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Introdução
Quando o tema é a formação de professores para lidar com os “novos” temas da
educação, como a inclusão de pessoas com deficiência, raça e etnia, gênero, sexualidade e
outras, há inúmeras argumentações que visam encontrar o diagnóstico e a solução para os
problemas na escolarização desses sujeitos. Alguns dos alvos preferenciais são os docentes e a
escassa preparação que tiveram para ensinar e conviver com esses grupos de alunos. Claro
está, que a educação inclusiva e mais especificamente o acolhimento desses sujeitos é uma
questão muito mais complexa do que apenas a formação adequada dos professores, pois há
muitos outros elementos envolvidos, como a acessibilidade arquitetônica e atitudinal da
comunidade escolar ou o acesso aos materiais adaptados para esses alunos.
Boa parte dos discursos circulantes quando sentencia o fracasso da educação brasileira
aponta a baixa qualidade da formação dos professores como um dos fatores fundamentais para
esse processo. E, ao mesmo tempo, apresentam-se os índices de investimento estrutural e
material das escolas, das políticas públicas e do contexto em que o docente está inserido. Ou
seja, se esse docente não está preparado a responsabilidade passa a ser dele, assim como o
“mérito” por ser um profissional capacitado e dedicado apesar das dificuldades.
E quando se trata da inclusão de alunos com deficiência, muitos são os fatores
atitudinais e sentimentais alegados para que o professor saiba lidar com ele, mesmo que não
tenha sido preparado para tal. Importa pouco ou quase nada que um estudante de graduação
tenha uma carga horária baixíssima de disciplinas para lidar com a inclusão desses alunos.
Nesse caso, o que importa de fato é a boa vontade, a caridade e a bondade do professor em
promover a inclusão da pessoa com deficiência na sala de aula.
Este artigo tem como objetivo analisar mais uma dessas possibilidades de formação de
professores para o ensino e aprendizagem para alunos com deficiência, no caso, a
audiodescrição a ser utilizada como ferramenta pedagógica. A audiodescrição uma
modalidade de tradução visual que transforma imagens em palavras, e que auxilia a que
pessoas cegas e com baixa visão tenham acesso á imagens.
Para tanto, esta pesquisa utiliza o campo dos Estudos Culturais em Educação como
esteira teórica e metodológica, além de analisar os processos de formação de professores em
educação inclusiva. A audiodescrição é inserida conceitualmente a partir da área da
linguística, especificamente da tradução visual, mas no caso desta pesquisa, a utilizamos
como uma ferramenta pedagógica, ou como uma técnica assistíva, se preferirem. Assim, a
questão a que este artigo deseja responder é: Como realizar a formação de professores para
utilizarem a audiodescrição como ferramenta pedagógica para uma educação mais inclusiva?
Embora o autor ainda analisasse a deficiência como falta, como anormalidade e como
defeito, é possível verificar que existe a possibilidade dos professores utilizarem outras
formas de linguagem, mais próximas ou mais adequadas às peculiaridades de seus alunos,
como verbalizar mais do que escrever ou utilizar a visualidade desde que seja fornecido o
acesso ao aluno que não enxerga por outros meios, sobretudo o auditivo.
Nem sempre rever as práticas é fácil, muitos professores já tem naturalizadas e
sistematizadas muitas de suas ações, e talvez diante das parcas formações para lidar com esses
alunos e da conscientização de que a inclusão deve se tratar de algo para além de cumprir a
lei. Deve fomentar a percepção de que modificar suas práticas conforme as especificidades
dos alunos com deficiência visual, representam também demonstrar que ele está acolhido,
ainda que as dificuldades sejam esperadas, e superáveis. Contudo, na maioria dos casos esses
professores ainda não se sentem preparados para tal:
Essa ideia indica que a formação docente deveria discutir em seus currículos
algumas estratégias que contemplassem a reflexão sobre os processos de
inclusão que deveriam desde já, fazer parte da rotina da sociedade e
principalmente do espaço escolar.
Os professores devem cumprir o papel que funciona como agente
organizador do currículo para o aluno, sempre atentos aos instrumentos
educativos: textos, filmes e softwares, que podem ajudar a transmitir os
conteúdos de maneira mais clara e efetiva para os alunos que apresentam um
modo característico de aprendizagem Gardner (1995). Caso o professor se
encontre em alguma situação na qual não saiba como agir, deve contar com
o apoio da equipe especializada que deve ter em sua escola, prevista na
LDB. (GONÇALVES, 2009, p.102)
Mais do que estar disposto e aberto para reconfigurar suas práticas é preciso que haja
um trabalho harmônico e entrosado com os demais professores e com a direção das escolas
para que haja o amparo necessário para que essas medidas sejam efetivas. Um exemplo disso
é que os processos de formação para uso da audiodescrição em sala de aula que realizei com
mais de 100 professores de sete cidades diferentes no estado do rio Grande do Sul, mostrou a
dificuldade existente em encontrar horários e datas nas quais esses professores pudessem ser
liberados de suas atividades nas escolas para realizar o curso de formação proposto.
