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Intelectuais e raça - o estrago

incorrigível
E as tragédias causadas pelos oportunistas

Há tantas falácias ditas sobre raça, que é difícil escolher qual é a mais ridícula.
No entanto, uma falácia que costuma se sobressair é aquela que afirma haver
algo de errado com o fato de que as diferentes raças são representadas de
forma numericamente desproporcional em várias instituições, carreiras ou
em diferentes níveis de renda e de feitos empreendedoriais.

Cem anos atrás, o fato de pessoas de diferentes antecedentes raciais


apresentarem taxas de sucesso extremamente discrepantes em termos de
cultura, educação, realizações econômicas e empreendedoriais era visto como
prova de que algumas raças eram geneticamente superiores a outras.

Algumas raças eram consideradas tão geneticamente inferiores, que a


eugenia foi proposta como forma de reduzir sua reprodução. O antropólogo
Francis Galton chegou a exortar "a gradual extinção de uma raça inferior".

E as pessoas que diziam essas coisas não eram meros lunáticos extremistas.
Muitos deles eram Ph.D.s oriundos de várias universidades de ponta,
lecionavam nas principais universidades do mundo e eram
internacionalmente reputados.

Reitores da Universidade de Stanford e do MIT estavam entre os vários


acadêmicos defensores de teorias sobre inferioridade racial — as quais eram
aplicadas majoritariamente aos povos do Leste Europeu e do sul da Europa,
uma vez que, à época, era dado como certo o fato de que os negros eram
inferiores.

E este não era um assunto que dividia esquerda e direita. Os principais


proponentes de teorias sobre superioridade e inferioridade genética eram
figuras icônicas da esquerda, de ambos os lados do Atlântico.

John Maynard Keynes ajudou a criar a Sociedade Eugênica de


Cambridge. Intelectuais adeptos do socialismo fabiano, como H.G. Wells e
George Bernard Shaw, estavam entre os vários esquerdistas defensores da
eugenia.

Foi praticamente a mesma história nos EUA. O presidente democrata


Woodrow Wilson, como vários outros progressistas da época, eram sólidos
defensores de noções de superioridade e inferioridade racial. Ele exibiu o
filme O Nascimento de uma Nação, que glorificava a Ku Klux Klan, na Casa
Branca, e convidou vários dignitários para a sessão.
Tais visões dominaram as primeiras duas décadas do século XX.

Mudando de lado - mas não para melhor

Agora, avancemos para as últimas décadas do século XX. A esquerda política


desta era já havia se movido para o lado oposto do espectro das questões
raciais. No entanto, ela também considerava que as diferenças de sucesso
entre grupos étnicos e raciais era algo atípico, e clamava por uma explicação
única, vasta e arrebatadora.

Desta feita, em vez de os genes serem a razão predominante para as


diferenças nos êxitos pessoais, o racismo se tornou o motivo que explicava
tudo. Mas o dogmatismo continuava o mesmo. Aqueles que ousassem
discordar, ou até mesmo questionar o dogma predominante em ambas as
eras, era tachado de "sentimentalista" no início do século XX e de "racista" na
era multicultural.

Tanto os progressistas do início do século XX quanto os novos progressistas


do final do século XX partiram da mesma falsa premissa, a saber: que há algo
de estranho quando diferentes grupos raciais e étnicos alcançam diferentes
níveis de realizações.

No entanto, o fato é que minorias raciais e étnicas sempre foram as


proprietárias — ou gerentes — de mais da metade de todas as principais
indústrias de vários países. Dentre estas minorias bem-sucedidas, temos os
chineses na Malásia, os libaneses na África Ocidental, os gregos no Império
Otomano, os bretões na Argentina, os indianos em Fiji, os judeus na Polônia,
os espanhóis no Chile — entre vários outros.

Não apenas diferentes grupos raciais e étnicos, como também nações e


civilizações inteiras apresentaram níveis de realizações extremamente
distintos ao longo dos séculos. A China do século XV era muito mais avançada
do que qualquer país europeu. Com o tempo, no entanto, os europeus
ultrapassaram os chineses — e não há nenhuma evidência de ter havido
alterações nos genes de nenhuma destas civilizações.

Dentre os vários motivos para estes diferentes níveis de realizações está algo
tão simples quanto a idade.

A média de idade na Alemanha e no Japão é de mais de 40 anos, ao passo que


a média de idade no Afeganistão e no Iêmen é de menos de 20 anos. Mesmo
que as pessoas destes quatro países tivessem absolutamente o mesmo
potencial intelectual, o mesmo histórico, a mesma cultura — e os países
apresentassem rigorosamente as mesmas características geográficas —, o
fato de que as pessoas de determinados países possuem 20 anos a mais de
experiência do que as pessoas de outros países ainda seria o suficiente para
fazer com que resultados econômicos e pessoais idênticos sejam virtualmente
impossíveis.
Acrescente o fato de que diferentes raças se desenvolveram em diferentes
arranjos geográficos, os quais apresentaram oportunidades e restrições
extremamente diferenciadas ao seu desenvolvimento, e as conclusões serão
as mesmas.

No entanto, a ideia de que diferentes níveis de realização são coisas atípicas


— se não sinistras — tem sido repetida ad nauseam pelos mais diferenciados
tipos de pessoas, desde o demagogo de esquina até as mais altas eminências
do Supremo Tribunal.

Nunca houve igualdade de realizações grupais

Quando finalmente reconhecermos que as grandes diferenças de realizações


entre as raças, nações e civilizações têm sido a regra, e não a exceção, ao longo
de toda a história escrita, restará ao menos a esperança de que haja
pensamentos mais racionais — e talvez até mesmo alguns esforços
construtivos para ajudar todas as pessoas a progredirem.

Até mesmo um patriota britânico como Winston Churchill certa vez disse que
"Devemos Londres a Roma" — um reconhecimento de que foram os
conquistadores romanos que criaram a mais famosa cidade britânica, em uma
época em que os antigos bretões eram incapazes de realizar esta façanha por
conta própria.

Ninguém que conhecesse os iletrados e atrasados bretões daquela era poderia


imaginar que algum dia os britânicos criariam um império vastamente maior
do que o Império Romano — um império que abrangeria um quarto de toda
a área terrestre do globo e um quarto dos seres humanos do planeta.

A história apresenta vários exemplos dramáticos de ascensão e queda de


povos e nações, por uma variada gama de motivos conhecidos e
desconhecidos. Mas há um fenômeno que não possui confirmação histórica,
um fenômeno que, não obstante esta ausência de exemplos práticos, é hoje
presumido como sendo a norma: igualdade de realizações grupais em um
dado período do tempo.

As conquistas romanas tiveram repercussões históricas por séculos após a


queda do Império Romano. Um dos vários legados da civilização romana foi o
alfabeto latino, o qual gerou versões escritas dos idiomas da Europa ocidental
séculos antes de os idiomas do Leste Europeu serem transformados em letras.
Esta foi uma das várias razões por que a Europa ocidental se tornou mais
desenvolvida que a Europa Oriental em termos econômicos, educacionais e
tecnológicos.

Enquanto isso, as façanhas de outras civilizações — tanto da China quanto do


Oriente Médio — ocorreram muito antes das façanhas do Ocidente, embora a
China e o Oriente Médio posteriormente viessem a perder suas vantagens.
Há tantas reviravoltas documentadas ao longo da história, que é impossível
acreditar que um único fator sobrepujante seja capaz de explicar tudo, ou
quase tudo, do que já aconteceu ou do que está acontecendo. O que realmente
se sabe é que raramente, para não dizer nunca, ocorreram façanhas iguais
alcançadas por diferentes pessoas ao mesmo tempo.

No entanto, o que mais temos hoje são grupos de interesse e movimentos


sociais apresentando estatísticas — que são solenemente repercutidas pela
mídia — alegando que, dado que os números não são aproximadamente
iguais para todos, isso seria uma prova de que alguém foi discriminatório com
outro alguém.

