Você está na página 1de 4

A importância da informação no rádio

Por: Valdeck Almeida de Jesus

Gisela Swetlana Ortriwano, autora do livro “A Informação no Rádio – os


grupos de poder e a determinação dos conteúdos” formou-se em Ciências
Sociais pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e em
Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes, as duas da Universidade
de São Paulo. Exerceu atividades didáticas nas áreas de Jornalismo
Radiofônico e Televisionado na Escola de Comunicações da USP e nos
Instituto Metodista de Ensino Superior, na Fundação Padre Anchieta (Rádio
e Televisão Cultura de São Paulo), o mesmo cargo que ocupou na Rede
Globo de São Paulo, na qual implantou o Setor de Pesquisa. O livro “A
Informação no Rádio” foi lançado em 1985 pela Summus e é parte da
dissertação de mestrado defendida em junho de 1982.

O livro faz um relato da história e da trajetória de implantação do rádio no


Brasil, cita a importação dos transmissores da França, a transmissão em
Recife (1919) e no Rio de Janeiro (1923). Gisela demonstra que o rádio era
um produto de luxo, voltado à elite, estava longe de ser um veículo de
massa, como atualmente. Ela faz um panorama da era Vargas, do rádio
comercial, da publicidade paga e do controle estatal na programação através
das leis. A guerra da publicidade expandiu a programação para conteúdos
mais populares, mas não propiciou diversificação, pois se repetia as fórmulas
que davam certo, como rádionovelas.

A televisão aumentou a concorrência, pois imitava os programas de


auditório, jornalismo e novelas. Para competir, o rádio precisou diminui
custos e ficou mais ágil, diversificou e se especializou em nichos de mercado
como esportes, jornalismo e os serviços de utilidade pública, como fez a
Rádio Jornal do Brasil, do Rio de janeiro, em 1959. Outro fator importante
para o rádio foi a Freqüência Modulada, na década de 60, com programação
musical, cujo entretenimento aproximou o rádio das grandes massas,
democratizando o acesso. Segundo Gisela, tanto as rádios de mobilização -
voltadas para a fala, quanto as de relaxamento – com ênfase em música,
sobrevivem graças à especialização, exploração de nichos de mercado e
valorização da cultura local. Para ela as rádios em redes são motivadas por
questões econômicas, pois facilita a captação de patrocínios. No entanto, a
programação pode ficar massificada e engessada, facilitando o controle do
estado, desestimula a criatividade e destrói características da cultura local,
como já aconteceu com as emissoras de TV. Para combater a massificação
surgem as Rádios Livres ou “Rádios Piratas”, “procurando abrir
possibilidades para uma apropriação coletiva dos meios” e com objetivos de
“não mais atingir grandes massas, mas as minorias e os grupos socialmente
marginalizados” (OTRIWANO, 1985, pág. 34). Estas rádios não conseguem
competir com as redes na captação de patrocínio e também sofrem controle
estatal.
1
A autora classifica a radiodifusão em monopólio autoritário, vigente em
países socialistas, onde o rádio é explorado pelo estado e usado para a
manutenção da ideologia do partido dominante; e em pluralista: a
radiodifusão é explorada por estado e iniciativa privada, com finalidades de
entretenimento, publicidade comercial etc. A crítica é que são controlados
pelo estado e que as concessões passam pelo crivo dos políticos que são,
em sua maioria, representantes da elite dominante. Sobre a estrutura
radiofônica, o livro não traz muita novidade, comparando-se com Emílio
Prado, que é mais objetivo, claro, conciso e direto. A informação no Rádio se
delonga em capítulos históricos e somente no final do livro trata,
efetivamente, da informação no rádio.

Gisela afirma que sempre há informação no rádio, seja „informação musical‟,


„informação comercial‟, mas só aprofunda na informação jornalística. Ela
esclarece que a informação se adéqua à imediatidade e mobilidade do rádio
e classifica as transmissões em categorias distintas: a) flash – divulgação
imediata em função da oportunidade; b) edição extraordinária – pode
interromper a programação em função da importância da informação a ser
veiculada; c) especial – pressupõe pesquisa aprofundada antes da
veiculação; d) boletim – com horário e duração determinada, texto elaborado
e pode abranger noticiário local, nacional e internacional; e) jornal –
tradicionalmente conhecido como „jornal falado‟, estruturado em editorias,
duração variada a partir de 15 minutos a duas horas; f) informativo especial –
setorizada como noticiários esportivos; g) programa de variedades – não
diretamente ligado à atualidade, intercala notícias com músicas, humor etc.
Aqui a autora consegue ser sucinta, direta e clara em sua explanação, e dá
uma visão bem pragmática da difusão da informação no rádio.

