
expressão da Identidade Cultural de um povo e geradora da Paisagem Cultural.
O ato de se adaptar e mudar ao meio ambiente é o que nos diferencia dos outros animais do planeta.
As formas de interação entre os humanos e a natureza é a base da construção de nosso mundo. A diversidade
de climas e biomas e, consequentemente, meios de interação, gera uma diversidade de paisagens culturais
formadas pelo somatório entre humano e ambiente, ameaçadas pelas mudanças climáticas, que
desequilibram ecossistemas e geram dificuldades nos processos de vivencias diárias.
Com o advento da globalização os territórios dominados, por um mesmo modelo cultural e
submetidos a um processo de achatamento e adaptação a uma cultura dominante, aumentam. O ser humano
urge por respostas, que não podem ser dadas por este modelo social. Na busca por elas acaba por voltar-se a
suas raízes a fim de sentir-se pertencente a um grupo com história e ideais semelhantes aos seus.
A construção de um sentimento de pertencimento necessita de um território físico onde a identidade
possa se manifestar livremente, dando-lhe outras significações e formas sociais e ambientais em harmonia
com a Paisagem Natural. Tal sentimento está intimamente ligado à intervenção no ambiente e a participação
no seu processo de preservação. Este fato ocorre pois o individuo reconhece, naquele ambiente, marcas e
símbolos que compartilha com seus semelhantes.
Meios para fortalecer a Identidade Cultural, e fomentar este sentimento de pertencimento, relativos
a uma Paisagem Cultural se dão por maneiras diversas; aqui tratamos de uma abordagem através da
Identidade Cultural, por meio do incentivo de manifestações culturais locais, promoção de seus produtos
típicos e, se necessário, intervenções físicas nos pontos notáveis da paisagem.
A transformação da Paisagem Cultural em uma das “protagonistas” do processo de formação da
identidade dos indivíduos, que dela compartilham, trata-se de um fator indispensável; somente possível
através da expressão e da criação de espaços capazes de acolher as manifestações culturais de seus atores.
O espaço de manifestação do individuo apresenta-o ao mundo e, esta imagem do individuo,
projetada na sociedade aliada a uma Paisagem Cultural, tende a fortalecer os laços de pertencimento a uma
territorialidade e incentivar o os processos de preservação daquela paisagem e de suas peculiaridades.
O Panorama da Constante mudança

A compreensão de que uma cultura é um ente vivo se faz necessária por todos. Compreender que a
globalização avança a passos rápidos, e as mudanças climáticas chegarão, nos prepara para traçar planos e
realizar ações de fortalecimento e valorização de uma Paisagem Cultural.
Incentivar os meios tradicionais locais de produção, de forma sustentável e desenvolver
mecanismos de proteção e conservação dos conhecimentos tradicionais, associados àquela Paisagem
Cultural, são formas de valorizar esta identidade.
A criação de uma cadeia econômica, através da qual seja incentivada e promovida a produção e
venda de produtos e serviços típicos, promove meios eficazes de integrar sustentavelmente esta Paisagem
Cultural ao mercado capitalista.
Uma vez respeitada, esta identidade, seus conhecimentos tradicionais valorizados, seus costumes
incentivados; o desejo de proteção da mesma por seus Atores Sociais será cada vez maior, uma vez que
reconhecerão a importância daquela Paisagem Cultural como palco de seus dramas pessoais.

Uma proposição de trabalho

O processo de conhecimento de uma Identidade Cultural é, em si, o processo de observação e


convivência com a mesma. Seus atos, conhecimentos tradicionais, patrimônios e as significações a eles
dadas, só podem ser percebidos, em sua maioria, indiretamente, através da observação de suas manifestações
na Paisagem Cultural.
O reconhecimento, preservação e reforço dos elementos espaciais tidos como monumentos pela
comunidade, com a proteção dos processos e saberes tradicionais, reforçam traços identitários presente nos
Atores Sociais daquela Paisagem Cultural.
Cresce no individuo a influência de determinadas matrizes compositoras da sua Identidade
Cultural, causada pelo reconhecimento e valorização de determinados símbolos únicos àquela Paisagem
Cultural. Este sentimento desperta uma narrativa, com provas na paisagem, transformando-o em agente
social e ressignificando o meio ambiente no qual esta inserido, criando uma Territorialidade na qual se
reconhece.
Deve-se levar, sempre, em consideração as opiniões dos Atores Sociais envolvidos. Verificar as
necessidades e hábitos ligados a Paisagem Cultural, perceber as relações com a paisagem e mapear os pontos
notáveis. Definir as potencialidades ambientais e verificar coerências e incoerências entre o ambiente e os
processos identitários da comunidade. Tudo isso a fim de ser capaz de promover incentivo a manifestação e
fortalecimento da Identidade Cultural de uma paisagem frente aos desafios da contemporaneidade.