Se os negros apresentam diferentes padrões ocupacionais ou diferentes


padrões gerais em relação aos brancos, isso já basta para despertar grandes
suspeitas entre os sociólogos — ainda que diferentes grupos de brancos
sempre tenham apresentado diferentes padrões de realizações entre si.

Quando os soldados americanos foram submetidos a exames mentais durante


a Primeira Guerra Mundial, aqueles homens de ascendência alemã pontuaram
mais alto do que aqueles de ascendência irlandesa, sendo que estes
pontuaram mais alto do que aqueles que eram judeus. Carl Brigham, o
pioneiro do campo da psicometria, disse à época que os resultados dos
exames mentais do exército tendiam a "desmentir a popular crença de que o
judeu é altamente inteligente".

Uma explicação alternativa é que a maioria dos imigrantes alemães se mudou


para os EUA décadas antes da maioria dos imigrantes irlandeses, os quais por
sua vez se mudaram para os EUA décadas antes da maioria dos imigrantes
judeus. Alguns anos depois, Brigham viria a admitir que a maioria dos mais
recentes imigrantes havia sido criada em lares onde o inglês não era a língua
falada, e que suas conclusões anteriores, em suas próprias palavras, "não
possuíam fundamentos".

Nessa época, os judeus já estavam pontuando acima da média nacional dos


exames mentais, e não abaixo.

Se não há igualdade geral de resultados, por que o espanto?

Disparidades entre pessoas do mesmo grupo, em qualquer área que seja, não
são obviamente uma realidade imutável. Mas uma igualdade geral de
resultados raramente já foi testemunhada em qualquer período da história —
seja em termos de habilidades laborais ou em termos de taxas de alcoolismo
ou em termos de quaisquer outras diferenças — entre aqueles vários grupos
que hoje são ajuntados e classificados como "brancos".

Sendo assim, por que então as diferenças estatísticas entre negros e brancos
produzem afirmações tão dogmáticas — e geram tantas ações judiciais e
trabalhistas por discriminação — sendo que a própria história mostra que
sempre foi comum que diferentes grupos seguissem diferenciados padrões
ocupacionais ou de comportamento?

Um dos motivos é que ações judiciais não necessitam de nada mais do que
diferenças estatísticas para produzir vereditos, ou acordos fora de tribunais,
no valor de vultosas somas monetárias. E o motivo de isso ocorrer é porque
várias pessoas aceitam a infundada presunção de que há algo de estranho e
sinistro quando diferentes pessoas apresentam diferentes graus de êxito
pessoal.

O desejo de intelectuais de criar alguma grande teoria que seja capaz de


explicar padrões complexos por meio de algum simples e solitário fator
produziu várias ideias que não resistem a nenhum escrutínio, mas que não
obstante têm aceitação generalizada — e, algumas vezes, consequências
catastróficas — em vários países ao redor do mundo.

A teoria do determinismo genético, que predominou no início do século XX,


levou a várias consequências desastrosas, desde a segregação racial até o
Holocausto. A teoria atualmente predominante é a de que algum tipo de
maldade explica as diferenças nos níveis de realizações entre os vários grupos
étnicos e raciais.

Se os resultados desta teoria hoje em voga gerariam tantas mortes quanto no


Holocausto é uma pergunta cuja resposta requereria um detalhado estudo
sobre a história de rompantes letais contra determinados grupos odiados por
causa de seu sucesso.

Estes rompantes letais incluem a homicida violência em massa contra os


judeus na Europa, os chineses no sudeste asiático, os armênios no Império
Otomano, e os Ibos na Nigéria, entre outros. Exemplos de chacinas em massa
baseadas em classes sociais e voltadas contra pessoas bem-sucedidas vão
desde os extermínios stalisnistas do kulaks na União Soviética até a limpeza
promovida por Pol Pot de pelo menos um terço da população do Camboja pelo
crime de serem pessoas cultas e de classe média, crime este que era
evidenciado por sinais tão tênues quanto o uso de óculos.

A perseguição liderada pelos intelectuais aos bem-sucedidos

Minorias que se sobressaíram e se tornaram mais bem-sucedidas do que a


população geral são aquelas cujo progresso provavelmente em nada está
ligado ao fato de terem ou não discriminado as maiorias politicamente
dominantes. No entanto, foram exatamente estas minorias que atraíram as
mais violentas perseguições ao longo dos séculos e dos países ao redor do
mundo.

Todos os negros que foram linchados durante toda a história dos EUA não
chegam ao mesmo número de homicídios cometidos em apenas um ano
contra os judeus na Europa, contra os armênios no Império Otomano ou
contra os chineses no sudeste asiático.

Há algo inerente aos sucessos de determinados grupos que inflama as massas


em épocas e lugares tão distintos. O que seria? Esse fenômeno inflama não
apenas as massas, como também leva a genocídios cometidos por governos,
como os da Alemanha nazista ou o regime de Pol Pot no Camboja. Podemos
apenas especular as razões, mas não há como fugir desta realidade.

Aqueles grupos que ficam para trás frequentemente culpam seu atraso nas
malfeitorias cometidas por aqueles grupos mais bem-sucedidos. Dado que a
santidade não é comum a nenhum ramo da raça humana, é óbvio que nunca
haverá escassez de pecados a serem mencionados, inclusive a arrogância e a
insolência daqueles que calham de estar no topo em um determinado
momento.

Mas a real pergunta a ser feita é se esses pecados — reais ou imaginários —


são de fato o motivo destes diferentes níveis de êxitos pessoais.

O problema é que os intelectuais — pessoas de quem normalmente


esperaríamos análises racionais que se contrapusessem à histeria das massas
— frequentemente sempre estiveram na vanguarda daqueles movimentos
que promovem a inveja e o ressentimento contra os bem-sucedidos. Tal
comportamento é especialmente perceptível naquelas pessoas que possuem
diplomas mas que não possuem nenhuma habilidade economicamente
significativa que lhes permita obter aquele tipo de recompensa que elas
esperavam ou julgavam ter o direito de auferir.

Tais pessoas sempre se destacaram como líderes e seguidoras de grupos que


promoveram políticas antissemitas na Europa entre as duas guerras
mundiais, o tribalismo na África, e as mudanças sociais no Sri Lanka, um país
que, outrora famoso por sua harmonia intergrupal, se rebaixou, por influência
de intelectuais, à violência étnica e depois se degenerou em uma guerra civil
que durou décadas e produziu indescritíveis atrocidades.

Intelectuais sempre estiveram por trás da inflamação de um grupo contra


outros, promovendo a discriminação e a violência física em países tão
díspares quanto Índia, Hungria, Nigéria, Tchecoslováquia e Canadá.

Tanto a teoria do determinismo genético como sendo a causa dos diferentes


níveis de realizações pessoais quanto a teoria da discriminação como o
motivo destas diferenças — ambas contraditórias e criadas por intelectuais
— geraram apenas polarizações raciais e étnicas. O mesmo pode ser dito da
ideia de que uma dessas teorias tem de ser a verdadeira.

Essa falsa dicotomia de que uma delas tem de ser a verdadeira deixa aos
grupos mais bem-sucedidos duas opções: ou eles se assumem arrogantes ou
se assumem culpados criminalmente. Da mesma forma, deixa aos grupos
menos exitosos a opção entre acreditar que sempre foram inerentemente
inferiores durante toda a história ou que são vítimas da inescrupulosa
maldade de terceiros.

Quando inumeráveis fatores fazem com que a igualdade de resultados seja


virtualmente impossível, reduzir estes fatores a uma questão de genes ou de
maldade é a fórmula perfeita para se gerar uma desnecessária e perigosa
polarização, cujas consequências frequentemente são escritas em sangue ao
longo das páginas da história.

Multiculturalismo

Dentre as várias e ignaras ideias a respeito de grupos raciais e étnicos que


polarizaram as sociedades durante séculos e ao redor de todo o mundo,
poucas foram mais irracionais e contraproducentes do que os atuais dogmas
do multiculturalismo.