Para Gisela as emissoras em FM transmitem notícias apenas para cumprir a


lei e as rádios em AM fazem da notícia seu principal objetivo. A autora não
tece nenhum comentário ou crítica em relação à concentração das
concessões de rádio nas mãos de grupos econômicos, políticos e
empresários que monopolizam o mercado e usam as emissoras como
palanque para projetos pessoais. Por ser concessão do estado, que autoriza
a abertura e funcionamento, as rádios deveriam sofrer fiscalização quanto ao
conteúdo da programação. Nesse aspecto, outra vez, a autora silencia,
limitando-se a descrever os vários tipos de programação.

Transmissão da informação
Por tratar-se de uma edição de 1985, a autora ainda não vislumbrava a
internet, o telefone celular e tantos outros equipamentos tecnológicos dos
quais a imprensa se apodera para produzir, editar e transmitir informações. O
livro fala de equipes de funcionários especializados, pois a autora ainda não
pensava, por óbvio, que o futuro do radialista seria diferente, e que o próprio
repórter teria de produzir, editar, transmitir, irradiar. Um ponto positivo é a
denúncia que Gisela faz sobre o descumprimento das leis que regem a
2
profissão de jornalista. Legalmente, a produção de textos e outras atividades
inerentes à atividade jornalística seriam competência de profissionais
diplomados. No entanto, pessoas não habilitadas exercem estas atividades,
tomando o espaço de quem estudou e se formou para tal.

Para Gisela a presença do radialista no rádio é imprescindível, há


necessidade de o jornalista estar no local da notícia. Ela afirma que nas
rádios substantivas – que se dedicam mais à função noticiosa – só há
repórteres especializados em esporte e polícia. Gisela aponta, ainda, mais
de vinte funções específicas como pauteiro, editor, apresentador e
pesquisador. Segundo ela, as rádios precisam ter profissionais dedicados às
agências de notícia, serviços de escuta, informantes próprios etc. A realidade
atual é outra, em que o jornalista precisa ter a prática e a teoria, ser
diplomado para exercer as funções de jornalista em qualquer veículo e ainda
ser expert em várias tecnologias, para poder exercer todas ou quase todas
as funções em um meio de comunicação.

Segundo Gisela a escolha da notícia que vai ao ar sofre influência de vários


fatores: pessoais, profissionais, sociais e institucionais; ela elenca critérios
como importância, interesse, abrangência, impacto, atualidade,
consequência, proximidade, honestidade, exatidão, identificação, ineditismo,
oportunidade, comerciais, publicitários, políticos e a pressão ideológica dos
proprietários das rádios. Gisela não comenta que a maioria dos veículos de
comunicação do país se encontra sob a tutela de políticos, que usam o poder
da informação para beneficiarem partidários e atacarem quem não se
encontra sob as asas de suas agremiações políticas.

Para a autora o estado também interfere nas pautas. O maior publicitário do


país é o poder público, que pressiona, indiretamente, a cobertura dos fatos.
O enfoque e a angulação também é um fator de constrangimento, segundo
Gisela. Fatos são noticiados, mas o jornalismo deixa de cumprir sua função
social que é a de fiscalizar o poder público. Gisela foi muito feliz nessa
constatação, pois o que se nota, ainda hoje, é que a pressão política
realmente determina o que é noticiado e como é noticiado.

OPINIÃO
Gisela Orrtriwano faz uma explanação sobre a história do rádio, tema que
ocupa quase todo o livro. Apenas nos capítulos finais ela aprofunda-se no
assunto que dá título ao livro, qual seja a informação no rádio. Para um
estudante iniciante no assunto, o livro traz informações que podem ajudá-lo a
situar o veículo e o seu papel dentro do complexo mundo da informação. No
entanto, para profissionais ou alunos em nível intermediário de comunicação,
fica a desejar, pois a autora poderia explorar muito mais a questão em todos
os capítulos ou deixar a história para os capítulos finais, ou, ainda, ser
sucinta na apresentação histórica.

A visão crítica da escritora apenas é vista nos capítulos que tratam


3
especificamente da informação. Ela poderia tecer muito mais considerações
nesse sentido nos demais capítulos, o que não fez.

No geral, o livro tem uma boa apresentação dos temas e consegue situar o
leitor em um campo do conhecimento pouco estudado e pouco debatido.
Aparentemente o rádio é mais um veículo de comunicação, mas, pela
especificidade, proximidade e linguagem simples e direta com os
consumidores de sua programação, o rádio possui um poder muito forte.
Esta característica, o poder, e a pouca atenção que se dá ao veículo, seja
por estudos científicos acadêmicos ou por outros meios de questionamento,
torna o rádio praticamente uma arma de uso livro nas mãos dos seus
detentores.

Publicado em 24.07.2009 na rede mundial de computadores:


http://www.difundir.com.br/site/c_mostra_release.php?emp=1024&num_relea
se=6268&ori=E

Você também pode gostar