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Aplicando a inteligéncia emocional no ambito corporativo André Barcaui | Coordenador e professor do MBA-Gerenciamento de Projetos da FGV-Rio géncia emocional, particularmente com vistas a sua aplica: Peer ete ae cae a reflexdes a cerca das diversas feigdes ernocionais a serem explora- Cee ete et ae re tar os pontos de relevancia bésica para o desenvolvimento das Cee eee eee ce desafio a lideranca de pessoas. © i Peer ara eS cae ok nC L 2009 | vow mundopm.com.br Perspectiva | 0 Gerents Emocional 66 ma ver accito que o papel do gerente se insinua de forma cada vex mais incontestavel em relagao a sua capacidade de adaptagao, sua habilidade com pessoas ¢ sua visio holistica da organizagao, torna'se literalmente impossivel nao considerar o ponto de vista emocional no ambiente de trabalho. 0 fator emocional pode ser justamente o elo que move o profissional de um cargo gerencial a uma postura de lideranga de fato.” INTRODUCAO Sto virias as prspectva tebrcasarespito da lider anas empresas. Existem enfoques centrados nos lideres, Em seus seguidores, na interago iderseguidor, no papel da situacao na lideranga, eat enfoques que tentam {ntegrar todos estes aspects (DESCALS, 2005). maioria prefere abordar o tema caraterizando estos ou aspectos etenciais que levaiam determinado profissional a ser {ualificado como um bom exemplo delideranga, Como blocado de maneira provocativa por DRUCKER (2095) *{.) existea maneia cert para se gerencar pessoas; pelo menos deveria haver ‘Aliteratura a respeito ¢ infindavel, mas na pritica mio. 6 to simples acomprovacio empirica da medigao eda eficicia do desenvolvimento das capacidades de lideran- ga. Um dos pontos mais obsessvamenteexplorados € fustamente dferenga entre o gerente eo lider. Em ger b gerente ¢ visto como aquele que plana, organiza dirige fe controla as taefasnecessirias a cotidizno da empre- $2, numa visdo mit semelhante& de Henri Fay. Jao lider sera aquele que inova, inspira econdz pessoas a «um objetivo. Cabe aqui tami lembraradefinigao de lideranga de HUNTER (2009), como sendo “a habildade de influenciar pessoas para trabalharem entusiastcamente visando atingi aos objtivosidentificados como sendo para o bem comur” Para efeito deste trabalho, estamos considerando um gerentelider, ou sea, aque que tem defato ede dreto & misslo de conduzir um time de pessoas a determinado Abjetivo. Sea um proeto, um departamento, uma dretoria fouruma organizagio itera. Até porque quando estamos falando do verbo gerenciar, estamos necessariamente nos referindo 3 geréncia de pessoas. Quem gerencia,geren- tia pessoas e ndo méquinas. A partir desse pressupost, podemos também pensar naqueles que sio gerenciados © na velocidade que o mundo se impoe hoje ‘tempo parece ter se tomado 0 maior crtério de su- cesso na vida das pessoas, ou pelo menos o mais valoriza: do, Carl HONORE (2005) em seu imusitadolivro Devagar, relembra um documentrio sobre a vida de Frederick “Taylor, onde Michael Schwartz em 1999 comenta que: “Taylor pode ter morrdo na infamia, mas provavelmente riu por filtimo, pois suas ideias sobre a eficiéncia passaram_ 2 definira maneira como vivemos hoje, nlo apenas no trabalho, mas também em nossa vida pessoal’. Aliam-se 2 sso (ou em fungi disso) as constantes mudangas nas condigtes sécio-econémica nas organizagoes © 0 que se ob- serva é uma verdadeira (re)evolugdo cronica. Neste pano- rama é razodvel pensar que gerentes também tenham que desempenhar papéis cada vez mais flexiveis e adaptativos. ‘Conforme assinalado por QUINN (2004), 0 papel a ser de senvolvide dependers da situagao encontrada pelo gerente jf que a gestao se desenvolve em infinitas combinacoes de situagbes em diversos ambientes. ‘Uma vez aceito que o papel do gerente se insinua de forma cada vez mais incontestivel em relacio a sua capac dade de adaptagio, sua habilidade com pessoas e sua visto holistica da organizacio, torna-se literalmente impossivel no considerar 0 ponto de vista emocional no ambiente de trabalho. O fator emocional pode ser justamente o elo que move o profissional de um cargo gerencial a uma postura de lideranga de fato, Mais ainda, torna-se mister 0 correto entendimento do conceito de emogdo em conjungao (€ N30 {soladamente) com o aspecto racional do trabalho geren- cial, deforma a catalisar o potencial de conhecimento e lideranca sobre pessoas. A partir desta conjectura, faz-se fundamental revisitar 0 que esta por trés da proposta do “uso da emogic" por parte de gerentes. Mais detalhada- ‘mente, evidencia-se a necessidade de revisar o conceito de inteligéncia