Aqueles intelectuais que imaginam que, ao utilizar uma retórica multicultural


que redefine e até mesmo revoga o conceito de atraso, estarão ajudando
grupos raciais e étnicos que ficaram para trás estão, na realidade, levando
estas pessoas para um beco sem saída.

O multiculturalismo é um tentador paliativo aplicado àqueles grupos que


ficaram para trás porque ele simplesmente afirma que todas as culturas são
iguais, ou "igualmente válidas", em algum sentido vago e sublime. De acordo
com este dogma, as características culturais de todas as etnias e raças seriam
apenas diferentes — nem melhores nem piores.

No entanto, tomar emprestadas características particulares de outras


culturas — como os algarismos arábicos que substituíram os algarismos
romanos, mesmo nas culturas ocidentais oriundas de Roma — implica que
algumas características não são simplesmente diferentes, mas sim melhores,
inclusive os números utilizados.

Algumas das mais avançadas culturas de toda a história pegaram


emprestados comportamentos e características de outras culturas; e isso pelo
simples fato de que até hoje nenhuma coleção única de seres humanos foi
capaz de criar as melhores respostas para todas as questões da vida.

Todavia, dado que os multiculturalistas veem todas as culturas como sendo


iguais ou "igualmente válidas", eles não veem nenhuma justificativa para as
escolas insistirem, por exemplo, que as crianças negras aprendam seu idioma
materno. Em vez disso, cada grupo é estimulado a se apegar ferreamente à
sua própria cultura e a se orgulhar de suas próprias glórias passadas, reais ou
imaginárias.

Em outras palavras, membros de grupos minoritários que são atrasados


educacionalmente e economicamente devem continuar se comportando no
futuro como sempre se comportaram no passado — e, se eles não
conseguirem os mesmos resultados dos outros, então a culpa é da sociedade.
Essa é a mensagem principal do multiculturalismo.

George Orwell certa vez disse que algumas ideias são tão insensatas, que
somente um intelectual poderia acreditar nelas. O multiculturalismo é uma
dessas ideias. A intelligentsia sempre irrompe em indignação e ultrajes a
qualquer "diferença" ou "disparidade" de resultados educacionais,
econômicos ou outros — e denuncia qualquer explicação cultural para esta
diferença de resultados como sendo uma odiosa tentativa de "culpar a
vítima".

Não há dúvidas de que algumas raças ou até mesmo nações inteiras foram
vitimadas por terceiros, assim como não há dúvida de que câncer pode causar
morte. Porém, isso é muito diferente de dizer que as mortes podem
automaticamente ser imputadas ao câncer. Você pode pensar que intelectuais
seriam capazes de fazer essa distinção. Mas muitos não são.

Ainda assim, intelectuais se veem a si próprios como amigos, aliados e


defensores das minorias raciais, ao mesmo tempo em que empurram as
minorias para a estagnação cultural. Isso permite à intelligentsia se
congratular e se lisonjear de que estão ao lado dos anjos contra as forças do
mal que estão conspirando para manter as minorias oprimidas.

Por que pessoas com altos níveis de capacidade mental e de talentos retóricos
se entregam a este tipo de raciocínio deturpado é um mistério. Talvez seja
porque elas não conseguem abrir mão de uma visão social que é
extremamente lisonjeira para eles próprios, não obstante quão deletéria tal
visão possa ser para as pessoas a quem elas alegam estar ajudando.

O multiculturalismo, assim como o sistema de castas, encurrala e amarra as


pessoas naquele mesmo segmento cultural e social no qual elas nasceram. A
diferença é que o sistema de castas ao menos não alega beneficiar aqueles que
estão na extremidade inferior.

O multiculturalismo não serve apenas aos interesses ególatras dos


intelectuais; ele serve também aos interesses de políticos que têm todos os
incentivos para promover uma sensação de vitimização — e até mesmo de
paranóia — entre grupos de cujos votos eles precisam em troca de apoio
material e psicológico.

A visão multicultural do mundo também serve aos interesses daqueles que


estão na mídia e que prosperam ao explorar os melodramas morais. O mesmo
pode ser dito de todos os departamentos universitários voltados para estudos
étnicos e sociais, bem como de toda a indústria de assistentes sociais, de
especialistas em "diversidades" e da ampla gama de oportunistas que
prosperam ao fazer proselitismo racial.
Os maiores perdedores de toda essa história são aqueles membros das
minorias raciais que se permitem ser conduzidos para esse beco sem saída do
ressentimento e da raiva, mesmo quando há várias outras avenidas de
oportunidades disponíveis. E todos nós perdemos quando a sociedade fica
polarizada.

A redistribuição é uma ideia


economicamente insensata

Todas aquelas pessoas que falam


com assombrosa desenvoltura Redistribuição de renda
sobre redistribuição de renda
normalmente agem como se os indivíduos de uma sociedade fossem meros
objetos inertes, os quais podem ser comandados e controlados como peças
em um tabuleiro de xadrez, com o objetivo de servirem de peões para a
realização de algum projeto grandioso.
Porém, se considerarmos que os seres humanos são dotados de livre-arbítrio
e têm respostas instintivas e particulares a toda e qualquer política adotada
pelo governo, então simplesmente não faz sentido pressupor que as políticas
do governo terão o efeito pretendido.

A história do século XX está repleta de exemplos de países que se propuseram


a redistribuir riqueza e acabaram redistribuindo pobreza. Os países
comunistas foram um exemplo clássico, mas não são de modo algum o único
exemplo.

De acordo com a teoria defendida pelos adeptos da redistribuição de


renda, confiscar a riqueza das pessoas mais bem-sucedidas e redistribuí-la
para os mais pobres fará com que toda a sociedade se torne mais próspera.
Entretanto, quando a União Soviética confiscou a riqueza de fazendeiros bem-
sucedidos, os alimentos se tornaram escassos e o resultado foi a inanição. Sob
o regime de Stalin, durante a década de 1930, o número de mortos de fome foi
praticamente igual ao número de mortos no Holocausto de Hitler na década
de 1940.

Por que isso acontece? Realmente, não é nada complicado. No mundo real, só
é possível confiscar a riqueza que já existe em um dado momento. Não é
possível confiscar a riqueza futura; e é menos provável que essa riqueza
futura seja produzida quando as pessoas se derem conta de que ela também
será confiscada.

Os agricultores da União Soviética, tão logo perceberam que o governo iria


confiscar uma grande parte da colheita futura, simplesmente reduziram a
quantidade de tempo e esforço investidos no cultivo de suas plantações. Eles
passaram a abater e a comer animais ainda jovens, os quais, em circunstâncias
normais, seriam mantidos e alimentados até se tornarem prontos para a
venda.

Na indústria, no comércio e nos serviços, as pessoas também não são objetos


inertes. Os industriais, por exemplo, e ao contrário dos agricultores, não estão
amarrados ao solo de nenhum país. O russo Igor Sikorsky, pioneiro da
aviação de seu país, pôde levar a sua experiência para os EUA e, com isso,
produzir seus aviões e helicópteros a milhares de quilômetros de distância de
sua terra natal. Os financistas são ainda menos amarrados à sua terra,
especialmente hoje, quando vastas somas de dinheiro podem ser enviadas
eletronicamente, a um simples toque no computador, a qualquer parte do
mundo.

No que mais, se as políticas confiscatórias podem produzir repercussões


contraproducentes em uma ditadura, elas são ainda mais difíceis de lograr
algum êxito em uma democracia.
Uma ditadura pode repentinamente se apossar do que quiser. Já uma
democracia — pelo menos nas mais avançadas, nas quais as instituições são
fortes — exige que primeiro haja discussões e debates públicos. Aqueles que
sabem que serão o alvo preferencial dos futuros confiscos podem imaginar o
que está por vir e, consequentemente, agir de acordo — normalmente,
enviando seu dinheiro para o exterior ou simplesmente saindo do país.

Entre os ativos mais valiosos de qualquer país estão o conhecimento, as


habilidades práticas e a experiência produtiva — aquilo que os economistas
chamam de "capital humano". Quando pessoas bem-sucedidas e com um
grande capital humano deixam o país — seja voluntariamente, seja por causa
de governos hostis ou por causa de multidões bárbaras que foram
intelectualmente excitadas por demagogos que exploram a inveja —, haverá
um estrago duradouro na economia desse país.

