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CAPÍTULO XIII

A crença nos Espíritos dos mortos


entre os selvagens e os bárbaros

O fato de que em todos os tempos e em todos os povos esteve sempre


viva a crença em algo invisível, que sobrevive à morte do corpo e que,
sob o influxo de condições especiais, pode manifestar-se aos nossos
sentidos, torna-nos propensos a aceitar a hipótese espiritista.
Que nossos mais antigos progenitores acreditavam, se não na imorta-
lidade da alma, ao menos em sua existência temporária depois da morte, é
opinião comum dos antropólogos, os quais observam, com Figuier,270 que
os víveres, as lâmpadas, as armas, as moedas os objetos de ornamento
depositados, até nas épocas pré-históricas, nas tumbas, ao lado de cadáve-
res, mostram claramente a crença em uma vida futura.
E essa mesma crença nós a encontramos ainda junto de todos os povos
selvagens, mesmo entre aqueles que têm de Deus uma ideia extremamen-
te vaga, ou não na têm de maneira alguma.
Letourneau, citado por Baudi de Vesme, naquela sua ótima Storia
dello Spiritismo,271 da qual me hei valido largamente na compilação do
presente capítulo, escreve na sua Sociologie d’après l’Etnographie (livro
III, cap. XVII); “Entre as raças inferiores, junto dos habitantes da Terra
do fogo, entre os tasmânios, os australianos e os hotentotes não existem
templos, nem padres, nem ritos. Nessa fase primitiva do desenvolvimento
humano, a religiosidade consiste em crer na existência de Espíritos
antropomorfos e zoomorfos que habitam as rochas, as grutas, as árvores,
etc., e a ideia de comunicar-se com estes seres não ocorre a ninguém.
“Um pouco mais tarde, o homem, tornado mais inteligente, raciocina-
dor, chega naturalmente a pensar que, com genuflexões, dádivas, etc.,
chegará a pesar nas decisões desses deuses feitos à sua imagem. Então se
edifica o templo e aparece o sacerdote: a princípio, o templo é extrema-
mente humilde, é uma cabana qual as outras; sendo os deuses imaginados
como seres errantes muito análogos aos homens, se lhes oferece uma
casa onde repousem.”
Com o tempo, e principalmente antes disso, aparece o sacerdote que,
de boa ou má-fé, pretende ter o privilégio de comunicar com os Espíritos,
de servir de intermediário entre eles e os homens.

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