emocional e sua aplicagio no contexto da corganizacio. O CONCEITO ‘A popularizacio do termo inteligéncia emocional (IE) ‘ocorteu a partir da publicasao do livro de Daniel GOLE- MAN (1995) intitulado “Inteligéncia Emocional ~ a teoria revolucionaria que define o que é ser inteligente”. Mas sua abordagem no é de todo inédita ja que o estudo das emo- {es e de nossas respostas emocionais é bem anterior a isso. No século XIX, Charles Darwin ja havia proposto um modelo de explicacao “historico-adaptativa" para as emo- Bes a0 analisar e descrever as expressdes huumanas. Seu trabalho conduziu ao estudo dos detalles sobre a expres so facial e muscular que acompanham as mais diversas emogoes, abrindo caminho também para as bases do que seria o estudo da chamadsa intligéncia social proposta por Robert Thorndike em 1937, que resumidamente poder-se- i traduzir como o estuda de aspectos nao-cognitivos da inteligéncia. Em r943 David Wechsler props que estes aspectos ndo-intelectuais seriam essenciais para aumentar as chances de sucesso na vida. Mesmo assim, a 1970 ainda havia uma nitida separagao entre o que viria a ser Mundo Project Management chamado de inteligéncia emocional ea tradicional inteligéncia cognitiva {normalmente associada i resoluga0 de problemas e a meméri). Foia partir dos estudos liderados pelo psicélogo Howard Gardner na década de 80 que surgi a hipotese das inteligéncias miiltiplas, onde diferentes reas cerebrais poderiam expressar formas distintas de inteli sgéncia. De acordo com GARDNER {1995), as pessoas seriam possuidoras de oito areas de inteligéncia: logico materatica,linguistica-verbal, esp cial, cinestésica-corporal, naturalista, musical, as intligéncias pessoais {inter eintrapessoais) E como se todos possuissemos uma espécie de ‘ardépio intelectual, porém cada um demonstrasse caracterisicas die renciadas, combinando as intligén- cias de forma subjetiva, resultante de fatores genéticos, condicionantes am- bientais eculturais. Ainda segundo o pesquisador, nem todos os individuos aprenderiam da mesma forma, j que nem todos tém os mesmos interesses habilidades. ‘Os anos go foram marcados por diversos avangos tedricos e teenol6gicos que impulsionaram 2 neurocineia a descobertas cada vez interessantes esofisticadas sobre 0 funcionamento em geral do cérebro 0 mapeamento de nossas reagoes. Segundo WEISINGER (2001), foram (08 psicélogos John Mayer e Peter Salovey que identificaram o que cha ‘maram de “os quatro componentes” responsveis pela constituiglo da IE. Esses componentes atuam junto a ‘outros constituintes de nossa genética « quando sto alimentados pela experi éncia, tomam possivel o desenvol¥ ‘mento de habilidades emocionais ‘Ao contririo do quociente de inteligéncia cognitiva (Ql) tradicional, a vantagem do quociente emocio nal (QE) é que pode ser nutridoe desenvolvido 20 longo da vida. Na verdade deve ser desenvolvido uma vez que o desejivel é que o individuo aprenda com as experiéncias vvidas. Basicamente os components seriam: 1 capacidade de perceber, avaliar e expressar emogdo de forma correta: a capacidade de gerar ou ter acesso 2 sentimentos quando eles pude- rem facilitar sua compreensio de si ‘mesmo ou do outro; a capacidade de compreender as emogbes e conheci- ‘mento derivado delas; ea capacidade de controlar as proprias emogGes para promover o crescimento emocional e intelectual (WEISINGER, 2001) Segundo SALOVEY&MAYER (2004), IE poderia ser descrita como: (..) habilidade para reconhe- cero significado das emogdes ¢ suas inter-relagdes, assim como racioci nare resolver problemas baseados nelas. A inteligéncia emocional esté envolvida na capacidade de perceber cemogbes, assimilélas com base nos sentimentos,avaiélas e gerencis las". Nota-se 0 uso de verbos como: reconhecer, inter-elacionay, racio: cinar, resolver problemas, pereeber, assimilar,avaliar e gerenciar. Todos rnormalmente requeridos da maioria dos gerentes em organizagoes. Em coutras palavras, segundo a tese de Salovey&eMayer, como os gerentes so tem pode ser um importante indica dor do desempenho organizacional No entanto,ointeresse popular sobre o tema, associado a uma ampla cobertura da miia acabou aconte cendo somente com o langamento do livo de Daniel Goleman, inclu sive coma difusio de escalas para ‘medigao do quociente emocional. O proprio GOLEMAN (1995) define IE como *a capacidade de identifcar nnossos proprios sentimentos e dos ‘outros, de motivar a nés mesmos, € de gerenciar bem as emogées dentro de n6s ¢ em noss0s relacionamen- tos”. Curiosamente dentro da propria

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