As políticas confiscatórias de Fidel Castro fizeram com que vários cubanos


bem-sucedidos fugissem para a Flórida, vários deles deixando grande parte
da sua riqueza física para trás. Mesmo refugiados e completamente
destituídos, eles cresceram e voltaram a prosperar na Flórida, tornando-se
uma das comunidades mais ricas daquele estado. Já a riqueza que eles
deixaram para trás em Cuba não impediu que as pessoas de lá se tornassem
indigentes no governo de Fidel. A riqueza duradoura que os refugiados
levaram consigo era o seu capital humano. A riqueza material que ficou para
trás foi consumida e não foi replicada.

Todos nós já ouvimos o velho ditado que diz que dar a um homem um peixe
irá alimentá-lo por apenas um dia, ao passo que ensiná-lo a pescar irá
alimentá-lo por toda a vida. Os partidários da redistribuição querem dar a
cada indivíduo um peixe para assim deixá-lo dependente do governo, sempre
à espera de mais peixes no futuro.

Se esses "redistribucionistas" realmente fossem sérios, o que eles iriam


querer distribuir seria a capacidade de pescar, ou a capacidade de ser
produtivo de outras maneiras. O conhecimento é uma das poucas coisas que
podem ser distribuídas para todas as pessoas sem que isso reduza o montante
detido por algumas.

Isso serviria perfeitamente aos interesses dos pobres. Mas não serviria aos
interesses de políticos que querem exercer o poder, e que recorrem à
redistribuição para obter os votos de pessoas que maliciosamente se
tornaram dependentes deles.

Para as várias pessoas que não querem pensar mais detidamente,


a redistribuição é uma política humana e decente. E gera muitos votos.

A mentalidade da esquerda e seus estragos


sobre os mais pobres

Quando adolescentes criminosos e assassinos são rotulados de "jovens


problemáticos" por pessoas que se identificam como sendo de esquerda, isso
nos diz mais sobre a mentalidade da própria esquerda do que sobre esses
criminosos violentos propriamente ditos.
Raramente há alguma evidência de que os criminosos sejam meramente
'problemáticos', e frequentemente abundam evidências de que eles na
realidade estão apenas se divertindo enormemente ao cometer seus atos
criminosos sobre terceiros.

Por que então essa desculpa já arraigada? Por que rotular adolescentes
criminosos de "jovens problemáticos" e supor que maníacos homicidas são
meros "doentes"?

Pelo menos desde o século XVIII a esquerda vem se esforçando para não lidar
com o simples fato de que a maldade existe — que algumas pessoas
simplesmente optam por fazer coisas que elas sabem de antemão serem
erradas. Todo o tipo de desculpa, desde pobreza até adolescência infeliz, é
utilizada pela esquerda para explicar, justificar e isentar a maldade.

Todas as pessoas que saíram da pobreza ou que tiveram uma infância infeliz,
ou ambas, e que se tornaram seres humanos decentes e produtivos, sem
jamais praticarem atos violentos, são ignoradas pela esquerda, que também
ignora o fato de que a maldade independe da renda e das origens, uma vez
que ela também é cometida por gente criada na riqueza e no privilégio, como
reis, conquistadores e escravocratas.

Logo, por que a existência do mal sempre foi um conceito tão difícil para ser
aceito por muitos da esquerda? O objetivo básico da esquerda sempre foi o
de mudar as condições externas da humanidade. Mas e se o problema for
interno? E se o verdadeiro problema for a perversidade dos seres humanos?

Rousseau negou esta hipótese no século XVIII e a esquerda a vem negando


desde então. Por quê? Autopreservação. Afinal, se as coisas que a esquerda
quer controlar — instituições e políticas governamentais — não são os
fatores definidores dos problemas do mundo, então qual função restaria à
esquerda?

E se fatores como a família, a cultura e as tradições exercerem mais influência


positiva do que as novas e iluminadas "soluções" governamentais que a
esquerda está constantemente inventando? E se a busca pelas "raízes da
criminalidade" não for nem minimamente tão eficaz quanto retirar
criminosos de circulação? As estatísticas ao redor do mundo mostram que as
taxas de homicídio estavam em declínio durante as décadas em que
vigoravam as velhas e tradicionais práticas tão desdenhadas
pela intelligentsia esquerdista. Já quando as novas e brilhantes ideias da
esquerda ganharam influência, no final da década de 1960, a criminalidade e
violência urbana dispararam.

O que houve quando ideias antiquadas sobre sexo foram substituídas, ainda
na década de 1960, pelas novas e brilhantes ideias da esquerda, as quais
foram introduzidas nas escolas sob a alcunha de "educação sexual" e que
supostamente deveriam reduzir a gravidez na adolescência e as doenças
sexualmente transmissíveis? Tanto a gravidez na adolescência quanto as
doenças sexualmente transmissíveis vinham caindo havia anos. No entanto,
esta tendência foi subitamente revertida na década de 1960 e atingiu
recordes históricos.

Desarmamento

Uma das mais antigas e mais dogmáticas cruzadas da esquerda é aquela em


prol do desarmamento. Aqui, novamente, o enfoque está nas questões
externas — no caso, nas armas.
Se as armas de fato fossem o problema, então leis de controle de armas
poderiam ser a resposta. Mas se o verdadeiro problema são aquelas pessoas
malvadas que não se importam com a vida de outras pessoas — e nem muito
menos para as leis —, então o desarmamento, na prática, fará apenas com que
pessoas decentes e cumpridoras da lei se tornem ainda mais vulneráveis
perante pessoas perversas.

Dado que a crença no desarmamento sempre foi uma grande característica da


esquerda desde o século XVIII, em todos os países ao redor do mundo, seria
de se imaginar que, a esta altura, já haveria incontáveis evidências dando
sustentação a esta crença. No entanto, evidências de que o desarmamento de
fato reduz as taxas de criminalidade em geral, ou as taxas de homicídio em
particular, raramente são mencionadas por defensores do controle de
armas. Simplesmente se pressupõe, de passagem, que é óbvio que leis mais
rigorosas de controle de armas irão reduzir os homicídios e a criminalidade.

No entanto, a crua realidade não dá sustento a esta pressuposição. É por isso


que são os críticos do desarmamento que se baseiam em evidências
empíricas, todas elas magnificamente coletadas nos livros "More Guns, Less
Crime", de John Lott, e "Guns and Violence", de Joyce Lee Malcolm.
[Veja nossos artigos sobre desarmamento]. Mas que importância têm os fatos
perante a visão inebriante e emotiva da esquerda?

Pobres

A esquerda sempre se arrogou a função de protetora dos "pobres". Esta é uma


de suas principais reivindicações morais para adquirir poder político. Porém,
qual a real veracidade desta alegação?

É verdade que líderes de esquerda em vários países adotaram políticas


assistencialistas que permitem aos pobres viverem mais confortavelmente
em sua pobreza. Mas isso nos leva a uma questão fundamental: quem
realmente são "os pobres"?

Se você se baseia em uma definição de pobreza inventada por burocratas,


como aquela que inclui um número de indivíduos ou de famílias abaixo de
algum nível de renda arbitrariamente estipulado pelo governo, então
realmente é fácil conseguir estatísticas sobre "os pobres". Elas são
rotineiramente divulgadas pela mídia e gostosamente adotadas por
políticos. Mas será que tais estatísticas têm muita relação com a realidade?

Houve um tempo em que "pobreza" tinha um significado concreto — uma


quantidade insuficiente de comida para se manter vivo, ou roupas e abrigos
incapazes de proteger um indivíduo dos elementos da natureza. Hoje,
"pobreza" significa qualquer coisa que os burocratas do governo, que
inventam os critérios estatísticos, queiram que signifique. E eles têm todos os
incentivos para definir pobreza de uma maneira que abranja um número
suficientemente alto de pessoas, pois isso justifica mais gastos
assistencialistas e, consequentemente, mais votos e mais poder político.