Por mais que saibamos de todos os problemas enfrentados nas escolas, é sintomático
perceber que os docentes não possuem períodos específicos para suas formações, e que na
maioria das vezes, quando o fazem, estão em seus horários de folga. Isso quer dizer que se
esses professores desejarem qualificar suas práticas precisam realocar seus horários de
trabalho, investir do seu próprio bolso e muitas vezes enfrentar a burocracia necessária.
Muitas vezes isso acaba por desestimular a realização dessas atividades, sendo mais um
entrave nesse processo de inclusão dos alunos com deficiência visual na escola.
Certamente, haveria muito mais a ser dito sobre a formação docente para a educação
inclusiva, mas é preciso ir adiante. Mas, para seguirmos, na próxima seção irei apresentar e
analisar de que modo foram efetuadas as formações para os docentes utilizarem a
audiodescrição como ferramenta pedagógica em sala de aula.
Como dissera antes, uma audiodescrição com finalidade didática tem elementos um
pouco diferentes das que chamo de “profissionais”. No entanto, isso não significa dizer que os
professores descreverão de acordo com seus gostos e desejos pessoais, mas baseado em
técnicas e parâmetros que estejam de acordo com as normas de audiodescrição de cada país.
No caso do Brasil, há uma nota técnica estabelecida pelo Ministério da Educação (MEC), que
orienta sobre como descrever imagens para livros didáticos (MEC, 2012).
Mesmo depois de conhecer um pouco mais sobre audiodescrição durante o curso de
formação, percebi que muitos professores seguiam com a ideia de que as descrições deveriam
ser usadas apenas em filmes, vídeos ou imagens apresentadas em aula, quando o trabalho de
descrição pode ser bem mais amplo do que isso, conforme o exemplo abaixo sobre como
apresentar a escola para um aluno com deficiência visual:
Considerações finais
Na maioria das vezes as considerações finais não são um ponto final, mas outro
começo, o que também é o caso desse artigo. Procurei debater um pouco sobre a necessidade
de formar professores para que utilizem a audiodescrição como recurso pedagógico em sala
de aula não apenas para alunos com deficiência visual, mas para todos.
No principio discuti sobre os processos de formação de professores de uma maneira
geral e em seguida enfocando especificamente a questão formativa daqueles que trabalham
com alunos com deficiência, sobretudo, os cegos ou com baixa visão. É fato que diante das
políticas sociais existentes, os professores se dividem entre o grupo dos que já tiveram um ou
mais alunos com deficiência visual em suas turmas e o grupo daqueles que certamente um dia
terão.
Isso significa dizer que a defasagem encontrada nos cursos de licenciatura no que diz
respeito a essa temática precisa ser suprida de outras formas, com cursos de formação
complementar, ou com outros tipo de medidas que vise qualificar as práticas desses docentes,
de modo a melhorar os recursos de aprendizagem de alunos cegos ou com baixa visão, sendo
a audiodescrição um desses importantes elementos.
Audiodescrição, conceituada anteriormente como a transformação de imagens em
palavras através da tradução intersemiótica do meio visual para o verbal, é um dos recursos de
acessibilidade mais importantes no processo educacional dos seus usuários, ainda que seja
pouco utilizado nas escolas. Ao descrever as imagens em livros, de filmes e apresentações
culturais ou outras ocasiões que exijam tal recurso, o aluno cego ou com baixa visão tem sua
diferença respeitada, tem outras possibilidade de acesso ao conhecimento que outrora não era
possível. Sendo assim, é primordial fomentar a audiodescrição no processo formativo dos
professores, seja nos cursos de licenciatura ou nas formações complementares.
Como resultado final, o que pode ser apresentado é que uma das maiores dificuldades
encontradas para ampliar e implementar a audiodescrição nas escolas é o desconhecimento
dos professores quanto a existência desse recurso de acessibilidade. Para tanto, se faz
necessária a luta por sua inclusão nas políticas públicas em educação, bem como sua inserção
nas disciplinas dos cursos de licenciatura e uma maior divulgação da audiodescrição.
Outro resultado obtido que ajuda a explicar esse quadro de desconhecimento dos
professores é a quase inexistência de cursos de formação de audiodescritores e daqueles que
formem professores para utilizar audiodescrição nas salas de aula. Seria fundamental que as
universidades, grupos de pesquisas, usuários, alunos, e entes públicos percebessem a
importância da audiodescrição nos processos educacionais e que construíssemos outras
formas possíveis de ensinar os alunos com deficiência visual baseado nos parâmetros e nos
produtos que contem audiodescrição.
Por fim, é preciso dizer que temos ainda muito a avançar nesse cenário em que a
audiodescrição tem conquistado cada vez mais espaço e que cada vez mais alunos têm
ingressado nas escolas comuns e muitos dos professores ainda desconhecem os recursos mais
adequados e indicados para lidar com suas especificidades, respeitando suas diferenças e
buscando praticas mais e mais inclusivas.
Bibliografia
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