Possíveis Meios, comentários sobre uma proposta metodológica:


Entrevistas informais e formais acerca das interações sociais e ambientais na área, bem como, o
pedido de apontamento de pontos notáveis e a busca pela história daquela Paisagem Cultural, realizada com
os Atores Sociais envolvidos com a paisagem. Estes são meios de levantar alguns dados relevantes acerca da
Identidade de uma Paisagem Cultural
Pesquisa Histórica através de documentos, e por via oral acerca do surgimento e transformação
daquela Paisagem Cultural; busca por conhecimentos tradicionais e processos produtivos locais e sua
interação com o meio ambiente do qual faz parte.
A Observação em locus é indispensável para a compreensão dos traços identitários presentes nos
costumes e na paisagem, como esses Atores Sociais trabalham com os recursos naturais daquela área, como
trabalham para a preservação ou transformação da paisagem a qual compõem. São perguntas que somente
podem ser resolvidas através de observação.
A analise e catalogação dos elementos antrópicos e as interações partilhadas com a paisagem traz
uma dimensão dos processos de intervenção humana no ambiente natural a fim de criar e ressignificar a
paisagem natural em Paisagem Cultural.
A partir da coleta dos dados, os mesmos, devem ser utilizados para os processos de análise,
catalogação de informações e conhecimentos e mapeamento dos pontos notáveis da área e locais de interesse
cultural, apontados pelos Atores Sociais envolvidos naquela paisagem.
Finda esta fase, faz-se necessário verificar as necessidades e possibilidades de adaptações no
ambiente físico, a fim de promover espaços onde a paisagem possa permitir uma manifestação da sua
Identidade Cultural.
Dentro do campo da gestão empresarial existe um processo conhecido como matriz SWOT,
Trata-se uma análise das forças, oportunidade, fraquezas e ameaças de um determinado sujeito.
Trazida para este contexto, a fim de fortalecer a Identidade de uma Paisagem Cultural e promover
Desenvolvimento Sustentável. A matriz FOFA tem como intenção analisar as matrizes sociais locais que são
mais pungentes na formação de identidade daquela Paisagem Cultural, demonstrando assim as Forças. As
Fraquezas seriam, os elementos compositores da Paisagem Cultural que sofrem maior risco de
desaparecimento ou dano irreparável. Oportunidades, são possibilidades criadas, pela conjuntura do meio
aliadas a Forças encontradas no sujeito. O estudo das Ameaças, por sua vez, se apresenta quando é possível
verificar conjunturas externas que corroborem com as Fraquezas dessa Paisagem Cultural para perda de sua
identidade.
Através da aplicação deste processo, é possível se traçar um Plano de Comunicação e Ações a fim
de proteger, fortalecer, difundir e preparar para os desafios da contemporaneidade uma Paisagem Cultural.
A partir destes processos, o fomento à criação de associações e cooperativas destinadas à produção
sustentável de objetos típicos e preservação dos conhecimentos tradicionais, bem como o desenvolvimento
de atividades destinadas ao turismo sustentável, se mostram como um caminho para a criação de
oportunidades econômicas viáveis.
Desta forma, através do incentivo ao envolvimento ativo na comunidade, a partir de seu
reconhecimento identitário, é possível preparar esta Paisagem Cultural para enfrentar os processos
globalizadores capitalistas e as turbulências climáticas, frutos de uma sociedade voraz, de produção em
massa e achatamento cultural.

Identidade, um caminho para o Pertencimento

Sabendo-se que o sentimento de pertencimento é profundamente ligado ao espaço, a criação de


uma Paisagem Cultural, que atenda as necessidades de locais onde manifestações espontâneas possa ocorrer
é premente. A conservação e, possíveis, adaptações, do meio físico, devem ser feitas, a fim de tornar
convidativo e auxiliar nos processos de expressão da Identidade Cultural daquela sociedade.
A abertura para a participação do individuo, na constante recriação do meio, permite pontos de
expressão e marcas no espaço, a demarcação de territórios e o aumento do sentimento de pertencimento e
compartilhamento de experiências com outros indivíduos de sua comunidade.
Parcerias com o Poder Publico e da Iniciativa Privada devem ser buscadas. Através do fomento,
governamental e da iniciativa privada, à criação de associações e cooperativas por parte dos próprios atores,
medidas de proteção, fortalecimento e produção de bens por parte da Paisagem Cultural poderiam ser
implementadas. Tal incentivo é de grande importância no processo de fortalecimento, validação e
manifestação da Identidade Cultural de uma paisagem.
A criação de feiras, e concessão de isenções fiscais, por parte do poder publico, e incentivos
monetários, ou através de matéria prima, por parte do setor privado, devem ser incentivados e realizados a
fim de aumentar a divulgação da identidade desta Paisagem Cultural.
Através da valorização da identidade de uma Paisagem Cultural, seu entendimento sobre si é
transformado e o meio ambiente, ressignificado. Novas possibilidades se apresentam, novos caminhos
econômicos e sociais se descortinam. Advindos das tradições, trabalhados de forma sustentável e preparados
para as mudanças futuras.

Referencias

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02.10.2019.
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IANNI, Octávio.Os enigmas da modernidade-mundo. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2003.

Bibliografia Consultada

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DONADIEU,Pierre « Le paysage, les paysagistes et le développement durable : quelles perspectives ? »,
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