Em vários países do mundo, não são poucas as pessoas que são consideradas
pobres, mas que, além de terem acesso a vários bens de consumo que outrora
seriam considerados luxuosos — como televisão, computador e carro —, são
também muito bem alimentadas (em alguns casos, até mesmo apresentam
sobrepeso). No entanto, uma definição arbitrária de palavras e números
concede a essas pessoas livre acesso ao dinheiro dos pagadores de impostos.

Esse tipo de "pobreza" pode facilmente vir a se tornar um modo de vida, não
apenas para os "pobres" de hoje, mas também para seus filhos e netos.

Mesmo quando esses indivíduos classificados como "pobres" têm o potencial


de se tornar membros produtivos da sociedade, a simples ameaça de perder
os benefícios assistencialistas caso consigam um emprego funciona como
uma espécie de "imposto implícito" sobre sua renda futura, imposto este que,
em termos relativos, seria maior do que o imposto explícito que incide sobre
o aumento da renda de um milionário.

Em suma, as políticas assistencialistas defendidas pela esquerda tornam a


pobreza mais confortável ao mesmo tempo em que penalizam tentativas de
se sair da pobreza. Exceto para aqueles que acreditam que algumas pessoas
nascem predestinadas a serem pobres para sempre, o fato é que a agenda da
esquerda é um desserviço para os mais pobres, bem como para toda a
sociedade. Ao contrário do que outros dizem, a enorme quantia de dinheiro
desperdiçada no aparato burocrático necessário para gerenciar todas as
políticas sociais não é nem de longe o pior problema dessa questão.

Se o objetivo é retirar pessoas da pobreza, há vários exemplos encorajadores


de indivíduos e de grupos que lograram este feito, e nos mais diferentes países
do mundo.

Milhões de "chineses expatriados" emigraram da China completamente


destituídos e quase sempre iletrados. E isso ocorreu ao longo dos
séculos. Independentemente de para onde tenham ido — se para outros
países do Sudeste Asiático ou para os EUA —, eles sempre começaram lá
embaixo, aceitando empregos duros, sujos e frequentemente perigosos.

Mesmo sendo frequentemente mal pagos, estes chineses expatriados sempre


trabalhavam duro e poupavam o pouco que recebiam. Era uma questão
cultural. Vários deles conseguiram, com sua poupança, abrir pequenos
empreendimentos comerciais. Por trabalharem longas horas e viverem
frugalmente, eles foram capazes de transformar pequenos negócios em
empreendimentos maiores e mais prósperos. Eles se esforçaram para dar a
seus filhos a educação que eles próprios não conseguiram obter.
Já em 1994, os 57 milhões de chineses expatriados haviam criado
praticamente a mesma riqueza que o bilhão de pessoas que viviam na China.

Variações deste padrão social podem ser encontradas nas histórias de judeus,
armênios, libaneses e outros emigrantes que se estabeleceram em vários
países ao redor do mundo — inicialmente pobres, foram crescendo ao longo
de gerações até atingirem a prosperidade. Raramente recorreram ao
governo, e quase sempre evitaram a política ao longo de sua ascensão social.

Tais grupos se concentraram em desenvolver aquilo que economistas


chamam de "capital humano" — seus talentos, habilidades, aptidões e
disciplina. Seus êxitos frequentemente ocorreram em decorrência daquela
palavra que a esquerda raramente utiliza em seus círculos refinados:
"trabalho".

Em praticamente todos os grupos sociais e étnicos, existem indivíduos que


seguem padrões similares para ascenderem da pobreza à prosperidade. Mas
o número desses indivíduos em cada grupo faz uma grande diferença para a
prosperidade ou a pobreza destes grupos como um todo.

A agenda da esquerda — promover a inveja e o ressentimento ao mesmo


tempo em que vocifera exigindo ter "direitos" sobre o que outras pessoas
produziram — é um padrão que tem se difundido em vários países ao redor
do mundo.

Esta agenda raramente teve êxito em retirar os pobres da pobreza. O que ela
de fato logrou foi elevar a esquerda a cargos de poder e a posições de
autoexaltação — ao mesmo tempo em que promovem políticas com
resultados socialmente contraproducentes.

A arrogância

É difícil encontrar um esquerdista que ainda não tenha inventado uma nova
"solução" para os "problemas" da sociedade. Com frequência, tem-se a
impressão de que existem mais soluções do que problemas. A realidade, no
entanto, é que vários dos problemas de hoje são resultado das soluções de
ontem.

No cerne da visão de mundo da esquerda jaz a tácita presunção de que


pessoas imbuídas de elevados ideais e princípios morais — como os
esquerdistas — sabem como tomar decisões para outras pessoas de forma
melhor e mais eficaz do que estas próprias pessoas.

Esta presunção arbitrária e infundada pode ser encontrada em praticamente


todas as políticas e regulamentações criadas ao longo dos anos, desde
renovação urbana até serviços de saúde. Pessoas que nunca gerenciaram
nem sequer uma pequena farmácia — muito menos um hospital — saem por
aí jubilosamente prescrevendo regras sobre como deve funcionar o sistema
de saúde, impondo arbitrariamente seus caprichos e especificidades a
médicos, hospitais, empresas farmacêuticas e planos de saúde.

Uma das várias cruzadas internacionais empreendidas por intrometidos de


esquerda é a tentativa de limitar as horas de trabalho de pessoas de outros
países — especialmente países pobres — em empresas operadas por
corporações multinacionais. Um grupo de monitoramento internacional se
autoatribuiu a tarefa de garantir que as pessoas na China não trabalhem mais
do que as legalmente determinadas 49 horas por semana.

Por que grupos de monitoramento internacional, liderados por americanos e


europeus abastados, imaginam ser capazes de saber o que é melhor para
pessoas que são muito mais pobres do que eles, e que possuem muito menos
opções, é um daqueles insondáveis mistérios que permeiam a intelligentsia.

Na condição de alguém que saiu de casa aos 17 anos de idade, sem ter se
formado no colégio, sem experiência no mercado de trabalho, e sem
habilidades específicas, passei vários anos de minha vida aprendendo da
maneira mais difícil o que realmente é a pobreza. Um dos momentos mais
felizes durante aqueles anos ocorreu durante um breve período em que
trabalhei 60 horas por semana — 40 horas entregando telegramas durante o
dia e 20 horas trabalhando meio período em uma oficina de usinagem à noite.

Por que eu estava feliz? Porque antes de encontrar estes dois empregos eu
havia gasto semanas procurando desesperadamente qualquer
emprego. Minha escassa poupança já havia evaporado e chegado literalmente
ao meu último dólar quando finalmente encontrei o emprego de meio período
à noite em uma oficina de usinagem.

Passei vários dias tendo de caminhar vários quilômetros da pensão em que


morava no Harlem até a oficina de usinagem, que ficava imediatamente
abaixo da Ponte do Brooklyn, e tudo para poupar este último dólar para poder
comprar pão até finalmente chegar o dia de receber meu primeiro salário.

Quando então encontrei um emprego de período integral — entregar


telegramas durante o dia —, o salário somado dos dois empregos era mais do
que tudo que eu já havia ganhado antes. Foi só então que pude pagar a
pensão, comer e utilizar o metrô para ir ao trabalho e voltar.

Além de tudo isso, ainda conseguia poupar um pouco para eventuais


momentos difíceis. Ter me tornado capaz de fazer isso era, para mim, o mais
próximo do nirvana a que já havia chegado. Para a minha sorte, naquela
época não havia nenhum intrometido de esquerda querendo me impedir de
trabalhar mais horas do que eu gostaria.

Havia um salário mínimo, mas, como o valor deste havia sido estipulado em
1938, e estávamos em 1949, seu valor já havia se tornado insignificante em
decorrência da inflação. Por causa desta ausência de um salário mínimo
efetivo, o desemprego entre adolescentes negros no ano de 1949, que foi um
ano de recessão, era apenas uma fração do que viria a ser até mesmo durante
os anos mais prósperos desde a década de 1960 até hoje.

À medida que os moralmente ungidos passaram a elevar o salário mínimo, a


partir da década de 1950, o desemprego entre os adolescentes negros
disparou. Hoje, já estamos tão acostumados a taxas tragicamente altas de
desemprego neste grupo, que várias pessoas não fazem a mais mínima ideia
de que as coisas nem sempre foram assim — e muito menos que foram as
políticas da esquerda intrometida que geraram tais consequências
catastróficas.

Não sei o que teria sido de mim caso tais políticas já estivessem em efeito em
1949 e houvessem me impedido de encontrar um emprego antes de meu
último dólar ser gasto.

Minha experiência pessoal é apenas um pequeno exemplo do que ocorre


quando suas opções são bastante limitadas. Os prósperos intrometidos da
esquerda estão constantemente promovendo políticas — como encargos
sociais e trabalhistas — que reduzem ainda mais as poucas opções existentes
para os pobres. Quando não reduzem empregos, tais políticas afetam
sobremaneira seus salários.

Parece que simplesmente não ocorre aos intrometidos que as corporações


multinacionais estão expandindo as opções para os pobres dos países do
terceiro mundo, ao passo que as políticas defendidas pela esquerda estão
reduzindo suas opções.

Os salários pagos pelas multinacionais nos países pobres normalmente são


muito mais altos do que os salários pagos pelos empregadores
locais. Ademais, a experiência que os empregados ganham ao trabalhar em
empresas modernas transforma-os em mão-de-obra mais valiosa, e fez com
que na China, por exemplo, os salários passassem a subir a porcentagens de
dois dígitos anualmente.

Nada é mais fácil para pessoas diplomadas do que imaginar que elas sabem
mais do que os pobres sobre o que é melhor para eles próprios. Porém, como
alguém certa vez disse, "um tolo pode vestir seu casaco com mais facilidade
do que se pedisse a ajuda de um homem sábio para fazer isso por ele".

Pensar está se tornando algo obsoleto


Embora seja humanamente impossível responder a todos os e-mails e cartas
que os leitores me enviam, muitos deles são bastante interessantes e
intelectualmente instigantes, tanto no sentido positivo quanto no sentido
negativo.
Por exemplo, um jovem me enviou um e-mail pedindo as fontes em que eu
havia me baseado para citar alguns fatos negativos sobre o desarmamento em
um artigo recente. É sempre bom checar os fatos — especialmente se você
checar os fatos de ambos os lados da questão.

Em contraste, um outro sujeito simplesmente me criticou por tudo o que eu


havia dito nesse artigo. Ele não pediu as minhas fontes e nem quis saber se
elas existiam; ele simplesmente saiu fazendo afirmações em contrário, como
se essas suas assertivas fossem automaticamente corretas pelo simples fato
de estarem sendo pronunciadas por ele, algo que, em sua mente, invalidaria
automaticamente tudo o que eu havia escrito.

Ele se identificou como médico, e as alegações que ele fez sobre armas eram
as mesmas que haviam sido feitas anos atrás em uma revista médica —
alegações que já foram inteiramente desacreditadas desde sua
publicação. Ele poderia ter aprendido isso caso houvesse me dado a
oportunidade de responder às suas provocações, de um modo que nos
engajássemos em um debate. Porém, ele próprio deixou claro desde o início
que sua carta não tinha o objetivo de gerar um debate, mas sim apenas de me
acusar e me denunciar.

Esse tipo de comportamento se tornou um procedimento padrão no mundo


atual.

É sempre surpreendente — e apavorante — constatar quantos assuntos


extremamente sérios não são discutidos seriamente hoje em dia; as pessoas
simplesmente saem emitindo afirmativas e contra-afirmativas, tudo de
maneira generalizada. Seja em debates de internet ou até mesmo em
programas de televisão, as pessoas simplesmente tentam calar seu opositor
falando mais alto do que ele ou simplesmente recorrendo a frases de efeito de
cunho emotivo.

Há inúmeras maneiras de fazer parecer que se está argumentando sem que


na realidade se esteja produzindo absolutamente nenhum argumento
coerente.

Décadas de educação escolar e universitária simplificada — para não dizer


idiotizante — certamente têm algo a ver com a atual situação, mas isso não
explica tudo. A educação não somente foi negligenciada no sistema
educacional atual, como também já foi quase que completamente substituída
pela doutrinação ideológica. A doutrinação que hoje é feita por professores e
instituições supostamente educacionais é amplamente baseada na simples
vocalização das mesmas pressuposições básicas e não-comprovadas de
sempre.
Se as instituições educacionais de hoje — desde escolas a universidades —
estivessem tão interessadas em diversidade de ideias quanto estão obcecadas
com diversidade racial e sexual, os estudantes ao menos adquiririam
experiência ao ver as pressuposições que existem por trás de diferentes
visões, e entenderiam a função da lógica e da evidência ao debaterem tais
diferenças. No entanto, a realidade é que um estudante pode passar por todo
o seu ciclo educacional, desde o jardim de infância até seu doutoramento, sem
entrar em contato com absolutamente nenhuma visão de mundo que seja
fundamentalmente diferente daquela que prevalece dentro do espectro de
opiniões autorizadas e politicamente corretas que domina o nosso sistema
educacional.

No que mais, a perspectiva moral da visão ideológica predominante é


completamente maniqueísta: as pessoas imbuídas dessas ideias realmente se
veem como anjos combatendo todas as forças do mal — seja o assunto em
questão o desarmamento, o ambientalismo, o racismo, o homossexualismo, o
feminismo ou qualquer outro ismo.

Um monopólio moral é a antítese de um livre mercado de ideias. Um


indicativo desta noção de monopólio moral dentre a intelligentsia esquerdista
é o fato de que as instituições que estão majoritariamente sob seu controle —
escolas, faculdades e universidades — são justamente aqueles que usufruem
muito menos liberdade de expressão do que o resto da sociedade.

Por exemplo, ao passo que a defesa e até mesmo a promoção da


homossexualidade é comum nos campi universitários — e comparecer a
palestras e aulas que fazem tal promoção é frequentemente algo obrigatório
nos cursos introdutórios —, qualquer crítica ao comportamento homossexual
é imediatamente rotulada de "reacionarismo", "preconceito" e "incitação ao
ódio", sujeita a imediata punição.

Enquanto porta-vozes de vários grupos raciais e étnicos são livres para


denunciar com veemência "os brancos" por seus pecados passados e
presentes, verdadeiros ou imaginários, qualquer estudante branco que
similarmente venha a denunciar as transgressões ou os desvarios de grupos
não-brancos garantidamente será punido, se não expulso.

Até mesmo estudantes que não defendem ou não promovem absolutamente


nada podem ter de pagar um preço caso não concordem com a lavagem
cerebral que ocorre nas salas de aula. Recentemente, nos EUA, um aluno da
Florida Atlantic University que se recusou a pisotear um papel em que estava
escrito a palavra "Jesus", a mando de seu professor, foi suspenso pela
universidade. Felizmente, a história veio a público e gerou uma onda de
protestos fora do mundo acadêmico.

A atitude deste professor pode ser descartada e ignorada como sendo um caso
isolado de extremismo, mas o fato é que o establishment universitário saiu
solidamente em sua defesa e atacou implacavelmente o estudante. Tal atitude
mostra que a podridão moral que impera na academia vai muito mais além do
que um simples professor adepto da doutrinação e da lavagem cerebral.

Estamos hoje vivenciando todo o esplendor do anti-intelectualismo que se


espalhou por metástase ao longo de todo o mundo acadêmico. As
universidades se tornaram tão dominadas por uma insistência na
inviolabilidade de um determinado pensamento grupal, que qualquer
professor "forasteiro", que não compactue com a predominância deste
pensamento gregário, não mais pode falar a respeito de um determinado
assunto sem antes ter sido devidamente credenciado por seus pares. Uma
simples pesquisa sobre o tratamento dispensado a acadêmicos que ousam
questionar a santidade do aquecimento global mostra bem esse ponto.

Já houve uma época em que um curso universitário era considerado um meio


de introduzir as pessoas a uma ampla gama de assuntos que lhes permitiria
pensar e falar inteligentemente sobre várias questões que estivessem
afetando suas vidas. O pensamento coletivista — que hoje é predominante no
meio universitário — rejeita tal ideia, conferindo o monopólio de
determinadas questões apenas àquelas pessoas que são reconhecidas como
"especialistas" por seus pares.

Este método educacional que recorre à intimidação e à simples repetição de


frases de efeito de cunho emocional evidencia a completa falência do sistema
educacional. Se professores universitários — teoricamente a nata intelectual
da sociedade, pessoas que por vocação e profissão deveriam ser as mais
rígidas seguidoras do rigor intelectual — agem assim, como podemos esperar
que o restante da população apresente discernimentos mais profundos?

Para sobreviver e progredir, seres humanos precisam saber pensar. Porém,


estamos cada vez mais terceirizando esta função para acadêmicos, que por
sua vez pautam o conteúdo da mídia. Tal terceirização de pensamento ajuda
a explicar por que há hoje uma escassez de pensamentos originais e
significativos.

O fracasso do sistema educacional vai muito além da ausência de um


aprendizado útil. O real fracasso está naquilo que de fato é ensinado — ou
melhor, doutrinado — nas salas de aula, algo evidenciado pelos formandos
que as universidades cospem para o mundo, seres incapazes de apresentar
qualquer resquício de pensamento original.

Jamais se preocupe em se aprofundar em qualquer assunto: os "especialistas"


cujos empregos se resumem a promover a agenda do establishment político
e cultural já têm tudo explicado para você.
Políticos mentem porque a população se
sente melhor assim
Quando as pessoas querem o impossível, somente os
mentirosos demagogos podem satisfazê-las

O fato de muitos políticos de carreira serem mentirosos descarados e


compulsivos não é apenas uma característica inerente à classe política; é
também um reflexo do eleitorado. Quando as pessoas querem o impossível,
somente os mentirosos demagogos podem satisfazê-las.

No entanto, quando a realidade se impõe e os efeitos econômicos de medidas


populistas começam a cobrar seu preço, os eleitores finalmente percebem
que foram enganados. E então começam a reclamar que os demagogos os
enganaram e venderam ilusões.

Essas pessoas são as mesmas que, no passado, não apenas acreditaram


piamente nas promessas dos demagogos, como também ignoraram
rispidamente todos os alertas, feitos pelos mais sensatos, de que
determinadas políticas populistas eram insustentáveis e cobrariam um preço
caro no futuro.

Pessoas que se recusam a aceitar verdades desagradáveis quando estas são


ditas em épocas de bonança não têm direito de, no futuro, reclamar que os
políticos mentiram e que elas foram enganadas. Afinal, com essa mentalidade,
que outro tipo de candidato essas pessoas elegeriam?

O domínio da arte

Uma das principais mentiras do estado social-democrata é a noção de que o


governo pode dar às pessoas coisas que elas desejam, mas não conseguem
bancar.

Dado que o governo não produz riqueza, não tem renda própria e se mantém
por meio do confisco de recursos das pessoas, então, por uma questão de
lógica, se as pessoas como um todo não podem bancar algo, tampouco pode o
governo.

Se você vota em políticos que prometeram dar a você benesses pagas com o
dinheiro confiscado de terceiros, você não tem nenhum direito de reclamar
quando esses mesmos políticos resolverem tomar o seu dinheiro para
repassá-lo para terceiros, inclusive para eles próprios.

Existe, é claro, a imortal falácia de que o governo pode simplesmente


aumentar os impostos sobre "os ricos" e utilizar tal receita adicional para
pagar por coisas que a maioria das pessoas não consegue comprar. O que é
incrível nesse raciocínio é a sua implícita suposição de que "os ricos" são
todos tão idiotas, que não farão nada para evitar que seu dinheiro seja
tributado.

Em nenhum país ocidental os ricos arcam exclusivamente com os


impostos; quem realmente fica com o grande fardo é a classe média. Não há,
em nenhuma sociedade, um número grande o bastante de ricos que possam
custear sozinhos os gigantescos gastos efetuados pelos estados
assistencialistas ocidentais. [Para entender em mais detalhes por que
aumentar a tributação sobre os ricos gera um efeito contrário ao pretendido,
veja este artigo].

Na economia globalizada atual, os ricos podem simplesmente investir seu


dinheiro em países onde as alíquotas de impostos são menores. Basta um
toque no computador, e as fortunas vão embora para outros países.

Então, se você não pode confiar que "os ricos" irão pagar a conta, em que você
pode confiar? Nas mentiras.

Nada é mais fácil para um político do que prometer benefícios


governamentais que não poderão ser cumpridos.

A Previdência Social é perfeita para essa função. As promessas são feitas com
base em um dinheiro que só será pago daqui a várias décadas — sendo que,
até lá, outra pessoa estará no poder com a tarefa de inventar o que dizer e
fazer quando descobrir que nunca existiu tal dinheiro e a convulsão social
começar.

Haverá o calote, sim, mas existem, no entanto, várias formas de postergar o


dia do acerto final. O governo pode, por exemplo, começar a restringir vários
benefícios previdenciários daqueles grupos que são menos influentes
politicamente. Ele irá começar dando pequenos calotes naqueles grupos que
têm menos poder político e pouco poder eleitoral. E dali vai começar a
aprofundar.

Nos EUA, o governo vai começar a cortar o Medicare (programa de


responsabilidade da Previdência Social americana que reembolsa hospitais e
médicos por tratamentos fornecidos a indivíduos acima de 65 anos de idade)
e o Medicaid (programa financiado conjuntamente por estados e pelo governo
federal, que reembolsa hospitais e médicos que fornecem tratamento a
pessoas que não podem financiar suas próprias despesas médicas)

[N. do E.: aqui no Brasil, as vítimas serão alguns pensionistas, que irão se
aposentar recebendo proporcionalmente menos do que
contribuíram. Depois, os cortes provavelmente irão para alguns setores da
saúde pública. A faca começará sempre sobre os menos influentes. Haverá
gritaria, mas será feito.]
É apenas uma questão de tempo. O fato é que todos esses problemas de longo
prazo irão, eventualmente, desafiar as belas e sonoras mentiras que são a
força vital das políticas de bem-estar social. Mas ainda irão ocorrer muitas
eleições entre hoje e o dia do acerto final — e aqueles que são profissionais
na arte da mentira ainda irão vencer muitas dessas eleições.

E, enquanto o dia do ajuste de contas não chega, há diversas maneiras de


aparentemente superar esses problemas. Se a arrecadação do governo não
estiver conseguindo acompanhar o ritmo do seu aumento de gastos [como é
o caso do Brasil], ele pode insistir no aumento do endividamento. Mas mesmo
esta política é limitada, pois chegará um momento em que a dívida estará tão
alta, que os investidores não mais confiarão na capacidade do governo de
honrá-la. E aí os juros subirão.

Outra alternativa é imprimir mais dinheiro. Isso não torna nenhum país mais
rico, mas insidiosamente transfere parte do poder de compra da população
— bem como a poupança e a renda das pessoas — para o governo e seus
protegidos, gerando uma redistribuição de renda às avessas. Imprimir mais
dinheiro significa inflação — e a inflação é uma mentira discreta, por meio da
qual o governo pode manter suas promessas no papel, mas com um dinheiro
cujo poder de compra é muito menor do que aquele que vigorava quando as
promessas foram feitas.

Sem surpresa

Promessas sublimes sobre "justiça social" e "igualdade" não passam de


estratagemas feitos para aumentar o poder de políticos, uma vez que tais
belas palavras não possuem nenhuma definição concreta. Elas nada mais são
do que um cheque em branco para criar uma gigantesca disparidade de poder
que, em comparação, ofusca completamente as disparidades de renda — e é
muito mais perigosa.

Quem não entende o completo cinismo que existe na política não entende
nada de política.

De novo: será que é realmente tão surpreendente que eleitores com


expectativas fantasiosas e irreais elejam políticos que mentem
descaradamente sobre serem capazes de cumprir tais fantasias?

A ideia politicamente correta mais ignara


de todas
Se houvesse uma disputa para ver qual é a ideia mais ignara da política atual,
minha escolha seria aquela que afirma que, se não fosse o preconceito e a
discriminação, todas as pessoas (homens e mulheres, negros e brancos, gays
e heterossexuais, cristãos, judeus, muçulmanos, ateus, budistas etc.) seriam
igualmente distribuídas em termos de renda, ocupação, posição em empresas
e premiações recebidas.
Cruzadas políticas, impérios burocráticos, e lucrativas carreiras pessoais
voltadas para a reclamação e exigência de mais "direitos" já foram erguidos
tendo exclusivamente por base essa suposição, a qual praticamente nunca foi
testada contra quaisquer fatos.

Peguemos o mais recente exemplo dessa obtusidade. Um artigo do The New


York Times viu como um problema o fato de que mulheres estão
extremamente sub-representadas no ranking mundial dos melhores
jogadores de xadrez. Igualmente, vários artigos, reportagens de TV e
lamúrias políticas já foram produzidos tendo por base uma suposta "sub-
representação" de mulheres no Vale do Silício, algo visto como um grave
problema que tem de ser urgentemente resolvido.

Por acaso há um exército de meninas que estão ávidas para jogar xadrez, mas
que estão sendo negadas a esta oportunidade? Por acaso há um exército de
mulheres com um Ph.D. em ciências computacionais pelo Massachusetts
Institute of Technology e pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia sendo
friamente rejeitadas quando vão ao Vale do Silício se candidatar a um
emprego?

Será que meninos e meninas não podem ter interesses distintos? Se as


meninas tivessem o mesmo interesse em xadrez que os meninos, mas fossem
banidas dos clubes de xadrez, aí sim haveria um argumento. Mas isso seria
algo muito diferente do fato de que elas simplesmente não têm o mesmo
interesse por xadrez que os meninos. Quanto aos rankings de xadrez, não se
trata de algo subjetivo: eles se baseiam em quais jogadores (e suas respectivas
pontuações) você já venceu e perdeu para.

Por acaso não se deve permitir que mulheres e homens tomem decisões
diferentes em relação a como irão gastar seu tempo e viver suas vidas?

Jogar xadrez não é o único empreendimento que pode exigir uma grande
parcela de tempo em sua vida, bem como um perseverante esforço, para se
chegar ao topo. Se você quer se tornar um grande cientista, um sócio em uma
grande firma de advocacia, ou o executivo-chefe de uma grande corporação,
você muito dificilmente conseguirá tal façanha apenas trabalhando de 9 às
17h, tirando várias licenças para ter filhos e criá-los.

Mas tudo pode piorar.

Aplicar essa mesma e infundada suposição sobre "diferenças de


representatividade" para diferentes grupos raciais e étnicos tornou-se hoje
uma política lucrativa: ela gera várias e ruidosas reclamações e cruzadas
políticas, além de milhões de dólares em processos judiciais acusando
"discriminação" — tudo sem uma única evidência senão números que não se
encaixam nas pressuposições dominantes.

E o fato é que você pode estudar inúmeros grupos, em vários países ao redor
do mundo, hoje ou mesmo ao logo dos séculos da história, e não encontrará
um único exemplo desses "resultados iguais" que possam ser utilizados como
referência para estipular que "está havendo discriminação".

Eis aí um fenômeno que não possui confirmação histórica, um fenômeno que,


não obstante uma ausência de qualquer exemplo prático, é hoje presumido
como sendo a norma: igualdade de realizações, de diferentes grupos (de cor,
etnia e gênero), em um dado período do tempo.

No entanto, o que mais temos hoje são grupos de interesse e movimentos


sociais apresentando estatísticas — que são solenemente repercutidas pela
mídia — alegando que, dado que os números de realização, premiação e
representação ocupacional não são aproximadamente iguais para todos, isso
seria uma prova de que alguém foi discriminatório com outro alguém.

E isso, segundo o salto lógico realizado por esses ideólogos, seria uma
comprovação de que os resultados seriam iguais para todos caso alguém não
tratasse mal outra pessoa.

O problema, só para começar, é que mesmo algo tão simples e básico quanto
diferenças de idade entre grupos pode arruinar qualquer pressuposição de
resultados iguais.

Se cada porto-riquense que vive nos EUA tivesse uma renda idêntica à renda
de cada nipo-americano de 20 anos de idade — e rendas idênticas também
para todas as outras idades —, o nipo-americanos ainda assim teriam, em sua
totalidade, uma renda média superior à dos porto-riquenses nos EUA. E seria
assim porque a idade média dos nipo-americanos é muito maior que 20 anos
de idade. Há muito mais nipo-americanos com mais de 20 anos de idade do
que porto-riquenses. Se um grupo é formado por pessoas com mais anos de
experiência de trabalho, então esse grupo normalmente ganha maiores
salários.

A média de idade na Alemanha e no Japão é de mais de 40 anos, ao passo que


a média de idade no Afeganistão e no Iêmen é de menos de 20 anos. Mesmo
que as pessoas destes quatro países tivessem absolutamente o mesmo
potencial intelectual, o mesmo histórico, a mesma cultura — e os países
apresentassem rigorosamente as mesmas características geográficas —, o
fato de que as pessoas de determinados países possuem 20 anos a mais de
experiência do que as pessoas de outros países ainda seria o suficiente para
fazer com que resultados econômicos e pessoais idênticos sejam virtualmente
impossíveis.

Pessoas com 20 anos a mais de experiência de trabalho normalmente ganham


maiores salários. E diferenças etárias são apenas uma das várias diferenças
entre os grupos.

Mais ainda: uma igualdade geral de resultados jamais foi testemunhada, em


qualquer período da história, até mesmo entre aqueles vários grupos que hoje
são ajuntados e classificados como "brancos". Sendo assim, por que então as
diferenças estatísticas entre negros e brancos, ou entre homens e mulheres,
produzem afirmações tão dogmáticas — e geram tantas ações judiciais e
trabalhistas por discriminação — sendo que a própria história mostra que
sempre foi comum que diferentes grupos seguissem diferenciados padrões
ocupacionais ou de comportamento?

Um dos motivos é que ações judiciais não necessitam de nada mais do que
diferenças estatísticas para produzir vereditos, ou acordos fora de tribunais,
no valor de vultosas somas monetárias. E o motivo de isso ocorrer é porque
várias pessoas aceitam a infundada presunção de que há algo de estranho e
sinistro quando diferentes pessoas, de diferentes cores, gêneros e opções
sexuais, apresentam diferentes graus de êxito pessoal.

O desejo de intelectuais de criar alguma grande teoria que seja capaz de


explicar padrões complexos por meio de algum simples e solitário fator
produziu várias ideias que não resistem a nenhum escrutínio, mas que não
obstante têm aceitação generalizada — e, algumas vezes, consequências
catastróficas — em vários países ao redor do mundo.

A vida é, sem dúvida nenhuma, injusta. Mas isso não é o mesmo que dizer que
as injustiças ocorreram exatamente em todos os lugares em que as
estatísticas foram coletadas. As origens das desigualdades de resultados
frequentemente remetem a diferentes ambientes familiares vividos na
infância ou a diferentes arranjos geográficos e culturais para grupos e nações.

Essas diferenças entre nações, bem como as diferenças entre indivíduos e


grupos, refletem o fato de que o mundo jamais apresentou condições
equitativas para todas as pessoas em todos os lugares do mundo. O renomado
historiador Fernand Braudel disse que "Em nenhuma sociedade, todas as
regiões e todas as partes da população se desenvolveram de maneira
uniforme e homogênea".

Por mais quanto tempo vamos continuar tratando como se fosse uma regra
algo que não apenas nunca ocorreu na história do mundo, como também
dificilmente virá a ocorrer?

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